INSTITUTO FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL CAMPUS BENTO GONÇALVES CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM VITICULTURA E ENOLOGIA EFEITOS DA PODA CURTA E PODA MISTA NA FERTILIDADE E PRODUTIVIDADE DA CULTIVAR TEROLDEGO EDERSON SAPELLI BENTO GONÇALVES 2010 EDERSON SAPELLI Efeitos da poda curta e poda mista na fertilidade e produtividade da cultivar Teroldego Trabalho de conclusão de curso de graduação apresentado ao Curso Superior de Tecnologia em Viticultura e Enologia, do Campus Bento Gonçalves do Instituto Federal de Educação, como requisito parcial para a obtenção do grau de Tecnólogo em Viticultura e Enologia. Orientador: Prof. Dr. Eduardo Giovannini BENTO GONÇALVES – 2010 3 AGRADECIMENTOS Agradeço a minha companheira Alessandra pela confiança e apoio durante todo este ciclo de aprendizado que estamos passando; Aos meus pais Valdirio e Salete Sapelli, pelo apoio total às minhas decisões, amor, companheirismo, educação e ensinamentos. Além do “paitrocínio” necessário à conclusão do ensino superior; Ao professor Eduardo Giovannini, pelo amor que tem à viticultura e o modo como consegue passá-lo em sala de aula; Ao professor Rodrigo Monteiro, pela orientação estatística; A todos os amigos e colegas de curso, que na falta de dados bibliográficos puderam elucidar minhas dúvidas com relatos de suas experiências; Ao vitivinicultor Jorge Mariani, pela oportunidade de aprender trabalhando em sua propriedade; Ao vitivinicultor Luís Henrique Zanini, pelos ensinamentos durante nossa convivência e a disponibilização do seu vinhedo para realização do estudo; Ao médico oftalmologista Dr. Ernani Luiz Garcia, à próspera oportunidade em seu empreendimento vitivinícola e o incentivo à finalização deste trabalho; Aos professores do curso; Ao universo. 4 RESUMO Não há registro de quando, como e onde a poda da videira teria iniciado. É uma operação tão antiga que parece ter sempre existido. A poda consiste na remoção total ou parcial de partes da planta (GIOVANNINI, 2008) e exige muito conhecimento acerca da cultivar utilizada e sua relação com o clima e solo onde é cultivada (HIDALGO, 2002). Neste estudo, foram analisados os efeitos dos tipos de poda curta e mista sobre a cultivar Teroldego com o objetivo de avaliar sua fertilidade potencial, real e a produtividade. Quanto à fertilidade potencial, pode ser observado que a poda mista foi significativamente superior a poda curta. Já os dados de fertilidade real e produtividade sofreram a influência adversa do mau tempo e problemas fitossanitários resultando em dados pouco significativos. Sugere-se a realização de novos trabalhos acerca do assunto para obtenção de dados mais conclusivos. 5 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO................................................................................................................7 2 OBJETIVOS....................................................................................................................8 2.1 OBJETIVO GERAL..................................................................................................8 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS....................................................................................8 3 REVISÃO DE LITERATURA..........................................................................................9 3.1 CULTIVAR TEROLDEGO........................................................................................9 3.2 FERTILIDADE........................................................................................................10 3.3 PRODUTIVIDADE..................................................................................................11 3.4 TIPOS DE PODA...................................................................................................11 4 MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................................13 4.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA....................................................................13 4.2 TRATAMENTOS....................................................................................................13 4.3 SELEÇÃO DA AMOSTRA.....................................................................................14 4.4 COLETA DE DADOS.............................................................................................14 4.5 TRATAMENTO DE DADOS...................................................................................15 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................................16 6 CONCLUSÃO...............................................................................................................19 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................20 6 ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1: Médias de gemas remanescentes após a poda seca, gemas brotadas, inflorescências por planta, índice de brotação e índice de fertilidade potencial para os tratamentos.......................................................................................................................15 Tabela 2: Médias de gemas brotadas, produção, cachos, peso do cacho por planta e fertilidade real para os tratamentos..................................................................................15 7 1 INTRODUÇÃO Atualmente, algumas vinícolas brasileiras procuram diferenciar seus produtos para conquistar o mercado. Entre outras estratégias, uma opção é o investimento em cultivares ainda não experimentadas no país. Segundo Guerra & Arcari (2008), a cultivar Teroldego mostra-se altamente discriminante para alguns dos índices sensoriais analisados, tornando-a uma boa opção de vinho para o mercado. A cultivar Teroldego é pouco difundida no mundo, fato que explica as poucas referências encontradas para seu manejo adequado. Calò, Scienza e Costacurta (2001) indicam em seu catálogo a cultivar como de fertilidade média-alta nas gemas distantes da base, adequada à poda longa. Este tipo de poda também é uma das razões do sistema de condução horizontal, utilizado no Campo Rotaliano, com o uso de tutores vivos, estruturas metálicas ou de madeira como suporte (ITÁLIA, 1960), sistema muito semelhante à latada utilizada no Brasil. A videira, durante milênios, vem se adaptando a diversos climas, solos e resistindo a diversas moléstias (GIOVANNINI, 2008). É de grande interesse conhecer a vocação vitícola do local, entendendo seu conjunto de possibilidades naturais dependentes do clima, solo e meio biológico, que deverá ser compatível com a vocação e exigências das variedades cultivadas (HIDALGO, 2002). É possível assim, que variedades adaptadas em certas regiões, venham a se comportar de maneira adversa em novas regiões de cultivo. Este estudo vem preencher a lacuna de evidências quantitativas sobre as fertilidades potencial e real e a produtividade esperada em relação ao tipo de poda na cultivar Teroldego no Brasil. 8 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 CULTIVAR TEROLDEGO A cultivar Teroldego é uma variedade de uva tinta proveniente da província de Verona, onde as vinhas estavam presentes em torno do lago de Garda. Nesta região usavam-se tutores vivos da planta Tirodola denominado le tirelle (CALÒ, SCIENZA & COSTACURTA, 2001), origem do nome da cultivar. Atualmente a uva Teroldego é cultivada quase que exclusivamente na área do Campo Rotaliano, ao norte do Trento no Vale do Adige (ITÁLIA, 1960; CALÒ, SCIENZA & COSTACURTA, 2001). A videira apareceu no "Annali dell'Agricoltura del Regno d'Italia" de Filippo Re, em 1811, depois, na descrição do Pollini (1819), em seguida, retomou em Dall'Acerbi (1825). Mas foi em 1894, na obra de Mach, onde se encontra a descrição completa. Apresenta afinidade genética com Lagrein, Marzemino e Syrah, todos provavelmente de origem oriental (CALÒ, SCIENZA & COSTACURTA, 2001). No Campo Rotaliano, a condução é feita em Pérgola Trentina, por duas razões: (1) infertilidade das gemas basais, forçando uma forma de condução em que a planta pode crescer verticalmente; (2) é o sistema de condução tradicional na área (ITÁLIA, 1960). A cultivar é de ciclo médio, maturação de III-IV época e queda de folhas médioprecoce. Tem vigor bom e produção boa e constante. A posição da primeira gema fértil está no 2o ou 3o nó, com apenas uma inflorescência por broto e feminela infértil (ITÁLIA, 1960). Possui cacho médio a grande, alongado e de forma piramidal, raramente cilíndrico, com dois cachos alados e medianamente compacto (CALÒ, SCIENZA & 9 COSTACURTA, 2001). O peso médio dos cachos é de 167,7g, variando entre os extremos 104,1g e 272g (ITÁLIA, 1960). No Brasil, a variedade vem ganhando espaço lentamente (GUERRA & ARCARI, 2008). Inserida na Serra do Sudeste do Rio Grande do Sul, vem apresentando boa adaptação e vinhos de coloração intensa, frutados, de pouco tanino e para consumo breve (GIOVANNINI & MANFROI, 2009). Em Miele, Rizzon & Zanus (2010), a variedade se destacou dentre os 21 vinhos varietais estudados. Na safra 2008/2009, foram produzidos aproximadamente 105.372kg, atingindo grau glucométrico médio de 18,24oBabo (UVIBRA, 2009). 2.2 FERTILIDADE A fertilidade da gema é o número médio de cachos a que uma gema dá origem. Se distingue fertilidade real de fertilidade potencial, a qual é superior à primeira. No vinhedo a fertilidade real é inferior por causa de problemas metereológicos ou fitossanitários. Nas cultivares viníferas a fertilidade é mais elevada na parte mediana do ramo (FREGONI, 1999). Cada cultivar apresenta um padrão típico de fertilidade das gemas ao longo do ramo, podendo sofrer, devido ao clima, grandes variações de um ciclo para outro. A formação da gema frutífera é influenciada pela luz, citocinina, temperatura, característica varietal, vigor dos ramos, déficit hídrico, desponte e sistema de condução, dentre outros fatores (KRETZSCHMAR et al., 2007 apud SÁ, 2008). O conhecimento da variação da fertilidade anatômica (gema diferenciada) ao longo do ramo é importante para a definição do correto tipo de poda. O número de 10 cachos desenvolvidos na gema representa a fertilidade potencial da videira (FREGONI, 1999). Ou seja, a fertilidade potencial por gema é a razão entre as inflorescências e as gemas brotadas. 2.3 PRODUTIVIDADE Entre os fatores que determinam a produtividade de um vinhedo estão os fatores permanentes e os fatores culturais. Os fatores permanentes incluem variáveis que o homem não pode modificar, como solo e clima, ou aqueles que só se pode escolher uma vez, como a variedade e o porta-enxerto (HIDALGO, 2002). Os fatores culturais podem ser alterados periodicamente, modelando, estimulando ou atrasando sua ação, como a adubação, tratamentos fitossanitários, colheita e a poda. A quantidade de gemas remanescentes após a poda seca na planta delimitará, junto com a posição da primeira gema fértil, a produtividade do vinhedo (HILDAGO, 2002). 2.4 TIPOS DE PODA A poda, remoção de partes da planta que afetam o comportamento fisiológico da mesma, pode controlar a planta em tamanho e produtividade (GIOVANNINI, 2008). As cultivares com boa fertilidade nas gemas basais podem ser podadas com o uso de esporões com 1 ou 2 gemas (HIDALGO, 2002; FREGONI, 1999), conhecido por cordão de Royat. Em outras cultivares, com gemas férteis após a segunda, existe a necessidade de usar, entre outros modos, varas de produção de 6 a 8 gemas e um 11 esporão para cada vara, denominado poda mista ou Guyot (HIDALGO, 2002; FREGONI, 1999). É, portanto, essencial o conhecimento da fertilidade das gemas e sua situação para cada variedade a ser trabalhada (HIDALGO, 2002). Na cultivar Teroldego, por haverem ramos produtivos principalmente a partir da 2 a ou 3a gema (ITALIA, 1960), é provável que a poda mista obtenha maior produtividade em relação à poda curta. 12 3 MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA Este estudo delimitou-se a investigar a influência do tipo de poda na fertilidade e produtividade da cultivar Teroldego enxertada sobre Paulsen 1103. O vinhedo de 4.432m2 com 888 plantas, localiza-se na comunidade Santo Antônio no município de Bento Gonçalves - RS, latitude 29°10'55.90" Sul, 51°23'34.86" Oeste e altitude média de 660m. O método de condução usado é espaldeira simples, com altura de 1,20m do primeiro arame ao chão, 1,5m de área foliar, espaçamento de 1,5m entre plantas e 3m entre filas, somando 2.222 plantas/ha. Os tratos culturais (poda verde, desfolha, desponte, etc) e o controle fitossanitário foram realizados, uniformemente, em toda área do experimento. 3.2 TRATAMENTOS Foram realizados dois tratamentos com cinco repetições cada. Todas as plantas foram podadas no mesmo dia, 06 de setembro de 2009. O tratamento PODA CURTA, foi em esporões de 2 gemas e o tratamento PODA MISTA foi em varas de 6 a 8 gemas, com um esporão de 2 gemas para cada vara. 13 3.3 SELEÇÃO DA AMOSTRA O delineamento experimental foi em blocos. Foram escolhidos 5 blocos de 8 plantas sendo 4 plantas por tratamento. No total foram, portanto, 20 videiras em cada tratamento. 3.4 COLETA DE DADOS As coletas foram realizadas em dois momentos. No primeiro, as gemas remanescentes após a poda seca, brotações e inflorescências foram localizadas e contadas no período de brotação (estádio de 5 ou 6 folhas separadas), dia 16 de outubro de 2009. Esta contagem teve o objetivo de mensurar a fertilidade potencial sem a influência dos manejos realizados em verde e dos problemas fitossanitários advindos do mau tempo. O índice de brotação foi calculada através da razão entre a quantidade de brotações e a quantidade de gemas remanescentes. A fertilidade potencial foi calculada pela razão entre inflorescências e gemas brotadas. A segunda coleta foi realizada ao final do ciclo vegetativo (maturação tecnológica e fenológica completa), dia 21 de fevereiro de 2010. Os cachos foram colhidos, contados e pesados. Essa contagem foi realizada para verificar a fertilidade real e a produtividade. A fertilidade real foi calculada através da razão entre número de cachos e o número de gemas brotadas. 14 3.5 TRATAMENTO DE DADOS Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 1%. 15 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO A safra 2009/2010 caracterizou-se por períodos chuvosos durante todo o ciclo vegetativo, incidindo principalmente na primavera e meados do verão, nas épocas de floração e colheita da uva, respectivamente. A influência negativa do mau tempo acometeu toda a região de Bento Gonçalves. Os dados referentes à fertilidade e à produtividade estão apresentados nas tabelas 1 e 2 e os devidos comentários relatados em seguida. Tabela 1: Médias de gemas remanescentes após a poda seca, gemas brotadas, inflorescências por planta, índice de brotação e índice de fertilidade potencial para os tratamentos. Tratamento Gemas Remanescentes Gemas Brotadas Brotação (%) Inflorescências Fertilidade Potencial (%) Poda Curta 17,8 16,1 90 4,2 23,60** Poda Mista 16,5 14,4 91 6,4 38,78** ** Médias diferem significativamente pelo teste de Tukey a 1%, Fertilidade potencial: razão entre inflorescências e gemas brotadas. Tabela 2: Médias de gemas brotadas, produção, cachos, peso do cacho por planta e fertilidade real para os tratamentos. Tratamento Gemas Brotadas Produção Cachos (g) Peso do cacho (g) Fertilidade Real (%) Poda Curta 16,1 110 3,5 31 21,7 Poda Mista 14,4 147 3,7 39 26 ** Médias diferem significativamente pelo teste de Tukey a 1%, Fertilidade real: razão entre o número de cachos colhidos e o número de gemas remanescentes. 16 As médias de 17,8 e 16,5 gemas remanescentes após a poda seca (Tabela 1) não apresentaram diferença significativa entre os tratamentos. Entretanto, a carga média de gemas remanescentes de 38.107 gemas/ha está muito abaixo do recomendado de 60.000 a 70.000 gemas/ha (GIUS & PONTALTI, 2004). No trabalho de Malossini et al. (2000), o número médio de gemas remanescentes por planta foi de 18,12 com densidade de 2.776 plantas/ha, equivalente a 50.315 gemas/ha. Os índices de brotação de 90% e 91% (Tabela 1) não sofreram influência dos tratamentos. Mesmo sem o uso de estimulantes, a brotação foi uniforme. A média de 90,5% de brotação foi levemente superior aos 86% citado por Malossini et al. (2000). Este fato pode ser resultado do inverno rigoroso com 1.090 horas de frio abaixo de 10 oC em 2009 (http://www.cnpuv.embrapa.br/produtos/meteorologia/bento-frio.html), cumprindo a exigência térmica para quebra de dormência das gemas da cultivar. O índice de 38,33% de fertilidade potencial foi significativamente superior para a poda mista (Tabela 1), enfatizando a diferença na fertilidade das gemas ao longo do ramo produtivo. Malossini et al. (2000), obteve 131,75% de fertilidade potencial com o uso de pérgola trentina com varas de produção com 10 a 12 gemas. Estas diferenças indicam a possibilidade do uso da poda mista, com possível aumento do número de gemas na vara de produção, para obtenção de maior produtividade no vinhedo. O peso médio dos cachos não diferiu significativamente entre os tratamentos (Tabela 2). As médias obtidas de 31g e 39g (Tabela 2) foram inferiores às médias de 167,7g (ITALIA, 1960; BANDINELLI et al., 2000) e 370,8g (MALOSSINI et al., 2000). O número médio de 3,5 e 3,75 cachos por planta (Tabela 2) foi inferior aos 20,4 citados em Malossini et al. (2000). As produtividades de 110g e 147g por planta foram inferiores 17 aos 5,18kg citados por Malossini et al. (2000). Os índices de fertilidade real de 20% e 21% ficaram abaixo do 111% citados citados por Malossini et al. (2000). Estes dados foram afetados pela ocorrência de míldio, moléstia conhecida pelo aparecimento de um mofo branco na parte inferior da folha. Na brotação, os ataques podem ser severos devido a folhagem tenra e condições favoráveis de clima comuns na serra gaúcha durante a primavera, com temperaturas médias a altas e alta umidade (GIOVANNINI, 2008). Comparando os dados dos índices de fertilidade potencial (Tabela 1) e real (Tabela 2) para o mesmo tratamento, nota-se que houve grande queda do índice na prática da poda mista. A poda curta mostrou-se mais estável quanto a fertilidade. Talvez, a menor carga tenha colaborado para a resistência das inflorescências na poda curta. 18 5 CONCLUSÃO Houve diferença significativa do efeito dos tipos de poda sobre a fertilidade potencial da cultivar Teroldego. 19 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BANDINELLI, R.; MANCUSO, S.; PISANI, P. L. ; LORETI, F.; SCALABRELLI , G.; PORCINAI, S. Ricerche comparative su sette cloni di “Sangiovese” nel Chianti Classico . 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