Latin American Journal of Pharmacy (formerly Acta Farmacéutica Bonaerense) Comunicaciones breves Recibido el 14 de abril de 2007 Aceptado el 25 de junio de 2007 Lat. Am. J. Pharm. 26 (5): 737-40 (2007) Efeito Larvicida de Extratos Etanólicos de Folhas Secas e Frutos Maduros de Melia azedarach (Meliaceae) sobre Aedes albopictus Juliana C. N. ROSSI 1,2, Josiane S. PROPHIRO 1,2, Anderson M. MENDES 3, Luiz A. KANIS 3 * & Onilda S. SILVA 1 Laboratório de Entomologia Médica - Curso de Medicina, 2 Curso de Ciências Biológicas e 3 Grupo de Pesquisa em Tecnologia Farmacêutica- TECFARMA. Universidade do Sul de Santa Catarina, Av. José Acácio Moreira, 787, Dehon, 88704-900 Tubarão-SC, Brasil. 1 RESUMO. Neste trabalho determinou-se o efeito larvicida de extratos etanólicos de frutos maduros e folhas secas de Melia azedarach em Aedes alpopictus silvestres. Os bioensaios de letalidade foram realizados de acordo com as recomendações da Organização Mundial da Saúde. Não foi observada diferença significativa entre as concentrações letais determinadas entre o 3º e 4º estágios para os diferentes extratos, entretanto, as LC90 e LC95 demonstram a maior letalidade do extrato obtido de frutos maduros. Estes resultados sugerem que tanto os extratos de frutos maduros como de folhas secas de M. azedarach apresentam potencial para o desenvolvimento de larvicidas para o Ae. albopictus. SUMMARY. “Larvicidal Effect of Ethanolic Extracts from Melia azedarach Dried Leaves and Ripe Fruits in Aedes albopictus Larvae”. Ethanolic extracts were obtained by fruits and leaves maceration and the solvent was removed in a rotary evaporator. The lethality bioassays (LC50, LC90 and LC95) were carried out according to the recommendations of the World Health Organization. Leaves and ripe fruits extracts were tested at doses ranging from 0.015 g% to 1,20 g% and 0,015 g% to 0,9 g% ,respectively, for the third and fourth instar larvae. Both extracts showed bioactivity in all doses and instar larvae tested, although ripe fruits extracts showed higher activity. Results indicate that these botanical extracts could be used as an alternative resource to control Ae. albopictus larvae. INTRODUÇÃO Aedes albopictus (Diptera: Culicidae) é o mosquito vetor natural do vírus da dengue em áreas rurais, suburbanas e urbanas do continente Asiático 1. Porém, até o momento nenhum caso de transmissão do vírus através deste mosquito foi comprovado no Brasil. Entretanto, esta espécie apresenta ampla distribuição em todo o território nacional. Foi registrado pela primeira vez no Estado do Rio de Janeiro em 1986 2,3, e, desde então se tem observado sua expansão pelo país, sendo apenas seis os Estados brasileiros que ainda não registraram a infestação por esta espécie 4. Estudos demonstraram que populações brasileiras de Ae. albopictus apresentaram capacidade de transmitir verticalmente os vírus Den-1 e Den-4 5. Em 1993, Serufo et al. detectaram pela primeira vez nas Américas Ae. albopictus in- fectados naturalmente com vírus dengue 1 em ambiente natural 6. Na ocasião, larvas e adultos foram testados para infecção por vírus da dengue, tendo dois lotes de larvas positivos para Den-1. Os exemplares foram coletados durante epidemia de dengue na cidade de Campos Altos, oeste de Minas Gerais, e apresentaram capacidade de transmissão vertical do vírus na natureza. Posteriormente, Castro et al. (2004) testaram a susceptibilidade oral e a transmissão vertical do sorotipo DEN-2 em exemplares de Ae. albopictus do Rio de Janeiro. O experimento demonstrou taxa de infecção – 36,7%, e transmissão – 83,3%, viral elevada quando comparada ao grupo de Ae. aegypti controle – respectivamente 32,8% e 60% 7. Devido à ampla distribuição do Ae. albopictus e sua suceptibilidade e capacidade de alber- PALABRAS CLAVE: Aedes albopictus, Larvicida, Letalidade, Melia azedarach. KEY WORDS: Aedes albopictus, Larvicida, Lethality, Melia azedarach. * Autor a quem dirigir a correspondência. E-mail: [email protected] ISSN 0326-2383 737 ROSSI J.C.N., PROPHIRO J.S., MENDES A.M., KANIS L.A. & SILVA O.S. gar e veicular horizontalmente o vírus da dengue tornam-se essenciais estudos de substâncias larvicidas que possam ser utilizadas no controle desta espécie. Estudos recentes demonstraram que extratos de Melia azedarach foram efetivos para controlar o desenvolvimento de larvas de Ae. aegypti 8. Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito larvicida de extratos etanólicos de folhas secas e frutos maduros de M. azedarach em Ae. albopictus. MATERIAIS E MÉTODOS Mosquitos Para a realização dos biosensaios foram utilizadas larvas de 3º e 4º estágios de F1 silvestres de Ae. albopictus mantidas no laboratório, em temperatura de 25 ± 2 °C e 70-85% UR, e foto período de 14:10 claro:escuro. As larvas foram criadas em potes plásticos com água fervida, e alimentadas com ração para filhotes de cães, três vezes por semana. Extratos As amostras de folhas e frutos de M. azedarach foram coletadas de árvores localizadas na região de Sertão dos Corrêas, na cidade de Tubarão, durante os anos de 2004 e 2005. Para a secagem das folhas e frutos, o material coletado foi depositado em local ventilado e sombreado a temperatura ambiente, por 15 dias. Após a secagem, o material foi moído em liquidificador, até obter-se um pó de granulometria média de 3,4 mm, para folhas, e uma massa pastosa uniforme para os frutos. Para a obtenção dos extratos hidroetanólicos, uma massa de 300 g de cada material foi mantido em maceração com agitação mecânica durante cinco dias com 1,9 L etanol (99,5%). Em seguida, os extratos foram filtrados e concentrados em evaporador rotatório sob vácuo e temperatura de 40 °C, até a obtenção do extrato bruto de folha seca (FS) e fruto maduro (FM). Bioensaios As concentrações de extrato etanólico de frutos maduros e folhas secas de M. azedarach utilizadas nos bioensaios foram de 0,015 % a 1,20 % (m/V) e 0,015 % a 0,9 % (m/V), respectivamente. O extrato bruto foi previamente solubilizado em Tween-20 na concentração de 0.015% a temperatura de 40 °C. Em seguida foi adicionado volume pré-definido de água-deionizada a 40 ºC e mantido sob agitação mecânica durante 30 min. Os testes seguiram o protocolo da Organização Mundial de Saúde, com algumas mo- 738 dificações 9. Em recipientes plásticos com capacidade de 350 mL, foram colocados 100 mL das soluções contendo o extrato de diferentes concentrações. A esta solução foram adicionadas 20 larvas ativas de 3º ou 4º estágio. Para cada concentração e estádio larval, os testes foram repetidos pelo menos cinco vezes. Para cada experimento, um controle com água e Tween-20 foram utilizados. A mortalidade das larvas foi medida em 24 h de exposição às soluções. A mortalidade foi comprovada quando as larvas foram tocadas com agulhas histológicas e não apresentaram movimentos. Estatística Para obtenção dos resultados e determinação dos valores de concentração letal CL50, CL90, CL95 foi utilizado o programa Graph Pad Instat Versão 2,5a. RESULTADOS Os bioensaios realizados demonstraram suscetibilidade das larvas de Ae. albopictus aos extratos etanólicos de frutos maduros e folhas secas de M. azedarach em todas as concentrações estudadas. Não se observou mortalidade nos grupos controle. A Fig. 1 demonstra a mortalidade larval em relação à concentração de extrato de FM e FS. Para ambos extratos e estágios larvais a mortalidade aumenta com a elevação da concentração de extrato até próximo a 0,4%. Em concentrações superiores a 0,4% a taxa de mortalidade sofre pequena variação com o aumento da concentração dos extratos, alcançando praticamente 100% de mortalidade nas concentrações de 0,9 % e 1,2% para extratos de FM e FS respectivamente. Figura 1. Efeito da concentração do extrato etanólico de frutos maduros (FM) e folhas secas (FS) sobre a mortalidade de larvas de terceiro () e quarto () estágio de Ae. albopictus. Latin American Journal of Pharmacy - 26 (5) - 2007 Folhas secas Frutos maduros CL (%) 3° Estágio 4° Estágio 3° Estágio 4° Estágio CL50 0,17± 0,07 0,31 ± 0,06 0,23 ± 0,04 0,33 ± 0,06 CL90 0,95 ± 0,06 0,90 ± 0,02 0,63 ± 0,04 0,70 ± 0,03 CL95 1,05 ± 0,07 0,97 ± 0,02 0,68 ± 0,03 0,75 ± 0,03 Tabela 1. Concentrações letais (CL50, CL90 e CL95) do extrato etanólico de frutos maduros e folhas secas para larvas de 3º e 4º estágios de Ae. albopictus. CL = concentração letal; n = 5; p < 0,05. Os valores das concentrações letais (CL50, CL90 e CL95) para os extratos etanólicos de frutos maduros e folhas secas em larvas de 3º e 4º estágios de Ae. albopictus estão apresentados na Tabela 1. Não foram observadas diferenças significativas (p < 0,01) entre as concentrações letais (CL50, CL90, CL95) determinadas para o 3° e 4° estágios larvais dos extratos de FS e FM. Entretanto, quando comparados os resultados das concentrações letais entre o extrato de FS com FM, é demonstrado que as CL90 e CL95 são estatisticamente diferentes. As CL’s dos frutos maduros são em torno de 34% e 22% menores que as CL’s das folhas secas para 3° e 4° estágios respectivamente. DISCUSSÃO Os resultados obtidos e apresentados na Fig. 1 demonstraram que os extratos etanólicos de FS e FM apresentaram atividade larvicida em todas as concentrações e estágios larvais testados. Com relação ao extrato de FM, as concentrações letais (CL50, e CL95) utilizadas para induzir mortalidade em larvas de Ae. albopictus (Tabela 1), são similares àquelas encontradas por Wandscher et al. 8 para larvas de Ae. aegypti. Os autores encontraram CL50 de 0,166% e CL95 de 0,604%, em 48 h, quando utilizaram extratos de endocarpos de frutos maduros de M. azedarach. Estudos com outra Meliaceae, a Azadirachta indica demonstrou que a quantidade do metabólito secundário tóxico (azadiractina) varia de acordo com a parte do fruto, sendo que o embrião é onde se encontra maior concentração, entretanto, não foram observadas grandes diferenças entre corpo do fruto e endocarpo 10. Desta forma, a similaridade entre as atividades larvicidas determinadas para os extratos obtidos de endocarpo por Wandscher et al. 8 e os extratos dos frutos inteiros podem ser atribuídos a concentrações semelhantes de azadiractina no corpo do fruto e endocarpo. A atividade larvicida da M. azedarach é atri- buída à presença de limonóides, substâncias que podem atuar como antifidante, interferente no regulamento do crescimento, supressora da fecundidade e esterilização e repelente da oviposição 11. Os limonóides mais conhecidos da M. azedarach são a azadirachtina, salanina, meliantriol e nimbim, que possuem comprovada ação inseticida 12. Estes são encontrados principalmente nas folhas e frutos, razão que justifica a atividade tanto do extrato obtido dos frutos maduros como os de folha seca 13,14. De acordo com Brunherotto & Vendramim 15, apesar da variação do efeito dos extratos em função da estrutura vegetal testada, de modo geral todas afetam de forma negativa o desenvolvimento de insetos, o que sugere que os princípios ativos presentes em M. azedarach estão distribuídos nas suas diversas estruturas, embora em concentrações variáveis. Nos resultados obtidos neste estudo, as concentrações letais (CL90 e CL95), foram menores para o extrato de FM quando comparado ao extrato de FS, demonstrando e que o extrato obtido dos frutos maduros apresenta maior potencial tóxico as larvas de 3° e 4° estágio, provável indicativo de que nesta parte botânica exista uma quantidade maior de limonóides. Resultados semelhantes foram observados por Nathan et al. 16, que estudaram o efeito de extratos metanólicos de folhas e sementes extraídas dos frutos de M. azedarach sobre formas imaturas e adultas do mosquito vetor da malaria, Anopheles stephensi. Neste estudo, os extratos das sementes provenientes dos frutos mostraram alta bioatividade em todas as doses testadas, enquanto os extratos de folhas mostraram serem ativos somente em altas doses. Baseados nestes resultados pode-se sugerir que os extratos etanólicos de folhas secas e frutos maduros apresentam potencial de aplicação como larvicidas contra Ae. albopictus silvestres. Fato relevante quando se tem o conhecimento de que mosquitos silvestres são menos suscetíveis a produtos químicos. 739 ROSSI J.C.N., PROPHIRO J.S., MENDES A.M., KANIS L.A. & SILVA O.S. Agradecimentos. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio financeiro ao projeto, processo 501527/03-6, e às bolsas de iniciação científica processos: 100568/041 (NV) e 100569/04-8 (NV). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Consoli R. A.G.B. & R.L. Oliveira (1994) “Principais mosquitos de importância sanitária no Brasil”, Ed. Fiocruz, Rio de Janeiro. 2. La Corte S.R. (2003) Rev. Saúde Publica 37: 671-3. 3. Forattini, O.P. (1986) Rev. Saúde Publica 20: 244-5. 4. Martins, V.E.P., M.G. Martins, J.M.P. Araújo, L.O.R: Silva, H.A.O. Monteiro, F.C.Castro, P.F.C. Vasconcelos & M.I.F. Guedes (2006) Rev. Saúde Publica 40: 737-9. 5. Mitchell C.J. & B.R. Miller (1990) J. Am. Mosq. Control Assoc. 6: 251-253. 6. Serufo J.C, H.M. Oca, V.A. Tavares & R.V. Rosa (1993) Mem. Inst. 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