Estado do Rio Grande do Sul Município de Santa Maria Escola Municipal de Ensino Fundamental Nossa Senhora do Perpétuo Socorro Relato de experiência A Cinoterapia: Inclusão, socialização e aprendizagem de alunos com deficiência e alunos com necessidades especiais Denise Medina Fidler Educadora Especial/Pedagoga Psicopedagoga/Especialista em Educação Especial-AEE Mestranda do PPGE/CE/Linha Educação Especial/UFSM A Cinoterapia: Inclusão, socialização e aprendizagem de alunos com deficiência e alunos com necessidades especiais Denise Medina Fidler APRESENTAÇÃO A Cinoterapia apresenta-se com um recurso inovador que utiliza cães como meio alternativo para o atendimento de pessoas com deficiências, oferecendo-lhes o benefício no processo terapêutico, cognitivo e de socialização. O cão atua como instrumento facilitador, reforçador, reabilitador global do indivíduo a ser abordado, envolvendo todas as suas áreas do desenvolvimento físico, cognitivo e emocional, e as atividades promovidas são planejadas e mediadas pelos profissionais envolvidos através de atividades lúdicas. Venturoli (2004) cita em seu artigo estudos que demonstram que os animais de estimação satisfazem várias necessidades humanas da saúde física e emocional ao aprendizado intelectual e motor. Este mesmo autor afirma que pesquisas demonstram que crianças que têm um animal de estimação por companhia desenvolvem mais rapidamente suas habilidades cognitivas e sócio emocionais: os mascotes incentivam a comunicação a responsabilidade das crianças e facilitam sua convivência com os demais membros do seu grupo. Ajudam a fazer amizades e a encarar a vida com otimismo. É importante ressaltar que vários estudos e pesquisas apontam aos benefícios desse trabalho no processo de desenvolvimento das pessoas, sejam elas crianças, adultos ou idosos, com algum tipo de deficiência ou não, e principalmente auxiliam nos seus aspectos cognitivo e emocional. Por ser uma abordagem muito útil e de grande eficácia para a melhora do indivíduo em diferentes quadros deficiências, transtornos e patologias. Esta terapia poderá representar um meio para o avanço dos alunos que são atendidos na Sala de Recursos Multifuncionais. Visto que o trabalho proporcionará novos estímulos, tentativas, novas alternativas, realizações e conquistas. Assim, possibilitará mudanças de quadros funcionais e consequentemente melhora da auto estima e avanços cognitivos propiciando autonomia e maior qualidade de vida. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA O projeto A Cinoterapia: Inclusão, socialização e aprendizagem de alunos com deficiência e alunos com necessidades especiais é uma das propostas do Atendimento Educacional Especializado realizado pela Educadora Especial na sala de recursos multifuncional. Participam do projeto alunos com deficiências que frequentam o AEE no contra turno da sala regular. Estudos comprovam a eficácia da terapia, beneficiando a coordenação motora, habilidades cognitivas e sócio emocionais, reduzindo a ansiedade, possibilitando atividades educacionais e terapêuticas benéficas para todas as pessoas, mas em especial para alunos com deficiência física, deficiência Intelectual e transtornos globais do desenvolvimento. Conforme estudos conclusivos do III Seminário Internacional Sociedade Inclusiva (2004), a Terapia Facilitada com Cães é provida de oportunidades, permitindo ao praticante aprender novas tarefas e comportamentos, o que pode levar ao aumento do potencial para a resposta adaptativa necessária na organização das tarefas cotidianas. Além da relação de afeto que se desenvolve, do estímulo ao período sensório motor, do toque das mãos, do sentir, do explorar o corpo do animal e observar suas reações, muitos conhecimentos são adquiridos nessa interação homem-animal. É notória a inversão de papéis nessa construção do relacionamento, quando o paciente passa a cuidar do animal estimulando a autonomia e a responsabilidade. Cuidar da limpeza do animal e de seu habitat, cuidar da sua alimentação, favorece o desenvolvimento do vínculo afetivo e do lidar com os mais diversos sentimentos, da frustração à alegria. O objetivo Geral do projeto, é o de possibilitar e ofertar aos alunos com deficiências e necessidades especiais que frequentam a Sala de Recursos Multifuncionais, aperfeiçoarem a reabilitação e promover melhor qualidade de vida, procurando desenvolver suas capacidades físicas, cognitivas, sociais, afetivas e funcionais necessárias para seu desenvolvimento global, permitindo a sua autonomia e controle de suas atitudes para a efetiva inclusão social. Tenho também como objetivo, a construção dos saberes envolvendo a leitura, a escrita, a interpretação, os relacionamentos, a autonomia é, antes de qualquer coisa, fazer a leitura do mundo em que vivemos, traduzindo o seu significado e significando o contexto e as palavras que nos envolvem dia-dia, fazendo a relação de palavras, de atitudes e mundo. É muito triste quando deparamos com a nossa realidade, vendo este número enorme de crianças que estão avançando nos anos escolares e não conseguem ler, interpretar e fazendo uma leitura mecânica sem significado, onde a nossa educação deve ser vivida e construída uma história, onde cada um tem seu papel importante, pois somos produtores de saberes e culturas, fazendo sempre as relações interpessoais, onde tudo acontece na ação do sujeito, valorizando as relações de trocas, as diferenças, as formas de expressão e o valor social implícito pela leitura, escrita e suas trocas com o outro. Foi pensando em novas alternativas de aprendizagem e mediação das mesmas, com seu significado e também em seu exercício diário que tenho muito interesse em relatar os benefícios do projeto, trazendo a mediação dos cães dentro da sala de aula favorecendo a inclusão dos alunos. Há que se pensar também, nas atividades de motricidade ampla que beneficiam de maneira muito enriquecedora no momento de desenvolvimento do processo de construção de leitura e escrita do aluno, havendo um fortalecimento da destreza, equilíbrio, ritmo, organização, percepção, reflexão, uso das regras, enfim todo os pré requisitos para uma fluente leitura e escrita dando significado e efetiva leitura do mundo e do que lhe cerca, ou seja, a sua autonomia e independência para viver a sua própria vida. Isso é evidenciado a todo momento pelos participantes do projeto. Entre os demais objetivos, podemos citar: Utilizar a Cinoterapia como recurso alternativo no atendimento de pessoas com deficiências; Utilizar o cão como mediador e facilitador no processo de reabilitação; Estimular para que as relações se efetivem de maneira prazerosa; Compartilhar com os alunos atividades lúdicas com os cães que estimulem o equilíbrio, a fala, a expressão de sentimentos, a imaginação e o autoconhecimento; Aprimorar ensinamentos e execução de regras, hábitos e atitudes através dos cães para os alunos; Desenvolver a atenção e concentração nas atividades propostas; Desenvolver atividades de mobilidade e autonomia; Promover uma melhor socialização entre os alunos e o meio em que vivem; Auxiliar os alunos, e em especial aos deficientes físicos, no que diz respeito à marcha, coordenação motora, percepção, linguagem e aspectos psicológicos e emocionais; Trabalhar os alunos de modo holístico, equalizando o físico, mental e social; Estimular e resgatar a auto estima, melhorando a qualidade de vida; Desenvolver sua independência, auxiliando nas atividades da vida diária; Utilizar o cão como um recurso inovador no processo de construção de leitura e escrita dos alunos. O projeto A Cinoterapia: Inclusão, socialização e aprendizagem de alunos com deficiência e alunos com necessidades especiais vem acontecendo desde março de 2012 no espaço físico da Escola Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. A prática é reconhecida e apoiada pela escola, fazendo parte do PPP- Projeto Político Pedagógico da mesma. A atividade é uma parceria, proposta pela Educadora Especial, juntamente com a AVOCAssociação de Voluntários com Cães de Busca e Resgate- coordenada voluntariamente pelo professor Dartanhan Baldez Figueiredo, o qual disponibiliza os animais que participam das atividades. As atividades são desenvolvidas de forma lúdica, procurando sempre estimular e resgatar as relações interpessoais, autonomia, relações afetivas, cuidados com o outro, buscando o bem estar e qualidade de vida para todos. Os alunos que participam do projeto de Cinoterapia possuem diagnóstico de: Deficiência intelectual, TDAH, Deficiência Física, Síndrome de Edwards Mosaico e Síndrome de Dowm. O projeto é constantemente avaliado e reestruturado mediante os aspectos observados durante a sua execução, mantendo os objetivos considerados positivos e que tragam resultados satisfatórios e eliminando-se ou reformulando-se aqueles que não estiverem contribuindo para atender as necessidades dos alunos. O projeto também é avaliado pelos próprios alunos através de questionários, relato oral ou produção escrita, se houve uma mudança em seus hábitos, atitudes, relações, auto estima e autonomia. Se os alunos estão conseguindo observar, interagir, compartilhar e socializar com o cão, com seus colegas, professores e sua família CONSIDERAÇÕES FINAIS A terapia realizada com o auxílio de cães é uma atividade que vem sendo cada vez mais utilizada no mundo, é muito utilizada como terapia para crianças com problemas psicológicos, motores, problemas de relacionamento social ou afetivos. Alguns estudos realizados com crianças registraram que aquelas que convivem com cães são mais afetivas, com menor grau de agressividade e com um bom desempenho em seu relacionamento social. Becker(2003) enfatiza que quando os animais interagem com as crianças, seus sinais são bastante claros. A compreensão de que há uma criatura com sentimentos diferentes afasta as crianças de seu ponto de vista egocêntrico. A compreensão dessa diferença é à base do desenvolvimento da personalidade. Com o convívio com os animais as pessoas tornam-se mais sociáveis, interagindo melhor com as outras pessoas. A Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da educação Inclusiva tem como objetivo o acesso, a participação e a aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas escolas comuns, orientando os sistemas de ensino para promover respostas às necessidades dos alunos com necessidades especiais. O trabalho de inclusão deve transcender as salas de recursos multifuncional, com o objetivo de conhecer as condições de aprendizagem do aluno propondo novas maneiras de mediar e intervir no processo de construção da aprendizagem, dando significado na caminhada escolar do aluno. Vygotsky (1991, p.149) afirma: "Assim como os instrumentos de trabalho mudam historicamente, os instrumentos do pensamento também se transformam historicamente. E assim como novos instrumentos de trabalho dão origem a novas estruturas sociais, novos instrumentos do pensamento dão origem a novas estruturas mentais.(..). Assim, o projeto de Cinoterapia busca trabalhar equilíbrio físico mental, social e afetivo dos alunos publico alvo do AEE, embora também procure estender, em alguns momentos, as atividades com todos os alunos da escola para que haja trocas, intervenções, acolhimentos e respeito com o outro, ou seja, um envolvimento de toda escola, uma atividade essencialmente inclusiva onde todos podem participar. Apesar da cinoterapia – terapia mediada por cão –– ter tido sua origem aproximadamente no século XVIII na Inglaterra, quando foi descoberto que o convívio com cães trazia benefícios psicológicos, pedagógicos e sociais, as publicações sobre tal tema ainda são diminutas, assim como as práticas empíricas. A implementação desse projeto, é uma experiência que tem alcançado êxitos na transformação da realidade e ao alcançar os objetivos aos quais se prontificou. Portanto, as parcerias deveram ser fortalecidas e consolidadas para que juntos - professores, gestores, alunos e comunidade- busquem alternativas favoráveis aos desafios que o espaço escolar impõe aos alunos com deficiência. A Cinoterapia não deve estar centrada unicamente no aluno com deficiência ou na deficiência em si, mas em como trabalhar na diversidade, que é a expressão legítima da natureza e da condição humana. Por isso, o envolvimento dos demais alunos da escola. A construção de uma escola inclusiva tem início quando nos despimos de nossos preconceitos e ficamos abertos às novas ideias, novas formas de pensar e agir em relação a cada aluno, levando em conta as suas especificidades. Por isso, acredito muito no sucesso desse projeto, e na importância de abranger essa prática para um número cada vez maior de alunos, envolvendo toda a comunidade escolar. Há muito a se considerar sobre a relação homem-animal. Os efeitos positivos decorrentes da interação com os animais ainda merece muita pesquisa e essa investigação deve ser desenvolvida com todas as implicações científicas. Embora a cinoterapia ainda seja um tema novo, desconhecido pela maioria da população brasileira, já são registrados resultados surpreendentes conseguidos por vários profissionais como: psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, educadores especiais entre outros profissionais que vêm utilizando da terapia em instituições, escolas, hospitais e consultórios. Resultados com bastante sucesso que talvez técnicas tradicionais não conseguissem alcançar. É importante ressaltar que o trabalho com o aluno com deficiência não se restringe apenas à sala de recursos, e sim a todo o ambiente escolar, e vale lembrar: “Uma das tarefas é identificar constantemente as intervenções e as ações desencadeadas e ou aprimoradas para que a escola seja um espaço de aprendizagem para todos os alunos. Isso exigirá novas elaborações no âmbito dos projetos escolares, visando ao aprimoramento de sua proposta pedagógica dos procedimentos avaliativos institucionais e da aprendizagem dos alunos. É importante ainda uma atenção especial ao modo como se estabelecem as relações entre alunos e professores, além da constituição de espaços privilegiados para formação de profissionais da educação para que venham a ser agentes corresponsáveis desse processo.” (PRIETO, 2006, p. 36). A criação de redes de apoio, através de parcerias, trabalhos em equipe de maneira colaborativa e cooperativa, facilitará e organizará um ambiente de aprendizagem conforme os interesses, habilidades e necessidades dos alunos, levando-os à superação dos seus limites. Durante o trabalho que já foi realizado até o momento, foi possível observar muitos avanços em relação aos alunos atendidos pelo projeto. A todo momento um lindo retorno do trabalho é apresentado através das crianças, pois a cada encontro são visíveis e comprovadas as mudanças ocorridas. Alunos apresentando graves problemas em sua comunicação, não emitindo sua linguagem através da fala, nem suas vontades e desejos, demonstraram um excelente avanço, principalmente durante as brincadeiras de esconder o brinquedo do cão. Aluno com deficiência física realiza as atividades que exigem movimentos e destreza de seu lado esquerdo muito comprometido, através de escovação dos pêlos e carinhos no cão. Desenvolvendo significativamente sua motricidade. Alunos lendo pequenas histórias e também criando histórias para o cão ouvinte, pois como o cão não faz intervenções, os alunos sentem-se seguros e autônomos em suas leituras e criação de histórias. O que chama atenção nessa situação, é como o projeto pode ser significativo em relação ao desenvolvimento da imaginação e da autonomia dessas crianças. Alunos com dificuldades de interagir demonstrando autonomia na execução de atividades, criando novos comandos e brincadeiras na interação com o cão. Alunos com dificuldades de se expressar com um número reduzido em seu vocabulário, sem muita compreensão do que é emitido, realizam comandos para o cão. Esses fatos, demonstram que aos poucos, cada um com seu ritmo, as crianças vão tendo estímulos que favorecem na potencialização de suas atitudes levando a superação das suas dificuldades. O convívio com cães também traz benefícios emocionais e afetivos aos envolvidos. O amor incondicional e atenção, espontaneidade das emoções, redução da solidão, diminuição da ansiedade, relaxamento, alegria, reconhecimento de valor, troca de afeto, são alguns desses benefícios emocionais decorrentes da convivência com o cão. Sendo assim, vou concluindo, sem querer de fato concluir. Ressaltando que todas as atividades propostas devem ser realizadas de maneira lúdica dando significado de maneira prazerosa, as descobertas sendo realizadas espontaneamente sem a pressão do olhar avaliativo, simplesmente deixar que as coisas aconteçam no seu tempo, singularmente, conforme as possibilidades de aprendizagem de cada um. REFERÊNCIAS ANAIS, Pontifícia Católica de Minas Gerais, II seminário de Educação Inclusiva/ Ações Inclusivas de Sucesso. Belo Horizonte/ Maio, 2004. BECKER, Marty; MORTON, Danelle. O Poder Curativo dos Bichos. 1a ed. São Paulo: Bertrand Brasil, 2003. MANTOAN, Maria Teresa Eglér, PRIETO, Rosangela Gavioli, ARANTES, Valéria Amorim, Organizadora. Inclusão escolar: pontos e contrapontos. SP: Summus, 2006. MEC/SEESP, Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Junho, 2007. VENTUROLI, Thereza. Por que amamos os animais: Dez mil anos de amizade. Veja São Paulo, 24 nov.2004. Especial. Disponível em: HTTP://veja.abril.com.br/241104/p_114a.html. Acesso em 10 junho 2007. VYGOTSKY, L.S. A Formação social da Mente. São Paulo: Editora: Martins Fontes 1991 ANEXOS Registros fotográficos das atividades realizadas durante a execução do projeto: " A Cinoterapia: Inclusão, socialização e aprendizagem de alunos com deficiência e alunos com necessidades especiais"