FOLHA DE S.PAULO

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A mediocridade está na moda
Gilberto Dimenstein
BRASÍLIA — Para quem gosta de faxineiros de luxo, mas por um estudo
mediocridade, o Brasil é hoje um paraí- em fase de conclusão do Ministério da
so. Uma boa parte das vagas de faxinei- Economia, mais precisamente do Instiros oferecidas pelo Tribunal Superior tuto de Pesquisa Económica Aplicada
do Trabalho foi abocanhada por candi- (Ipea).
datos de curso superior. Nada contra os
De acordo com esse trabalho, 70%
faxineiros. Só que é absurdo um país dos menores de 16 anos, que vivem em
pobre gastar fortunas para formar uni- famúias de renda per capita até um
versitários que, inviabilizados, ganham salário mínimo, já trabalham. A evasão
a vida limpando o chão. Nem de longe escolar atinge a fantástica percentagem
é um fenómeno isolado.
de 80%. Nesse quadro, tem lógica que
Por todos os lados pipocam sintomas a cidade mais rica do Brasil transforde indigência. Um descamisado, ator- me-se num caos devido às chuvas.
mentado há dez meses pelo desempreO país deteriora-se na miséria, gerango, arquiteta a morte do presidente
do
efeitos em todos os setores. A
Fernando Collor, empunhando uma fapobreza
vai da infra-estrutura urbana,
ca de cozinha. Esse mesmo presidente,
energética,
educacional, às artes (basta
horas antes, guindou à condição de
prioridade nacional o combate a um notar que Paulo Coelho virou o mais
punhado de aposentados que ganham vendido escritor brasileiro), passsando
mais de Cr$ 700 mil, numa espécie de pela política. A partir daí, tem muito
sentido que Ulysses Guimarães seja
guerra santa.
A crise explode, gera desempregados substituído no comando do PMDB por
capazes até de atentar contra a vida do Orestes Quércia, atualmente o mais
presidente, mas o importante, na visão forte presidenciável. É apenas consepublicitária do "Brasil Novo", são os quência inevitável de um país em que
315 marajás. O ridículo dessa situação universitários usam seus conhecimentos
pode ser observado não apenas pelos para a faxina.
FRASES
De hoje
"Estou feliz e contente da vida, e
sigo minha caminhada. Vou morrer
fardado e não de pijama''.
(Ulysses Guimarães, deputado federal pelo
PMDB-SP, sobre sua saída da presidência do
PMDB, na Folha j
"Você só esquece um amor arrumando "outro. Vou sair por aí para levantar
a bandeira do parlamentarismo.''
(Idem)
De ontem
"O maior produto que um governo
pode trazer aos brasileiros é a esperança, e a esperança chama-se PMDB
tendo à frente Orestes Quércia."
(Ulysses Guimarães, em U/03/91) -