As tribos Barnadesieae e Mutisieae (Asteraceae) no estado de São Paulo- Brasil. Marcelo Monge Egea1, 2& João Semir 1, 3 Palavras-chave: Compositae; Flora do estado de São Paulo; Taxonomia. No estado de São Paulo as tribos Introdução Barnadesieae e Mutisieae sensu Bremer (1994), Asteraceae (Compositae) com cerca de até o presente, estão estimadas em cerca de 13 23.600 espécies e 1620 gêneros, é considerada gêneros e 56 espécies. Este projeto visa o como grupo mais diverso dentre as reconhecimento, caracterização e diferenciação Angiospermas (Stevens 2001). A família das espécies pertencentes a estas tribos apresenta ampla distribuição geográfica, com ocorrentes no estado, com a finalidade de uma representantes em todos os continentes (Bremer dissertação de mestrado. Contribuindo com o 1994), sendo bem representada em regiões de projeto Flora Fanerogâmica do Estado de São clima tropical, subtropical e temperado Paulo, junto com outras tribos de Compositae. (Barroso et al. 1991). Normalmente são mais abundantes em ambientes abertos e campestres Materiais e Métodos e menos em matas fechadas e úmidas. O Brasil O estado de São Paulo localiza-se entre as representa um centro de diversidade da família, latitudes 19º47’ e 25º19´S e as longitudes com vários táxons de distribuição geográfica 53º06’ e 44º10’W, com área total de 248.256 restrita, como das tribos Barnadesieae e Km2, altitude variando desde o nível do mar até Mutisieae (Barroso et al. 1991). Recentemente, 2770m. O clima é tropical caracterizado por a tribo Mutisieae sensu Bremer (1994) sofreu estações úmidas e secas. O estado está situado inúmeras alterações em sua circunscrição. na fronteira da região tropical com a Estudos moleculares mostraram que a tribo subtropical, representando um limite de Mutisieae era parafilética, necessitando que distribuição de espécies que ocorrem tanto no alguns de seus componentes fossem elevados sul como no quanto no sudeste (Wanderley et ao nível de subfamília, como por exemplo os al. 2001). grupos, Stifftia, Wunderlichia, Gochnatia, A floresta atlântica ocorre na serra do mar Pertya e a própria tribo Mutisieae (Panero et al. e no planalto paulista, variando suas 2002). Devido as grandes alterações fisionomias desde floresta ombrófila densa, supracitadas, neste trabalho serão consideradas floresta ombrófila semicaducifólia, floresta as tribos Barnadesieae e Mutisieae sensu mesófila. Na região central e oeste estão Bremer (1994). presentes as fisionomias do bioma Cerrado, De acordo com Eiten (1970) a vegetação incluindo os campos rupestres de quartzito. ocorrente no estado é influenciada por três rotas Também ocorrem outras vegetações, como migratórias, recebendo elementos florísticos da restinga, dunas e mangues, nas regiões costeiras flora amazônica, da província atlântica e do e as formações alto-montanas que ocorrem planalto central. No estado de São Paulo os acima dos 1.500m e os campos de altitude a representantes destas tribos ocorrem nas partir dos 2.000m na Serra da Mantiqueira diferentes formações vegetacionais da Floresta (Wanderley et al. 2001). Atlântica e do Cerrado. O levantamento das espécies foi realizado com base nas coleções dos principais herbários 1-Programa de pós-graduação em Biologia Vegetal, UNICAMP, SP, Brasil; 2 Mestrando; 3 Docente. Email para contato: [email protected] Agência de Fomento: CNPq paulistas e dos herbários brasileiros com os acervos mais representativos de materiais coletados nos estado. Foram também realizadas viagens complementares de coletas para visualizar as plantas in situ e coletas de materiais adicionais. Foram desenvolvidas chaves de identificação, descrições pormenorizadas e comentários a respeito de cada táxon. Para as descrições foram feitas observações e medidas dos caracteres: hábito, forma da folha, tipo de indumento, quantidade de flores por capítulo, tamanho das flores além de outros quando necessários. Nos comentários procurou-se dar ênfase a semelhanças morfológicas entre espécies próximas, fenologia e distribuição geográfica. Resultados e Discussão Representantes das duas tribos, até o presente momento, estão representadas no estado por 13 gêneros e de 56 espécies. A tribo Barnadesieae apresenta 12 spp. e dois gêneros, a saber: Barnadesia caryophylla (Vell.) Blake; Dasyphyllum brasiliense (Spreng.) Cabrera, D. flagellare (Casar.) Cabrera, D. lanceolatum (Less.) Cabrera, D. latifolium (Gardner) Cabrera, D. orthacanthum (DC.) Cabrera, D. synacanthum (Baker) Cabrera, D. spinescens (Less.) Cabrera, D. sprengelianum (Gardner) Cabrera, D. tomentosum (Spreng.) Cabrera, D. vagans (Gardner) Cabrera, D. velutinum (Baker) Cabrera. Já a tribo Mutisieae está representada por 11 gêneros e 44 spp.: Chaptalia excapa (Pers.) Baker, C. graminifolia (Dusen) Cabrera, C. hermogenis M. D. Moraes, C. integerrima (Vell.) Burkart, C. mandonii (Schultz-Bip.) Burkart, C. martii (Baker) Zardini, C. nutans (L.) Pol., C. piloselloides (Vahl) Baker, C. runcinata Kunth; Gochnatia barrosii Cabrera, G. desincephala (Cabrera) Sancho, G. floribunda Cabrera, G. orbiculata (Malme) Cabrera, G. paniculata (Less.) Cabrera, G. polymorpha (Less.) Cabrera, G. pulchra Cabrera, G. rotundifolia Less., G. sordida (Less.) Cabrera, G. velutina (Bong.) Cabrera; Holocheilus brasiliensis Luer & L. Endara; Jungia floribunda Less.; Mutisia campanulata Less., M. coccinea A. St-Hil., M. speciosa Aiton ex Hook.; Perezia cubataensis Less.; Richterago arenaria (Baker) Roque, R. radiata (Vell.) Roque; Stifftia chrysantha Mikan, S. fruticosa (Vell.) D.J.N. Hind & Semir; Trichocline incana (Lam.) Cass., T. Linearifolia Malme, T. macrocephala Less., T. nervosa Less., T. speciosa Less.; Trixis antimenorrhoea (Schrank) Mart. ex Baker, T. glaziovii Baker, T. glutinosa D.Don, T. hasslerii Chodat, T. lessingii DC., T. nobilis (Vell.) Katinas, T. praestans (Vell.) Cabrera, T. vauthieri DC., T. verbascifolia (Gardner) Blake; Wunderlichia mirabilis Riedel ex Baker. Restam ainda 12 morfotipos não identificados, das quais a maioria pertencem aos gêneros Dasyphyllum, Gochnatia e Trixis. A chave de identificação dos gêneros foi baseada em características globais dos gêneros. A diversidade da das tribos Barnadesieae e Mutisieae nos estado de São Paulo evidenciam a importância deste tipo de estudo para ampliar o conhecimento sobre a família na flora brasileira. Agradecimentos Ao programa de pós-graduação em Biologia Vegetal da Universidade Estadual de Campinas. Ao CNPq pela bolsa concedida. Aos curadores dos herbários visitados. 1-Programa de pós-graduação em Biologia Vegetal, UNICAMP, SP, Brasil; 2 Mestrando; 3 Docente. Email para contato: [email protected] Agência de Fomento: CNPq CHAVE DOS GÊNEROS DE BARNADESIEAE E MUTISIEAE (ASTERACEAE) OCORRENTES NOS ESTADO DE SÃO PAULO 1-Papus formado por cerdas plumosas; corola indumentada internamente; plantas armadas ......(Barnadesieae) 2 2-Capítulos radiados, heteromorfos ................................................................................................Barnadesia 2’-Capítulos discóides, homomorfos ...........................................................................................Dasyphyllum 1’-Papus formado por cerdas simples; corola glabra internamente; plantas inermes ........................(Mutisieae) 3 3-Flores do disco bilabiadas, lábio exterior tridentado e lábio interior bífido, ou liguladas, com lígula pentalobada ......................................................................................................................................................4 4-Receptáculo glabro; flores alvas ..........................................................................................Holocheilus 4’-Receptáculo pubescente; flores amareladas, alaranjadas, lilases ou azuladas .....................................5 5-Receptáculo paleáceo; folhas palmatinérvias ........................................................................Jungia 5’-Receptáculo epaleaceo; folhas pinatinérvias .................................................................................6 6-Cipsela rostrada; papus 2-3 seriado; folhas basais alternas ..............................................Trixis 6’-Cipsela truncada; papus uniseriado; folhas basais em roseta .......................................Perezia 3’-Flores do disco pentalobadas, com segmentos iguais ou desiguais, com lobos mais profundos ...............7 7-Capítulos discóides, com todas as flores pentalobadas..........................................................................8 8-Papus unido na base em forma de anel; receptáculo peleáceo ....................................Wunderlichia 8’-Papus livre na base; receptáculo glabro .........................................................................................9 9-Ramos do estilete lineares; papus unisseriado, róseo ou alaranjado ...............................Stifftia 9’-Ramos do estilete indivisos ou emarginados; papus bi a triseriado, alvo ou amarelado .......................................................................................................................................Gochnatia 7’-Capítulos radiados, flores do raio bilabiadas e do disco pentalobadas ..............................................10 10-Lianas; folhas compostas; folhas alternas; presença de gavinhas terminais .......................Mutisia 10’-Ervas; folhas simples; folhas rosuladas; ausência de gavinhas .................................................11 11-Flores do disco com ramos do estilete glabros; papus barbelado...........................Richterago 11’-Flores do disco com ramos do estilete indumentados; papus cerdoso ................................12 12-Estaminódios presentes nas flores femininas do raio; ausência de flores internas filiformes ...............................................................................................................Trichocline 12’-Estaminódios ausentes nas flores nas flores femininas do raio; presença de flores internas filiformes ...................................................................................................Chaptalia Referência Blibliográficas Barroso, G.M., Peixoto, A.L., Ichaso, C.L.F., Costa, C.G., Guimarães, E.F. & Costa, H.G. 1991. Sistemática de Angiospermas do Brasil. Vol. III. Viçosa. Imp. Universitária da Univ. Federal de Viçosa, pp.326. Bremer, K. 1994. Asteraceae- Cladistic & Classification. Portland, Timber press. 792 p. Eiten, G. 1970. A vegetação do estado de São Paulo. Boletim do Instituto de Botânica, nº7. Instituto de Botânica, São Paulo. Panero, J.L. & Funk, V. 2002. Toward a phylogenetic subfamilial classification for the Compositae (Asteraceae). Proceedings of the Biological Society of Washington, 115(4): 909922. Stevens, P.F. 2001 [Online] Angiosperm phylogeny website. Homepage: ttp://www.mobot.org./MOBOT/reserach/APweb/. Acesso em novembro de 2008. Wanderley, M.G.L., Shepherd, G.J., Guiulietti, A.M. 2001. Flora fanerogâmica do estado de São Paulo. São Paulo, Editora Hucitec. 292p. 1-Programa de pós-graduação em Biologia Vegetal, UNICAMP, SP, Brasil; 2 Mestrando; 3 Docente. Email para contato: [email protected] Agência de Fomento: CNPq