DOENÇAS VIRAIS: UM DIÁLOGO SOBRE A AIDS NO PROEJA Graciane Marchezan do Nascimento Lopes Instituto Federal Farroupilha – Câmpus Alegrete Introdução Há um grande número de doenças transmissíveis que causam males à população. Destas, muitas são causadas por vírus. Existem doenças virais que podem ser evitadas por meio da vacinação. Mas nem todas podem ser combatidas por este recurso. Algumas são incuráveis e os seres humanos que as adquirem ficam dependentes de medicamentos por toda a vida. A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, conhecida por AIDS, é uma destas doenças. De acordo com Duarte, “sua disseminação perturba médicos, governo e população, pois o número de casos registrados de AIDS aumenta diariamente” (2005, p. 139). Analisando a história e acompanhando as pesquisas recentes sobre a evolução de algumas doenças virais, percebe-se que a AIDS é uma das doenças que necessita ser trabalhada com os alunos durante as aulas. Devido à evolução da ocorrência destas doenças virais e por fazer parte da realidade da nossa região torna-se uma necessidade o desenvolvimento deste tema nas aulas de Biologia. Partindo deste princípio, foi realizada em sala de aula uma prática pedagógica que objetivou proporcionar o diálogo e a problematização sobre o tema doenças virais, tendo como foco o estudo da AIDS. Esta prática foi desenvolvida com os alunos do Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA) do Instituto Federal Farroupilha – Câmpus Alegrete (IFF-CA). Para o preparo destas aulas, foi aplicado um questionário aos alunos, o que possibilitou ter uma noção sobre o conhecimento dos estudantes com relação às doenças virais. Também, foi possível verificar quais doenças eram de maior interesse para estudo. Conforme Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2009), é necessário saber o conhecimento prévio do educando e trabalhá-lo no decorrer do processo da aprendizagem. Ao desenvolver esse conhecimento é preciso uma dinâmica que permita sua reflexão e problematização. Neste contexto, as aulas foram desenvolvidas segundo a metodologia dos três momentos pedagógicos. Esta prática é estruturada em três etapas: problematização inicial, organização do conhecimento e aplicação do conhecimento. O desenvolvimento do trabalho sobre AIDS Existem inúmeras doenças virais que assolam a população mundial. A AIDS faz parte deste grupo de doenças causadas por vírus que tem uma vasta disseminação pelo mundo. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais para a Saúde (1999), nas últimas décadas algumas questões adquiriram maior visibilidade na sociedade, o que forçou a escola a agregar assuntos como a AIDS em seu currículo. O tema doenças virais, com foco na AIDS, foi desenvolvido durante o mês de Agosto de 2013, totalizando cinco aulas da disciplina de Biologia. As aulas foram desenvolvidas no Curso de Manutenção e Suporte em Informática e no curso Técnico em Agroindústria, ambos na modalidade PROEJA do Instituto Federal Farroupilha – Câmpus Alegrete. Os estudantes receberam um questionário com questões sobre doenças virais e cuidados com a saúde. Após análise das respostas do questionário, os pontos mais relevantes citados pelos alunos foram selecionados para realização de atividades em aula. Estas atividades foram desenvolvidas com base na metodologia dos três momentos pedagógicos (3MP) que, segundo Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2009), são estruturadas em problematização inicial, organização do conhecimento e aplicação do conhecimento. No primeiro momento, se deu a problematização inicial, onde os alunos foram organizados em grupos e receberam uma ficha contendo questões sobre a AIDS. Os alunos discutiram e responderam as questões nos grupos, após anotaram suas respostas. Sendo que cada grupo expôs para a turma as suas conclusões. Em um segundo momento, ocorreu a organização do conhecimento, quando foi desenvolvido um jogo didático. Cada grupo recebeu dezoito fichas que continham textos sobre sintomas, prevenção, medicação, histórico, meios de transmissão, relatos de pessoas que adquiriram a AIDS e expansão desta nos países da América Latina. Durante o jogo, ocorreu a leitura das fichas. Algumas continham informações incorretas e estas foram identificadas durante o jogo. A cada texto lido, os grupos pronunciavam-se, dizendo se a informação lida era verdadeira ou não e justificando- a. As fichas que foram respondidas de forma incorreta eram separadas das demais para posterior análise. No decorrer da atividade, surgiram diversas discussões e dúvidas, ocasionando a manifestação dos alunos. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais para a Saúde (1999), o professor deve ter o papel de motivador, colocando problemas presentes através de estratégias que visem à discussão com os alunos. Com base nessa premissa, no final do jogo, as fichas que foram separadas e algumas questões que se destacaram causando discussões ao longo da atividade, foram revistas e analisadas. Neste momento, ocorreu a interferência do professor por meio de explanação do tema desenvolvido e os alunos fizeram colocações de problemas que foram surgindo de acordo com a discussão. Segundo Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2009, p.199): Em outros termos: é para problematizá-lo que o professor deve apreender o conhecimento já construído pelo aluno; para aguçar as contradições e localizar as limitações desse conhecimento, quando cotejado com o conhecimento científico, com a finalidade de propiciar um distanciamento crítico do educando, ao se defrontar com o conhecimento que ele já possui, e, ao mesmo tempo, propiciar a alternativa de apreensão do conhecimento científico. Busca-se a desestabilização das afirmações dos alunos. É a desestruturação das explicações contidas no conhecimento de senso comum dos alunos que se pretende inicialmente, para logo após formular problemas que possam levá-los à compreensão de outro conhecimento, distintamente estruturado. Os alunos são instigados a colocarem suas ideias e estas quando entram em confronto com os conceitos, fazem com que o aluno questione, buscando novas respostas. Essas contradições foram observadas durante as discussões. Diante desta prática, constatou-se que, para a realização das aulas, é necessário buscar metodologias que visem à discussão e o envolvimento dos alunos, pois só assim a reflexão torna-se possível. Durante o desenvolvimento do terceiro momento pedagógico, os grupos retomaram as questões iniciais do primeiro momento, podendo reformulá-las. Após, receberam fichas contendo textos de periódicos e questões que versavam sobre as descobertas relacionadas ao vírus da AIDS e relatos de alguns casos de pessoas que se submeteram a tratamentos com medicação que ainda não havia sido testada em seres humanos. A partir deste, formularam outros problemas e apresentaram suas conclusões à turma. Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais para a Saúde (1999, p. 263): Para isso, é necessária a adoção de abordagens metodológicas que permitam ao aluno identificar problemas, levantar hipóteses, reunir dados, refletir sobre situações, descobrir e desenvolver soluções comprometidas com a promoção e a proteção da saúde pessoal e coletiva, e, principalmente, aplicar os conhecimentos adquiridos. A prática pedagógica deve ter um comprometimento com a aprendizagem do educando de modo que proporcione atividades que permitam a reflexão e a discussão sobre o tema proposto. A metodologia utilizada deve visar à problematização durante as aulas, fazendo com que os educandos busquem novos conceitos. A partir desta metodologia, os alunos discutiram os textos propostos em aula e questionaram os colegas sobre o assunto. Considerações finais Para a prática pedagógica alcançar um resultado satisfatório onde os alunos se envolvam com o tema proposto, deve-se utilizar uma metodologia que busque o diálogo com os educandos. A atividade estruturada problematizou sobre doenças virais, levando os alunos a refletirem sobre antigos conceitos construídos ao longo de suas trajetórias. Os educandos envolveram-se nas discussões no decorrer das atividades. No primeiro momento pedagógico, observou-se que alguns alunos do PROEJA da Agroindústria tinham esse assunto como conversa proibida. Este fato foi evidenciado na apresentação das conclusões do primeiro momento pedagógico. Ao longo do segundo momento pedagógico, estes alunos acompanharam as discussões, fazendo suas colocações para a turma ao longo do jogo. Neste momento, surgiram dúvidas e diversas perguntas sobre o tema em estudo. No terceiro momento pedagógico, os grupos refletiram sobre as questões colocadas no primeiro momento e algumas das conclusões apresentadas anteriormente foram modificadas. A leitura de textos de periódicos possibilitou aos alunos estarem informados sobre as pesquisas e novas descobertas com relação a AIDS, assim como questionar sobre estas pesquisas realizadas e seus métodos. Referências BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: saúde. Brasília: Ministério da Educação, 1999. DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J. .A; PERNAMBUCO, M. M. Ensino de ciências: fundamentos e métodos. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2009. 364p. DUARTE, R. G. Sexo, sexualidade e doenças sexualmente transmissíveis. 2 ed. São Paulo: Moderna, 2005. 168p.