Sou paciente do Hospital Sarah Kubitschek e acredito que as

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http://www.pbh.gov.br/smsa/biblioteca/geas/assistenciadomiciliar.pdf
Sou paciente do Hospital Sarah Kubitschek e acredito que as
orientações da instituição estejam sendo utilizadas de forma equivocada e
porque não dizer muito perigosa, c/ potencial de prejudicar aquelas
pessoas que recorrem à Secretaria Municipal de Saúde p/ solicitar
material de uso contínuo p/ cateterismo vesical de alívio, indispensável p/ a
garantia da saúde, assim como para evitar agravamentos no trato urinário.
É certo que algumas rotinas/protocolos fazem parte do serviço de
assistência à saúde, e isto adquire um peso ainda maior quando se aponta
como fonte (principal) as experiências do Hospital Sarah Kubitschek,
referência mundial no tratamento de pessoas com lesão medular. E tanto
maior é o potencial do perigo quando se identifica o desprezo de
experiências envolvendo outro universo de pessoas que realizam
cateterismo de alívio diariamente e que não se adaptam à utilização
extremamente reduzida de materiais/insumos p/ o referido cateterismo.
Em pesquisa realizada sobre o assunto, especialmente no tocante
aos deveres do poder público municipal consistente no fornecimento de
material de uso contínuo e insumos indispensáveis p/ o cateterismo
vesical, ​
fui surpreendido com a orientação genérica e quase
dogmática no sentido de que são absolutamente suficientes
apenas 07 sondas uretrais de alívio e 2 tubos de lidocaína gel 2% p/
realização MENSAL do procedimento.
Se por um lado existem pacientes/cadeirantes que, de fato, realizam
o procedimento c/ aquele quantitativo, de outro é sabido que ​
e xiste um
universo inquestionável de cidadãos com lesão medular p/ os quais
não se aplica a versão, digamos assim, econômica no uso daqueles
materiais​
. E isto ocorre pelas mais diversas razões verificadas pela
equipe médica ou médico responsável pelo atendimento, levando-se em
consideração a realidade do lesado medular. Seria ótimo, do ponto de
vista financeiro do paciente e do poder público, o uso padronizado e
reduzido dos produtos para todo e qualquer paciente que careça de
cateterismo de alívio​
. A realidade, contudo, possui outro colorido.
Depois de 10 anos de lesão medular e troca de experiências c/
outros usuários de cateterismo de alívio, é fácil afirmar que os
quantitativos indicados como protocolo padrão no link mencionado para
realização do cateterismo intermitente difere da realidade de muitos
pacientes que enfrentam diariamente essa rotina. No meu caso, assim
como de muitos outros milhares de pacientes do próprio Hospital Sarah, 2
tubos de lidocaína gel 2% e 7 Sondas uretrais não são suficientes até
mesmo para realização do procedimento orientado pelo período de UMA
SEMANA. Afinal de contas, expressivos os casos de pacientes para os
quais não se mostra suficiente e muito menos indicado apenas passar a
lidocaína gel 2% na extremidade ou ao longo da sonda a ser introduzida. ​
É
um equívoco grave orientar que qualquer paciente deva seguir esse
procedimento que, embora econômico e indicado para alguns
casos, p/ milhares de outros pacientes pode significar o
comprometimento do trato urinário, ferimentos no canal da uretra,
assim como ferimentos no esfíncter da bexiga.
É lógico que, como todo e qualquer paciente com lesão na medula e
diante da necessidade de realização do cateterismo de alívio, como fator
indispensável para a manutenção do bem-estar e para evitar o
agravamento da saúde, várias tentativas foram realizadas com a utilização
da prática, digamos assim, mais econômica com a utilização de uma
quantidade modesta da lidocaína, assim como c/ o reaproveitamento das
sondas. E apesar de todos os cuidados, sofri por meses com infecções
urinárias de repetição, levando-me à nova internação no Hospital Sarah
Kubitschek em 2006. ​
Em outras palavras, a orientação apresentada
no link acima não é indicada para todos os pacientes, e porque não
dizer para a grande maioria deles no ato de economizar a lidocaína
para introduzir a sonda​
. A indicação indiscriminada dessa orientação
pode comprometer seriamente a saúde do paciente que precisa fazer o
uso desse procedimento no ambiente residencial, sem qualquer apoio
especializado para o caso de algum incidente. E além do comprometimento
da saúde, é claro que também ocorrerá o comprometimento da integração
social do cidadão/paciente que, enquadrando-se no conceito de pessoa
com deficiência nos termos da Constituição Federal, deve ser alvo de
atenção especial. É claro também que há outra séria consequência: o
surgimento de outras patologias e o retorno do paciente para o Sistema
Único de Saúde, onerando-o ainda mais, numa espécie de círculo vicioso
que poderia simplesmente ser evitado. E isto para não se fazer referência
a sérias violações à dignidade do cidadão e à sua integridade física!
Como o custo de vida de um cadeirante é relativamente mais
elevado que os demais cidadãos não portadores de diagnóstico crônico,
tendo em vista os cuidados especiais exigidos no cotidiano dessa parcela
da população, seria no mínimo estranho acreditar que o usuário do
cateterismo de alívio não buscasse optar pelos meios mais econômicos
para garantir o seu bem estar. Afinal, não se está falando de mera opção e
sim daquela melhor indicada para o paciente considerando as
peculiaridades e as consequências de sua lesão.
Na verdade, o que se observa é a postura de algumas secretarias
municipais de saúde, na equivocada utilização de algumas experiências do
Hospital Sarah para ​
o fim de generalizar (e impor) o quantitativo
mínimo dos insumos/medicamentos a serem dispensados para os
pacientes que dele necessitam. Foram deixadas de lado aquelas
experiências do próprio Sarah consistentes na imperiosa
necessidade de utilização de uma quantidade maior de
lidocaína/sonda, durante o cateterismo, com o fim de obviar a
melhor lubrificação e trânsito da sonda, bem como p/ reduzir a
possibilidade de lesões e ferimentos no canal da uretra e esfíncter
da bexiga​
. Seguramente a segunda experiência representa a melhor
indicação na medida em que implica o menor número possível de
consequências negativas a longo prazo, sendo mais segura para o bem
estar do paciente.
No meu caso particular, faço uso diário de três tubos de lidocaína
por dia já aplicando algum economia no cateterismo intermitente realizado
a cada 4h. Também não faço reutilização das sondas vesicais, pois,
como já relatado, tornou-se extremamente favorável para as ocorrências
de infecção urinária. P/ cada cateterismo, tenho que fazer o uso de uma
sonda nova. Gostaria muito de economizar na utilização de produtos, mas
não obtive êxito nas tentativas empreendidas.
Acredito que o Sarah deva fazer referência em seu portal às
experiências consistentes na necessidade de um volume mensal superior
daqueles questionados como protocolo único e indicado para qualquer
paciente que precisa fazer uso do cateterismo de alívio.
Sendo referência internacional para tratamento de pacientes com
lesão medular, não se pode permitir que apenas uma das experiências da
instituição Sarah seja utilizada como a única a ser aplicada para qualquer
paciente usuário do cateterismo de alívio, em detrimento da continuidade
do melhor tratamento a ser dispensado em ambiente residencial pelo
paciente e seu(s) cuidador(es); em detrimento, sobretudo, da incolumidade
física do paciente, de sua dignidade!
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