Ecomuseu Natural do Mangue da Sabiaguaba e o

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O ECOMUSEU NATURAL DO MANGUE: ações educativas e
reflorestamento
PINHO BARROS, Fabiana
FERREIRA LOPES, Rafael
Resumo
As áreas verdes no contexto das cidades entram como elemento essencial para
bem-estar da população, pois tem a finalidade de melhorar a qualidade de vida e a
preservação ambiental, neste sentido. Esta pesquisa teve por objetivo identificar e
analisar as ações educativas e de reflorestamento realizadas pelo EcoMuseu
Natural do Mangue, localizado no bairro Sabiaguaba (Fortaleza-CE), através das
atividades de educação ambiental e do reflorestamento da área no seu entorno.
A proposta é levar os visitantes a conhecer inicialmente o acervo do museu, onde
terão uma palestra sobre o ecossistema e sua preservação, após serão conduzidos
por monitores em uma trilha ecológica pelo mangue onde terão a oportunidade de
vivenciar uma de suas mais ricas experiências de educação ambiental. Uma
educação para um novo olhar para o mangue e conscientização de que a
construção de “um novo mundo é possível”, parafraseando Paulo Freire.
A metodologia aplicada nesse artigo foi bibliográfica, através da leitura de autores
que abordam conceitualmente e teoricamente os assuntos relacionados à temática
proposta.
Entre os resultados obtidos, constatou-se em 2015 o aumento de cerca de 10% de
reflorestamento de mangue em toda área do parque. Visto que o reflorestamento e a
educação ambiental estão entre as alternativas mais eficazes para a recuperação de
uma área degradada.
Palavras-chave: EcoMuseu Natural do Mangue. Ações educativas. Reflorestamento.
Educação ambiental
Introdução
O manguezal é “Ecossistema costeiro de transição entre os ambientes
terrestre e marinho, característico de regiões tropicais e subtropicais, sujeitos a
PINHO BARROS, Fabiana
Pós-Graduação em Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, UNINTER. 2016
FERREIRA LOPES, Rafael
Gestor Ambiental (Faculdades Integradas Camões / PR), Especialista em Biotecnologia (Pontifícia Universidade Católica do Paraná
(PUC/PR)), orientador de TCC do Centro Universitário Internacional Uninter.
2
regime de marés” SCHAEFFER-NOVELL,Y(1995,p.7)
São conhecidos como “berçário” da vida no mar, porque desempenham
importante papel como exportador de matéria orgânica para os estuários,
contribuindo para a produtividade primária na zona costeira. Por essa razão,
constituem-se em ecossistemas complexos e dos mais férteis e diversificados do
planeta. Os manguezais são ambientes de transição formados pelo encontro das
águas dos rios com as do oceano, ocorrendo em regiões litorâneas abrigadas.
Perante o cenário de exploração inadequada das áreas de mangues,
ocasionadas principalmente por desmatamentos, queimadas e a especulação
imobiliária, se faz necessário adotar medidas de reflorestamento e sensibilizar a
educação dos seres humanos a necessidade de recomposição e preservação do
ambiente.
Desta forma, o EcoMuseu Natural do Mangue, localizado no litoral leste,
bairro de Sabiaguaba, cidade de Fortaleza – estado do Ceará, bairro ainda rural,
com poucas áreas habitadas (onde habitam cerca de 30 famílias), cercado por três
lagoas, um rio, manguezais, grande lençol de dunas e o mar. Esse EcoMuseu foi
pensado para, através da realização de trilha ecológica pelo manguezal associada à
visita ao seu acervo arqueológico, educar o olhar dos visitantes (alunos e turistas) e
de toda a comunidade para as questões sociais e ambientais e a importância da
proteção e conservação do ecossistema do mangue, contribuindo desta forma com o
desenvolvimento sustentável da comunidade que garanta a qualidade de vida hoje,
mas que não destrua os recursos necessários às gerações futuras. Tendo entre
suas atividades principais o reflorestamento e as aulas de campo.
A dinâmica desenvolvida pelo EcoMuseu é levar os visitantes in loco para
conhecer e interagir, visitando o acervo, embrenhando-se pelas raízes durante a
expedição pelas áreas de mangue e participando ativamente do reflorestamento.
Cada pessoa que passa pelo EcoMuseu deixa sua marca, ou seja, sua árvore
plantada.
O presente artigo teve como objetivo identificar e analisar as ações
educativas e de reflorestamento realizadas pelo EcoMuseu Natural do Mangue,
localizado no bairro Sabiaguaba (Fortaleza-CE), através das atividades de educação
ambiental e do reflorestamento da área no seu entorno. A pesquisa será distribuída
3
durante o texto em forma de conceitos sobre os principais temas relevantes ao
contexto, situaremos o leitor quanto ao local onde ocorrem as ações, e a forma
como estas são desenvolvidas e mostraremos alguns dos resultados obtidos e
esperados com a realização desse trabalho, tais como, o crescimento da área de
reflorestamento.
A metodologia aplicada nesse artigo foi bibliográfica, visando elucidar e dar
embasamento ao trabalho realizado pela ONG, através da leitura de autores que
abordam conceitualmente e teoricamente os assuntos relacionados à temática
proposta, e mostrando os resultados mais recentes do processo de educação
ambiental culminante em bom crescimento da área do mangue.
O Mangue como ecossistema e sua importância
Os mangues vivem no limite, com um pé na terra e outro no mar, esses
anfíbios botânicos ocupam uma zona de calor dessecante, lama e teores de sal que
matariam em poucas horas uma planta comum.
No entanto, os mangues
constituem-se em ecossistemas complexos e dos mais férteis e diversificados da
terra. ( superambiente.blogspot.com.br - 2007)
Cada mangue possui um sistema de ultrafiltragem que impede a absorção de
boa parte do sal e um complexo sistema de raízes que lhe permite sobreviver na
zona entre marés. Alguns possuem raízes chamadas pneumatóforos, ocas como um
snorkel, que se projetam sobre o lodo e permitem a respiração da planta. Outros
usam raízes adventícias como escora para manter seu tronco ereto mesmo nos
sedimentos moles da orla da maré.
Para Schaeffer-Novelli (1999) os manguezais destacam-se como fonte de
matéria orgânica particulada e dissolvida para as águas costeiras adjacentes
constituindo a base da cadeia trófica com espécies de importância econômica e/ou
ecológica; área de abrigo, reprodução, desenvolvimento e alimentação de espécies
marinhas, estuarinas, límnicas e terrestres, além de pouso de aves migratórias;
proteção da linha de costa contra erosão, assoreamento dos corpos d’água
adjacentes, prevenção de inundação e proteção contra tempestade; manutenção da
biodiversidade da região costeira; absorção e imobilização de produtos químicos,
filtro de poluentes e sedimentos, além de tratamento de efluentes em seus diferentes
4
níveis; fonte de recreação e lazer associada a seu apelo paisagístico e alto valor
cênico e fonte de proteína e produtos diversos, associados à subsistência de
comunidades tradicionais que vivem em áreas vizinhas aos manguezais.
Muitas
comunidades
humanas
dependem
dos
manguezais
para
a
sobrevivência e utilizam uma gama de recursos naturais provenientes do
ecossistema e suas águas circundantes. Historicamente, a pressão antrópica sobre
os manguezais tem sido muito forte, mesmo considerando que na concepção de
algumas pessoas tais lugares são inóspitos, insalubres e perigosos, não eram de
fácil acesso e poucos se aventuravam neles, até a chegada das indústrias imobiliária
e da carcinicultura.
Ultimamente, devido às pressões de ordem populacional, de produção de
alimentos, de desenvolvimento industrial e urbano, vem ocorrendo uma destruição
maior dos manguezais em todo o mundo. À medida que cresce a busca por terras e
recursos naturais, observamos as áreas de manguezais gradativamente sendo
ocupadas até por projetos do Estado (agente responsável por sua preservação),
visando à expansão urbana e o assentamento de populações. Os processos de
degradação são fortes porque é na zona costeira dos continentes que a ocupação
humana se dá com maior intensidade, submetendo consequentemente não só os
manguezais como os demais ecossistemas litorâneos a pressões (cidades, polos
industriais, portos, aterros, complexos turísticos etc.) que muitas vezes destroem por
completo o equilíbrio de extensas áreas. (FONSECA, M.S.; DRUMMOND, J.A.)
Em todo o mundo existem apenas 28 gêneros e cerca de 70 espécies de mangues, sendo 17
exclusivamente presentes nesse habitat. Isso reflete uma baixa diversidade genética devido às
difíceis condições encontradas nos ambientes que sofrem com as oscilações de marés, onde
aparentemente existem menos oportunidades para diversificação e seleção de material genético. No
entanto, é impressionante a dominância em todo o mundo do gênero Rhizophora L. Segundo Duke
ET al., 1998, citado por Bruno Cesar (2008)
A maioria dos manguezais situa-se a 30 graus do equador, mas alguns tipos
resistentes se adaptam a climas temperados como os mangues da Nova Zelândia,
distante do sol tropical. Mas, onde quer que os mangues vivam, uma coisa tem em
comum: TALENTO PARA ADAPTAR-SE. .
A formação vegetal dos Manguezais brasileiros, no que se refere às plantas
arbóreas, é constituída basicamente por três gêneros (Rhizophora, Avicennia e
Laguncularia) e seis espécies (R. mangle, R. racemosa, R. harisonii, A. schaueriana,
5
A. germinans e L. racemosa), com três destas apresentando ampla distribuição: o
Mangue vermelho (R. mangle), o Mangue branco (L. racemosa) e o Mangue siriúba
(A. schaueriana).
Figuram ainda no Manguezal elementos não típicos como o
Conocarpus erecta, Hibiscus tiliaceus e a samambaia Acrosticum aureum
(característicos de áreas de transição para o ambiente terrestre). O Manguezal é
rico em espécies de algas e líquens, segundo SCHAEFFER-NOVELLI (1989).
Os estuários da costa brasileira são pródigos, pois os manguezais são bem
representados ao longo do litoral brasileiro, e são considerados, como de
preservação permanente, incluídos em diversos dispositivos constitucionais
(Constituição Federal e Constituições Estaduais) e infraconstitucionais (leis,
decretos, resoluções, convenções). A observação desses instrumentos legais impõe
uma série de ordenações do uso e/ou de ações em áreas de manguezal
(SCHAEFFER-NOVELLI,1994).
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações”.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
“I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o
manejo ecológico das espécies e ecossistemas; (Regulamento)”
Constituição Federal de 1988, artigo 225.
Temos também o Novo Código Florestal datado de 2012, onde a definição do
ecossistema e seu enquadramento como área de preservação permanente
encontram, portanto, assento legislativo expresso, constante no inciso XIII do artigo
3º e no inciso VII do artigo 4º, todos do novo Código Florestal:
Art. 3o Para os efeitos desta Lei, entende-se por:
[...]
XIII - manguezal: ecossistema litorâneo que ocorre em terrenos baixos,
sujeitos à ação das marés, formado por vasas lodosas recentes ou
arenosas, às quais se associa, predominantemente, a vegetação natural
conhecida como mangue, com influência fluviomarinha, típica de solos
limosos de regiões e stuarinas e com dispersão descontínua ao longo da
costa brasileira, entre os Estados do Amapá e de Santa Catarina;
Apesar de sua importância, os manguezais no mundo todo, são sacrificados
em favor de salinas, tanques de carnicicultura, empreendimentos imobiliários,
estradas, portos, hotéis, campos de golfe, plantações e morrem por um sem-número
de causas indiretas: derramamento de óleo, poluição química, poluição das águas,
excesso de sedimentos, rompimento de seu delicado equilíbrio hídrico e salino, e
6
também a especulação imobiliária (que aterra suas áreas para construções de casa,
marinas e indústrias)
“Os clamores pela conservação conseguiram breve mais importante
atenção na esteira do tsunami2 de 2004, no oceano indico. Nos locais onde
os manguezais estavam intactos, eles atuaram como quebra-mar natural,
dissiparam a energia das ondas, minimizaram danos às propriedades e
talvez tenham salvado vidas. Depois do tsunami, a lógica de permitir que
esses bioescudos fossem destruídos pareceu não só falha, mas censurável”
(www.webartigos.com/artigos/ecossistema-manguezal-como-compatibilizara-conservacao-e-a-apropriacao-pelo-capital - 2007)
Existe, atualmente, uma grande preocupação também com a qualidade da
água, pois, como é de conhecimento geral marés, rios e lagos encontram-se em
processo de degradação (em especial pela quantidade de lixo deixado as suas
margens) , com altos índices de substâncias prejudiciais à saúde humana e ao
equilíbrio ecológico.
As áreas verdes no contexto das cidades entram como elemento essencial
para bem-estar da população, pois tem a finalidade de melhorar a qualidade de vida,
o paisagismo e a preservação ambiental, sendo assim, importantes para a qualidade
de vida urbana, elas agem simultaneamente sobre o lado físico e mental do homem,
absorvendo ruídos, atenuando o calor do sol, melhorando a qualidade do ar,
contribuindo para a formação e o aprimoramento estético (CARLOS, 2005 apud
SILVA, 2009).
O manejo dos manguezais depende diretamente das características
peculiares a cada um deles, devendo obedecer ao planejamento ecológico desse
ecossistema, dentre as atividades e usos recomendáveis para essa região
destacam-se:
- pesca de subsistência definida como: pesca artesanal praticada por populações
ribeirinhas e/ou tradicionais, para garantir a alimentação familiar, sem fins
comerciais. Para a pesca de subsistência a cota é de três quilos ou um exemplar de
qualquer peso para fins de subsistência, respeitando os tamanhos mínimos de
captura estabelecidos pela legislação, para cada espécie.
- desenvolvimento de atividades turísticas e recreativas, têm por objetivos principais:
facilitar o acesso à população ao recurso hídrico; possibilitar o uso racional em
atividades de lazer; ser um espaço de sensibilização ecológica e promover o turismo
da região
7
- Educação ambiental, é um processo pelo qual cada um e a coletividade constroem
valores sociais, conhecimentos, atitudes e competências voltadas para a
conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia
qualidade
de
vida
e
sua
sustentabilidade.(http://equipecantodomangue-
5a.blogspot.com.br – 2010)
Ecomuseu Natural do Mangue da Sabiaguaba e suas ações de educação
ambiental
Situado dentro da APA da Sabiaguaba que é integrado por: Unidades de
Conservação (UC’s), PARQUE E APA, os quais foram oficialmente criados através
dos decretos nº 11.986 e nº 11.987, respectivamente, em fevereiro de 2006. O
PNMDS é uma unidade de conservação do grupo de proteção integral e a Área de
Proteção Ambiental da Sabiaguaba pertence ao grupo de unidades de conservação
de uso sustentável, servindo como zona de amortecimento para o parque municipal.
A criação das unidades tem por objetivo preservar os ecossistemas naturais
existentes, possibilitando a realização de pesquisas cientificas e o desenvolvimento
de atividades de educação ambiental, de ecoturismo e turismo comunitário
compatíveis com a Lei do SNUC.
A criação destas duas unidades de proteção foram frutos da necessidade de
acompanhamento do uso e do desenvolvimento da zona costeira de forma
consciente viabilizando a reserva de água doce estratégica para a cidade, para as
lagoas e para os ecossistemas de manguezal.
Porém, apesar da criação do Parque e de estar incluída entre os 12% das
terras protegidas, a área de proteção ambiental vem sofrendo um abandono político
e está completamente desprotegido pela falta de ações que eduquem para a sua
conservação de forma a contemplar o amor à natureza, aliado ao uso racional e ao
seu manejo criterioso, a fim de que a comunidade possa executar um papel de
gestor e se sentir parte integrante do processo.
A praia de Sabiaguaba é uma área que também sofre pela exclusão das
políticas públicas e a maior parte de sua população concentra-se em favela
ribeirinha que apresenta vários problemas como o tráfego de drogas, discriminação
e violência social, desnutrição entre as crianças e exclusão social de jovens.
8
O Ecomuseu Natural do Mangue, no pessoa do seu fundador Rusty de Castro
Sá Barreto e seus demais integrantes, entendem que a educação ambiental em
sendo processo por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores
sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a
conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia
qualidade de vida e sua sustentabilidade, é uma das fortes ferramentas a ser usada
no melhor desenvolvimento comunitário e social.
Esse conceito consta na lei 9.795, de 1999, que define a Política Nacional de
Educação Ambiental. Segundo a qual, a educação ambiental é um componente
essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma
articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter
formal e não formal.
Ao longo dos anos, temos visto claramente o cenário de devastação dos
ecossistemas do planeta terra, principalmente no que tange as ações antrópicas, a
realização de práticas de reflorestamento, sensibilização ou educação ambiental e a
conservação dos ecossistemas em particular nesse estudo, do manguezal por
iniciativas de entidades (ONGS) particulares sendo que tais iniciativas fazem grande
diferença nesse contexto, visto que as políticas públicas não cumprem esse que é
um de seus papeis.
Infelizmente, foi necessário ver para crer que o homem está se
autodestruindo, usando a natureza de maneira desorientada e inconsequente. Hoje
as atitudes de alguns começaram a mudar com práticas voltadas ao reflorestamento,
conscientização e preservação ambiental.
Nessa nova visão se dá a missão institucional do EcoMuseu Natural do
Mangue da Sabiaguaba cujas ações têm por desígnio a defesa, a elevação e a
manutenção da qualidade de vida do ser humano e do meio ambiente, através das
atividades de educação ambiental, bem como, o reflorestamento das áreas de
mangue.
O manguezal é “ecossistema costeiro de transição entre os ambientes
terrestre e marinho, característico de regiões tropicais e subtropicais, sujeitos a
regime de marés” (SCHAEFFER-NOVELL,Y - 1995,p.7)
9
Sendo a fauna e a flora dos manguezais, ricas e abundantes, fato que as
torna ecossistemas estuarinos com uma elevada produtividade biológica, como se
observa nas trilhas do Parque do Rio Cocó no estado do Ceará (onde se localiza
Sabiaguaba).
Boa parte do estuário do Rio Cocó, dentro do Parque do Cocó em Fortaleza
foi aterrada indiscriminadamente para a construção do Shopping Iguatemi, fazendo
com que esse rio perca grande parte de sua produtividade em espécies biológicas,
como moluscos, peixes, crustáceos, que são explorados pela população ribeirinha.
O aterramento do mangue para expandir a construção civil significou um dano
muito alto para a sociedade, pois as áreas terão sempre lençol freático alto,
comprometendo as instalações elétricas e a drenagem de esgotos não se processa
adequadamente e, quando ocorrer, polui o mangue.
Outro fato foi à construção da ponte que liga a Praia do Futuro à praia de
Sabiaguaba, alvo de uma série de críticas por parte dos ambientalistas. Primeiro
porque ocorre em uma área de preservação ambiental — que compreende o trecho
final da Praia do Futuro, todo o estuário do rio Cocó e ainda campos de dunas,
apicuns (vegetação de transição entre a terra firme e os mangues), restingas,
gamboas (canais de marés do estuário), mangues e matas de transição, aonde os
impactos ambientais vêm nitidamente aumentando.
Com tanto “progresso”, o
manguezal, o rio e o mar estão seriamente ameaçados, é o que temem os
ambientalistas. A esse respeito, o geólogo e professor do Departamento de
Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jeovah Meireles, explica que a
ponte irá bloquear a entrada de sedimentos no mangue, ao interferir na livre
passagem da água, as pilastras promovem o assoreamento das margens do rio.
Segundo ele, a implantação de estruturas no leito também vai provocar mudanças
nos habitats dos animais que vivem ali. Os bancos de areia que se deslocavam em
direção à Praia do Futuro serão reduzidos, ocasionando, a médio e longo prazo, a
erosão da costa. “O mar vai invadir a área construída”, avalia Meireles.
E nesse ponto que entram fortemente as questões da educação ambiental,
que segundo o documento final da Conferência de Tbilisi(1977) é: o resultado de
uma reorientação e articulação das diversas disciplinas e experiências educativas
que facilitam a percepção integrada do meio ambiente fazendo possível uma ação
mais racional e capaz e responder às necessidades sociais (IBAMA, 1977, p. 106).
10
Outra iniciativa de cunho mundial foi à realização em Estocolmo(1972) da
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano e, onde pela
primeira vez, em instância intergovernamental, a questão ambiental foi discutida sob
a perspectiva política, econômica e social.
A partir dessas discussões, foi criado o Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente (PNUMA) e o conceito de ecodesenvolvimento, o qual se contrapõe
aos atuais modelos de desenvolvimento adotados, a partir do Relatório Brundtland, o
conceito ecodesenvolvimento foi substituído pela expressão “desenvolvimento
sustentável”.
Lamentavelmente,
o
termo
desenvolvimento
sustentável
vem
sendo
apropriado por alguns setores privados e públicos como forma de propaganda de
seus produtos e serviços. Esvaziado de seu real sentido ideológico, que é a ruptura
de um modelo que privatiza os lucros para uma minoria e socializa os prejuízos para
uma maioria, o termo desenvolvimento sustentável torna-se uma letra morta. Nesse
sentido, uma educação ambiental que seja realmente capaz de encarnar os dilemas
societários, éticos e estéticos da atual civilização, pode muito contribuir para a
efetivação de um desenvolvimento que seja realmente sustentável (CARVALHO,
2006).
Dentro desse contexto, é clara a necessidade de viabilizar no âmbito das
instituições de ensino, práticas educativas que levem a formação de uma
consciência e comportamentos socioambientais.
Uma proposta de educação ambiental, para ser efetivamente emancipatória e
promotora
de
novas
sensibilidades
e
visões
de
mundo,
deve
facultar,
concomitantemente, o desenvolvimento de conhecimentos, de atitudes e habilidades
que favoreçam um relacionamento mais respeitoso do Ser Humano com a Natureza.
Também é preciso que se leve em consideração que educação ambiental não é uma
atividade neutra. Em verdade, ela é uma das questões políticas que envolvem
valores, interesses e visões de mundo bastante divergentes, e que podem assumir
correntes mais conservadoras ou emancipatórias. Isso significa que não há “uma”
educação ambiental, mas múltiplas pedagogias de educação ambiental, como tantas
são as concepções de mundo e de sociedade vigentes (SCHAEFFERNOVELL,Y(1995,p.7)).
11
É dentro do contexto da educação ambiental se fazem as propostas do
EcoMuseu natural do Mangue da Sabiaguaba abrangendo ações educativas de aula
de campo junto às escolas e universidade da cidade de Fortaleza e outros
municípios do estado do Ceará, que tem culminado além da conscientização, no
reflorestamento das áreas do mangue na região adjacente.
“Em uma pequena estrutura de tijolos sobre o mangue é o portal
para debater a preservação, natureza e comunidade, diferentes das
demandas coletivas de museus comunitários , indígenas ou de periferia o
bairro de Sabiaguaba abriga há seis anos uma experiência singular: o Eco
Museu do mangue da Sabiaguaba, localizado na boca da barra do rio Cocó,
próximo à praia do Caça e Pesca, O acervo se debruça sobre a memória da
comunidade local para resgatar e afirmar as história desta sua relação com
o ecossistema. O mangue guarda as marcas de sua relação com os
moradores e das intervenções externas. Os moradores, os vestígios de sua
biodiversidade, dos usos do manguezal e de sua capacidade de
regeneração.” (http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno3/os-ensinamentos-do-manguezal-na-praia-de-sabiaguaba-1.390116)
O conceito do Ecomuseu é baseado na chamada Nova Museologia, em que o
maior interesse é pelo desenvolvimento das populações, refletindo os princípios
motores da sua evolução e as associando a projetos de futuro. É um movimento –
também chamado de museologia ativa – que afirma a função social e o caráter
global do museu e de suas intervenções. Conforme palavras do Sr. Rusty de Castro
Sá Barreto (presidente-fundador do projeto), “Em um Ecomuseu, a missão não se
restringe a documentar o mangue e sua história natural, mas também coletar bens
materiais e imateriais que relatem a vida das comunidades ribeirinhas que habitam o
mangue e difundir a importância da conservação de ambos.”
No espaço destinado existe também um cativante acervo devidamente
organizado e composto por peças curiosas e importantes, como arcadas de
tubarões, ossos de baleia e tartarugas, moluscos, corais e peixes, além de
espécimes conservados em formol, como cavalo marinho, lacraia e mais peixes.
Não só os elementos impactam na imaginação das crianças, como remetem
ao ambiente do mangue e do entorno da praia de Sabiaguaba. Lá, por exemplo, são
frequentemente encontradas tartarugas cabeçudas – ameaçadas de extinção –
muitas vezes mortas ou moribundas por culpa do homem. Aves, partes do universo
do mangue, também estão representadas no museu, assim como siris e
caranguejos, símbolos do manguezal.
12
Segundo outros relatos do Sr. Rusty, desde 2001 ano em que nasceu o
projeto, já passaram pelo EcoMuseu Natural do Mangue mais de 30 mil pessoas –
muitas delas estudantes de escolas públicas e particulares.
Cada um que lá chega vive um pouco do mangue. “A visita em si ao museu é
só metade do passeio”, diz Rusty. “Porque é um museu com vivência experimental,
diferente a cada estação do ano”.
Durante as aulas de campo (trilhas) acontece a educação ambiental, onde os
participantes se deparam com diferentes espécies de fauna e flora, conforme a
seguinte programação:
No início da vista ao acervo os alunos e/ou visitantes assistem a uma palestra
sobre o manguezal, e depois seguem acompanhados e orientados por monitores a
visita guiada e explicada à área protegida de manguezal, percorrendo o seguinte
trecho:
1. Estação – Museu (acervo)
2. Estação – laboratório vivo
3. Estação – mangue vermelho
4. Estação – mangue branco
5. Estação – trilha dos pés pretos
6. Estação – trilha das dunas
7. Estação – trilha da solidariedade
8. Estação - reflorestamento com a semente do mangue
9. Estação – reflexão sobre a ponte da Sabiaguaba
10. Estação – trilha do mar
11. Estação – trilha da orla
12. Estação – trilha da barra da boca
Ecomuseu Natural do Mangue da Sabiaguaba e o reflorestamento
Sendo reflorestamento entendido como atividade dedicada a recompor a
cobertura florestal de uma determinada área. O reflorestamento pode ser realizado
com objetivos de recuperação do ecossistema original, através da plantação de
espécies nativas ou exóticas, obedecendo-se às características ecológicas da área
(reflorestamento ecológico), ou com objetivos comerciais, através da introdução de
13
espécies
de
rápido
crescimento
e
qualidade
adequada,
para
abate
e
comercialização posterior .(LEMOS, F.C.; GOMES, J.J. 2008)
. "Ato de reflorestar, de plantar árvores para formar vegetação nas derrubadas, para
conservação do solo e atenuação climática" (Goodland, 1975).
Já que se trata de um ecossistema dos mais importantes e descriminados,
pois participam da contribuição para o sequestro do carbono atmosférico e das
iniciativas de reflorestamento devem ter considerados seus valores agregados às
atividades socioeconômicas desenvolvidas pelas comunidades humanas que
habitam o entorno das áreas dos projetos. Os parâmetros devem referir-se tanto a
variáveis biofísicas (volume de carbono sequestrado na biomassa formada, uso de
espécies apropriadas, biodiversidade vegetal e animal, taxas de sobrevivência e de
crescimento dos espécimes plantados, salinidade, solos etc.) quanto a variáveis
socioeconômicas
(serviços
ambientais,
trabalho
remunerado
e
voluntário,
restauração de atividades produtivas, usos alternativos das terras afetadas, níveis
de vida médios dos habitantes etc.). O objetivo geral desses projetos deve
contemplar o uso de parâmetros socioeconômicos, ecológicos e educativos
No Brasil, o Código Florestal criado a partir do Decreto de Lei nº 4.771, de
15 de setembro de 1965, determina a legislação responsável pelo florestamento e
reflorestamento em território brasileiro, determinando também as medidas punitivas
para o descumprimento das leis vigentes.
A área construída com a sede do EcoMuseu em área de preservação
permanente é de 87,6 m².
Partindo de uma análise da área no entorno do EcoMuseu, a partir de 2007,
identificou se uma área de 1,42 hectares com remanescentes de vegetação nativa1.
Vale ressaltar que 4,6% dessa área já é fruto do reflorestamento realizado pelo
EcoMuseu desde 2001.
Hoje se verificou em campo uma área reflorestada de aproximadamente 0,14
hectares sendo esta reflorestada por projetos desenvolvidos pelo EcoMuseu. Isso
representa um acréscimo de aproximadamente 9% da área total existente, no trecho
analisado, com vegetação nativa. Percebeu-se também um acréscimo de 1,33
hectares de recuperação natural3 do mangue em áreas assoreadas no leito do rio
14
Cocó. Sendo que 20% desta área encontra-se em estágio inicial de recuperação e
80% em estágio mais avançado de recuperação. Isso representa um acréscimo de
aproximadamente 94% de área vegetada no leito do rio Cocó no trecho analisado.
conclui-se que as ações do EcoMuseu proporcionaram a recomposição de
1,46 hectares de mangue em diferentes níveis. Isso representa um acréscimo de
mais de 100% em relação à área inicial. A análise feita através do sensoriamento
remoto mostra que grande parte dessa recuperação se deu nos últimos seis anos.
Seguem anexos a este relatório o mapa temático (anexo 1) e o quadro resumo de
áreas georreferenciadas (anexo 2). David Felipe Evangelista Lima,Engº. Agrônomo,
CREA – CE 45544
Metodologia
A metodologia foi orientada através da escolha aleatória de artigos, livros e
publicação de entidades ambientais, que estabelecessem alguma relação com o
tema proposto para o trabalho. A seleção final dos títulos foi realizada procurando
responder as propostas da Gestão ambiental, nas operações da Perícia e Auditoria
ambiental orientado pelas palavras-chaves.
Foram consultados 15 títulos além do levantamento da legislação específica
aplicada gestão ambiental dos recursos naturais. As obras foram publicadas entre os
anos de 1988 e 2015. A consulta á entidade ambiental foi bastante relevante por
apresentar estudo de caso de ações ambientais que tiveram grande repercussão
regional e cujo caso está sendo trabalhado a cada dia através de ações práticas e
praticadas nos últimos 15 anos..
Os trabalhos consultados identificaram aspectos ambientais diversos como
contaminação do solo, poluição das águas, emissões atmosféricas, etc. Os trabalhos
cujos conteúdos não atendiam plenamente a proposta do tema proposto foram
descartados.
Considerações Finais
O propósito desse artigo foi despertar a consciência e a reflexão aos leitores
sobre a importância do Ecossistema Manguezal, mostrar o processo de
15
desenvolvimento das aulas de campo do Museu e especialmente o crescimento da
área de Mangue reflorestada.
Faz-se mister lembrar que cabe a toda a sociedade a responsabilidade de
estabelecer uma estrutura capaz de fazer valer os direitos do mangue, bem como,
os direito de cada um nós enquanto seres humanos, por meio da implantação de
políticas destinadas ao uso racional e sustentado de suas riquezas e a manutenção
da vigilância e da proteção, assim como, a conscientização de cada um de nós.
Espero assim estar contribuindo no despertar da atenção do todos para o
mangal, de modo que a sua importância estratégica, ecológica e econômica possam
ser compreendidas, divulgadas, respeitadas e protegidas da destruição.
E que possamos criar nas atuais e futuras gerações a sensibilização e
conscientização que precisamos tratar com cuidado e responsabilidade a natureza e
todos os ecossistemas, pois assim estaremos tratando da permanências de
inúmeras espécies da flora e fauna, bem como, da nossa própria preservação.
Referências
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Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988, Art.225,p.140
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http://superambiente.blogspot.com.br/2007/09/o-el-nio-o-maior-fenmenoclimtico.html. Acesso em 01 de abril de 2007
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Universidade de São Paulo. FAUUSP, São Paulo, 2005.
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Anexos
EVANGELISTA, DAVID FELIPE – Resumo de Vistoria Técnica Ambiental, Fortaleza, 2015
Georeferenciamento feito em campo
Anexo2 – Resumo das áreas mapeadas no entorno do Ecomunam, no faz do rio Cocó
EVANGELISTA, DAVID FELIPE – Resumo de Vistoria Técnica Ambiental, Fortaleza, 2015
Georeferenciamento feito em campo
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