Estudos Filosóficos e Antropológicos Aplicados à Psicologia

Propaganda
TEXTOS: TOMAS DE AQUINO
TOMÁS DE AQUINO
A VIDA E AS OBRAS
Tomás de Aquino nasceu em Roccasecca, no sul do Lácio, em 1221 (Itália) e
morreu em Fossanova no ano de 1274. Filho de Landolfo, conde de Aquino e da
condessa Teodora. Teve sua educação primária na abadia de Montecassino.
Posteriormente, estudou em Nápoles. Foi aí que entrou em contato com a ordem dos
dominicanos e acabou por ingressar na ordem. Decisão contrária a sua família. Foi
discípulo de Alberto Magno em Colônia entre 1248 e 1252. Apelidado de “boi mudo” pelo
comportamento reservado e silencioso. Dizia Magno: “Este moço, que nós chamamos de
‘boi mudo’, mugirá tão forte que se fará ouvir no mundo inteiro!” Ensinou em Paris de
1252 a 1254. Depois disto, lecionou em várias outras universidades européias. Morreu
com 53 anos, em 1274.
Obras: Scriptum super Sententiis; Summa contra Gentiles; Summa Theologiae;
Quaestiones disputatae; Opuscula philosophica; Opuscula theologica; Rescripta;
Concordantiae; Commentaria philosophica; Commentaria theologica; Commentaria
biblica; Sermones; Opera liturgica; Preces; Carmina, entre outras.
RAZÃO E FÉ, FILOSOFIA E TEOLOGIA
Em sua obra Summa contra gentiles, Tomás deixa claro que o objeto primário de
suas reflexões é Deus, não o homem ou o mundo. Somente no contexto da revelação é
que se torna possível discurso correto sobre o homem e o mundo.
Muito se tem discutido se existe autonomia entre filosofia e teologia no
pensamento de Tomás. A diferença entre a filosofia e a teologia não está no fato de que
uma trata de certas coisas e a outra de outras coisas, porque ambas falam de Deus, do
homem e do mundo. A diferença está no fato de que a primeira oferece um conhecimento
imperfeito daquelas mesmas coisas que a teologia está em condições de esclarecer em
seus aspectos e conotações específicos relativos à salvação eterna.
REALE, Giovanni. O século XIII e as grandes sistematizações da relação entre razão e fé: Tomás de
Aquino. In___História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. São Paulo: Paulus, 1990, (Col. Filosofia),
p.551 – 566.
COTRIM, Gilberto. O Pensamento Cristão: a Patrística e a Escolástica. In__Fundamentos da Filosofia:
ser, saber e fazer. São Paulo: Saraiva, 1993. p. 133 – 137.
Página 1
TEXTOS: TOMAS DE AQUINO
A ESTRUTURA FUNDAMENTAL DA METAFÍSICA
Na obra O ente e a essência, Tomás expõe as linhas fundamentais da metafísica, da
seguinte forma:
a) O ente lógico – Ente quer dizer qualquer coisa que exista. Ele pode ser tanto
lógico ou puramente conceitual como real ou extramental. O ente lógico se
expressa através do verbo auxiliar ser; conjugado em todas as formas: “A sua
função é a de unir vários conceitos, sem com isso pretender que eles existam
efetivamente na realidade”. Nem tudo o que é objeto do pensamento existe no
modo como é pensado. Nesse sentido é compreensível o realismo moderado de
Tomás, segundo o qual o caráter universal dos conceitos é fruto do poder de
abstração do intelecto. O universal não é real, porque somente o indivíduo é real.
b) O ente real. Toda realidade, tanto o mundo como Deus, é ente, porque tanto o
mundo como Deus existem. O ente diz respeito a tudo, tando ao mundo como a
Deus, mas de modo analógico, porque Deus é ser, mas o mundo tem ser. Em
Deus, o ser se identifica com sua essência, razão pela qual também é chamado
“ato puro” e “ser subsistente”, mas na criatura, ao contrário, se distingue da
essência, no sentido de que esta não é a existência, mas tem existência, ou
melhor, o ato graças ao qual não é mais lógica, mas sim real.
O ente real possui duas pilastras: a essência e o ato de ser. A essência - indica “o
que” é uma coisa, ou seja, o conjunto dos dados fundamentais pelas quais os
entes – Deus, o homem, o animal, a planta – se distinguem entre si. No que se
refere a Deus, a essência se identifica com o ser, mas para todo o resto significa
aptidão para ser, isto é, potência de ser.
O ato de ser – o ser é o ato que realiza a essência, que em si mesma não passa
de poder-ser. Trata-se, portanto, de filosofia do ser, não de filosofia das essências
ou dos entes, mas do ser que permite às essências se realizarem e transformarem
em entes. “O que é o ser e por que ele existe ao invés do nada?” A metafísica de
Tomás pretende nos oferecer um fundamento do saber mais profundo do que o
das essências, um fundamento que funda a realidade e a possibilidade mesma das
essências.
OS CINCO CAMINHOS PARA PROVAR A EXISTÊNCIA DE DEUS
Para Tomás, Deus é o primeiro na ordem ontológica, mas não na ordem
psicológica. Mesmo sendo o fundamento de tudo, Deus deve ser alcançado por
caminhos a posteriori, isto é, partindo dos efeitos e do mundo. Se na ordem
ontológica Deus precede suas criaturas como a causa precede os efeitos, na
ordem psicológica ele vem depois das criaturas, no sentido de que é alcançado a
partir da consideração do mundo, que remete ao seu autor.
REALE, Giovanni. O século XIII e as grandes sistematizações da relação entre razão e fé: Tomás de
Aquino. In___História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. São Paulo: Paulus, 1990, (Col. Filosofia),
p.551 – 566.
COTRIM, Gilberto. O Pensamento Cristão: a Patrística e a Escolástica. In__Fundamentos da Filosofia:
ser, saber e fazer. São Paulo: Saraiva, 1993. p. 133 – 137.
Página 2
TEXTOS: TOMAS DE AQUINO
a) O caminho da mutação. É certo e sabido pelos sentidos que algumas
coisas sofrem mutações neste mundo. Ora, tudo aquilo que muda é movido
por outros, já que uma coisa não muda se não for em potência aquilo no
qual se conclui a mutação, ao passo que, ao contrário, sendo em ato, move
(ou seja, provoca mutação). Este outro, por sua vez, também é movido por
um outro e assim sucessivamente. Se não houvesse um primeiro ser
movente, cairíamos num processo indefinido.
Logo, conclui que é
necessário chegar a um primeiro ser movente que não seja movido por
nenhum outro. Esse ser é Deus.
b) O caminho da causalidade eficiente. No mundo das coisas sensíveis, nos
defrontamos com a existência de uma ordem de causas eficientes. Não é
caso conhecido de uma coisa que seja a causa eficiente de si mesma,
porque para tanto deveria ser anterior a si mesma, o que é impossível. Ora,
não é possível ir ao infinito na série das causas eficientes, porque em todas
as causas eficientes ordenadas a primeira é a causa das causas
intermediárias e as intermediárias são as causas das últimas, podendo as
causas intermediáriasse várias ou uma só. Ora, anular a causa significa
anular o efeito. Por isso, se não ouver uma causa primeira entre as causas
eficientes, não haverá nem causa intermediária nem causa última. Mas, se
fosse possível ir ao infinito nas causas eficientes, não haveria causa
efeciente primeira, nem efeito último, nem causas eficientes intermediárias,
o que, evidentemente, é falso. Por isso, é necessário admitir uma causa
eficiente, à qual todos dão o nome de Deus.
c) O caminho da contigência. Afirma que todo ser contigente, do mesmo
modo que existe, pode deixar de existir. Ora, se todas as coisas que
existem podem deixar de existir, então, alguma vez, nada existiu. Mas, se
assim fosse, também agora nada existiria, pois aquilo que não existe
somente começa a existir em função de algo que já existia. É preciso
admitir, então, que há um ser que sempre existiu, um ser absolutamente
necessário, que não tenha fora de si a causa da sua existência, mas, ao
contrário, que seja a causa da necessidade de todos os seres contingentes.
Esse ser necessário é Deus.
d) O caminho dos graus de perfeição. O quarto caminho diz respeito à
gradação que se pode encontrar nas coisas. Entre os entes, há os mais e
os menos bons, verdadeiros, nobres e semelhantes. Porém mais ou menos
são predicados de coisas diversas, que se assemelham de modo diverso a
algo que é o máximo, como se diz que uma coisa é mais quente quando
mais de perto se assemelha ao que é quentíssimo dessa forma, existe algo
que é verdadeiro, nobre e bom em grau máximo e, consequentemente, algo
que, em grau máximo, é ser, já que o que é máximo na verdade é máximo
também no ser. Ora, o máximo em cada gênero é a causa de tudo naquele
gênero: por exemplo, o fogo, que é máximo no calor, é causa de todas as
coisas quentes. Por isso, deve haver algo que, para todos os entes, é a
causa do seu ser, de sua bondade e de toda outra perfeição. E isso é
chamado Deus.
e) O caminho do finalismo. O quinto caminho deriva do governo do mundo.
Nós podemos ver que as coisas que carecem de conhecimento, como os
REALE, Giovanni. O século XIII e as grandes sistematizações da relação entre razão e fé: Tomás de
Aquino. In___História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. São Paulo: Paulus, 1990, (Col. Filosofia),
p.551 – 566.
COTRIM, Gilberto. O Pensamento Cristão: a Patrística e a Escolástica. In__Fundamentos da Filosofia:
ser, saber e fazer. São Paulo: Saraiva, 1993. p. 133 – 137.
Página 3
TEXTOS: TOMAS DE AQUINO
corpos naturais, agem em função de um fim. E isso é evidente pelo fato de
que sempre ou quase sempre agem do mesmo modo, de forma a obter os
melhores resultados. Portanto, está claro que não alcançam o seu fim por
acaso, mas por intenção. Ora, tudo o que não tem conhecimento não pode
se mover em direção a um fim, a menos que seja dirigido por algum ente
dotado de conhecimento e inteligência, como a flecha é dirigida pelo
arqueiro. Por isso, existe algum ser inteligente que dirige todas as coisas
naturais para o seu fim. E esse ser nós chamamos Deus.
REALE, Giovanni. O século XIII e as grandes sistematizações da relação entre razão e fé: Tomás de
Aquino. In___História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. São Paulo: Paulus, 1990, (Col. Filosofia),
p.551 – 566.
COTRIM, Gilberto. O Pensamento Cristão: a Patrística e a Escolástica. In__Fundamentos da Filosofia:
ser, saber e fazer. São Paulo: Saraiva, 1993. p. 133 – 137.
Página 4
Download