um estudo com base na Pesquisa Nacional de Saúde (2013)

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Percepção do Estado de Saúde e Comportamento de risco: um
estudo com base na Pesquisa Nacional de Saúde (2013)
04 de maio de 2016.
1. INTRODUÇÃO
As Doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) constituem um problema
grave de saúde sendo responsáveis por 72% das causas de morte da população
(BRASIL, 2011). A adoção de comportamentos de risco à saúde como inatividade
física, fumo, dieta inadequada e ingestão de bebidas alcoólicas tem sido apontada pelo
Ministério da Saúde como as principais causas das DCNTs.
No âmbito econômico, essas doenças surtem impactos diretos na economia, seja
com gastos em tratamento ou queda da produtividade. As doenças crônicas apresentamse entre as principais causas de internações hospitalares no Brasil, incorrendo em custos
crescentes ao sistema de saúde pública (BRASIL, 2011). No que diz respeito à queda da
produtividade, estima-se uma perda de aproximadamente U$$ 9,3 bilhões, para o ano de
2015 no Brasil (Abegund e Stanciole, 2006).
Os fatores de riscos como má alimentação, sedentarismo, o hábito de fumar e
ingestão de bebidas alcóolicas, podem ser monitorados pelos estilos de vida adotados e,
partem das decisões individuais com respeito à saúde e modo de levar a vida.
Os trabalhos de Segovia et al.(1989) e Belloc e Breslow (1972) demostram que
indivíduos que seguem boas práticas de saúde relatam melhores condições de saúde,
estando a percepção do estado de saúde associada à adoção de comportamentos. Dentre
os achados na literatura brasileira estão os trabalhos de Barros e Nahas (2001), que
analisaram o comportamento de risco, auto percepção do estado de saúde e percepção
do estresse entre trabalhadores da indústria; Barreto e Figueireido (2009) abordaram a
associação entre o relato de doenças crônicas com comportamentos de riscos e auto
avaliação da saúde, segundo gênero e; Barros et al. (2006) que analisaram o padrão da
saúde auto avaliada como ruim, segundo características demográficas, sociais,
comportamentos relacionados à saúde e presença de morbidades referidas.
Por se tratar de fatores modificáveis há um crescente interesse na área de
políticas públicas em promover incentivos que gerem mudanças no comportamento para
que as pessoas se aproximem cada vez mais do polo positivo da saúde.
Nesta perspectiva, com o objetivo de preposição às políticas públicas de saúde,
buscou-se entender a relação entre auto percepção do estado de saúde e a prevalência de
comportamentos de riscos e fatores sociodemográficos, utilizando-se dos dados atuais
da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2013.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Os dados são provenientes da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada em
2013 pelo Ministério da Saúde e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para fins de cômputo como variáveis de impacto considerou-se: o consumo bom
quem declarou consumir frutas, verduras e hortaliças ao menos duas vezes ao dia, todos
os dias da semana; sedentários àqueles que declararam não praticar atividades físicas ou
esportes nos últimos três meses anteriores à entrevista; abusa de bebidas alcoólicas
indivíduos que afirmaram consumir bebidas alcoólicas uma ou mais vezes por mês e
foram afirmativos ao consumo de 5 ou mais doses de bebida alcoólica em uma única
ocasião nos últimos 30 dias, para homens e, 4 ou mais doses para mulheres; e por
último foram considerados fumantes àqueles que afirmaram fumar diariamente e fumar,
mas, menos que diariamente.
A variável de interesse (dependente) refere-se a auto percepção do estado de
saúde. A pergunta que se faz a respeito é: "Em geral, como o(a) Sr(a) avalia a sua
saúde?" Essa variável foi dicotomizada em duas categorias, sendo considerado uma
auto avaliação positiva do estado de saúde aqueles que reportaram seu estado de saúde
como "Muito bom ou "Bom" e uma auto avaliação negativa para as respostas "Regular",
"Ruim" e "Muito Ruim".
Além disso, foram utilizadas três variáveis demográficas (sexo, raça e
escolaridade) e um índice socioeconômico foi construído a partir das características dos
domicílios através da Teoria de Resposta ao Item (TRI).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O impacto das variáveis demográficas e das variáveis que representam
comportamentos sobre a percepção subjetiva do estado de saúde encontra-se na tabela 2
abaixo. De uma forma geral, os resultados foram consistentes com os apresentados pela
literatura.
20-29
Variáveis de impacto
consumo_bom
sedentario
abusa_bebidas_alcoolicas
0,202**
(0,076)
-0,024
(0,050)
-0,065
(0,060)
Grupos de idade
30-39
40-49
0,119**
(0,060)
-0,199***
(0,039)
0,072
(0,049)
0,105*
(0,058)
-0,197***
(0,041)
0,174***
(0,053)
50-59
0,093***
(0,026)
-0,222***
(0,018)
0,246***
(0,025)
fumante
Variáveis de controle
mulher
branco
idse
tem_ensino_superior
Constante
-0,199**
(0,072)
-0,107*
(0,057)
-0,245***
(0,052)
-0,117***
(0,025)
-0,280***
(0,050)
0,092**
(0,047)
0,109***
(0,021)
0,248***
(0,067)
0,585
(0,101)
5.372
0,000
-0,195***
(0,038)
0,143***
(0,038)
0,171***
(0,017)
0,225***
(0,048)
0,124
(0,086)
7.748
0,000
-0,223***
(0,038)
0,122***
(0,037)
0,183***
(0,016)
0,322***
(0,050)
-0,265**
(0,088)
6.553
0,000
-0,166***
(0,017)
0,044**
(0,016)
0,114***
(0,007)
0,397***
(0,024)
0,059
(0,038)
31.571
0,000
Número de Observações
Prob>F
Fonte: PNS 2013 (IBGE)
Obs.: Estimações usando desenho amostral complexo
*** Significante a 1% ; ** Significante a 5%; *Significante a 10%.
Da associação entre percepção do estado de saúde e características
sociodemográficas o índice de desenvolvimento econômico apresentou o sinal esperado
e foi estatisticamente significante, sugerindo que pessoas pertencentes às camadas
inferiores de renda apresentam pior estado subjetivo de saúde quando comparadas as
pessoas de status social mais elevado. A cor/raça também se mostrou significante,
indicando uma melhor percepção entre aqueles que se declaram brancos. Verifica-se
que pessoas com ensino superior completo apresentam scores mais elevados na
avaliação subjetiva do estado de saúde.
O consumo regular de alimentos saudáveis como frutas, verduras e hortaliças
tem impacto positivo e significativo sobre a boa percepção do estado de saúde ao longo
de toda faixa etária de idades.
Pessoas insuficientemente ativas tendem a reportar uma pior percepção do
estado de saúde e o impacto tende a ser maior conforme o envelhecimento.
Relativamente ao hábito de tabagismo, encontrou-se um impacto significativo e
negativo sobre a percepção do estado de saúde para todos os grupos de idade, sendo
maior entre aqueles com 40 a 49 anos.
Assim como apresentado em outros estudos, observou-se uma associação
positiva e significativa entre a percepção positiva do estado de saúde e o
comportamento de risco do consumo abusivo de álcool para os grupos de idade mais
avançada.
4. DISCUSSÃO
Entre os comportamentos destacam-se o hábito de fumar e a falta da prática de
atividades físicas interferindo de forma negativa na percepção de saúde, e o consumo de
alimentos saudáveis (frutas, legumes e verduras) e o uso de bebidas alcoólicas de forma
positiva. Apesar do uso do álcool estar associado às piores condições de saúde, esse
resultado é também reportado em outros estudos.
Esses resultados pretendem contribuir para o debate a cerca das medidas de
prevenção contra as doenças crônicas não transmissíveis, responsável por um elevado
número de óbitos e as quais as curas dependem em grande parte dos comportamentos
adotados pelos indivíduos no dia-a-dia.
Os próximos passos a serem dados é analisar os efeitos marginais na média e
analisar o perfil característico de cada uma das cinco regiões do país.
REFERÊNCIAS
ABEGUNDE, D; STANCIOLE, A. [Working Paper] An estimation of the economic
impact of chronic noncommunicable diseases in selected countries. World Health
Organization: WHO Press. 2006.
BARRETO, S; FIGUEIREDO, R. Doença crônica, auto avaliação de saúde e
comportamento de risco: diferença de gênero. Rev Saúde Pública 2009.
BARROS, M; NAHAS, M. Comportamentos de risco, auto avaliação do nível de saúde
e percepção de estresse entre trabalhadores da indústria. Rev Saúde Pública 2001.
BARROS, M; ZANCHETTA, L; MOURA, E; MALTA, D. Self Rated health and
associated factor, Brazil, 2006. Rev Saúde Pública. 2009.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de
Análise de Situação de Saúde. Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das
doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no Brasil 2011-2022. Brasília: Ministério
da Saúde; 2011.
BELLOC, NB; BRESLOW, L. Relationship of physical health status and health
practices. Preventive Medicine, I, 1972.
SEGOVIA, J; BARTLETT, R; EDWARDS, A. The association between self-assessed
health status and individual health practices. Can J Public Health, 1989.
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