Discussão Temática Feature DISCUSSION Discussão Temática “Queremos formar pessoas para resolverem problemas reais” O vice-ministro da Educação de Moçambique elogia a vocação da AULP na aproximação colaborativa entre todos os países da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), especialmente como instrumento de relacionamento das instituições do ensino superior, visando um intercâmbio científico e a elevação do nível docente, para sustentação de uma economia baseada no conhecimento. Para tanto, aconselha a supervisão da qualidade do ensino em cada um dos países-membros da Associação, na demanda de um estatuto de qualificação que promova a melhor mobilidade entre países. Para além da garantia da qualidade do ensino e suas instituições, defende a internacionalização pela via do domínio de várias Línguas, que permite o melhor intercâmbio educacional e científico, apelando à China para que não seja apenas fábrica, mas também exportadora de saberes para Moçambique. Arlindo Chilundo 18 N ú m e r o O i t o Gostava que aprofundasse a sua atenção aos elementos mais agregadores, que criam maior coesão entre as instituições do ensino superior. Refiro-me, por exemplo, à qualidade. Devíamos promover o aprofundamento das agências que supervisionam a qualidade nos seus países. E, sobretudo, olhar para os indicadores comuns que têm de existir em cada país, para que todos tenhamos o conforto de que a qualidade está lá. Se isso acontecer, torna-se muito mais fácil promover a mobilidade, porque há maior confiança. E é muito mais fácil aceitar um grau académico de Moçambique, de Macau, do Brasil ou de Portugal, porque sabemos em que condições foi adquirido. Como consequência, haverá também uma melhoria do ensino. O que destaca da AULP? A associação é muito bem-vinda porque aproxima as universidades da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, mantendo um crescimento sólido ano após ano. É um espaço onde os académicos podem trocar experiências e aprofundar o relacionamento entre as instituições do ensino superior. Não só ao nível da docência, mas também na investigação. Aspectos extremamente importantes, se queremos criar nos nossos países uma economia baseada no conhecimento. Qual a importância da língua portuguesa na relação entre os países que a falam e a China? É muito importante. Existe um desafio comum a todos os países dessa relação: promover o bem-estar dos seus povos. Para isso tem de haver cooperação económica, cultural e noutras dimensões, o que nos obriga a aprender as Línguas do outro. A China tem que estar interessada em aprender Português para ter acesso ao nosso mercado, aos nossos recursos. E nós, naturalmente, temos de aprender Mandarim, para podermos tirar vantagem do grande “know how” que a China tem. Não gostávamos que a China continuasse a ser só fábrica para nós, mas que exportasse saber para os nossos países, para nós próprios termos capacidade de produzir e assim fortalecermos as nossas economias. Qual é a sua expectativa? Espero que a AULP vá um pouco além do que tem sido até agora. Que avaliação faz do ensino superior em Moçambique? Está numa boa fase do seu M a r ç o E i g h t h I s s u e crescimento, sobretudo porque temos mais moçambicanos com acesso ao ensino superior. Basta dizer que na altura da independência, em 1975, tínhamos uma única instituição de ensino superior e hoje temos 48. Além disso, há instituições em todas as províncias, portanto a sua proximidade ao cidadão é também maior. Por outro lado, o ensino superior surge como um alavancador do desenvolvimento sócio-económico do nosso país. Estamos conscientes de que não é possível construir uma economia sem o concurso das instituições de ensino superior, não só pela formação de quadros, mas também pela pesquisa e pela inovação, para encontrarmos soluções para os problemas que enfrentamos. E desafios? São múltiplos. Gostaríamos de ter mais moçambicanos no ensino superior, o que significa que temos de expandi-lo muito mais. Outro desafio é o da paridade qualidade/relevância. Estamos a expandir-nos em termos numéricos, mas gostaríamos que a questão da qualidade fosse sempre observada, assim como a questão da relevância, pois não basta formar por formar. Queremos formar pessoas para resolverem problemas reais que temos no nosso país. O que pode o seu governo fazer em relação a isso? Já fez. Aprovámos, por exemplo, a estratégia de formação do corpo docente, privilegiando recursos para áreas onde temos poucos professores, como as áreas tecnológicas. O governo também aprovou o plano estratégico para o ensino superior 2012/2020 e nesse plano elegeu alguma áreas: ciências básicas, tecnológicas, biomédicas e outras. São as que recebem preferencialmente os poucos recursos que podemos M a r c h Feature DISCUSSION disponibilizar, a nível de graduação e pós-graduação. As outras áreas também são importantes, mas temos neste momento um desequilíbrio muito grande, com 70 por cento dos estudantes em ciências sociais, humanidades, ciências jurídicas. O que estamos a fazer é uma discriminação positiva para equilibrar o cenário. E no que diz respeito a infra-estruturas? Há um investimento colossal, que já está a acontecer. Aliás a UniLúrio é resultado disso, há uns sete anos nem uma pedra havia lá. Estamos a fazer e a preparar várias obras, em universidades e politécnicos, com projectos de expansão para todo o país. A China pode ser um parceiro fundamental de Moçambique na ajuda ao desenvolvimento da educação? Está a ser e esperamos que seja ainda mais. Temos tido apoio ao nível do ensino básico, com a construção de escolas que a China nos oferece, por exemplo. No ensino superior, também temos tido um apoio fundamental, sobretudo na consolidação de infra-estruturas. Além disso, há empresas chinesas que concorrem a obras públicas em Moçambique e ganham, estando a construir com recursos nossos. Que conselhos daria a um estudante moçambicano que quisesse aprender chinês, mas não tivesse possibilidade económica de fazê-lo? Aconselhava-o a procurar o Instituto Confúcio que existe em Moçambique, como primeiro passo, porque o governo chinês subsidia essa formação. Depois, se de facto provasse que era bom, que tentasse ter uma bolsa do governo chinês para prosseguir o seu estudo. • 19