metodologia de prática pedagógica em filosofia

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PROBLEMAS
FILOSÓFICOS DA
CONTEMPORANEIDADE
Filosofia e cinema: Metodologia de prática pedagógica em
Filosofia na Educação Superior
Dennis Donato Piasecki - UNICENTRO
O presente trabalho tem como objetivo descrever a metodologia de
prática pedagógica no ensino de Filosofia em uma instituição privada de educação
superior. Tal prática - tendo como referencial teórico o livro O Cinema Pensa: uma
introdução à Filosofia através dos filmes, do prof. Julio Cabrera - tem em seu cerne
a aproximação entre Filosofia e Cinema para buscar incitar a problematização
filosófica-conceitual nos acadêmicos através da forma imagética.
Atuando como professor da disciplina de Filosofia nos cursos de
graduação em Administração, Ciências Contábeis e Serviço Social em uma
instituição privada na cidade de Laranjeiras do Sul, no Paraná, conto com sessenta
(60) acadêmicos com os quais trabalho, simultaneamente, todas as quartas-feiras no
espaço de quatro (4) horas-aula no período noturno.
Logo, a questão que surge é: como lecionar Filosofia com uma turma tão
heterogênea? A diversidade dos cursos nos traz a problemática do método, pois a
perspectiva filosófica a ser tomada como norte pedagógico deveria respeitar, de
alguma forma, as especificidades dos três cursos em questão.
Neste sentido, partindo-se da premissa de que a Filosofia é a ciência que
trabalha - de forma sistematizada - reflexiva e criticamente o humano e o mundo, bem
como é através da mesma que o homem obtém o conhecimento sobre si mesmo e o
mundo no qual se insere, e levando em consideração que as três graduações se inserem
no setor de conhecimento das ciências sociais aplicadas, consideramos a disciplina
como o lócus privilegiado para a construção e desenvolvimento de uma atitude de
estranhamento e despertar por parte dos acadêmicos, na qual as significações sobre a
realidade naturalizada do humano, do conhecimento e do mundo são postas em
discussão em vista de uma nova postura na forma de pensar e agir.
Para tanto, deveríamos criar em sala de aula uma amplitude de
perspectivas e reflexões aos acadêmicos, no sentido de projetá-los para uma maior e
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melhor visibilidade sobre assuntos teóricos e práticos no que tangem ao cotidiano,
à subjetividade e prática profissional. Assim delimitamos os objetivos da
disciplina: (1) apresentar a História da Filosofia, seus pensadores, idéias e conceitos
através dos textos clássicos da Filosofia; (2) determinar a importância do conceito
em Filosofia; (3) desenvolver temas e assuntos contemporâneos numa perspectiva
filosófica; (4) fomentar a discussão dirigida e construtiva em sala de aula e; (5)
utilizar o cinema para a compreensão de conceitos filosóficos pautado numa
perspectiva logopática, onde racionalidade e sensibilidade confluem no conceitoimagem, proporcionando uma experiência única no trabalho com Filosofia. Sobre
este último objetivo, que norteia nossa metodologia, é que nos deteremos agora.
O professor de filosofia da linguagem e ética na UnB, Julio Cabrera, propõe
em sua obra O Cinema pensa: uma introdução à Filosofia através dos filmes, para
além da simples comparação entre filosofia e cinema, que as películas
cinematográficas, muito mais do que servirem como exemplos de concepções
filosóficas, problematizam o pensamento tradicional de modo radical e inovador. O
livro é composto por um ensaio inicial onde o autor expõe seu método de análise e
catorze exercícios logopáticos que contrapõe as ideias contidas nos filmes de
Spilberg, Murnau, Polanski, Tarantino entre outros com as teses defendidas por
filósofos como Bacon, Wittgenstein, Aquino, Hegel e Kant, evidenciando a
existência de um profundo diálogo entre os filmes e pensadores.
Para Cabrera, “as imagens parecem vincular conceitos e explorar o
humano de maneiras mais perturbadoras do que a lógica e a ética escritas”
(CABRERA, 2006, p. 13). Deste modo, Cabrera vê o cinema como uma forma de
pensamento em que a Filosofia pode adentrar e procurar a verdade, sem prender-se
apenas na tradição escrita filosófica. Segundo Cabrera a Filosofia pode se expressar
através das imagens e para defender sua tese se utiliza de duas categorias básicas de
análise: razão logopática e conceito-imagem.
Cabrera aponta que há alguns séculos algumas linhas de pensamento
filosófico tentaram uma modificação na estrutura da racionalidade humana. Nomes
como Kierkegaard, Schopenhauer, Nietzsche e Heidegger teriam
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problematizado a racionalidade puramente lógica (logos) com a qual o
filósofo encarava habitualmente o mundo, para fazer intervir também, no
processo de compreensão da realidade, um elemento afetivo (ou “pático”).
Tais filósofos não se limitaram a tematizar o componente afetivo, mas o
incluíram na racionalidade como um elemento essencial de acesso ao
mundo (CABRERA, 2006, p. 16).
Desta forma a razão logopática, que trabalha conjuntamente a afetividade
e a racionalidade para a compreensão filosófica de conceitos nas imagens do cinema,
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aparece como a redefinidora de uma tradição que apenas se permite expressar
através da escrita lógica articulada; as imagens dos filmes, como contraponto,
aparecem como introdutoras de problematizações filosóficas através do pathos
(elemento afetivo), como forma de direcionamento ao pensar. “O emocional não
desaloja o racional: redefine-o” (CABRERA, 2006, p. 18).
No que tange ao conceito-imagem, apesar do mesmo ter várias
especificidades que devido ao espaço não podemos explanar aqui, Cabrera aponta
que é “um tipo de ‘conceito visual’ estruturalmente diferente dos conceitos
tradicionais utilizados pela filosofia escrita, a que chamarei aqui de conceitosideia” (CABRERA, 2006, p. 20).
Cabrera afirma que não é possível dar um definição fechada ao conceitoimagem, por não ter o mesmo uma definição precisa; tais conceitos serviriam como
uma espécie de direção metodológica, um encaminhamento para ver o cinema
filosoficamente. Assim, o valor conceitual de um filme reside nas “proposições
imagéticas” por ele instauradas, incompatíveis à condição epistêmica prévia à sua
experiência, dado que nela emerge a sensibilidade condizente ao caso
cinematográfico (KUSSLER; PORTELLA, 2009, p. 119).
Indicados nossos aportes teóricos, procuramos estabelecer de que forma
seria trabalhada em sala de aula tal proposta de ensino. Inicialmente, dividimos a
sala em onze equipes, que teria uma média de cinco acadêmicos em cada grupo. O
próximo passo foi definir quais seriam os exercícios logopáticos a serem
trabalhados. Conforme plano de ensino da disciplina foram selecionados:
- Para o dia 29/09/2010 – “EXERCÍCIO 4: Bacon, Steven Spielberg e o
cinema-catástrofe (A relação do homem com a natureza)”. Filme selecionado:
Tubarão, de Steven Spielberg;
- Para o dia 27/10/2010 – “EXERCÍCIO 14: Wittgenstein, o cinema
mudo e a diligência: o que é dito e o que é só mostrado (A questão dos limites da
linguagem)”. Filme selecionado: A Última Gargalhada, de Murnau;
- Para o dia 24/11/2010 – “EXERCÍCIO 3: São Tomás e o bebê de
Rosemary (A filosofia e o sobrenatural)”. Filme selecionado: O bebê de Rosemary,
de Polanski.
A escolha dos textos se baseou na estrutura do plano de ensino da
disciplina que se divide em três módulos: (I) Homem; (II) Conhecimento e (III)
Mundo, sendo que cada texto corresponde respectivamente a um dos módulos
trabalhados. Na aula precedente a cada exercício logopático, estando os
acadêmicos com o texto em mãos de cada exercício proposto e já com a leitura
prévia dos mesmos, será trabalhado o filósofo e o conceito que posteriormente será
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encontrado e discutido nas películas: Bacon/Natureza; Wittgenstein/Linguagem;
Tomás de Aquino/Deus.
No dia da efetuação do exercício, os grupos se reunirão e nas duas
primeiras aulas assistirão ao filme selecionado. Logo após, será entregue uma folha
com questões para cada um dos grupos. As questões versarão sobre o entendimento
dos acadêmicos sobre o filme e a relação do mesmo com as ideias filosóficas do
pensador perscrutado, buscando nos conceitos-imagem a inteligibilidade imagética
que os mesmos apresentam para a compreensão logopática da Filosofia.
Para concluir, deixamos a advertência de Cabrera no que tange a apreensão dos
conceitos-imagem na leitura do filme, algo que esperamos que nossos acadêmicos
consigam efetuar durante a realização dos exercícios:
É claro que o pressuposto básico para que o cinema tenha as características
mencionadas na formulação do conceito-imagem é que nos disponhamos a
ler o filme filosoficamente, isto é, a tratá-lo como um objeto conceitual,
como um conceito visual e em movimento. Ou seja, devemos impor a
pretensão de verdade e universalidade em nossa leitura do filme, quer o
diretor tenha proposto isso ou não. Não quero dizer que os filmes sejam
filosóficos “em si mesmos”; evidentemente se trata de uma certa leitura,
entre outras possíveis. O cinema pode ser considerado filosófico se for
possível analisar os filmes do ponto de vista conceitual, considerando-os
como sucessões de conceitos mostrados ou conceitos vistos. (CABRERA,
2006, p. 45).
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Referências
CABRERA, Julio. O cinema pensa: uma introdução à Filosofia através dos
Filmes. Rio de Janeiro: Rocco, 2006.
KUSSLER, L.; PORTELLA, S.. Resenha. IN.: Revista Filosofia Unisinos. Vol.
(10), nº 1. São Leopoldo: 2009 (pp. 118-120).
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