MINISTÉRIO DA SAÚDE SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE DEPARTAMENTO DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA COORDENAÇÃO GERAL DE DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS UNIDADE TÉCNICA DE DOENÇAS DE TRANSMISSÃO RESPIRATÓRIAS E IMUNOPREVENÍVEIS SCS, Quadra 04, Edifício Principal, 2º andar – CEP: 70.304-000 (61) 3213-8092/8097/8098 NOTA TÉCNICA N.º 3/2011/URI/CGDT/DEVEP/SVS/MS Assunto: Finalização dos surtos de sarampo no Brasil em 2010 1. Em 2010, o Brasil enfrentou três surtos de sarampo nos estados do Pará, Rio Grande do Sul e Paraíba. O primeiro deles ocorreu no município de Belém, Pará (região Norte do país), com três casos. O primeiro caso foi notificado por laboratório da rede privada no dia 27/7/2010, mas apresentou o início dos sintomas (exantema) em 7/7/2010. 2. Na data da notificação, a Secretaria de Estado da Saúde e Meio Ambiente realizou a investigação epidemiológica do caso suspeito. Durante a investigação, constatou-se que o jovem não fora vacinado por seguir recomendações de médico homeopata. Não houve relatos de viagem para o exterior ou contato com estrangeiros ou com indivíduos que retornaram de viagem ao exterior no período. Também não houve relato de contato com outro caso suspeito. 3. Em 25 de julho de 2010, os irmãos gêmeos do primeiro caso apresentaram febre (38° – 40°C) e, em 26 de julho, houve o aparecimento do exantema com progressão céfalo-caudal. A coleta de sangue para sorologia desses deu-se dia 28 de julho de 2010. Os resultados obtidos no Laboratório Central do Estado (Lacen/PA) indicaram altas titulações de IgG reagente e IgM não-reagente para ambos os casos. 4. Durante a investigação, foram revisados 183.854 prontuários e fichas de atendimento, dentre esses 647 casos (0,3%) triados. Após a investigação, foram identificados 59 casos suspeitos (0,03%) entre a semana epidemiológica 18 e 34. Desses, três (5,1%) foram confirmados por critério laboratorial e 56 (94,9%) foram descartados. Foi identificado o genótipo D4, que estava em circulação no mesmo período na Inglaterra, França, Holanda e Itália e não havia circulado anteriormente no país. Não foi identificado o caso primário. 5. O segundo surto foi notificado em 17 de agosto de 2010 pela Secretaria da Saúde do Estado do Rio Grande do Sul (SES/RS) (região Sul do país), que identificou dois casos suspeitos de sarampo no município de Porto Alegre. 6. Os casos relataram viagem a Buenos Aires/Argentina entre os dias 21 e 28/7/2010, país este que no mês de agosto, segundo o Ministério da Saúde da Argentina, confirmou três casos de sarampo. Houve suposta relação desses casos confirmados com viagem à África do Sul, onde há circulação do vírus do sarampo e ocorrência de surtos. Em 18 de agosto, os casos foram confirmados por sorologia pelo Laboratório Central do Rio Grande do Sul (LACEN/RS). 7. Na investigação, foram revisados 203.044 prontuários e fichas de atendimento. Desses, 51 (0,02%) entraram como casos suspeitos, dos quais oito (16%) foram confirmados por critério laboratorial. Com exceção de um caso, os demais apresentaram vínculo epidemiológico. A mediana de idade foi 18 anos (nove meses – 44 anos), sendo que seis acometeram o sexo masculino e três casos apresentavam três doses da vacina tríplice viral. Foi identificado o genótipo B3. 8. O terceiro surto ocorreu no estado da Paraíba (região Nordeste do país). Desde a notificação do primeiro caso suspeito de sarampo, todas as medidas de prevenção e controle foram realizadas, incluindo sucessivas investigações, busca ativa de casos suspeitos em todos os locais frequentados pelos casos confirmados, bem como nos serviços de saúde e a antecipação da campanha de seguimento para crianças de seis meses a menores de seis anos de idade. 9. No total, foram notificados 391 casos suspeitos de sarampo, onde 57 (14,6%) foram confirmados e 334 casos (85,4%) foram descartados pelo critério laboratorial. Entre os 57 casos confirmados, 53 (93%) são residentes do município de João Pessoa, 2 (4%) de Santa Rita, 1 (2%) de Bayeux e 1 (2%) de Conde (municípios da região metropolitana da capital). O local provável de infecção dos casos da região metropolitana foi João Pessoa. 10. O vírus identificado pelo Laboratório de Referência Nacional (Fiocruz/RJ) foi o do genótipo B3, cujo sequenciamento genético é similar ao circulante na África do Sul, indicando que o surto apresentou apenas um genótipo viral. 11. As atividades de investigação desenvolvidas evidenciaram que os primeiros casos tiveram como fonte de infecção um mesmo local em João Pessoa. Entretanto, não foi possível estabelecer o vínculo entre todas as cadeias de transmissão. O último caso confirmado teve início dos sintomas (data do exantema) em 9 de novembro de 2010. 12. Chama-se atenção para o fato de que os casos dos três estados não tiveram vínculo epidemiológico. A detecção de casos importados e de casos relacionados à importação, em países em que a interrupção da transmissão já foi alcançada, como no Brasil, Estados Unidos, Canadá e em outros países das Américas, constitui um evento que, embora não seja raro, aponta para a necessidade da manutenção de vigilância epidemiológica ativa e alerta para novas e eventuais ocorrências. 13. No Brasil, após a interrupção da transmissão do vírus do sarampo no ano 2000, já foram detectados outros eventos relacionados a casos importados de sarampo, o que significa que a vigilância epidemiológica tem mantido uma elevada sensibilidade para detecção de casos importados. Brasília, 14 de março de 2011.