1 FORMAÇÃO PERMANENTE E CONTINUADA DE TUTORES EM EDUCAÇÃO ABERTA Curitiba – PR – Março de 2014 Antonio Siemsen Munhoz [email protected] Armando Kolbe Júnior [email protected] Mariane Regina Kraviski [email protected] Aline Fernanda Santos de Moraes [email protected] Experiência inovadora Educação superior Métodos de pesquisa em EAD e transferência de conhecimento Relatório de estudo concluído RESUMO A formação básica diferenciada de tutores é um objetivo perseguido pelas instituições de ensino que oferecem cursos na modalidade EAD. Ela é colocada como necessária para que estes profissionais tenham condições de: despertar a atenção; engajar; manter constante a motivação e; envolver o aluno no ambiente de aprendizagem. A partir desta motivação foi desenvolvido um projeto de formação com imersão total do participante no ambiente virtual e utilização da modalidade e-learning, conjugada com aprendizagem rápida e aberta, sendo cada módulo configurado como um MOOC – Massive Open Online Course, com recursos educacionais disponíveis para os participantes. Este trabalho apresenta a grade curricular montada e o resultado da participação de um grande número de tutores em curso piloto, como um universo representativo que possibilitou validar a proposta, com utilização de enquetes e questionários. PALAVRAS-CHAVE: Formação de Tutores. Educação a distância; Tecnologia Educacional; 2 1. Introdução Este trabalho apresenta os resultados de uma proposta de formação básica de tutores. Nogueira e Both (2012) destacam esta atividade como uma das mais importantes, em estudos centrados em ambientes criados para oferta de cursos na modalidade EAD. Na visão de diversos pesquisadores (Gonzales, 2004. Amaral e Rossini, 2009. Santos, 2010. Moreira, 2011. Faria, 2014.) a atividade de tutoria é elemento de destaque. Os elementos direcionadores para avaliação foram: o uso de e-learning com imersão total no ambiente virtual; a abordagem da aprendizagem aberta e; a utilização dos MOOCS. Todos eles métodos inovadores contrapostos aos ambientes tradicionais de ensino e aprendizagem. O uso do e-learning com imersão total no ambiente virtual teve o objetivo de levar o tutor a vivenciar o ambiente no qual vai trabalhar. Segundo Moran, Masetto e Behrens (2000) é uma experiência fundamental para que o professor aprenda a atuar no ambiente de forma confortável, e com conhecimento das dificuldades que os alunos podem encontrar. Foram oferecidos aos participantes: vídeos de acompanhamento a um conjunto de materiais didáticos; utilização de fórum de discussão como forma de interação assíncrona entre os participantes; utilização de rádio Web; proposta de processo de avaliação formativa (via questões colocadas ao final de cada módulo); a avaliação somativa final em questionário de questões fechadas (objetivas). O atendimento tutorial foi desenvolvido online, de forma assíncrona. A utilização da aprendizagem rápida apoiou-se na consideração da necessidade de uma qualificação inicial dos tutores, que fosse desenvolvida em serviço e apresentasse resultados imediatos. Sua utilização se baseou nas recomendações de Sadler (2007) e Ervikson (2014) que levam em consideração que a formação vocacional para necessidades pontuais de uma organização pode ser desenvolvida de forma rápida. Para tanto é necessário um programa apoiado em um enfoque prático com conteúdo relevante e significativo. A aprendizagem aberta foi utilizada por permitir a qualquer pessoa interessada, se inscrever nos cursos oferecidos nesta modalidade, sem que nenhum pré-requisito seja colocado. Na declaração da cidade do cabo1 (2007), em congresso sobre o tema, esta modalidade é sugerida de modo a formar nos 1 http://www.capetowndeclaration.org/translations/portuguese-translation 3 participantes a capacidade de compartilhar novos conhecimentos e ideias com outras pessoas. Mais importante ainda, ela dá para as pessoas a oportunidade de melhorar drasticamente sua vida através de oportunidades de aprendizagem relevantes e voltadas para aspectos vocacionais, que podem ser identificados antes que a educação formal tenha lugar. Os MOOCS – Massive Open Online Courses, são definidos por Agarwal (2013), um dos fundadores do consorcio edX2, um dos mais ativos na oferta de cursos junto a grandes universidades (MIT, Harvard e outras), como plataformas online e que oferecem cursos na modalidade aberta a qualquer pessoa conectada à internet. É uma abordagem que permite para a instituição de ensino, a busca de profissionais capacitados para atuação em atividades de tutoria, além de possibilitar qualificação e reaproveitamento profissional de colaboradores da própria instituição. A base de sustentação teórica utiliza a proposta de Downes (2012) que considera mais indicado nestas situações adotar a perspectiva do conectivismo. Nele se destaca a criação do conhecimento como uma proposta individual, mas que é suportada de forma inseparável pelas redes sociais e participação ativa do aluno. Speranzini e Guimarães (2013) consideram a opção adotada pela USP – Universidade de São Paulo, uma instituição de ensino considerada como uma ilha de excelência no panorama educacional brasileiro como “(...) forma de recriação do ambiente universitário nos ambientes online”. Senzi (Apud Speranzini e Guimarães, 2013) diretor do consórcio Veduca que conta com a participação da USP – Universidade de São Paulo e UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina, considera que os MOOCS “(...) são cursos mais flexíveis, que permitem ao aluno montar a sua própria grade curricular”. Com esta argumentação como justificativa para utilização do modelo proposto, foram obtidos resultados que podem ser de interesse para a comunidade acadêmica. Eles são apresentados na sequência. 2. Metodologia e recursos O mapa mental relacionado nas figuras 1 apresenta a proposta. A estrutura dos objetos de aprendizagem é apresentada na figura 2. A figura 3 apresenta a divisão do segundo nível (detalhamento do programa de curso). 2 www.edx.org 4 Figura 1 – eixos temáticos Figura 2 - estrutura do objeto padrão São características destes objetos: Texto no formato flip-page; Vídeo com a pessoa responsável pela atividade na instituição; APOL – Atividades pedagógicas on-line (Fórum, chat e rádio web); AS – Atividades Supervisionadas (avaliação e atendimento às solicitações dos alunos, respondidas diretamente no AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem); atividades independentes efetivada na leitura de textos complementares colocados pelos docentes e indicados como disponíveis em locais da grande rede. Figura 3 - ramos nos quais se dividem os temas do curso 5 O curso foi colocado como opção livre. O tempo de duração foi de seis semanas. Foram programadas: cinco enquetes; uma sessão de rádio web; uma atividade de cooperação onde cada um dos inscritos faria, para o ambiente, cinco perguntas que representassem as suas dúvidas mais frequentes sobre a tutoria e; uma atividade de avaliação final, a única obrigatória. Foram enviados cinco textos. O flip-page que permite acesso a todo o curso tanto no ambiente on-line como off-line e que o tutor pode levar consigo para qualquer lugar é apresentado na figura 4. Figura 54 -- Flip Modelo Book Figura PageFlip modelo 3. Resultados dos instrumentos de pesquisa Os instrumentos utilizados apresentaram os resultados da figura 5. O objetivo foi captar o grau de satisfação dos alunos e a avaliação do curso, desenvolvido pelos tutores com as características relacionadas até o momento. Figura 5 - apresentação gráfica dos resultados 6 A análise de outros dados comparativos foi retirada depois da aplicação da avaliação final do curso. A tabela e os dados a que ela dá origem são apresentados na sequência seguinte. Dados iniciais Número total de alunos inscritos Número total de alunos participantes Número de alunos desistentes Percentual de participação Percentual de desistência Resultado da avaliação somativa final Valores Número de alunos Sem comparecimento 390 Nota 00 0 Nota 10 0 Nota 20 2 Nota 30 9 Nota 40 31 Nota 50 65 Nota 60 119 Nota 70 213 Nota 80 200 Nota 90 241 Nota 100 111 Totalizações Aprovados 884 Recuperação 212 Reinscrição no curso 47 1386 991 390 71% 29% Percentual do total 29,00% 0% 0% 0,20% 0,90% 3,11% 6,52% 11,94% 21,38% 20,08% 24,20% 11,15% 77% 19% 4% Tabela 1 – Dados do curso Figura 7 - Participação Figura 8 - Histograma de notas 4. Conclusões A primeira surpresa agradável, e que superou as expectativas, foi uma extensiva participação dos participantes nos fóruns. Não houve nenhuma reclamação quanto ao atendimento tutorial, o que não é muito comum. Alguns reparos quanto aos vídeos foram anotados para futura mudança. A integração 7 entre os alunos foi considerada boa. Os resultados das enquetes obtiveram retorno entre dez e vinte por cento, como era esperado, ao se levar em consideração que a opção pela participação era livre. A participação na rádio web com chat foi inexpressiva, o que confirmou a pouca eficiência de chats quando dirigidos para o total da turma. Já os chats com turmas pequenas, que reúnem um ou dois grupos, nos quais são tratados aspectos da solução de problemas propostos, se mostram mais eficientes, com presença de todos os participantes do grupo. Não houve tempo para criação da comunidade de prática prevista. Em trabalho detalhado de pesquisa Santana, Junior e Sezanovich (2010) consideram que sua existência “(...) é especialmente importante devido ao aspecto de ligar o conhecimento com a prática, o que faz com que ele deixe de ser algo abstrato ao ser trabalhado em comunidade (...)”. Existem outras linhas de pesquisa (Hayes e Walsham, 2001. Kulkarni, Stough and Haynes, 2000) que tratam o tema na mesma perspectiva. Todas as linhas de estudo, sem exceção, destacam a sua importância como incentivadora da interação, que é tida por Downes (2012) como um dos pilares de sustentação do conectivismo, proposta adotada na efetivação do curso de formação básica de tutores. Como corolário de uma série de experiências, os responsáveis pelo curso decidiram questionar os participantes. Foi utilizada como metáfora incentivadora a proposta: coloque as cinco perguntas que você sempre quis fazer sobre a tutoria e nunca teve coragem de fazer. Percentuais semelhantes de participação nas respostas foi obtido. As perguntas efetuadas aos alunos deram a motivação necessária para a criação de uma área de FAQ on-line. Direção futura Os resultados obtidos com a montagem do curso foram superiores àqueles esperados. É uma situação que motiva a ampliação do projeto e sua oferta para todo o mercado acadêmico. Em sua nova versão pequenos desvios de percurso, alguns já corrigidos e outros em fase de correção e levantamento de melhor solução, serão efetuados com interesse de melhorar a qualidade que foi observada no contexto atual, conforme apresentados nas tabelas e gráficos constantes do material coletado diretamente junto aos participantes do curso. 8 Referências bibliográficas Agarwal, A. Moocs mudam o ensino dentro e fora da universidade. Fonseca, M. “Porvir o futuro se aprende”. (2013). Online. Disponível em http://porvir.org/porpessoas/moocs-mudam-ensino-dentro-fora-dauniversidade/20130404. Acessado em julho de 2014. Amaral, R.C.B.; Rosini, A. Concepções de interatividade e tecnologia no processo de tutoria em programas de educação a distância: paradigmas na construção do conhecimento. Revista Científica Intersaberes. PR: Facinter, v.1, n.1, set. 2009. Downes, S. 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