“quereMos forMar Pessoas Para resolvereM ProbleMas reais”

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Discussão Temática Feature DISCUSSION
Discussão Temática
“Queremos formar pessoas
para resolverem
problemas reais”
O vice-ministro da Educação
de Moçambique elogia a vocação
da AULP na aproximação
colaborativa entre todos os países
da CPLP (Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa),
especialmente como instrumento
de relacionamento das instituições
do ensino superior, visando um
intercâmbio científico e a elevação
do nível docente, para sustentação
de uma economia baseada
no conhecimento. Para tanto,
aconselha a supervisão da
qualidade do ensino em cada
um dos países-membros da
Associação, na demanda de
um estatuto de qualificação que
promova a melhor mobilidade
entre países. Para além da
garantia da qualidade do ensino
e suas instituições, defende a
internacionalização pela via do
domínio de várias Línguas, que
permite o melhor intercâmbio
educacional e científico, apelando
à China para que não seja apenas
fábrica, mas também exportadora
de saberes para Moçambique.
Arlindo Chilundo
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Gostava que aprofundasse
a sua atenção aos elementos mais
agregadores, que criam maior coesão
entre as instituições do ensino superior.
Refiro-me, por exemplo, à qualidade.
Devíamos promover o aprofundamento
das agências que supervisionam
a qualidade nos seus países. E,
sobretudo, olhar para os indicadores
comuns que têm de existir em cada
país, para que todos tenhamos
o conforto de que a qualidade está lá.
Se isso acontecer, torna-se muito
mais fácil promover a mobilidade,
porque há maior confiança. E é muito
mais fácil aceitar um grau académico
de Moçambique, de Macau, do Brasil
ou de Portugal, porque sabemos em
que condições foi adquirido. Como
consequência, haverá também uma
melhoria do ensino.
O que destaca da AULP?
A associação é muito bem-vinda
porque aproxima as universidades
da Comunidade dos Países
de Língua Portuguesa, mantendo
um crescimento sólido ano após ano.
É um espaço onde os académicos
podem trocar experiências
e aprofundar o relacionamento
entre as instituições do ensino
superior. Não só ao nível da docência,
mas também na investigação.
Aspectos extremamente importantes,
se queremos criar nos nossos
países uma economia baseada
no conhecimento.
Qual a importância da língua
portuguesa na relação
entre os países que a falam
e a China?
É muito importante. Existe um desafio
comum a todos os países dessa
relação: promover o bem-estar
dos seus povos. Para isso tem
de haver cooperação económica,
cultural e noutras dimensões, o que
nos obriga a aprender as Línguas
do outro. A China tem que estar
interessada em aprender Português
para ter acesso ao nosso mercado,
aos nossos recursos. E nós,
naturalmente, temos de aprender
Mandarim, para podermos tirar
vantagem do grande “know how”
que a China tem. Não gostávamos que
a China continuasse a ser só fábrica
para nós, mas que exportasse saber
para os nossos países, para nós
próprios termos capacidade
de produzir e assim fortalecermos
as nossas economias.
Qual é a sua expectativa?
Espero que a AULP vá um pouco
além do que tem sido até agora.
Que avaliação faz do ensino superior
em Moçambique?
Está numa boa fase do seu
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crescimento, sobretudo porque temos
mais moçambicanos com acesso ao
ensino superior. Basta dizer que na
altura da independência, em 1975,
tínhamos uma única instituição de
ensino superior e hoje temos 48. Além
disso, há instituições em todas as
províncias, portanto a sua proximidade
ao cidadão é também maior. Por outro
lado, o ensino superior surge como
um alavancador do desenvolvimento
sócio-económico do nosso país.
Estamos conscientes de que não é
possível construir uma economia sem
o concurso das instituições de ensino
superior, não só pela formação de
quadros, mas também pela pesquisa
e pela inovação, para encontrarmos
soluções para os problemas que
enfrentamos.
E desafios?
São múltiplos. Gostaríamos de ter
mais moçambicanos no ensino
superior, o que significa que temos
de expandi-lo muito mais.
Outro desafio é o da paridade
qualidade/relevância. Estamos
a expandir-nos em termos numéricos,
mas gostaríamos que a questão
da qualidade fosse sempre
observada, assim como a questão
da relevância, pois não basta formar
por formar. Queremos formar
pessoas para resolverem problemas
reais que temos no nosso país.
O que pode o seu governo
fazer em relação a isso?
Já fez. Aprovámos, por exemplo,
a estratégia de formação do corpo
docente, privilegiando recursos para
áreas onde temos poucos professores,
como as áreas tecnológicas.
O governo também aprovou o plano
estratégico para o ensino superior
2012/2020 e nesse plano elegeu
alguma áreas: ciências básicas,
tecnológicas, biomédicas e outras.
São as que recebem preferencialmente
os poucos recursos que podemos
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disponibilizar, a nível de graduação
e pós-graduação. As outras áreas
também são importantes,
mas temos neste momento
um desequilíbrio muito grande,
com 70 por cento dos estudantes
em ciências sociais, humanidades,
ciências jurídicas. O que estamos
a fazer é uma discriminação positiva
para equilibrar o cenário.
E no que diz respeito
a infra-estruturas?
Há um investimento colossal, que
já está a acontecer. Aliás a UniLúrio
é resultado disso, há uns sete anos
nem uma pedra havia lá. Estamos
a fazer e a preparar várias obras,
em universidades e politécnicos,
com projectos de expansão
para todo o país.
A China pode ser um parceiro
fundamental de Moçambique
na ajuda ao desenvolvimento
da educação?
Está a ser e esperamos que seja ainda
mais. Temos tido apoio ao nível do
ensino básico, com a construção de
escolas que a China nos oferece, por
exemplo. No ensino superior, também
temos tido um apoio fundamental,
sobretudo na consolidação de infra-estruturas. Além disso, há empresas
chinesas que concorrem a obras
públicas em Moçambique e ganham,
estando a construir com recursos
nossos.
Que conselhos daria a um estudante
moçambicano que quisesse
aprender chinês, mas não tivesse
possibilidade económica de fazê-lo?
Aconselhava-o a procurar o
Instituto Confúcio que existe em
Moçambique, como primeiro passo,
porque o governo chinês subsidia
essa formação. Depois, se de facto
provasse que era bom, que tentasse
ter uma bolsa do governo chinês para
prosseguir o seu estudo.
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