ID: 65203987 01-06-2016 Tiragem: 6000 Pág: 57 País: Portugal Cores: Cor Period.: 2 por Ano Área: 19,00 x 25,00 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 1 de 2 DESFRUTE COM PRAZER 0111 OCTÁVIO MATEUS As mulheres da minha vida PROFESSOR DE PALEONTOLOGIA, NA FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA DA UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA, E INVESTIGADOR NO MUSEU LOURINHÃ, O INDIANA JONES PORTUGUÊS CAÇA FÓSSEIS EM EXPEDIÇÕES A LOCAIS INÓSPITOS. IFXI O I1E ISABEL CANHA "A minha mãe, Isabel Mateus, teve uma enorme influência em me fazer trilhar os passos que dei e que hoje regem o meu quotidiano. Ela soube encontrar o equilíbrio entre uma grande liberdade e autonomia, que me ajudou a desenvolver espírito crítico, e a resolução de desafios com o encantamento e fascínio pela natureza, pela ciência, pela história natural. Os meus pais foram os fundadores do Museu da Lourinhã, conhecido petas suas coleções de arqueologia e de dinossauros, e foi nesse contexto que cresci. Recordo aqueles dias em que a mesa de jantar estava ocupada com ossos fósseis ou instrumentos paleolíticos. Lembro os momentos em que íamos para as arribas da Lourinhã à procura de fósseis de dinossauros. Não olvido os momentos a observar as curiosidades de uma planta ou animal. A figura maternal lá estava a fazer-me participar. 1010I-3RAFIA DR A primeira de todas as escavações que fiz foi de arqueologia, quando tinha 6 anos de idade, numa necrópole neolítica na Gruta da Feteira. Nessa altura eu já participava, timidamente, na exploração de grutas ou na recolha de fósseis. Aos 9 anos achei aquele dente de um gigantesco dinossauro carnívoro. Lembro-me os olhos esbugalhados dos meus pais quando lhes mostro aquele achado. Já uma das primeiras escavações paleontológicas, como adolescente, foi de um enorme ninho de dinossauro carnívoro, localizado no epicentro de uma região que encerra uma riqueza nacional e internacional no que concerne a dinossauros. Neste cenário familiar, geográfico e profissional nasci, por isso, num ninho de dinossauros. Sempre presente, observadora, a motivar o fascínio e a alimentar o desígnio estava aquela presença maternal. Tantas vezes, no crescimento de um indivíduo, a mãe envolve e o pai desenvolve. A cumplicidade dos meus pais era interessante e diferente. Como tantas vezes acontece, o leme masculino era estabilizado por uma quilha feminina. Ainda hoje lhe presto homenagem em todos aqueles momentos de família que passamos em conjunto, a passear no campo, a viajar ou a discutir novidades científicas. A minha mãe tem ainda outra arma secreta: aquela tranquilidade desassossegada que faz todos os motores trabalharem. Agora, como adulto, a minha companheira e namorada é sempre o meu braço direito, o meu aconchego e a minha aliada. A vida é para ser partilhada e isso ajuda-nos a suportar as adversidades e a multiplicar as alegrias. Sinto que encontrei a pessoa certa com quem o fazer. Todas as principais decisões de vida são feitas ouvindo os seus conselhos. Toda a decisão em que ela participa é sempre mais equilibrada. Olho para nós e a mente de biólogo evolutivo faz-me pensar que a nossa espécie evoluiu para vivermos em casal devido à vantagem das melhores decisões quando feitas a dois e naquela mistura de sensibilidades que formam qualquer casal. Nas mulheres da minha vida gostaria de ter uma verdadeira inspiração de rosto feminino na área científica a que me dedico, a paleontologia, mas historicamente, esta ciência tem poucas mulheres. As paleontólogas póstumas em Portugal formaram uns residuais 3% do cenário científico nesta disciplina. Felizmente, esse panorama muda e a ciência de hoje é bem diferente de há 100 anos." • ID: 65203987 01-06-2016 Tiragem: 6000 Pág: 6 País: Portugal Cores: Cor Period.: 2 por Ano Área: 6,53 x 7,57 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 2 de 2 57 MULHERES DA MINHA VIDA As referências de Octávio Mateus, paleontólogo da FCT-UNL.