Sensual, promíscuo e zen Penha Emerick* O muriqui ou mono carvoeiro (Brachyteles hypoxanthus) é um macaco raríssimo, uma espécie gregária e pacífica, de alta promiscuidade e grande longevidade - 20 anos, aproximadamente. O macho pode atingir até 15kg e 1m de comprimento, da cabeça às patas inferiores, sem contar o 1,2 m de cauda que funciona como um quinto membro, ajudando-o a equilibrar-se com rapidez e graça pelos galhos mais altos das árvores. As mãos, sem o polegar oponível, como o dos humanos, facilitam ainda mais esse balé nas alturas. A palavra muriqui significa gente tranqüila, na língua tupi. Há quem atribua a tranqüilidade do muriqui à sua grande performance sexual. Ele parece estar sempre de bem com a vida. Sua face demonstra serenidade e satisfação permanente, a sensação de viver sempre extasiado. A sociedade dos muriquis constitui quase que uma exceção entre os macacos. A disputa dos machos pela propagação de seus genes se dá pela grande performance sexual da espécie e pela grande produção e capacidade de armazenamento do esperma, pois os seus testículos são descomunais. Nesta sociedade promíscua a evolução criou uma forma quase que totalmente eficiente de garantir o sucesso reprodutivo ao macho que copula: o esperma do muriqui tem a propriedade de solidificar-se na porção inicial da vagina. Assim, cria um tampão que impede novas cópulas com outros pretendentes. Porém, as fogosas muriquis habilmente desenvolveram a capacidade de remover o incômodo tampax, possibilitando uma nova cópula. As fêmeas gozam de grande liberdade na sociedade muriqui. Têm quantos parceiros desejarem e são elas que mais perambulam e mudam de grupo quando desejam. São responsáveis pelo transporte dos filhotes, carregados agarrados ao ventre por 8 meses. Cabe aos machos o dever de manter seus grupos coesos e suas alianças, tal qual os chimpanzés do Velho Mundo. Não há agressão na sociedade muriqui e os machos são amigos e coesos. Estes, quando ameaçados, se abraçam, formando um enorme bloco que afugenta o agressor. A espécie forma grupos de até 50 indivíduos: 30% de machos adultos, 50% de fêmeas adultas, 10% jovens e 10% de filhotes. O grupo caminha de forma diferente dos demais macacos: os machos ficam no centro e as fêmeas e os filhotes ao redor. O grupo se dispersa na procura do alimento, mantendo o contato pela vocalização. A alimentação dos muriquis constitui-se de 40% de folhas, 40% frutos, 10% de flores e sementes e 10% de insetos.