O reflexo “unken” e a coloração aposemática nos sapos-de

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O reflexo “unken” e a coloração aposemática nos sapos-de-barrigavermelha (Melanophryniscus Gallardo, 1961) são estratégias
defensivas eficientes contra predadores visualmente orientados?
Debora Wolff Bordignon¹, Ismael Verrastro Brack², Michelle Abadie², Valentina Zaffaroni Caorsi¹ Márcio Borges-Martins¹.
1- Depto. de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2- Depto. de Ecologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected].
Introdução
Resultados
Organismos que possuem substâncias químicas tóxicas contra
predadores e pátogenos podem exibir colorações conspícuas como sinais
visuais de toxicidade. Associadamente a esses sinais, podem exibir
posturas características importantes para sua defesa. O reflexo unken é
uma postura existente em diversos anfíbios, em que os indivíduos
arqueiam o corpo de modo a exibir coloração aposemática ventral. Tal
comportamento e padrão de coloração são exibidos pelas espécies do
gênero Melanophryniscus como prováveis mecanismos de defesa,
contudo, ainda não existem estudos testando a sua eficiência.
Dos modelos distribuídos na floresta, 10,6% foram atacados, sendo
50,5% por aves. Não houve diferença estatística na preferência de ataques
por nenhum tratamento dos modelos (χ² = 4,59; p = 0,10;), tipo de fundo
(χ² = 3,42; p = 0,06) ou interação entre eles (χ² = 2,01; p = 0,37). Além
disso, não houve tentativa de predação por aves nos modelos colocados
sobre o sítio reprodutivo.
Objetivo
Avaliar experimentalmente, com modelos de massa de modelar, se a
coloração conspícua dos membros e a posição de reflexo “unken” em uma
espécie de Melanophryniscus (M. cambaraensis) funcionam como sinal
aposemático efetivo contra predadores visualmente orientados em
condições naturais.
Tabela 1. Número total de modelos atacados e não atacados por aves no interior da
floresta, assim como a taxa de ataque para cada tratamento do modelo e tipo de fundo
em que foram colocados.
Tratamento do
Fundo
Branco
Serapilheira
Branco
Serapilheira
Branco
Serapilheira
7
12
5
4
5
13
126
122
130
128
130
122
0,053
0,089
0,037
0,030
0,037
0,096
Atacados por
aves
por aves
Taxa de ataques
O estudo foi realizado na Floresta Nacional de São Francisco de Paula,
Rio Grande do Sul, de 30/5 a 06/06/2016, utilizando-se 900 modelos de
massa de modelar de Melanophryniscus cambaraensis, diferenciados em
três tratamentos: (a) corpos e extremidades verdes em posição normal, (b)
corpos e extremidades verdes em posição de reflexo unken e (c) corpos
verdes e extremidades vermelhas em posição de reflexo unken (Fig.1).
Foram distribuídos 810 modelos em área de mata adjacente ao sítio
reprodutivo da espécie a partir de 18 transecções, formadas por 15 blocos
com três diferentes tratamentos. Os 90 modelos restantes foram
distribuídos sobre o sítio reprodutivo. A fim de remover efeitos crípticos
dos modelos, metade das amostras de cada tratamento foi colocada sobre
placas plásticas brancas. Após 72h, os modelos foram recolhidos,
fotografados e o número de evidências de ataques foi registrado. Foi
utilizado um modelo linear generalizado da família binomial para
determinar se houve variação na taxa de ataques, e se essa foi
influenciada pelo tratamento do modelo, cor de fundo (serapilheira ou
branco) e interação entre eles. Todas as análises estatísticas foram
realizadas no programa R versão 3.3.0 para Windows.
“Unken” vermelho
Modelo
Não atacados
Material e Métodos
“Unken” verde
Normal
Figura 2. Exemplos de modelos de massa de modelar atacados por (A) ave, reconhecida por
impressões de bico em forma de “U” ou “V”, (B) mamífero, reconhecido por marcas
características de dentes (C) artrópode, reconhecido por impressões de mandíbulas ou
pequenos entalhes e (D) não-identificado.
Discussão
Figura 1. Indivíduos de Melanophryniscus cambaraensis (A) em posição normal e (B) em
posição de reflexo “unken” exibindo a coloração das extremidades dos membros. Modelos
de massa de modelar da espécie (C) verdes em posição normal, (D) com extremidades
verdes em posição de reflexo “unken” e (E) com extremidades vermelhas em posição de
reflexo “unken”.
Nossos dados indicam que apenas a presença da coloração vermelha
associada à posição fixa de reflexo unken não foi suficiente para evitar o
ataque de predadores. É possível que o sinal aposemático da espécie
esteja relacionado a uma série de fatores atuando em conjunto,
envolvendo o movimento de reflexo unken unido a posterior exibição da
coloração de alerta e a presença de substâncias tóxicas. Além disso, supõese que possa haver diferenças na aprendizagem de predadores
visualmente orientados em relação a agregação dos indivíduos, uma vez
que não houve tentativas de predação por aves no sítio reprodutivo de M.
cambaraensis. Portanto, estudos de observação sistemática e
experimental em condições naturais são fundamentais para a
compreensão dos padrões de predação e dos comportamentos defensivos
encontrados para o gênero Melanophryniscus, assim como para diversas
outras espécies dentro de anfíbios.
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