O PROFESSOR DE MATEMÁTICA: APRENDIZAGENS PELA CULTURA Janderson Vieira de Souza1 Isabel Cristina Rodrigues Lucena2 Eixo Temático: Etnomatemática e as relações entre as tendências em educação matemática Palavras-chave: Etnomatemática; Formação de professores; pensamento complexo. Introdução Neste artigo pretendemos mostrar algumas recortes de nossas reflexões sobre proposição de tese doutoral e os caminhos percorridos até o presente momento. Exporemos de forma incipiente nossa proposta de tese que efetivamente está associada à identificação de aspectos formativos nas práticas de professores formadores que compreendem a matemática como produto cultural e se essas práticas indicam como caminho uma educação para complexidade. Para isso, esboçamos algumas concepções associados ao: educador matemático, matemática como produto cultural, pensamento complexo e seus operadores, a questão norteadora, procedimentos metodológicos e algumas considerações iniciais. O educador matemático A área de conhecimento denominada por matemática destaque-se no cenário investigativo atual, acreditamos que em virtude da universalidade adquirida durante os séculos e seus contributos para o desenvolvimento das mais diferentes áreas das ciências. Diante deste quadro temos investigadores das mais variadas áreas incentivados a pesquisar sobre matemática. Nessa perspectiva, matemático. entre outros pesquisadores destaca-se o educador Ancorado em Fiorentini e Lorenzato (2006) compreendemos essa denominação - educador matemático - como um pesquisador que possui orientações e postura preocupada com os processos de ensino e aprendizagem da matemática. Corroboramos com Lima (2010): são profissionais que guerreiam com o ensino e a aprendizagem da matemática no cenário acadêmico. 1 Doutorando do Instituto de Educação em Ciências e Matemática da UFPA. Email: [email protected]. 2 Professora Adjunta do Instituto de Educação em Ciências e Matemática da UFPA, Email: [email protected]. Nessa comunidade, destacamos os professores formadores de professores (objeto da investigação) que adotam como referencial a linha investigativa ligada a Etnomatemática. Esses formadores comumente compreenderem a matemática como produto cultural e apresentam nuances que a nosso ver apontam para inserção do indivíduo a uma tomada de consciência da aproximação – problemática – entre realidade social, natural e planetária. A Matemática como produto cultural Ancorado em Bishop (1999) temos as primeiras impressões sobre o significado de matemática como produto cultural. Até então, entendemos se tratar de buscar a superação da visão simplificadora e fragmentada de que a matemática é apenas um conjunto de técnicas, mas sim uma matemática como conjunto de comportamentos compartilhados e compatibilizados por uma nação, povos, comunidades entre outras possibilidades. Conforme este autor, investigar a matemática somente em seus símbolos e códigos é demasiadamente simplista, é mostrar apenas uma pequena parte desta ciência. Essa premissa também pode ser encontrada na etnomatemática, em que se faz pertinente pensar em “matemáticas”, pensar numa ciência plural, não apenas numa única matemática. É falar conforme D’Ambrosio (2005) assevera que a matemática é uma manifestação cultural, e que cada cultura manifesta essa área de conhecimento de forma diferente. Parafraseando Carraher, Carraher e Schliemann (p. 28, 2011) é considerar a matemática não apenas como uma ciência, mas, “também como uma forma de atividade humana” acrescentando a matemática para além de uma atividade formal e dedutiva. Nessa perspectiva, compreendemos que o professor de matemática que adota esse referencial possivelmente terá constructos para repensar o ensino-aprendizagem da matemática para além da organização de conteúdos prontos, e sim, considerar a aprendizagem da matemática como um momento de interação entre a matemática organizada pela comunidade científica e a matemática como atividade humana. (CARRAHER, CARRAHER e SCHLIEMANN; p. 28, 2011). Contudo, pretendemos buscar alinhamentos/contradições no discurso desses professores complexo. supracitados anteriormente com o que denominamos de pensamento O pensamento Complexo e seus operadores Para iniciar nossa explanação sobre o pensamento complexo tomando como solo teórico as obras de Edgar Morin vamos fazer algumas reflexões com relação a palavra complexidade3. A grosso modo, poderíamos entender por complexidade algo demasiadamente difícil ou até mesmo algo que faça oposição ao termo fácil. Desfazendo-se desse equívoco e ancorado em Morin (2003) entendemos por complexidade no sentido de: entralaçar, ligar circunstanciando diretamente a raiz etimológica “complectere”. O prefixo “com” neste termo pode dar a caracterização da idéia de duplicidade ou dualidade de elementos que se opõem e enlaçam. Em outras palavras complexidade tem muito mais haver com “tecer algo em conjunto” do que associado a algo difícil e ou complicado como comumente o senso comum pode suscitar. Logo pensar em complexidade não necessariamente é pensar em algo difícil, apesar de que essa associação não ser falsa. Para além da essência/substancia da palavra complexidade destacamos o método como estratégia que é um caminho a ser adotado pelo pensamento complexo: A estratégia encontra recursos e faz alguns desvios, realiza inversões e algumas mudanças de direção. [...] A estratégia é aberta, evolutiva, enfrenta o imprevisto, a novidade. [...] a estratégia improvisa e inova. A estratégia manifesta-se nas situações aleatórias, utiliza a eventualidade, o obstáculo, a diversidade, para atingir os seus objetivos. [...] a estratégia tira proveito dos seus erros. (MORIN, 2003, p. 28 e 29). Partindo desse pressuposto o método deve ser um caminho, “aquilo que se ensina a aprender” (MORIN, 2003, p. 29), tratar-se de uma “viagem que não se inicia com o método mais sim a procura de um método”. O método denominado como caminho/ensaio/estratégia é constituído por um bloco de princípios metodológicos que constituem um guia para o pensamento complexo. Estes operadores metodológicos são: princípio: sistêmico ou organizacional, hologramático, retroactividade, recursividade, autonomia/dependência, dialógico e de reintrodução do conhecer em qualquer conhecimento. Efetivamente, este bloco de operadores faz parte dos princípios fortes que podem suscitar o pensamento complexo. Defronte dessas referenciais adotados, encontramos perspectivas de interseções entre o pensar complexo e a prática dos professores formadores elencados, que 3 Pensamento complexo e complexidade são termos utilizados de maneira análoga, tendo mesma significação. acabaram por motivaram a questão investigativa - próximo item - desse projeto doutoral. Entendemos que como indivíduos imersos num sistema a todo momento recebemos informações tanto biológicas como do nosso meio – cultural – assim, pensar na identificação de aspectos formativos em professores etnomatemáticos é vislumbrar uma possibilidade de modificação do quadro atual de ensino de matemática numa outra perspectiva. Questão Norteadora Motivados pelas percepções acionadas anteriormente pleiteamos como questão norteadora da investigação o seguinte: A atividade de formadores de professores de matemática que compreendem a Matemática como Produto Cultural expressa elementos formativos para uma Educação para Complexidade? Atualmente estamos realizando a revisão bibliográfica nas obras de Edgar Morin na busca de dar profundidade nas discussões a serem suscitadas. Procedimento Metodológico: o método Do metaponto de vista adotado para essa investigação surgiu a necessidade de aquilatarmos nossa compreensão relacionada ao método como procedimento para investigar. Por isso, ao incorporarmos o pensamento complexo conforme as obras de Edgar Morin, entendemos como método a: [...] obra de um ser inteligente que experimenta estratégias para responder às incertezas. [...] Por conseguinte, o método é aquilo que serve para aprender; este último é igualmente a aprendizagem. [...] O método é aquilo que ensina a aprender. Trata-se de uma viagem que não se inicia com um método, inicia-se antes procurando um método. (MORIN, 2003, p. 29). Contudo, até o momento estamos realizando Revisão Bibliográfica em obras relacionadas a Etnomatemática, a Complexidade e formação de professores. De forma preliminar, identificamos alguns autores (formadores de professores e educadores matemáticos) cuja relevância das obras é reconhecida mundialmente. Dentre eles destacamos Alan J. Bishop, Marcia Ascher, Arthur Powell, Marilyn Frankestein, Teresa Vergani, Paulus Gerdes, Ubiratan D’Ambrosio, Eduardo Sebastini Ferreira, Iran Mendes Abreu, Rogério Ferreira, José Pedro Machado Ribeiro, Maria do Carmo Domite, Gelza Knijinik, José Ricardo e Souza Mafra, Pedro Paulo Scandiuzzi. Diante dessa identificação adotaremos além da revisão de bibliografias a realização de entrevistas com formadores de professores, por acreditar que ela (a entrevista) pode produzir maior riqueza de informações além de buscar na atividade destes pesquisadores outras informações. Considerações Iniciais Até o momento, temos algumas impressões acerca da proposição como tese doutoral. Dentre elas, destacamos possíveis interseções entre esse pensar complexo e a prática formativa de professores de matemática (etnomatemáticos). A etnomatemática como um programa de pesquisa vislumbra uma visão holística das situações educacionais, no qual, a superação do ensino fragmentado numa perspectiva transdisciplinar é uma possibilidade. Por outro lado, o pensamento complexo caracteriza a transdisciplinaridade como possibilidade de pensar para além do conhecimento compartimentalizado, busca assim por meio de seus princípios ir além desta proposta subjacente ao saber disciplinar. Portanto, as duas atividades podem suscitar interseções rumo a uma educação integrada ao conhecimento e vice-versa. Referencias Bibliográficas BISHOP, Alan J. Enculturación matemática: La educación matemática desde uma perspectiva cultural, Paídos: Barcelona, 1999. CARRAHER, Terezinha; CARRAHER, David; SCHLIEMANN, Analúcia. Na Vida Dez, na Escola Zero, Editora Cortez, D'AMBRÓSIO, Ubiratan. Etnomatemática: elo entre as tradições e a modernidade. Vol. Tendências em Educação Matemática. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2005. FIORENTINI, Dario LORENZATO, Sérgio. Investigação em educação Matemática: percursos teóricos e metodológicos, (coleção formação de professores), Campinas: SP Autores Associados. 2006. LIMA, André Ferreira de; Educadores Matemáticos, tendências em alta na educação matemática e etnomatemática: considerações iniciais, Encontro Paraibano de Educação Matemática, 2010. MORIN, Edgar; MOTTA; CIURANA, Emilio Roger. Educar para a era planetária: o pensamento complexo como método de aprendizagem no erro e na incerteza, Instituto Piaget, 2003.