6. A FILOSOFIA MEDIEVAL: PATRÍSTICA E ESCOLÁSTICA A Idade Média abrange o período entre o século V (queda do Império romano do ocidente) e o século XV (queda do Império Romano do oriente, quando Constantinopla foi tomada pelos turcos). A igreja católica nasce dentro do Império Romano e a princípio é proibida e perseguida, mas paulatinamente vai se fortalecendo até se tornar a religião oficial do Império. Com a crise do Império Romano, a igreja católica emerge como a principal força aglutinadora em um mundo fragmentado pelas invasões bárbaras. A igreja desponta como a grande herdeira do patrimônio cultural da antigüidade clássica. Ela é detentora da escrita e do conhecimento e nos mosteiros encontram-se abrigadas as grandes bibliotecas. Dessa forma, a igreja católica se torna a detentora da força espiritual e política do período. Uma das principais questões discutidas nesse tempo é a relação entre teologia e filosofia, ou seja, entre fé e razão. “No período de decadência do Império Romano, quando o cristianismo se expande, a partir do século II – portanto, ainda na Antigüidade – surge a filosofia dos Padres da Igreja, conhecida também como patrística. No esforço de converter os pagãos, combater as heresias (doutrinas que se opõem aos dogmas da Igreja) e justificar a fé, desenvolvem a apologética, elaborando textos de defesa do cristianismo. A aliança entre fé e razão estende-se por toda Idade Média: a razão é auxiliar da fé e a ela subordinada. Daí a expressão agostiniana ‘Credo ut intelligam’, que significa ‘Creio para que possa entender’. Os padres recorrem inicialmente à filosofia platônica por intermédio do neoplatonismo de Plotino (204-270) e realizam uma grande síntese com a doutrina cristã, adaptando o pensamento pagão. O principal nome da patrística é Santo Agostinho (354430), bispo de Hipona, cidade do norte da África. Agostinho retoma a dicotomia platônica ‘mundo sensível e mundo das idéias’, mas substitui este último pelas idéias divinas. Segundo a teoria da iluminação, recebemos de Deus o conhecimento das verdades eternas. Tal como o Sol, Deus ilumina a razão e torna possível o pensar correto. A partir do século IX, desenvolve-se a escolástica, filosofia cristã que atinge seu apogeu no século XIII, com Santo Tomás de Aquino. Nesse período, continua a aliança entre razão e fé, em que a razão é sempre considerada a ‘serva da teologia’. Santo Tomás de Aquino (1225-1274) utiliza traduções de Aristóteles feitas diretamente do grego e faz a síntese mais fecunda da escolástica, que será conhecida como filosofia aristótelico-tomista. Embora continuasse a valorizar a fé como instrumento do conhecimento, Tomás de Aquino, devido à influência aristotélica, nem por isso desconsidera a importância do conhecimento natural. Se a razão não pode conhecer, por exemplo, a essência de Deus, pode, no entanto, demonstrar sua existência ou a criação divina do mundo. Além disso,tal como Aristóteles, Aquino reconhece a participação dos sentidos e do intelecto: o conhecimento começa pelo contato com as coisas concretas, passa pelos sentidos internos da fantasia ou da imaginação até a apreensão de formas abstratas. Dessa forma, o conhecimento processa um salto qualitativo ao partir da apreensão da imagem, que é concreta e particular, até a elaboração da idéia, que é abstrata e universal”. (ARANHA, Maria Lúcia de Arruda & MARTINS, Maria Helena P. Martins. Filosofando: Introdução à Filosofia. 3ª ed. São Paulo: Moderna, 2003, p. 126) Momento de reflexão - Por que, durante a Idade Média, a filosofia se torna serva da teologia?