UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE MEDICINA PÓS-GRADUAÇÃO EM CLÍNICA MÉDICA/PROGRAMA DE DOUTORADO MD phD THAIS SCHMIDT PONTES ROULE MORTALIDADE POR LEUCEMIA NA INFÂNCIA, ADOLESCÊNCIA E JUVENTUDE: ANÁLISE DAS TENDÊNCIAS NA AMÉRICA LATINA E ESTUDO DE EPIDEMIOLOGIA ESPACIAL NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO ATRAVÉS DE TÉCNICA DE GEOPROCESSAMENTO Rio de Janeiro 2012 Thais Schmidt Pontes Roule Mortalidade por leucemia na infância, adolescência e juventude: Análise das tendências na América Latina e Estudo de epidemiologia espacial na cidade do Rio Janeiro através de técnica de geoprocessamento. Dissertação apresentada ao programa de Pós-graduação em Clínica Médica/ Programa de Doutorado MDphD, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito à obtenção do título de Doutora em ciências Médicas Orientador: Marcelo Gerardin Poirot Land Coorientador: Roberto de Andrade Medronho Orientadora sanduíche: Maria Paula Curado Rio de Janeiro 2012 2 Roule, Thais Schmidt Pontes. Mortalidade por leucemia na infância, adolescência e juventude: Análise das tendências na América Latina e Estudo de epidemiologia espacial na cidade do Rio Janeiro através de técnica de geoprocessamento/ Thais Schmidt Pontes Roule. Rio de Janeiro: UFRJ / Faculdade de Medicina, 2012. ix, 79f. ; 31 cm. Orientadores: Marcelo Gerardin Poirot Land, Roberto Andrade Medronho e Maria Paula Curado. Dissertação (Doutorado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Medicina, Programa de Pós-Graduação em Clínica Médica (Ciências Médicas) , 2012. Referências bibliográficas: f.71 – 77. 1. Neoplasias. 2. Leucemia. 3. Mortalidade na infância. 4. Análise por Conglomerados. 5. Estatísticas Vitais. 6. Perfil de Saúde. 7. Estudos Epidemiológicos. 8. Epidemiologia Descritiva. 9. Humanos. 10. Crianças. 11. Clínica Médica - Tese. 10. Ciências Médicas - Tese. I. Land, Marcelo Gerardin Poirot. II. Medronho, Roberto Andrade. III. Curado, Maria Paula. IV. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Medicina, Pós-Graduação em Clínica Médica (Ciências Médicas). IV. Título. 3 Thais Schmidt Pontes Roule Mortalidade por leucemia na infância, adolescência e juventude: Análise das tendências na América Latina e Estudo de epidemiologia espacial na cidade do Rio Janeiro através de técnica de geoprocessamento. Dissertação apresentada ao programa de Pós-graduação em Clínica Médica, Programa de Doutorado MDphD, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito à obtenção do título de Doutora em ciências Médicas Aprovada em, Rio de Janeiro, de de 2012 ________________________________________________ Marcelo Gerardin Poirot Land, MD,PhD (IPPMG/UFRJ) _________________________________________________ Roberto de Andrade Medronho, MD,PhD (NESC/UFRJ) 4 À meu pai, José, por ser um exemplo, pelos ensinamentos e apoio incondicional 5 À todas as crianças com câncer que lutam com tamanha sabedoria e beleza, ensinando tanto aos que as rodeiam 6 AGRADECIMENTOS À meu orientador, Prof. Dr. Marcelo Land, por ter acreditado em meu potencial e ter me ensinado e incentivado em todas as etapas de meu desenvolvimento profissional. Por ter sido não somente um orientador, mas um tutor ajudando-me a enxergar que é possível seguir muitos caminhos dentro da Medicina. Por ter despertado em mim o interesse pela pediatria e pela hematologia, áreas do conhecimento tão fascinantes. À minha coorientadora, Drª Maria Paula Curado por ter me acolhido tão calorosamente em terras estrangeiras. Por sua competência e eficiência, por ter me dado a oportunidade de realizar pesquisa junto a uma equipe multicultural e me ajudado a descobrir um pouquinho do universo internacional da pesquisa médica. Agradeço-lhe, também por ter sido a base do Registro de Câncer em Goiás que contribui e contribuirá para grandes pesquisas neste país, além de colocar o Brasil em um patamar internacional. Ao meu querido esposo, Aurélien, pela paciência, compreensão e apoio em todas as horas me ajudando a superar desafios. À minha irmã Helena, e minha mãe, Lígia por acreditarem que eu era capaz e me guiarem quando o caminho parecia tortuoso demais. Ao IPPMG (Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira) e toda sua equipe, por despertar em mim a paixão pela pediatria e por ter sido um pouco meu lar durante todo meu aprendizado de graduação e pós-graduação. Ao IARC/WHO (International Agency for Research on Cancer/World Health Organization) por terem me recebido de braços abertos, pelos ensinamentos de cada um e pela oportunidade de vivenciar o quotidiano de um renomado centro de pesquisa Internacional. 7 À Dra Mariana Cancela e ao Dr. Richard Muwonge, que me ajudaram com conhecimentos técnicos, mas principalmente pela amizade e por tornarem minha estadia no IARC/WHO tão prazerosa. À toda a equipe do DEP/IARC Mary, Morten, Karima, Mohannad, Chantal, Graham, Mark, Joannie e os demais colegas que participavam dos nossos cafés-da-manhã de sexta-feira, igualmente pela recepção e carinho. À CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pelo grande incentivo ao desenvolvimento científico do país, patrocinando doutorandos através de suas bolsas de estudos. À FAPERJ (Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro) pelo apoio que nos foi concedido através de sua bolsa de projeto, permitindo que iniciássemos nossa pesquisa com todo o material necessário, e pelo grande apoio à comunidade científica do Estado do Rio de Janeiro. Ao Prof. Paulo Mourão, coordenador do Programa MD, phD, juntamente com toda a equipe da Faculdade de Medicina da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) por acreditar e incentivar o crescimento de alunos tão jovens e futuros pesquisadores. À CIDP (Centre International de Développement Pharmaceutique) pela oportunidade de continuar trabalhando com pesquisa e descobrir o lado corporativo dessa área. Aos amigos e colegas que contribuíram direta ou indiretamente para que este trabalho se tornasse uma realidade. 8 SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS 11 LISTA DE TABELAS 13 LISTA DE ABREVIATURAS 14 ABSTRACT 16 1. LEUKEMIA MORTALITY TRENDS AMONG CHILDREN, ADOLESCENTS, AND YOUNG ADULTS IN LATIN AMERICA 16 2. SPATIAL ANALYSIS OF CHILDHOOD LEUKEMIA IN RIO DE JANEIRO: AN ECOLOGICAL APPROACH 17 RESUMO 19 1. TENDÊNCIAS DAS TAXAS DE MORTALIDADE POR LEUCEMIA EM CRIANÇAS, ADOLESCENTES E ADULTOS JOVENS NA AMÉRICA LATINA 19 2. ESTUDO DE EPIDEMIOLOGIA ESPACIAL DOS DADOS DE MORTALIDADE POR LEUCEMIA AGUDA NA INFÂNCIA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO ATRAVÉS DE TÉCNICA DE GEOPROCESSAMENTO 20 1. INTRODUÇÃO 22 1.1. ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA LEUCEMIA PEDIÁTRICA 1.2. ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA LEUCEMIA EM ADOLESCENTES E ADULTOS JOVENS 1.3 TEORIAS SOBRE A ORIGEM DA LEUCEMIA PEDIÁTRICA 1.4. MEIO AMBIENTE E ORIGENS DA LEUCEMIA PEDIÁTRICA 1.5. EPIDEMIOLOGIA ESPACIAL 1.6. HISTÓRICO DA EPIDEMIOLOGIA ESPACIAL 1.7. DEFINIÇÃO DO GEORREFERENCIAMENTO NA EPIDEMIOLOGIA ESPACIAL 24 26 29 37 39 42 44 2. OBJETIVOS 47 2.1 OBJETIVOS GERAIS 2.2 . OBJETIVOS ESPECÍFICOS 47 47 3. METODOLOGIA 48 3.1. ANÁLISE DAS TENDÊNCIAS DAS TAXAS DE MORTALIDADE POR LEUCEMIA EM CRIANÇAS, ADOLESCENTES E ADULTOS JOVENS NA AMERICA LATINA. 3.1.1. DESENHO DO ESTUDO 3.1.2. POPULAÇÃO E COLETA DE DADOS 3.1.3. ANÁLISE ESTATÍSTICA 3.2. ESTUDO DE EPIDEMIOLOGIA ESPACIAL NA CIDADE DO RIO JANEIRO ATRAVÉS DE TÉCNICA DE GEOPROCESSAMENTO. 3.2.1. DESENHO DO ESTUDO 3.2.2. POPULAÇÃO E COLETA DE DADOS 3.2.3. POPULAÇÃO E COLETA DE DADOS 3.2.4. GERAÇÃO DOS MAPAS 3.2.4. ANÁLISE ESTATÍSTICA 3.2.5. ERROS SISTEMÁTICOS (VIESES) 3.2.6. QUESTÕES ÉTICAS 48 48 48 49 51 52 52 53 55 56 58 60 4. RESULTADOS 61 4.1. ANÁLISE DAS TENDÊNCIAS DAS TAXAS DE MORTALIDADE POR LEUCEMIA EM CRIANÇAS, ADOLESCENTES E ADULTOS JOVENS NA AMERICA LATINA. 61 9 4.2. ESTUDO DE EPIDEMIOLOGIA ESPACIAL NA CIDADE DO RIO JANEIRO ATRAVÉS DE TÉCNICA DE GEOPROCESSAMENTO. 4.2.1. LEUCEMIA PEDIÁTRICA 4.2.2. CÂNCER DE PULMÃO 4.2.3. EFEITO FIXO 67 68 77 85 5. DISCUSSÃO 86 6. CONCLUSÕES FINAIS 92 REFERÊNCIAS 94 APÊNDICE I 103 APÊNDICE II 110 10 Lista de Figuras Figura 1.Modelo esquemático da teoria dos dois golpes de Knudson...........................32 Figura 2. Mapa de John Snow representando os casos de cólera e o poço contaminado em Broad Street, na cidade de Londres, 1854................................................................ 44 Figura 3. Taxas de Mortalidade por Leucemia em 12 países da América Latina para os grupos de 0-14 anos (a) e 15-24 anos (b) no Período entre 2000-2004 ..........................61 Figura 4. Mapa das Regiões Administrativas do município do Rio de Janeiro (IPP/IBGE) .................................................................................................................... 67 Figura 5. SMR bruta dos dados de leucemia aguda na infância na cidade do Rio de Janeiro, por Região Administrativa ............................................................................... 69 Figura 6. SMR dos dados de leucemia aguda na infância na cidade do Rio de Janeiro. por Região Administrativa após suavização espacial .................................................... 70 Figura 7. Risco Relativo dos dados de leucemia aguda na infância na cidade do Rio de Janeiro, por Região Administrativa após suavização espacial, IC 80% ........................ 71 Figura 8. Risco Relativo dos dados de leucemia aguda na infância na cidade do Rio de Janeiro, por Região Administrativa após suavização espacial, IC 95% ........................ 71 Figura 9. SMR dos dados de leucemia aguda na infância na cidade do Rio de Janeiro, por Região Administrativa após suavização espacial e adição de fator randômico putativo .......................................................................................................................... 72 Figura 10. Risco Relativo dos dados de leucemia aguda na infância na cidade do Rio de Janeiro, por Região Administrativa após suavização espacial e adição de fator randômico putativo, IC 80% .......................................................................................... 73 Figura 11. Risco Relativo dos dados de leucemia aguda na infância na cidade do Rio de Janeiro, por Região Administrativa após suavização espacial e adição de fator randômico putativo, IC 95% .......................................................................................... 73 Figura 12. SMR dos dados de leucemia aguda na infância na cidade do Rio de Janeiro, por Região Administrativa após suavização espacial controlado por IDHE, índice de Gini e renda familiar média ........................................................................................... 74 Figura 13. Risco Relativo dos dados de leucemia aguda na infância na cidade do Rio de Janeiro, por Região Administrativa após suavização espacial controlado por IDHE, índice de Gini e renda familiar média, IC 80% ............................................................. 75 Figura 14. Risco Relativo dos dados de leucemia aguda na infância na cidade do Rio de Janeiro, por Região Administrativa após suavização espacial controlado por IDHE, 11 índice de Gini e renda familiar média, IC 95% ............................................................. 75 Figura 15. SMR bruta dos dados de câncer de pulmão em > 35 anos na cidade do Rio de Janeiro, por Região Administrativa .......................................................................... 77 Figura 16. SMR com suavização espacial dos dados de câncer de pulmão em > 35 anos na cidade do Rio de Janeiro, por Região Administrativa .............................................. 78 Figura 17. Risco Relativo da SMR com suavização espacial dos dados de câncer de pulmão em > 35 anos na cidade do Rio de Janeiro por Região Administrativa, IC 80%................................................................................................................................. 79 Figura 18. Risco Relativo da SMR com suavização espacial dos dados de câncer de pulmão em > 35 anos na cidade do Rio de Janeiro por Região Administrativa, IC 95% .................................................................................................................................79 Figura 19. SMR dos dados de câncer de pulmão em > 35 anos na cidade do Rio de Janeiro por Região Administrativa após suavização espacial e adição de fator randômico putativo .......................................................................................................................... 80 Figura 20. SMR dos dados de câncer de pulmão em > 35 anos na cidade do Rio de Janeiro, por Região Administrativa após suavização espacial e adição de fator randômico putativo, IC 80% .......................................................................................... 81 Figura 21. SMR dos dados de câncer de pulmão em > 35 anos na cidade do Rio de Janeiro, por Região Administrativa após suavização espacial e adição de fator randômico putativo, IC 95% .......................................................................................... 81 Figura 22. SMR dos dados de câncer de pulmão em >35 anos na cidade do Rio de Janeiro. por Região Administrativa após suavização espacial controlado por IDHE. índice de Gini e renda familiar média ........................................................................... 82 Figura 23. Risco Relativo de câncer de pulmão em >35 anos na cidade do Rio de Janeiro, por Região Administrativa após suavização espacial controlado por IDHE, índice de Gini e renda familiar média, IC 80% ............................................................. 83 Figura 24. Risco Relativo de câncer de pulmão em >35 anos na cidade do Rio de Janeiro, por Região Administrativa após suavização espacial controlado por IDHE, índice de Gini e renda familiar média, IC 95% ............................................................. 83 12 Lista de Tabelas Tabela I. Possíveis exposições causais da leucemia ..................................................... 29 Tabela II. . Taxas de Mortalidade por leucemia para o grupo 0-14 anos, número de casos médio, % de variação global e relação Homens/Mulheres em ambos os sexos na América Latina, 1980-2004 ............................................................................................62 Tabela III. Taxas Padronizadas por idade (ASR(W)) de Mortalidade por leucemia para o grupo 15-24 anos, número de casos médio, % de variação global e relação Homens/Mulheres em ambos os sexos na América Latina, 1980-2004..........................63 Tabela IV. . Análise de regressão por Joinpoint entre 1980-2004 para Mortalidade por Leucemia (Taxas Agrupadas para 0-14 anos) em 12 países da América Latina.............64 Tabela V. Análise de regressão por Joinpoint entre 1980-2004 para Mortalidade por Leucemia (Taxas Agrupadas para 15-24 anos) em 12 países da América Latina...........66 Tabela VI. Dados descritivos da leucemia na infância por Região Administrativa da cidade do Rio de Janeiro ................................................................................................ 69 Tabela VII. Dados de SMR para leucemia aguda em crianças no município do Rio de Janeiro ............................................................................................................................ 78 Tabela VIII. Dados de SMR de câncer de pulmão em > 35 anos no município do Rio de Janeiro ....................................................................................................................... 86 Tabela IX. Efeito fixo leucemia aguda em crianças no Rio de Janeiro ........................ 87 Tabela X. Efeito fixo do câncer de pulmão em >35 anos no Rio de janeiro ............... .87 13 Lista de Abreviaturas APC – Annual Percentage Change ASR(W) – Age Standardized Rate (World Population) BCR-ABL – Breakpoint Cluster Region - Abelson Murine Leukemia CALLA - Common Acute Lymphoblastic Leukemia Antigen CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CCEB – Critério de Classificação Econômica Brasil CEP – Codificação de Endereçamento Postal CID-9 – Classificação Internacional de Doenças - 9a edição CID-10 – Classificação Internacional de Doenças - 10a edição CIDP –Centre International de Développement Pharmaceutique DATASUS – Banco de Dados do Sistema Único de Saúde EUA – Estados Unidos da América FAPERJ - Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro GIS - Geographic Information System HLA - Antígeno Leucocitário Humano IARC/WHO – International Agency for Research on Cancer / World Health Organization IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IC – Intervalo de Confiança IDHE – Índice de Desenvolvimento Humano - Escolar IL-12 – Interleucina 12 INCA – Instituto Nacional do Câncer IPP – Instituto Pereira Passos IPPMG – Instituto de Pediatria e Puericultura Martagão Gesteira 14 LLA – Leucemia Linfoblástica Aguda LMA – Leucemia Mielóide Aguda LNH – Linfoma Não-Hodgkin MHC - Complexo de Histocompatibilidade MLL-AF4 – Mixed Lineage Leukemia – AF4 OMS – Organização Mundial da Saúde RCBP - Registro de Câncer de Base Populacional SES – Social Economic Status SIM – Sistema de Informação de Mortalidade SMR – Standard Mortality Rate TCLE – Termo de Consentimento Informado, Livre e Esclarecido UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro UKCCS - United Kingdom Childhood Cancer Study WHO - World Health Organization 15 Abstract 1. Leukemia Mortality trends among children, adolescents, and young adults in Latin America Objectives: To describe the trends of leukemia mortality for truncated ages between 014 and 15-24 years old in twelve selected Latin American countries over the period 1980-2004. Methods: Data from the World Health Organization mortality database was analyzed using a joinpoint regression model to identify significant mortality rate changes over time and to estimate annual percent change. Results: Leukemia is the first cancer related cause of death in this age group in Latin America. Mortality rates for all countries were stable in the 25 year period analyzed. However, increasing rates for both sexes were seen in Ecuador and Mexico (showing a significant increase in Mexico) while Colombia and Uruguay showed an increase for females only. Downward trends were observed in Argentina for both genders and in Costa Rica for males only. For all the other countries no major changes occurred. Conclusions: Leukemia mortality trends in Latin America have declined in many countries of Latin America, but still have shown a much smaller improvement in survival when compared to mortality from childhood leukemia. Specialized oncological centers exist in most countries of Latin America, but they are unequally distributed and they lacked in numbers due to the prevailing social inequalities. Key Words: Leukemia, child, Young adults, adolescents, Latin America 16 2. Spatial analysis of childhood leukemia in Rio de Janeiro: an ecological approach The etiology of childhood leukemia remains an enigma despite decades of research. In this matter, spatial cluster detection is an important tool in cancer surveillance to identify areas of elevated risk and to generate hypothesis about cancer etiology. Hypothesis of an infectious etiology regarding the possible involvement of unusual patterns of infections in infancy have been postulated. Thus, a higher socioeconomic status has been linked to higher rates of childhood leukemia. All mortality cases of acute childhood leukemia (0-20 years) within the city of Rio de Janeiro from 1996 to 2004 were collected from the Brazilian Ministry of Health SIM database. For comparison purposes only, all cases of lung cancer in people aged >35 years from 2001 to 2004 were also derived from the database. Socio-economic covariates for all administrative regions of the city were obtained from the Brazilian Geographic and Statistics Institute (IBGE) website. The Standardized Mortality Ratio (SMR) per administrative region was generated comparing the observed and expected distribution of cases. A geoadditive semiparametric Poisson model containing a spatial effect was used in the analysis. All statistics computations were carried out using the BayesX freeware. There were 96 cases of childhood leukemia over a nine years period, allocated in 32 administrative regions of the city. A notable homogeneous spatial distribution of cases was noted. The smoothed projection after adjustments for a putative random covariate reduced even more the differences across administrative regions emphasizing the homogeneous pattern of childhood leukemia within the city. After the addition of socio economic covariates to the model, spatial distribution also maintains the homogeneous patterns, showing no clusters of childhood leukemia in the city of Rio de 17 Janeiro. There was no evidence linking the socio economic variables analyzed to childhood leukemia mortality. Additionally, this study did not identify any leukemia clusters in Rio de Janeiro city. Two hypotheses emerged from those results, first leukemia rates have a paradoxal characteristic: incidence rates are higher for elevated socioeconomic status (SES), but mortality rates are less important. For lower SES rates have an opposite pattern. This might provoke a balance between those rates, leading to an overall homogenous pattern for mortality rates within the city. The second possibility refers to the fact that incidence rates might really be homogeneous, as well as the access to treatment, considering that this is a complex diagnosis with good specialized centers in Rio, responding adequately to the demand of care. An important limitation to our study relies on the absence of incidence data for childhood leukemia in Rio de Janeiro. This report stands as a first approach to the spatial characteristics of this disease in our city. Further investigations should be lead using incidence data and exploring other putative covariates. Key words: Leukemia, childhood cancer, spatial epidemiology, Standardized Mortality Ratio, cluster, Rio de Janeiro 18 Resumo 1. Tendências das taxas de Mortalidade por Leucemia em crianças, Adolescentes e Adultos Jovens na América Latina Objetivos: Descrever e comparar a tendência das taxas de mortalidade por leucemia em crianças (0-14 anos) e em adolescentes-adultos jovens (15-24 anos) em 12 países da América Latina no período de 1980-2004 Metodologia: Foram analisados dados provenientes do banco de dados da Organização Mundial de Saúde utilizando um modelo de regressão por joinpoint afim de identificar variações significativas no tempo e afim de estimar a variação percentual anual. Resultados: Leucemia é a primeira causa de óbitos relacionados ao câncer em crianças e adolescentes-adultos jovens na América Latina. Em crianças, a variação percentual global indicou uma elevação das taxas em ambos os gêneros na Colômbia, no Equador e no México, com taxas substancialmente mais elevadas no México. Nos adolescentesadultos jovens, foi observado um aumento significativo para ambos os sexos no México, no Equador houve um pequeno aumento das taxas em ambos os sexos, e a Colômbia e Uruguai apresentou uma elevação apenas nas mulheres. Uma diminuição das taxas foi observada na Argentina em ambos os sexos, e na Costa Rica para homens apenas. Não houve variações significativas nos demais países estudados. Conclusões: As taxas de mortalidade por leucemia em crianças, e adolescentes-adultos jovens está declinando Palavras chave: Leucemia, crianças, Adolescentes-Adultos jovens, América Latina 19 2. Estudo de epidemiologia espacial dos dados de mortalidade por leucemia aguda na infância na cidade do Rio de Janeiro através de técnica de geoprocessamento Apesar de décadas de pesquisa, a epidemiologia da leucemia pediátrica continua sendo um enigma. Nesse sentido, a detecção de clusters espaciais constitui uma ferramenta importante na vigilância em cancerologia, permitindo identificar áreas com risco elevado ao desenvolvimento da doença, orientar futuras pesquisas e ajudar em decisões sanitárias. Duas hipóteses que envolvem causas infecciosas são atualmente as mais plausíveis e aceitas pela comunidade científica para explicar os aspectos epidemiológicos da doença: uma delas postula o possível envolvimento de padrões não usuais de infecção na infância e a outra, a mistura de populações isoladas, e a conseqüente infecção por patógenos antes desconhecidos. Além disso, diversos estudos mostraram uma associação positiva entre elevado padrão sócio-econômico e taxas elevadas de leucemia pediátrica. O registro de todos os óbitos de leucemia aguda ocorridos em crianças (0-20 anos) na cidade do Rio de Janeiro entre 1996 e 2004 foi obtido junto ao Sistema de Informação de Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM/DATASUS). Por motivos comparativos, foram obtidos igualmente os dados de todos os casos de câncer de pulmão em >35 anos entre 2001 e 2004. Variáveis sócio-econômicas de todas as Regiões Administrativas da cidade foram selecionadas através do site do IBGE. As taxas de mortalidade padronizadas (SMR) foram calculadas para cada Região Administrativa, comparando a distribuição de casos observados e esperados. Uma modelagem geoaditiva semiparamétrica do tipo Poisson, contendo um efeito espacial foi utilizada nessa análise. A regressão estatística foi implementada no software BayesX (Freeware). 20 Foram registrados 96 casos de leucemia pediátrica em um período de nove anos, distribuídos pelas 32 Regiões Administrativas do Rio de Janeiro. Uma distribuição espacial homogênea dos casos pode ser observada. A projeção suavizada, após ajuste para um efeito putativo randômico, reduziu ainda mais as pequenas diferenças entre as diversas regiões, corroborando o padrão de distribuição homogênea da mortalidade por leucemia em crianças na cidade. Após adição das variáveis sócio-econômicas ao modelo, a distribuição homogênea mantém-se mais uma vez, não evidenciando nenhum cluster de leucemia pediátrica na cidade do Rio de Janeiro. Não foram idenficados clusters de leucemia pediátrica na cidade do Rio de Janeiro. Tampouco foi confirmada nenhuma relação entre as variáveis sócio-econômicas analisadas e mortalidade por leucemia. Duas hipóteses poderiam justificar esse resultado inesperado. A primeira refere-se a uma característica paradoxal da leucemia pediátrica: apesar da incidência ser mais elevada em populações de alto padrão sócioeconômico, as taxas de mortalidade são menores nessa situação, e vice-versa. Isso poderia gerar um equilíbrio entre as taxas. Outra possibilidade seria um padrão realmente homogêneo de incidência entre as classes sociais. A leucemia é uma doença complexa, com uma boa rede de hospitais especializados disponíveis na cidade. Assim,é possível que as crianças estejam sendo tratadas adequadamente independentemente da condição sócio-econômica. O fator limitante importante de nosso estudo, foi a falta de dados de incidência de leucemia pediátrica na cidade do Rio de Janeiro. Futuros estudos com dados de incidência da doença são necessários. Palavras chave: Leucemia, câncer na infância, epidemiologia especial, Standardized Mortality Ratio, cluster, Rio de Janeiro 21 1. Introdução Um dos maiores desafios atuais da Organização Mundial de Saúde (OMS) consiste no combate à epidemia de doenças crônicas estabelecida na população mundial frente à modernização dos hábitos de vida.1 Estima-se que, em 2015, as doenças não transmissíveis, ou seja, as doenças cardiovasculares, neoplasias, doenças do trato respiratório e diabetes, representarão mais de 67% (41 milhão) das causas de mortalidade mundial. Desses óbitos, 80% ocorrerão em países de baixa e média renda.2 A transição do perfil de doenças infecto-parasitárias prevalentes no início do século para o perfil de doenças crônicas atual envolve diversos fatores como o envelhecimento da população (devido à queda do índice de fertilidade e da mortalidade), a melhoria no controle de doenças transmissíveis, estilos de vida mais sedentários e a globalização de fatores de risco para doenças crônicas. Dentre essas doenças crônicas, as neoplasias estão entre as dez principais causas de morte no mundo.1 Com o avanço significativo no tratamento e prevenção de doenças cardiovasculares, que representa a principal causa de morte mundial atualmente, as neoplasias assumirão cada vez maior importância nas taxas de morbidade e mortalidade em diversas partes do globo.3 Com uma população mundial excedendo 6 bilhões de pessoas em 2002, foram registrados 10,9 milhões de novos casos de câncer, 6,7 milhões de óbitos por câncer e 22,4 milhões de indivíduos sobreviventes a um diagnóstico de câncer nos últimos 5 anos.4 Em 2020, estima-se que a população mundial atingirá 7,5 bilhões de indivíduos, com 15 milhões de novos casos de câncer e 12 milhões de óbitos por câncer no mundo, a maioria em países com baixa e média renda.1 No entanto, a distribuição da incidência dos diversos tipos de câncer não é homogênea em todas as partes do mundo, apresentando um padrão contrastante entre 22 países de alta renda e regiões de baixa e média renda. As populações da África, Ásia e América Latina estão muito mais sujeitas a neoplasias que apresentem agentes infecciosos em seu mecanismo causal, como o câncer de colo de útero (vírus do Papiloma Humano), o câncer hepático (Hepatite B e C), o câncer de estômago (Helicobacter pilori), o linfoma de Burkitt (vírus Epstein-Barr) e o Sarcoma de Kaposi (vírus da Imunodeficiência Humana), do que regiões mais desenvolvidas do planeta.4 Na América Latina especificamente, apesar do grande crescimento econômico ocorrido nas últimas décadas, a desigualdade social e pobreza permanecem os maiores desafios do continente. Um dos aspectos mais importantes dessas desigualdades reflete-se no acesso a serviços básicos de infra-estrutura, como educação, transporte e saúde; sendo talvez a desigualdade no acesso à saúde, o índice mais expressivo da desigualdade social.5 Analisando-se dados estatísticos dessa região, verifica-se que o padrão de desigualdade se mantém também no âmbito das doenças oncológicas. A proporção total do número de mortes por câncer associados a agentes infecciosos é de 20 a 25% em países de baixa e média renda, enquanto que nos países de alta renda esta taxa encontrase entre 7 e 10%.6 Ainda assim, em um relatório publicado pela Sociedade Americana de Câncer, concluiu-se que 50% dos óbitos de câncer ocorridos nos Estados Unidos da América, um país de alta renda, poderiam ser prevenidos com modificações nos hábitos de vida e melhoria no sistema de rastreamento do câncer.7 Essa observação nos indica que muito ainda pode ser feito na prevenção dessas doenças. Assim, o estudo da cancerologia é de fundamental importância tanto no âmbito do tratamento, quanto da prevenção e planejamento em saúde. O estudo do câncer em uma população pode ser feito em diferentes esferas, variando de um estudo pontual (“o indivíduo”, um órgão, uma célula), analisando-se 23 alterações genéticas, por exemplo, a estudos epidemiológicos mais abrangentes envolvendo fatores socioeconômicos ou estilos de vida. Evidentemente, é importante estudar e entender todos esses aspectos das doenças, porém os estudos em saúde pública provam que mudanças populacionais são as mais efetivas, refletindo mais rapidamente alterações nas taxas de incidência e mortalidade. 8 Esse presente estudo enfoca o estudo da cancerologia epidemiológica. Parte desta tese foi conduzida na International Agency for Research on Cancer/ World Health Organization (IARC/WHO) em Lyon, França junto ao grupo de Epidemiologia Descritiva chefiado pela Dra Maria Paula Curado durante o período de doutorado sanduíche no ano de 2009. Durante este ciclo foi realizado e publicado um trabalho de epidemiologia descritiva na América Latina. (Artigo relacionado no Anexo I desta tese). Uma segunda parte desta tese refere-se ao trabalho de epidemiologia espacial na cidade do Rio de Janeiro realizado junto ao Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira / Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPMG/UFRJ). 1.1. Aspectos Epidemiológicos da Leucemia Pediátrica O câncer pediátrico é uma enfermidade incomum, apresentando uma incidência mundial de 13 a 15 casos por 100.000 crianças menores de 15 anos de idade ao ano.9 Como todas as doenças crônicas multifatoriais, é o resultado da interação entre determinantes constitucionais e/ou genéticos, e fatores ambientais. Ainda assim, as fases iniciais da vida, representadas pelos períodos pré-natal, neonatal, infantil e juvenil são especialmente vulneráveis aos agentes carcinógenos. Nos dois primeiros anos de vida e, entre os 3 e 15 anos de idade o risco de desenvolvimento de neoplasias é 10 vezes maior e três vezes maior do que o esperado em adultos, respectivamente.10 Dentre os cânceres pediátricos, a Leucemia Aguda representa o diagnóstico mais 24 incidente mundialmente, correspondendo a 33% de todas as neoplasias em crianças menores de 15 anos.11 A Leucemia Linfóide Aguda (LLA) é o subtipo mais comum dessa enfermidade, com taxas de incidência tanto em países desenvolvidos, quanto no Brasil consideradas baixas (4,1 por 100.000/ano em meninos, e 3,6 por 100.000/ano em meninas).12 A mortalidade por leucemia apresentou um declínio importante nas últimas cinco décadas, atingindo mais de 60% dos casos. Atualmente as taxas de sobrevida em cinco anos para crianças portadoras de LLA e Leucemia Mielóide Aguda (LMA) atingem aproximadamente 85% e 40% respectivamente na Europa e Estados Unidos da América, comparado a taxas de mortalidade de 61% e 23% respectivamente no período entre 1975 e 1984.13 Essa mudança é decorrente de diversos fatores, como avanços na terapêutica, com o uso de terapias envolvendo multidrogas; avanços no diagnóstico precoce da doença, assim como a identificação de variáveis de prognóstico e subtipos biológicos da doença, que permitem oferecer tratamentos diferenciados.14 No entanto, as taxas de cura ainda são muito modestas para grupos de alto risco, como em crianças portadoras de anormalidades cromossômicas tais que BCR-ABL (Breakpoint Cluster Region - Abelson Murine Leukemia) ou MLL-AF4 (Mixed Lineage Leukemia), ou ainda crianças com doenças em estágios avançados (contagem da linhagem branca elevada).15 Além disso, a cura, quando alcançada, pode vir acompanhada de implicações psicológicas na vida da criança, devido ao longo tratamento, aos efeitos colaterais complexos e às alterações na vida social dessas crianças que afetam muitas vezes sua qualidade de vida.16 Portanto, como visto para outros cânceres, o grande desafio atual da oncohematologia pediátrica permanece a busca por terapias menos tóxicas e mais específicas biologicamente para cada subtipo da doença.17 25 1.2. Aspectos Epidemiológicos da Leucemia em Adolescentes e Adultos Jovens Aprimorar a qualidade e tempo de tratamento de adolescentes e adultos jovens com câncer demonstrou-se ser uma prioridade nas últimas décadas em consequência da melhoria das taxas de sobrevida em cinco anos para essa faixa etária.18,19 São diagnosticados mais de 70 000 novos casos de câncer em pacientes entre 15 e 39 anos de idade anualmente no mundo, o que representa aproximadamente oito vezes o número de diagnósticos realizados em crianças menores de 15 anos de idade. 20,21 Excluindo-se homicídio, suicídio e ferimentos não intencionais, o câncer representa a principal causa de óbitos em adolescentes e adultos jovens.22 No entanto, o aperfeiçoamento em oncologia para esta população tem sido dificultado devido à falta de conhecimento específico sobre os protocolos de tratamento mais eficientes e pela falta de reconhecimento do risco de câncer para este grupo etário.23 Diagnóstico e tratamento muitas vezes são protelados em pacientes adolescentes e adultos jovens com câncer em decorrência da ambiguidade sobre detecção apropriada e estratégia de tratamento da doença.23 A maioria destes pacientes com câncer tratados nos EUA são usualmente tratados por oncologistas gerais, não sendo encaminhados a centros oncológicos especializados e permanecendo muitas vezes privados de uma infra-estrutura oncológica robusta.24 Estes pacientes frequentemente encontram-se em “terra de ninguém”, presos entre a oncologia pediátrica e adulta, e acabam sendo tratados por inúmeros especialistas e generalistas, sem a presença de um oncologista especializado em câncer para esta faixa etária.25 Além disso, o progresso nos protocolos de tratamento para estes jovens tem sido restrito pela pequena participação em ensaios clínico, seja por falta de estudos para essa população específica, seja pela falta de indicação dos médicos responsáveis por estes 26 pacientes à participação em pesquisas de fase III e IV.26,27 Assim, as malignidades em adolescentes e adultos jovens (15 a 39 anos de idade) corresponderem a aproximadamente 10% de todos os novos casos de câncer diagnosticados em países desenvolvidos, uma quantia significativa.28 Os principais tumores encontrados nesta faixa etária difere enormemente dos encontradas em crianças ou em adultos maiores de 39 anos de idade.29,30 Em crianças menores de 15 anos, os tumores embrionários representam os principais diagnósticos, como os linfomas, leucemias, melanomas e carcinomas, além dos tumores de células germinativas; enquanto que em adultos maiores de 39 anos os principais tumores malignos são os de pulmão, próstata, mama e colorretal.28 As taxas de mortalidade por câncer infantil estão muito bem documentadas pela comunidade mundial e, em países desenvolvidos suas taxas vêm diminuindo desde a década de sessenta.5 Nos países em desenvolvimento incluindo a América Latina houve igualmente uma queda nas taxas de mortalidade, porém esta ocorreu mais tardiamente e de forma menos pronunciada.5 Embora grandes avanços nos protocolos terapêuticos das leucemias tenham sido feitos, levando a taxa de sobrevida em cinco anos para crianças e adolescentes < 19 anos de idade, para 84%; o prognóstico para adolescentes > 19 anos e adultos jovens não teve o mesmo declínio do que o observado nas faixas etárias mais jovens.21 Assim, apesar do grupo etário de adolescentes e adultos jovens apresentarem uma incidência maior e em ascensão, da incidência de câncer quando comparado às crianças, estes não beneficiaram de melhorias similares à faixa etária pediátrica. Nos últimos anos, apesar deste tema ter sido um dos principais focos das iniciativas internacionais em pesquisa oncológica, existe muito menos informação disponível para adolescentes e adultos jovens e poucos estudos foram realizados para 27 esta faixa etária na América Latina.31 A descrição de um câncer em uma população consiste numa tarefa complexa que envolve a descrição de diversos indicadores, como incidência, sobrevida, prevalência e mortalidade. Esses índices estão relacionados entre si e qualquer modificação em um deles, influencia diretamente os outros. Assim, com os avanços de novas tecnologias na área médica as taxas de sobrevida estão sendo alteradas radicalmente e levando consequentemente a grandes alterações nas taxas de mortalidade específicas de cada câncer e para cada faixa etária.8 Em um estudo realizado na Austrália para a faixa etária contida entre 15 e 39 anos de idade, a incidência geral de câncer aumentou no período entre 1982 e 2000 (Anual Percentage Change (APC) = 1,5%), porém a mortalidade diminuiu significativamente para ambos os sexos (APC= -2,6% e -4,6% para homens e mulheres respectivamente). Neste mesmo estudo, quando analisada a tendência para as leucemias individualmente, constatou-se um aumento na incidência da LLA em homens (APC=3,6%).32 Na America Latina, a principal causa de óbitos relacionados a câncer para essa população é a leucemia. Embora outros tipos de câncer como o tumor cerebral, tumor ósseo ou tumor renal também sejam prevalentes, estes não apresentaram mudanças tão importantes em seus protocolos de tratamento, ou em suas técnicas diagnósticas.33,34 Mundialmente a população de adolescentes e adultos jovens está aumentando a uma taxa média anual de 1,2 milhão ao ano, e a previsão é que estes números não diminuam antes de 2050. Cada 9 entre 10 indivíduos dessa faixa etária, encontram-se nos países de baixa e média renda.2 28 1.3 Teorias sobre a Origem da Leucemia Pediátrica A biologia evolucionária, baseada nas teorias de Darwin, propõe que as causas das doenças humanas só podem ser inteiramente compreendidas se levado em consideração o contexto histórico da evolução do contingente humano que moldou nossa genética e nossa fisiologia.35 Este princípio é aplicado à maioria dos cânceres, inclusive às leucemias, assim como às doenças infecciosas, diabetes e obesidade.36 A “Leucemia” é, portanto, o resultado de diversos fatores combinados a exposições ambientais cruciais (que modificam padrões fisiológicos), associados à susceptibilidade genética ao desenvolvimento da doença. Nas últimas décadas, a falta de uma explicação plausível para definir a origem das leucemias permitiu o surgimento de diversas teorias envolvendo possíveis causas das mesmas. Essas teorias estão listadas na Tabela I. Tabela I. Possíveis exposições causais da leucemia Possíveis exposições causais da Leucemia • • • • • • • • • • • • • • • Fumaça de veículos Pesticidas Radiação Ionizante Campo Eletromagnético não-ionizante Campos Elétricos Injeção de vitamina K no nascimento Animais domésticos Poeira orgânica proveniente do algodão, lã ou fibras sintéticas Privação de luz natural por disfunção de melatonina Exposição à luz artificial e fluorescente em unidades de tratamento intensivo neonatais Tabagismo materno/paterno Ingestão de drogas medicinais maternas durante a gestação Consumo de álcool materno durante a gestação Contaminação química de água ingerida Infecções Nos últimos 20 anos, os pesquisadores focaram sua atenção em efeitos ambientais únicos ou exclusivos na busca pela causa das leucemias. Desse modo, alguns fatores de risco já são atualmente confirmados por exaustivas pesquisas ou apresentam grande probabilidade de participação causal no mecanismo desencadeador das 29 leucemias, como: radioatividade (proximidade a instalações nucleares, radioatividade do solo, ar e água)37,38, radiação ionizante em baixas doses provenientes de exames radiológicos durante o período de gestação,39,40 água contaminada,41,42 campos eletromagnéticos,43 exposição a quimioterápicos.44 Muitos outros estudos e linhas de pesquisa ainda em andamento, porém sem confirmação, continuam a investigar outros possíveis fatores de risco como a exposição a agentes infecciosos durante a primeira infância (28 dias a dois anos de idade), exposição dos pais, fetal ou durante a infância a toxinas do meio ambiente, exposição ocupacional dos pais à radioatividade ou produtos químicos, condição médica dos pais durante o período da gestação e mesmo antes da concepção, dieta materna durante a gestação, padrão alimentar durante o período neonatal, histórico reprodutivo materno, densidade de tráfego, exposição à fumaça de veículos, e injeção de vitamina K no nascimento.44-57 Diante de todas essas hipóteses os fatores de risco ambientais parecem ter grande importância na etiologia das neoplasias pediátricas. Isto se evidencia por um número excessivo de casos de leucemia em áreas geográficas específicas, denominadas “clusters” (ou aglomerados). Estudos recentes, realizados nos últimos dez anos em gêmeos idênticos com leucemias similares58,59 permitiram selecionar algumas dessas hipóteses. Assim, foram identificados dois padrões diferentes dentre as leucemias pediátricas, indicando que as leucemias neonatais e as leucemias típicas da infância (com pico de incidência entre 2 e 5 anos de idade)60 apresentam histórias biológicas naturais diferentes. Anormalidades citogenéticas das células leucêmicas estão descritas em 80% dos casos de LLA e LMA.61 O número de alterações cromossomiais são indicadores prognósticos independentes para ambos os tipos de leucemia e são utilizados para prever o desfecho da doença, assim como estratificar grupos terapêuticos de risco. A translocação gênica da Linhagem Leucêmica Mista (Mixed Lineage Leukemia – MLL) 30 no gene 11q23 pode ser encontrada tanto na LLA quanto na LMA, evoluindo com diferentes desfechos dependendo do fenótipo da doença. Rearranjos gênicos MLL representam 6% de todas as LLA, e deste total, 80% estão associados com a LLA neonatal (menores de um ano de idade), um diagnóstico que resulta num prognóstico reservado.62A incidência da translocação 11q23 em crianças maiores é muito pequena, corroborando o fato que esta alteração cromossomial esteja diretamente associada com a leucemia neonatal com imnunofenótipo pró-B e envolvimento do Sistema Nervoso Central.63 Assim, acredita-se que, no caso das leucemias neonatais, soma-se à susceptibilidade genética uma única exposição relevante durante o período intra-uterino em que ocorre a hematopoiese fetal, capaz de induzir a ocorrência da leucemia.61 A leucemia neonatal possui portanto, uma história biológica totalmente divergente das leucemias típicas da infância (LLA e LMA), que ocorrem após o período neonatal. Para explicar a origem desta última, acredita-se em um modelo de no mínimo dois “golpes” separados por um período de tempo (Teoria dos dois golpes de Knudson).64 Neste caso, ocorreriam, além da predisposição genética, duas exposições a fatores ambientais em momentos distintos da vida da criança cruciais para o desenvolvimento da doença. A primeira exposição ocorreria no período intra-uterino, onde a leucemogênese é na maioria dos casos iniciada através de rearranjos cromossômicos, porém sem o desenvolvimento clínico da doença. Neste caso, as lesões gênicas mais freqüentes correspondem à hiperploidia e fusões TEL-AML1 (ETV6RUNX1). Um por cento de todos os recém-nascidos hígidos apresentam uma fusão funcional destes genes, isto é, a célula encontra-se em seu estágio correto de desenvolvimento.63 Estes mecanismos de translocação cromossomial são extremamente comuns,65 ocorrendo ao acaso sem propósito específico quanto à sua expressão e funcionalidade gênica conseqüente, e portanto, indiferentes à contribuição ou não de 31 tais alterações ao desenvolvimento da leucemogênese. No entanto, as fusões gênicas que resultam em alterações funcionais, como as mencionadas acima, são selecionadas positivamente de um grande contingente de outras tantas fusões cromossômicas nãofuncionais e provocariam um excesso de células de linhagem branca funcionais caracterizando uma leucemia ainda indetectável clinicamente. Logo, é possível inferir que seja qual for a causa da translocação cromossomial ocorrida in utero, esta é possivelmente onipresente e ocorre ao acaso. A segunda exposição ocorreria em um momento mais tardio, pós-natal, e esta, representaria o passo fundamental ao surgimento da doença clinicamente detectável através de mudanças genéticas secundárias como uma deleção gênica ou uma mutação, conforme esquematizado na Figura 1. Primeiro Golpe Segundo Golpe Iniciação Translocação LLA/LMA Evento Comum Evento Raro 1% --------------- | -------------------------- Conversão pré-leucêmica --------- | --------Translocação Cromossomial/ Hiperploidia Deleção gênica/ Mutação | | | | | | | | 2 – 15 anos Nascimento Figura 1. Modelo esquemático da teoria dos dois golpes de Knudson 32 Dentre todas as tentativas para justificar a origem do “segundo golpe” e, portanto, das leucemias, duas teorias propostas em 1988, ambas implicando causas infecciosas, são atualmente as mais plausíveis e aceitas pela comunidade científica.66 Essas teorias originaram-se após a observação de clusters (aglomerados) de leucemia pediátrica e linfoma não-Hodgkin (LNH) em uma região da Grã-Bretanha, onde haviam Usinas de reprocessamento nuclear, na cidade de Seascale (Inglaterra) e na cidade de Thurso (Escócia). Inicialmente, acreditava-se que os casos de doença estariam ligados à exposição ambiental direta das crianças à radioatividade, ou à herança de mutações genéticas transmitidas pelos pais das crianças, que trabalhavam nas usinas e teriam sido expostos à radioatividade. No entanto, essa hipótese foi rapidamente derrubada, visto que os níveis de exposição à radiação eram insignificantes para provocar tais mutações. A partir destes dados, Kinlen67 sugeriu que a incidência aumentada de Leucemias e de Linfomas não-Hodgkin poderia ter uma origem infecciosa conseqüente da mistura populacional pouco usual (teoria da “population mixing”) ocorrida entre as duas comunidades de Seascale e Thurso, até então isoladas, com o surgimento de postos de trabalho relacionados às usinas. Kinlen sugere que alguns aglomerados de leucemia pediátrica poderiam ter ocorrido por um efeito raro, em conseqüência a alguma infecção corriqueira, mas relativamente “pouco patológica”, isto é uma infecção com pouca ou nenhuma manifestação clínica, surgida em indivíduos não-imunes após contato ou “mistura de populações” com indivíduos portadores de tal infecção. Kinlen baseou sua teoria na análise de dados estatísticos da região, e paralelamente em estudos realizados em “novas cidades rurais” onde houve uma mistura populacional decorrente do povoamento rápido originário de diversas regiões, que mostravam a ocorrência simultânea do influxo populacional e do pico de incidência destas duas neoplasias em crianças. 33 Uma segunda teoria foi proposta por Greaves,68 igualmente em 1988, sugerindo uma hipótese de “infecção tardia”. Este modelo explicaria o pico de incidência de LLA entre 2 e 5 anos de idade, comumente observado nas sociedades industrializadas e correspondendo ao fenótipo da leucemia comum da infância Common Acute Lymphoblastic Leukemia Antigen positivo (CALLA+). Neste caso, infecções comuns da primeira infância seriam adquiridas mais tardiamente, e desempenhariam um papel crucial de promover, através de uma grande expansão de clones de linfócitos resultante da ativação do sistema imunológico, o segundo “erro” genético, desencadeador da doença. Esta teoria fundamenta-se em um argumento com base em conceitos evolucionários e é essencialmente similar à “hipótese higiênica” imunológica69,70 aplicada às alergias em crianças, assim como à algumas doenças autoimunes, tais que a Diabetes Mellitus tipo I e a Esclerose Múltipla. Assim, essa teoria propõe que a rede de células imunológicas é programada (através da seleção natural e genética) a ser exposta durante o período neonatal e durante a primeira infância a uma série de infecções que permitem ao sistema imunológico elaborar uma resposta adaptativa organizacional. Estas exposições e organização possibilitarão ao sistema imunológico “amadurecer” e, assim, prover reações eficientes a futuras infecções.68 A sociedade moderna e industrializada, mais “higiênica” logrou através dos séculos suprimir diversas destas infecções que ocorriam no início da vida.69 Entende-se por uma sociedade mais “higiênica”, hábitos hoje tão habituais, mas antes desconhecidos por nossos ancestrais, como lavar as mãos, lavar-se diariamente, lavagem de alimentos, ambientes hospitalares e procedimentos médicos assépticos (como, por exemplo, o parto), etc. Além desses hábitos mais higiênicos, o isolamento das crianças imposto pelo novo modelo social afim de protegê-las contra enfermidades, também influiu diretamente na diminuição das doenças da primeira infância. Assim, se por um lado todas estas transformações 34 permitiram diminuir as taxas de mortalidade infantil, paradoxalmente, a falta ou “atraso” de infecções antes típicas da primeira idade, predispõe o sistema imunológico à respostas patológicas aberrantes frente a infecções até então “desconhecidas”. Estas respostas exacerbadas ou errôneas seriam a causa do desenvolvimento da LLA através da proliferação celular excessiva, ou do stress apoptótico conseqüente. O mecanismo de ação que representa o melhor candidato para explicar tal erro, consiste numa desregulação da resposta das células T à infecções, provocando uma intensa reação inflamatória e, conseqüentemente, uma liberação excessiva de citocinas e quimiocinas que, pelo menos transitoriamente, suprimem a hematopoiese e/ou induzem a apoptose. Desta forma, o clone pré-leucêmico teria uma vantagem proliferativa e/ou uma sobrevida distinta das demais células. Uma onda regenerativa posterior de expansão destas células poderia resultar em mutações secundárias, seja ao acaso, ou por conseqüência de um meio ambiente genotóxico derivado do stress oxidativo originário de um ambiente inflamatório. Lesões inflamatórias são bem reconhecidas como promotoras da carcinogênese.70 Para ambas as teorias, “mistura de populações” de Kinlen ou “infecção tardia” de Greaves, o risco de desenvolver uma leucemia também estaria associado à existência de um clone pré-leucêmico gerado durante o período pré-natal (primeiro golpe), assim como uma predisposição genética. Assim, estudos recentes comprovaram que variações genéticas herdadas são capazes de interagir com exposições infecciosas ambientais durante a infância, que determinarão o padrão (por exemplo, perfil de citocinas) das respostas imunológicas. Os genes que representam os candidatos mais óbvios, dentro do contexto da hipótese infecciosa, são aqueles que codificam componentes fundamentais da rede imunológica, incluindo os genes dos antígenos leucocitários humanos polimórficos (HLA), genes do complexo de histocompatibilidade (MHC), citocinas, 35 quimiocinas e seus receptores.71 Alguns conhecimentos sobre doenças que apresentam origens infecciosas, e que têm seu mecanismo de ação baseado na “hipótese higiênica”, ajudam a corroborar a hipótese infecciosa para as leucemias. Assim, é instigante, por exemplo, o fato da interleucina-12 (IL-12) ter um papel crucial no controle do equilíbrio entre as respostas Th1 (T-helper) e Th2, favorecendo a atividade das respostas Th1. Polimorfismos no gene da IL-12, determinam expressões fortes ou fracas da mesma, e estão associadas a um risco maior ou menor de Asma, ou Diabetes Mellitus tipo I, respectivamente.72 São necessários mais estudos envolvendo este mecanismo de ação, porém estes achados indicam claramente que o sistema imunológico, e provavelmente suas respostas à infecções, está envolvido no desenvolvimento da LLA. As duas teorias apresentam, portanto, um princípio geral comum, associando infecções à gênese da leucemia. Sucessivos estudos de clusters de leucemia pediátrica (como em Niles, Illinois e Fallon, Nevada, nos EUA)73,74 indicam que a exposição decisiva à leucemogênese e ao desenvolvimento clínico da doença seria a segunda exposição pósnatal (segundo golpe). A leucemia pediátrica seria, portanto, uma resposta rara a uma ou mais infecções adquiridas por contato pessoal através de algumas circunstâncias sóciodemográficas particulares. Deste modo, fica clara a importância de se estudar a relação entre saúde e meio ambiente. Neste sentido, o desenvolvimento de sistemas de vigilância ambiental e monitoramento do câncer das populações, assim como estudos epidemiológicos envolvendo estes dois fatores são fundamentais. 36 1.4. Meio Ambiente e Origens da Leucemia Pediátrica Uma revisão sistemática realizada por Greenberg e Shuster75 sobre câncer pediátrico em 1985, sintetizou claramente a associação entre risco aumentado de leucemia pediátrica e elevado padrão sócio-econômico. Desde então, diversos estudos envolvendo diferentes variáveis sócio-econômicas têm tentado ratificar tal associação. Muitos deles confirmam uma associação positiva, porém outros indicam uma associação negativa. Uma segunda revisão realizada em 2006 por Poole et al.,76 sumarizou novamente todos os estudos e, indicou que são observadas associações positivas quando se utiliza dados secundários (obtidos através de prontuário ou base de dados) em estudos ecológicos e casos-controle que avaliam padrões sócio-econômicos dos casos de leucemia. Por outro lado, em estudos que utilizam dados primários (entrevistas e questionários) a fim de obter informações individuais de cada caso sobre a renda familiar e nível escolar de ambos os pais, encontra-se uma associação negativa entre risco de leucemia e padrão sócio-econômico. Portanto, pouco se pode afirmar em relação às causas reais da leucemia, porém, como mencionado anteriormente, fatores ambientais estão provavelmente envolvidos em sua etiologia. 77 Embora existam evidências substanciais que ratifiquem as teorias infecciosas de Kinlen e Greaves, a natureza exata de como estes fatores participam da rede causal das leucemias ainda não foi identificada. Assim, nenhum agente transmissível específico foi nomeado e, a prova da existência de tal agente infeccioso, não excluiria a possibilidade de haver outros fatores ambientais envolvidos concomitantemente na gênese da doença. Paradoxalmente, um estudo oriundo de três regiões metropolitanas dos EUA mostrou um aumento estatisticamente significativo nas taxas de LLA e de Linfoma não-Hodgkin associado ao aumento de densidade populacional.78 Na Austrália, foi identificada uma incidência de LLA maior na cidade 37 de Brisbane, quando comparado a taxas do subúrbio da cidade, menos povoado.79 Por outro lado, demonstrou-se que na cidade de São Paulo, áreas mais densamente povoadas e com um padrão socioeconômico mais baixo, apresentam taxas de incidência mais baixas de leucemia pediátrica, quando comparado a áreas menos povoadas e com padrão socioeconômico mais elevado.80 A taxa de incidência de LLA e de LNH para a faixa etária de 0-14 anos de idade na Suécia é considerada uma das mais altas do mundo (3.8 para LLA e 0.7 para o Linfoma não-Hodgkin), e o padrão socioeconômico deste país é elevado e permanece estável há várias décadas.81 Em todos estes estudos, o risco aumentado de leucemia parece ocorrer no centro populacional como um todo, não sendo identificada nenhuma área geográfica específica.78-81 Os grandes estudos caso-controle britânico e americano, United Kingdom Childhood Cancer Study (UKCCS) e da Califórnia do Norte evidenciaram através de seus resultados preliminares que a assiduidade em creches e playgrounds nos dois primeiros anos de vida provocam um efeito protetor para LLA em crianças, visto que possibilitam a exposição das crianças a agentes infecciosos.45 Um estudo de 2011 com base populacional analisando as diferenças de incidência de leucemia aguda em crianças nas diversas regiões do Brasil demonstrou uma média nacional de incidência desta doença de 53,3 casos por milhão de crianças. Esta taxa representa um padrão similar ao encontrado no México ou em países europeus.82,83 Neste estudo foram analisados 16 Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP), evidenciando obviamente grandes variações regionais. Assim, a maioria dos RCBP da região Nordeste, mais pobre, apresentaram menores taxas de incidência, enquanto que os RCBP das regiões centroeste, Sul e Sudeste, mais ricas, apresentaram maiores taxas de incidência. Um achado inesperado foram as altas taxas observadas na cidade de Manaus, opostas ao que se esperava, visto que esta é uma região extremamente pobre, com uma alta taxa de mortalidade infantil no primeiro ano 38 de vida, elevada taxa de analfabetismo feminino e uma das regiões com o menor número de profissionais de saúde especializados do país.82 Diante de todos estes estudos, conclui-se que existem muitos resultados conflitantes e pouco se sabe com clareza a respeito da origem das leucemias em crianças. Porém, sem dúvida, a hipótese de um agente infeccioso permanece sendo, até o momento, a teoria mais plausível envolvendo fatores sócio-ambientais, embora o mecanismo de ação destes agentes infecciosos ainda seja desconhecido. 1.5. Epidemiologia Espacial A epidemiologia espacial é a área da epidemiologia que estuda a associação entre as exposições ambientais e os desfechos relacionados à saúde, com o propósito de estabelecer posteriormente relações etiológicas.84 O termo ambiental implica um contexto espacial, uma vez que o ser humano existe em um nicho ecológico próprio sobre a superfície da terra. Assim, para o entendimento das interações entre os seres humanos e seu ambiente necessita-se muitas vezes de informações espaciais. A epidemiologia espacial na área médica representa, portanto, a descrição e análise de variações geográficas de determinada doença a respeito de seus fatores de risco demográficos, meio-ambientais, comportamentais, sócio-econômicos, genéticos e infecciosos.85 Os estudos ecológicos estão intimamente relacionados com o mapeamento de doenças. Em um estudo ecológico a unidade de observação estudada é um grupo de pessoas, e não o indivíduo, pertencentes a uma área geográfica definida (cidade, bairro, setor censitário, etc). Freqüentemente são realizados utilizando-se arquivos de dados existentes em grandes populações, o que os torna mais baratos e rápidos. Avaliam, portanto, o contexto social e ambiental de uma população. 39 Normalmente, hipóteses a respeito de fatores etiológicos ou risco de doença são avaliadas nesse tipo de estudo. Assim, estudos espaciais se classificam como estudos ecológicos, ou seja, analisam características de populações inteiras afim de descrever doenças espacialmente em relação a algum fator de risco como idade, sexo, consumo de alimentos, medicamentos ou variáveis sócio-econômicas. Nesse caso, focamos a análise em áreas circunscritas determinadas (bairro, cidade, estado), gerando mapas de doenças, estudos de correlações geográficas, e de “clusters” (ou aglomerados) de determinada doença. A grande limitação desse tipo de análise é que os resultados não podem ser inferidos para indivíduos singulares. A ferramenta utilizada para realizar tais análises são os aplicativos de sistema de informação geográfica (Geographic Information System – GIS), que podem ser utilizados para estocar, analisar e apresentar espacialmente os dados epidemiológicos e ambientais gerando novas hipóteses causais.86 O avanço e desenvolvimento de tais softwares, assim como o desenvolvimento das metodologias estatísticas e disponibilidade de dados geográficos referenciados ambientais e de saúde de alta resolução, criaram oportunidades sem precedentes para investigar causas ambientais e outros fatores capazes de explicar variações geográficas de doenças. No entanto, toda esta inovação também apresenta novos desafios. Os maiores problemas incluem o grande componente aleatório (random) presente principalmente em pequenas áreas geográficas, que podem gerar grandes variações nas taxas de doenças e causar grandes confundimentos na distribuição de tal doença.87,88 Esse problema pode ser contornado utilizando adequadamente a metodologia Bayesiana que baseia-se na suavização dos riscos de doenças, porém eficiente apenas quando o número de casos estudado não for demasiadamente pequeno.87,88 Os principais vieses dos estudos de epidemiologia espacial são decorrentes da qualidade dos dados sócio-econômicos, que podem gerar 40 resultados com riscos excessivos em uma localidade. Por isso, a qualidade dos dados é essencial e deve ser verificada sistematicamente.84 A epidemiologia espacial tem sua origem no início do século XIX, quando os epidemiologistas dirigiam sua atenção principalmente para as doenças infecciosas como a cólera e febre amarela.89 Atualmente, existe um interesse crescente no estudo das doenças crônicas e não-infecciosas e, na área da epidemiologia do câncer, esse tipo de abordagem pode ser usado para avaliar fatores etiológicos relacionados com a distribuição de freqüência de um tipo de neoplasia em uma determinada região e correlacioná-la com a distribuição espacial dos fatores de risco putativos. No entanto, na epidemiologia espacial, quando o foco da pesquisa é a investigação de fatores de risco relacionados a um determinado tipo de câncer, é sempre preferível utilizar dados de casos incidentes no estudo, já que os dados de mortalidade são influenciados tanto pela incidência quanto pela qualidade de assistência à saúde da região de interesse. Na cidade do Rio de Janeiro, no entanto, não há RCBP e somente se dispõe de dados de mortalidade. Para tanto, os estudos de epidemiologia espacial de fatores de risco relacionados ao câncer que utilizam dados de mortalidade devem sempre controlar sua análise com informações espaciais sobre as condições sócioeconômicas e acesso ao sistema de saúde da unidade de interesse (município, bairro, região administrativa) para evitar vieses. Ainda assim, a análise dos resultados deve ser cautelosa levando em consideração tais limitações. 41 1.6. Histórico da Epidemiologia Espacial “Qualquer pessoa que deseje realizar uma investigação médica adequada, deve proceder da seguinte forma: em primeiro lugar considerar as estações do ano, e quais efeitos cada uma delas produz...a seguir os ventos, quente e frio, principalmente aqueles comuns a vários países, e então aqueles peculiares a cada localidade... ...da mesma forma, quando alguém vem a uma cidade a qual este é estrangeiro, ele deve considerar tal situação, como sua posição em relação aos ventos e ao sol, pois sua influência não é a mesma se sua posição encontra-se ao norte ou ao sul, se encontra-se direcionado ao nascer ou ao pôr do sol... e considerar a água que os habitantes utilizam, se a corrente é suave e fina , ou espessa, se origina-se de locais rochosos e elevados.... e a terra, se é desnuda e deficiente em água, ou arborizada e bem umedecida pela água, e se encontra-se em um vale fechado, ou em locais elevados e frios...”14 O conceito de “mapear doenças” não é novo. Esse relato escrito por Hipócrates (nascido em 460 antes de Cristo) demonstra claramente sua preocupação em enfatizar a importância do meio ambiente e da localização geográfica para a compreensão e estudo da saúde. Este grande filósofo foi o primeiro personagem da história a ressaltar a relação entre essas duas grandes áreas. A sociedade e aglomerações humanas apresentam um papel de agente duplo na luta contra as doenças. Simultaneamente encorajam sua propagação e, combatem sua difusão, pois, por um lado, estudam e buscam a cura para as enfermidades; e por outro lado, as comunidades construídas, as tecnologias que as sustentam e o comércio asseguram ambientes favoráveis ao desenvolvimento da flora microbiota.89 Não foi por acidente que os mapas representando doenças floresceram no século dezenove, conforme mencionado anteriormente, durante um período de intensa migração e crescente comércio 42 internacional, e que seu renascimento ocorreu no início da década de 90 durante uma nova era de globalização.90 No entanto, os primeiros mapas de doença dos quais se tem notícia datam do século XVII, mostrando a propagação da praga na província de Bari, do então estado de Nápoli (atualmente Itália). Mais tarde, em descrições realizadas por Howe91 sobre a história da epidemiologia espacial, esse identifica diversos estudos Americanos e Britânicos do início do século XIX nos quais foram utilizados mapas para demonstrar a distribuição de determinadas doenças. A maioria desses mapas ilustravam a distribuição de doenças infecciosas como a febre amarela nos Estados Unidos, e outras febres contagiosas na Irlanda. No entanto, foi o trabalho realizado pelo médico inglês John Snow92 durante as epidemias de cólera ocorridas em Londres por volta de 1854 que foi registrado efetivamente o primeiro estudo na área médica utilizando uma metodologia de investigação epidemiológica espacial. Naquela época o meio de difusão e o vibrio da cólera ainda eram desconhecidos. Este médico brilhante e, atualmente considerado o pai da epidemiologia moderna, utilizou o mapeamento do local de residência das vítimas da epidemia de cólera de 1854 em Londres, para identificar um aglomerado de casos ao redor do reservatório de água localizado em Broad Street. (Figura 2) Investigações posteriores, indicaram que este reservatório de água de Broad Street havia sido contaminado por material fecal de uma vítima da cólera, o que permitiu relacionar, portanto, os casos de cólera com fontes de abastecimento de água infectadas.92 43 Figura 2. Mapa de John Snow representando os casos de cólera e o poço de água contaminado em Broad Street, na cidade de Londres, 1854 1.7. Definição do Georreferenciamento na Epidemiologia Espacial Ainda que uma das primeiras aplicações do georreferenciamento tenha sido realizada para dados de saúde, as práticas modernas de georreferenciamento foram quase inteiramente desenvolvidas em outras áreas, como a geografia, geologia, e engenharia florestal.93 Assim, as técnicas de representação espacial ainda são pouco utilizadas na área da saúde, devido às dificuldades inerentes à manipulação desse tipo de informação. No entanto, recentemente muitos grupos de pesquisa advogam o uso do 44 geoprocessamento como um componente essencial dos sistemas de análise de saúde, e sua utilidade no planejamento em saúde é indiscutível. 87 Os atlas de incidência e mortalidade proporcionam uma imagem da distribuição geográfica das enfermidades e permitem a realização de estudos de epidemiologia descritiva, assim como a geração de hipóteses ecológicas. O GIS permite que epidemiologistas e pesquisadores na área da cancerologia investiguem padrões espaciais através de seus dados e compreendam interações entre o câncer e outras variáveis de saúde, variáveis socioeconômicas ou variáveis ambientais. Este aplicativo representa, portanto, uma ferramenta adicional na exploração, análise e comunicação dos dados de câncer.94 Tradicionalmente, na área da saúde, o georreferenciamento consiste em designar códigos geográficos utilizando como área geográfica o bairro ou a Codificação de Endereçamento Postal (CEP) a dados de saúde (como casos de incidência ou mortalidade de determinada doença).95 Existem três principais métodos de georreferenciamento. Cada um deles apresenta vantagens e erros característicos. São eles: • O primeiro método designa uma observação (como um caso de câncer) a uma unidade geográfica (bairro, rua, quarteirão). Neste método a localização geográfica no interior da unidade não é especificada. No entanto, análises ecológicas podem ser realizadas utilizando dados associados à mesma unidade. Este método é menos preciso, porém mais fácil de ser realizado. • O segundo método é chamado de interpolação, no qual designa-se uma observação (como um caso de câncer) a uma coordenada geográfica específica. Neste método a coordenada geográfica é estimada baseada em uma distância 45 proporcional entre o endereço de um registro e a escala de endereço de um segmento de rua. Assim, o “caso” é localizado geograficamente de forma mais precisa, e pode ser relacionado a dados da mesma unidade geográfica. • O terceiro método é chamado de associação de amostras (“parcel matching”) e, neste, também designa-se uma observação (como um caso de câncer) a uma coordenada geográfica específica. No entanto, neste caso cada unidade geográfica apresenta apenas um endereço. A coordenada geográfica é determinada baseada no centróide da área, ou na localização da edificação principal. Este método é o mais acurado e vem tornando-se cada vez mais difundido, porém a informação do endereço deve ser muito precisa. Assim, o georreferenciamento refere-se à prática de designar um identificador geográfico a um dado armazenado em um computador que irá associá-lo a um espaço geográfico. A seguir estes dados são processados e analisados por um software de GIS, tal como o ArcGIS®, MapInfo®, TerraView®, geoprocessando-os e gerando os mapas.95 Estes softwares são programas de empresas privadas que apresentam uma interface agradável de se trabalhar uma vez aprendidos os comandos básicos, porém com um custo muito elevado. Outros softwares disponíveis em plataforma freeware como o BayesX da Universidade de Munique, Alemanha96 são igualmente capazes de estocar e analisar dados geográficos com metodologias espaciais, porém com uma interface menos facilitada. Neste caso os mapas devem ser transcritos em uma linguagem informática compatível com o BayesX. 46 2. Objetivos 2.1 Objetivos Gerais • Descrever e comparar as tendências das taxas de mortalidade por leucemia em crianças com idade entre 0 e 14 anos, e em adolescentes e adultos jovens com idade entre 15 e 24 anos em 12 países da América Latina no período compreendido entre janeiro de 1980 e dezembro de 2004. • Descrever a distribuição espacial dos óbitos por leucemia aguda em crianças de 0 a 20 anos de idade na cidade do Rio de Janeiro no período de janeiro de 1996 a dezembro de 2004, assim como descrever a distribuição espacial dos óbitos por câncer de pulmão em indivíduos com 35 anos de idade ou mais no mesmo período, com finalidade apenas de controle. 2.2 . Objetivos Específicos • Descrever os SMR por leucemia aguda na infância das Regiões Administrativas da cidade do Rio de Janeiro, através de uma modelagem do tipo Poisson, controladas pelas variáveis sócio-econômicas, atividades econômicas, perfil educacional e escolaridade, oriundas dos censos do IBGE, assim como dos SMR por câncer de pulmão em indivíduos com 35 anos ou mais, com finalidade apenas de controle. • Gerar os gráficos de distribuição dos SMR por leucemia aguda na infância das Regiões Administrativas da cidade do Rio de Janeiro e descrever as regiões de maior risco de mortalidade relacionada a esses diagnósticos, assim como dos SMR por câncer de pulmão em indivíduos com 35 anos ou mais, com finalidade apenas de controle. 47 3. Metodologia 3.1. Análise das tendências das taxas de mortalidade por leucemia em crianças, adolescentes e adultos jovens na America Latina. Esta etapa do estudo tem por objetivo analisar as tendências das taxas de mortalidade por leucemia em crianças, adolescentes e adultos jovens na America Latina. Foram incluídos 12 dos 21 países da América Latina pois nem todos dispunham dos dados de mortalidade anuais entre 1980 e 2004, período escolhido para análise. Este trabalho foi desenvolvido no ano de 2009 na International Agency for Research on Cancer / World Health Organization (IARC/WHO) durante o período de Doutorado Sanduíche, e foi publicado na Revista Panamericana de Saúde Pública em 2011, disponível online na rede Cielo. 3.1.1. Desenho do estudo Trata-se de um estudo descritivo, do tipo ecológico e observacional. 3.1.2. População e coleta de dados Os dados de mortalidade por leucemia em crianças com idade entre 0 e 14 anos, e adolescentes e adultos jovens com idade entre 15 e 24 anos para o período compreendido entre 1980 e 2004 para os 12 países selecionados foram obtidos através do Banco de Dados de Mortalidade da Organização Mundial de Saúde (OMS) disponível online.97 Os dados consistem no número de óbitos por país, por ano e por sexo para faixas de 5 anos de idade (0-4 anos, 5-9 anos, 10-14 anos, 15-19 anos, 20-24 anos). Os países foram selecionados em função da disponibilidade dos dados de 48 mortalidade. Dos 21 países da América Latina, apenas Argentina, Brasil, Chile, Costa Rica, Cuba, Equador e México tinham dados de mortalidade anuais completos no período compreendido entre 1980 e 2004; a Colômbia iniciou seus registros de câncer em 1984, porém em dois anos contidos neste período haviam dados faltando; a República Dominicana e o Paraguai também apresentavam dois anos com dados faltosos, e o Uruguai e Venezuela apresentavam três anos com dados faltosos. No entanto, para os países citados os dados ausentes não interferiram na confiabilidade das informações. Os oito demais países da América Latina apresentavam dados muito incompletos ou ausentes e, por este motivo, foram excluídos da análise. Durante o período analisado, entre 1980 e 2004, duas revisões da Classificação Internacional de Doenças (CID) foram utilizadas, a 9a e a 10a edição (CID-9 e CID10)98,99 da Organização Mundial de Saúde (OMS) para definição das doenças investigadas neste estudo. Assim, foram considerados os códigos 1045 (C91 a C95, CID-10) e os códigos B141 (204-208, CID-9) referentes à causa de óbito “Leucemia”, sem distinção quanto aos subtipos da doença. Estimativas anuais da população, por grupos de 5 anos de idade (0-4, 5-9, 10-14, 15-19, 20-24 anos) e por sexo foram obtidas no website das Nações Unidas / Divisão de População.100 3.1.3. Análise Estatística Os dados de Mortalidade e populacionais foram unificados e, para cada país e por faixa de 5 anos, a taxa de mortalidade específica por idade, a taxa global padronizada por idade por 100 000 homens/mulheres, e taxas agrupadas por 0-14 anos e 15-24 anos foram geradas por gênero e ano, assim como para os períodos de 1980-1984, 49 1990-1994, 1995-1999 e 2000-2004. O método de padronização direta foi utilizado baseando-se na População Mundial Padrão definida por Segi.101 Com o objetivo de descrever a ocorrência de modificações significativas na tendência das taxas de mortalidade, foi utilizado um modelo de regressão por “joinpoint”.102 Esta técnica permite identificar os anos do calendário nos quais houve uma variação significativa na tendência, os chamados “joinpoints”. Em outras palavras, esta técnica seleciona os melhores pontos onde as taxas se alteram significativamente, seja aumentando ou decrescendo. Os dados estatísticos derivados deste modelo são representados pela Mudança Percentual Anual, ou Annual Percentage Change (APC) da taxa associada com cada segmento de linha, o Intervalo de Confiança (IC) do APC, e os “joinpoints” (anos do calendário) onde houve uma variação na tendência. Esta análise foi realizada utilizandose o software Joinpoint Regression Program, versão 3.3.1 (National Cancer Institute, Bethesa, Maryland, United States of America)103 e o STATA, versão 10.0 (Stata Corporation, College Station, Texas, United States of America). 104 50 3.2. Estudo de epidemiologia espacial na cidade do Rio Janeiro através de técnica de geoprocessamento. Nesta etapa do estudo, utilizamos os dados de mortalidade por leucemia aguda em crianças na cidade do Rio de Janeiro (por não dispormos dos dados de incidência), avaliando a distribuição espacial da taxa de mortalidade padronizada (Standard Mortality Rate - SMR) nas regiões administrativas da cidade. O período de análise escolhida compreende a faixa contida entre janeiro de 1996 e dezembro de 2004. Este período foi selecionado por representar todos os casos disponíveis na época de início da análise com codificação de doenças CID-10,99 e além disso por haver tido um censo realizado no ano de 2000. Este censo, de onde são oriundas as informações sócio-econômicas da população, foi realizado no meio do período estudado, o que aumenta a confiabilidade dos dados sócioeconômicos avaliados. A unidade de análise escolhida foram as Regiões Administrativas da cidade do Rio de Janeiro devido ao pequeno número total de óbitos por leucemia aguda encontrados na população infantil, mesmo quando considerados nove anos de análise da doença. As Regiões Administrativas englobam alguns bairros da cidade com características sociais, econômicas e geográficas muito semelhantes, possibilitando o estudo espacial destas áreas de forma agrupada. A região administrativa de Paquetá foi excluída do estudo por se situar a vários quilômetros do centro do município, possuir uma população pequena, e ter diversas características sócio-econômicas que sugerem isolamento espacial em relação ao restante do município. Controlamos igualmente, a distribuição espacial dos SMR por informações de variáveis sócio econômicas, atividades econômicas, perfil educacional e escolaridade, oriundas do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)105 realizado no período de interesse e, armazenados no site de armazém de dados da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro. Em decorrência, novamente, do fato do número de casos de leucemia aguda na infância na cidade do Rio de Janeiro ser 51 pequeno, mesmo considerando vários anos de observação, decidimos por utilizar os dados de mortalidade de câncer de pulmão como controle. A escolha dessa doença como controle se justifica pelo fato da taxa de mortalidade do câncer de pulmão tender a ser praticamente semelhante à sua taxa de incidência e, porque existe uma correlação bastante significativa e robusta entre câncer de pulmão e exposição ao cigarro em grande parte dos casos. A exposição a este fator de risco expressivo deveria ter um padrão aleatório, sem demonstrar nenhuma estrutura espacial. Referindo-se à investigação espacial e leucemia aguda na infância, esse estudo justifica-se pelo fato de diversos autores já terem demonstrado claramente que a incidência da leucemia aguda na infância, em especial a Leucemia Linfoblástica Aguda, aumenta com o desenvolvimento econômico e industrial das sociedades. A partir dessa observação, um número crescente de artigos tenta demonstrar a correlação entre o desenvolvimento das leucemias e a exposição a fatores de risco que são ícones da civilização industrial (exposição a campo eletromagnético de baixa tensão, uso de corante de cabelo durante a gravidez, exposição a substâncias químicas, agrotóxicas, etc). Muitos desses estudos são do tipo caso-controle e, portanto, partem da premissa de que pode haver uma associação causal a ser provada. 3.2.1. Desenho do estudo Trata-se de um estudo descritivo, do tipo ecológico e observacional. 3.2.2. População e coleta de dados Os dados de mortalidade, assim como o endereço dos pacientes foram obtidos 52 através dos arquivos de declaração de óbito de cada caso, junto ao Sistema de Informações de Mortalidade, do Ministério da Saúde (SIM/DATASUS) disponível online.106 Foram selecionados todos os pacientes que faleceram por leucemia aguda entre janeiro 1996 e dezembro 2004, com idade entre 0 e 20 anos, e que eram residentes no município do Rio de Janeiro. Foram igualmente selecionados todos os pacientes que faleceram por câncer de pulmão com 35 anos de idade ou mais, no período de janeiro 2001 a dezembro 2004 e, que eram igualmente residentes no Município do Rio de Janeiro. Os pacientes não residentes no município do Rio de Janeiro foram excluídos do estudo. Foi adotada como referência a Classificação Internacional de Doenças- 10a edição (CID-10),99 da Organização Mundial de Saúde (OMS) para definição das doenças investigadas neste estudo. Foram considerados, portanto, os códigos C91 a C95 referentes a Leucemia aguda, e os códigos C34 (C34.0 a C34.9) referentes ao câncer de pulmão, correspondendo a causa básica de óbito “leucemia aguda” ou “câncer de pulmão”, sem distinção quanto aos subtipos de ambas as doenças. A taxa de omissão de dados (disponibilidade de endereço do paciente no banco de dados) foi menor do 20%. 3.2.3. População e coleta de dados Diversas variáveis sócio-econômicas (atividades econômicas, perfil social e escolaridade) foram selecionadas junto ao website do IBGE 105 por região administrativa da cidade do Rio de Janeiro. Mais de 25 variáveis foram elegidas. A fim de reduzir o número de variáveis no modelo multivariado e, tornar os dados observados mais facilmente (e diretamente) interpretados realizamos uma análise fatorial. Isto é feito analisando-se os inter-relacionamentos entre as variáveis de tal modo que estas possam ser descritas convenientemente por um grupo de categorias 53 básicas, em número menor que as variáveis originais, chamado fatores. Assim, o objetivo da análise fatorial é a parcimônia, procurando definir o relacionamento entre as variáveis de modo simples e usando um número de fatores menor que o número original de variáveis. Esta análise fatorial nos indicou a existência de três fatores. Foi selecionado dentro de cada fator a variável com maior coeficiente de correlação, a fim de eleger apenas três variáveis representativas de cada uma destas categorias. São elas: • Índice de Desenvolvimento Escolar (IDH-E) → Índice do “Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)” relativo à Educação. Obtido a partir da taxa de alfabetização e da taxa bruta de freqüência à escola, convertidas em índices por: (valor observado - limite inferior) / (limite superior – limite inferior), com limites inferior e superior de 0% e 100%. • Índice de Gini (Gini) → Mede o grau de desigualdade existente na distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita. Seu valor varia de 0, quando não há desigualdade (a renda de todos os indivíduos tem o mesmo valor), a 1, quando a desigualdade é máxima (apenas um indivíduo detém toda a renda da sociedade e a renda de todos os outros indivíduos é nula). • Rendimento Médio dos chefes de domicílio em salários mínimos (Rend) → Refere-se ao rendimento econômico médio do responsável por sustentar o domicílio, utilizando-se o salário mínimo como unidade. A taxa de mortalidade por 100.000 habitantes de cada região administrativa 54 referente aos anos estudados e, para ambas as doenças foram obtidos junto aos arquivos de dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA),107 disponível online. A população estimada para cada região administrativa da cidade do Rio de Janeiro foi derivada dos arquivos do IBGE, disponíveis online. 3.2.4. Geração dos Mapas Foram utilizados mapas da cidade do Rio de Janeiro gerados por satélite da empresa Imagem, contendo as fronteiras dos bairros, ruas e CEPs da cidade. Afim de gerar os mapas das Regiões Administrativas com a codificação aceita pelo software BayesX, esses mapas foram lidos pelo software ArcGIS®, onde agrupamos os bairros em suas respectivas regiões administrativas. A Ilha de Paquetá foi excluída do estudo por razões estatísticas e, portanto, excluída do mapa. A Ilha do Governador teve que ser aproximada do continente graficamente, fundindo sua fronteira com os bairros localizados próximos a esta, possibilitando uma continuidade na codificação do mapa da cidade. Foi gerado, assim, um mapa do Rio de Janeiro com as Regiões Administrativas como unidade de análise. Em seguida, exportamos os mapas em formato de codificação txt., para identificar os códigos de cada uma das regiões administrativas. Foi então criada a codificação do mapa do Município do Rio de Janeiro, com suas 32 regiões administrativas, excluindo-se a Ilha de Paquetá reconhecido pelo software BayesX.96 55 3.2.4. Análise Estatística O cálculo do SMR é realizado através da divisão do número de casos observados, pelo número de casos esperados de óbitos por uma doença em uma comunidade, ajustados por sexo e pela distribuição etária. Para o cálculo dos casos esperados em cada uma das regiões administrativas da cidade do Rio de Janeiro foram realizados os seguintes procedimentos: • Para a Leucemia aguda: 1- Obtivemos os dados da taxa ajustada de mortalidade por 100.000 habitantes para o sexo masculino e feminino no estado do Rio de janeiro em quatro faixas etárias: 0 a 4 anos, 5 a 9 anos, 10 a 14 anos e 15 a 19 anos. 2- Multiplicamos estas taxas pela população masculina e feminina nas quatro faixas etárias de cada região administrativa em estudo. • Para o Câncer de pulmão: 1- Obtivemos os dados da taxa ajustada de mortalidade por 100.000 habitantes para o sexo masculino e feminino no estado do Rio de janeiro em quatro faixas etárias: 30-49 anos, 50-59 anos, 60-69 anos e mais de 70 anos. 2- Multiplicamos estas taxas pela população masculina e feminina nas quatro faixas etárias de cada região administrativa em estudo. O número de casos totais observados e esperados no município do Rio de Janeiro foi praticamente igual. Assim, obteve-se o SMR das 32 regiões administrativas tanto para as leucemias agudas, como para o câncer de pulmão. No entanto, o mapeamento do SMR bruto pode 56 conter artefatos relacionados à natureza desta medida que podem levar a interpretações equivocadas. Elucidando tal fato, assume-se que a finalidade do SMR é identificar regiões que possam apresentar um excesso de risco para determinada doença X através da comparação dos casos observados (CO) e dos casos esperados (CE) desta mesma doença X em uma determinada área Y, ou seja representa uma taxa. SMR = CO/ CE Após esta etapa foi realizada a modelagem espacial das SMR, utilizando um modelo de regressão baseado em técnicas de simulação de Markov-Monte Carlo implementada no software BayesX (Freeware). Utilizamos um modelo Bayesiano, do tipo Poisson para realizar a modelagem espacial. Realizamos uma série de três modelagens para estimar as SMR das regiões administrativas. No primeiro modelo, incluímos uma variável espacial para cada região. No segundo, acrescentamos uma variável não estruturada (com distribuição gaussiana) para cada região administrativa, com a finalidade de controlar possíveis efeitos randômicos, que não fossem devidos a fatores de risco com distribuição espacial (como por exemplo, renda das famílias x contaminação ambiental). No terceiro, procuramos determinar que fatores poderiam explicar este possível efeito não estruturado na distribuição dos casos pela inclusão das três variáveis sócio-econômicas selecionadas pela análise multifatorial: IDHE, Índice de Gini, e Renda familiar média. Foram, então gerados os mapas de distribuição das SMR corrigidos pela modelagem espacial. 57 3.2.5. Erros Sistemáticos (Vieses) • Efeito de borda Na maioria dos mapas onde dados estatísticos são representados, efeitos de borda estão presentes e precisam ser acomodados na análise. Quando dados estão espacialmente correlacionados, observações realizadas dentro da janela de um estudo estarão relacionadas com dados não-observados fora da janela de estudo. Assim, mesmo quando os resultados não evidenciam correlações espaciais, os métodos utilizados para representar a suavização de dados espaciais terão uma maior variabilidade nas bordas da unidade de análise visto que essa suavização utiliza dados vizinhos para computar seus resultados. Nas bordas as regiões vizinhas estão excluídas e não há dados para completar a suavização. Assim, nas regiões de borda a variabilidade encontrada não é estatisticamente acurada. No entanto, os efeitos de borda só apresentam um papel significativo no mapeamento de doenças quando há a detecção de clusters específicos de doenças, na análise de grandes correlações, ou na análise de dados onde a estimativa de taxas de uma doença em pequenas áreas depende de valores observados em áreas vizinhas. Em nosso estudo esse problema foi contornado utilizando-se todas as regiões do município do Rio de Janeiro, e não sendo necessário utilizar dados de regiões vizinhas. • Efeito não estruturado Apesar de utilizar na análise as taxas esperadas de uma doença, possíveis covariáveis associadas a ela, e alguns índices epidemiológicos, ainda é possível encontrar um grau de variabilidade nos resultados obtidos. Isso pode ocorrer em função de efeitos que não foram considerados no estudo. Por exemplo, podem haver efeitos locais específicos desconhecidos e não previstos, que aumentem o risco de doença. 58 Podem haver ainda fatores etiológicos desconhecidos que podem afetar a área de estudo. Em qualquer um dos casos, pode haver uma variabilidade residual considerável na distribuição da doença, que não pode ser explicada pelas taxas esperadas (resultados) ou pelas covariáveis incluídas na análise. Esses efeitos podem ser acomodados na análise através do uso de técnicas avançadas, (modelo descrito anteriormente)94 aumentando a acurácia do estudo. • Tamanho amostral O pequeno tamanho amostral obtido nesse estudo representa um possível viés. No entanto, afim de se contornar esse problema, foram coletados dados de nove anos de estudo, um período bastante amplo. A leucemia pediátrica representa uma doença com baixo indicie de mortalidade, o que dificulta a análise de dados dessas taxas mesmo em regiões muito povoadas. Em nosso estudo, esse problema foi contornado utilizando-se dados de câncer de pulmão para fins comparativos. • Estudo Ecológico O Estudo ecológico por si só constitui um viés visto que analisa dados agregados de populações. Conforme mencionado anteriormente, dados provenientes de estudos ecológicos devem ser examinados com cautela e não podem ser inferidos para indivíduos. Este tipo de estudo consiste, normalmente na abordagem inicial de um hipótese. Outros estudos devem ser conduzidos a partir dos dados obtidos em estudos ecológicos. 59 3.2.6. Questões Éticas Nosso projeto de estudo foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa do Instituto de Pediatria e Puericultura Martagão Gesteira, unidade da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPMG/UFRJ). Por se tratar de uma pesquisa que baseia-se em dados secundários de saúde, sem a identificação dos pacientes, não foi necessário coletar o Termo de Consentimento Informado, Livre e Esclarecido (TCLE) dos casos analisados neste estudo. 60 4. Resultados 4.1. Análise das tendências das taxas de mortalidade por leucemia em crianças, adolescentes e adultos jovens na America Latina. As maiores taxas de mortalidade por leucemia entre 2000-2004 foram encontradas no México e no Equador para crianças, e Adolescentes-Adultos Jovens de ambos os gêneros, conforme demonstrado na Figura 3. Figura 3. Taxas de Mortalidade por Leucemia em 12 países da América Latina para os grupos de 0-14 anos (a) e 15-24 anos (b) no Período entre 2000-2004 5 ,2 8 M e x ic o E c u a d o r V e n e z u e la C u b a 2 ,9 6 C o s taR ic a 2 ,3 3 A rg e n tin a C h ile P a ra g u a y U ru g u a y 1 ,3 8 D o m in ic a nR e p 4 ,3 4 V e n e z u e la 4 ,1 3 ,5 8 3 ,2 8 C o s taR ic a C u b a 3 ,1 2 ,6 8 2 ,8 8 2 ,3 1 2 ,8 4 2 ,2 5 2 ,7 3 1 ,4 3 1 ,0 9 C h ile A rg e n tin a P a ra g u a y B ra z il U ru g u a y D o m in ic a nR e p 00 ,511 ,522 ,533 ,544 ,555 ,56 0 F e m a le s M a le s (a) 2 .9 6 E c u a d o r 2 ,6 7 2 ,3 2 B ra z il 2 .1 1 2 .0 6 2 .6 1 C o lo m b ia 3 ,0 5 C o lo m b ia 3 .0 4 M e x ic o 4 ,4 4 4 ,3 8 3 ,9 3 4 ,3 6 1 .9 7 2 .4 8 2 .0 3 2 .4 4 2 .0 6 2 .2 7 1 .7 2 2 .1 8 1 .4 2 2 .1 5 1 .3 9 1 .9 4 1 .4 3 1 .7 7 1 .1 2 1 .5 5 1 .8 8 0 .8 5 0 .6 8 0 .5 1 1 .5 2 2 .5 3 3 .5 F e m a le s M a le s (b) As tabelas II e III apresentam o número de óbitos e as taxas de mortalidade por leucemia padronizadas por idade (ASR(W)) para homens e mulheres nos grupos 0-14 anos e 15-24 anos de idade respectivamente, nos 12 países estudados para três períodos de tempo (1980-1984, 1990-1994, e 2000-2004), assim como o APC e a relação Homens:Mulheres calculada a partir da média de casos em cada gênero. Para as crianças, a variação anual global entre os períodos 1980-1984 a 2000-2004 demonstra um aumento nas taxas de mortalidade por leucemia em ambos os sexos na Colômbia, Equador e México, com taxas substancialmente mais altas no México 61 Tabela II. Taxas de Mortalidade por leucemia para o grupo 0-14 anos, número de casos médio, % de variação global e relação Homens/Mulheres em ambos os sexos na América Latina, 1980-2004 Homens Mulheres 1980-84 TR* 1990-94 TR 2000-04 TR Argentina 6.19 4.22 3.1 89 -49.92 4.41 3.02 2.68 74 -39.23 1,2 Brasil 3.32 2.7 2.67 387 -19.58 2.61 2.22 2.32 319 -11.11 1,21 Chile 4.59 4.05 2.88 34 -37.25 4.17 3.2 2.31 27 -44.6 1,26 Colombia1 4 4.17 4.1 157 2.5 3.47 3.9 3.58 129 3.17 1,22 Costa Rica 5.4 4.27 3.28 11 -39.26 5.9 3.77 2.33 8 -60.51 1,38 Cuba 4.54 4.07 4.34 27 -4.41 3.98 3.16 2.96 17 -25.63 1,59 Dominican Republic2 2.39 1.39 1.43 13 -40.17 1.76 1.3 1.09 9 -38.07 1,44 Equador 4.23 4.52 4.38 52 3.55 3.62 4.06 3.93 45 8.56 1,16 México 4.43 4.4 5.28 486 19.19 3.67 3.77 4.44 392 20.98 1,24 Paraguay3 2.91 3.43 2.84 17 -2.41 1.76 2.17 2.25 13 27.84 1,31 Uruguay4 6.42 3.4 2.73 6 -57.48 3.79 3.17 1.38 3 -63.59 2 Venezuela5 4.63 4.63 4.36 100 -5.83 4.08 4.1 3.5 78 -14.22 1,29 % Variação Global 198084 TR* 199094 TR 2000-04 TR Número Médio de Casos (2000-04) % Variação Global Relação H/M 2000-04 (casos)** Número Médio de Casos (2000-04) * TF: Taxas por Faixa Etária 0-14 anos de idade ** Relação Homens/Mulheres calculada a partir do número médio de casos em cada sexo no período de 2000-2004 1 Seis anos de informação ausente (1980-1984, 2002 e 2003) 2 Dois anos de informação ausente (1993 e 2002) 3 Dois anos de informação ausente(1992 e 1993) 4 Três anos de informação ausente (1991, 1992 e 2002) 5 Três anos de informação ausente (1984, 1991 e 1995) Para Adolescentes-Adultos Jovens, pode-se observar uma elevação nas taxas de mortalidade por leucemia para ambos os sexos no Equador e no México, com taxas maiores para homens. (Tabela III). O Paraguai mostrou um aumento nas taxas apenas para os homens, enquanto que na Colômbia, Uruguai e Venezuela observou-se uma elevação nas taxas de mortalidade apenas para as mulheres. Para crianças, a maior % de variação global foi observada em mulheres no México (+20,9%), enquanto que para Adolescentes-Adultos Jovens, os Homens no Equador (+32,7%) tiveram a maior % de variação global. Todos os demais países estudados apresentaram uma diminuição na % 62 de variação global, sendo as maiores variações encontradas para crianças, mulheres no Uruguai (-63,6%), e Homens Adolescentes-Adultos Jovens na Costa Rica (-40,9%). A Relação Homens/Mulheres demonstra taxas mais elevadas em Homens do que em Mulheres em todos os 12 países da America Latina, tanto em crianças quanto em Adolescentes-Adultos Jovens, exceto para Adolescentes-Adultos Jovens no Uruguai (+0.8). Tabela III. Taxas Padronizadas por Idade (ASR(W)) de Mortalidade por leucemia para o grupo 1524 anos, número de casos médio, % de variação global e relação Homens/Mulheres em ambos os sexos na América Latina, 1980-2004 Homens Mulheres 19801984 ASR(W)* 19901994 ASR(W) 20002004 ASR(W) Argentina 2.64 2.06 2.15 71 -18.56 1.75 1.34 1.39 45 -20.57 1.58 Brasil 1.81 1.65 1.77 313 -2.21 1.19 1.10 1.12 194 -5.88 1.61 Chile 2.62 2.32 2.18 29 -16.79 1.90 1.80 1.42 18 -25.26 1.61 Colombia1 2.66 2.46 2.61 107 -1.88 1.96 1.88 1.97 79 0.51 1.35 Costa Rica 4.13 2.73 2.44 10 -40.92 3.10 1.83 2.06 8 -33.55 1.25 2.59 2.63 2.27 18 -12.36 1.74 1.77 1.72 12 -1.15 1.50 1.08 0.77 0.85 7 -21.30 0.71 0.70 0.68 6 -4.23 1.17 Equador 2.23 2.36 2.96 37 32.74 1.89 2.17 2.06 25 8.99 1.48 México 2.56 2.67 3.04 290 18.75 1.92 1.97 2.11 211 9.90 1.37 Paraguay3 1.72 1.96 1.94 11 12.79 1.79 1.69 1.43 8 -20.11 1.38 Uruguay 1.89 2.06 1.55 4 -17.99 1.81 1.85 1.88 5 3.87 0.80 Venezuela5 2.65 2.59 2.48 62 -6.42 1.91 1.89 2.03 49 6.28 1.27 Cuba Dominican Republic 4 2 % Variação Global 19801984 ASR(W) 19901994 ASR(W) 20002004 ASR(W) Numero de óbitos (200004) % Variação Global Relação H/M 2000-04 (casos)** Numero de Óbitos (200004) * ASR(W): Taxa Padronizada por Idade (População Mundial) ** Relação Homens/Mulheres calculada a partir do número de óbitos médio de casos em cada sexo no período 2000-2004 1 Seis anos de informação ausente (1980-1984, 2002 and 2003) 2 Dois anos de informação ausente (1993 and 2002) Dois anos de informação ausente (1992 and 1993) 3 4 Três anos de informação ausente (1991, 1992 and 2002) Três anos de informação ausente (1984, 1991 and 1995) 5 63 As Tabelas IV e V apresentam os resultados da análise joinpoint das taxas de mortalidade por leucemia no período de 1980-2004 por gênero, para os grupos de idade 0-14 anos, e 15-24 anos respectivamente para os 12 países pesquisados. Para as crianças, as taxas de mortalidade aumentaram significativamente em dois países. No México, o aumento foi observado em ambos os gêneros: os Homens demonstrara três tendências, com o maior aumento observado no Período de 1980-1987 (+3.31% anualmente, IC: 1.68-4.96), enquanto que as mulheres exibiram apenas uma tendência (+0,90%, IC: 0.56-1.24). No Paraguai, este aumento foi observado apenas nos Homens através de duas tendências, e as maiores taxas no Período de 1980-1998 (+2,07% anualmente, IC: 0.40-3.76). No entanto, foi observada uma diminuição significativa das tendência na maioria dos países estudados em ambos os gêneros (variando entre -4,55% anualmente para homens no Uruguai a -0,89% anualmente para mulheres na Venezuela). Para Adolescentes-Adultos Jovens as taxas de mortalidade aumentaram significativamente no México, para ambos os gêneros. Na Argentina, foi observada uma diminuição significativa das taxas de mortalidade tanto para homens (-0,97%, IC: -1.9 a -0.04), quanto para mulheres (-1,13% anualmente, IC: -2.2 a -0.01), assim como na Costa Rica apenas para os homens (2,26%, IC: -4.1 a -0.4). Para todos os demais países estudados (Brasil, Chile, Colômbia, Cuba República Dominicana, Paraguai, Uruguai e Venezuela) não foram observadas grandes variações nas taxas de mortalidade por leucemia nas últimas duas décadas estudadas. No entanto, todos os países apresentaram uma diminuição de suas taxas, exceto para Homens na Colômbia e no Uruguai, mulheres na Venezuela, e ambos os gêneros no Equador e Paraguai. Estes últimos países apresentaram uma elevação em suas taxas de mortalidade por leucemia, porém sem significância estatística. No Brasil, foi observada uma diminuição na tendência das 64 taxas de mortalidade em homens apenas entre 1980-1986 sem significância estatística, seguida por um aumento igualmente sem significância estatística entre 1986-2004. Tabela IV. Análise de regressão por Joinpoint entre 1980-2004 para Mortalidade por Leucemia (Taxas Agrupadas para 0-14 anos) em 12 países da América Latina Homens País Tendência 1 Mulheres Tendência 2 Tendência 3 Tendência 1 Tendência 2 APC (95% IC) Anos APC (95% IC) --- --- 19802004 -2,45* (-3,07, 1,83) -1,01* (-1,46, 0.56) --- --- 19801995 -1,60* (-2,31, 0.88) 19802004 -2,47* (-3,32, 1,60) --- --- 19802004 -2,92* (-3.90, 1,94) --- Colômbia 19842004 -0,37 (-1,24, 0,50) --- --- 19842004 -0.30 (-1.24, 0.66) --- Costa Rica 19802004 -2.04* (-3,99, 0.05) --- --- 19802004 -3,87* (-5,61, 2,09) --- Cuba 19802004 -0.35 (-1.36, 0.67) --- --- 19802004 -1,15* (-2,23, 0,05) --- Domin Republic 19802004 -1.07 (-3.13, 1,03) --- --- 19802004 -2,80* (-5,34, 0,19) --- Equador 19802004 -0,07 (-0.98, 0,85) --- --- 19802004 0.73 (-0.48, 1.95) --- México 19801987 3,31*(1,68, 4,96) 19881990 -6,07(16,59,5,77) 1,73*(1,16, 2,30) 19802004 0,90* (0,56, 1,24) --- Paraguai 19801998 2,07* (0,40, 3,76) 19992004 -8,17* (-15,50,0,20) --- 19802004 1,04 (-1,38, 3,51) --- Uruguai 19802004 -4,55* (-7,32, 1,70) --- --- 19802004 -4,64 (-8,13, 1,02) --- Venezuela 19802004 -0,24 (-0,79, 0,31) --- --- 19802004 -0,89* (-1,50, 0,28) --- Anos APCa (95% IC) Argentina 19802004 -3.15* (-3,93, 2,36) Brasil 19802004 Chile a Anos APC (95% IC) Anos 19912004 Anos APC (95% IC) --- 19962004 1,34 (-0,23, 2,95) Annual percentage change *Significativamente diferente de 0 (p<0.05) 65 Tabela V. Análise de regressão por Joinpoint entre 1980-2004 para Mortalidade por Leucemia (Taxas Agrupadas para 1524 anos) em 12 países da América Latina Homens Mulheres Tendência 1 Pais Anos APC (95% IC) Tendência 2 Anos Tendência 1 APC (95% IC) Anos APC (95% IC) 1980-2004 -0.97*(-1.89, -0.04) - - 1980-1985 -1.13*(-2.24, 0.01) Brasil 1980-1986 -3.64 (-7.34, 0.20) 1986-2004 0.59(-0.16, 1.34) 1980-2004 -0.22(-0.72, 0.27) Chile 1980-2004 -0.82 (-1.70, 0.06) - - 1980-2004 -1.66(-3.60, 0.31) Colômbia 1984-2004 0.25 (-0.56,1.07) - - 1984-2004 -0.74 (-1.84, 0.37) Costa Rica 1980-2004 -2.26*(-4.07, -0.43) - - 1980-2004 -2.58(-5.95, 0.90) Cuba 1980-2004 -0.65(-1.63, 0.34) - - 1980-2004 -0.30 (-1.66, 1.07) Dominican Republic 1980-2004 -1.43(-3.34, 0.52) - - 1980-2004 -0.89(-4.66, 3.04) Equador 1980-2004 1.02(-0.14, 2.19) - - 1980-2004 0.53 (-0.86, 1.94) México 1980-2004 0.93*(0.57, 1.30) - - 1980-2004 0.42* (0.03, 0.81) Paraguai 1980-2004 0.48(-1.84, 2.86) - - 1980-2004 0.33(-2.06, 2.78) Uruguai 1980-2004 0.72 (-1.69, 3.18) - - 1980-2004 -1.93(-4.93, 1.17) Venezuela 1980-2004 -0.38(-0.92, 0.16) - - 1980-2004 0.05 (-0.79, 0.89) Argentina b a a Annual percentage change b Trends As tendências em homens correspondem a dois períodos (1980-86; 1986-2004) com dois declives lineares distintos, separados pelo “joinpoint”identificado na análise (ano: 1986) * Significativamente diferente de 0 (p<0.05) 66 4.2. Estudo de epidemiologia espacial na cidade do Rio Janeiro através de técnica de geoprocessamento. O primeiro mapa apresentado, obtido junto ao website do Instituto Pereira Passos e disponível online108 (Figura 4) mostra a organização da cidade do Rio de janeiro em suas 33 Regiões Administrativas (incluindo a Região Administrativa de Paquetá), com seus respectivos bairros. Figura 4. Mapa das Regiões Administrativas do município do Rio de Janeiro (IPP/IBGE) 67 4.2.1. Leucemia pediátrica Foram observados 96 casos de óbito por leucemia aguda em crianças entre 0 e 20 anos de idade no município do Rio de Janeiro em um período de oito anos, compreendido entre janeiro de 1996 e dezembro de 2004. A tabela VI apresentada abaixo mostra o número de casos, a população, o SMR bruto calculado e os valores dos índices sócio-econômicos IDHE, índice de Gini e renda média familiar por Região Administrativa utilizados neste estudo Tabela VI. Dados descritivos da leucemia na infância por Região Administrativa da cidade do Rio de Janeiro Região Administrativa Casos PENHA COMPLEXO DO ALEMAO PORTUARIA INHAUMA JACAREZINHO MEIER MADUREIRA RAMOS RIO COMPRIDO ROCINHA SANTA TERESA VILA ISABEL JACAREPAGUA CIDADE DE DEUS TIJUCA LAGOA PAVUNA BARRA DA TIJUCA IRAJA SÃO CRISTOVAO ANCHIETA CENTRO COPACABANA GUARATIBA REALENGO VIGARIO GERAL MARE BOTAFOGO CAMPO GRANDE BANGU ILHA DO GOVERNADOR PAQUETA SANTA CRUZ 2 0 0 1 0 5 3 9 1 0 1 3 9 2 1 0 1 4 8 5 3 1 1 1 2 4 1 3 11 3 3 1 6 População 87460 26239 13 237 39238 71305 109530 115432 45329 21 767 21640 12017 47200 151710 14378 43031 38215 71 305 52541 59976 22 229 52058 8 263 27616 38810 80198 14696 43985 49886 174020 145622 64814 924 121771 SMR 0,23 0 0 0,25 0 0,46 0,26 1,99 0,46 0 0,83 0,64 0,59 1,39 0,23 0 0,14 0,76 1,33 2,25 0,58 1,21 0,36 0,26 0,25 2,72 0,23 0,6 0,63 0,21 0,46 10,82 0,49 Rendimento médio dos Índice de educação Índice de Gini chefes de domicílio em (IDH-E) salários mínimos 0,915 0,834 0,867 0,945 0,867 0,972 0,941 0,921 0,931 0,818 0,954 0,985 0,933 0,894 0,987 0,989 0,901 0,961 0,945 0,913 0,930 0,981 0,990 0,853 0,937 0,915 0,826 0,990 0,922 0,913 0,947 0,854 0,891 0,51 0,46 0,46 0,50 0,43 0,48 0,54 0,51 0,55 0,45 0,61 0,49 0,49 0,47 0,51 0,56 0,53 0,48 0,48 0,49 0,56 0,46 0,52 0,49 0,49 0,51 0,43 0,50 0,50 0,51 0,46 0,46 0,54 4,87 2,30 3,58 5,44 2,25 8,05 5,29 5,60 6,43 2,59 6,99 12,69 7,40 2,58 14,73 27,59 3,57 23,78 5,98 4,60 4,30 6,59 17,56 3,40 4,77 4,87 2,52 17,09 4,33 3,98 8,71 6,17 3,10 68 A Figura 5 representa o mapeamento das taxas de SMR bruta por leucemia aguda na infância no município do Rio de Janeiro. Este mapa nos sugere que a distribuição da mortalidade por leucemia aguda é bastante homogênea na cidade, exceto pela região de Ramos e Jacarezinho que apresentam uma SMR bruta mais elevada que as demais Regiões da cidade. Figura 5. SMR bruta dos dados de leucemia aguda na infância na cidade do Rio de Janeiro. por Região Administrativa A figura 6 mapeia estas mesmas taxas de mortalidade por leucemia aguda em crianças (SMR), após o efeito de suavização resultante da modelagem espacial. Através desta técnica é possível observar uma diminuição da amplitude do intervalo dos SMR dos dados brutos, variando agora apenas entre 0.77 a 1.20, comparado ao SMR bruto que variava entre 0 a 5.68. Este resultado indica que a distribuição das SMR por leucemia em crianças no município do Rio de Janeiro é bastante homogênea, apesar das taxas um 69 pouco aumentadas em mais duas regiões, cidade de Deus e Irajá, além das regiões já observadas com as taxas brutas (Ramos e Jacarezinho). No entanto, nenhuma dessas divergências possuem significância estatística, como demonstrado a seguir. Figura 6. SMR dos dados de leucemia aguda na infância na cidade do Rio de Janeiro por Região Administrativa após suavização espacial Nos próximos dois mapas demonstramos a existência ou não de resultados significativos para o SMR suavizado por cada região, utilizando-se um intervalo de confiança de 80% (figura 7) e de 95% (figura 8), respectivamente. Quando existe uma região com risco relativo (SMR) protetor significativo ela é apresentada em branco, quando existe uma região com risco relativo (SMR) deletério significativo ela é apresentada em preto e, quando não existe nenhum efeito significativo ela é apresentada em cinza. Fica, portanto, evidente que nenhuma das variações de SMR para leucemia aguda entre as Regiões Administrativas do Rio de Janeiro é estatisticamente significativa. 70 Figura 7. Risco Relativo dos dados de leucemia aguda na infância na cidade do Rio de Janeiro por Região Administrativa após suavização espacial, IC 80% Figura 8. Risco Relativo dos dados de leucemia aguda na infância na cidade do Rio de Janeiro por Região Administrativa após suavização espacial, IC 95% 71 Na figura 9 acrescentamos à SMR suavizada, um efeito randômico putativo. Este artifício tem por objetivo inserir uma variável aleatória, com distribuição gaussiana sem efeito espacial, a fim de tentar justificar as diferenças entre regiões, controlando o peso do efeito espacial na distribuição do SMR. Neste caso, observa-se que as diferenças entre as Regiões Administrativas se tornam ainda menores, com taxas variando de 0.87 a 1.08. As mesmas regiões de Ramos, Jacarezinho, Cidade de Deus e Irajá mantêm um risco relativo maior do que a unidade. Figura 9. SMR dos dados de leucemia aguda na infância na cidade do Rio de Janeiro por Região Administrativa após suavização espacial e adição de fator randômico putativo A presença ou não de resultados significativos desta última análise está apresentada nos mapas a seguir com um intervalo de confiança de 80% (figura 10) e 95% (figura 11), respectivamente. Nenhuma das diferenças observadas obteve significância estatística, representado pelos mapas de coloração inteiramente cinza. 72 Figura 10. Risco Relativo dos dados de leucemia aguda na infância na cidade do Rio de Janeiro por Região Administrativa após suavização espacial e adição de fator randômico putativo, IC 80% Figura 11. Risco Relativo dos dados de leucemia aguda na infância na cidade do Rio de Janeiro. por Região Administrativa após suavização espacial e adição de fator randômico putativo, IC 95% 73 Na próxima análise (figura 12) controlamos a SMR suavizada pelas variáveis sócio-econômicas IDHE, índice de Gini e renda familiar média para cada região administrativa. A inserção destas variáveis na análise propõe-se a tentar justificar eventuais variações de SMR entre Regiões Administrativas, associando-as a estas mesmas variáveis e não ao “espaço”. Ainda assim, mesmo com o acréscimo de tais variáveis verifica-se que a distribuição homogênea da mortalidade por leucemia em crianças se mantém com valores incluídos no intervalo entre 0.87 e 1.08. A seguir, são apresentados os mapas representativos da significância estatística de tal análise com um intervalo de confiança de 80% (figura 13) e 95% (figura 14), respectivamente. Neste caso, tampouco houve significância estatística nas diferenças observadas, confirmado pelos mapas plenamente cinzas. Figura 12. SMR dos dados de leucemia aguda na infância na cidade do Rio de Janeiro por Região Administrativa após suavização espacial controlado por IDHE, índice de Gini e renda familiar média 74 Figura 13. Risco Relativo dos dados de leucemia aguda na infância na cidade do Rio de Janeiro por Região Administrativa após suavização espacial controlado por IDHE, índice de Gini e renda familiar média, IC 80% 75 Figura 14. Risco Relativo dos dados de leucemia aguda na infância na cidade do Rio de Janeiro, por Região Administrativa após suavização espacial controlado por IDHE, índice de Gini e renda familiar média, IC 95% A tabela VII apresentada a seguir sumariza todos os SMR utilizados para os casos de leucemia aguda neste estudo, incluindo as três modelagens. Tabela VII. Dados de SMR para leucemia aguda em crianças no município do Rio de Janeiro. Região Administrativa PENHA COMPLEXO DO ALEMAO PORTUARIA INHAUMA JACAREZINHO MEIER MADUREIRA RAMOS RIO COMPRIDO ROCINHA SANTA TERESA VILA ISABEL JACAREPAGUA CIDADE DE DEUS TIJUCA LAGOA PAVUNA BARRA DA TIJUCA IRAJA SÃO CRISTOVAO ANCHIETA CENTRO COPACABANA GUARATIBA REALENGO VIGARIO GERAL MARE BOTAFOGO CAMPO GRANDE BANGU ILHA DO GOVERNADOR SANTA CRUZ SMR bruto SMR espacial SMR esp/rand SMR esp/ IDHE+Gini+Ren 0.67 0.00 0.00 0.48 0.00 0.86 0.49 3.78 0.87 0.00 1.58 1.20 1.13 2.64 0.44 0.00 0.26 1.45 2.53 4.28 1.09 2.31 0.69 0.49 0.47 1.65 0.43 1.14 1.20 0.39 0.88 0.938 1.05 0.98 1.05 1.01 1.02 1.02 0.93 1.22 1.03 0.70 0.98 1.07 1.02 1.15 1.00 0.88 0.95 1.02 1.17 1.25 0.95 1.03 0.91 0.93 0.87 1.09 1.01 0.97 1.01 0.82 0.97 0.988 1.02 1.00 1.01 1.00 1.00 1.01 0.97 1.08 0.98 0.85 0.99 1.01 1.01 1.11 0.98 0.94 0.96 1.00 1.06 1.06 0.99 1.02 0.97 0.97 0.94 1.06 1.02 0.99 0.99 0.93 0.98 0.994 1.04 1.00 1.04 0.94 1.02 0.87 0.82 1.44 1.02 0.73 0.98 0.98 1.01 1.40 0.95 0.87 0.84 1.16 1.19 1.33 0.92 0.99 0.88 1.09 0.74 1.20 1.06 0.95 1.06 0.76 0.86 1.162 76 4.2.2. Câncer de pulmão Na próxima etapa, são apresentados os mapas de análise dos dados de câncer de pulmão em maiores de 35 anos de idade no município do Rio de janeiro. Estes mapas foram utilizados apenas como controle devido ao pequeno tamanho amostral dos casos de mortalidade por leucemia na infância, como mencionado anteriormente. Foram registrados 3148 casos de óbito por câncer de pulmão em indivíduos maiores de 35 anos de idade residentes no município do Rio de Janeiro em um período de três anos, compreendido entre janeiro de 2002 e dezembro de 2004. O primeiro mapa de câncer de pulmão apresentado abaixo (figura 15) ilustra a SMR bruta dos óbitos por câncer de pulmão em indivíduos maiores que 35 anos nas diferentes Regiões Administrativas do município. A distribuição apresentada sugere um padrão bastante homogêneo, com uma variação da SMR estreita (contida entre 0 e 1.42). Figura 15. SMR bruta dos dados de câncer de pulmão em > 35 anos na cidade do Rio de Janeiro por Região Administrativa 77 A figura 16 representa estas mesmas taxas de mortalidade por câncer de pulmão em indivíduos > 35 anos de idade (SMR), após o efeito de suavização resultante da modelagem espacial. Este modelo de análise demonstra que a distribuição mantémse bastante semelhante às taxas brutas (variando entre 0.29 e 1.48), porém com valores mais “suaves” visto que valores como “zero” foram dissipados. Figura 16. SMR com suavização espacial dos dados de câncer de pulmão em > 35 anos na cidade do Rio de Janeiro por Região Administrativa Nos próximos dois mapas demonstramos a importância estatística de tais taxas, utilizando-se um intervalo de confiança de 80% (figura 17) e de 95% (figura 18), respectivamente. Diversas Regiões apresentaram um risco significativamente maior de óbito por câncer de pulmão quando comparado a outras regiões da cidade. 78 Figura 17. Risco Relativo da SMR com suavização espacial dos dados de câncer de pulmão em > 35 anos na cidade do Rio de Janeiro por Região Administrativa. IC 80% Figura 18. Risco Relativo da SMR com suavização espacial dos dados de câncer de pulmão em > 35 anos na cidade do Rio de Janeiro por Região Administrativa. IC 95% 79 Na figura 19 acrescentamos à SMR suavizada um efeito randômico putativo (estruturado). Assim como realizado para o estudo das leucemias, este artifício tem por objetivo tentar explicar as variações observadas entre regiões por outro motivo que o fator espacial. Neste caso, observa-se que as diferenças entre as Regiões Administrativas se tornam ainda menores, com taxas variando de 0.76 a 1.08. A seguir são apresentados os mapas representativos da significância estatística de tal análise com um intervalo de confiança de 80% (figura 20) e 95% (figura 21), respectivamente. Ao se acrescentar esta variável aleatória à análise, observa-se que não houve significância estatística nas variações de SMR, confirmado pelos mapas inteiramente cinzas em ambos os casos. Este achado exclui o fator espacial como responsável pelas diferenças encontradas entre as taxas das distintas regiões do município. Isto indica que devem existir outras variáveis (como fatores sócioeconômicos ou acesso à saúde) que justifiquem as variações das taxas entre Regiões Administrativas. Figura 19. SMR dos dados de câncer de pulmão em > 35 anos na cidade do Rio de Janeiro por Região Administrativa após suavização espacial e adição de fator randômico putativo 80 Figura 20. SMR dos dados de câncer de pulmão em > 35 anos na cidade do Rio de Janeiro. por Região Administrativa após suavização espacial e adição de fator randômico putativo, IC 80% Figura 21. SMR dos dados de câncer de pulmão em > 35 anos na cidade do Rio de Janeiro. por Região Administrativa após suavização espacial e adição de fator randômico putativo, IC 95% 81 Acrescentamos então ao modelo espacial, as variáveis sócio-econômicas IDHE, Índice de Gini e Renda média familiar a fim de tentar justificar as variações encontradas nas taxas de mortalidade por câncer de pulmão entre as diversas Regiões do município. Muitas diferenças foram mantidas (figura 22) com um SMR variando entre 0.49 e 2.26. Utilizando-se tanto um intervalo de confiança de 80% (figura 23), quanto de 95% (figura 24), observa-se que muitas destas variações são significativas. Provavelmente. estas variáveis explicativas (IDHE, Gini e Renda) não são suficientes para explicar todas as variações de SMR entre as regiões administrativas. Este resultado nos sugere, portanto, que existem ainda outras variáveis explicativas para as diferenças encontradas que não foram analisadas neste estudo. Figura 22. SMR dos dados de câncer de pulmão em >35 anos na cidade do Rio de Janeiro. por Região Administrativa após suavização espacial controlado por IDHE. índice de Gini e renda familiar média 82 Figura 23. Risco Relativo dos dados de câncer de pulmão em >35 anos na cidade do Rio de Janeiro por Região Administrativa após suavização espacial controlado por IDHE, índice de Gini e renda familiar média, IC 80% Figura 24. Risco Relativo dos dados de câncer de pulmão em >35 anos na cidade do Rio de Janeiro por Região Administrativa após suavização espacial controlado por IDHE, índice de Gini e renda familiar média, IC 95% 83 A tabela abaixo (Tabela VIII) representa os valores dos SMR de câncer de pulmão em maiores de 35 anos de idade no município do Rio de Janeiro que foram utilizados para gerar os mapas analisados, resultantes das três modelagens realizadas. Tabela VIII. SMRs de câncer de pulmão em > 35 anos no município do Rio de Janeiro Região Administrativa SMR esp/ SMR Bruta SMR espacial SMR esp/rand PENHA 0.59 0.70 0.92 0.77 COMPLEXO DO ALEMAO 0.00 0.25 0.77 0.50 PORTUARIA 1.15 1.21 1.03 1.47 INHAUMA 1.14 1.23 1.00 1.02 JACAREZINHO 0.07 0.54 0.88 0.75 MEIER 1.12 1.27 1.03 0.90 MADUREIRA 1.00 1.14 1.01 0.95 RAMOS 1.29 1.35 0.99 1.37 RIO COMPRIDO 1.16 1.30 1.07 1.17 ROCINHA 1.06 1.21 1.07 2.23 SANTA TERESA 0.88 1.07 1.04 0.82 VILA ISABEL 0.90 1.03 1.01 0.73 JACAREPAGUA 1.10 1.23 1.05 1.17 CIDADE DE DEUS 0.94 1.06 1.04 1.24 TIJUCA 1.19 1.35 1.07 0.97 LAGOA 1.02 1.16 1.07 1.03 PAVUNA 0.76 0.89 0.97 0.98 BARRA DA TIJUCA 1.22 1.35 1.06 1.42 IRAJA 1.23 1.36 1.02 1.14 SÃO CRISTOVAO 1.43 1.53 1.05 1.49 ANCHIETA 0.77 0.89 0.97 0.79 CENTRO 1.14 1.24 1.07 0.86 COPACABANA 1.05 1.21 1.06 0.86 GUARATIBA 0.65 0.76 0.98 1.22 REALENGO 0.99 1.12 1.02 0.97 VIGARIO GERAL 0.90 1.02 0.98 1.04 IDHE+Gini+Rend MARE 0.09 0.36 0.80 0.65 BOTAFOGO 1.01 1.15 1.05 0.83 CAMPO GRANDE 0.81 0.92 0.98 0.91 BANGU 0.75 0.85 0.97 0.89 ILHA DO GOVERNADOR 1.00 1.13 0.95 1.00 SANTA CRUZ 0.74 0.84 0.97 1.02 84 4.2.3. Efeito fixo A tabela IX representa a análise das covariáveis utilizadas nesse estudo para a leucemia aguda na infância, a fim de verificar a existência de um possível efeito fixo, não relacionado a um fator espacial para os resultados encontrados. Verificamos que para essa doença não foi possível identificar nenhum efeito fixo que correlacionasse a leucemia com uma variável pois todos os intervalos de confiança contêm o zero. Tabela IX. Efeito fixo da leucemia aguda em crianças no Rio de Janeiro variável constante IDHE Gini Rend Efeito fixo leucemia na infância no Rio de janeiro média desvio padrão -7.65 5.09 -1.86 10.06 5.69 -2.31 -2.86 4.75 -1.27 -0.05 0.04 -0.14 IC 2.13 23.18 6.89 0.02 A tabela X representa igualmente a análise das covariáveis utilizadas nesse estudo para os casos de óbito por câncer de pulmão em maiores de 35 anos de idade, a fim de verificar a existência de um possível efeito fixo, não relacionado a um fator espacial para os resultados encontrados. Verificamos que nesse caso há um efeito fixo evidente, que correlaciona positivamente o câncer de pulmão com o IDHE (IC: 3.84 13.68). Esse resultado nos indica que regiões com índice de desenvolvimento humano mais elevado, têm maior risco de mortalidade por câncer de pulmão. Tabela X. Efeito fixo do câncer de pulmão em >35 anos no Rio de janeiro Efeito fixo do câncer de pulmão em >35 anos no Rio de janeiro variável média desvio padrão IC constante -8.10 2.35 -1.31 IDHE 8.33 2.50 3.84 Gini 0.78 1.93 -2.89 Rend -0.01 0.01 -0.05 -3.94 13.68 4.77 0.01 85 5. Discussão Neste estudo analisamos a mortalidade por leucemia em crianças e Adolescentes-Adultos Jovens na América Latina, e em seguida fizemos uma análise pontual para a faixa etária pediátrica em uma área específica, no Município do Rio de Janeiro. Assim, foi possível observar através de uma revisão bibliográfica, que mundialmente, o aperfeiçoamento de tratamentos mais modernos e novas técnicas diagnósticas para as leucemias tem demonstrado reduções importantes nas taxas de incidência e mortalidade deste e de diversos neoplasmas, incluindo os que comumente acometem adolescentes e adultos jovens.109 No entanto, os neoplasmas malignos representam ainda a quarta causa de morte em adolescentes e adultos jovens entre 15 e 24 anos de idade, representando 5,23% de todas os óbitos nos Estados Unidos da América.110 Nessa mesma região no período de 1973 a 1992, adolescentes tiveram o maior aumento nas taxas de incidência de câncer e as menores taxas de redução de mortalidade quando comparado à população total na Europa Ocidental.111 A sobrevida global em cinco anos nessa faixa etária é de 77%, variando de 45% para LLA a 90% para Linfoma de Hodgkin ou tumores germinativos. 112 Assim, diversos estudos inclusive o acima demonstram reduções nas taxas de mortalidade por câncer (incluindo as leucemias) em adolescentes e adultos jovens, porém com valores globais inferiores às reduções observadas em crianças< 15 anos de idade. Conforme mencionado anteriormente, esta faixa etária encontra-se muitas vezes desamparada, visto que existem poucos profissionais especializados no tratamento das neoplasias desta população, e estes, são usualmente tratados por equipes oncológicas pediátricas ou por equipes oncológicas adultas, não sendo definido nenhum protocolo específico para essa população. Parsons et al. demonstra em sua análise de 2011 a pequena participação de adultos jovens em ensaios clínicos, uma ferramenta 86 fundamental ao desenvolvimento de melhorias no tratamento e no conhecimento da doença que apresenta características e comportamentos específicos para cada grupo etário. Para tanto, é importante realizar uma educação continuada tanto dos pacientes quanto dos médicos responsáveis por estes pacientes, a fim de incluí-los mais freqüentemente neste tipo de estudo, o que refletirá num melhor entendimento da biologia molecular dos tumores em adolescentes e adultos jovens, e conseqüentemente em uma maior sobrevida para essa população. 113 Assim sendo, um esforço internacional deve ser feito para aumentar o número de pesquisas em oncologia na faixa etária específica dos adolescentes e adultos jovens que tem sido negligenciada. Os resultados encontrados na América Latina são semelhantes aos observados na Europa Ocidental e Estados Unidos da América,114 mantendo um padrão de declínio nas taxas de mortalidade por leucemia, porém menor do que o observado em crianças menores de 15 anos. Em nossa segunda análise, foi possível observar que a avaliação geoespacial dos dados de mortalidade por leucemia aguda em crianças na cidade do Rio de Janeiro demonstrou um padrão de distribuição homogêneo da doença pela cidade, não sendo identificado nenhum cluster dessa enfermidade pelas diversas Regiões Administrativas do município. Não foi possível identificar nenhuma associação significativa entre mortalidade por leucemia em crianças e IDHE. As pequenas variações encontradas entre algumas Regiões Administrativas, todas sem significância estatística, podem ter ocorrido por outros fatores além da variável aleatória, como poluição do ar ou contaminação ambiental, que não foram investigados nessa análise. Por se tratar de uma pesquisa ecológica, esta se atém a descrever a distribuição espacial das leucemias e levantar hipóteses, se possível, sem o propósito de provar prováveis causas. A interpretação dos resultados deve ser cautelosa e atenciosa, mas pode 87 permitir a identificação ou eliminação de alguns fatores de risco ainda não observados que influenciem diretamente a mortalidade por leucemia. Assim, é possível inferir, baseandose na distribuição dos dados de mortalidade por câncer de pulmão, que as pequenas diferenças observadas entre Regiões Administrativas possam ter ocorrido por um excesso de notificação em algumas regiões. Observamos que na região administrativa de Ramos, por exemplo, há um número de casos muito superior ao previsto pelo censo, e curiosamente essa região é vizinha do Complexo da Maré e do Complexo do Alemão, que são áreas extremamente desfavorecidas onde a infra-estrutura e urbanização ainda são muito precárias. Nesses locais, muitas vezes, não existem nomes de rua ou endereçamento postal. Além disso, a região administrativa da Maré foi criada apenas em 1994. Portanto, é possível que pacientes das regiões mais desfavorecidas forneçam endereços de regiões contíguas mais urbanizadas. Essa observação nos ajuda a corroborar o resultado encontrado, que nos mostra uma distribuição homogênea da mortalidade por leucemia na cidade do Rio de Janeiro. Assim, o resultado encontrado nessa análise foi surpreendente, pois esperávamos encontrar maiores taxas de mortalidade por leucemia nas regiões mais desfavorecidas da cidade, no entanto a distribuição de mortalidade observada foi uniforme. Essa presunção inicial parecia evidente visto que a mortalidade está diretamente relacionada à qualidade e acesso à saúde. De tal modo, inferimos que duas explicações poderiam elucidar tais resultados. A primeira possibilidade se refere ao fato da leucemia pediátrica apresentar um paradoxo quanto às suas taxas de incidência e mortalidade. Alguns artigos demonstram que em países desenvolvidos como EUA e os países Nórdicos as taxas de incidência são mais elevadas do que os países em desenvolvimento, e ainda que não significativo existe um aumento da incidência para a faixa etária entre 5 e 9 anos de idade.115 No entanto, 85% 88 dos casos de óbito mundiais por leucemia em crianças ocorrem em países de baixa e média renda.116 Portanto, está claro para a comunidade científica que a incidência dessa doença é mais elevada nas classes sociais mais favorecidas, porém espera-se que a mortalidade nessas situações seja menos importante do que a observada em classes sociais menos favorecidas em conseqüência da qualidade e acesso à saúde. Assim, o que pode ter ocorrido na cidade do Rio de Janeiro seria um equilíbrio entre as taxas de incidência e mortalidade das diversas classes sociais, ou seja, a incidência entre as classes mais favorecidas seria mais elevada, e sua mortalidade menos significativa; enquanto que nas classes menos favorecidas, apesar da incidência ser menos importante, a mortalidade seria mais significativa. Isto geraria um equilíbrio entre essas duas taxas, resultando num padrão geral de mortalidade homogêneo na cidade do Rio de Janeiro. Em um país continental como o Brasil, existem hoje 24 Registros de Câncer de Base Populacional, a maioria situado nas capitais. Esses RCBPs apresentam muitas vezes dados instáveis e apenas 16 desses registros estão de acordo com as normas internacionais estabelecidas pelo IARC/WHO, como parâmetros de qualidade dos dados, porcentagem dos casos confirmados por microscopia ou <20% dos casos obtidos através de certidão de óbito.117 Portanto, a incidência real da leucemia pediátrica no Brasil, e no Rio de Janeiro é desconhecida. Assim, outra possibilidade para o resultado encontrado seria que a incidência de leucemia na infância entre as diversas classes sociais seja efetivamente homogênea. Por se tratar de uma doença complexa com um atendimento especializado de bom padrão tecnológico no município do Rio de Janeiro, é possível que o acesso ao tratamento dessa doença apresente um nível adequado, indicando que as crianças estão sendo tratadas e acompanhadas corretamente em todas as classes socias. Isso justificaria, independente das taxas de incidência, que as taxas de mortalidade sejam homogêneas na cidade para todos os padrões sócio-econômicos estudados. 89 Por outro lado, em relação aos dados de câncer de pulmão, demonstramos que as diferenças observadas não apresentavam um padrão espacial, mas estavam associadas a um efeito fixo. Dentre as variáveis utilizadas nessa análise, essas variações estavam relacionadas ao IDHE, um índice relacionado ao grau de instrução escolar do chefe de família e, incluído no Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB) utilizado pelo IBGE para classificar a população brasileira nas diferentes classes sociais.118 Seguramente, outras variáveis não estudadas nessa pesquisa são igualmente responsáveis pelas variações na distribuição dos casos de mortalidade por câncer de pulmão, visto que mesmo controlando pelo IDHE, algumas diferenças permanecem presentes entre as diversas regiões da cidade. Para concluir, a cidade do Rio de Janeiro constitui uma megalópole contando com mais de seis milhões de habitantes em seu município. Esperaríamos portanto, encontrar um gradiente sócio-econômico de distribuição espacial da população pela diversas regiões da cidade. No entanto, o Rio de Janeiro apresenta uma característica particular, conseqüente de sua geografia montanhosa, que envolve a mistura de classes, proporcionando a proximidade entre bairros abastados e comunidades mais desfavorecidas. Esses achados nos sugerem, por conseguinte, que mesmo em uma grande cidade os fatores sócio-econômicos podem determinar padrões de doença. Esse estudo apresenta, no entanto, algumas limitações. Primeiramente, o uso de dados de mortalidade em detrimento dos dados de incidência, por não haver no Rio de Janeiro um RCBP com dados de incidência disponível. Os dados de mortalidade são influenciados por diversos fatores como fase da doença em que foi diagnosticada, acesso e qualidade do sistema de saúde, o que pode gerar vieses nos resultados. Em segundo lugar, o resultado negativo encontrado nesse estudo pode ter ocorrido em função da pequena amostra de casos de óbito por leucemia na infância. Apesar de terem sido selecionados nove anos para a coleta de dados, o número de casos foi escasso, o que diminui o poder estatístico dos resultados. Essa 90 pequena amostra obtida pode ter ocorrido por sub-notificação de óbitos ou ainda, representar efetivamente uma realidade. Para finalizar, como em toda pesquisa epidemiológica, elementos confusionais residuais e não mensurados sempre podem estar presentes e influenciar os resultados obtidos. Assim sendo, é de fundamental importância realizar futuras investigações baseando-se em dados de incidência da leucemia pediátrica, e explorando outros possíveis fatores de risco. Ressaltamos para tanto, a importância da criação de um RCBP na cidade do Rio de Janeiro com dados de incidência unificados e de qualidade, que nos permitam entender melhor a epidemiologia das neoplasias pediátricas em nossa região. 91 6. Conclusões Finais 3.1. Análise das tendências das taxas de mortalidade por leucemia em crianças, adolescentes e adultos jovens na America Latina. 1. As taxas de mortalidade por leucemia na América Latina em adolescentes e adultos jovens assemelham-se às taxas encontradas em países desenvolvidos como Estados Unidos da América e países da Europa Ocidental, exceto no México onde foi observado um aumento nas taxas de mortalidade por leucemia para ambos os sexos. 2. As taxas de mortalidade por leucemia em adolescentes e adultos jovens apresentou um declínio nos últimos anos, porém não obteve a mesma melhoria do que a observada para a faixa etária pediátrica. 6.2. Estudo de epidemiologia espacial na cidade do Rio Janeiro através de técnica de geoprocessamento. 1. Não foi possível correlacionar os dados de mortalidade por leucemia pediátrica na cidade do Rio de Janeiro com nenhuma das variáveis analisadas, índice de Gini, renda familiar ou IDHE. Esse resultado obtido ocorreu possivelmente em conseqüência de limitações do estudo. 2. Existe claramente, na cidade do Rio de Janeiro, uma relação entre o estilo de vida com padrão sócio-econômico mais elevado, e o risco aumentado para a mortalidade por câncer de pulmão. 92 Referências (1) World Health Organization (WHO) website (www.who.int/research) Acessado em Setembro 2012 (2) Magnusson RS. Rethinking global health challenges: Towards a “global compact” for reducing the burden of chronic disease. Pub Heal 2009;123:265274. (3) Pisani P, Parkin DM, Bray F, Ferlay J. Estimates of the worldwide mortality from 25 cancers in 1990. Int J Cancer 1999;83:18-29. (4) Parkin DM. The global health burden of infection-associated cancers in the year 2002. Int J Cancer 2006;118:3030-3044. (5) Belizan JM, Cafferata ML, Belizan M, Althabe F. Health inequality in Latin America. Lancet 2007 Nov 10;370(9599):1599-600 (6) Ngoma T. World health organization cancer priorities in developing countries. An oncol 2006;17(8):9-14. (7) American Cancer Society. Half of cancer deaths could be prevented. CA Cancer J Clin 2005;55:209-210. (8) Hennekens CH, Buring JE in Epidemiology in Medicine. Lippincot-Raven Publishers. 1987, USA (9) IARC. International incidence of childhood cancer. Lyon: IARC Scientific Publications;1998:1-391 (10) Steliarnova-Foucher E, Stiller C, Kaatsch P, et al. Geographical patterns and time trends of cancer incidence and survival among children and adolescents in Europe since 1970s (the ACCIS-project): An epidemiological study. Lancet 2004, 364:2097-2105 (11) Parkin DM, Stiller CA, Draper GJ et al. The international incidence of childhood cancer. Int J Cancer. 1998, 42:511-520 (12) Ribeiro KB, Lopes LF, de Camargo B. Trends in childhood leukemia mortality in Brazil and correlation with social inequalities. Cancer 2007, 110(8):18231831 (13) Kogevinas M, Pearce N, Susser M, Boffetta P. Social inequalities and cancer, IARC scientific publications, No 138. Lyon: Inter Agency for Res on Canc, 1997 (14) Pieters R, Caroll WL. Biology and treatment of acute lymphoblastic leukemia. Hematol Oncol Clin North Am 2010, 24:1-18 (15) Greaves M. Infection, imune responses and the aetiology of childhood leukaemia. Nature Reviews Cancer 2006;6:193-203 (16) Eliser C, Eiser, JR, Stride CB. Quality of life in children newly diagnosed with cancer and their mother. Health and Quality of Life Outcomes 2005, 3:29 (17) Pui CH, Reilling MV, Downing JR. Acute lymphoblastic leukemia. Comprehensive recente summary of current understanding of the biological and clinical heterogenity of childhood leukemia. N Engl J Med 2004;350:15351548 (18) Adolescent and Young Adult Oncology Progress Review Group: Closing the Gap: Research and Care Imperatives for Adolescents and Young Adults With Cancer. Bethesda, MD, National Institutes of Health, 2006 (19) Bleyer A, O’Leary M, Barr R, et al: Cancer Epidemiology in Older Adolescents and Young Adults 15 to 29 Years of Age, Including SEER Incidence and Survival: 1975-2000. Bethesda, MD, National Institutes of Health, 2006 (20) Bleyer WA: Latest estimates of survival rates of the 24 most common cancers in adolescent and young adult Americans. JAYAO 2011;1:37-42. (21) Bleyer A, Barr R: Cancer in young adults 20 to 39 years of age: Overview. Semin Oncol 2009;36:194- 206. (22) Heron M: Deaths: Leading Causes for 2006. Hyattsville, MD, National Center for Health Statistics. 2010. (23) Thompson K, Palmer S, Dyson G: Adolescents and young adults: Issues in transition from active therapy into follow-up care. Eur J Oncol Nurs 2009;13:207-212. (24) Burke ME, Albritton K, Marina N: Challenges in the recruitment of adolescents and young adults to cancer clinical trials. Cancer 2007;110:2385-2393 (25) Soliman H, Agresta SV: Current issues in adolescent and young adult cancer survivorship. Cancer Control 15:55-62, 2008 (26) Zebrack B, Bleyer A, Albritton K, et al: Assessing the health care needs of adolescent and young adult cancer patients and survivors. Cancer 107: 29152923, 2006 95 (27) Downs-Canner S, Shaw PH: A comparison of clinical trial enrollment between adolescent and young adult (AYA) oncology patients treated at affiliated adult and pediatric oncology centers. J Pediatr Hematol Oncol 2009;31:927-929. (28) International Agency for Research on Cancer: GLOBOCAN 2008: Cancer Incidence and Mortality Worldwide in 2008. 2008 (29) Bleyer W, Barr R, Hayes-Lattin B, Thomas D, Ellis C, Anderson B: The distinctive biology of cancer in adolescents and young adults. Nat Rev Cancer 2008, 8(4):288–298. (30) Wu X, Groves F, McLaughlin C, Jemal A, Martin J, Chen A: Cancer incidence patterns among adolescents and young adults in the United States. Cancer Causes Control 2005, 16:309–320. (31) Bleyer A, Budd T, Montello M: Adolescents and young adults with cancer. Cancer 2006, 107(S7):1645–1655. (32) Haggar FA, Preen DB, Pereira G, Holman CDJ, Einarsdottir K. Câncer incidence and mortality trends in Australian adolescents and Young aduls, 1982-2007. BMC Cancer 2012;12:151. (33) Seibel NL. Treatment of acute lymphoblastic leukemia in children and adolescents: peaks and pitfalls. Hematology Am Soc Hematol Educ Program, volume 2008:374–80. (34) Stiller CA. International patterns of cancer incidence in adolescents. Cancer Treat Rev. 2007;33(7):631-45 (35) Nesse RM, Williams GC. Evolution and healing. The new Science of Darwinian Medicine. 1995 ed Weidenfeld & Nicolson (36) Greaves M. Cancer, the evolutionary legacy. 2000 Oxford University Press, Oxford (37) Gardner MJ. Review of reported increases of childhood cancer rates in the vicinity of nuclear installations in the UK. J Royal Statist 1989, 152:307-325 (38) Michaelis J, Keller B, Haaf G, Kaatsch P. Incidence of childhood malignancies in the vicinity of West German nuclear power plants. Cancer Caus Co 1992, 3:255-263 (39) Mole RH. Childhood cancer after prenatal exposure to diagnostic x-ray examinations in Britain. Br J Cancer 1990;62:152-168 (40) Doll R, Wakeford R.Risk of childhood cancer from fetal irradiation. Br J Radiol 1997;70:130-139. 96 (41) Lagakos SW, Wessen BJ, Zelen M. An analysis of contaminated well water and health effects in Woborn, Massachusetts. Am J Statist Assoc 1986, 81:583-596 (42) Mulder YM, Drijver M, Kreis IA. Case-control study on the association between a cluster of childhood hematopoietic malignancies and local environmental factors in Aalsmeer, The Netherlands. J Epidemiol Comn Health 1994, 48:161165. (43) Ahlbom A, Feychting M, Koskenvuo M, Olsen JH, Pukkala E, Schlugen G, Verkasalo P. Electromagnetic fields and childhood câncer. Lancet 1993, 342:1295-1296. (44) Davies SM. Subsequent malignant neoplasms in survivors of childhood cancer: Childhood cancer survivor study (CCSS) studies. Pediatr Blood Cancer 2007;48:727-730. (45) McNally RJ, Eden TO. An infectious etiology for childhood acute leukemia: A review of the evidence. Br J Heamtol 2004;127:243-263. (46) Buffer PA, Kwan ML, Reynolds P, Urayama KY. Environment and genetic risk factors for childhood leukemia: Appraising the evidence. Cancer Invest 2005;23:60-75. (47) Kim AS, Eastmond DA, Preston RJ. Childhood acute lymphocytic leukemia and perspectives on risk assessment of early-life stage exposures. Mutat Res 2006;613:138-160. (48) Chang JS. Parental smoking and childhood leukemia. Methods Mol Biol 2009;472:103-137. (49) Dal Maso L, Bosetti C, LaVecchia C, et al. Risk for thyroid cancer: An epidemiological review focused on nutritional factors. Cancer Causes Control 2009;20:75-86. (50) Infante-Rivard C, Weichenthal S. Pesticides and childhood câncer: An update of Zahm and Ward’s 1998 review. J Toxic Environ Health B Crit Rev 2007;10:8199. (51) Howard SC, Metzger ML, Williams JA, Quintana Y, Pui CH, Robinson LL, Ribeiro RC. Childhood câncer epidemiology in low-income countries. Cancer 2008;112:461-472. (52) Wigle DT, Arbuckle TE, Turner MC, Bérubé A, Yang Q, Liu S, Krewski D. Epidemiologic evidence of relationships between reproductive and child health outcomes and environmental chemical contaminants. J Toxicol Environ Health 97 B Crit Rev 2008;11:373-517. (53) Schieve LA, Rasmussen SA, Buck GM, Schendel DE, Reynolds MA, Wright VC. Are children born after assisted reproductive technology at increased risk for adverse health outcomes? Obstet Gynecol 2004;103:1154-1163. (54) Bellec S, Hemon D, Rudant J, Goubin A, Clavel J. Spatial and space-time clustering of acute leukaemia in France from 1990 to 2000: A Nationwide study. Br J Cancer 2006;94:763-770. (55) McNally RJ, Alexander FE, Bithell JF. Space-time clustering of childhood cancer in Great Britain: a national study, 1969-1993. Int J Cancer 2006;118:2840-2846 (56) McNally RJ, Bithell JF, Vincent TJ, Murphy MF. Space-time clustering of childhood cancer around the residence at birth. Int J Cancer 2009; 124:449-455. (57) McNally RJ, Alexander FE, Vincent TJ, Murphy MF. Spatial clustering of childhood cancer in Great Britain during the period 1969-1993. Int J Cancer 2009;124:932-936. (58) Ford AM, Ridge SA, Cabrera ME, Mahmoud H, Steel CM, Chan LC, Greaves M. In útero rearrangements in the trithorax-related oncogene in infant leukaemias. Nature. 1993, 363:358-360. (59) Ford AM, Bennet CA, Price CM, Bruin MC, Van Wering ER, Greaves M. Fetal origins of the TEL-AML1 fusion gene in identical twins with leukemia. Proc Natti Acad Sci. USA 1998, 95:4584-4588. (60) Greaves MF, Maia AT, Wiemels JL, Ford AM. Leukemia in twins: lessons in natural history. Blood 2003;102:2321-2333. (61) Mori H, Colman SM, Xiao Z, Ford AM, Healy LE, Donaldson C, Hows JM, Navarrete C, Greaves M. Chromossome translocations and covert leukemic clones are generated during normal fetal development. Proc Natti Acad Sci, USA 2002;99:8242-8247. (62) Chowdhury T, Brady HJM. Insights from clinical studies into the role of the MLL gene in infant and childhood leukemia. Blood cells, Molecules and Diseases 2008, 40:192-199. (63) Harrison CJ. The detection and significance of chromosomal abnormalities in childhood acute lymphoblastic leukaemia. Blood Reviewers, 2001, 15:49-59. (64) Wiemels JL et al. Prenatal origin for acute lymphoblastic leukemia in children. Lancet 1999, 354:1499-1503 98 (65) Greaves MF, Wiemels J. Origins of chromossome translocations in childhood leukemia. Nature Rev Cancer 2003, 3:639-649 (66) Ward G. The infective theory of acute leukaemia. Br J Child Dis. 1917, 14:10-20 (67) Kinlen L. Evidence for an infective cause of childhood leukaemia: comparison of a Scottish New Town with nuclear reprocessing sites in Britain. Lancet 1988, II: 1323-1327 (68) Greaves MF. Speculations on the cause of childhood acute lymphoblastic leukemia. Leukemia 1988, 2:120-125 (69) Strachan DP. Family size, infection and atopy: the first decade of the “hygiene hypothesis”. Thorax 2000, 55:S2-S10 (70) Yazdanbakhsh M, Kremsner PG, van Ree R. Allergy, parasites and the hygiene hypothesis. Science 2022, 296:490-494 (71) Greaves MF. Aetiology of acute leukaemia. Lancet 1997, 349:344-349 (72) Ross JA, Davies SM, Potter JD, Robinson LL. Epidemiology of childhood leukemia with a focus on infants. Epidemiol Rev 1994, 16:243-272 (73) Heath CW Jr, Hasterlik RJ. Leukemia among children in suburban community. Am J Med 1963, 34:796-812 (74) Steinmaus C, Lu M, Todd RL, Smith AH. Probability estimates for the unique childhood leukemia cluster in Fallon, Nevada, and risks near other U.S. military aviation facilities. Environ Health Perspect 2004, 112:766-771 (75) Greenberg RS, Shuster JL Jr. Epidemiology of cancer in children. Epidemiol Rev 1985, 7:22-48 (76) Poole C, Greenland S, Luetters C, Kelsey JL, Mezei G. Socioeconomic status and childhood leukaemia: a review. International Journal of Epidemiology 2006, 35:370-384 (77) Alexander FE. The search for causes of the leukaemias: comment. Eur J Cancer 1995, 31A:863-867 (78) Murihead CR. Childhood leukaemia in metropolitan regions in the United States a possible relation to population mixing? Cancer causes Control 199;6:383-388 (79) McWhirter WR, Bacon JE. Epidemiology of acute lymphoblastic leukaemia of childhood in Brisbane. Med J Aust 1980;2:154-155 (80) Ribeiro KB, Buffler PA, Metayer C. Socioeconomic status and childhood acute lymphocytic leukemia incidence in Sao Paulo, Brazil. Int J Cancer 2008;20:751- 99 756 (81) Hjalmars U, Gustafsson G. Higher risk for acute childhood lymphoblastic leukaemia in Swedish population centres 1973-94. British Journal of Cancer 1999;79(1):30-33 (82) Reis RS, de Camargo B, Santos MO, Oliveira JM, Silva FA, Oliveira MSP. Childhood leukemia incidence in Brazil according to different geographical regions. Ped Blood Cancer 2011;56:58-64 (83) Fajardo-Guitierrez A, Juarez-Ocana S, Gonzalez-Miranda G et al. Incidence of cancer in children residing in ten jurisdictions of the Mexican Republic: Importance of the cancer registry (a population-based study). BMC Cancer 2007;7:68 (84) Nuckols JR, Ward MH, Jarup L. Using geographic information systems for exposure assessment in environmental epidemiology studies. Environ Health Perspect. 2004 Jun;112(9):1007-15. (85) Elliott P, Wartenberg D. Spatial epidemiology: current approaches and future challenges. Environ Health Perspect. 2004 Jun;112(9):998-1006 (86) Ward M, Nuckols J, Weigel S, Maxwell S, Cantor K, Miller R. Geographic information systems. A new tool in environmental epidemiology. Ann Epidemiol. 2000 Oct 1;10(7):477. (87) Elliot P, Wakefield J, Best N, Briggs D in: Spatial epidemiology, Methods and Applications, chap 5 Bias and counfounding in spatial epidemiology. Oxford: university press, 2006 (88) Lawson AB, Williams FLR in An introductory guide to disease mapping. Chap 6 Advanced methods, smoothing of rates and density estimation.Wiley: 2001. (89) Koch T in Cartographies of disease maps, mapping and medicine. Califórnia: ESRI Press, 2005 (90) Howe GM. Man, environment and disease in Britain. A medical geography through the ages. 1972 New York: Barnes and Noble. (91) Howe GM. The mapping of disease in history, In: Clarke E (ed.) Modern Methods in the History of Medecine. London: University of London, Athlon Press, Ch 20, 1971 (92) Snow J. Snow on cholera: being a reprint of two papers. London: The commonwealth Fund, 1936 (93) Särkinen T, Iganci JRV, Linares-Palomino R, Simon MF and Prado DE. 100 Forgotten forests issues and prospects in biome mapping using Seasonally Dry Tropical Forests as a case study. BMC Ecol 2011,24(11):27 (94) Brewer CA. Basic mapping principles for visualizing cancer data using geographic information systems (GIS). American Journal of Preventive Medicine 2006;30(25) (95) Musio M, Sauleau EA, Buemi A. Bayesian semi-parametric ZIP models with space–time interactions: an application to cancer registry data. Mathematical Medicine and Biology 2010,27:181−194 (96) Belitz, C., Brezger, A., Kneib, T., Lang, S. (200x): BayesX - Software for Bayesian inference in structured additive regression models. Version 2.0.1. Available from http://www.stat.uni-muenchen.de/bayesx (97) World Health Organization. Mortality Database 2010. Available from http://www.who.int/healthinfo/morttables/en/. Acessado em Fevereiro de 2010 (98) World Health Organization. International Classification of Diseases. 9th revision. Geneva: WHO, 1977 (99) World Health Organization. International Classification of Disease and related Health Problems: 10th revision. Geneva: WHO, 1992 (100) United Nations Population Division. World Population Prospects. 2008 revision. Disponível em http://data.un.org/data. Acessado em Fevereiro de 2010 (101) Boyle P, Parkin DM. Statistical methods for registries. In: Jessen OM, Parkin DM, Maclennan R, Muir CS, Skeet RG, Eds. Cancer registration principles and methods. Lyon: International Agency for Research on Câncer, 1991. PP. 12658. (102) Kim HJ, Feuer EJ, Midthune DN. Permutation tests for joinpoint regression with applications to câncer rates. Stat Med. 2000; 19(3):335-51 (103) JoinPoint Regression Program, Version 3.5 - April 2011; Statistical Methodology and Applications Branch and Data Modeling Branch, Surveillance Research Program National Cancer Institute. (104) StataCorp. 2007. Stata Statistical Software: Release 10. College Station, TX: StataCorp LP. (105) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. www.ibge.gov.br Último acesso em julho 2011 (106) Banco de Dados do Sistema Unico de Saúde, Ministério da Saúde (MS/DATASUS www.datasus.gov.br) Último acesso em julho 2011 101 (107) Instituto Nacional do Câncer/Ministério da Saúde (www.inca.gov.br) Último acesso em julho 2011 (108) Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (www.rio.rj.gov.br/web/ipp) Acessado em janeiro de 2011. (109) Bleyer W, Barr R, Hayes-Lattin B, Thomas D, Ellis C, Anderson B: The distinctive biology of cancer in adolescents and young adults. Nat Rev Cancer 2008, 8(4):288–298. (110) Wu X, Groves F, McLaughlin C, Jemal A, Martin J, Chen A: Cancer incidence patterns among adolescents and young adults in the United States. Cancer Causes Control 2005, 16:309–320. (111) Bleyer A, Budd T, Montello M: Adolescents and young adults with cancer. Cancer 2006, 107(S7):1645–1655. (112) Stiller CA. International patterns of cancer incidence in adolescents. Cancer Treat Rev. 2007;33(7):631-45 (113) Parsons HM, Harlan LC, Seibel NL, Stevens JL, Keegan THM. Clinical Trial Participation and Time to Treatment Among Adolescents and Young Adults With Cancer: Does Age at Diagnosis or Insurance Make a Difference? Journal of Clinical Oncology 2011; 29(30): 4045-4053. (114) Albritton K, Bleyer WA. The management of cancer in the older adolescent. Eur J Cancer. 2003;39(18):2584–99. (115) Linabery AM, Ross JA. Childhood and adolescent cancer survival in the US by race and ethnicity for the diagnostic period 1975–1999. Cancer 2008;113:2575– 2596 (116) Heron MP, Hoyert DL, Murphy SL, Xu J, Kochanek KD, Tejada-Vera B. Deaths: Final data for 2006. National vital statistics reports. Hyattsville, MD: National Center for Health Statistics; 2009;57(14).Available from the website www.cdc.gov/nchs (117) Pombo de Oliveira MS, Koifman S, Vasconcelos GM, Emerenciano M, de Oliveira Novaes C, Brazilian Collaboratrive Study Group of Infant Acute Leukemia. Development and perspective of current Brazilian studies on the epidemiology of childhood leukemia. Blood Cells Mol Dis 2009;42:121–125. (118) Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa. CCEB - Critério de Classificação Econômica Brasil (acesso em 27 de março 2012). Disponível em: http://www.abep.org 102 Apêndice I 103 104 105 106 107 108 109 Apêndice II Spatial Analysis of Childhood Leukemia in Rio de Janeiro, Brazil: an ecological approach Abstract The etiology of childhood leukemia remains an enigma despite decades of research. In this matter, spatial cluster detection is an important tool in cancer surveillance to identify areas of elevated risk and to generate hypothesis about cancer etiology. Hypothesis of an infectious etiology regarding the possible involvement of unusual patterns of infections in infancy have been postulated. Thus, a higher socioeconomic status has been linked to higher rates of childhood leukemia. All mortality cases of acute childhood leukemia (0-20 years) within the city of Rio de Janeiro from 1996 to 2004 were collected from the Brazilian Ministry of Health SIM database. For comparison purposes only, all cases of lung cancer in people aged >35 years from 2001 to 2004 were also derived from the database. Socio-economic covariates for all administrative regions of the city were obtained from the Brazilian Geographic and Statistics Institute (IBGE) website. The Standardized Mortality Ratio (SMR) per administrative region was generated comparing the observed and expected distribution of cases. A geoadditive semiparametric Poisson model containing a spatial effect was used in the analysis. All statistics computations were carried out using the BayesX freeware. There were 96 cases of childhood leukemia over a nine years period, allocated in 32 administrative regions of the city. A notable homogeneous spatial distribution of cases was noted. The smoothed projection after adjustments for a putative random covariate reduced even more the differences across administrative regions emphasizing the homogeneous pattern of childhood leukemia within the city. After the addition of socio economic covariates to the model, spatial distribution also maintains the homogeneous patterns, showing no clusters of childhood leukemia in the city of Rio de Janeiro. There was no evidence linking the socio economic variables analyzed to childhood leukemia mortality. Additionally, this study did not identify any leukemia 110 clusters in Rio de Janeiro city. Two hypotheses emerged from those results, first leukemia rates have a paradoxal characteristic: incidence rates are higher for elevated socioeconomic status (SES), but mortality rates are less important. For lower SES rates have an opposite pattern. This might provoke a balance between those rates, leading to an overall homogenous pattern for mortality rates within the city. The second possibility refers to the fact that incidence rates might really be homogeneous, as well as the access to treatment, considering that this is a complex diagnosis with good specialized centers in Rio, responding adequately to the demand of care. An important limitation to our study relies on the absence of incidence data for childhood leukemia in Rio de Janeiro. This report stands as a first approach to the spatial characteristics of this disease in our city. Further investigations should be lead using incidence data and exploring other putative covariates. Key words: Leukemia, childhood cancer, spatial epidemiology, Standardized Mortality Ratio, cluster, Rio de Janeiro including Background exposure to ionizing radiation, certain congenital conditions Leukemia is the most frequent and agents.2 chemotherapeutic worldwide, Speculation on whether there is an corresponding to approximately 33% of infectious component to the etiology of all malignancies in the age group 0-14 childhood leukemia has been made years old.1 Low incidence rates usually since the early 1900s and is supported are observed in developing countries; by reported clusters, and by the although, in Brazil, rates are similar to identification of leukemia viruses in those reported in developed regions (4.1 animal species and in one form of adult per 100,000 boys and 3.6 per 100,000 leukemia.3,4 girls).2 Despite all investigations made clustering over the years, the etiology of most hypothesize specific causes of those cases of childhood leukemia remains clusters, unknown. Only a small fraction of cases mixing and virus infections to chemical (approx. 10%) are estimated to be exposures from point sources.5 childhood neoplasm attributable to known risk factors Thus, have ranging The observation of scientists to led from analysis population and the 111 representation of the geographic magnitude of clustering. Therefore, the assessment of variations of the disease on a map of the study region has become an important spatial topic in epidemiological research. Such leukemia in Brazil is a useful and maps are more useful to policymakers important tool for policymakers and for and implementers as they can target monitoring regions with high risks.6 Identification Incidence of high-risk groups (or regions) also available in the city of Rio de Janeiro. provides valuable hints for possible Hence, the aim of the present study was exploration additional to examine the spatial distribution of directives to control the disease or to standard mortality ratio (SMR) from obtain more health funding. It has been mortality leukemia among children recognized that space-time clustering at aged 0 to 20 years for all administrative one point in time (e.g. birth, diagnosis) regions within the city of Rio de Janeiro lacks statistical power for chronic in the nine years period between 1996 disease such as cancer where the latent and 2004, using a Poisson model 7 through a Bayesian approach, and to Therefore, modified analyses of space- explore possible factors that might have time clustering have been used to influenced these variations in the study investigate susceptibility at other times area. Mortality from lung cancer in between people aged more then 35 years was and gives period may be both long and variable. Many conception sophisticated and diagnosis. methods of analyzing generalized clustering are distribution the data of childhood population is not profile. extensively also examined for comparison purposes only. now available, such as kernel density estimation, point process modeling and Bayesian smoothing.8 If the analyses are Material and Methods constrained to use standard census areas (e.g. ZIP codes, neighborhood) then an Data older method of testing goodness-of-fit leukemia deaths in children aged birth of a heterogeneous Poisson distribution to 20 years from 1996 to 2004, and is optimal and performs well in from lung cancer in people aged more comparison than 35 years from 2002 to 2004 living methods. 8 to T his the has unconstrained the additional Source: Official certified in the city of Rio de Janeiro were advantage of providing estimates of 2 derived from the Brazilian Ministry of obtained from the Brazilian National Health (SIM/DATASUS) Institute of Cancer (INCA).12 The available online.9 Our data included observed distribution of cases was codes C91 to C95 for leukemia, and directly compared to the population codes C34 (C34.0 to C34.9) for lung distribution to statistically assess the database from cancer the Classification of International Diseases, tenth homogeny of observed disease patterns over the population. The Standardized revision (ICD-10),10 corresponding to Mortality the death administrative region was generated ‘Leukemia’ or “Lung cancer” with no comparing the observed and expected distinction to Leukemia or lung cancer distribution of cases. subtypes (all leukemias and lung cancer Statistical Method: The model used in pooled). this underlying cause Socio-economic of covariates, study Ratio was (SMR) a per geoadditive semiparametric Poisson model that and contains a spatial effect. In this analysis, educational profile covariates for all we apply a Bayesian approach by administrative regions of the city were exploring local patterns of childhood obtained from the Brazilian Geographic cancer mortality and possible linear and (fixed) effects of other factors within a including economic Statistics covariates Institute (IBGE) website.11 Three expressive variables simultaneous, were framework chosen (Gini Index (social coherent using a regression geoadditive inequality index), Educational-Human semiparametric model. The model used Development and has been described elsewhere.13 Briefly, median household income), after data we replace the strictly exponential reduction through a factorial analysis of Poisson predictor Index (E-HDI) multiple variables. All cases were referred to their respective administrative OC = EC * exp(fspat(si) + w′i γ + ei ) regions. Estimates of the resident population With a geoadditive predictor, leading to were also derived from the Brazilian the geoadditive regression model Ministry of Health database (DATASUS). The expected number of log(OCi)=log(ECi) (offset) + fspat(si) + w′i γ+ leukemia and lung cancer for each ei administrative region of the city was OC represents observed cases, EC 3 represents expected cases and fspat is administrative regions within the city. the effect of the spatial covariate, The si∈{1,…,S}labeling the administrative leukemia rate among children in Rio is raw (unsmoothed) mortality shown in figure 1. It exhibits a notable regions of the city of Rio de Janeiro. homogeneous distribution, with little Prior may also be used for a more sophisticated modeling of spatial effects. We split up the spatial effect fspat into a spatially correlated (structured) part fstr and a spatially uncorrelated (unstructured) part funstr, i.e. excess of cases in three regions. As expected, smoothing and control of confounders generally uncovered the actual mortality rate, which can be difficult to (unsmoothed) see in crude raw rates. The mortality smoothed projection and smoothed results after adjustments for a putative random covariate are also shown in fspat = fstr + funstr figure1. These adjustments reduced even the resulting model correspond to: more the differences across administrative regions emphasizing the homogeneous log(OC)=log(EC) (offset) + fstr(si) + leukemia funstr(si) + w′i γ + ei pattern within the variability 0.84-1.12 All statistical computations were of childhood city and (SMR 0.93-1.08 respectively, all p-values >0.05). After carried out using version 9.3 of the controlling by socio economic BayesX14 public domain software covariates, spatial distribution shows package, which enables Bayesian once more the homogeneous patterns of inference based on Markov chain Monte previous maps, as demonstrated in Carlo simulation techniques. figure 1. Data presented on this report suggests no childhood leukemia clusters in the city of Rio de Janeiro. Table 1 Results presents all SMR used to generate those The overall mortality rate of childhood leukemia over eight years (1996 to 2004) in the city of Rio de Janeiro was 96, allocated in 32 maps. Concerning lung cancer, data was used only for comparison purposes. From 2002 to 2004, 2814 deaths were computed among people aged >35 years 4 in the 32 administrative regions of Rio the fact that environmental triggers have de Janeiro. Unexpectedly, the spatial been proposed as part of the etiology for distribution using crude rates and the childhood leukemia for quite some smoothed distribution (figure 2) showed time, limited supportive data exists.15 a heterogeneous pattern, with some We infer that the small differences regions exhibiting differences statically found in this study might be explained significant (p-values <0.05). However, by other elements besides random when the putative random covariate is covariates, such as air pollution or used to control the spatial distribution environmental contamination. However, those differences are reduced to none this is an ecological study and stands as significant a first approach to demonstrate the differences (figure 2). Applying social economic covariates to spatial the analysis, without the spatial impact leukemia in Rio de Janeiro. Still, careful many significant differences could be interpretation can identify or eliminate observed within the city’s regions. latent and unobserved factors that These outcomes indicate that the spatial directly influence the mortality of distribution on childhood leukemia. In the other hand, mortality rate for lung cancer. However, incidence data for childhood leukemia it suggests that there are probably other is not extensively available in Rio de covariates to explain the differences Janeiro, found among Rio’s regions, once important limitation to our study since incidence and mortality rates for this mortality data is clearly influenced by pathology should be very similar. Table many aspects, such as time of diagnosis, 2 presents all SMR used to generate the access and quality of health system. We lung cancer maps for this study. also assume, using the lung cancer has no influence distribution which of represented childhood another control distribution that those small differences found in childhood leukemia Discussion This report demonstrates evidence that leukemia mortality cases in the city of Rio de Janeiro during 1996-2004 geographically were in a dispersed homogeneous pattern, exhibiting no clusters. Despite spreading might be explained by an over registration of cases in certain regions, despite the correct residence region of the child. Many more cases were counted for lung cancer in certain regions then the expected rate provided by census data. All regions showing this 5 overload count were located next to Smith AH. Probability estimates for very poor areas, where access to health the unique childhood leukemia system is very limited. In this case, the cluster in Fallon, Nevada, and risks local population commonly searches for near other U.S. military aviation health assistance in the neighboring facilities. Environ Health Perspect areas. 2004, 112:766-771 To our knowledge this is the first (6) Brewer CA. Basic mapping spatial study on childhood leukemia principles for visualizing cancer conducted in the city of Rio de Janeiro data using geographic information and stands as a first approach to the systems (GIS). American Journal spatial characteristics of this pathology of in our city. Further investigations should 2006;30(25):345-357 be lead using incidence data and (7) Preventive Lawson AB, Williams FLR in An introductory exploring other putative covariates. Medicine mapping. guide Chap to 6 disease Advanced methods, smoothing of rates and References density estimation.Wiley: 2001. (1) Parkin DM, Stiller CA, Draper GJ et (2) Bayesian childhood cancer. Int J Cancer. models 1998, 42:511-520 interactions: Ribeiro KB, Lopes LF, de Camargo cancer registry data. Mathematical B. Trends in childhood leukemia Medicine mortality in Brazil and correlation 2010,27:181−194 2007, 110(8):1823-1831 Greenberg RS, Shuster JL Jr. (9) Brazilian semi-parametric with (10) Health Biology of Health/ Organization. Disease Steinmaus C, Lu M, Todd RL, to DATASUS (www.datasus.gov.br) Epidemiol Rev 1985, 7:22-48 349 application Ministry International leukaemia. Lancet 1997, 349:344- an ZIP space–time and Epidemiology of cancer in children. (4)Greaves MF. Aetiology of acute (5) Musio M, Sauleau EA, Buemi A. al. The international incidence of with social inequalities. Cancer (3) (8) and Classification related of Health Problems: 10th revision. Geneva: WHO, 1992 (11) Brazilian Institute of Geography and Statistics (www.ibge.gov.br) (12) Instituto Nacional do 6 Câncer/Ministério da Saúde (www.inca.gov.br) (13) Elliot P, Wakefield J, Best N, Briggs D in: epidemiology, Spatial Methods and Applications, chap 5 Bias and counfounding in epidemiology. spatial Oxford: university press, 2006 (14) Belitz, C., Brezger, A., Kneib, T., Lang, S. (200x): BayesX Software for Bayesian inference in structured additive regression 2.0.1. models. Version Available from http://www.stat.unimuenchen.de/bayesx (15) McNally RJ, Eden TO. AN infectious etiology for childhood acute leukemia: A review of the evidence. Br J Heamtol 2004;127:243-263. Fixed Effect of lung cancer in people > 35 years in the city of Rio de janeiro Covariates medium Standard Deviation CI constant -8.10565000 2.35606000 -1.31517000 -3.94179000 E-HDI 8.33954000 2.50446000 3.84077000 13.68610000 Gini Index 0.78082800 1.93654000 -2.89566000 4.77983000 Head of family Income -0.01982180 0.01574960 -0.05283530 0.00971204 Table I. Fixed effect of covariates for lung cancer mortality data in people aged > 35 years in the city of Rio de Janeiro 7 A C B D Figure 1. (A) Unsmoothed SMR for childhood acute leukemia in the city of Rio de Janeiro (B) Smoothed SMR for childhood acute leukemia in the city of Rio de Janeiro (C) Smoothed SMR with a putative random effect for childhood acute leukemia in the city of Rio de Janeiro (D) Smoothed SMR for childhood acute leukemia in the city of Rio de Janeiro, controlleded by Gini Índex, E-HDI and head of family income. A C B D Figure 2. (A) Unsmoothed SMR for lung cancer in people >35 years in the city of Rio de Janeiro (B) Smoothed SMR for lung cancer in people >35 years in the city of Rio de Janeiro (C) Smoothed SMR with a putative random effect for lung cancer in people >35 years in the city of Rio de Janeiro (D) Smoothed SMR for lung cancer in people >35 years in the city of Rio de Janeiro, controlleded by Gini Índex, E-HDI and head of family income