UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA E METODOLOGIA DAS CIÊNCIAS SOCIAIS DISCIPLINA: GSO00221 – Natureza, Sociedade e Colonialismos TURMA: I1 CURSO: Ciências Sociais, Sociologia, Antropologia, História, Geografia, Educação, Filosofia SEMESTRE: 2017.2 PROFESSOR: ANDRÉ DUMANS GUEDES ([email protected]) DIAS: Terças e Quintas HORÁRIO: 20/22h PASTA COM TEXTOS: xerox da Família, bloco 0 PASTA NA INTERNET COM BIBLIOGRAFIA DIGITALIZADA: https://drive.google.com/open?id=0B65tCXX-QaCFZVU4TTEwU3pOX0k A conquista da terra, que significa basicamente tomá-la dos que possuem uma compleição diferente ou um nariz um pouco mais achatado do que o nosso, não é uma coisa bonita, se você olhar bem de perto. O que a redime é apenas a ideia. Uma ideia por trás dela; não uma ficção sentimental, mas uma ideia; e uma crença altruísta na ideia – algo que você pode erigir, e curvar-se diante dela, e lhe oferecer um sacrifício... Joseph Conrad, Coração das Trevas (via Edward Said). O desafio era (...) conectar a crítica dos fundamentos metafísicos do colonialismo (...) com a crítica dos fundamentos colonialistas da metafísica. Eduardo Viveiros de Castro, Transformação na Antropologia, Transformação da Antropologia O objetivo desse curso é pensar as relações e imbricações recíprocas entre certas ideias e práticas características do "Ocidente” (discutiremos ao longo do curso as razões para estas aspas, e porque nos interessa lançar mão aqui de uma noção tão vaga e abrangente). As ideias em questão remetem aos movimentos através dos quais vêm se estruturando, ao longo dos últimos dois milênios, uma noção do que é a "natureza". Considerada na sua relação com seus supostos opostos ("sociedade" ou "cultura", e.g.), esta noção revelou-se central na constituição do que conhecemos como mundo moderno: por exemplo, por possibilitar e revelar os avanços científicos, tecnológicos e econômicos acelerados a partir dos séculos XVII e XVIII; por fundamentar outras oposições constitutivas de nossa existência (objeto/sujeito; corpo/mente; manual/intelectual; conteúdo/forma; feminino/masculino; primitivo/civilizado); ou por tornar possível, dois séculos após o surgimento das modernas ciências naturais e em oposição a elas, as ciências sociais. Já as práticas que nos interessam estão associadas ao que chamamos de “colonialismo”, evocando tanto o que se passou na conquista da América e na África e Ásia 1 do século XIX quanto o que estes processos legaram para a posteridade e os dias atuais – sobretudo no que se refere àqueles aspectos culturais, intelectuais, filosóficos, políticos e cognitivos evocados pela ideia de “pós-colonialismo”. Em um terceiro momento do curso examinaremos algumas propostas teóricas recentes que criticam e supostamente buscam escapar àquela imbricação “metafísicacolonialista” entre as ideias e práticas examinadas nas unidades anteriores. Neste terceiro momento, nossa atenção recairá sobretudo nas proposições que, próximas deste objetivo, vêm problematizando a centralidade da distinção entre "natureza" e "cultura"/"sociedade" nas ciências sociais contemporâneas. Prólogo (ou introduzindo a discussão em menos de 10 páginas) SOUZA SANTOS, Boaventura; MENESES, M. P.; NUNES. J. A. 2004. “Introdução: para ampliar o cânone da ciência: a diversidade epistemológica do mundo” (Itens 1, pp. 1-5). In: Souza Santos, Boaventura. (org.). Semear outras soluções: os caminhos da biodiversidade e dos conhecimentos rivais. Porto: Afrontamento. CLASTRES, Pierre. “Entre o silêncio e o diálogo” (pp. 87-90). In: Lévi-Strauss. São Paulo: L'arc Documentos, 1968. Unidade 1: Ideias de Natureza no Ocidente THOMAS, Keith. Capítulo 1, "O predomínio humano" (pp. 21-60). O Homem e o Mundo Natural. Mudanças de Atitudes com Relação às Plantas e aos Animais. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. SHIVA, Vandana. “Recursos Naturais” (pp. 300-316). In: Sachs, Wolfgang. Dicionário do Desenvolvimento: Guia para o Conhecimento como Poder. Petrópolis: Vozes, 2000 SMITH, Neil. Capítulo 1, "A ideologia da natureza (itens I) A natureza na ciência; e II) A natureza poética e a paisagem americana" (pp. 27-46). Desenvolvimento Desigual. Natureza, Capital e a Produção do Espaço. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 1988. PRIGOGINE, Ilya e STENGERS, Isabelle. "O projeto da ciência moderna" (pp. 19-41). A Nova Aliança. Metamorfose da Ciência. Brasília: Editora da UnB, 1984. KOYRÉ, Alexander. "Apresentação" (pp. V-XIII), "Prefácio" e "Introdução" (pp. 1-7). Do Mundo Fechado ao Universo Infinito. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1971. LÉVI-STRAUSS, Claude. “Raça e História” (pp. 328-366). Antropologia Estrutural II. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1976. DIAS DUARTE, Luiz Fernando. “A pulsão romântica e as ciências sociais no Ocidente". Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 19, n. 55. 2 WHITE, Lynn. “The historical roots of our ecological crisis”. Science, 10 march 1967, v. 155, n. 37671. Complementar (eventualmente um destes textos pode substituir alguma bibliografia obrigatória) SAHLINS, Marshall. “A Primeira Sociedade de Afluência” (pp. 7-44). In: Carvalho, E. A. (org.) Antropologia Econômica. SP: Livraria Ciências Humanas, 1974. CASSIRER, Ernst. Ensaio sobre o Homem. Introdução a uma Filosofia da Cultura Humana. Capítulo 1, “Crise no conhecimento do homem sobre si mesmo”; Capítulo 2, “Uma pista para a natureza humana: o símbolo”; Capítulo 3, “Da reação animal à resposta humana” (pp. 1561). São Paulo: Martins Fontes, 1994. OLIVEIRA, Bernardo Jefferson de. Francis Bacon e a Fundamentação da Ciência como Tecnologia. Capítulo VIII, “A transformação da natureza” (pp. 125-140). Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2002. Unidade 2: Navegações, Impérios, Colonizações e Colonialismos SOARES, Luiz Carlos. “O novo mundo e a Revolução Científica nos séculos XVI e XVII”. In: Alfonso-Goldfarb, Ana Maria; Maia, Carlos A. História da Ciência. O Mapa do Conhecimento. São Paulo: Edusp, 1995. 509 H673 BUARQUE DE HOLANDA, Sérgio. Capítulo 1, “Experiência e fantasia” (pp. 1-18); Capítulo 2, “Terras incógnitas” (pp. 19-42); Capítulo 7, “Paraíso perdido” (183-226). Visões do Paraíso. Os Motivos Edênicos no Descobrimento e Colonização do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 2000. HOBSBAWM, Eric. Capítulo 3, “A era dos impérios” (pp. 57-83). A Era dos Impérios. São Paulo: Paz e Terra, 1987. LATOUR, Bruno. Capítulo 6, “Centros de cálculo” (“Prólogo” e “Parte A”, pp. 349-377). Ciência em Movimento. Como Seguir Cientistas e Engenheiros Sociedade Afora. São Paulo: Unesp. 2000. SAID, Edward. Capítulo 1, "Territórios sobrepostos, histórias entrelaçadas" (pp. 34-73, até antes do item "experiências divergentes"). Cultura e Imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. CASTRO-GÓMEZ, SANTIAGO. La Poscolonialidad Explicada a los Niños (pp. 11-64). Bogotá: Editorial Universidad del Cauca, Instituto Pensar, Universidad Javeriana, 2005. Mesmo estando em inglês, o texto foi incluído na bibliografia obrigatória – ele será discutido em sala mas não será cobrado em avaliações. A inclusão de tal texto no curso se justifica em função de seu conteúdo, e da capacidade do autor apresentar tão bem e em tão poucas páginas um panorama histórico e filosófico tão relevante; e também como forma de estimular os alunos a, pouco a pouco e sem maiores exigências, aventurarem-se na leitura de textos em inglês. 1 3 SOUZA SANTOS, Boaventura; MENESES, Maria Paula; NUNES, João Arriscado. “Introdução: para ampliar o cânone da ciência: a diversidade epistemológica do mundo” (Itens 1 e 3 pp. 1-17; 42-56). In: Souza Santos, Boaventura. (org.). Semear outras soluções: os caminhos da biodiversidade e dos conhecimentos rivais. Porto: Afrontamento, 2004. ALBERT, Bruce. “O ouro canibal e a queda do céu: uma crítica xamânica da economia política da natureza (Yanomami)”. In: Albert, Bruce; Ramos, Alcida (Orgs.). Pacificando o Branco: Cosmologias do Contato no Norte-Amazônico. São Paulo: Unesp, 2002. Complementar MIGNOLO, Walter. “Introdução” (pp. 23-78). Histórias Locais-Projetos Globais: Colonialidade, Saberes Subalternos e Pensamento Liminar. Belo Horizonte: UFMG, 2003 CLASTRES, Pierre. “Copérnico e os Selvagens” (pp. 5-24). A Sociedade contra o Estado. São Paulo: Cosac Naify, 2012. DUSSEL, Enrique. Capítulo 1, “História” (pp. 8-21). Filosofia da Libertação na América Latina. São Paulo: Edições Loyola, 1977 Unidade 3: Problematizações Contemporâneas (natureza "e" cultura/sociedade?) DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. “Devir-intenso, devir-animal, devir-imperceptível”. Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia, vol.4. São Paulo: Editora 34, 1997. VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Fragmentos selecionados (pp. 25-28; 34-37; 114-124). Metafísicas Canibais. Elementos para uma Antropologia Pós-Estrutural. São Paulo: Cosac Naify, 2015. HARAWAY, Donna. Antropologia do Ciborgue: as Vertigens do Pós-humano. “Manifesto ciborgue. Ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX” (pp. 33-117). Belo Horizonte: Autêntica, 2013. Complementar LATOUR, Bruno. Capítulo 2, "Constituição" (pp. 19-52); Capítulo 3, "Revolução" (pp. 5389). Jamais Fomos Modernos. São Paulo: Editora 34, 1994. VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. “Transformação” na antropologia, transformação da “antropologia”. Mana vol.18 no.1 Rio de Janeiro Abril, 2012. 4