O ECOMUSEU NATURAL DO MANGUE: ações educativas e reflorestamento PINHO BARROS, Fabiana FERREIRA LOPES, Rafael Resumo As áreas verdes no contexto das cidades entram como elemento essencial para bem-estar da população, pois tem a finalidade de melhorar a qualidade de vida e a preservação ambiental, neste sentido. Esta pesquisa teve por objetivo identificar e analisar as ações educativas e de reflorestamento realizadas pelo EcoMuseu Natural do Mangue, localizado no bairro Sabiaguaba (Fortaleza-CE), através das atividades de educação ambiental e do reflorestamento da área no seu entorno. A proposta é levar os visitantes a conhecer inicialmente o acervo do museu, onde terão uma palestra sobre o ecossistema e sua preservação, após serão conduzidos por monitores em uma trilha ecológica pelo mangue onde terão a oportunidade de vivenciar uma de suas mais ricas experiências de educação ambiental. Uma educação para um novo olhar para o mangue e conscientização de que a construção de “um novo mundo é possível”, parafraseando Paulo Freire. A metodologia aplicada nesse artigo foi bibliográfica, através da leitura de autores que abordam conceitualmente e teoricamente os assuntos relacionados à temática proposta. Entre os resultados obtidos, constatou-se em 2015 o aumento de cerca de 10% de reflorestamento de mangue em toda área do parque. Visto que o reflorestamento e a educação ambiental estão entre as alternativas mais eficazes para a recuperação de uma área degradada. Palavras-chave: EcoMuseu Natural do Mangue. Ações educativas. Reflorestamento. Educação ambiental Introdução O manguezal é “Ecossistema costeiro de transição entre os ambientes terrestre e marinho, característico de regiões tropicais e subtropicais, sujeitos a PINHO BARROS, Fabiana Pós-Graduação em Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, UNINTER. 2016 FERREIRA LOPES, Rafael Gestor Ambiental (Faculdades Integradas Camões / PR), Especialista em Biotecnologia (Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR)), orientador de TCC do Centro Universitário Internacional Uninter. 2 regime de marés” SCHAEFFER-NOVELL,Y(1995,p.7) São conhecidos como “berçário” da vida no mar, porque desempenham importante papel como exportador de matéria orgânica para os estuários, contribuindo para a produtividade primária na zona costeira. Por essa razão, constituem-se em ecossistemas complexos e dos mais férteis e diversificados do planeta. Os manguezais são ambientes de transição formados pelo encontro das águas dos rios com as do oceano, ocorrendo em regiões litorâneas abrigadas. Perante o cenário de exploração inadequada das áreas de mangues, ocasionadas principalmente por desmatamentos, queimadas e a especulação imobiliária, se faz necessário adotar medidas de reflorestamento e sensibilizar a educação dos seres humanos a necessidade de recomposição e preservação do ambiente. Desta forma, o EcoMuseu Natural do Mangue, localizado no litoral leste, bairro de Sabiaguaba, cidade de Fortaleza – estado do Ceará, bairro ainda rural, com poucas áreas habitadas (onde habitam cerca de 30 famílias), cercado por três lagoas, um rio, manguezais, grande lençol de dunas e o mar. Esse EcoMuseu foi pensado para, através da realização de trilha ecológica pelo manguezal associada à visita ao seu acervo arqueológico, educar o olhar dos visitantes (alunos e turistas) e de toda a comunidade para as questões sociais e ambientais e a importância da proteção e conservação do ecossistema do mangue, contribuindo desta forma com o desenvolvimento sustentável da comunidade que garanta a qualidade de vida hoje, mas que não destrua os recursos necessários às gerações futuras. Tendo entre suas atividades principais o reflorestamento e as aulas de campo. A dinâmica desenvolvida pelo EcoMuseu é levar os visitantes in loco para conhecer e interagir, visitando o acervo, embrenhando-se pelas raízes durante a expedição pelas áreas de mangue e participando ativamente do reflorestamento. Cada pessoa que passa pelo EcoMuseu deixa sua marca, ou seja, sua árvore plantada. O presente artigo teve como objetivo identificar e analisar as ações educativas e de reflorestamento realizadas pelo EcoMuseu Natural do Mangue, localizado no bairro Sabiaguaba (Fortaleza-CE), através das atividades de educação ambiental e do reflorestamento da área no seu entorno. A pesquisa será distribuída 3 durante o texto em forma de conceitos sobre os principais temas relevantes ao contexto, situaremos o leitor quanto ao local onde ocorrem as ações, e a forma como estas são desenvolvidas e mostraremos alguns dos resultados obtidos e esperados com a realização desse trabalho, tais como, o crescimento da área de reflorestamento. A metodologia aplicada nesse artigo foi bibliográfica, visando elucidar e dar embasamento ao trabalho realizado pela ONG, através da leitura de autores que abordam conceitualmente e teoricamente os assuntos relacionados à temática proposta, e mostrando os resultados mais recentes do processo de educação ambiental culminante em bom crescimento da área do mangue. O Mangue como ecossistema e sua importância Os mangues vivem no limite, com um pé na terra e outro no mar, esses anfíbios botânicos ocupam uma zona de calor dessecante, lama e teores de sal que matariam em poucas horas uma planta comum. No entanto, os mangues constituem-se em ecossistemas complexos e dos mais férteis e diversificados da terra. ( superambiente.blogspot.com.br - 2007) Cada mangue possui um sistema de ultrafiltragem que impede a absorção de boa parte do sal e um complexo sistema de raízes que lhe permite sobreviver na zona entre marés. Alguns possuem raízes chamadas pneumatóforos, ocas como um snorkel, que se projetam sobre o lodo e permitem a respiração da planta. Outros usam raízes adventícias como escora para manter seu tronco ereto mesmo nos sedimentos moles da orla da maré. Para Schaeffer-Novelli (1999) os manguezais destacam-se como fonte de matéria orgânica particulada e dissolvida para as águas costeiras adjacentes constituindo a base da cadeia trófica com espécies de importância econômica e/ou ecológica; área de abrigo, reprodução, desenvolvimento e alimentação de espécies marinhas, estuarinas, límnicas e terrestres, além de pouso de aves migratórias; proteção da linha de costa contra erosão, assoreamento dos corpos d’água adjacentes, prevenção de inundação e proteção contra tempestade; manutenção da biodiversidade da região costeira; absorção e imobilização de produtos químicos, filtro de poluentes e sedimentos, além de tratamento de efluentes em seus diferentes 4 níveis; fonte de recreação e lazer associada a seu apelo paisagístico e alto valor cênico e fonte de proteína e produtos diversos, associados à subsistência de comunidades tradicionais que vivem em áreas vizinhas aos manguezais. Muitas comunidades humanas dependem dos manguezais para a sobrevivência e utilizam uma gama de recursos naturais provenientes do ecossistema e suas águas circundantes. Historicamente, a pressão antrópica sobre os manguezais tem sido muito forte, mesmo considerando que na concepção de algumas pessoas tais lugares são inóspitos, insalubres e perigosos, não eram de fácil acesso e poucos se aventuravam neles, até a chegada das indústrias imobiliária e da carcinicultura. Ultimamente, devido às pressões de ordem populacional, de produção de alimentos, de desenvolvimento industrial e urbano, vem ocorrendo uma destruição maior dos manguezais em todo o mundo. À medida que cresce a busca por terras e recursos naturais, observamos as áreas de manguezais gradativamente sendo ocupadas até por projetos do Estado (agente responsável por sua preservação), visando à expansão urbana e o assentamento de populações. Os processos de degradação são fortes porque é na zona costeira dos continentes que a ocupação humana se dá com maior intensidade, submetendo consequentemente não só os manguezais como os demais ecossistemas litorâneos a pressões (cidades, polos industriais, portos, aterros, complexos turísticos etc.) que muitas vezes destroem por completo o equilíbrio de extensas áreas. (FONSECA, M.S.; DRUMMOND, J.A.) Em todo o mundo existem apenas 28 gêneros e cerca de 70 espécies de mangues, sendo 17 exclusivamente presentes nesse habitat. Isso reflete uma baixa diversidade genética devido às difíceis condições encontradas nos ambientes que sofrem com as oscilações de marés, onde aparentemente existem menos oportunidades para diversificação e seleção de material genético. No entanto, é impressionante a dominância em todo o mundo do gênero Rhizophora L. Segundo Duke ET al., 1998, citado por Bruno Cesar (2008) A maioria dos manguezais situa-se a 30 graus do equador, mas alguns tipos resistentes se adaptam a climas temperados como os mangues da Nova Zelândia, distante do sol tropical. Mas, onde quer que os mangues vivam, uma coisa tem em comum: TALENTO PARA ADAPTAR-SE. . A formação vegetal dos Manguezais brasileiros, no que se refere às plantas arbóreas, é constituída basicamente por três gêneros (Rhizophora, Avicennia e Laguncularia) e seis espécies (R. mangle, R. racemosa, R. harisonii, A. schaueriana, 5 A. germinans e L. racemosa), com três destas apresentando ampla distribuição: o Mangue vermelho (R. mangle), o Mangue branco (L. racemosa) e o Mangue siriúba (A. schaueriana). Figuram ainda no Manguezal elementos não típicos como o Conocarpus erecta, Hibiscus tiliaceus e a samambaia Acrosticum aureum (característicos de áreas de transição para o ambiente terrestre). O Manguezal é rico em espécies de algas e líquens, segundo SCHAEFFER-NOVELLI (1989). Os estuários da costa brasileira são pródigos, pois os manguezais são bem representados ao longo do litoral brasileiro, e são considerados, como de preservação permanente, incluídos em diversos dispositivos constitucionais (Constituição Federal e Constituições Estaduais) e infraconstitucionais (leis, decretos, resoluções, convenções). A observação desses instrumentos legais impõe uma série de ordenações do uso e/ou de ações em áreas de manguezal (SCHAEFFER-NOVELLI,1994). “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: “I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; (Regulamento)” Constituição Federal de 1988, artigo 225. Temos também o Novo Código Florestal datado de 2012, onde a definição do ecossistema e seu enquadramento como área de preservação permanente encontram, portanto, assento legislativo expresso, constante no inciso XIII do artigo 3º e no inciso VII do artigo 4º, todos do novo Código Florestal: Art. 3o Para os efeitos desta Lei, entende-se por: [...] XIII - manguezal: ecossistema litorâneo que ocorre em terrenos baixos, sujeitos à ação das marés, formado por vasas lodosas recentes ou arenosas, às quais se associa, predominantemente, a vegetação natural conhecida como mangue, com influência fluviomarinha, típica de solos limosos de regiões e stuarinas e com dispersão descontínua ao longo da costa brasileira, entre os Estados do Amapá e de Santa Catarina; Apesar de sua importância, os manguezais no mundo todo, são sacrificados em favor de salinas, tanques de carnicicultura, empreendimentos imobiliários, estradas, portos, hotéis, campos de golfe, plantações e morrem por um sem-número de causas indiretas: derramamento de óleo, poluição química, poluição das águas, excesso de sedimentos, rompimento de seu delicado equilíbrio hídrico e salino, e 6 também a especulação imobiliária (que aterra suas áreas para construções de casa, marinas e indústrias) “Os clamores pela conservação conseguiram breve mais importante atenção na esteira do tsunami2 de 2004, no oceano indico. Nos locais onde os manguezais estavam intactos, eles atuaram como quebra-mar natural, dissiparam a energia das ondas, minimizaram danos às propriedades e talvez tenham salvado vidas. Depois do tsunami, a lógica de permitir que esses bioescudos fossem destruídos pareceu não só falha, mas censurável” (www.webartigos.com/artigos/ecossistema-manguezal-como-compatibilizara-conservacao-e-a-apropriacao-pelo-capital - 2007) Existe, atualmente, uma grande preocupação também com a qualidade da água, pois, como é de conhecimento geral marés, rios e lagos encontram-se em processo de degradação (em especial pela quantidade de lixo deixado as suas margens) , com altos índices de substâncias prejudiciais à saúde humana e ao equilíbrio ecológico. As áreas verdes no contexto das cidades entram como elemento essencial para bem-estar da população, pois tem a finalidade de melhorar a qualidade de vida, o paisagismo e a preservação ambiental, sendo assim, importantes para a qualidade de vida urbana, elas agem simultaneamente sobre o lado físico e mental do homem, absorvendo ruídos, atenuando o calor do sol, melhorando a qualidade do ar, contribuindo para a formação e o aprimoramento estético (CARLOS, 2005 apud SILVA, 2009). O manejo dos manguezais depende diretamente das características peculiares a cada um deles, devendo obedecer ao planejamento ecológico desse ecossistema, dentre as atividades e usos recomendáveis para essa região destacam-se: - pesca de subsistência definida como: pesca artesanal praticada por populações ribeirinhas e/ou tradicionais, para garantir a alimentação familiar, sem fins comerciais. Para a pesca de subsistência a cota é de três quilos ou um exemplar de qualquer peso para fins de subsistência, respeitando os tamanhos mínimos de captura estabelecidos pela legislação, para cada espécie. - desenvolvimento de atividades turísticas e recreativas, têm por objetivos principais: facilitar o acesso à população ao recurso hídrico; possibilitar o uso racional em atividades de lazer; ser um espaço de sensibilização ecológica e promover o turismo da região 7 - Educação ambiental, é um processo pelo qual cada um e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.(http://equipecantodomangue- 5a.blogspot.com.br – 2010) Ecomuseu Natural do Mangue da Sabiaguaba e suas ações de educação ambiental Situado dentro da APA da Sabiaguaba que é integrado por: Unidades de Conservação (UC’s), PARQUE E APA, os quais foram oficialmente criados através dos decretos nº 11.986 e nº 11.987, respectivamente, em fevereiro de 2006. O PNMDS é uma unidade de conservação do grupo de proteção integral e a Área de Proteção Ambiental da Sabiaguaba pertence ao grupo de unidades de conservação de uso sustentável, servindo como zona de amortecimento para o parque municipal. A criação das unidades tem por objetivo preservar os ecossistemas naturais existentes, possibilitando a realização de pesquisas cientificas e o desenvolvimento de atividades de educação ambiental, de ecoturismo e turismo comunitário compatíveis com a Lei do SNUC. A criação destas duas unidades de proteção foram frutos da necessidade de acompanhamento do uso e do desenvolvimento da zona costeira de forma consciente viabilizando a reserva de água doce estratégica para a cidade, para as lagoas e para os ecossistemas de manguezal. Porém, apesar da criação do Parque e de estar incluída entre os 12% das terras protegidas, a área de proteção ambiental vem sofrendo um abandono político e está completamente desprotegido pela falta de ações que eduquem para a sua conservação de forma a contemplar o amor à natureza, aliado ao uso racional e ao seu manejo criterioso, a fim de que a comunidade possa executar um papel de gestor e se sentir parte integrante do processo. A praia de Sabiaguaba é uma área que também sofre pela exclusão das políticas públicas e a maior parte de sua população concentra-se em favela ribeirinha que apresenta vários problemas como o tráfego de drogas, discriminação e violência social, desnutrição entre as crianças e exclusão social de jovens. 8 O Ecomuseu Natural do Mangue, no pessoa do seu fundador Rusty de Castro Sá Barreto e seus demais integrantes, entendem que a educação ambiental em sendo processo por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade, é uma das fortes ferramentas a ser usada no melhor desenvolvimento comunitário e social. Esse conceito consta na lei 9.795, de 1999, que define a Política Nacional de Educação Ambiental. Segundo a qual, a educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal. Ao longo dos anos, temos visto claramente o cenário de devastação dos ecossistemas do planeta terra, principalmente no que tange as ações antrópicas, a realização de práticas de reflorestamento, sensibilização ou educação ambiental e a conservação dos ecossistemas em particular nesse estudo, do manguezal por iniciativas de entidades (ONGS) particulares sendo que tais iniciativas fazem grande diferença nesse contexto, visto que as políticas públicas não cumprem esse que é um de seus papeis. Infelizmente, foi necessário ver para crer que o homem está se autodestruindo, usando a natureza de maneira desorientada e inconsequente. Hoje as atitudes de alguns começaram a mudar com práticas voltadas ao reflorestamento, conscientização e preservação ambiental. Nessa nova visão se dá a missão institucional do EcoMuseu Natural do Mangue da Sabiaguaba cujas ações têm por desígnio a defesa, a elevação e a manutenção da qualidade de vida do ser humano e do meio ambiente, através das atividades de educação ambiental, bem como, o reflorestamento das áreas de mangue. O manguezal é “ecossistema costeiro de transição entre os ambientes terrestre e marinho, característico de regiões tropicais e subtropicais, sujeitos a regime de marés” (SCHAEFFER-NOVELL,Y - 1995,p.7) 9 Sendo a fauna e a flora dos manguezais, ricas e abundantes, fato que as torna ecossistemas estuarinos com uma elevada produtividade biológica, como se observa nas trilhas do Parque do Rio Cocó no estado do Ceará (onde se localiza Sabiaguaba). Boa parte do estuário do Rio Cocó, dentro do Parque do Cocó em Fortaleza foi aterrada indiscriminadamente para a construção do Shopping Iguatemi, fazendo com que esse rio perca grande parte de sua produtividade em espécies biológicas, como moluscos, peixes, crustáceos, que são explorados pela população ribeirinha. O aterramento do mangue para expandir a construção civil significou um dano muito alto para a sociedade, pois as áreas terão sempre lençol freático alto, comprometendo as instalações elétricas e a drenagem de esgotos não se processa adequadamente e, quando ocorrer, polui o mangue. Outro fato foi à construção da ponte que liga a Praia do Futuro à praia de Sabiaguaba, alvo de uma série de críticas por parte dos ambientalistas. Primeiro porque ocorre em uma área de preservação ambiental — que compreende o trecho final da Praia do Futuro, todo o estuário do rio Cocó e ainda campos de dunas, apicuns (vegetação de transição entre a terra firme e os mangues), restingas, gamboas (canais de marés do estuário), mangues e matas de transição, aonde os impactos ambientais vêm nitidamente aumentando. Com tanto “progresso”, o manguezal, o rio e o mar estão seriamente ameaçados, é o que temem os ambientalistas. A esse respeito, o geólogo e professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jeovah Meireles, explica que a ponte irá bloquear a entrada de sedimentos no mangue, ao interferir na livre passagem da água, as pilastras promovem o assoreamento das margens do rio. Segundo ele, a implantação de estruturas no leito também vai provocar mudanças nos habitats dos animais que vivem ali. Os bancos de areia que se deslocavam em direção à Praia do Futuro serão reduzidos, ocasionando, a médio e longo prazo, a erosão da costa. “O mar vai invadir a área construída”, avalia Meireles. E nesse ponto que entram fortemente as questões da educação ambiental, que segundo o documento final da Conferência de Tbilisi(1977) é: o resultado de uma reorientação e articulação das diversas disciplinas e experiências educativas que facilitam a percepção integrada do meio ambiente fazendo possível uma ação mais racional e capaz e responder às necessidades sociais (IBAMA, 1977, p. 106). 10 Outra iniciativa de cunho mundial foi à realização em Estocolmo(1972) da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano e, onde pela primeira vez, em instância intergovernamental, a questão ambiental foi discutida sob a perspectiva política, econômica e social. A partir dessas discussões, foi criado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e o conceito de ecodesenvolvimento, o qual se contrapõe aos atuais modelos de desenvolvimento adotados, a partir do Relatório Brundtland, o conceito ecodesenvolvimento foi substituído pela expressão “desenvolvimento sustentável”. Lamentavelmente, o termo desenvolvimento sustentável vem sendo apropriado por alguns setores privados e públicos como forma de propaganda de seus produtos e serviços. Esvaziado de seu real sentido ideológico, que é a ruptura de um modelo que privatiza os lucros para uma minoria e socializa os prejuízos para uma maioria, o termo desenvolvimento sustentável torna-se uma letra morta. Nesse sentido, uma educação ambiental que seja realmente capaz de encarnar os dilemas societários, éticos e estéticos da atual civilização, pode muito contribuir para a efetivação de um desenvolvimento que seja realmente sustentável (CARVALHO, 2006). Dentro desse contexto, é clara a necessidade de viabilizar no âmbito das instituições de ensino, práticas educativas que levem a formação de uma consciência e comportamentos socioambientais. Uma proposta de educação ambiental, para ser efetivamente emancipatória e promotora de novas sensibilidades e visões de mundo, deve facultar, concomitantemente, o desenvolvimento de conhecimentos, de atitudes e habilidades que favoreçam um relacionamento mais respeitoso do Ser Humano com a Natureza. Também é preciso que se leve em consideração que educação ambiental não é uma atividade neutra. Em verdade, ela é uma das questões políticas que envolvem valores, interesses e visões de mundo bastante divergentes, e que podem assumir correntes mais conservadoras ou emancipatórias. Isso significa que não há “uma” educação ambiental, mas múltiplas pedagogias de educação ambiental, como tantas são as concepções de mundo e de sociedade vigentes (SCHAEFFERNOVELL,Y(1995,p.7)). 11 É dentro do contexto da educação ambiental se fazem as propostas do EcoMuseu natural do Mangue da Sabiaguaba abrangendo ações educativas de aula de campo junto às escolas e universidade da cidade de Fortaleza e outros municípios do estado do Ceará, que tem culminado além da conscientização, no reflorestamento das áreas do mangue na região adjacente. “Em uma pequena estrutura de tijolos sobre o mangue é o portal para debater a preservação, natureza e comunidade, diferentes das demandas coletivas de museus comunitários , indígenas ou de periferia o bairro de Sabiaguaba abriga há seis anos uma experiência singular: o Eco Museu do mangue da Sabiaguaba, localizado na boca da barra do rio Cocó, próximo à praia do Caça e Pesca, O acervo se debruça sobre a memória da comunidade local para resgatar e afirmar as história desta sua relação com o ecossistema. O mangue guarda as marcas de sua relação com os moradores e das intervenções externas. Os moradores, os vestígios de sua biodiversidade, dos usos do manguezal e de sua capacidade de regeneração.” (http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno3/os-ensinamentos-do-manguezal-na-praia-de-sabiaguaba-1.390116) O conceito do Ecomuseu é baseado na chamada Nova Museologia, em que o maior interesse é pelo desenvolvimento das populações, refletindo os princípios motores da sua evolução e as associando a projetos de futuro. É um movimento – também chamado de museologia ativa – que afirma a função social e o caráter global do museu e de suas intervenções. Conforme palavras do Sr. Rusty de Castro Sá Barreto (presidente-fundador do projeto), “Em um Ecomuseu, a missão não se restringe a documentar o mangue e sua história natural, mas também coletar bens materiais e imateriais que relatem a vida das comunidades ribeirinhas que habitam o mangue e difundir a importância da conservação de ambos.” No espaço destinado existe também um cativante acervo devidamente organizado e composto por peças curiosas e importantes, como arcadas de tubarões, ossos de baleia e tartarugas, moluscos, corais e peixes, além de espécimes conservados em formol, como cavalo marinho, lacraia e mais peixes. Não só os elementos impactam na imaginação das crianças, como remetem ao ambiente do mangue e do entorno da praia de Sabiaguaba. Lá, por exemplo, são frequentemente encontradas tartarugas cabeçudas – ameaçadas de extinção – muitas vezes mortas ou moribundas por culpa do homem. Aves, partes do universo do mangue, também estão representadas no museu, assim como siris e caranguejos, símbolos do manguezal. 12 Segundo outros relatos do Sr. Rusty, desde 2001 ano em que nasceu o projeto, já passaram pelo EcoMuseu Natural do Mangue mais de 30 mil pessoas – muitas delas estudantes de escolas públicas e particulares. Cada um que lá chega vive um pouco do mangue. “A visita em si ao museu é só metade do passeio”, diz Rusty. “Porque é um museu com vivência experimental, diferente a cada estação do ano”. Durante as aulas de campo (trilhas) acontece a educação ambiental, onde os participantes se deparam com diferentes espécies de fauna e flora, conforme a seguinte programação: No início da vista ao acervo os alunos e/ou visitantes assistem a uma palestra sobre o manguezal, e depois seguem acompanhados e orientados por monitores a visita guiada e explicada à área protegida de manguezal, percorrendo o seguinte trecho: 1. Estação – Museu (acervo) 2. Estação – laboratório vivo 3. Estação – mangue vermelho 4. Estação – mangue branco 5. Estação – trilha dos pés pretos 6. Estação – trilha das dunas 7. Estação – trilha da solidariedade 8. Estação - reflorestamento com a semente do mangue 9. Estação – reflexão sobre a ponte da Sabiaguaba 10. Estação – trilha do mar 11. Estação – trilha da orla 12. Estação – trilha da barra da boca Ecomuseu Natural do Mangue da Sabiaguaba e o reflorestamento Sendo reflorestamento entendido como atividade dedicada a recompor a cobertura florestal de uma determinada área. O reflorestamento pode ser realizado com objetivos de recuperação do ecossistema original, através da plantação de espécies nativas ou exóticas, obedecendo-se às características ecológicas da área (reflorestamento ecológico), ou com objetivos comerciais, através da introdução de 13 espécies de rápido crescimento e qualidade adequada, para abate e comercialização posterior .(LEMOS, F.C.; GOMES, J.J. 2008) . "Ato de reflorestar, de plantar árvores para formar vegetação nas derrubadas, para conservação do solo e atenuação climática" (Goodland, 1975). Já que se trata de um ecossistema dos mais importantes e descriminados, pois participam da contribuição para o sequestro do carbono atmosférico e das iniciativas de reflorestamento devem ter considerados seus valores agregados às atividades socioeconômicas desenvolvidas pelas comunidades humanas que habitam o entorno das áreas dos projetos. Os parâmetros devem referir-se tanto a variáveis biofísicas (volume de carbono sequestrado na biomassa formada, uso de espécies apropriadas, biodiversidade vegetal e animal, taxas de sobrevivência e de crescimento dos espécimes plantados, salinidade, solos etc.) quanto a variáveis socioeconômicas (serviços ambientais, trabalho remunerado e voluntário, restauração de atividades produtivas, usos alternativos das terras afetadas, níveis de vida médios dos habitantes etc.). O objetivo geral desses projetos deve contemplar o uso de parâmetros socioeconômicos, ecológicos e educativos No Brasil, o Código Florestal criado a partir do Decreto de Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, determina a legislação responsável pelo florestamento e reflorestamento em território brasileiro, determinando também as medidas punitivas para o descumprimento das leis vigentes. A área construída com a sede do EcoMuseu em área de preservação permanente é de 87,6 m². Partindo de uma análise da área no entorno do EcoMuseu, a partir de 2007, identificou se uma área de 1,42 hectares com remanescentes de vegetação nativa1. Vale ressaltar que 4,6% dessa área já é fruto do reflorestamento realizado pelo EcoMuseu desde 2001. Hoje se verificou em campo uma área reflorestada de aproximadamente 0,14 hectares sendo esta reflorestada por projetos desenvolvidos pelo EcoMuseu. Isso representa um acréscimo de aproximadamente 9% da área total existente, no trecho analisado, com vegetação nativa. Percebeu-se também um acréscimo de 1,33 hectares de recuperação natural3 do mangue em áreas assoreadas no leito do rio 14 Cocó. Sendo que 20% desta área encontra-se em estágio inicial de recuperação e 80% em estágio mais avançado de recuperação. Isso representa um acréscimo de aproximadamente 94% de área vegetada no leito do rio Cocó no trecho analisado. conclui-se que as ações do EcoMuseu proporcionaram a recomposição de 1,46 hectares de mangue em diferentes níveis. Isso representa um acréscimo de mais de 100% em relação à área inicial. A análise feita através do sensoriamento remoto mostra que grande parte dessa recuperação se deu nos últimos seis anos. Seguem anexos a este relatório o mapa temático (anexo 1) e o quadro resumo de áreas georreferenciadas (anexo 2). David Felipe Evangelista Lima,Engº. Agrônomo, CREA – CE 45544 Metodologia A metodologia foi orientada através da escolha aleatória de artigos, livros e publicação de entidades ambientais, que estabelecessem alguma relação com o tema proposto para o trabalho. A seleção final dos títulos foi realizada procurando responder as propostas da Gestão ambiental, nas operações da Perícia e Auditoria ambiental orientado pelas palavras-chaves. Foram consultados 15 títulos além do levantamento da legislação específica aplicada gestão ambiental dos recursos naturais. As obras foram publicadas entre os anos de 1988 e 2015. A consulta á entidade ambiental foi bastante relevante por apresentar estudo de caso de ações ambientais que tiveram grande repercussão regional e cujo caso está sendo trabalhado a cada dia através de ações práticas e praticadas nos últimos 15 anos.. Os trabalhos consultados identificaram aspectos ambientais diversos como contaminação do solo, poluição das águas, emissões atmosféricas, etc. Os trabalhos cujos conteúdos não atendiam plenamente a proposta do tema proposto foram descartados. Considerações Finais O propósito desse artigo foi despertar a consciência e a reflexão aos leitores sobre a importância do Ecossistema Manguezal, mostrar o processo de 15 desenvolvimento das aulas de campo do Museu e especialmente o crescimento da área de Mangue reflorestada. Faz-se mister lembrar que cabe a toda a sociedade a responsabilidade de estabelecer uma estrutura capaz de fazer valer os direitos do mangue, bem como, os direito de cada um nós enquanto seres humanos, por meio da implantação de políticas destinadas ao uso racional e sustentado de suas riquezas e a manutenção da vigilância e da proteção, assim como, a conscientização de cada um de nós. Espero assim estar contribuindo no despertar da atenção do todos para o mangal, de modo que a sua importância estratégica, ecológica e econômica possam ser compreendidas, divulgadas, respeitadas e protegidas da destruição. E que possamos criar nas atuais e futuras gerações a sensibilização e conscientização que precisamos tratar com cuidado e responsabilidade a natureza e todos os ecossistemas, pois assim estaremos tratando da permanências de inúmeras espécies da flora e fauna, bem como, da nossa própria preservação. Referências BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988, Art.225,p.140 Blog Colégio Monteiro Lobato - http://equipecantodomangue-5a.blogspot.com.br/ acessado em 2010_09_13_ CARVALHO, I. C. M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. 2.ed. São Paulo:Cortez, 2006 Diário do Nordeste - http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno3/os-ensinamentos-do-manguezal-na-praia-de-sabiaguaba-1.390116 acessado em 10.08.2013 Evangelista, David Felipe – Resumo de Vistoria Técnica Ambiental, Fortaleza, 2015 Fonseca, Sérgio de Mattos - Projeto Reflorestamento de Ecossistemas de Manguezais e o Valor de Resgate do Sequestro do Carbono Atmosférico. Projeto apresentado ao Edital 9/2001, Rio de Janeiro, Fundo Nacional do Meio Ambiente 16 GOODLAND, R. J. A. e FERRI, M. G. Ecologia do Cerrado. São Paulo/Belo Horizonte: EDUSP/ Itatiaia, 1979. 193p. LEMOS,F.C; GOMES,J.J, Glossário de Meio Ambiente, p.165, 2008 IBAMA/UNESCO. Educação Ambiental: as grandes orientações da Conferência de Tbilisi, 1997 PINHO, Barros Fabiana, 2007, http://www.webartigos.com/artigos/ecossistemamanguezal-como-compatibilizar-a-conservacao-e-a-apropriacao-pelo-capital/2694/ 07/11/2007 Portal Super Ambiente, disponível http://superambiente.blogspot.com.br/2007/09/o-el-nio-o-maior-fenmenoclimtico.html. Acesso em 01 de abril de 2007 em: SCHAEFFER-NOVELLI, Y. Manguezal ecossistema entre a terra e o mar. São Paulo: Caribbean Ecological Research, 1995, p. 7 Schaeffer-Novelli, Y., 1989. Perfil dos ecossistemas litorâneos brasileiros, com especial ênfase sobre o ecossistema manguezal. Publicação esp. Inst.oceanogr., S. Paulo, (7): 1-16. SCHAEFFER-NOVELLI, Y. Avaliação e ações prioritárias para a conservação da biodiversidade da zona costeira e marinha. São Paulo: PROBIO- Programa Nacional da Biodiversidade; PRONABIO- Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira, 1999. Segundo Duke ET al., 1998, citado por Bruno Cesar (2008) COSTA,Bruno Cesar Pereira da .Avaliação ambiental de manguezais, adjacentes aos campos petrolíferos de Macau e Serra (RN), com subsídio ás medidas mitigadoras ao processo erosivo – Natal, RN, 2008 (tese de mestrado) SILVA FILHO, C. A. Proteção e fomento da vegetação no município de São Paulo : possibilidades, alcance e conflitos. 2005, 311p. Tese (Doutorado em Arquitetura) Universidade de São Paulo. FAUUSP, São Paulo, 2005. 17 Anexos EVANGELISTA, DAVID FELIPE – Resumo de Vistoria Técnica Ambiental, Fortaleza, 2015 Georeferenciamento feito em campo Anexo2 – Resumo das áreas mapeadas no entorno do Ecomunam, no faz do rio Cocó EVANGELISTA, DAVID FELIPE – Resumo de Vistoria Técnica Ambiental, Fortaleza, 2015 Georeferenciamento feito em campo