uma abordagem prática sobre radioproteção no tratamento de

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IX Latin American IRPA Regional Congress on Radiation Protection and Safety - IRPA 2013
Rio de Janeiro, RJ, Brazil, April 15-19, 2013
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PROTEÇÃO RADIOLÓGICA - SBPR
UMA ABORDAGEM PRÁTICA SOBRE RADIOPROTEÇÃO NO
TRATAMENTO DE RADIOIODOTERAPIA PARA CÂNCER DE
TIREÓIDE
Janaina D. S. Mendes1, Ana Luiza S. L. Kubo2 e Ana Maria de O. Rebelo3
1
Instituto Nacional de Câncer (Inca-HCI)
Praça Cruz Vermelha, 23 - Centro
20230-130 Rio de Janeiro – RJ – Brasil
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Faculdade de Medicina - Departamento de Radiologia
Rua Rodolpho Paulo Rocco, 255 - Cidade Universitária - Ilha do Fundão
21941-913 Rio de Janeiro - RJ - Brasil
[email protected]
2
Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD)
Av. Salvador Allende s/n - Barra da Tijuca
22780-160 Rio de Janeiro – RJ – Brasil
Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF-UFRJ)
Rua Rodolpho Paulo Rocco, 255 - Cidade Universitária - Ilha do Fundão
21941-913 Rio de Janeiro - RJ - Brasil
[email protected]
3
Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF-UFRJ)
Rua Rodolpho Paulo Rocco, 255 - Cidade Universitária - Ilha do Fundão
21941-913 Rio de Janeiro - RJ - Brasil
[email protected]
ABSTRACT
There are several protocols for the treatment and follow-up of differentiated thyroid cancer. All of them gather
evidence on the evolution and treatment and try to establish a treatment standard. However, there are few
occasions in which this issue is addressed from the standpoint of radiological protection, as the ICRP 94 and
TECDOC 1806. The focus of our work is to demonstrate that simple actions in the routine of workers in the
Nuclear Medicine Service interfere positively in the radiation protection of all those involved in the patient's
care, also optimizing their well being during the procedure. In the current model, the patient participates in an
interview with nurses, doctors and physicists, before admission, and receives written and verbal information
about the treatment procedures in order to diminish his anxiety and clarify possible doubts. In all the cases
under hospital care there were no instances of high exposure (above 1mSv/month or 6 mSv/year) among the
staff. With the participation of all involved, there was an escalating improvement in the reduction of
complications generated by the patient’s anxiety, waste decrease providing better comfort during hospital care)
and minimization of occupational hazard affecting the staff in charge of the patient’s room maintenance after
hospital leave.
1. INTRODUÇÃO
O câncer de tireóide responde por 1% das neoplasias em adultos, sendo a neoplasia maligna
mais comum do sistema endócrino [1,2,3]. Os tipos mais comuns são: o carcinoma papilífero
e o carcinoma folicular, que juntos correspondem a cerca de 90% dos cânceres da tireóide
[1,2,3]. Como seus diagnósticos e tratamentos são muito semelhantes, o papilífero e o
folicular podem ser agrupados sob a denominação comum de Câncer Diferenciado de
Tireóide (CDT), o que permite simplificar seu estudo.
A maioria dos casos de CDT (85-90%) caracteriza-se por uma evolução indolente e de baixo
risco de morbidade e mortalidade (com o tratamento adequado). São mais comuns em
mulheres (3:1) entre a 3ª e 4ª década de vida [3].
Tratamentos com iodo radioativo (131I) foram introduzidos para tratamentos de doenças da
tireóide desde 1946 por Seidlin et al. [4] e são as mais importantes fontes de exposição
pública e de familiares de pacientes que receberam radionuclídeos não selados [5].
Membros do público e trabalhadores da saúde podem ser expostos à radiação ionizante
através do contato com pacientes submetidos aos tratamentos anteriormente mencionados.
Isso pode ocorrer de duas formas. Na primeira, o paciente age como uma fonte de radiação
gama. Na segunda, o doente excreta o iodo radioativo através de seus fluidos corporais, tais
como urina, suor e saliva. A radiação recebida como resultado das exposições gama é
chamada de ‘dose externa’ e aquela recebida como resultado da ingestão de material
contaminado pela atividade excretada é chamado de ‘dose interna’ [6].
Para prevenir tais tipos de exposição, existem vários protocolos (guidelines) para tratamento
e acompanhamento do câncer de tireóide, entre os mais conhecidos há o da American Thyroid
Association [7], revisado em 2009, e o da European Thyroid Association [8], publicado em
2006. Tais protocolos reúnem as evidências existentes sobre a evolução e tratamento e tentam
estabelecer uma padronização de conduta para casos de CDT. No entanto, são raros os
protocolos que abordam esta questão sob o enfoque da proteção radiológica, dentre os quais
se pode citar o mais comumente utilizado o ICRP 94 [9], publicado em 2004 e que aborda
somente a alta dos pacientes tratados com fontes não seladas, e o TECDOC 1806 [10],
publicado em 2009. Ainda assim, restam questões práticas cotidianas concernentes à
realidade dos hospitais públicos brasileiros que obstruem a otimização desta prática. Tais
dificuldades e as respectivas soluções alcançadas por nosso grupo serão mencionadas adiante.
O enfoque de nosso trabalho é demonstrar que atitudes simples na rotina dos trabalhadores do
Serviço de Medicina Nuclear (SMN) interferem positivamente na radioproteção de todos os
envolvidos na internação do paciente, otimizando também seu bem estar durante o
procedimento.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Em 18 anos de funcionamento do quarto terapêutico, diferentes rotinas de trabalho foram
utilizadas pelos profissionais responsáveis pelas internações. Com o passar do tempo, estas
foram aperfeiçoadas de forma a otimizar a radioproteção e facilitar o trabalho de toda equipe.
No atual modelo de internação que utilizamos, o paciente participa de uma série de
entrevistas. A primeira acontece no dia da consulta com o endocrinologista para a marcação
da internação, quando o paciente recebe instruções por escrito sobre o porquê da internação,
objetos pessoais que podem ou não ser levados e outras informações referentes ao preparo do
procedimento. Após essa consulta, o paciente é encaminhado para uma entrevista com o
grupo de enfermagem do Serviço de Medicina Nuclear. Neste encontro, um dos membros da
equipe o leva ao quarto para familiarização com o ambiente, além de fornecer orientações
IRPA 2013, Rio de Janeiro, RJ, Brazil.
práticas, tais como entrega de alimentação, número de banhos a serem tomados e a
importância da ingestão de líquidos, a fim de passar a segurança de que ele será sempre
orientado e assistido, reduzindo assim sua ansiedade e eliminando possíveis dúvidas.
Em seguida, o paciente passa por uma entrevista com o físico do setor, que se coloca
disponível para esclarecer possíveis dúvidas com relação ao tratamento com material
radioativo, ouvindo quais informações o paciente já possui sobre a internação e a fonte destas
informações. Na maioria dos casos, o doente chega repleto de mitos advindo de consultas a
mecanismos de busca na internet e conversas com indivíduos leigos, gerando stress e
ansiedade. Não é raro ouvir comparações entre este procedimento e Chernobyl, por exemplo.
Neste ponto, a intervenção do profissional de saúde que está lidando com este doente é
fundamental no sentido de esclarecer estas questões e substituir a informação pregressa pelo
conhecimento verdadeiro, caracterizando a aprendizagem significativa [11]. Como grande
parte dos doentes está em hipotireoidismo, muitas vezes, sua cognição está temporariamente
comprometida, as informações sobre os procedimentos para manter o quarto organizado e
com geração mínima de rejeitos, são passadas tanto de forma escrita quanto de forma visual,
sendo passadas através de figuras afixadas nas paredes em locais apropriados. Esse tipo de
comunicação ajuda também na compreensão das informações pelos pacientes analfabetos,
que são facilmente encontrados nos hospitais da rede pública. Além disso, o físico também é
o responsável por passar para o paciente as orientações de Radioproteção junto a sua família
após a alta, principalmente no caso em que o paciente tenha contato com crianças ou
mulheres grávidas.
Neste primeiro momento, é muito importante que os profissionais envolvidos estejam atentos
às demandas do paciente, não só as médicas (remédios previamente prescritos, cuidados
adicionais à saúde, etc.), como às psicológicas. Pela experiência de nosso grupo, percebeu-se
que estas demandas são as mais importantes quando relacionadas a possíveis intercorrências
durante a internação que podem causar aumento de doses ocupacionais.
No dia da internação, o paciente passa por uma entrevista com o endocrinologista responsável
para dar entrada na internação e realizar procedimentos clínicos pertinentes. Em seguida, o
paciente é levado ao quarto pela enfermagem, que o orienta com relação à organização do
mesmo, seguindo uma sequência escrita de procedimentos, que posteriormente é dada ao
paciente. Neste mesmo dia, antes da administração do 131I, o físico responsável conversa com
o paciente sobre possíveis dúvidas ainda existentes, e repassa o guia de procedimentos e as
informações visuais afixadas nas paredes.
Chamamos a atenção também para o documento escrito fornecido ao paciente nesta
entrevista. Mesmo que este não seja capaz de ler, deve-se entregar um documento com as
informações passadas durante o primeiro encontro. Um familiar ou acompanhante poderá
ajudá-lo na leitura posterior de tais informações, caso necessário. É salutar manter no quarto
apenas o necessário para sua estada no hospital, gerando o mínimo de rejeitos possível. Sendo
assim, as seguintes estratégias foram adotadas: substituição de copos, pratos e talheres
descartáveis por outros permanentes, sempre atentando para que fossem de fácil
descontaminação, caso necessário; orientação aos pacientes para que, nas refeições, a comida
recebida nos recipientes fosse gradativamente transferida para o prato existente no quarto
com colheres limpas, evitando assim, a contaminação, por saliva, da comida restante.
IRPA 2013, Rio de Janeiro, RJ, Brazil.
Por derradeiro, salientamos o alto valor de treinamento das equipes. Neste treinamento, que
deve ocorrer anualmente ou a cada vez que entrar um novo membro na equipe, devem-se
valorizar as experiências anteriores como exemplo de situações bem sucedidas ou não para
que os funcionários saibam como proceder em situações habituais e de emergência a fim de
não receberem dose desnecessária.
3. RESULTADOS
Percebeu-se que a entrevista prévia trouxe menos ansiedade para o paciente, uma vez que
este já estava informado das rotinas de radioproteção a serem adotadas durante a o período de
internação e em casa, pós-alta. A utilização de materiais não descartáveis minimiza a
exposição dos responsáveis pela liberação do quarto para limpeza por lidar com menos
rejeitos radioativos e aumenta o conforto do paciente durante sua estada no hospital, uma vez
que há reduzida quantidade de resíduos, que não poderiam ser retirados do quarto durante a
internação. A adoção de estratégias para servir a alimentação também eliminou a necessidade
de guardar material perecível para decaimento radioativo.
Por conta da entrevista prévia, os pacientes sentiram-se mais ‘acolhidos’ pelos profissionais
de saúde e todas as intercorrências relativas a aumento de stress e ansiedade (como elevação
de pressão arterial, crises de ansiedade com demanda medicamentosa, etc.) foram
drasticamente reduzidas a casos isolados e esporádicos. Todos os procedimentos aqui
descritos são atitudes simples e de execução imediata, não onerosas para instituição e que
reduzem drasticamente a exposição da equipe.
Durante todos estes anos de internações, não houve casos de dose elevada (acima de 1
mSv/mês ou 6 mSv/ano, considerado como nível de investigação, segundo a norma CNEN
NN 3.01) [12] nas equipes. Não obstante, uma redução nas doses ocupacionais dos
trabalhadores responsáveis pela liberação do quarto foi percebida. Outra transformação
importante foi a redução de rejeitos radioativos com alto índice de contaminação, o que reduz
o tempo em que devem permanecer armazenados, reduzindo também a exposição de
funcionários responsáveis pelo seu gerenciamento.
4. CONCLUSÃO
Com o envolvimento de todos os trabalhadores relacionados à internação no quarto
terapêutico, houve melhoras crescentes no que diz respeito à diminuição de intercorrências
causadas por ansiedade do paciente, minimização de rejeitos (aumentando o conforto durante
todo o processo) e minimização de dose ocupacional na equipe que realiza a liberação do
quarto para limpeza. Cabe enfatizar que tais propostas não são ações definitivas para qualquer
serviço em que forem aplicadas. É necessário manter a equipe constantemente atualizada e
atenta a demandas inéditas que só a experiência com os pacientes pode fornecer.
REFERÊNCIAS
1. Schlumberger, MJ; Filetti, S; Hay, ID. Nontoxic goiter and thyroid neoplasia. In: Larsen
PR, Kronenberg HM, Melmed S, Polonsky KS (editors). Williams Textbook of
Endocrinology. 10th ed. New York: Elsevier, 2003. p.457-90.
IRPA 2013, Rio de Janeiro, RJ, Brazil.
2. Maciel, RMB; Biscolla, RPM. Diagnóstico e tratamento do câncer de tiróide. In: Vilar L
(editor). Endocrinologia Clinica. 3ª ed. Rio de Janeiro: Medsi, 2006. p. 240-52.
3. Sherman, S. Thyroid carcinoma. Lancet, 2003. 361:501-11.
4. Seidlin, S.M., Marrinelli, L.D., Oshry, E., Radioactive iodine therapy: Effect on functioning
metastases of adenocarcinoma of thyroid, JAMA 132 (1946) p. 838-847.
5. International Atomic Energy Agency (IAEA). Release of patients after radionuclide therapy
/ with contributions from the International Commission on Radiological Protection. Viena :
International Atomic Energy Agency, 2009.
6. Barrington, S. F. et al. Measurement of the internal dose to families of outpatients treated
with 131I for hyperthyroidism. Eur J Nucl Med Mol Imaging (2008) 35:2097–2104.
7. Cooper, DS et al. Revised American Thyroid Association Management Guidelines for
Patients with Thyroid Nodules and Differentiated Thyroid Cancer. 2009. Disponível em
<http://www.thyroid.org/professionals/publications/guidelines.html>.
Acessado
em
02/05/2011.
8. Pacini, F; Schlumberger, M; Dralle, H; Elisei, R; Smit, JWA; Wiersinga, WM and the
European Thyroid Cancer Taskforce. Consensus Statement. European consensus for the
management of patients with differentiated thyroid carcinoma of the follicular epithelium.
Eur J Endocrinol, 2006. 154:787-803.
9. International Commission on Radiological Protection (ICRP). Release of Patients after
Therapy with Unsealed Radionuclides. ICRP Publication 94. Ann. ICRP 34 (2). 2004
10.
International Atomic Energy Agency (IAEA). Nuclear Medicine in Thyroid Cancer
Management: A Practical Approach. IAEA Tecdoc Series No. 1608. 2009.
IRPA 2013, Rio de Janeiro, RJ, Brazil.
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