FATORES ASSOCIADOS À OCORRÊNCIA DA ASCARIDÍASE MUNICÍPIO DE SÃO MIGUEL DO GUAMÁ, PARÁ, BRASIL NO Joelson Sousa Lima1; Caroline da Silva Cordeiro2; Marília Antonia Oliveira da Trindade2; Bruno Alexandre Quadros Gomes3; Marcos Pedro de Paiva Elias4 1,2 Graduação, 3,4Mestrado Universidade do Federal do Pará (UFPA), 2,4 Universidade do Estado do Pará (UEPA) [email protected] 1,3 Introdução: A ascaridíase é uma das parasitoses mais comuns no mundo e atinge inúmeros indivíduos que se encontram em condições favoráveis à infecção pelo parasito. Amplamente distribuída pelas regiões tropicais e temperada do mundo, incide mais intensamente nos lugares com clima quente e úmido, nos lugares em que as condições higiênicas da população são mais precárias. As formas mais graves da doença foram registradas em países subdesenvolvidos, essa helmintíase é vista como a mais frequente da espécie humana, atingindo cerca de 1,2 bilhões, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS)1. Além disso, as taxas de morbidade relacionadas ao parasitismo por A. lumbricoides são elevadas principalmente nas faixasetárias infantis, o que se torna preocupante visto que a ação espoliativa do helminto compromete o desenvolvimento das crianças. Objetivos: Identificar os fatores que contribuem para a manifestação da ascaridíase e os determinantes biológicos, sociais e ambientais que influenciam na disseminação e infecção pelo parasito. Métodos: A pesquisa foi realizada no município de São Miguel do Guamá-PA, no laboratório municipal de análises Clínicas da cidade. Foram avaliados os resultados de 1884 exames parasitológicos, nos meses de janeiro e fevereiro de 2014. Este estudo analisou somente os indivíduos que apresentaram diagnóstico positivo para a presença de ovos de Ascaris lumbricoides nas fezes. A coleta das amostras fecais era realizada pelo próprio paciente utilizando-se de frascos coletores universais. O método usado pelos técnicos do laboratório para análise das fezes era o de Hoffman (sedimentação espontânea). Já para a investigação do nível socioeconômico, das condições sanitárias e das características biológicas dos sujeitos da pesquisa, aplicou-se formulários, dos quais os pacientes, depois de informados sobre a pesquisa e estando de acordo em fornecer tais informações, respondiam ao receber o resultado dos exames. Resultados e Discussão: Os dados deste trabalho demonstraram que 200 indivíduos estavam infectados por A. lumbricoides e que, desse modo, a incidência da doença no munícipio foi de 10,61%. Das pessoas com resultado do exame positivo para a presença do parasito, 132 concordaram em responder ao formulário. Com relação ao sexo, 52,1% eram do sexo feminino e 47,7%, do masculino. Os indivíduos analisados tinham de 0 a 89 anos. A faixa etária mais atingida era a de 0 a 6 anos de idade (41,6%), maior frequência do verme ocorreu na faixa etária infantil pelo fato de estarem mais expostas à contaminação devido o baixo conhecimento dos princípios básicos de higiene e amplo contato com o solo, local onde realizam uma série de brincadeiras, propiciando a ingestão dos ovos do parasita2. De acordo com análise dos formulários, 69,7% das amostras de fezes continham ovos frequentes do helminto. A porcentagem de indivíduos que manifestava algum tipo de sintomatologia era de 68,93%, e os desprovidos de sintomas, 31,06%. No laboratório de São Miguel, os resultados dos exames eram classificados em: raros, frequentes e abundantes. A técnica empregada não quantificava os ovos, apenas mostrava a presença destes nas fezes, a partir da visualização na lâmina. No quesito escolaridade, notou-se que 37,12% dos sujeitos entrevistados possuíam o ensino fundamental incompleto; 12,87% concluíram o ensino Anais do V Congresso de Educação em Saúde da Amazônia (COESA), Universidade Federal do Pará – 8 a 11 de novembro de 2016. ISSN 2359-084X. médio; e apenas 1,51% tinham o nível superior. Fato este preocupante, porque a falta de conhecimento prejudica na adoção de práticas higiênicas adequadas. A baixa escolaridade é um dos fatores que colabora para frequência das parasitoses, pois essa é uma das variáveis responsáveis pela prevalência do verme nos países em desenvolvimento34. O alarmante número de parasitoses, dentre elas ascaridíase, em escolares é um identificador da falta de conhecimento da população sobre os hábitos e condições propícias para a transmissão destes parasitas5. Em relação ao perfil econômico da população entrevistada, é importante destacar os seguintes resultados: 37,12% das famílias sobrevivem com menos de um salário mínimo, ao passo que 27,07% possuem renda mensal de um salário mínimo. A investigação acerca da renda dos indivíduos demonstrou uma população carente que, em sua maioria, sobrevive com menos ou até um salário mínimo. Durante a aplicação do formulário, muitos dos entrevistados relataram que seu sustento dependia, inclusive, de bolsas do governo federal ou pensões e aposentadorias. Diante disso, foi possível associar a frequência da ascaridíase à renda familiar destas pessoas. As condições econômicas interferem diretamente em seus modos de vida. Em relação aos hábitos de higiene dos pacientes, o resultado apontou que 56,81% desses indivíduos cumprem as atividades básicas de higiene; 36,36% às vezes adotam tais práticas; e 6,81% afirmaram não ter hábito algum de higiene. Porém, durante a aplicação do formulário, foi possível observar que algumas pessoas ficavam em dúvida na hora de responder sobre a questão de higiene, ou com vergonha de assumir a falta de cuidados diários de higiene. A maioria das pessoas não realizem os bons hábitos de higiene, e sentem vergonha de afirmar4. Quando perguntados sobre a qualidade da água, 63,63% dos indivíduos investigados afirmaram que ela é de boa qualidade, ao passo que 22,72% a consideram regular. Do total de entrevistados, 78,03% alegaram que não possuíam rede de esgoto na rua em que moravam e 21,96% afirmaram ter esgoto. Foi possível perceber a carência da população, observou-se que a maioria dos domicílios é desprovida de sistema de esgoto; as fezes são destinadas em fossas. Todavia, quase metade dos entrevistados ainda utilizam os sanitários para o despejo de seus dejetos, o que favorece ainda mais a contaminação do solo pelos ovos de A. lumbricoides. Conclusão: Diante disso, constatou-se a influência das variáveis biológicas, ambientais e socioeconômicas na incidência da ascaridíase no município. Os resultados obtidos nos levam a concluir que a incidência da infecção por Ascaris lumbricoides, no município de São Miguel do Guamá, é um reflexo direto das precárias condições socioeconômicas e higiênicosanitárias do município. E, para redução nos casos da parasitose, é fundamental a ação do poder público, no sentido de programar ações que visem alternativas de saneamento básico, que possibilitem o acesso á água apropriada para o consumo e rede de esgoto, além de levar à comunidade noções básicas de higiene e de educação sanitária. Somente a partir da adoção dessas medidas será possível diminuir o número de casos da ascaridíase no município. Ademais, é de suma importância tratar os doentes e desenvolver ações preventivas, sobretudo nas áreas mais afetadas. Referências: 1. Neves, DP. Parasitologia Dinâmica. 3ª Ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2009. 2. Baptista SC, Breguez JMM, Baptista MCP, Silva GMS, Pinheiro RO. Análise da incidência de parasitoses intestinais no município de Paraíba do Sul, RJ. Revista Brasileira de Análises Clínicas. 2006; 38(4): 271-273. Anais do V Congresso de Educação em Saúde da Amazônia (COESA), Universidade Federal do Pará – 8 a 11 de novembro de 2016. ISSN 2359-084X. 3. Fonseca, E. O. L. et al. Prevalência e fatores associados às geo-helmintíases em crianças residentes em municípios com baixo IDH no norte e nordeste brasileiro. Caderno de Saúde Pública. 2010; 26: 143-152. 4. Ludwig KM, Ribeiro ALT, Conte AOC, Decleva DV, Ribeiro JTD. Ocorrência de enteroparasitoses na população de um bairro da cidade de Cândido Mota-SP. J. Health Sci. Inst. 2012; 30(3): 271-276. 5. Armendoeira, M. R. R. et al. Estudo de enteroparasitoses em escolares da rede pública de Cascadura. Revista Souza Marques, Rio de Janeiro. 2002. Anais do V Congresso de Educação em Saúde da Amazônia (COESA), Universidade Federal do Pará – 8 a 11 de novembro de 2016. ISSN 2359-084X.