Jornalismo e aquecimento global

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V Encontro Nacional de Jovens Pesquisadores em Jornalismo
Campo Grande – UFMS – Novembro de 2015
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Jornalismo e aquecimento global: a perspectiva do
livro-reportagem Diário do Clima de Sônia Bridi
Tonie Maria Gregory dos Santos 1
Reges Schwaab (orientador) 2
Resumo: Este artigo analisa a estrutura do livro-reportagem Diário do Clima, da jornalista
Sônia Bridi. Por meio das marcas narrativas presentes na construção do livro, buscamos
observar como a obra pode ser um meio de entendimento sobre a problemática pela sociedade e,
ainda, as contribuições para a reflexão do jornalismo contemporâneo. Na tentativa de
compreender como a narrativa está organizada, temos como base metodológica a Análise de
Conteúdo (AC), buscando interpretar o objeto em questão, identificando escolhas da jornalista
na costura da reportagem. Com a investigação, oriunda de um trabalho maior, verificamos que a
jornalista dá sustento ao texto, utilizando fontes e investindo em figuras de linguagem.
Constatamos que o tema aquecimento global foi construído de forma positiva e reflexiva e, por
conseguinte, o livro em questão contribui para evidenciar os efeitos do problema no ambiente.
Palavras-chave: Jornalismo; Livro-reportagem; Narrativa; Aquecimento global; Ambiente.
1. Considerações iniciais
O presente trabalho é resultado de um processo de investigação sobre a narrativa
do livro-reportagem Diário do Clima – Efeitos do Aquecimento Global: um relato em
cinco continentes, da jornalista Sônia Bridi. A obra retrata os bastidores das viagens
feitas por Bridi e pelo repórter cinematográfico Paulo Zero durante seis meses ao redor
1 Estudante do 8º semestre do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM),
Campus Frederico Westphalen. Membro do Resto – Laboratório de Práticas Jornalísticas (CNPq/UFSM).
E-mail: [email protected].
2 Professor do Departamento de Ciências da Comunicação da UFSM, Campus Frederico Westphalen.
Vice-líder do Resto – Laboratório de Práticas Jornalísticas (CNPq/UFSM). E-mail: [email protected].
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do planeta. Eles mostraram as transformações que a Terra vem sofrendo em decorrência
das mudanças climáticas. Além de toda elaboração das matérias, houve uma preparação
física dos protagonistas do livro para superar os obstáculos da viagem.
Tendo em vista que a análise objetivou entender como Sônia Bridi constrói a
narrativa do livro, primeiramente, exploramos como a jornalista contribui para uma
compreensão pública da problemática ambiental. Em seguida, sondamos as marcas ou
escolhas narrativas da reportagem estudada. E, por último, discutimos como o trabalho
de Bridi (2012) ajuda numa reflexão sobre jornalismo. Com base na divisão que Lima
(2009) faz das diferentes variantes que o livro-reportagem pode ter, enquadramos o livro
analisado como pertencente aos tipos ambiente, ensaio e viagem, conhecido, também,
como diário de bordo. Percebemos ainda que a obra de Sônia Bridi mescla três
diferentes diários: diário da repórter (com as impressões da jornalista), diário da
reportagem e diário do clima.
Ao realizar o mapeamento do livro, localizamos elementos que mais aparecem na
narrativa. No mapeamento construído, elencamos oito categorias que nos ajudaram a
entender como foi estruturado o livro-reportagem: as entrelinhas do aquecimento global,
fontes, procedimentos, estrutura do livro, figuras de linguagem (de palavras, de
pensamento e de som), lugares percorridos, acontecimentos históricos como base de
realidade social e cultural de cada povo e descrições de pessoas e de lugares.3
Optamos aqui por falar em jornalismo sobre meio ambiente e não jornalismo
ambiental pois o livro-reportagem de Sônia Bridi não é, necessariamente, um livro dessa
natureza, mas um livro-reportagem que fala sobre meio ambiente. Além disso, Bridi não
se considera uma jornalista ambiental.
2. A jornalista Sônia Bridi
Sônia Bridi lançou o Diário do Clima – Efeitos do aquecimento global: um
relato em cinco continentes em 2012. Antes da viagem, em 2010, ela e Paulo Zero,
repórter cinematográfico e cônjuge da jornalista, se lançaram no desafio de percorrer 14
3 Por razões de espaço, aqui nos detivemos mais nas primeiras categorias.
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países para descobrir as consequências do aquecimento global em diversos pontos do
Planeta. Antes, a jornalista já havia explorado o terreno dos livros com Laowai –
Histórias de uma Repórter Brasileira na China, com relatos da época como
correspondente da TV Globo/Brasil na Ásia.
Sônia Matilde Bridi nasceu em 13 de novembro de 1963, na cidade de Caçador,
Santa Catarina. O encanto pela escrita a levou para perto do jornalismo ainda na escola
quando, com a ajuda de um professor de português, começou a trabalhar no jornal da
cidade. Aos 17 anos, mudou-se para Florianópolis para cursar a faculdade de Filosofia,
na Universidade Federal de Santa Catarina, já que o curso de Jornalismo ainda não
estava regulamentado. Em paralelo à faculdade, trabalhava como redatora na Rádio
Barriga Verde, que, um ano depois, também passou a contar com emissora de TV. Após
ocupar as funções de produtora e editora, foi para a sucursal catarinense do Grupo
Bandeirantes. Em 1984, foi contratada pela RBSTV, afiliada da Rede Globo. De editora
passou ao cargo de coordenadora do interior.
Mesmo com pouca idade, Bridi já tinha uma vasta experiência e percebeu que
era importante ter o diploma de jornalista para exercer a profissão. Então, conciliando
estudo com a atividade, foi para a reportagem televisiva, pois os repórteres tinham
horário fixo. A nova função despertou interesse e, a partir dali, a profissional começou a
fazer grandes produções para os telejornais.
Bridi foi correspondente da TV Globo em Nova York, Londres e Paris. Além
disso, fez parte da equipe para cobrir a Copa do Mundo na França. Em parceria com
Zero, recebeu a incumbência de firmar uma base da Rede Globo em Pequim, na China.
Atualmente, é repórter especial do programa Fantástico. Na função, ela e Paulo Zero
realizaram a série Terra, que Tempo é Esse?, percorrendo Bolívia, Peru, França,
Inglaterra, Itália, Estados Unidos, Groenlândia, Islândia, Brasil, Tanzânia, Butão, China,
Vanuatu e Austrália, que deu origem ao Diário do Clima.
3. Livro-reportagem
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Belo (2006, p. 58) afirma que “a reportagem em livro não sobrevive somente das
falhas de cobertura e da suposta miopia dos periódicos para com determinados assuntos.
Bebe também das suas virtudes”. Resende explica que o discurso jornalístico “opera
segundo a verdade dos fatos, o que interessa é o fato em si. O como narrar esse fato, a
enunciação propriamente dita, resume-se à utilização de uma técnica” (RESENDE,
2005, p. 92). Além disso, diz que o jornalista não escolhe como narrar, pois a ele são
impostos alguns limites no campo de atuação, assim como, o restringem a dados
factuais.
Entendemos que o livro-reportagem não se limita apenas em se apropriar das
técnicas jornalísticas, mas por vezes, foge de algumas fórmulas impostas pelo
jornalismo. Um modelo disso é a atualidade, que é uma das características do
jornalismo, mas que não se enquadra no livro-reportagem. O jornalismo possui um
vasto número de fórmulas a serem seguidas, no entanto, na construção de um livroreportagem, o jornalista pode ou não utilizar técnicas que se adaptem à sua obra.
Para Bridi “é obrigação do jornalista ir, ver, chegar onde a coisa está
acontecendo e tentar trazer para as pessoas que não podem ir lá” (BRIDI, 2013,
documento eletrônico). O jornalismo, como parte constituída da comunicação, tem por
finalidade informar ao público, em diversas formas, sobre o que acontece no mundo.
Para reproduzir os fatos do dia a dia, o jornalista produz o que conhecemos por notícia
e, quando se quer aprofundar determinados assuntos, que não são, necessariamente,
factuais, utiliza o formato chamado reportagem.
A reportagem no jornalismo impresso é um modo de contar os fatos que
preocupa-se em mostrar detalhes, descrições, histórias de pessoas e lugares. Uma das
características que distingue a reportagem da notícia é a quantidade de conteúdo, sendo
assim, tornando-se mais extensa. O jornalista deve, ainda, analisar a maneira como está
conduzindo a reportagem, pois ele precisa cativar o leitor até o final da leitura.
Com o new journalism estadunidense, surgido na década de 1960 (DUARTE,
2014), o livro-reportagem ganhou ainda mais destaque. Para Belo (2006, p. 41), “em
uma definição quase acadêmica, é possível dizer que livro-reportagem é um instrumento
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aperiódico de difusão de informações de caráter jornalístico”. Já segundo Lima (2009),
o livro-reportagem se aproxima de temas que o jornalismo nos espaços tradicionais não
aborda:
O livro-reportagem cumpre um relevante papel, preenchendo vazios deixados
pelo jornal, pela revista, pelas emissoras de rádio, pelos noticiários de
televisão, até mesmo pela internet quando utilizada jornalisticamente nos
mesmos moldes das normas vigentes na prática impressa convencional. Mais
do que isso, avança para o aprofundamento de conhecimento do nosso tempo,
eliminando, parcialmente que seja, o aspecto efêmero da mensagem da
atualidade praticada pelos canais cotidianos da informação jornalística
(LIMA, 2009, p. 4).
Lima (2009) fala, ainda, da função do livro-reportagem:
[...] tocar o leitor, sensibilizá-lo, estimulá-lo, movê-lo para que a
comunicação se dê. Todo processo de comunicação causa um efeito no
receptor, mas esse efeito só é eficaz, do ponto de vista do emissor, se antes há
o contato comum, o elo de ligação que se transforma no portal conhecido
pelo qual o leitor avança para o universo desconhecido que a obra propõe.
Por associações de idéias, memórias, identificações e projeções – nos níveis
intelectual, emocional –, o leitor pode sentir-se algo familiarizado com o
mundo contido no livro, inclinado a penetrá-lo (LIMA, 2009, p. 143).
O livro passa a ser um complemento da imprensa cotidiana. Pode trazer assuntos
que são pouco trabalhados nela. Também, não se enquadra em algumas normas do
jornalismo convencional, como por exemplo, a atualidade instantânea, mas trabalha em
outros regimes de tempo.
4.
Jornalismo e meio ambiente
Nos últimos anos, o jornalismo não somente noticia, mas auxilia a refletir sobre
temas ambientais. A própria Sonia Bridi afirma em uma entrevista:
Eu me sinto responsável por não deixar um assunto tão importante morrer. Eu
já estou sendo afetada e meus filhos também serão. Se a gente não tomar uma
ação, o aquecimento global poderá sair do controle. Alguma coisa tem que
ser feita e a gente tem que ter responsabilidade (BRIDI, 2012, documento
eletrônico).
“O tema das mudanças climáticas somente repercutiu na mídia com maior
intensidade nos últimos anos, repercutindo sobre agendas de governos e pesquisa e no
imaginário popular” (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2008, p. 7).
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No entanto, a qualidade das notícias ainda causa discussões. Na maioria das vezes, são
publicadas matérias que apenas expõem fatos, não oferecendo uma abordagem mais
complexa. Nesse sentido, para Dornelles (2008, p. 53):
A pauta jornalística deve estar comprometida com a visão de que alguma
coisa precisa ser feita, há problemas e desafios a serem enfrentados, há
interesses em jogo, e que o jornalismo e o jornalista podem desempenhar um
papel fundamental na sua explicitação. Os fatos, em geral, não podem ser
vistos de um ângulo meramente técnico ou científico, pois estão atrelados a
questões econômicas, vontade política, componente sócio-cultural, entre
outros componentes.
O jornalismo sobre meio ambiente possui função informativa, pedagógica e
política (BUENO, 2007). Um papel de agente de transformação social para a melhoria
na qualidade de vida se desenha aí. A crise ambiental global exige abordagens sobre
soluções. No prefácio do livro, Bridi relata os seus motivos para lutar pela causa:
Discutir a mudança do modelo de produção e consumo em plena crise
econômica é tarefa quase impossível. Mas nós queríamos manter o assunto na
pauta. A experiência de restaurar a camada de ozônio mostrou que, quando o
planeta inteiro se une em prol de uma causa, podemos reparar os danos.
Tenho dois filhos, quero ter netos e desejo que eles vivam em tempos de paz
e prosperidade. Por isso, Paulo e eu achamos que deveríamos fazer uma série
de reportagens mostrando os lugares do planeta que já sofreram com as
mudanças climáticas (BRIDI, 2012, p. 12).
Entendemos que Sônia Bridi não é uma jornalista ambiental, mas ela traz a
temática ambiental em suas matérias e no livro estudado. A jornalista é entusiasta do
assunto e, desta forma, as matérias relacionadas ao meio ambiente mostram não só os
problemas e desafios que o planeta enfrenta, como também, os motivos que levaram a
esta situação e atitudes possíveis diante do cenário.
5. Aquecimento global
No Século 20, o termo mudanças climáticas começou a ser utilizado e, a partir
dali, ganhou força devido às modificações do clima:
[...] é no começo dos anos 1970, que surgem as primeiras vozes de alarme
tanto de cientistas quanto de ecologistas. As atividades humanas passam a ser
consideradas no resultado final desta conta. O contexto daqueles anos
também fez surgir o termo aquecimento global, significando o aumento da
temperatura média da terra, que se popularizou décadas depois (MORAES,
2015, p. 36-37).
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Mudanças climáticas são alterações no clima geral do Planeta, percebidas por
meio de registros científicos verificados durante anos.
A Terra passa por alterações climáticas consideradas “naturais”, esfriando ou
esquentando em determinadas épocas. Por outro lado, não se pode dizer que
todo e qualquer evento extremo seja resultado das alterações climáticas.
Períodos de inverno ou verão rigorosos, não estão, necessariamente, ligados
ao fenômeno da mudança do clima (MORAES, p. 37, 2015).
Essas oscilações do clima podem ser provenientes de fenômenos naturais ou de
atitudes humanas. O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança de Clima
(IPCC), diz que mudança climática “refere-se a qualquer mudança no clima durante um
período de tempo, independente se for uma variação natural ou o resultado de uma
atividade humana” (IPCC, 2007, p. 3). Ainda segundo o mesmo relatório, o
“aquecimento do sistema climático não é um equívoco, sendo agora evidente de acordo
com as observações de aumento global do ar e das temperaturas dos oceanos,
derretimento de gelo e neve em larga escala, e aumento global do nível dos oceanos”
(IPCC, 2007, p. 8). Já o aquecimento global é definido por Moraes (2015, p. 37)
[...] como o aumento da temperatura além do natural, extrapolando a
capacidade da atmosfera em reter este calor. Desta forma, entende-se que a
Terra é aquecida pelo chamado efeito estufa, relacionado à quantidade de
energia da radiação solar e o calor que e liberado pelo planeta. A ciência
identificou e monitora a emissão de diferentes gases que tem “efeito estufa”,
ou seja, ampliam o aquecimento do planeta.
O aquecimento global tem causado grandes consequências, como o derretimento
do gelo das calotas polares e o aumento no nível de água dos oceanos, o que não é nada
positivo para o ecossistema. Paralelo a isso, estudos comprovam que as atitudes
humanas estão prejudicando a atmosfera terrestre. O uso indiscriminado de recursos
naturais, além dos gases poluentes que são liberados a cada dia, afetam cada vez mais o
planeta. Ademais, ações como desmatamento de florestas, poluição e queimadas, são
agravantes para a situação do Planeta.
Desse modo, no livro analisado, Bridi convida a conhecer a situação ambiental
de cada país percorrido e procurar entender as perdas que os países tiveram em
decorrência das mudanças climáticas e dos efeitos do aquecimento global.
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6. A construção do livro-reportagem
Tendo em vista o problema de pesquisa que orientou o trabalho que deu origem a
este artigo, ou seja, como a jornalista Sônia Bridi constrói a estrutura narrativa do livroreportagem Diário do Clima – Efeitos do aquecimento global: um relato em cinco
continentes, utilizamos a Análise de Conteúdo (AC) como suporte metodológico.
O desejo de entender como o livro foi elaborado e os recursos que a jornalista
utilizou para isso, nos levaram a interpretá-lo, classificando a narrativa em categorias
que julgamos importantes para essa construção. Estas categorias foram classificadas a
partir do que a leitura do livro nos revelou. Além disso, ao selecionar a AC, trabalhamos
nas pistas sobre como a jornalista Sônia Bridi construiu a narrativa:
O funcionamento e o objectivo da análise de conteúdo, podem resumir-se da
seguinte maneira: Um conjunto de técnicas de análise das comunicações
visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objectivos de descrição do
conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a
inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção
(variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN, 1977, p. 23 [grafia
original]).
Assim, tomamos a Análise de Conteúdo como um conjunto de dispositivos
metodológicos que são cada vez mais sutis e estão em constante aperfeiçoamento, mas
que se aplicam a discursos diversificados. Herscovitz (2008) contribui afirmando que
A análise de conteúdo pode ser empregada em estudos exploratórios,
descritivos ou explanatórios. Os pesquisadores que utilizam a análise de
conteúdo são como detetives em busca de pistas que desvendem os
significados aparentes e/ou implícitos dos signos e das narrativas
jornalísticas, expondo tendências, conflitos, interesses, ambiguidades ou
ideologias presentes nos materias examinados (2008, p. 127).
Para que a presente pesquisa se concretizasse, foi realizado um mapeamento do
livro, observando as fontes acionadas por Sônia Bridi, os procedimento, a estrutura dos
capítulos, o uso da linguagem, pensando esses elementos como marcas narrativas. Além
disso, foram destacados os lugares percorridos, a realidade social e cultural de cada
povo, as descrições das pessoas, dos locais e dos acontecimentos históricos.
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Segundo Bardin (1977), a AC desenvolve-se em três fases: (a) pré-análise; (b)
exploração do material; e (c) tratamento dos dados, inferência e interpretação. Neste
trabalho, estas três fases foram divididas da seguinte maneira: na pré-análise se deu a
leitura do livro, fazendo apontamentos de possíveis itens a serem analisados mais tarde.
Na exploração do material foram feitas duas leituras aprofundadas. A esta etapa,
sucedeu-se a exploração completa do material. Foram levantadas todas as pistas,
apontamentos e informações relevantes sobre a narrativa, os lugares que a jornalista
percorreu, as pessoas que entrevistou e a situação do aquecimento global em cada
ambiente. O levantamento foi feito a fim de compreender como a jornalista contribui
para uma compreensão pública da problemática do aquecimento global. Queríamos
analisar, ainda, as marcas – escolhas – narrativas da reportagem e discutir como o
trabalho de Bridi ajuda a refletir sobre o jornalismo. Já na fase do tratamento dos
dados, inferência e interpretação ocorreu a interpretação de todas as informações que
foram apuradas no livro. Os resultados obtidos foram analisados para, em seguida,
compreender a maneira como a narrativa foi construída ao longo do livro. Foi neste
momento que construímos algumas respostas, observando as marcas e as escolhas
narrativas.
7. A estrutura narrativa
O livro Diário do Clima – Efeitos do aquecimento global: um relato em cinco
continentes possui 255 páginas, 20 capítulos, mais a conclusão. Bridi visitou cinco
continentes, percorrendo 14 países. O livro está estruturado em capítulos de acordo com
os países visitados. Da análise construída originalmente, a partir de oito categorias
reveladas pela obra, organizamos aqui a apresentação de seis delas: a construção da
ideia do aquecimento global, fontes, procedimentos, estrutura do livro, figuras de
linguagem e descrições de pessoas e de lugares.
7.1. As entrelinhas do aquecimento global
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Bridi desenvolve no livro a questão do aquecimento global de forma clara e
embasada, oferecendo muitos subsídios para compreender a problemática, como no
exemplo a seguir:
Como a gente aprende ainda no primário, árvores capturam carbono. Árvores
mortas soltam o carbono de volta para a atmosfera. Essas árvores mortas por
causa da seca de 2010 vão liberar carbono durante anos. O crescimento de
novas nas clareiras abertas pode compensar a perda. Mas para isso é preciso
que o equilíbrio de secas e cheias se mantenha. Secas frequentes como as da
década passada põem em risco o equilíbrio da floresta e de todo o planeta
(BRIDI, 2012, p. 253).
A construção da temática ambiental como um todo é bem explicitada. Primeiro,
porque a jornalista mostra os lugares que estão sofrendo drasticamente com as
mudanças climáticas. Além disso, mostra alguns lugares que estão tendo atitudes
positivas frente ao problema, com a possibilidade de uma ligação do local com a
dimensão global do tema.
7.2. Fontes
Ao realizar o mapeamento, percebemos que as fontes são um elemento
importante na construção do livro, dando suporte a tudo que a jornalista relata. Bridi
aciona fontes/entrevistados em toda a narrativa, deixando o texto mais dinâmico.
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Em todos os capítulos, Bridi utiliza fontes contatadas antes da viagem para a
construção do livro. São geralmente fontes oficiais, que falam em um âmbito mais
técnico, dando embasamento científico ao texto. Já as fontes encontradas na hora da
gravação servem para compreendermos o que as pessoas da cada região vêm
percebendo de diferente no clima e/ou na paisagem nos últimos anos. São importantes
no desenvolvimento do livro pois auxiliam com um conhecimento da experiência e com
relatos do cenário que sofre alterações.
7.3. Procedimentos
Por meio dos procedimentos descritos no livro conseguimos ter noção do quão
difíceis foram os trajetos. Os deslocamentos, os obstáculos em carregar equipamentos
para gravação, são descritos pela jornalista no livro:
Três horas mais tarde, estamos de volta à trilha vermelha. Como fica na parte
baixa, é uma calçada de madeira que leva até a beira da água, ou melhor, do
gelo. Mas o ponto de gravação não é bom. Decidimos continuar na trilha azul
para leste. Depois do sofrimento, a merecida recompensa: assim que
cruzamos uma colina, estamos numa área cheia de musgos, nos quais
crescem flores muito pequeninas.[...] Cruzada a segunda colina, a vista é
espetacular. Gravo uma passagem e preciso lutar com os mosquitos para falar
por quinze segundos direto. Queremos ir até a margem, mas Paulo quer
descer meio escorregando pela encosta íngreme, e eu, morrendo de medo
daquela altura, quero dar a volta maior. Paulo vira as costas e vai (BRIDI,
2012, p. 125).
Os procedimentos jornalísticos visíveis no livro-reportagem são um conjunto de
etapas compatíveis a qualquer produção em jornalismo: pauta, captação, redação e
edição. Contudo, cada uma delas mostra traços próprios, que juntos formam um produto
singular. Percebemos que os procedimentos são importantes tanto no sentido da
estrutura construída, como também, para poder mostrar, como pano de fundo, a
habilidade, precisão e clareza da jornalista.
7.4. Estrutura do livro
A jornalista segue uma mesma estrutura em todas as reportagens, utilizando a
descrição para isso. Cada local visitado é retratado pela primeiras impressões, por
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apontamentos de como está o clima no momento, hábitos e cultura e tudo o que os olhos
conseguem alcançar. Além disso, Bridi mostra o que chama a sua atenção, o melhor e o
bonito daquele local. Um exemplo está no capítulo 12, quando a jornalista chega em
Ilulissat, na Groenlândia:
É uma manhã de sol, muito diferente do tempo na nossa viagem anterior à
Islândia, há dois anos. Foram três dias sob chuva, viajando pela ilha com a
paisagem mais intrigante que já vi. Pedras negras vulcânicas cobertas de um
musgo que parece fluorescente, um verde de outro mundo. Mas o que
incomodou na época não foi o frio nem a chuva, foi o vento: cortante,
constante, gelado. Ao embarcar para Paris, onde vivíamos, ventava tanto que
tinha turbulência no avião estacionado – turbulência no chão! Passamos pela
estrada do parque aquático com piscinas de água naturalmente aquecida pela
ação vulcânica no subsolo da ilha e seguimos pela estrada bonita, bem
conservada. A melhor lembrança que tenho daqui, no entanto, é a comida
deliciosa. No centro da capital, perto da igreja, comemos arctic char, um
peixe da família do salmão, preparado de um jeito que merecia ganhar
prêmio de gastronomia (BRIDI, 2012, p. 109).
Com as citações acima, percebemos o quanto Bridi se preocupa em expor as
belezas, a boa comida e a realidade dos lugares. Isso proporciona àqueles que não
conhecem os locais, mas que, no momento que leem o livro, consigam se sentir imersos
na história, viajando, conhecendo e criando sensações sobre todos esses ambientes
apresentados na narrativa. No livro estudado, a descrição serve como forma de
organização, já que, a jornalista utiliza em todos os capítulos esta ferramenta. Ademais,
os detalhes são essenciais para distinguir determinado capítulo de outro, assim, a
presença de adjetivos, palavra que expressa uma qualidade, bem como, locuções
adjetivas são traços diferentes de um texto descritivo.
7.5. Figuras de linguagem: de palavras, de pensamento e de som
Nicola e Terra (2002) foram nosso aporte para definir as figuras de linguagem
encontradas na análise do livro:
No trabalho com a linguagem, usando a imaginação, o artista da palavra
procura fazer associações de imagens muitas vezes inusitadas, explora
determinadas construções com a intenção deliberada de reforçar a
expressividade, tornando o texto mais criativo e original, mesmo que para
isso tenha de se “desviar” dos padrões da gramática normativa. Os “desvios”
como reforço da mensagem têm função estilística, não constituindo erro. Em
geral, resultam nas chamadas figuras de linguagem (2002, p. 241).
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Trazemos as figuras de palavras encontradas, comparação e metáfora. Para
descrever essas duas figuras, acolhemos as explicações de Tufano:
A metáfora consiste em atribuir a uma palavra características de outra, em
função de uma analogia estabelecida de forma bem subjetiva. [...] A metáfora
é uma espécie de comparação sem a presença de conectivos do tipo como, tal
como, assim como etc. Quando esses conectivos aparecem na frase, temos
uma comparação e não uma metáfora (TUFANO, 1948, p. 215).
Apresentamos no quadro subsequente as figuras de palavras:
Seguindo ainda o raciocínio de Tufano, examinamos as figuras de pensamento
hipérbole e ironia, encontradas no livro. Entendemos que “ocorre a hipérbole quando,
para realçar uma ideia, exageramos na sua representação” (TUFANO, 1948, p. 220). Já
a ironia “é o emprego de palavras que, na frase, têm o sentido oposto ao que querem
dizer. É usada geralmente com sentido sarcástico” (TUFANO, 1948, p. 221).
Observamos os exemplos a seguir:
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Já como figuras de som, encontramos a onomatopeia. Para Dutra, “entende-se
por onomatopéia o conjunto de palavras cuja pronúncia pretende imitar o som natural
dos ruídos produzidos por seres animados ou não” (DUTRA, 1997, p. 145). Analisamos
o trecho: “E a câmera apitando – pi-pi-pi-pi” (BRIDI, 2012, p. 115). E também o
próximo: “Outro bloco cai, ainda maior, e o barco inteiro exclama ‘OHHHHHH!!!!’”
(BRIDI, 2012, p. 116).
Em meio a esses fatores e exemplos explanados anteriormente, Bridi investe no
uso de figuras de linguagem com a finalidade de deixar o livro-reportagem com mais
dinamicidade e expressão. Estas são características das figuras de linguagem e
determinam a construção de um texto. Com a utilização de tais figuras, a narrativa se
torna mais fácil, fazendo com que o leitor possa ampliar seus horizontes na busca de
interpretações acerca das lacunas subentendidas deixadas pela jornalista.
7.6. Descrições de pessoas e de lugares
Na construção do livro, a jornalista faz muitas descrições, tanto de pessoas,
como de lugares. As pessoas são caracterizadas pelas roupas que vestem, atitudes e
forma física. Já os locais, são descritos pelas impressões que Bridi tem, trazendo dados
e números para uma melhor compreensão do espaço que está mostrando. No quadro a
seguir, podemos analisar o modelo específico de descrição de pessoas e, logo após, um
exemplo de descrição de lugar.
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Já como exemplo de descrição de lugar, observamos o exemplo a seguir:
Paramos para almoçar em Oruro, uma cidade com 260 mil habitantes a 3.700
metros de altitude. Fundada no século XVII pelos espanhóis, Oruro é um
grande centro de mineração e teria sido a primeira cidade das Américas a ser
urbanizada por engenheiros, com as ruas em forma de xadrez. Desde então
não foi modernizada. As ruas, com a largura dos tempos coloniais, formam
um engarrafamento de carros velhos, malconservados, expelindo muita
fuligem. Nesta altitude é preciso usar carro com motor potente. Muitos são a
diesel e sem controle de emissões. A cidade fede a escapamento e não anda.
Levamos quase uma hora da entrada até o restaurante (BRIDI, 2012, p. 21).
A partir das passagens citadas, percebemos que a descrição é um elemento que
possui funções importantes na narrativa. Pensando na forma jornalística, as descrições
no livro são feitas a partir de uma observação profunda, o que é característica central do
jornalismo. Além do que, ao utilizar-se de descrições na narrativa, a jornalista consegue
imergir o leitor naquele ambiente, fazendo com que ele se sinta parte da cultura que
predomina sobre a população.
8. Considerações finais
O objetivo do trabalho foi compreender como está estruturado o livroreportagem Diário do Clima – Efeitos do aquecimento global: um relato em cinco
continentes de Sônia Bridi, que tem como foco a temática dos efeitos do aquecimento
global. A obra analisada revelou a situação das mudanças climáticas, decorrentes,
fundamentalmente, da ação humana.
Após sucessivas leituras do livro, juntamente com o mapeamento empreendido,
constatamos que a construção do tema aquecimento global foi positiva no sentido de
mostrar a realidade, trazendo elementos para uma possível mudança de hábitos
impregnados em nossa cultura. A obra faz alertas sobre futuras mudanças que podem
acontecer. A partir da análise, percebemos que a jornalista fez escolhas precisas sobre
cada local a ser percorrido para evidenciar a problemática trabalhada.
Observamos que a jornalista utiliza muitas fontes para a construção do livro.
Além disso, houve um acentuado uso de figuras de linguagem, destacando-se a figura
de pensamento metáfora, a mais utilizada pela jornalista. Uma das alternativas para
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justificar esse uso, seria a de que, ao trazer na narrativa a metáfora, a jornalista está
instigando a imaginação do leitor, fazendo com que ele busque entender pelo seu
esforço também. Em seguida, como segunda opção, acreditamos que a jornalista faz uso
da metáfora para ter um texto mais atrativo e que envolva o leitor.
A partir do percurso feito para este trabalho, indicamos também possíveis
análises futuras que podem ser realizadas com o mesmo objeto de estudo. Uma delas é
dar maior ênfase à análise linguística no que se refere aos aspectos estruturais da
linguagem, abordando neologismos, ditos populares, estrangeirismos, entre outros. E,
ainda, pensando no tema do livro, aquecimento global, fazer um comparativo com
outros estudos publicados que tratam da mesma temática.
Em última análise, estudar o livro-reportagem de Sônia Bridi permitiu
compreender que este tipo de jornalismo esclarece dúvidas, colabora para um melhor
conhecimento da causa e, ainda, pode auxiliar para o conhecimento do leitor. O livroreportagem pode ser considerado material de referência à respeito da temática,
evocando um espírito de conscientização, visto que informa sobre a situação de cada
país em relação à questão ambiental e a necessidade urgente de mudança de atitudes em
prol da existência coletiva.
Referências
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BRIDI, S. Diário do Clima – Efeitos do aquecimento global: um relato em cinco continentes.
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BRIDI, S. Sônia Bridi lança Diário do Clima. PORTAL DOS JORNALISTAS. Notícias
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em: <http://www.portaldosjornalistas.com.br/noticias-conteudo.aspx?id=690>. Acesso em: 27
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