- Fundação Antonio Meneghetti

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Estado do Rio Grande do Sul
Município de Santa Maria
Escola Municipal de Ensino Fundamental Nossa Senhora do
Perpétuo Socorro
Relato de experiência
A Cinoterapia: Inclusão, socialização e aprendizagem de alunos
com deficiência e alunos com necessidades especiais
Denise Medina Fidler
Educadora Especial/Pedagoga
Psicopedagoga/Especialista em Educação Especial-AEE
Mestranda do PPGE/CE/Linha Educação Especial/UFSM
A Cinoterapia: Inclusão, socialização e aprendizagem de alunos com deficiência e
alunos com necessidades especiais
Denise Medina Fidler
APRESENTAÇÃO
A Cinoterapia apresenta-se com um recurso inovador que utiliza cães como meio
alternativo para o atendimento de pessoas com deficiências, oferecendo-lhes o benefício no
processo terapêutico, cognitivo e de socialização. O cão atua como instrumento facilitador,
reforçador, reabilitador global do indivíduo a ser abordado, envolvendo todas as suas áreas
do desenvolvimento físico, cognitivo e emocional, e as atividades promovidas são
planejadas e mediadas pelos profissionais envolvidos através de atividades lúdicas.
Venturoli (2004) cita em seu artigo estudos que demonstram que os animais de
estimação satisfazem várias necessidades humanas da saúde física e emocional ao
aprendizado intelectual e motor. Este mesmo autor afirma que pesquisas demonstram que
crianças que têm um animal de estimação por companhia desenvolvem mais rapidamente
suas habilidades cognitivas e sócio emocionais: os mascotes incentivam a comunicação a
responsabilidade das crianças e facilitam sua convivência com os demais membros do seu
grupo. Ajudam a fazer amizades e a encarar a vida com otimismo.
É importante ressaltar que vários estudos e pesquisas apontam aos benefícios desse
trabalho no processo de desenvolvimento das pessoas, sejam elas crianças, adultos ou
idosos, com algum tipo de deficiência ou não, e principalmente auxiliam nos seus aspectos
cognitivo e emocional.
Por ser uma abordagem muito útil e de grande eficácia para a melhora do indivíduo
em diferentes quadros deficiências, transtornos e patologias. Esta terapia poderá
representar um meio para o avanço dos alunos que são atendidos na Sala de Recursos
Multifuncionais.
Visto que o trabalho proporcionará novos estímulos, tentativas, novas
alternativas, realizações e conquistas. Assim, possibilitará mudanças de quadros funcionais
e consequentemente melhora da auto estima e avanços cognitivos propiciando autonomia e
maior qualidade de vida.
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
O projeto A Cinoterapia: Inclusão, socialização e aprendizagem de alunos com
deficiência e alunos com necessidades especiais é uma das propostas do Atendimento
Educacional Especializado realizado pela Educadora Especial na sala de recursos
multifuncional. Participam do projeto alunos com deficiências que frequentam o AEE no
contra turno da sala regular.
Estudos comprovam a eficácia da terapia, beneficiando a coordenação motora,
habilidades cognitivas e sócio emocionais, reduzindo a ansiedade, possibilitando atividades
educacionais e terapêuticas benéficas para todas as pessoas, mas em especial para alunos
com deficiência física, deficiência Intelectual e transtornos globais do desenvolvimento.
Conforme estudos conclusivos do III Seminário Internacional Sociedade Inclusiva
(2004), a Terapia Facilitada com Cães é provida de oportunidades, permitindo ao praticante
aprender novas tarefas e comportamentos, o que pode levar ao aumento do potencial para a
resposta adaptativa necessária na organização das tarefas cotidianas. Além da relação de
afeto que se desenvolve, do estímulo ao período sensório motor, do toque das mãos, do
sentir, do explorar o corpo do animal e observar suas reações, muitos conhecimentos são
adquiridos nessa interação homem-animal. É notória a inversão de papéis nessa construção
do relacionamento, quando o paciente passa a cuidar do animal estimulando a autonomia e
a responsabilidade. Cuidar da limpeza do animal e de seu habitat, cuidar da sua
alimentação, favorece o desenvolvimento do vínculo afetivo e do lidar com os mais diversos
sentimentos, da frustração à alegria.
O objetivo Geral do projeto, é o de possibilitar e ofertar aos alunos com deficiências e
necessidades especiais que frequentam a Sala de Recursos Multifuncionais, aperfeiçoarem
a reabilitação e
promover melhor qualidade de vida, procurando desenvolver suas
capacidades físicas, cognitivas, sociais,
afetivas e funcionais necessárias para seu
desenvolvimento global, permitindo a sua autonomia e controle de suas atitudes para a
efetiva inclusão social.
Tenho também como objetivo, a construção dos saberes envolvendo a leitura, a
escrita, a interpretação, os relacionamentos, a autonomia é, antes de qualquer coisa, fazer a
leitura do mundo em que vivemos, traduzindo o seu significado e significando o contexto e
as palavras que nos envolvem dia-dia, fazendo a relação de palavras, de atitudes e mundo.
É muito triste quando deparamos com a nossa realidade, vendo este número enorme
de crianças que estão avançando nos anos escolares e não conseguem ler, interpretar e
fazendo uma leitura mecânica sem significado, onde a nossa educação deve ser vivida e
construída uma história, onde cada um tem seu papel importante, pois somos produtores de
saberes e culturas, fazendo sempre as relações interpessoais, onde tudo acontece na ação
do sujeito, valorizando as relações de trocas, as diferenças, as formas de expressão e o
valor social implícito pela leitura, escrita e suas trocas com o outro.
Foi pensando em novas alternativas de aprendizagem e mediação das mesmas, com
seu significado e também em seu exercício diário que tenho muito interesse em relatar os
benefícios do projeto, trazendo a mediação dos cães dentro da sala de aula favorecendo a
inclusão dos alunos.
Há que se pensar também, nas atividades de motricidade ampla que beneficiam de
maneira muito enriquecedora no momento de desenvolvimento do processo de construção
de leitura e escrita do aluno, havendo um fortalecimento da destreza, equilíbrio,
ritmo,
organização, percepção, reflexão, uso das regras, enfim todo os pré requisitos para uma
fluente leitura e escrita dando significado e efetiva leitura do mundo e do que lhe cerca, ou
seja, a sua autonomia e independência para viver a sua própria vida. Isso é evidenciado a
todo momento pelos participantes do projeto.
Entre os demais objetivos, podemos citar: Utilizar a Cinoterapia como recurso
alternativo no atendimento de pessoas com deficiências; Utilizar o cão como mediador e
facilitador no processo de reabilitação; Estimular para que as relações se efetivem de
maneira prazerosa; Compartilhar com os alunos atividades lúdicas com os cães que
estimulem o equilíbrio, a fala, a expressão de sentimentos, a imaginação e o
autoconhecimento; Aprimorar ensinamentos e execução de regras, hábitos e atitudes
através dos cães para os alunos; Desenvolver a atenção e concentração nas atividades
propostas; Desenvolver atividades de mobilidade e autonomia; Promover uma melhor
socialização entre os alunos e o meio em que vivem; Auxiliar os alunos, e em especial aos
deficientes físicos, no que diz respeito à marcha, coordenação motora, percepção,
linguagem e aspectos psicológicos e emocionais; Trabalhar os alunos de modo holístico,
equalizando o físico, mental e social; Estimular e resgatar a auto estima, melhorando a
qualidade de vida; Desenvolver sua independência, auxiliando nas atividades da vida diária;
Utilizar o cão como um recurso inovador no processo de construção de leitura e escrita dos
alunos.
O projeto A Cinoterapia: Inclusão, socialização e aprendizagem de alunos com
deficiência e alunos com necessidades especiais vem acontecendo desde março de 2012
no espaço físico da Escola Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. A prática é reconhecida e
apoiada pela escola, fazendo parte do PPP- Projeto Político Pedagógico da mesma. A
atividade é uma parceria, proposta pela Educadora Especial, juntamente com a AVOCAssociação de Voluntários com Cães de Busca e Resgate- coordenada voluntariamente
pelo professor Dartanhan Baldez Figueiredo, o qual disponibiliza os animais que participam
das atividades.
As atividades são desenvolvidas de forma lúdica, procurando sempre estimular e
resgatar as relações interpessoais, autonomia, relações afetivas, cuidados com o outro,
buscando o bem estar e qualidade de vida para todos.
Os alunos que participam do projeto de Cinoterapia
possuem diagnóstico de:
Deficiência intelectual, TDAH, Deficiência Física, Síndrome de Edwards Mosaico e
Síndrome de Dowm.
O projeto é constantemente avaliado e reestruturado mediante os aspectos
observados durante a sua execução, mantendo os objetivos considerados positivos e que
tragam resultados satisfatórios e eliminando-se ou reformulando-se aqueles que não
estiverem contribuindo para atender as necessidades dos alunos.
O projeto também é avaliado pelos próprios alunos através de questionários, relato
oral ou produção escrita, se houve uma mudança em seus hábitos, atitudes, relações, auto
estima e autonomia. Se os alunos estão conseguindo observar, interagir, compartilhar e
socializar com o cão, com seus colegas, professores e sua família
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A terapia realizada com o auxílio de cães é uma atividade que vem sendo cada vez
mais utilizada no mundo, é muito utilizada como terapia para crianças com problemas
psicológicos, motores, problemas de relacionamento social ou afetivos.
Alguns estudos realizados com crianças registraram que aquelas que convivem com
cães são mais afetivas, com menor grau de agressividade e com um bom desempenho em
seu relacionamento social. Becker(2003) enfatiza que quando os animais interagem com as
crianças, seus sinais são bastante claros. A compreensão de que há uma criatura com
sentimentos diferentes afasta as crianças de seu ponto de vista egocêntrico. A compreensão
dessa diferença é à base do desenvolvimento da personalidade. Com o convívio com os
animais as pessoas tornam-se mais sociáveis, interagindo melhor com as outras pessoas.
A Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da educação Inclusiva tem
como objetivo o acesso, a participação e a aprendizagem dos alunos com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas escolas
comuns, orientando os sistemas de ensino para promover respostas às necessidades dos
alunos com necessidades especiais.
O trabalho de inclusão deve transcender as salas de recursos multifuncional, com o
objetivo de conhecer as condições de aprendizagem do aluno propondo novas maneiras de
mediar e intervir no processo de construção da aprendizagem, dando significado na
caminhada escolar do aluno.
Vygotsky (1991, p.149) afirma: "Assim como os instrumentos de trabalho mudam
historicamente, os instrumentos do pensamento também se transformam historicamente. E
assim como novos instrumentos de trabalho dão origem a novas estruturas sociais, novos
instrumentos do pensamento dão origem a novas estruturas mentais.(..).
Assim, o projeto de Cinoterapia busca trabalhar equilíbrio físico mental, social e
afetivo dos alunos publico alvo do AEE, embora também procure estender, em alguns
momentos, as atividades com todos os alunos da escola para que haja trocas, intervenções,
acolhimentos e respeito com o outro, ou seja, um envolvimento de toda escola, uma
atividade essencialmente inclusiva onde todos podem participar.
Apesar da cinoterapia – terapia mediada por cão –– ter tido sua origem
aproximadamente no século XVIII na Inglaterra, quando foi descoberto que o convívio com
cães trazia benefícios psicológicos, pedagógicos e sociais, as publicações sobre tal tema
ainda são diminutas, assim como as práticas empíricas.
A implementação desse projeto, é uma experiência que tem alcançado êxitos na
transformação da realidade e ao alcançar os objetivos aos quais se prontificou. Portanto, as
parcerias deveram ser fortalecidas e consolidadas para que juntos - professores, gestores,
alunos e comunidade- busquem alternativas favoráveis aos desafios que o espaço escolar
impõe aos alunos com deficiência. A Cinoterapia não deve estar centrada unicamente no
aluno com deficiência ou na deficiência em si, mas em como trabalhar na diversidade, que é
a expressão legítima da natureza e da condição humana. Por isso, o envolvimento dos
demais alunos da escola.
A construção de uma escola inclusiva tem início quando nos despimos de nossos
preconceitos e ficamos abertos às novas ideias, novas formas de pensar e agir em relação a
cada aluno, levando em conta as suas especificidades. Por isso, acredito muito no sucesso
desse projeto, e na importância de abranger essa prática para um número cada vez maior
de alunos, envolvendo toda a comunidade escolar.
Há muito a se considerar sobre a relação homem-animal. Os efeitos positivos
decorrentes da interação com os animais ainda merece muita pesquisa e essa investigação
deve ser desenvolvida com todas as implicações científicas.
Embora a cinoterapia ainda seja um tema novo, desconhecido pela maioria da
população brasileira, já são registrados resultados surpreendentes conseguidos por vários
profissionais como: psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais,
educadores especiais entre outros profissionais que vêm utilizando da terapia em
instituições, escolas, hospitais e consultórios. Resultados com bastante sucesso que talvez
técnicas tradicionais não conseguissem alcançar.
É importante ressaltar que o trabalho com o aluno com deficiência não se restringe
apenas à sala de recursos, e sim a todo o ambiente escolar, e vale lembrar:
“Uma das tarefas é identificar constantemente as intervenções e as
ações desencadeadas e ou aprimoradas para que a escola seja um
espaço de aprendizagem para todos os alunos. Isso exigirá novas
elaborações no âmbito dos projetos escolares, visando ao
aprimoramento de sua proposta pedagógica dos procedimentos
avaliativos institucionais e da aprendizagem dos alunos. É importante
ainda uma atenção especial ao modo como se estabelecem as
relações entre alunos e professores, além da constituição de
espaços privilegiados para formação de profissionais da educação
para que venham a ser agentes corresponsáveis desse processo.”
(PRIETO, 2006, p. 36).
A criação de redes de apoio, através de parcerias, trabalhos em equipe de maneira
colaborativa e cooperativa, facilitará e organizará um ambiente de aprendizagem conforme
os interesses, habilidades e necessidades dos alunos, levando-os à superação dos seus
limites.
Durante o trabalho que já foi realizado até o momento, foi possível observar muitos
avanços em relação aos alunos atendidos pelo projeto. A todo momento um lindo retorno do
trabalho é apresentado através das crianças, pois a cada encontro são visíveis e
comprovadas as mudanças ocorridas.
Alunos apresentando graves problemas em sua comunicação, não emitindo sua
linguagem através da fala, nem suas vontades e desejos, demonstraram um excelente
avanço, principalmente durante as brincadeiras de esconder o brinquedo do cão.
Aluno com deficiência física realiza as atividades que exigem movimentos e destreza
de seu lado esquerdo muito comprometido, através de escovação dos pêlos e carinhos no
cão. Desenvolvendo significativamente sua motricidade.
Alunos lendo pequenas histórias e também criando histórias para o cão ouvinte, pois
como o cão não faz intervenções, os alunos sentem-se seguros e autônomos em suas
leituras e criação de histórias. O que chama atenção nessa situação, é como o projeto pode
ser significativo em relação ao desenvolvimento da imaginação e da autonomia dessas
crianças.
Alunos com dificuldades de interagir
demonstrando autonomia na execução de
atividades, criando novos comandos e brincadeiras na interação com o cão.
Alunos com dificuldades de se expressar com um número reduzido em seu
vocabulário, sem muita compreensão do que é emitido, realizam comandos para o cão.
Esses fatos, demonstram que aos poucos, cada um com seu ritmo, as crianças vão tendo
estímulos que favorecem na potencialização de suas atitudes levando a superação das
suas dificuldades.
O convívio com cães também traz benefícios emocionais e afetivos aos envolvidos.
O amor incondicional e atenção, espontaneidade das emoções, redução da solidão,
diminuição da ansiedade, relaxamento, alegria, reconhecimento de valor, troca de afeto, são
alguns desses benefícios emocionais decorrentes da convivência com o cão.
Sendo assim, vou concluindo, sem querer de fato concluir. Ressaltando que todas as
atividades propostas devem ser realizadas de maneira lúdica dando significado de maneira
prazerosa, as descobertas sendo realizadas espontaneamente sem a pressão do olhar
avaliativo, simplesmente deixar que as coisas aconteçam no seu tempo, singularmente,
conforme as possibilidades de aprendizagem de cada um.
REFERÊNCIAS
ANAIS, Pontifícia Católica de Minas Gerais, II seminário de Educação Inclusiva/ Ações
Inclusivas de Sucesso. Belo Horizonte/ Maio, 2004.
BECKER, Marty; MORTON, Danelle. O Poder Curativo dos Bichos. 1a ed. São Paulo:
Bertrand Brasil, 2003.
MANTOAN, Maria Teresa Eglér, PRIETO, Rosangela Gavioli, ARANTES, Valéria Amorim,
Organizadora. Inclusão escolar: pontos e contrapontos. SP: Summus, 2006.
MEC/SEESP, Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva. Junho, 2007.
VENTUROLI, Thereza. Por que amamos os animais: Dez mil anos de amizade. Veja São
Paulo, 24 nov.2004. Especial. Disponível em: HTTP://veja.abril.com.br/241104/p_114a.html.
Acesso em 10 junho 2007.
VYGOTSKY, L.S. A Formação social da Mente. São Paulo: Editora: Martins Fontes 1991
ANEXOS
Registros fotográficos das atividades realizadas durante a execução do
projeto: " A Cinoterapia: Inclusão, socialização e aprendizagem de alunos com
deficiência e alunos com necessidades especiais"
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