DISCURSO DE SUA EXCELÊNCIA O GOVERNADOR DO BANCO DE MOÇAMBIQUE POR OCASIÃO DO BRINDE DO FIM DO ANO DE 2015 MAPUTO, 16 DE DEZEMBRO DE 2015 1 Senhor Vice-Governador, Excelência; Senhores Sérgio Vieira, PrakashRatilal e Eneias Comiche, antigos Governadores do Banco de Moçambique; Senhores Administradores do Banco de Moçambique; Senhores Presidentes dos Conselhos de Administração e das Comissões Executivas das Instituições de Crédito; Senhores Representantes de Instituições do Governo, Instituições Financeiras e Sócioprofissionais; Senhores representantes da Associação Moçambicana de Bancos; Senhores Membros do Conselho de Auditoria do Banco de Moçambique; Senhores Antigos Administradores do Banco de Moçambique; Caros Directores, Gestores e Técnicos do Banco de Moçambique; Estimados líderes sindicais do sector bancário; Senhores representantes dos órgãos de comunicação social; Distintos Convidados; Minhas Senhoras e meus Senhores Sentimo-nos particularmente regozijados por vos acolher nesta casa para o habitual encontro de balanço preliminar do exercício económico e financeiro do ano prestes a findar, bem como para a apresentação das nossas perspectivas para o ano que se avizinha, sublinhando que as mesmas cristalizam as nossas principais linhas de actuação no quadro dos objectivos de política económica e financeira traçados pelo Governo de Moçambique. Permitam-me que comece esta intervenção por saudar, em meu nome e em nome do Conselho de Administração, a vossa presença nesta cerimónia. Tomo esta oportunidade para expressar o nosso profundo reconhecimento a todos os parceiros do Banco de Moçambique, nacionais, instituições estrangeiras bilaterais e multilaterais, cuja colaboração contribui para o cumprimento exitoso da nossa missão de Banco Central da República de Moçambique. Saúdo de forma especial às instituições de crédito e sociedades financeiras que operam no País, a quem reconhecemos a valiosa parceria na implementação das nossas políticas que perseguem objectivos sublimes de estabilidade macroeconómica e do sector financeiro, com 2 um positivo impacto social em termos de bancarização e desenvolvimento sustentável e inclusivo. Aproveito esta ocasião para saudar o nosso Governo pela inestimável colaboração que presta à nossa actividade quotidiana e pela constante solidariedade e apoio nos momentos em que, derivado das nossas funções de autoridade monetária e de supervisores do sistema financeiro, somos chamados a tomar medidas enérgicas e de visibilidade para controlar choques e reequilibrar os desajustes daí resultantes. Aplaudimos as medidas e acções que o Governo leva a cabo nos vários domínios visando consolidar a paz e reforçar a credibilidade do País além-fronteiras, factores de grande impacto para o desenvolvimento de Moçambique. No presente ano, o nosso Governo foi chamado a tomar importantes medidas sociais e económicas para aliviar o sofrimento de milhares de compatriotas nossos afectados pelas cheias do início do ano, assim como medidas para mitigar os efeitos de uma conjuntura internacional adversa, sem descurar reformas que solidifiquem a atractividade do nosso País ao investimento nacional e estrangeiro, que seja criador de emprego, adicione valor e prossiga com a marcha do nosso crescimento robusto e inclusivo. Cumpre-nos nesta hora agradecer a prestimosa colaboração que recebemos dos agentes económicos e do sector privado congregado na CTA, de inúmeras associações económicas e sócio-profissionais, da comunidade académica e da comunicação social, que muito nos sensibiliza e nos encoraja a melhorarmos o nosso desempenho e o processo de comunicação, no quadro das funções que nos estão cometidas. Ilustres Convidados, No final do ano passado, anunciámos que em 2015 levaríamos a cabo um conjunto de actividades para assinalar condignamente o 40º aniversário do Banco de Moçambique e o 35º da criação do Metical, a nossa moeda nacional. Chegados aqui, o balanço que fazemos é positivo. Cumpre-nos prestar um tributo especial a todos os painelistas, oradores, artistas, desportistas que colaboraram nos vários eventos que organizámos, partilhando o seu saber, a sua experiência e valências, num convívio e intercâmbio são e desinteressado. Os meus agradecimentos são extensivos aos gestores e trabalhadores do Banco de Moçambique, no activo e na reforma, assim como de diversas instituições, pela maneira exemplar como tomaram parte nas nossas celebrações, tornando-as ímpares e merecedoras de aplausos por todos os nossos hóspedes, nacionais e estrangeiros. No quadro das comemorações dos aniversários do Banco e do Metical, importantes eventos tiveram lugar no País, nomeadamente um simpósio internacional subordinado ao tema “O Papel da Inclusão Financeira no Crescimento Económico”, a Reunião Ordinária do Comité dos Governadores dos Bancos Centrais da SADC (CCBG), um ciclo de palestras denominado “Histórias Vividas”, que teve como oradores personalidades que desempenharam após a Independência Nacional funções governativas no domínio de planificação, finanças e diferentes especialidades do banco central tudo na perspectiva de, mais do que festejar, 3 aproveitar as datas para consolidar os conhecimentos necessários às nossas actividades e imortalizar factos da nossa memória institucional. Gostaria de, em nome do Conselho de Administração, expressar sinceros agradecimentos a todos os que participaram e aos que contribuíram em cada evento! No ano em revista, o País hospedou igualmente a Reunião anual do grupo Banco Islâmico de Desenvolvimento – BID, tendo a nossa capital acolhido dirigentes desta instituição internacional, assim como dirigentes de governos, bancos centrais, instituições financeiras e diversos organismos associados às finanças islâmicas dos vários quadrantes do mundo. Igualmente, na nossa qualidade de membros da Alliance for Financial Inclusion (AFI), uma entidade internacional que tem como objectivo apoiar os países membros na definição de políticas que contribuam para a inclusão financeira, acolhemos em Setembro o VII Encontro Mundial sobre Políticas de Inclusão Financeira, que teve como tema “Promovendo a Inclusão Financeira Inspirada na Inovação”. Trata-se de eventos que constituíram oportunidades importantes para a partilha de experiências e para sintetizar valiosos contributos que enriquecem a nossa visão em diferentes áreas emque intervimos como banco central. Minhas Senhoras Meus Senhores, Iniciámos o presente ano com redobrada cautela, em face de uma conjuntura internacional difícil que emitia sinais preocupantes em alguns indicadores da nossa economia na parte final de 2014, com destaque para indicadores do sector externo. Após anos sucessivos em que os fundamentos económicos sustentaram uma apreciável estabilidade macroeconómica, no presente ano oagravamentode adversidades na conjuntura internacional, sobrepostas a debilidades de conjuntura doméstica, fazem com que alguns indicadores macroeconómicos, tais como a inflação e a taxa de câmbio, se situem acima das previsõesiniciais. Com efeito, depois de termos fechado o ano de 2014 com o Dólar a ser cotado no mercado cambial interbancário em 31,60 MT, dados referentes ao fecho do dia 15 de Dezembro de 2015 apontam para um câmbio de 48.30 MT/USD, o que em termos acumulados corresponde a uma depreciação nominal do Metical de 47%. Refira-se que a volatilidade da taxa de câmbio não é exclusiva da economia moçambicana. Ela generaliza-se a todas as economias do mundo, desde economias desenvolvidas, de mercado emergentes e economias em desenvolvimento. Dependendo de cada caso, alguns países confrontam-se com uma instabilidade conjuntural e outros revelam uma mistura de problemas estruturais com os de momento. O fortalecimento do Dólar no mercado internacional traduz a desaceleração de economias pujantes como a China, o Brasil, a Rússia, resultando numa contracção da procura de commodities no mercado internacional e consequentemente queda dos preços. 4 Para o caso de Moçambique, a queda dos preços internacionais do gás em cerca de 39%, do carvão em 24%, das areias pesadas em 18%, do alumínio em 6%, do algodão em 20% e do camarão em 11%, afectounegativamente as receitas de exportação arrecadadas pelo País com impacto na menor disponibilidade de divisas no mercado. Adicionalmente, o nosso País apresenta um défice estrutural na sua balança de transacções correntes, significando um excesso de consumo interno em relação à produção, não só afectando a capacidade de resiliência da economia a choques mas também agravando essa debilidade. Nos primeiros nove meses de 2015, o défice da conta corrente do país, excluindo as transacções dos grandes projectos, agravou-se significativamente, relativamente a igual período de 2014. As exportações totais baixaram em 9,3% e as importações diminuíram em 3%. Se esta análise excluir as importações dos grandes projectos, observa-se que as importações realizadas terão aumentado no período em 8,4%. Até Setembro de 2015, o Investimento Directo Estrangeiro reduziu em 15,2% quando comparado com igual período de 2014, tendo os desembolsos de ajuda externa para apoio ao Orçamento e para projectos sido inferiores em USD 632 milhões aos recebidos em 2014. A dimensão do choque externo sobre a nossa balança de pagamentos, assim como a queda do investimento directo estrangeiro e o aumento do serviço de dívida pública externa, implicaram que as divisas disponíveis no mercado fossem inferiores em 381 milhões de Dólares quando comparadas com igual período de 2014, com reflexos na espiral de depreciação do Metical que enfrentamos, não sendo de menosprezar também o factor expectativas e posturas inadequadas associadas a algum oportunismo e especulação. Distintos convidados Os desequilíbrios em alguns indicadores macroeconómicos levaram-nos a tomar medidas restritivas que sinalizam uma política monetária que visa conter a procura por moeda, incluindo a procura por divisas. Após um ciclo de política monetária orientado para maior expansão do crédito com taxas de juro mais atractivas que vinha vigorando desde 2011, procedemos a partir de Outubro a revisões em alta nas taxas de juro directoras do Banco de Moçambique, colocando a taxa das Facilidades Permanentes de Cedência e de Depósitos em 9.75% e 3.75% respectivamente, e subindo o Coeficiente de Reservas Obrigatórias para 10.5%. Estas medidas foram complementadas com intervenções nos mercados interbancários, tendo o Banco de Moçambique disponibilizado quantidades consideráveis de divisas no Mercado Cambial Interbancário (MCI), respeitando os nossos compromissos em matéria de reservas internacionais líquidas. Com efeito, colocámos no mercado cambial até 11 de Dezembro um total de USD 1,072 milhões (dos quais, USD 309milhões somente no último trimestre) comparando com USD 1.207,7 milhões em todo o ano de 2014, fazendo com que as nossas reservas brutas permitam actualmente cobrir 3.7 meses de importações de bens e serviços não factoriais, quando excluídas as transacções dos grandes projectos. Ainda que os preços internacionais do petróleo estejam em queda acentuada desde meados de 2014, a contribuição das reservas internacionais para a factura de importação de combustíveis líquidos para o País manteve-se quase inalterada ao passar de USD 662.7 milhões em todo o ano de 2014, para os USD 603.1 Milhões em 2015, montante que, no entanto, incrementa 5 para USD 745,4 milhões quando considerada a comparticipação directa para a importação de bens essenciais efectuada pelo Banco de Moçambique nesta parte final do ano. A par das medidas de política monetária, reforçámos a supervisão e a disciplina no sistema de pagamentos, visando assegurar o cumprimento escrupuloso do consagrado na legislação cambial no que tange ao princípio de repatriamento e conversão das receitas de exportação, assim como maximizar o uso eficiente de meios modernos de pagamentos, incluindo nas operações com o exterior. Quero aproveitar esta oportunidade para lembrar a todos os operadores do sistema bancário e a todos os agentes económicos que intervêm no comércio externo que o princípio da liberalização da conta corrente em vigor desde 2011 incumbe aos bancos a responsabilidade de assegurar que todo o processo ocorra de conformidade com as normas e boas práticas internacionais, para além do dever de assegurar um sistema estruturado de recolha, verificação e validação de informação para fins de controlo cambial e construção da nossa balança de pagamentos. Estamos convictos de que a realização das operações cambiais de conformidade com as normas vigentes contribuirá para uma maior estabilidade cambial através do reforço do fundo cambial do País, bem assim para o aumento da poupança interna e redução da dependência externa. Nesta parte final do ano e com efeitos a partir de 1 de Janeiro de 2016, fixámos um limite de pagamentos ao exterior com recurso ao cartão de débito ou de crédito (cartão bancário internacional) num montante que não deve exceder os 700.000,00 MT, por ano civil e por pessoa (singular ou colectiva), independentemente do número de cartões que possua, uma medida que tem em vista garantir a observância de procedimentos para evitar o risco financeiro no uso de cartões no ou para o exterior e permitir uma melhor gestão do fundo cambial do País. A evolução recente da taxa de câmbio leva-nos a considerar que as medidas adoptadas começam a produzir os efeitos esperados, pois a taxa de câmbio média das cotações no Mercado Cambial Interbancário recuou de um máximo 54.82 MT/USD, registado a 22 de Novembro, para os actuais 48,33 MT/USD, tendência igualmente observada nas taxas praticadas nas transações dos bancos com a sua clientela, que regrediu de uma média de 57.04 MT/USD para cerca de 50,0 Meticais no mesmo período. Adicionalmente, o spread para com a taxa de cotações reduziu de 10,9% em finais de Março para cerca de 1,4 por cento, que se mantém actualmente. Relativamente ao rand sul-africano, a última informação disponível mostra também uma tendência para recuperação do metical, com a taxa de câmbio média a recuar de um máximo em redor de 3,9 MT/ZAR em Novembro para os actuais 3,6 MT/ZAR. Esperamos, pois, ver esta tendência recente do Metical a traduzir-se na desaceleração dos preços de venda de produtos nos mercados locais nesta parte final do ano. Minhas Senhoras, Meus Senhores, 6 O gradual ajustamento de alguns preços administrados de bens e serviços que se mantinham inalterados desde 2011, associado ao impacto da depreciação cambial, faz-nos antever que em final de Dezembro a inflação se posicionará ligeiramente acima das nossas projecções iniciais, mas alinhada com a média dos países da região da SADC e com as nossas estimativas de médio e longo prazos, como resultado das medidas já tomadas, em coordenação com as acções de âmbito fiscal/orçamental e de adequada fiscalização das operações de comércio de bens e serviços. De recordar que a inflação, medida pela variação do IPC da cidade de Maputo, passou de 1,28% em Setembro para 5,04%, no fecho do mês de Novembro de 2015, comportamento igualmente observado ao nível de todo o País, em que o IPC agregado atingiu 6.27% até Novembro. Apraz-nos constatar que, apesar dos choques exógenos a que nos referimos anteriormente, a economia moçambicana continua a crescer a ritmos superiores à média da África Subsahariana. Dados preliminares publicados pelo INE indicam que o PIB cresceu 6.1% nos primeiros nove meses do ano, o que corresponde a uma ligeira desaceleração em relação ao ritmo observado em igual período de 2014. Entretanto, o facto de o desempenho da actividade económica em Moçambique continuar a ser liderado pela dinâmica do sector da agricultura com o maior peso na economia como sendo de 29,8%, seguido pelos sectores dos transportes e comunicações, anima-nos sobremaneira por estes serem os sectores que mais emprego criam, estando associados à mão-de-obra intensiva e por isso com um potencial efeito multiplicador no nível de renda e consumo de muitas famílias. Importa realçar que o crescimento da actividade económica que se tem registado traduz, entre outros factores, o efeito do apoio proveniente do sector financeiro através do financiamento bancário ao sector privado, que, de acordo com dados reportados a Outubro de 2015, regista uma expansão anual de 23%. A expansão do crédito bancário nos últimos anos foi sendo acompanhada por uma queda substancial nas taxas de juro. Do saldo total do crédito à economia, cerca de 49% foi disponibilizado a taxas inferiores a 15%, situação bem diferente da registada em 2011 quando apenas 14% do stock total de crédito estava a taxas inferiores a 15%. Observa-se assim que, apesar de alguma lentidão no processo de ajuste, as taxas de juro a retalho evoluíram em linha com o sentido de política monetária que fomos emitindo ao longo dos últimos anos, postura que esperamos venha a ser mantida no presente e futuro. Tendo em vista contribuir para a redução da assimetria de informação e consequente melhoria do acesso das empresas, particularmente as Pequenas e Médias, ao crédito bancário a custos mais baixos, a Assembleia da República aprovou a Lei nº 6/2015, de 6 de Outubro, que cria o sistema de informação de crédito de gestão privada e estabelece as normas do seu funcionamento, decorrendo neste momento a sua regulamentação. Estas centrais terão a missão de colher e sistematizar informações sobre pagamentos diferidos de um leque variado de utentes que usufruem de bens e serviços a crédito. Minhas Senhoras, Meus Senhores, Caros Convidados No ano em balanço, mantivemos a nossa postura de supervisão e fiscalização das instituições, realizando inspecções regulares às instituições crédito que operam no nosso mercado. A 7 vigilância que temos mantido junto das instituições, aliada ao crescente profissionalismo dos seus gestores, permite que, apesar da forte expansão do crédito à economia ocorrida nos últimos anos, o rácio do crédito malparado se mantenha a níveis inferiores a 5%, e o rácio de solvabilidade se situe bem acima dos mínimos exigidos internacionalmente. Nos últimos anos, temos assistido a um aumento persistente e diversificação do tipo de instituições financeiras que operam no mercado nacional. Em 2015, apesar de se ter mantido o mesmo número de bancos a operar no País (18), o sistema financeiro moçambicano manteve a dinâmica dos últimos anos, alargando a sua presença física ao longo de todo o território nacional. Desde o início do ano, registámos a entrada em funcionamento de 14 novos balcões de bancos, elevando o total nacional para 586 agências que cobrem todas as capitais provinciais, municípios e 70 distritos rurais do nosso país. Visando acelerar a expansão da presença física da banca nas zonas ainda desprovidas de serviços financeiros mínimos e ainda para prevenir interrupções bruscas no provimento daqueles serviços, foi aprovado o Decreto nº 30/2014, de 5 de Junho, que estabelece regras, condições e critérios de abertura de agências bancárias, que incluem a proporcionalidade geográfica bem como os locais elegíveis para o efeito (Aviso nº 1/GBM/2015, de 18 de Fevereiro) e estabeleceu os termos e condições em que os bancos e microbancos podem estender a sua actividade por meio da contratação de agentes bancários (Aviso nº 3/GBM/2015, de 13 de Abril). Com a institucionalização da figura de agente bancário, cria-se no nosso ordenamento mais um tipo de operador financeiro através do qual os bancos podem passar a prestar serviços financeiros básicos à população sem a presença física deles no local, mas através de operadores intermediários cuja actividade ao longo do tempo poderá redundar na instalação presencial de bancos nessas zonas. Nos termos estabelecido pelo Decreto n.º 30/2014, de 5 de Junho, aprovamos o Aviso n.º2/GBM/2015, de 22 de Abril, que estabelece os termos e as condições de ligação dos sistemas internos de gestão de operações das instituições de crédito e sociedades financeiras à rede única nacional de pagamentos electrónicos. Com a conclusão do processo de ligação de todos os bancos à rede da Sociedade Interbancária de Moçambique (SIMO), esperamos que tal venha a contribuir para a redução dos custos de intermediação financeira a que a nossa população estava sujeita e ao incremento da eficiência do nosso sistema de pagamentos tecnologicamente mais integrado. No quadro do nosso objectivo de promoção da inclusão financeira cuja implementação tem vindo a contar com um forte envolvimento das instituições financeiras que operam no País, apraz-nos constatar que o nível de acesso e uso dos serviços financeiros tem vindo aumentar, tendo o número de contas abertas de particulares no sistema bancário passado de cerca de 3.5 milhões no fecho de 2014 para 4 milhões em 2015. Adicionalmente, regista-se com agrado a forte e rápida adesão da população aos serviços financeiros acedidos através das novas tecnologias, particularmente, o telefone móvel, tornando-se este uma solução válida e de grande utilidade sobretudo para a população e agentes económicos residentes nas regiões ainda sem nenhuma representação física de instituições. Apesar de os resultados até aqui alcançados serem animadores, sabemos também que muito há ainda por ser feito para que a breve trecho possamos ter muitos mais moçambicanos incluídos financeiramente. Todavia, a rápida adesão da população a este meio alternativo de acesso aos serviços financeiros impõe desafios acrescidos ao Banco de Moçambique no âmbito da sua missão de 8 protecção do consumidor financeiro nestes novos produtos e serviços financeiros. É neste contexto, que aprovamos o Aviso n.º 6/GBM/2015, em 13 de Julho, que estabelece as medidas de protecção dos fundos recebidos dos clientes em troca da moeda electrónica emitida pelas instituições de moeda electrónica. Ainda sobre a inclusão financeira e em cumprimento do que está plasmado nas acções da Estratégia de Desenvolvimento do Sector Financeiro, aprovada pelo Governo, decorrem os trabalhos finais de elaboração da proposta da Estratégia Nacional de Inclusão Financeira e aproveito esta oportunidade para agradecer as valiosas contribuições e colaboração que temos vindo a receber de todos os actores do sector financeiro nacional. No ano prestes a findar, passamos a permitir que os nossos bancos iniciem o processo de criação de condições para que se liguem à plataforma de liquidação financeira em tempo real das transacções transfronteiriças intra-regionais da SADC (SIRESS - SADC Integrated Regional ElectronicSettlement System) o que para além de flexibilizar as referidas transacções irá contribuir para a minimização dos custos associados. Minhas Senhoras, Meus Senhores, Distintos Convidados São tímidos os sinais de recuperação da economia mundial, sendo as perspectivas para as economias de mercados emergentes de maiores riscos devido ao efeito da queda dos preços das commodities, a volatilidade dos mercados financeiros e reduzidos fluxos de capitais para estas economias, colocando assim, sob pressão as respectivas moedas. Segundo dados do WorldEconomic Outlook, a economia mundial poderá crescer este ano em 3,1%, abaixo dos 3,4% de 2014 e dos 3,6% esperados para 2016, com o desempenho mais robusto nas economias avançadas lideradas pelos EUA e a recuperação do Japão, sendo que nos emergentes, espera-se a contribuição do Brasil e da Rússia que, actualmente, enfrentam um ciclo de recessão económica.Para a África subsaariana, não obstante as perspectivas de fraco desempenho da economia sul-africana, no geral as previsões apontam para uma ligeira recuperação no próximo ano, esperando-se um crescimento em torno de 5,0% no ano. Para o caso moçambicano, a preservação da paz é essencial para consolidar a estabilidade macroeconómica e do sector financeiro, bem assim para a materialização dos objectivos consagrados pelo Governo no Plano Económico e Social, para 2016, que prevê um crescimento real do Produto Interno Bruto em 7%, uma inflação anual de 5,6% e um nível de reservas internacionais, que contribuam para a cobertura de pelo menos 4 meses de importações de bens e serviços não factoriais pelos activos externos. A política monetária continuará a privilegiar a utilização de instrumentos de mercado visando uma expansão da base monetária, nossa variável operacional, não superior a 12,0%, em linha com o crescimento nominal do agregado mais amplo de moeda e um incremento do crédito ao sector privado em redor de 17,5%. Por outro lado, daremos seguimento as acções estruturais em curso, no quadro da formulação, gestão e implementação da política monetária, bem como na supervisão das instituições de crédito e sociedades financeiras, visando assegurar a manutenção da estabilidade macroeconómica e financeira. À semelhança do que vem sucedendo nos últimos anos, as condições de financiamento ao Orçamento do Estado e Balança de Pagamentos para 2016 foram negociadas ainda no 9 decurso do presente ano, estando previsto para o próximo ano um total de USD 465 milhões, montante que é ligeiramente superior aos montantes prometidos e desembolsados em 2014. Destacamos, ainda, o facto de o Parlamento ter já aprovado o Plano Económico e Social e Orçamento de 2016, colocando, desde já, ao dispor do Governo e agentes económicos, importantes instrumentos de gestão macroeconómica e orientação financeira para o ano prestes a iniciar. Minhas Senhoras Meus Senhores Caros Convidados, A conjuntura que vivemos continua sendo de grandes desafios para as nossas instituições e a busca de soluções para os mesmos obriga-nos a estarmos atentos às novas dinâmicas dos mercados internos e internacionais e a uma permanente troca de informações que nos permita enfrentar coordenadamente os choques e riscos que prevalecem. As circunstâncias que temos enfrentado não são apenas momentâneas, espelham, em muitos casos aspectos estruturais de médio e longo prazo queprecisam de ser adequadamente tratados. O país precisa de aproveitar o seu potencial agrícola, energético, turístico e de prestador de serviços para realizar profundas transformações económicas, que assegurem a elevação da produção e produtividade, a promoção das exportações, a substituição das importações e a geração do emprego. O Banco de Moçambique continuará empenhado no seu principal objectivo, que é o de assegurar uma inflação baixa e estável, pois acreditamos ser esta a via através da qual nos tornamos mais competitivos na atracção de novos investimentos, para além de permitir preservar o poder de compra das famílias com menores rendimentos, contribuindo, assim, para o combate à pobreza. No que respeita à nossa missão de supervisão do sistema, prosseguiremos com a vigilância aos indicadores de solidez e estabilidade do sistema financeiro para evitar a ocorrência de eventos que possam, no futuro, vir a afectar a saúde do nosso sector e a confiança dos agentes económicos nas instituições e serviços por estas prestados. Continuaremos também a trabalhar com o Governo, com o sector privado e com os bancos em particular, tendo em vista estimular uma maior expansão dos serviços financeiros para as zonas rurais, onde o grau de intermediação financeira ainda se mantém bastante reduzido. Permitam-me que aproveite esta ocasião para agradecer, com ênfase, aos agentes económicos e à sociedade em geral pelo importante papel que têm desempenhado no processo de criação da riqueza nacional, factor essencial para o combate a pobreza e redução da dependência externa. Por último, quero expressar o meu apreço e do Conselho de Administração aos trabalhadores do Banco de Moçambique, aos Conselhos de Administração e Comissões Executivas das Instituições Financeiras e, por seu intermédio, a todos os trabalhadores do nosso sistema financeiro, pela dedicação e empenho demonstrados ao longo do ano de 2015. A todos e às vossas digníssimas famílias, desejo Festas Felizes e um Ano Novo próspero. Maputo, 16 de Dezembro de 2015 10