1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO CUIDADOS CLÍNICOS EM ENFERMAGEM E SAÚDE DOUTORADO EM ENFERMAGEM EM CUIDADOS CLÍNICOS E SAÚDE DENIZIELLE DE JESUS MOREIRA MOURA ESTUDO QUASE-EXPERIMENTAL DE UMA INTERVENÇÃO EDUCATIVA PARA AUXILIAR NA INSULINOTERAPIA EM CRIANÇAS FORTALEZA-CEARÁ 2016 2 DENIZIELLE DE JESUS MOREIRA MOURA ESTUDO QUASE-EXPERIMENTAL DE UMA INTERVENÇÃO EDUCATIVA PARA AUXILIAR NA INSULINOTERAPIA EM CRIANÇAS Tese apresentada ao Curso de Doutorado em Enfermagem em Cuidados Clínicos e Saúde do Programa de Pós-Graduação Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de doutor em Enfermagem em Cuidados Clínicos. Area de Concentração: Fundamentos e Práticas do Cuidado Clínico em Enfermagem e Saúde Orientadora: Dra. Maria Vilani Cavalcante Guedes FORTALEZA - CEARÁ 2016 3 4 5 À Deus e minha família, meu porto seguro, minha fonte de paz e alegria. 6 AGRADECIMENTOS A Deus, por estar comigo em todos os momentos, amparando, conduzindo, fortalecendo e me proporcionando momentos felizes como este. És a minha fonte de sabedoria. Sem Ele, esta conquista não seria possível. À minha mãe Maria Clara, que sempre acreditou. Obrigada pelo amor, pelo incentivo, pelos ensinamentos e pelo esforço diário e incondicional em me ajudar. Agradeço a Deus por sua vida. Essa vitória também é sua. Ao meu esposo Emanoel, por estar sempre ao meu lado, por compartilhar comigo sonhos e conquistas. És meu melhor amigo, a pessoa com quem eu pude contar nos momentos difíceis. Obrigada por todo amor e cuidado dispensado. Obrigada por compreender minha ausência nos momentos de estudo e trabalho. Amo você! Ao meu filho Luiz Emanoel, meu amor eterno, presente de Deus em minha vida, minha fonte de alegria. Você me faz querer ser uma pessoa cada vez melhor. Você me completa e torna meus dias mais felizes. Amo muito você! Às minhas irmãs Daniele, Daiana, minha tia Marta e minha sobrinha Estéfane, pelo carinho, pela torcida e pelas orações. Obrigada por fazerem parte da minha vida. À professora Vilani Guedes, mestra, amiga, exemplo a ser seguido. Ensinou-me a dar os primeiros passos na pesquisa. Obrigada pelos ensinamentos. Você faz parte da minha história acadêmica. Agradeço aos brilhantes mestre Dra. Thereza Magalhães, Dra. Edna Camelo, Dra. Lúcia de Fátima, Dra. Regina Dodt, Dra. Amparito Castro, Dra. Viviane Pennafort que compuseram a banca examinadora, por compartilhar conhecimentos e contribuir para meu crescimento intelectual. À minha turma de doutorado pela convivência, troca de experiências. Aos membros do grupo de pesquisa em Enfermagem, Saúde e Sociedade, em especial às amigas Luciana Catunda, Ariane Alves e Nadya, pelo companheirismo nessa trajetória. A todos que contribuíram direta ou indiretamente para conclusão deste trabalho o meu muito obrigada! Obrigada, obrigada, obrigada! 7 RESUMO O DM 1 é uma doença crônica que exige tratamento por toda a vida. Este tratamento requer injeções diárias de insulina, mudança no estilo de vida, adoção de hábitos saudáveis e restrições alimentares que podem dificultar a adesão ao tratamento. Objetivou-se implementar e avaliar uma cartilha educativa sobre insulinoterapia para crianças com Diabetes Mellitus tipo 1 (DM1). Estudo com métodos mistos (estudo metodológico e quaseexperimental). A construção do material educativo contou com as seguintes etapas: seleção do conteúdo por meio de revisão da literatura, análise de blogs sobre DM1 e identificação das necessidades de aprendizado junto às crianças; elaboração e seleção de imagens, letras e cores; e diagramação e composição do layout. Após a construção, a cartilha foi validada por 37 proficientes quanto ao conteúdo e à aparência, obtendo IVC geral de 0,93. O índice de concordância para a aparência variou de 93% a 100%. Os resultados do alpha de Cronbach nas dimensões relativas ao conteúdo e aparência foram 7,25 e ,745. A concordância entre os juízes foi comprovada estatisticamente por meio do teste binominal com P= 0,8 e p < 0,05. Após os ajustes sugeridos no processo de validação, foram calculados o índice de legibilidade de Flesh Kincaid e o teste de compreensão da escuta, com resultados de 52,8% (leitura considerada fácil) e 90,3% de acertos, respectivamente. Sucedeu-se com a implementação e avaliação da cartilha com dezoito crianças. Ao início da atividade, foi aplicado um pré-teste para avaliar o conhecimento prévio, procedeu-se com a leitura dialogada da cartilha. As crianças receberam a cartilha para levar ao domicílio, permanecendo de posse do material por 30 dias. Após esse período, foi avaliado o conhecimento adquirido e a técnica do preparo e aplicação da insulina por meio da aplicação de um pós-teste e avaliação da técnica em um boneco. Considera-se a cartilha eficaz na produção de conhecimento, uma vez que se obteve melhoria do conhecimento em 100% dos participantes. A diferença do percentual de acertos das questões no pré e pósteste variou entre 7,1 e 21,5%. Com relação à técnica no preparo da insulina, identificaramse erros relacionados à higiene, antissepsia do frasco, técnica do ar e aspiração da dose prescrita. No que concerne à aplicação da insulina, todos realizaram os passos corretamente. O estudo contribuirá para adoção de práticas de educação em saúde contextualizadas, visando adesão ao tratamento em crianças. Palavras-chave: Diabetes Mellitus tipo 1. Tecnologia Educativa. Cuidados de Enfermagem. Estudos de Validação. 8 ABSTRACT The DM1 is a chronic disease that requires treatment for life. This treatment requires daily insulin injections, change in lifestyle, healthy habits and dietary restrictions that can hamper treatment adherence. The objective was to implement and evaluate an educational booklet on insulin therapy for children with type 1 diabetes mellitus (T1DM). Study with mixed methods (methodological and quasi-experimental study). The construction of educational materials included the following steps: selection of content through literature review, blog analysis of DM1 and identification of learning needs with the children; preparation and selection of images, letters and colors; and layout and composition layout. After construction, the primer was validated by 37 proficient as the content and appearance, getting general CVI 0.93. The concordance rate for appearance varied from 93% to 100%. The results of Cronbach's alpha in the dimensions of the content and appearance were 7.25 and 745. The agreement between the judges was statistically proven by the binomial test with p = 0.8 and p <0.05. After the suggested in the validation process, we calculated the Flesh Kincaid readability index and the understanding of the listening test, with results of 52.8% (considered easy reading) and 90.3% accuracy, respectively. It succeeded with the implementation and evaluation of the booklet with eighteen children. At the beginning of the activity, a pre-test was used to assess prior knowledge, it proceeded with the dialogic reading primer. The children received the booklet to take at home, remaining in possession of the material for 30 days. After this period, we evaluated the knowledge acquired and the technique of preparation and administration of insulin via the application of a post-test evaluation technique on a doll. It is considered effective in the textbook knowledge production, since there was obtained improvement of knowledge in 100% of participants. The difference in the percentage of correct questions in the pre and post-test ranged between 7.1 and 21.5%. Regarding the technique for the preparation of insulin, were identified errors related to hygiene, antisepsis bottle, air technique and aspiration of the prescribed dose. Regarding the application of insulin, all performed the steps correctly. The study will contribute to adoption of educational practices in health contextualized, seeking adherence to treatment in children. Keywords: Type 1 Diabetes Mellitus. Educational Technology. Nursing Care. Validation Studies. 9 RESUMEN La DM1 es una enfermedad crónica que requiere tratamiento de por vida. Este tratamiento requiere inyecciones diarias de insulina, cambios en el estilo de vida, los hábitos saludables y las restricciones dietéticas que pueden dificultar la adherencia al tratamiento. El objetivo era poner en práctica y evaluar un folleto educativo sobre la terapia de insulina para los niños con diabetes mellitus tipo 1 (DM1). En esta investigación se utilizó métodos mixtos: metodológico y quasi-experimental La construcción de materiales educativos incluyó los siguientes pasos: selección de contenidos por medio de revisión de revisión de la literatura, el análisis del blog de la DM1 y la identificación de las necesidades de los niños en relación al aprendizaje; preparación y selección de imágenes, letras y colores; y el diseño y la maquetación de la composición. Después de la construcción, la impresión fue validado el contenido y la apriencia por 37 especialistas, consiguiendo CVI general de 0,93. La tasa de concordancia para la apariencia varió de 93% a 100%. Los resultados de alfa de Cronbach en las dimensiones del contenido y la apariencia fueron 7,25 y 7,45. El acuerdo entre los jueces fue estadísticamente probada por la prueba binomial con p = 0,8 y p <0,05. Después de que lo sugerido en el proceso de validación, se calculó el índice de legibilidad Carne Kincaid y la comprensión de la prueba de escucha, con los resultados de un 52,8% (considerado de fácil lectura) y el 90,3% de precisión, respectivamente. Hubo éxito en la implementación y evaluación del folleto con dieciocho niños. Al comienzo de la actividad, se utilizó una pre-prueba para evaluar el conocimiento previo, se procedió con la imprimación de la lectura dialógica. Los niños recibieron el folleto para llevar a la casa durante 30 días.. Después de este período, se evaluaron los conocimientos adquiridos y la técnica de la preparación y administración de insulina a través de la aplicación de una técnica de evaluación posterior a la prueba con un muñeco. Se considera eficaz en la producción de conocimiento de libros de texto, ya que no se obtuvo una mejora de los conocimientos en el 100% de los participantes. La diferencia en el porcentaje de preguntas correctas en el pre y post-test osciló entre 7,1 y 21,5%. En cuanto a la técnica para la preparación de la insulina, se identificaron los errores relacionados con la higiene, antisepsia del frasco, inyección de aire y la aspiración de la dosis prescrita. En cuanto a la aplicación de la insulina, todo realizado los pasos correctamente. La contribución de este estudo radica en la adopción de prácticas educativas por parte de los niños y la adherencia al tratamiento de la DM1. Palabras clave: Diabetes Mellitus Tipo 1. Tecnología Educativa. Cuidados de Enfermería. Estudios de Validación. 10 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Fluxograma de seleção dos estudos da revisão integrativa............................................................................. 25 Figura 2 - Descrição gráfica dos tipos de estudo realizados................ 35 Figura 3 - Descrição gráfica das etapas de construção da 1ª versão da cartilha educativa............................................................ Figura 4 - Representação gráfica do processo de validação de conteúdo e aparência da cartilha......................................... Figura 5 - 43 Representação gráfica da fase de implementação e avaliação da cartilha educativa............................................ Figura 6 - 39 45 Descrição do processo de avaliação da legibilidade, compreensão da escuta, implementação e avaliação da cartilha ―Aplicando a insulina: a aventura de Beto‖. Figura 7 - 48 Ilustrações que representam os conteúdos apresentados na cartilha ―Aplicando a insulina: a aventura de Beto‖......... Figura 8 - Imagens reais da cartilha com apliques e a forma de leitura................................................................................... Figura 9 - 64 69 Imagens da cartilha ilustrando as estratégias lúdicas e didáticas utilizadas (labirinto, desenho, charadas, colagens de adesivos e exercícios)...................................................... 70 Figura 10 - Esquema representativo dos elementos que compõem a cartilha................................................................................... 71 Figura 11 - Páginas da cartilha pré e pós-validação pelos juízes Figura 12 - Ilustrações pré e pós-validação das páginas relacionadas a explicação da fisiopatologia do diabetes........................... Figura 13 - Ilustração dos acréscimos realizados na 77 78 cartilha 79 relacionados aos tipos de insulina e dispositivos para aplicação............................................................................... Figura 14 - Imagem real da cartilha com a montagem dos apliques...... 80 Versão pré e pós-validação da capa da cartilha ―Aplicando a insulina: a aventura de Beto‖............................................. Figura 15 - Imagens representando o primeiro encontro para leitura da 81 11 cartilha................................................................................... 89 Figura 16 - Imagens representando o segundo encontro para avaliação do conhecimento e da técnica de preparo e aplicação da insulina............................................................. 90 Figura 17 - Imagens representando as respostas das crianças aos exercícios presentes na cartilha............................................ 91 12 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Descrição dos assuntos identificados nos post em sete blogs sobre diabetes mellitus tipo 1. Fortaleza- CE, 2014................... 53 Tabela 2 - Descrição das categorias temáticas que emergiram das entrevistas em grupos focais com crianças com DM1. Fortaleza – CE, 2015.................................................................. 55 Tabela 3 - Índice de validade de conteúdo (IVC), teste de distribuição binominal dos itens e Alfa de Cronbach das dimensões da cartilha ―Aplicando a insulina: a aventura de Beto‖. Fortaleza CE, Brasil, 2015.......................................................................... 73 Tabela 4 - Índice de concordância (IC), teste de distribuição binominal dos itens e Alfa de Cronbach das dimensões da cartilha ―Aplicando a insulina: a aventura de Beto‖. Fortaleza - CE, Brasil, 2015................................................................................. 76 Tabela 5 - Descrição do percentual de acertos do teste de compreensão da escuta da cartilha Aplicando a insulina: a aventura de Beto. Fortaleza- CE, 2015.................................................................... 85 Tabela 6 - Perfil socioeconômico das crianças participantes da fase de implementação e avaliação da cartilha Aplicando a insulina: a aventura de Beto. Fortaleza- CE, 2016...................................... 92 Tabela 7 - Perfil clínico das crianças participantes da fase de implementação e avaliação da cartilha Aplicando a insulina: a aventura de Beto. Fortaleza- CE, 2016...................................... 95 Tabela 8 - Distribuição do percentual de acertos do questionário de avaliação do conhecimento aplicado antes e após a intervenção (pré e pós- teste). Fortaleza- CE, 2016................... 102 Tabela 9 - Distribuição do percentual de acertos das questões do questionário de avaliação do conhecimento aplicado antes e após a intervenção (pré e pós- teste). Fortaleza- CE, 2016....... 104 13 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Descrição dos estudos segundo base de dados onde estão disponíveis, categoria profissional do autor e estratégias de educação em saúde relatadas. Fortaleza-CE, 2013................ 28 Quadro 2 - Descrição dos testes estatísticos utilizados nas fases de validação, implementação e avaliação da cartilha. FortalezaCE, 2016................................................................................... 49 Quadro 3 - Quadro 3: Descrição do quantitativo das fases do estudo segundo o local de realização, técnica de análise e número de participantes. Fortaleza-CE, 2016....................................... 50 Quadro 4 - Aspectos relacionados à linguagem, ilustrações e layout utilizados na elaboração da cartilha educativa ―Aplicando a insulina: a aventura de Beto‖. Fortaleza- CE, 2015.................. 65 Quadro 5 - Interpretação dos valores obtidos com o Índice de Legibilidade de Flesh (adaptação para textos em português).. 83 Quadro 6 - Descrição do nível de compreensão do material instrucional segundo percentual de respostas corretas............................... 84 Quadro 7 - Relação entre as formas de avaliação propostas por Piaget e as perguntas elaboradas no instrumento de avaliação do conhecimento sobre insulinoterapia. Fortaleza – CE, 2016..... 100 Quadro 8 - Descrição das crianças conforme realização correta das ações para o preparo e aplicação da insulina. Fortaleza- CE, 2016.......................................................................................... 108 14 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS DM Diabetes Mellitus MEDLINE National Library of Medicine LILACS Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde SCIELO Scientific Eletronic Library Online CINAHL Cumulative Index of Nursing and Allied Health Literature PRISMA Preferred Reporting Items for Systematic Review and MetaAnalyses IVC Índice de Validade de Conteúdo IC Índice de Concordância I-CVI Level Content Validity Index S-CVI/AVE Scale-Level Content Validity Index, Average Calculation Method) S-CVI Scale Level Contend Validity Índex SPSS Statistical Package for the Social Sciences ILFK Índice de Legibilidade de Flesch Kincaid SBD Sociedade Brasileira de Diabetes SICI Sistema de Infusão Contínua de Insulina 15 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...................................................................... 15 2 OBJETIVOS.......................................................................... 20 2.1 GERAL................................................................................... 20 2.2 ESPECÍFICOS....................................................................... 20 3 REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO..................... 21 3.1 REFERENCIAL TEÓRICO PARA DEFINIÇÃO DO TIPO 21 DE TECNOLOGIA A SER PRODUZIDA DA CONSTRUÇÃO DA CARTILHA............................................ 3.2 REFERENCIAL TEÓRICO PARA CONSTRUÇÃO DA 33 CARTILHA............................................................................. 3.3 MÉTODO............................................................................... 35 3.3.1 Tipo de estudo..................................................................... 35 3.3.2 Construção da cartilha........................................................ 35 3.3.3 Processo de validação de conteúdo e aparência............. 36 3.3.4 Cálculo do Índice de Legibilidade de Flesch-Kincaid...... 39 3.3.5 Teste de compreensão da escuta...................................... 43 3.3.6 Implementação da cartilha educativa................................ 44 3.3.7 Análise dos dados da implementação com as crianças. 45 3.3.8 Aspectos Éticos................................................................... 48 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................ 5 CONCLUSÃO........................................................................ 112 REFERÊNCIAS..................................................................... 51 118 APÊNDICES.......................................................................... 131 APÊNDICE A...................................................................... 131 APÊNDICE B...................................................................... 132 APÊNDICE C...................................................................... 133 APÊNDICE D...................................................................... 135 APÊNDICE E...................................................................... 136 APÊNDICE F...................................................................... 139 APÊNDICE G...................................................................... 140 APÊNDICE H...................................................................... 141 APÊNDICE I....................................................................... 142 16 APÊNDICE J........................................................................ 143 APÊNDICE L...................................................................... 144 APÊNDICE M...................................................................... 151 APÊNDICE N...................................................................... 152 APÊNDICE O...................................................................... 153 APÊNDICE P...................................................................... 155 APÊNDICE Q...................................................................... 157 ANEXOS................................................................................ 158 ANEXO A............................................................................ 158 17 1 INTRODUÇÃO A enfermagem tem se consolidado como profissão e ciência voltada para o cuidado humano. Nesse sentido, somam-se esforços na construção de um cuidado clínico permeado pela cientificidade, humanismo, ética, estética, espiritualidade, educação em saúde, proporcionando às pessoas tratamento, cura, reabilitação, conforto e bem-estar. O conceito de cuidado clínico surgiu como possibilidade de provocar um encontro de outros conceitos de clínica com as diversas concepções de cuidado. Constitui-se em estabelecer novas relações entre os sujeitos envolvidos no processo do cuidado e na criação de espaços cuja subjetivação possa ser construída a partir dos desejos desses sujeitos. A escuta é considerada ferramenta essencial na construção de um plano terapêutico centrado no sujeito, envolvendo ações para além do consumo de tecnologias e procedimentos (SILVEIRA et al., 2013). O cuidado humano existe desde a existência do homem. Inicialmente, era informal, até que se tornou um saber-fazer de uma profissão em virtude da necessidade social. O cuidado em saúde é o fundamento da prática do enfermeiro. Evoluiu de um fazer empírico para um fazer dotado de cientificidade, arte, ética, estética, cultura e compromisso social. As dimensões do cuidado de enfermagem citadas tornam-no uma ação complexa, exigindo um saber-saber, saber-fazer e saber-ser voltado para as necessidades e singularidades do indivíduo. Essas dimensões são definidas por diversos autores que as consideram importantes e necessárias para a integralidade do cuidado (CORBANI; BRÊTAS; MATHEUS, 2009; GONZÁLEZ; RUIZ, 2011). Na perspectiva das necessidades de cuidado, destacam-se as doenças crônicas, com ênfase no Diabetes Mellitus (DM). Trata-se de um problema de saúde pública, devido à sua elevada incidência, prevalência e associação com a disfunção de outros órgãos que comprometem a produtividade, qualidade de vida e sobrevida dos indivíduos, além de envolver altos custos em tratamento e complicações. Dentre as classificações do diabetes mellitus, ressalta-se o tipo 1 (DM1), forma presente em 5% a 10% dos casos. Os estudos de prevalência apontam dados relacionados ao diabetes tipo 2, enquanto os de incidência são restritos ao DM1. A incidência do DM1 demonstra acentuada variação geográfica, apresentando taxas 18 por 100 mil indivíduos com menos de 15 anos de idade: 38,4 na Finlândia; 7,6 no Brasil; e 0,5 na Coreia, por exemplo. Atualmente, sabe-se que a incidência da doença vem aumentando, particularmente em menores de cinco anos de idade. Dados brasileiros mostram que as taxas de mortalidade por DM (por 100 mil habitantes) apresentam acentuado aumento com o progredir da idade, variando de 0,58 para a faixa etária de 0-29 anos até 181,1 em indivíduos acima de 60 anos (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2014-2015; BRASIL, 2013). O DM 1 é uma doença crônica que exige tratamento por toda a vida. Este tratamento requer injeções diárias de insulina, mudança no estilo de vida, adoção de hábitos saudáveis e restrições alimentares, sobretudo de açúcares e carboidratos, que podem dificultar a adesão ao tratamento. Desde o diagnóstico, a criança precisa receber informações para construir conhecimento sobre seu processo saúde-doença. O empoderamento deste conhecimento é um importante aliado para que a criança alcance independência e autonomia necessárias para o autocuidado. Além disso, a criança precisa estar sensível às ações necessárias ao tratamento, uma vez que se privar de doces e guloseimas, além de receber injeções diárias de insulina, não é tarefa fácil. Em se tratando de criança, sobretudo com doença crônica, a complexidade do cuidado ganha relevo, em virtude das especificidades do desenvolvimento cognitivo e psicossocial infantil. Espera-se que as crianças vivam situações de saúde, com crescimento e desenvolvimento dentro dos limites de normalidade. No entanto, quando a criança encontra-se afetada pelo DM1, precisa ter o comportamento modificado, além de modificações no cotidiano. Algumas podem desenvolver alterações biopsicossociais negativas, outras positivas e outras são resilientes ao processo de adoecimento (LEAL et al., 2012). O DM1 se desenvolve em crianças em uma fase que ainda não possuem habilidades cognitivas e maturação emocional que permitem a tomada de decisões sobre os ajustes do regime terapêutico (SPARAPANI et al., 2012). O cuidado clínico de enfermagem, na perspectiva da integralidade, envolve a assistência, gerência e educação em saúde, devendo considerar o estágio de desenvolvimento desse grupo que apresenta especificidades inerentes à idade. Segundo Leal et al. (2012), a concepção holística do cuidado incorpora valores, 19 hábitos, costumes, vivências das pessoas acometidas pela enfermidade e, mais ainda, por aqueles que estão mais próximos a ela, no caso, os familiares. O paciente, a família e os profissionais de saúde são corresponsáveis e participantes do cuidado. O tratamento do DM1 envolve consultas ambulatoriais com equipe multidisciplinar; injeções diárias de insulina; monitorização domiciliar da glicose capilar; restrição de açúcar e carboidratos; atividade física. Enfim, envolve profundas mudanças no estilo de vida de pacientes e familiares, o que dificulta a adesão (ALMINO; QUEIROZ; JORGE, 2009; GIMENES; ZANETTI; HAAS, 2009). Conhecer o que o paciente apreendeu da realidade, como organiza o cotidiano e se percebe em um mundo repleto de limitações, fornece subsídios para o planejamento de estratégias de intervenções condizentes com as necessidades deste. A mudança nos hábitos de vida é um processo lento, difícil, que requer ressignificação da doença e adaptação para melhoria da qualidade de vida e prevenção de complicações. Estudo antigo, porém ainda considerado um dos mais significativos para testar a proposição de que as complicações do Diabetes Mellitus tipo 1 estão relacionadas à elevação crônica da glicose no sangue, o The Diabetes Control and Complications Trial‖, o qual comprovou que a insulinoterapia intensiva no controle da glicemia é eficaz na redução do desenvolvimento e progressão das complicações do DM1 (GROSSI et al., 2009). Ensaio clínico cruzado, realizado por Grossi et al. (2009), evidenciou que quando existe um programa de monitorização ou quando valores de glicemia são utilizados para compreender a interação entre insulinoterapia, dieta, atividade física e intercorrências, a efetividade da monitorização domiciliar na melhoria do controle metabólico se confirma e a adesão ao tratamento aumenta tanto em pacientes jovens como em idosos. A Enfermagem, enquanto ciência, arte e tecnologia, preocupa-se com o cuidado humano nas dimensões individual e coletiva, pautada no compromisso social com as necessidades de saúde da população. Assim, o cuidado de enfermagem à criança requer olhar diferenciado para as singularidades e, sobretudo, para a construção da inteligência no universo infantil. 20 Ao cogitar sobre a elaboração de tecnologias inovadoras para o cuidado de enfermagem, nos diferentes cenários da prática profissional, destaca-se o uso de tecnologias educativas com recursos lúdicos para educação em saúde junto a crianças. A educação em saúde visa propiciar cuidado emancipatório, ou seja, capacitar o indivíduo para o autocuidado. No que concerne à educação infantil, destacam-se os pressupostos do Construtivismo (PIAGET, 1967; 1990; 2009). Este autor procura instigar a curiosidade e construção do conhecimento, uma vez que o indivíduo é motivado a encontrar as respostas a partir dos próprios conhecimentos e da interação com a realidade e o outro. Ademais, propõe a participação ativa da criança no aprendizado, mediante a experimentação, o diálogo, o estímulo à dúvida e o desenvolvimento do raciocínio. Segundo Freire (2003; 2004), ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para sua própria produção ou construção. A educação deve ser pautada no diálogo, partindo da linguagem do educando, de seus valores e concepção de mundo. Conhecer o desenvolvimento cognitivo, psicológico e social da criança subsidia o planejamento de cuidado clínico e educativo condizente com as necessidades e a capacidade de aprendizado da criança. As intervenções realizadas devem respeitar a fase do desenvolvimento, pois, mesmo em faixas etárias próximas, podem ser observadas diferenças, quando em fases de desenvolvimento distintas. Muitas são as mudanças da infância para a adolescência, logo recursos lúdicos são cabíveis, mas podem ser abordados de diferentes formas, a depender do público em questão. Os princípios para educar a criança sobre diabetes devem fundamentarse na motivação, no contexto (idade, escolaridade, nível econômico), na interatividade, na significância (importância do assunto), na progressividade (explicar do simples ao complexo), no dinamismo, no reforço, na reavaliação, na evolução e na educação sempre continuada (HAAS et al., 2013). Em estudo que objetivou compreender, na perspectiva da criança, os fatores que interferem no manejo da DM 1, reconheceram-se o brinquedo, os jogos didáticos e o uso de fantoches como importantes recursos terapêuticos na construção do conhecimento infantil (SPARANI; NASCIMENTO, 2010). 21 Após extensa revisão da literatura nacional e internacional, não foram identificados estudos na literatura brasileira que mencionassem tecnologias educativas, no formato impresso, destinadas à educação em saúde de crianças e adolescentes com DM1. Alguns estudos brasileiros relataram a experiência de jogos destinados a adultos e idosos no manejo do DM 2. A literatura internacional aponta pesquisas com uso de videogames, jogos de computador ativos, softwares e programas de internet para educação em saúde com o público em questão e ressalta a necessidade de estudos experimentais que avaliem a eficácia de tais estratégias. Dentre as publicações brasileiras, o mesmo estudo identificou baixo nível de evidência (relatos de experiência com nível VI de evidência). Segundo a classificação, a primazia é dada a ensaios clínicos experimentais e quaseexperimentais, nos quais é possível testar a eficácia de intervenções (POLIT; BECK, 2011). As doenças crônicas não transmissíveis é tema constante de estudos na Linha de Pesquisa Cuidados Clínicos e Educativos de Enfermagem em Doenças Crônicas e Cidadania, pertencente ao Grupo de Pesquisa Enfermagem, Educação, Saúde e Sociedade (GRUPEESS), o que despertou na autora interesse sobre o assunto. Somado a isso, não ter identificado o uso de cartilhas educativas na literatura brasileira, associado ao fato de computadores/internet não serem acessíveis a toda a população, impulsionou a elaborar a cartilha Aplicando a insulina: a aventura de Beto, pois acredita-se ser instrumento para facilitar o processo de ensino-aprendizagem sobre DM, além de ser mais acessível ao público em geral. Nessa perspectiva, surgiu o questionamento: a implementação de uma cartilha educativa com crianças portadoras de Diabetes Mellitus tipo 1 promove melhoria no conhecimento sobre insulinoterapia e contribui para o aprendizado do preparo e autoaplicação da insulina? Como hipóteses desse estudo destacam-se: A média de acertos de questões do questionário de avaliação do conhecimento aplicado antes da atividade educativa com uso da cartilha sobre insulinoterapia é diferente da média de acertos de questões do questionário de avaliação do conhecimento aplicado após a atividade educativa com uso da cartilha sobre insulinoterapia; As crianças que 22 participarem da atividade educativa com o uso da cartilha, irão adquirir habilidade para aplicação da insulina após 30 dias de posse do material educativo. Nesse contexto, defende-se a seguinte tese: o uso de uma cartilha sobre insulinoterapia para educação em saúde de crianças com DM1 possibilita a melhoria do conhecimento das mesmas sobre o assunto, bem como a autoaplicação da insulina. Assim, acredita-se que os profissionais de saúde, sobretudo os enfermeiros da atenção primária e especializada, contando com esse recurso, poderão realizar atividades educativas mais lúdicas, contribuindo para o autocuidado de crianças com DM1. O uso de cartilhas educativas com designer inovador e leitura atrativa contribui para melhoria do conhecimento e promoção do autocuidado. O tratamento adequado do DM1 tende a reduzir os índices de morbidade e mortalidade pela doença, os custos com internações e serviços ambulatoriais no Sistema Único de Saúde, além de promover melhoria da qualidade de vida dos pacientes. 23 2 OBJETIVOS 2.1 GERAL Avaliar a efetividade de uma intervenção educativa com o uso de uma cartilha no aumento do conhecimento sobre insulinoterapia e na capacidade de aplicação da insulina. 2.2 ESPECÍFICOS Construir uma cartilha educativa sobre insulinoterapia destinada a crianças com DM1; Validar a cartilha quanto ao conteúdo e à aparência por proficientes; Verificar o nível de legibilidade da cartilha e a compreensão da escuta pelo públicoalvo; Implementar a leitura da cartilha educativa com crianças acometidas pelo diabetes mellitus tipo 1; Comparar o conhecimento sobre o tema e a destreza no procedimento antes e após a leitura da cartilha. 24 3 REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO 3.1 REFERENCIAL TEÓRICO PARA DEFINIÇÃO DO TIPO DE TECNOLOGIA A SER PRODUZIDA DA CONSTRUÇÃO DA CARTILHA Cuida-se de um ser complexo, que precisa ser assistido em sua integralidade, para que haja qualidade e eficácia na assistência prestada. Desta forma, ora o cuidado será dotado de equipamentos e máquinas especializadas, ora dar-se-á por meio de relações interpessoais entre profissionais e pacientes. Ambas as formas de cuidado são consideradas tecnologias e têm suas complexidades. A escolha da estratégia mais apropriada será determinada pelas necessidades que emergem no contexto da assistência. Segundo Nietsche (2000), tecnologia pode ser definida como o resultado de processos concretizados a partir da experiência cotidiana e da pesquisa, para o desenvolvimento de um conjunto de conhecimentos científicos para construção de produtos materiais, ou não, com a finalidade de provocar intervenções sobre uma determinada situação prática. Na classificação das tecnologias definidas por Nietsche (2000), destacase a educativa, definida como um conjunto sistemático de conhecimentos científicos que tornam possível o planejamento, a execução, o controle e o acompanhamento, envolvendo o processo educacional formal e informal. No século XX, observou-se mudança de paradigma na educação em saúde. A educação sanitária surgiu no Brasil no início do referido século para combater doenças infectocontagiosas, por meio de campanhas autoritárias com abordagem biologicista (BORBA et al., 2012). Na década de 1970, com o Relatório Lalonde e a Conferência de Alma-Ata, os determinantes sociais e econômicos foram incluídos no processo saúde-doença, priorizando as medidas preventivas e educativas direcionadas às mudanças comportamentais e de estilo de vida (BORBA et al., 2012). Os fatores condicionantes e determinantes em saúde também foram respaldados pela Lei Orgânica da Saúde 8.080 (Brasil, 1990) e, a partir da Política Nacional de Promoção da Saúde Brasil (2006), a educação em saúde se fortaleceu enquanto política pública, passando a ser considerada a principal estratégia para promoção da saúde. 25 A educação em saúde deve ser uma prática baseada no diálogo, na troca de saberes e de experiências, promovendo o acesso a informações e proporcionando oportunidades para escolhas conscientes em relação à melhoria da qualidade de vida (SILVA et al., 2009). Visa contribuir para o empoderamento do indivíduo em relação ao seu processo saúde-doença, na perspectiva de promover mudanças de comportamento e ações de autocuidado capazes de controlar a doença e prevenir complicações. Em se tratando de crianças, o lúdico constitui importante ferramenta na realização de atividades educativas. Pode ser utilizado como recurso pedagógico no processo de ensino-aprendizagem. Propõe-se atuar na chamada zona de desenvolvimento proximal, ou seja, distância entre o nível real de desenvolvimento (conhecimento adquirido por construção individual) e o nível de desenvolvimento potencial (conhecimento adquirido sob a orientação de alguém mais ―capaz‖) (VIGOTSKI; LURIA; LEONTIEV; 2010). Para prover condições para o desenvolvimento infantil adequado, a enfermagem precisa estar atenta a diversos fatores, aos quais as crianças estão expostas, seja pelo meio em que vivem, ou por uma situação de doença, sofrimento ou hospitalização. Faz-se necessário ampliar o olhar para além das questões biológicas, oferecendo cuidado integral e humanizado (FALBO et al., 2012). Neste sentido, o lúdico é considerado essencial ao desenvolvimento infantil, cabendo à equipe de enfermagem estimular sua utilização nos diversos contextos de vida da criança, inclusive em ambientes de cuidado. Pesquisa que objetivou compreender, na perspectiva dos profissionais de saúde, o significado do uso do brincar/brinquedo em sala de espera de ambulatório infantil, evidenciou que os profissionais reconhecem a importância da utilização do brincar/brinquedo como recurso para o cuidado à criança. Atividades lúdicas amenizam os fatores negativos gerados pela ociosidade e provocam mudanças positivas no comportamento tanto das crianças quanto dos acompanhantes; contribui para o desenvolvimento infantil; e melhora a dinâmica das consultas pela maior aceitação da criança durante a realização dos procedimentos (NASCIMENTO et al., 2011). Ao considerar a importância do uso de tecnologias educativas pela enfermagem no contexto da promoção da saúde, realizou-se revisão integrativa, 26 para identificar na literatura as estratégias de educação em saúde desenvolvidas com crianças e adolescentes com DM1. A construção dessa revisão integrativa percorreu as seis etapas baseadas nas propostas fundamentadas por Ganong (1987). Ante a escassez de publicações nos últimos anos, ampliou-se a busca do estudo para outras categorias profissionais que propuseram atividades educativas para os sujeitos em questão. Assim, a questão norteadora foi: quais as estratégias de educação em saúde desenvolvidas para o ensino-aprendizagem de crianças e adolescentes com DM1? Nessa perspectiva, procedeu-se à busca na literatura científica, em julho de 2013. O acesso deu-se nas bases de dados: National Library of Medicine (PubMed/MEDLINE); Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS); Scientific Eletronic Library Online (SciELO); e Cumulative Index of Nursing and Allied Health Literature (CINAHL). Utilizaram-se os seguintes descritores em saúde entrecruzados com o marcador boleano ―and‖: Diabetes Mellitus Tipo 1/Diabetes Mellitus, Type 1, Educação em Saúde/Health Education. Incluíram-se as publicações entre os anos de 2002 e 2012 e nos idiomas português, inglês e espanhol. Após seleção e refinamento da busca, a amostra compôs-se de 26 artigos. O recente progresso científico vem contribuindo sobremaneira para a qualidade do cuidado no DM1, com isso, novas estratégias de tratamento farmacológico e não farmacológico têm sido implementadas. Por esse motivo, delimitou-se o tempo de abrangência desse estudo para a literatura atualizada nos últimos onze anos, uma vez que estudos antigos podem não trazer contribuições significativas para o objetivo proposto. Utilizou-se o instrumento Preferred Reporting Items for Systematic Review and Meta-Analyses (PRISMA) (Fuchs; Paim; 2010) para apresentar a seleção dos estudos (Figura 1). 27 Figura 1 - Fluxograma de seleção dos estudos da revisão integrativa. IDENTIFICAÇÃO TRIAGEM ELEGIBILIDADE Identificados nas bases de dados SCIELO = 9 PUBMED = 1.767 LILACS = 14 CINAHL = 12 (n=1802) Refinamento: anos de 2002 a 2012 e idiomas português, inglês e espanhol SCIELO = 8 PUBMED = 535 LILACS = 4 CINAHL = 6 (n=553) Artigos para avaliação de elegibilidade (n=67) 128 foram excluídos por serem editoriais, revisões, tutoriais e cartas, 18 se repetiam nas bases de dados e 340 não respondiam aos objetivos do estudo. 43 não descreviam como foco central estratégias educativas desenvolvidas com crianças e adolescentes com DM1. INCLUSÃO Estudos incluídos na análise (n=26) Fonte: Moura, 2013 A análise da caracterização dos estudos ressalta não haver constância no quantitativo destes nos últimos dez anos. Observou-se maior concentração nos últimos cinco anos, com predomínio em 2009 e 2011 (ambos representando 23,1% e 19,2% da amostra, respectivamente). Os Estados Unidos lideraram as publicações 28 (11- 42,3%), assim como a língua inglesa, a qual também foi escolhida para publicações em outros países (22 - 84,6%). Quanto ao periódico de publicação, a maior parte dos estudos foi publicada em revistas específicas de diabetes (12 - 46,1%). Em seguida, vêm os estudos publicados em periódicos de Medicina/Endocrinologia (7 - 26,9%), de Enfermagem (5 - 19,2%) e Multiprofissional (3 - 11,5%). Os delineamentos de pesquisa identificados na maioria dos estudos foram ensaios clínicos experimentais e quase-experimentais (19 - 73,1%) e relatos de experiência (5 - 19,2%). Isso se reflete nos objetos de estudo que avaliam a eficácia de intervenções educativas ou relatam a experiência na realização dessas atividades, respectivamente. Dentre as publicações brasileiras (2 - 7,7%), este estudo identificou baixo nível de evidência (relatos de experiência, com nível VI de evidência). A busca na literatura em questão permitiu identificar maior ênfase dos estudos brasileiros voltados para educação em saúde de adultos e idosos com DM2. Exemplos desses estudos são descritos (PEREIRA et al., 2012; HAMMERSCHIMIDT; LENARDT; 2010; TORRES et al., 2009; SANTOS et al., 2009; OTERO; ZANETTI; OGRIZIO, 2008). Estudo realizado por Borba et al., (2012) ratifica tal afirmação. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, com objetivo de identificar a produção científica multiprofissional sobre as práticas educativas para indivíduos com diabetes. Os resultados mostram que as práticas educativas são desenvolvidas, principalmente, para adultos e idosos até 80 anos, e envolvem temáticas que refletem o cotidiano do viver com diabetes. Em se tratando de crianças e adolescentes, as estratégias educativas devem ser diferenciadas para atender às particularidades desse público. Características inerentes ao desenvolvimento cognitivo, físico e emocional desses indivíduos norteiam as estratégias a serem utilizadas. Estudos propõem que o automanejo do DM1 deve ser entendido, considerando-se o estágio de desenvolvimento dessa clientela (SPARAPANI; NASCIMENTO, 2010). Além disso, o paciente precisa sentir-se valorizado, ser ouvido, receber atenção diante de suas necessidades e ter confiança nos profissionais que o assistem. 29 Nesse âmbito, a educação em saúde, tanto no âmbito individual quanto no grupal, deve ser pautada no relacionamento interpessoal entre enfermeiropaciente, além de estar relacionada com as necessidades de aprendizado para o autocuidado o que possibilita espaços de troca de conhecimentos e experiências. O Quadro 1 apresenta as estratégias educativas descritas na literatura científica multiprofissional e desenvolvidas com crianças e adolescentes com DM1. Mencionam atividades, desde um modelo tradicional de transmissão de conhecimento até o desenvolvimento, a implementação e avaliação de tecnologias de informação e comunicação presentes em atividades cotidianas e de lazer, como é o caso dos jogos de videogames, softwares e programas de internet. Identificaramse, ainda, a realização de atividades educativas em grupo, possibilitando troca de experiência e aprendizado. O desenvolvimento de tecnologias de informação e comunicação enriquece o processo ensino-aprendizagem, por acrescentar desde o suporte às metodologias e práticas pedagógicas, ao aumento do interesse, participação, motivação e aprendizagem significativa (PEREIRA; FREITAS, 2013). As tecnologias ampliam as possibilidades de ensino e aprendizagem. Quando utilizadas adequadamente, auxiliam na aquisição de conhecimentos, experiências e habilidades no manejo da doença. Para tal, requer capacitação profissional. É preciso dotar-se de postura proativa em busca de aprendizagem efetiva, além de desconstruir conceitos de um relacionamento vertical e transmissão de conteúdos entre profissional e paciente. Demo (2008) ressalta que o uso dessas tecnologias deve ser moldado por um profissional. O que transforma a tecnologia em aprendizagem não é a máquina, o programa eletrônico, o software, mas o facilitador. 30 Quadro 1: Descrição dos estudos segundo as estratégias de educação em saúde relatadas. Fortaleza-CE, 2013. Estratégias de educação em saúde Nº de artigos Educação em saúde com recursos on-line (software, programas 6 de internet, videoconferência e chat) Atividades em grupo com aulas expositivas teórico-práticas 6 Orientações individuais em consultas ou com o uso de vídeos e 4 folhetos educativos Atividades em grupo com recursos lúdicos 4 Educação em saúde com jogos de computador e videogame 3 Educação em saúde por telefone. 3 Fonte: Moura, 2013 Educação em saúde com recursos on-line (software, programas de internet, videoconferência e chat) Os ambientes virtuais de aprendizagem parecem favorecer ostensivamente modos mais flexíveis de raciocínio lógico, deduções, induções e formação da mente. Segundo Demo (2008), o aprendiz tem o desafio de avançar com apoio de um profissional, familiar ou alguém capacitado para tal, para enfrentar novas situações e problemas, construindo, assim, a autonomia progressiva. Seis estudos foram identificados pelo uso de software e programas de internet, dois realizaram comunicação entre profissionais e pacientes em videoconferência ou chat. Programas interativos, que estimulam a aprendizagem ativa e construção do conhecimento, são importantes aliados na educação em saúde. Kharrazi (2009) criou um quadro interativo para melhorar a adesão ao tratamento em DM1. O modelo proposto identifica a situação do paciente com base no perfil pessoal e adesão. Posteriormente, adapta-se à nova situação e cria estratégias para motivar o paciente, a fim de reforçar o comportamento positivo e capacitá-lo a conseguir melhores resultados de saúde. Tanto a videoconferência como os chats possuem os benefícios de uma educação em saúde grupal como troca de conhecimentos e experiências e são 31 realizados a distância, reduzindo os custos com essas atividades (IZQUIERDO et al., 2009; IAFUSCO et al., 2011). Alguns equipamentos fazem parte do cotidiano do paciente com DM1, como glicosímetros, agulhas e seringas ou bomba de insulina. Aliar tecnologia a esses equipamentos foi a proposta desenvolvida por um estudo que utilizou o One Touch UltraSmart Software para controle e monitoramento da hemoglobina glicada em crianças dependentes de insulina. Esta intervenção educativa levou a uma redução média de 7% da hemoglobina glicada com relevância estatisticamente significativa (p ≤ 0,05) (AGUILAR et al., 2012). Atividades em grupo com aulas expositivas teórico-práticas Nesta temática, foram agrupados seis estudos que abrangeram questões referentes a atividades em grupo com aulas expositivas teórico-práticas. A denominação de ―aulas expositivas‖ foi extraída dos estudos em discussão para compor essa categoria temática. A participação em grupos de educação em saúde auxilia no enfrentamento da doença, mediante busca de hábitos de vida saudáveis e troca de conhecimentos e experiências. Estudos realizados por Murphy et al. (2012) relatam a eficácia de atividades educativas em grupo com a participação dos pacientes e seus familiares na realização do autocuidado e controle glicêmico. Orientações individuais em consultas ou com o uso de vídeos e folhetos educativos Esta estratégia educativa foi identificada em quatro estudos, os quais desenvolveram atividades de cunho individual, com abordagem tradicional e expositiva. Foi realizada em consultas ambulatoriais ou apenas pela distribuição de materiais educativos. A necessidade de apoio e acompanhamento contínuo do paciente por uma equipe multiprofissional é reconhecida como algo fundamental para o sucesso da adesão ao tratamento. Nesta perspectiva, para a educação efetiva em diabetes, são indispensáveis treinamento, conhecimento, habilidades pedagógicas, capacidade de comunicação e de escuta, compreensão e capacidade de negociação 32 pela equipe (OTERO; ZANETTI; OGRÍZIO, 2008). O trabalho da equipe multiprofissional e interdisciplinar elevou a qualidade da assistência, pois concretiza a ideia da integralidade, uma vez que as ações são planejadas em conjunto, de acordo com as especificidades e necessidades individuais, o que implica união de saberes, continuidade do trabalho e responsabilização (PEIXOTO; SILVA, 2011). De modo geral, as orientações individuais isoladas podem não despertar interesse em crianças e adolescentes. Por isso, devem ser trabalhadas como atividade complementar às metodologias ativas. Atividades em grupo com recursos lúdicos Grupos de educação em saúde com a utilização de recursos lúdicos foram evidenciados em quatro estudos. Como recurso pedagógico, o lúdico tende a ser aceito pelo público em discussão, além de ser importante aliado no processo ensino-aprendizagem de crianças e adolescentes. Os recursos adotados foram: fantoches, confecção de cartazes, ilustrações de revistas e teatro. Mais de um recurso lúdico pode ser utilizado em uma mesma atividade para potencializar o seu efeito. Estudo realizado por Silva, Costa e Fermino (2012) relatou a experiência de uma atividade em grupo desenvolvida em quatro etapas: na primeira, realizou-se um teatro de fantoches; na segunda, foram preparados cartazes com figuras de alimentos; na terceira, houve discussão em grupo; e, na quarta, o encerramento, com um convite a todos para realização de alongamento. Lautén et al., (2009) descrevem a experiência de um acampamento de férias que dispõe de atividades de esporte, lazer, educação em saúde, com uso de revistas, jogos, programas educativos, atividades práticas e teatro, todas voltadas para o autocuidado. Acredita-se que um ambiente agradável, com relações de afeto, auxilia no enfrentamento da doença. Educação em saúde com jogos de computador e videogame Nesta seção, não se deteve à apologia à panaceia tecnológica que vivenciada atualmente, haja vista o interesse deste estudo voltado às novas oportunidades de aprendizagem, com o emprego de recursos que fazem parte do universo recreativo de crianças e adolescentes. 33 Como se percebeu, as pesquisas identificadas sobre o uso de videogames no auxílio ao autocuidado eram de origem norte-americanas, a confirmar a liderança tecnológica dos Estados Unidos. Thompson e Baranowski (2010) apresentam um modelo conceitual para a elaboração de videogames para o autocuidado de jovens com diabetes. Baranowski et al., (2011) propõem conceitos para concepção de um videogame que instigue a aquisição de hábitos alimentares saudáveis e prevenção da obesidade. Phan-Hug et al., (2011) realizaram estudo experimental que avaliou o impacto do videogame nos níveis glicêmicos. Frequência cardíaca (FC), pressão arterial (PA), glicemia, epinefrina (E), norepinefrina (NE), cortisol e hormônio do crescimento (HC) foram medidos após sessões de videogame e de leitura. O aumento da FC e NE sugere que o videogame pode induzir um estado de excitação suficiente para ativar o sistema simpático e alterar o curso da glicemia. Esta é uma tentativa de usar entretenimento para promover a mudança de comportamento de saúde. Quando concebidos, segundo conceitos da ciência comportamental e apoiados em princípios de design comerciais, os jogos têm forte poder de mudança de comportamento. Thompson e Baranowski (2010) ressaltam o caráter experiencial, criando uma plataforma para a aprendizagem ativa. Ao invés de uma apresentação didática, exigindo memorização ou assimilação de fatos fora de contexto, os jogos de vídeo promovem uma situação de aprendizagem, em que os jogadores descobrem e aprendem por meio da exploração e experimentação. No entanto, de acordo com cientistas comportamentais, ao invés de projetar jogos de vídeo para impactar diretamente um comportamento-alvo (por exemplo, o autocuidado), devem ser incentivadas as variáveis denominadas mediadoras que influenciam os hábitos de vida saudáveis, com consequente resultado na saúde (THOMPSON; BARANOWSKI, 2010; BARANOWSKI et al., 2011). Na literatura científica brasileira, encontram-se jogos educativos (sem tecnologias computacionais), destinados a adultos com Diabetes Mellitus tipo 2 (MOURA et al., 2008; SILVA et al., 2008). Educação em saúde por telefone 34 A educação em saúde realizada por meio de ligações telefônicas foi objeto de intervenção de três estudos. Pode ser considerada uma alternativa para os pacientes que moram longe do serviço de saúde e mostraram resultados satisfatórios. Nessa ótica, os estudos citados são de ensaios clínicos randomizados, nos quais os grupos de intervenção receberam orientações por telefone, no intuito de promover adesão ao tratamento, melhoria na qualidade de vida e controle dos níveis glicêmicos (LAWSON et al., 2005; HOWE, 2005; NUNN et al., 2006). No contexto do Diabetes Mellitus tipo 1, situações-problemas e conflitos pessoais podem permear o cotidiano dos doentes. Assim, a superação dessas dificuldades requer apoio da equipe multiprofissional, dos familiares e da sociedade. A não valorização desses aspectos pode resultar em práticas comprometedoras à adesão ao tratamento. É de suma importância o papel do enfermeiro como educador, visando empoderamento de conhecimentos capazes de impulsionar o indivíduo ao autocuidado, seja de doenças crônicas ou agudas (DODT; XIMENES; ORIÁ, 2012; MARTINS et al., 2012). Nessa perspectiva, faz-se necessário ultrapassar as estratégias educativas que visem apenas transmissão de conhecimentos, e aproximar-se de metodologias que possibilitem a construção do conhecimento e a aprendizagem significativa para busca de comportamento de promoção da saúde. 35 3.1.2 Referencial teórico para a construção da cartilha educativa Por se tratar de produção de uma tecnologia educativa para o público infantil, o qual tem peculiaridades relacionadas ao desenvolvimento cognitivo, considerou-se pertinente a adoção do Construtivismo como referencial teórico para subsidiar a elaboração da cartilha. O lúdico é uma das estratégias utilizada em situações de interação adultocriança como atividade deliberadamente proposta em um contexto de ensino. Não se trata somente de atividade recreativa. Pode promover melhoria na relação profissional-criança, fortalecer o vínculo e a confiança e proporcionar ambiente agradável. Jean Piaget, importante estudioso do desenvolvimento infantil, afirma que o desenvolvimento da inteligência na criança ocorre a partir das funções invariantes: assimilação, acomodação, organização e equilíbrio. Acontece nas seguintes fases: sensório-motor (0 a 2 anos), pré-operacional (2 a 7 anos), operatório-concreto (7 a 12 anos) e operacional formal (acima de 12 anos) (BELSKY, 2010; PIAGET, 2009). As características de cada uma das fases do desenvolvimento infantil descritas por Piaget fundamentam a escolha para aplicação da cartilha educativa na infância, especificamente para crianças entre 7 e 12 anos. Entre 7 e 8 anos, observa-se modificação decisiva no desenvolvimento mental. É o ponto de referência para perceber além das aparências imediatas. Inicia o processo de concentração individual e colaboração efetiva. Ao invés de condutas impulsivas, egocêntricas, a criança inicia a reflexão sobre suas ações, desenvolve a capacidade de raciocinar sobre o mundo de um modo mais lógico (PIAGET, 2009). Depois dos 7-8 anos, tem-se a constituição das primeiras operações lógico-matemáticas. As atividades são dirigidas pela inteligência e o esforço de tomada de consciência do próprio pensamento é cada vez mais sistemático (BELSKY, 2010; PIAGET, 2009). Nessa fase, começa a declinar o egocentrismo característico da fase anterior. Observa-se a concentração individual, quando trabalha sozinha, e a colaboração efetiva, quando há vida comum. A criança também passa a pensar antes de agir, começando, assim, a conquista do difícil processo que é a reflexão (PIAGET, 2009). 36 A teoria piagetiana é imprescindível para discussão sobre o construtivismo na educação. No entanto, o referido autor não a elaborou com o propósito de abranger o escopo do processo de ensino-aprendizagem escolar. Os conceitos de Piaget foram paulatinamente adaptados à educação em um momento cujos métodos pedagógicos baseados na transmissão direta de conhecimentos e na passividade do aluno assinalavam sua falência, suscitando um novo paradigma que pudesse reconhecer o indivíduo como ator principal no processo de aquisição de conhecimento. O construtivismo piagetiano enfatiza a necessidade de espaço para atuação do aluno de forma independente, pautada no constante exercício da autocrítica, como também uma intervenção docente como mediador. Tem como proposta central a acepção de um aluno atuante, crítico e reflexivo, mas não age apenas de forma espontânea e solitária. A ação do indivíduo perpassa pela interação com o meio e, sobretudo, com as mediações sociais e instrumentais (ANDRADE, 2010; PIAGET, 2010). Em consonância com os princípios do construtivismo, a construção e implementação desta cartilha educativa propõe a aquisição de conhecimento pela descoberta, diálogo e troca de experiências com os pares, possibilitando reflexão e construção do conhecimento relacionados à insulinoterapia no Diabetes Mellitus tipo 1. 37 3.3 MÉTODO 3.3.1 Tipo de estudo Trata-se de estudo com métodos mistos, com duas fases para o delineamento metodológico: uma fase com estudo do tipo metodológico e a segunda com estudo quase-experimental (Figura 2). Figura 2 - Descrição gráfica dos tipos de estudo realizados Construção da cartilha educativa Metodológico Validação interna Método Misto Quaseexperimental (validação externa) Fonte: Moura, 2013. Segundo Agresti e Finlay (2012), método misto se refere a um único estudo que utiliza estratégias múltiplas ou mistas para responder às questões de pesquisa e/ou testar hipóteses. Tais estratégias podem ser implementadas concomitantes ou sequencialmente. Na fase metodológica, construiu-se uma cartilha educativa para melhorar o conhecimento e a destreza da criança sobre insulinoterapia. O estudo metodológico refere-se a investigações sobre métodos, organização e análise de dados, com intuito de elaborar, validar e avaliar instrumentos e técnicas de pesquisa. Objetiva elaborar instrumento confiável e que possa ser utilizado por outros pesquisadores (POLIT; BECK; HUNGLER, 2011). A fase quase-experimental caracterizou-se pela realização de intervenções educativas com as crianças afetadas pelo DM1, utilizando o material educativo previamente elaborado. Conforme Polit, Beck e Hunger (2011), a pesquisa quase-experimental envolve a manipulação de uma variação independente (isto é, a 38 realização de uma intervenção), no entanto, não possuem as características de randomização ou grupo controle. 3.3.2 A construção da cartilha educativa Inicialmente realizou-se uma revisão integrativa da literatura com vistas a subsidiar a escolha do tipo de tecnologia a ser produzida. Foi realizada a identificação e análise aprofundada do construto teórico ―estratégias educativas em saúde para crianças com diabetes mellitus tipo 1‖. LoBiondo- Wood e Haber (2014) ressaltam a necessidade de uma revisão de literatura sólida, específica e exaustiva sobre os aspectos teórico-científicos que envolvem o assunto em questão. As evidências científicas disponíveis na literatura subsidiaram a escolha da cartilha como recurso para educação em saúde com crianças. A revisão integrativa da literatura descrita no item 4.1.1 deste trabalho descreve as estratégias educativas que estão sendo implementadas, além de demonstrar a eficácia de algumas intervenções. Apesar da diversidade de estudos que comprovam a importância de recursos lúdicos no aprendizado infantil, a revisão da literatura supracitada não identificou o uso de materiais educativos com recursos lúdicos na literatura brasileira. Na literatura internacional, identificou-se o uso de softwares e videogames, os quais podem não ser acessíveis ao público em questão. Tal evidência científica justifica a necessidade da elaboração da cartilha educativa Aplicando a insulina: a aventura de Beto. Após definir o tipo de tecnologia a ser produzida, procedeu-se a escolha do tema a ser descrito. Para tal identificou-se as necessidades de aprendizado e/ou dificuldades vivenciadas pelas crianças a partir de comentários/dúvidas postados em blogs específicos sobre DM1 e em entrevistas com crianças afetadas pela doença assistidas em um centro de referência para o tratamento de diabetes. Para a escolha do conteúdo da cartilha, e reconhecendo a internet como importante meio de comunicação, realizou-se a seleção do conteúdo virtual sobre DM1. Utilizou-se o site Google, com a expressão-chave ―educação em saúde em diabetes mellitus tipo 1‖ e restringiu-se à seleção para blogs. A busca inicial 39 apresentou 7.130 resultados. Foram incluídos blogs com interação por meio de posts e na língua portuguesa (Brasil). Foram excluídos websites (relacionados a notícias, científicos ou com fins comerciais), artigos de revistas e os que não eram específicos sobre DM, resultando em 38. Destes, foram excluídos 14, por serem específicos de DM2. Dezessete blogs eram específicos para DM1, porém escritos pelo próprio paciente na fase adulta (tal exclusão deu-se pelo fato das postagens destinar-se, prioritariamente, a pacientes adultos). Selecionaram-se blogs escritos por mãe/pai/cuidador de criança com DM1 ou pelo próprio paciente na adolescência, resultando em sete blogs. A seleção desses blogs resultou em um vasto conteúdo o qual foi copiado para o Word, separados por links dos blogs, para posterior análise. A análise desse material escrito fundamentou-se na análise de conteúdo temática de Bardin e o critério de categorização utilizado foi o lógico-semântico (categorias temáticas) incluindo as seguintes fases: pré-análise, exploração do material e síntese das ideias (BARDIN, 2005). Acerca da análise de conteúdo, enquanto técnica essencial para a interpretação dos dados compreende-se como: Uma categoria de procedimentos explícitos de análise textual para fins de pesquisa social onde, embora alguns exemplos apresentem descrições numéricas de algumas características do corpus do texto, assumem atenção especial os tipos, qualidades e distinções do conteúdo. O corpus de texto contem traços do conflito e do argumento e a análise de conteúdos permite construir: indicadores, valores, atitudes, opiniões, preceitos e estereótipos e compará-los entre comunidades (BAUER; GASKELL, 2008). Iniciamos com uma leitura flutuante e posterior leitura minuciosa e analítica. Em seguida, partiu-se para a exploração do material, com identificação das unidades de contexto e unidades de registro para determinação das categorias temáticas. Após essa categorização, foi realizada a descrição analítica que culminou na fase de tratamento dos resultados, inferência e interpretação, permitindo a condensação e síntese das ideias e coesão com os objetivos do estudo. A análise do conteúdo apreendido com os internautas e as crianças assistidas em um centro de referência subsidiou a escolha da insulinoterapia como conteúdo a ser abordado na cartilha. 40 Após análise do conteúdo virtual, realizaram-se entrevistas em cinco grupos focais, com a participação total de 19 crianças (quatro, três, quatro, três e cinco crianças em cada grupo). A intenção das entrevistas era questionar as crianças sobre dificuldades no manejo do DM e necessidades de aprendizado. Visando obter respostas mais fidedignas, adentrou-se ao imaginário infantil, realizando entrevistas por meio de teatro. O diálogo foi realizado por meio de um teatro (Apêndice G), no qual os personagens (enfermeiro e criança portadora de DM1) interagiram com os participantes. A peça teatral foi escrita pela própria autora e encenada pela mesma juntamente com um aluno da graduação em enfermagem. Iniciou com a apresentação dos ―atores‖ e da ―plateia‖. Após momentos de interação, perguntando aos participantes o nome, fizeram-lhes as seguintes perguntas: o que vocês querem saber sobre diabetes? O que vocês acham importante aprender para que possam se cuidar? O que vocês acham mais difícil no tratamento? Finalizou-se com um vídeo intitulado Convivendo com o diabetes. Tal vídeo explana sucintamente sobre o Diabetes Mellitus tipo 1. Foi elaborado pelo laboratório Pfizer, tem 10 minutos e 33 segundos e pode ser encontrado nesse link: https://www.youtube.com/watch?v=Ot3b1aM7ZCU&list=PL53955EC7026FEB55. Os encontros foram gravados em vídeo e áudio. As falas foram transcritas na íntegra e analisadas por meio da técnica de análise de conteúdo de Bardin. Os passos dessa análise foram os mesmos descritos para análise do conteúdo dos blogs explicitado anteriormente. A segunda etapa para a elaboração da cartilha tratou da criação de imagens e seleção de cores e letras. A função das imagens vai além da ilustração. Deve incutir significado ao conteúdo, facilitando o aprendizado. Não foram expostas imagens reais de crianças, em virtude de questões éticas, logo optou-se pela imagem gráfica em formato de desenho. Atentou-se também para a harmonia das cores e homogeneidade das figuras na idealização do layout. Selecionados o conteúdo e as figuras, procedeu-se à diagramação, construção do layout e confecção da primeira versão da cartilha, conforme etapas visualizadas na Figura 3. 41 Figura 3 - Descrição gráfica das etapas de construção da 1ª versão da cartilha educativa Revisão integrativa Seleção do conteúdo e tipo de tecnologia a ser construída Criação das imagens Análise de blogs Entrevista com as crianças Diagramação e composição do layout 1ª versão da cartilha educativa Fonte: Moura, 2013. 3.3.3 Processo de validação da cartilha educativa Após construção da primeira versão, a cartilha foi submetida ao processo de validação de conteúdo e aparência. A validação aumenta a confiabilidade do produto e possibilita a utilização do mesmo em larga escala. Entende-se por validade um importante critério para avaliação de instrumentos, no qual se avalia o grau em que o instrumento mede o que se propõe a medir (POLIT; BECK; HUNGLER, 2011; HULLEY et al., 2015). A avaliação de conteúdo é um passo essencial no desenvolvimento de novas medidas porque representa o início de mecanismos para associar conceitos abstratos com indicadores observáveis e mensuráveis (ALEXANDRE; COLUCI, 2011). Preocupa-se com a adequação da cobertura da área de conteúdo, abrangendo todas as dimensões do construto. A pessoa que deseja desenvolver um novo instrumento inicia pelo desenvolvimento de uma conceitualização minuciosa do construto de interesse. Essa conceitualização pode vir de fontes primárias, mas é mais recomendado que provenha da revisão da literatura (POLIT; BECK; HUNGLER, 2011; FLETCHER; FLETCHER, 2014). 42 Para validação de aparência, o grupo de proficientes julga o recurso educativo quanto à forma de apresentação do instrumento, clareza e compreensão, além das imagens e do layout (POLIT, BECK, 2011). Não há consenso na literatura quanto ao número de proficientes necessários para o processo de validação. Optou-se por utilizar a recomendação de Lopes, Silva e Araújo (2012) que propõe a seguinte fórmula para o cálculo do número mínimo de participantes: n = Zα2 x P x ( 1 - P ) = 1,962 x 0,85 x 0,15 = 22 E2 0,152 Onde " Zα " refere-se ao nível de confiança adotado, "P " representa a proporção esperada de proficientes indicando a adequação de cada item (85%), e "E" a diferença proporcional aceitável em relação ao que seria esperado (15%). Considerando Zα = 1,96 (intervalo de confiança de 95%). Os proficientes receberam a denominação P, seguida do numeral ordinal conforme ordem de recebimento dos formulários de avaliação. Por prever perdas na devolução do material, enviou-se a cartilha educativa para avaliação por 37 enfermeiros, dois educadores e 10 designers/publicitários. Destes, 29, dois e seis, respectivamente, responderam em tempo hábil, os quais constituíram a amostra do estudo. Os enfermeiros eram pessoas com conhecimento e experiência clínica de, no mínimo, cinco anos com crianças afetadas pelo DM1; os profissionais de educação apresentavam conhecimentos e experiência em ensino-aprendizagem na educação infantil; ambos avaliaram informações, aparência, clareza e compreensão pelos usuários. Os profissionais da tecnologia de informação apresentavam experiência com materiais educativos para crianças, cabendo-lhe a incumbência de avaliar o layout do material. A seleção dos proficientes enfermeiros acatou a recomendação de Lopes, Silva e Araújo (2012) que propôs enfermeiros com experiência clínica mínima de cinco anos trabalhando com a população-alvo e conhecimento teórico na área do construto. A seleção destes profissionais deu-se pelo método de amostragem bola de neve. Inicialmente, os participantes foram selecionados por indicação da pesquisadora e orientadora após análise do curriculum na Plataforma Lattes. Estes 43 indicaram outros para compor a amostra que, por sua vez, designaram outros e assim sucessivamente, até atingir o número desejado de participantes (POLIT; BECK, 2011). Subsequente à escolha, procedeu-se o convite com a distribuição dos seguintes documentos, conforme procedimento realizado por Dodt (2011) e Joventino (2013): Carta-Convite (APÊNDICE A). Termo de Consentimento LivreEsclarecido (APÊNDICE B), Quadro Sinóptico Sobre a Fase Operatório-Concreta do Desenvolvimento Infantil descrita por Piaget (APÊNDICE C), Caracterização dos Participantes (APÊNDICE D) e Instrumento de Avaliação da Tecnologia Educativa (APÊNDICE E). Os proficientes avaliaram com o auxílio de um questionário adaptado (SOUSA, 2011). O instrumento original foi produzido para avaliar uma cartilha educativa para pacientes em pré-operatório de cirurgia ortognática. Foi possível utilizar todos os critérios de avaliação do instrumento na íntegra. O mesmo foi adaptado na classificação da pontuação de cada item. Essa pontuação foi adaptada das recomendações de Alexandre e Coluci (2011) e apresenta-se em escala do tipo Likert: 1 = inadequado; 2 = item necessita de grande revisão para tornar-se adequado; 3 = item necessita de pequena revisão para tornar-se adequado; 4 = adequado As variáveis conteúdo, linguagem, motivação e cultura compuseram a validação de conteúdo. Ademais, as variáveis ilustrações e layout avaliaram a aparência. O instrumento constava também de questões abertas para comentários, críticas e sugestões. No final da avaliação, as recomendações dos foram analisadas e incorporadas. Para avaliação do conteúdo, utilizou-se o Índice de Validade de Conteúdo (IVC). O IVC foi calculado com base em três equações matemáticas: 1) I-CVI (Level Content Validity Index) – validade de conteúdo dos itens individuais; 2) S-CVI/AVE (Scale-Level Content Validity Index, Average Calculation Method) - média dos valores dos itens calculados separadamente, isto é soma-se todos os IVC calculados separadamente e divide-se pelo número de itens considerados na avaliação; 3) S-CVI (Scale Level Contend Validity Índex) – média dos resultados dos índices de validade de conteúdo resultando em um IVC geral. Considerou-se o 44 índice igual ou superior a 0,80 como desejável na validação do conteúdo (POLIT; BECK; 2006; ALEXANDRE; COLUCI; 2011). A validação de aparência foi realizada pelo Índice de Concordância (IC) entre os proficientes, por meio do percentual simples. De posse dos instrumentos, os dados obtidos foram compilados no programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 20.0. Utilizouse o teste exato de distribuição binominal, para estimar proporção de juízes que concordaram com a pertinência da cartilha. Foi considerada pertinente a proporção de 0,8 (80%) de concordância, tal qual a estimada para o IVC, com nível de significância de 5%. Desta forma, obteve-se concordância entre os juízes, com significância estatística para os resultados, p<0,05. O Alpha de Cronbach foi utilizado para análise da consistência interna na opinião dos proficientes a respeito das questões. Utilizou-se o teste individualmente, pelo agrupamento de itens pertinente a cada questão, e, em grupos, reunindo as questões em duas dimensões (Conteúdo e Aparência). Na dimensão conteúdo, foram consideradas as questões relativas ao conteúdo, à linguagem, motivação e cultura. Na dimensão aparência, foram consideradas questões relativas ao layout e às ilustrações. Adotou-se, ainda, o Alpha de Cronbach para análise da consistência interna da opinião dos juízes em cada dimensão, com valor mínimo aceitável de 0,7 (LOBIONDO-WOOD; HABER; 2014). Beckstead (2009) afirma que o uso de testes binominais na análise do processo de validação com número pequeno de especialistas pode apresentar dados errôneos e tende a insuflar o índice de validade de conteúdo. Posteriormente, procedeu-se à avaliação das sugestões acatadas e incorporadas na versão implementada com as crianças. A Figura 4 ilustra o processo de validação de conteúdo e aparência. 45 Figura 4 - Representação gráfica do processo de validação de conteúdo e aparência da cartilha 1ª versão da cartilha educativa Validação de Conteúdo (Índice de Validade de Conteúdo) Validação de Aparência (Índice de Concordância) Cálculo do Teste Binominal e Alpha de Cronbach Análise das sugestões/críticas dos proficientes Reajustes Versão da cartilha validada Fonte: Moura, 2014. 3.3.4 Índice de Legibilidade Flesch-Kincaid Após realizar os ajustes pertinentes ao processo de validação, aplicou-se o índice de legibilidade de Flesch-Kincaid. O termo readability formula foi traduzido como "fórmula de inteligibilidade" ou "índice de legibilidade" (MOREIRA, 2005). O referido índice possibilitou avaliar o nível de dificuldade de leitura da cartilha educativa e a escolaridade necessária para a sua leitura (BASTABLE, 2010). A fórmula Flesch é baseada na soma de dois elementos de linguagem básicos: tamanho médio das frases de amostras selecionadas no texto e tamanho médio das palavras medidas em sílabas para cada amostra de 100 palavras. O nível de exigência da leitura é calculado pela combinação dessas duas variáveis (BASTABLE, 2010). 46 Flesch, autor da fórmula, explica que sentenças longas provavelmente terão mais orações subordinadas e mais orações preposicionadas, determinando maior esforço mental para o leitor. Portanto, quanto mais sentenças e/ou palavras longas, maior a dificuldade de leitura do texto (MOREIRA; SILVA, 2005). 3.3.5 Avaliação da compreensibilidade A avaliação da compreensibilidade da cartilha Aplicando insulina: a aventura de Beto foi realizada por meio do teste de compreensão de escuta. Esta etapa foi realizada individualmente com 30 crianças, número definido por saturação. Segundo este critério, as observações deixam de ser necessárias quando as informações não revelam acréscimos de novos elementos (CHERQUES, 2009). Em torno do 27º participante identificou-se percentual de acertos satisfatório no teste de compreensão da escuta, então foram acrescidas mais algumas crianças, finalizando esta fase da pesquisa com 30 participantes. As crianças receberam a denominação CTC (Criança do Teste de Compreensão), seguida do algarismo arábico correspondente. Para realização desse teste, selecionou-se o trecho da cartilha que versa sobre a aplicação da insulina (páginas 24 a 29). O texto foi lido em voz alta e, posteriormente, a criança foi questionada oralmente com seis questões relevantes ao assunto (Apêndice I). A elaboração das questões foi fundamentada em Doak, Doak e Root (1996). Para determinar o percentual de acertos, o número de questões respondidas corretamente foi dividido pelo número total de questões e multiplicado por 100. A leitura do teste deu-se segundo recomendações de Bastable (2010). 3.3.5 Implementação e avaliação da cartilha educativa A Figura 5 sintetiza os procedimentos realizados nos dois encontros para implementação e avaliação da cartilha educativa. 47 Figura 5 - Representação gráfica da fase de implementação e avaliação da cartilha educativa Aplicação do questionário de caracterização e avaliação do conhecimento (pré-teste) 1º ENCONTRO Leitura da cartilha Ligações telefônicas semanais para incentivar a leitura da cartilha 2º ENCONTRO Aplicação do questionário de avaliação do conhecimento e opinião sobre a cartilha (pósteste) Avaliação da técnica do preparo da insulina e aplicação em um boneco Fonte: Moura, 2016. A intenção era implementar essa fase no Centro Integrado de Diabetes e Hipertensão (CIDH), instituição de saúde de nível secundário da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará, referência no tratamento do diabetes e hipertensão. No entanto, questões logísticas e de estrutura física impossibilitaram a atividade no local. Para realização dessa atividade, fez-se necessário tempo entre 60 e 100 minutos, em um espaço reservado para facilitar o processo ensino-aprendizagem. Na referida instituição, as crianças iam para consulta e chegavam em horários prédeterminados, o que impossibilitou a formação dos grupos. Dessa forma, as crianças receberam o convite para participar da pesquisa no CIDH e os grupos aconteceram em postos de saúde de fácil acesso para os participantes. Para o primeiro encontro da implementação da cartilha foram 48 convidadas 24 pessoas e, devido às questões relacionadas ao deslocamento, 18 pessoas compuseram a amostra dessa fase. O segundo encontro aconteceu individualmente com cada participante, no domicílio deste, em virtude da necessidade de recursos, como pia para lavagem das mãos e geladeira para guardar a insulina. A avaliação da intervenção teve caráter quase-experimental, do tipo préteste/ pós-teste, no qual o indivíduo é seu próprio controle. A população constituiu-se de crianças na faixa etária de 7 a 12 anos, com diabetes mellitus tipo 1. A amostragem foi por conveniência, em que foram escolhidas as crianças presentes no momento da coleta de dados. Foram convidadas 23 crianças que não realizavam a auto-aplicação da insulina (considerado critério de inclusão). Seriam considerados como critério de exclusão as crianças não residentes em Fortaleza-CE, analfabetas ou em série escolar inferior ao recomendado para faixa etária e que apresentaram sinais e/ou sintomas de glicemia descompensada, no entanto, não identificou-se nenhuma criança com essas características dentre as convidadas inicialmente. Do total de crianças convidadas, dezoito compareceram ao primeiro encontro, compondo a amostra inicial. Não houve perdas na amostra, uma vez que todas também compareceram ao segundo encontro. Antecedendo à leitura da cartilha, foi aplicado formulário pré-teste elaborado pela pesquisadora, com perguntas relacionadas às características socioeconômicas e clínicas da criança, contato telefônico, além de questões para avaliar o conhecimento prévio sobre insulinoterapia. Visando manter coerência entre o referencial teórico que fundamentou a construção e implementação da cartilha e a avaliação, foi elaborado pela autora instrumento para avaliar o conhecimento dos participantes fundamentado nos pressupostos do construtivismo descrito por Piaget. O construtivismo não apresenta um método de avaliação, mas descreve alguns princípios a serem considerados na avaliação da construção do conhecimento. Trata-se de avaliação mais qualitativa, no entanto, em virtude da necessidade de avaliar a eficácia da cartilha educativa, optou-se pela elaboração de questionário quantitativo. 49 Na perspectiva da proposta construtivista, avaliar é acompanhar e valorizar todo o processo de construção do conhecimento. É processual. Não tem caráter punitivo e sim diagnóstico (PIAGET, 2004). A implementação da cartilha foi realizada por meio de leitura dialogada em grupo com, no máximo, cinco participantes. Posteriormente, as crianças receberam a cartilha educativa para levar ao domicílio. De posse do material, os participantes receberam um contato telefônico semanal para incentivar a leitura, totalizando quatro ligações telefônicas. Foi agendado novo encontro para avaliação após 30 dias, com aplicação do formulário pós-teste. Esse encontro foi realizado no domicílio do participante e não houve perda na amostra. O formulário pós-teste contém perguntas para avaliar o conhecimento dos participantes, além de questões relacionadas à percepção sobre a cartilha. A avaliação foi realizada por dois acadêmicos de enfermagem, devidamente treinados pela pesquisadora, de forma a minimizar possíveis vieses. A Figura 6 apresenta o processo de avaliação da legibilidade, compreensão da escuta, implementação e avaliação da cartilha educativa. 50 Figura 6 - Descrição do processo de avaliação da legibilidade, compreensão da escuta, implementação e avaliação da cartilha Aplicando a insulina: a aventura de Beto Cartilha educativa pós-validação de conteúdo e aparência Aplicação do Índice de Legibilidade de Flesch-Kincaid Aplicação do teste de compreensão da escuta Implementação Aplicação de formulário pré-teste e leitura dialogada da cartilha Avaliação Aplicação do formulário pós-teste e avaliação da técnica do preparo e aplicação da insulina Fonte: Moura, 2015. 3.3.6 Descrição da análise dos dados da implementação da com as crianças Os resultados pré e pós-teste foram avaliados como amostras pareadas, de forma a avaliar a diferença de conhecimento antes e após a intervenção educativa. Posteriormente, foi realizado o teste de diferença de médias (teste t de Student). Para avaliar a técnica de aplicação da insulina, utilizou-se check list contendo os passos a serem seguidos para preparo e aplicação. Para cada participante, foi preenchido um check list. Os procedimentos realizados eram assinalados no instrumento, de forma a avaliar a técnica em sua completude. O quadro 2 apresenta os testes estatísticos utilizados nas fases de validação, implementação e avaliação da cartilha. 51 Quadro 2 - Descrição dos testes estatísticos utilizados nas fases de validação, implementação e avaliação da cartilha. Fortaleza- CE, 2016 FASE DA PESQUISA TESTE ESTATÍSTICO Validação do conteúdo Índice de validade de conteúdo Alpha de Cronbach Teste binominal Validação de aparência Índice de concordância Alpha de Cronbach Teste binominal Avaliação do conhecimento antes de após Teste t de Student a leitura da cartilha Técnica do preparo e aplicação da insulina Frequência absoluta e percentual Fonte: Moura, 2016 3.3.7 Aspectos éticos O projeto foi enviado ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual Ceará, sendo aprovado conforme parecer nº 681.631 e CAAE 31318514.8.0000.5534. Após aprovação da pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), os proficientes foram convidados, por meio de carta-convite (Apêndice A), e receberam o Termo de Consentimento Livre-Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE B) que explicitou os objetivos do estudo, benefícios e possíveis riscos. Após seu consentimento preencheram o instrumento de avaliação da cartilha, conforme descrito no Apêndice E. Na etapa da implementação com as crianças, solicitou-se o consentimento das mesmas para participação no estudo. As que consentiram, foi solicitado o consentimento do pai, mãe ou responsável e assinatura do Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE). O TALE e o TCLE foram emitidos em duas vias, sendo uma via para o pesquisador e a outra entregue ao responsável pela criança (Apêndices F e G, respectivamente). Os dados obtidos foram utilizados para fins de estudo, sendo mantida a fidedignidade dos resultados e o anonimato dos participantes. 52 O quadro 3 apresenta a descrição do quantitativo de participantes e o local de realização em cada fase do estudo. Quadro 3 - Descrição do quantitativo das fases do estudo segundo o local de realização, técnica de análise e número de participantes. Fortaleza-CE, 2016 FASE DA LOCAL PESQUISA TÉCNICA ANÁLISE DE Nº DOS PARTICIPANTES* DADOS Teatro Centro de referência Análise de conteúdo 19 para HAS e DM de Bardin Teste de Centro de referência Análise compreensão da para HAS e DM escuta univariada 30 (frequência absoluta e percentual simples) Implementação da Postos de saúde e Teste t de Student cartilha (1º encontro) Implementação 18 domicílio da Domicílio Teste t de Student 18 cartilha (2º encontro) * Apenas os participantes da fase de implementação são os mesmos no 1º e 2º encontro, os demais são crianças diferentes em cada fase. 53 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados estão apresentados em três etapas, conforme objetivos deste estudo. Na primeira, descreveu-se os resultados relativos ao processo de construção da cartilha; na segunda etapa, a validação de conteúdo e aparência; e na terceira, os resultados relativos à implementação da cartilha com as crianças. 4.1 CONSTRUÇÃO DA CARTILHA EDUCATIVA 4.1.1 Definição do conteúdo A primeira fase para construção da cartilha foi a análise do construto teórico e seleção do conteúdo. Esta fase foi subsidiada pelos resultados da pesquisa na literatura (revisão integrativa apresentada no tópico 3.2 deste estudo), análise de blogs sobre DM1 e entrevistas com as crianças. Segundo Funnel et al., (2008), a padronização americana de educação para o automanejo em diabetes (Diabetes Self Management Education – DSME) assinala a importância do processo educativo com base nas necessidades educacionais da população, traduzidas pela história clínica do indivíduo, idade, cultura, crenças, conhecimento prévio, nível de escolaridade, apoio familiar e status financeiro. Diante da diversidade de estudos que comprovam a importância de recursos lúdicos no aprendizado infantil, a revisão integrativa descrita anteriormente ainda retrata o uso de métodos tradicionais para educação em saúde com crianças. Não identificou-se na literatura nacional materiais educativos sobre DM1 produzidos para crianças. Os materiais identificados são destinados à educação em saúde de adultos com DM1. No que concerne à literatura internacional, a produção dessas tecnologias, sobretudo em formato eletrônico, tem sido constante alvo de estudos que comprovam sua eficácia na melhoria do conhecimento e promoção do autocuidado. Apesar do avanço nos meios de comunicação eletrônicos, optou-se pela confecção de um material escrito, no caso, a cartilha. Tal escolha justifica-se pelo fato de não identificar tal produção na literatura brasileira, além de considerar a facilidade de acesso ao público nos diversos níveis socioeconômicos. 54 Estudo que relatou a experiência sobre a elaboração de cartilhas educativas para promoção do autocuidado em indivíduos com diabetes destaca que a opção do material escrito foi escolha do público-alvo. Os autores decidiram pela confecção de uma cartilha ilustrada com figuras, que pudesse ser levada para o domicílio e que seria mais acessível para pessoas em todos os níveis de escolaridade ((TORRES et al., 2009). Sousa e Turrini (2012) afirmam que materiais educativos impressos contribuem para o processo de ensino-aprendizagem, pois oferecem informações de fácil acesso, possibilitando a portabilidade, flexibilidade e disseminação das informações. Oliveira, Lopes e Fernandes; (2014) recomendam o uso do material educativo escrito por profissionais de saúde como ferramenta de reforço das orientações verbalizadas. O material de ensino pode ter impacto positivo na educação de pacientes e ser capaz de ajudá-los em dúvidas, quando esse não estiver interagindo com o profissional de saúde. Estudos confirmam que a participação do receptor na elaboração do material educativo é extremamente importante para alcançar o objetivo proposto (TORRES et al., 2009; THIOLENT, 2011; LYTTON, 2013; PASSAMAI; SAMPAIO; LIMA, 2011). Deste modo, buscam juntos, educador e educando, mediatizados pelo ambiente e pela realidade, o conteúdo a ser estudado. O uso dessas abordagens tem favorecido a participação ativa dos sujeitos, desde o questionamento da sua realidade, a busca de respostas e a escolha do tipo de material a ser construído (FONSECA et al., 2011). A análise dos blogs permitiu identificar dúvidas, perguntas e comentários mais frequentes. Consequentemente, identificaram-se as necessidades de aprendizado e os temas de interesse dos internautas. A interação em ambientes virtuais tem sido muito comum em pessoas de todas as idades. Facilita o acesso à informação, rompendo barreiras de espaço, tempo, língua e cultura. As informações são descentralizadas e podem ser compartilhadas por comunidades científicas ou leigos. Foram identificados 582 posts, conforme Tabela 1. 55 Tabela 1 - Assuntos identificados nos posts, em sete blogs sobre Diabetes Mellitus tipo 1. Fortaleza- CE, 2014 ASSUNTO F Insulinoterapia 156 Bomba de insulina 115 Medição de glicemia 60 Mudanças no estilo de vida 59 Hiper ou hipoglicemia 32 Mães de criança com DM1 28 Novembro azul 19 Tempo de diagnóstico 18 Falta de insumos 18 DM e gravidez 16 DM e família 16 DM e escola 13 Alimentação 13 Motivação 11 Educação em saúde 08 Fonte: Moura, 2015. Nesses ambientes virtuais, as pessoas tratam de assuntos cotidianos relacionados ao Diabetes Mellitus tipo 1. Pacientes e familiares trocam informações e experiências sobre cuidado com a doença, o tratamento, os mecanismos de enfrentamento, entre outros. A análise dos assuntos apresentados na Tabela 1 motiva a reflexão sobre o impacto da insulinoterapia no cotidiano das crianças. Identificaram-se relatos dos pais/cuidadores, demonstrando preocupação em virtude do sofrimento da criança com as aplicações da insulina. Felizmente, esses relatos descrevem sofrimento no início da terapia, no entanto, com o apoio da família, amigos e profissionais, a criança tende a adquirir mecanismos para o enfrentamento dessa situação. Programa para ensino de insulinoterapia largamente utilizado no Reino Unido evidenciou benefícios na redução da hemoglobina glicada (HbA caiu de 8,51 ± 1,41 (média ± desvio padrão) para 8,24 ± 1,29%, com diferença de 56 0,27, P <0,001); a taxa de hipoglicemia grave caiu de 1,7 para 0,6 episódios por pessoa ao ano; evidenciou, também, redução do estresse psicológico e melhora na percepção de bem-estar. Nesse programa, os pacientes aprendiam o ajuste de insulina de acordo com a ingestão de carboidratos e monitoramento domiciliar de glicose (MANSELL, 2012). A bomba de insulina também recebeu destaque entre os internautas. Foi reconhecida como um instrumento que confere melhoria na qualidade de vida, por evitar as injeções diárias. Outro assunto também identificado com frequência foi a medição da glicemia. Os posts identificados ressaltam a importância da monitorização e manutenção dos níveis glicêmicos em valores adequados e relacionam-se diretamente com a alimentação adotada, bem como com a insulinoterapia, uma vez que o valor da glicemia poderá exigir ajustes na dose da insulina. Estudo que avaliou o impacto dos hábitos alimentares no controle metabólico de crianças e adolescentes com DM1 identificou que dietas com maior teor de proteína, menor teor de gordura saturada e com índice glicêmico e carga glicêmica mais baixos afetaram positivamente o controle glicêmico dos indivíduos estudados (QUEIROZ; SILVA; ALFENAS, 2010). Observou-se que os três assuntos mais comentados nos blogs estavam relacionados com agulhas e aplicações. De forma geral, os posts relacionavam-se ao medo/dor das múltiplas aplicações de insulina ou monitorização glicêmica no início do tratamento, no entanto, ressaltavam também a adaptação a esses procedimentos e reconhecimento da importância dos mesmos para o controle da glicemia. Fatores como o suporte familiar, rede de apoio social, trabalho da equipe de saúde e desenvolvimento cognitivo e emocional da criança apresentam-se como fatores essenciais para manejo e adaptação à doença na infância (SPARAPANI; NASCIMENTO, 2009). Após análise do conteúdo virtual, realizaram-se entrevistas em cinco grupos focais, com a participação total de 19 crianças (quatro, três, quatro, três e cinco crianças em cada grupo). Sparapani et al., (2012) utilizaram estratégia semelhante ao coletar os dados empíricos de estudo por meio de entrevista semiestruturada, aliada à utilização de fantoches. Os autores referiram a intenção de 57 obter depoimentos sinceros e, partindo-se do pressuposto de que essa é difícil tarefa, devido a várias questões do próprio desenvolvimento infantil, optaram pela utilização de fantoches como recurso para facilitar a comunicação e a interação entre participante e entrevistadora. Os encontros foram gravados em vídeo e áudio. As falas foram transcritas na íntegra. A Tabela 2 apresenta as respostas das entrevistas em categorias temáticas. Tabela 2 - Categorias temáticas que emergidas das entrevistas em grupos focais com crianças com DM1. Fortaleza – CE, 2015 PERGUNTA CATEGORIA TEMÁTICA FREQUÊNCIA DAS RESPOSTAS - O que vocês querem - Alimentação adequada 11 saber sobre diabetes? - Insulinoterapia 7 - Por que tenho diabetes? 1 - O que vocês acham - Autoaplicação da insulina 10 importante aprender para - O que posso comer 6 que possam se cuidar? 3 - Monitorização glicêmica - O que vocês acham - Injeções diárias de insulina 10 mais difícil no tratamento? - Não comer o que gosta 5 - Hipo/ou hiperglicemia 4 Fonte: Moura, 2015. Muitas são as dúvidas e dificuldades que permeiam o cotidiano das crianças com DM1 e seus familiares. Ao serem questionadas o que queriam saber sobre diabetes, a maioria das crianças demonstrou interesse em conhecer a alimentação adequada. Dentre as respostas a essa pergunta, destacaram-se: Quero saber o que eu posso comer. Minha mãe falou que têm coisas que como e passo mal (CGF14). Ainda estou aprendendo o que posso comer. Sei que não é bom comer comida da rua, mas, às vezes, 58 fico na dúvida se posso comer umas comidas ou não (CGF5). É bom saber dos alimentos para a gente não ficar comendo coisas erradas (CGF9). A insulinoterapia foi citada em menor proporção por participantes que relataram estar iniciando a autoaplicação ou em processo de aprendizado para a autoaplicação. As falas que seguem demonstram o conhecimento inacabado e o interesse em se aprofundar no assunto: Estou aprendendo a aplicar insulina. Ainda não sei direito. Tenho medo de fazer errado. Quero saber mais (CGF9). Minha mãe disse que é bom aplicar sozinho. Quero aprender (CGF2). Apesar de a alimentação ser um tema de maior interesse, considerou-se como principal necessidade de aprendizado a insulinoterapia, pelo predomínio nas perguntas subsequentes. Os participantes destacaram a importância de saber aplicar a insulina sozinho. Além disso, ressaltaram as injeções diárias de insulina como principal dificuldade no tratamento. A doutora me mostrou como usar a insulina porque tenho que usar a tarde quando estou na escola” (CGF2). Não gosto de ser furada todo dia. Isso é muito chato” (CGF 8 referindo às injeções diárias de insulina). A insulinoterapia destacou-se em virtude do interesse dos participantes que estavam aprendendo a autoaplicação, bem como nos demais participantes que suscitaram dificuldades relacionadas à dor, ao medo, transporte e à hipoglicemia após a aplicação. As respostas à segunda pergunta destacam a importância de saber aplicar a insulina sozinho. A alimentação e monitorização da glicemia também foram citadas como conhecimentos necessários para o autocuidado por seis e três participantes, respectivamente. 59 Precisa aprender a furar o dedo para fazer a glicemia. Quando dá 100 é bom. Se der muito alto, eu passo mal (CGF3). Ao serem questionados sobre as dificuldades no tratamento, novamente as injeções diárias de insulina predominaram, seguido das restrições alimentares e impossibilidade de comer os alimentos de preferência, conforme descritos a seguir: Eu levo muitas furadas. Tem dia que dá raiva (CGF3). Eu sempre gostei de chocolate. Antes, eu comia agora não posso mais (CGF6). A participação do público-alvo na escolha do tema possibilitou a elaboração de uma cartilha educativa que auxilie em dificuldades no tratamento e necessidades de aprendizado. Tal abordagem tende a contribuir para eficácia da educação em saúde. A escolha da concepção pedagógica é outro requisito fundamental no processo educativo. A intenção da cartilha Aplicando insulina: a aventura de Beto é propiciar ao usuário a possibilidade de construção do conhecimento por meio de leitura dialogada e reflexiva. Segundo Pereira et al., (2012); Fonseca et al., (2011); e Bordenave; Pereira (2010), apenas quando há alteração nos fatores de percepção e processamento da informação, há aprendizagem significativa com consequente possibilidade de mudanças de atitudes. 4.1.2 Elaboração textual Após definição do assunto da cartilha, seguiu-se o levantamento do conteúdo a ser abordado, seleção e fichamento para posterior elaboração textual. Inicialmente, foi realizada intensa busca de trabalhos nacionais e internacionais publicados nas bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde, banco de teses, livros e publicações do Ministério da Saúde. Após a leitura desse material, selecionaram-se os conteúdos importantes sobre insulinoterapia para crianças com DM1. O material selecionado foi fichado, de forma a obter informações confiáveis. Além disso, assuntos semelhantes oriundos de diversas bibliografias foram condensados em um mesmo tópico, tornando-o o mais completo possível. 60 O material fichado proporcionou riqueza de informações. No entanto, por se tratar de materiais científicos, essas informações vinham dotadas de termos técnicos que precisavam ser decodificados e transformados em uma linguagem mais simples, lúdica, acessível ao senso comum e, sobretudo, ao público infantil. As informações descritas na cartilha foram organizadas em sequência lógica de raciocínio, de forma a retratar sucintamente o que é Diabetes Mellitus tipo 1 e os procedimentos necessários para implementação da insulinoterapia. Dentre os procedimentos, destacam-se a autoaplicação, o armazenamento e transporte da insulina. O conteúdo da cartilha tem os seguintes referenciais teóricos: Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (Sociedade Brasileira de Diabetes; 2014), Guideline for Diabetes in Childhood and Adolescence (International Diabetes Federation; 2011), Cuidados de Enfermagem em Diabetes Mellitus (Sociedade Brasileira de Diabetes; 2011). A cartilha iniciou com a capa, em que se apresentou a imagem do personagem em seu ambiente cotidiano e o título Aplicando a insulina: a aventura de Beto. Seguiu-se a ficha catalográfica, apresentação e sumário. Na folha de apresentação, ressaltou-se o conteúdo da cartilha e públicoalvo. Esse tópico é finalizado com um convite à leitura e aquisição de novos conhecimentos de maneira didática e lúdica. A cartilha foi finalizada com uma página intitulada Plano de Tratamento com a Insulina e duas páginas em branco para anotações. O plano de tratamento destina-se a trazer informações sobre a criança, quem procurar em casos de emergência, bem como o tipo e a dose de insulina administrada. A cartilha está dividida em nove assuntos, cujo conteúdo está descrito a seguir: Oi, meu nome é Beto: aborda a apresentação do personagem Beto com 9 anos e Diabetes Mellitus tipo 1. A apresentação visa incentivar a criança à leitura com cenários e situações cotidianas, nos quais o leitor possa se identificar. De acordo com Piaget (2009), Souza e Wechsler (2014), na fase operatório-concreto (fase do público-alvo dessa cartilha), a criança é capaz de realizar correlações entre o que está vivenciando, por meio da leitura e sua realidade. A criança não é mais tão egocêntrica e consegue se colocar abstratamente no lugar do outro, dando-se aumento da empatia com os sentimentos 61 e as atitudes dos outros. Confrontada a realidade com a teoria, a criança se vê naturalmente movida a formular hipóteses para solucionar problemas concretos. Desta forma, é possível que a criança consiga visualizar no personagem Beto a realidade vivenciada, tornando a aprendizagem significativa. Existem duas condições para a construção da aprendizagem significativa: a existência de um conteúdo potencialmente significativo e a adoção de atitude favorável para a aprendizagem, ou seja, a postura própria do aprendiz que permite estabelecer associações entre os elementos novos e aqueles presentes na sua estrutura cognitiva (MITRE et al., 2009). A figura do labirinto na página nove faz alusão a um caminho, que pode parecer difícil, porém possível de se chegar. O personagem Beto (criança com DM1 que apresenta a cartilha) convida o leitor para percorrerem juntos o caminho rumo a níveis glicêmicos normais. Strategic and Proactive Communication Branch (2009) recomenda realizar convites durante a leitura. Interação é uma forma eficaz de aumentar o sucesso de seus materiais de ensino. Quando o público interage com as informações fornecidas, eles são mais propensos a lembrar e agir sobre a informação. Como eu soube que tinha diabetes: apresenta o dia em que o personagem recebeu o diagnóstico. Ressalta os sinais e sintomas clássicos da doença e como o mesmo se sentiu com a notícia. Estudo que objetivou apreender as repercussões do Diabetes Mellitus em crianças sob a ótica do cuidador relatou as seguintes mudanças comportamentais da criança a partir do diagnóstico: agressividade, nervosismo, inquietação, agitação, sentimentos de negação e medo (CORREIA JÚNIOR et al., 2014). Alencar et al. (2013), por sua vez, pesquisaram adolescentes portadores de DM1 e identificou sofrimento pela rotina de tratamento, medo de preconceito e diminuição do convívio social em virtude das limitações impostas pela doença. O que é diabetes: o foco da cartilha é a insulinoterapia, no entanto, fezse necessário explicar sucintamente a fisiopatologia do diabetes. Para facilitar o aprendizado, aproximou-se o conteúdo científico ao imaginário infantil. Desta forma, a insulina é representada por um submarino que transporta a glicose do sangue para as células. 62 Tratamento com a insulina: neste tópico, descreveram-se a definição de insulina e seu mecanismo de ação. O DM1 é uma doença autoimune que causa destruição progressiva das células β pancreáticas usualmente, ocasionando deficiência absoluta de insulina (SBD, 2014). Para finalizar esse conteúdo, a cartilha apresenta algumas charadas em que o leitor vai descobrindo a resposta, à medida que forma um objeto que a simboliza. Tal estratégia instiga ao desafio e proporciona a construção do conhecimento, conforme visualizada nas páginas 20 e 21 da cartilha. Apresenta também um exercício para sedimentar e testar o conhecimento adquirido (página 18). Tipos de insulina: houve a necessidade de apresentar os tipos mais comuns de insulina: regular, NPH e os análogos de ação ultrarrápida e ação lenta. Antes do advento dos análogos de insulina com ação ultrarrápida, as hipoglicemias ocorriam em maior número, isso certamente contribuiu para o receio por parte dos pais, e mesmo dos profissionais da saúde, em implementar o tratamento intensivo. Por meio de técnicas de DNA recombinante, obtiveram-se os análogos de insulina de ação ultrarrápida, com objetivo de tornar o perfil dessas novas insulinas mais fisiológico, na melhora do controle glicêmico (SBD, 2014). Aplicação da insulina: o tópico aborda a necessidade de aplicação diária da insulina e apresenta ao leitor os materiais necessários (seringa, caneta de insulina e bomba de infusão) e locais de aplicação. As figuras nas páginas 25 a 29 visam aproximação da realidade em relação aos materiais para aplicação da insulina e locais de aplicação. As imagens em 3D propiciam visual mais interativo e concreto (página 25). As colagens possibilitam ao leitor identificar os locais exatos para aplicação da insulina (páginas 28 e 29). Strategic and Proactive Communication Branch (2009) recomenda oferecer exemplos concretos e usar analogias familiares para o público. Procedimentos adequados para aplicação da insulina: apresenta o passo a passo dos procedimentos para o preparo e aplicação da insulina. Trata-se de lista de ações, não sendo recomendado, portanto, apresentar o texto em forma de listagem. Assim, optou-se por acrescentar mini folders, cujos procedimentos 63 estão apresentados gradativamente à medida que as páginas são abertas (páginas 30 a 32). Esse conteúdo é o cerne da cartilha e foi reforçado em um vídeo produzido pela autora. O vídeo é composto pelas imagens da cartilha e texto da cartilha o qual foi narrado em áudio explicando pausadamente os procedimentos para o preparo e a aplicação da insulina. O vídeo pode ser visualizado no link: www.youtube.com/watch?v=61C4z8ySbhk. Ainda sobre esse assunto, apresentaram-se os conteúdos em tópicos relacionados a curiosidades. O ―você sabia‖ ressalta a mistura de dois tipos de insulina em uma mesma seringa e rodízio dos locais de aplicação. É comum na prática clínica o preparo de dois tipos de insulina em uma mesma seringa, reduzindo o número de injeções. O rodízio nos pontos de aplicação é fator decisivo para o tratamento seguro e eficaz. Previne lipohipertrofia e, consequentemente, hiperglicemia. O rodízio indiscriminado causa variabilidade na absorção da insulina, dificultando o controle glicêmico (SBD, 2014; INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION, 2011). Nas páginas 36 e 37, apresentaram-se figuras que visam reconhecimento de situações problemas e tomada de decisão correta. Como guardar e transportar a insulina: elegeu-se a escola como cenário para explicar a aplicação, transporte e armazenamento da insulina. Tal cenário foi escolhido por fazer parte do cotidiano da criança, sendo local no qual a criança desloca-se diariamente e precisa conduzir a insulina. Braga, Bonfim e Sabbag Filho (2012) ressaltam a importância da aproximação entre escola e saúde, a fim de identificar as necessidades de saúde dos escolares com DM1. Essas necessidades podem ser supridas com planos de cuidados e pequenas adaptações na escola, ao lado de outras dependentes de ações políticas mais amplas, como a formação de professores e demais alunos. O que fazer com as seringas e agulhas usadas: orienta o descarte provisório das seringas e agulhas usadas até serem levadas para uma instituição de saúde. Plano de tratamento com a insulina: é importante que toda criança com DM1 tenha em mãos informações sobre tratamento e como proceder em caso de urgência. 64 Outra estratégia presente na cartilha foi a construção de histórias que apresentam conteúdo importantes de forma descontraída. Em ―O misterioso caso do diabetes‖, ressaltou-se o início assintomático da doença e como ocorre o diagnóstico. Em ―Protegendo meu futuro‖, o personagem Beto fala sobre as mudanças no estilo de vida para evitar complicações associadas ao diabetes. A contação de histórias é uma estratégia pedagógica que pode favorecer, de maneira significativa, o processo ensino-aprendizagem. As histórias estimulam a imaginação, ensina, desenvolve habilidades cognitivas, dinamiza o processo de leitura e escrita, além de ser atividade interativa que potencializa o aprendizado. Em meio ao prazer, à maravilha e ao divertimento que as narrativas criam, vários tipos de aprendizagem acontecem (SOUZA; BERNARDINO, 2011). As figuras a seguir exemplificam os conteúdos abordados na cartilha. Figura 7 - Ilustrações que representam os conteúdos apresentados na cartilha Aplicando a insulina: a aventura de Beto Fonte: Moura, 2015. 65 Figura 7 - Ilustrações que representam os conteúdos apresentados na cartilha Aplicando a insulina: a aventura de Beto (continua) Fonte: Moura, 2015. 66 Figura 7 - Ilustrações que representam os conteúdos apresentados na cartilha Aplicando a insulina: a aventura de Beto (continua) Fonte: Moura, 2015. A versão pré-validação da cartilha contou com 47 páginas e a versão pósvalidação apresenta 42 páginas. Cinco páginas foram excluídas, pois os proficientes consideraram que o conteúdo já havia sido abordado anteriormente tornando-se repetitivo. As páginas foram contadas sequencialmente, a partir da ficha catalográfica, porém a numeração em algarismos arábicos passou a ser registrada a partir da primeira página textual, na margem inferior. 4.1.3 Confecção das imagens, seleção de letras e cores A confecção das imagens, letras e cores contou com o auxílio de um designer gráfico. À medida que o profissional contratado desenhava as imagens, estas eram enviadas à pesquisadora que aprovava ou realizava correções para maior clareza da ilustração. 67 Após vasta revisão na literatura, identificaram-se recomendações para elaboração de material escrito para adultos e, em especial, para adultos com baixo letramento. Não identificaram-se recomendações específicas para crianças. Desta forma, utilizaram-se as mesmas recomendações, com algumas adaptações relacionadas à linguagem e ao layout, tornando o material mais atrativo para o público em questão. Ao elaborar uma tecnologia educativa, devem-se considerar a cultura, a alfabetização e, sobretudo, o letramento funcional em saúde, o qual envolve a capacidade de leitura, compreensão e ação diante das situações. O Quadro 4 apresenta aspectos relacionados à linguagem, ilustrações e layout utilizados na elaboração da cartilha educativa, conforme recomendações de Strategic and Proactive Communication Branch (2009). 68 Quadro 4 - Aspectos relacionados à linguagem, ilustrações e layout utilizados na elaboração da cartilha educativa Aplicando a insulina: a aventura de Beto. Fortaleza- CE, 2015 Linguagem Priorizaram-se frases curtas, com palavras que fazem parte do cotidiano do leitor; Utilizaram-se pronomes como ―eu‖ e ―você‖ na voz ativa; Evitaram-se jargões, termos técnicos e científicos, siglas e, quando houve a necessidade de utilizá-los, estes foram devidamente explicados; O leitor foi informado sobre o que era importante aprender e os benefícios da leitura da cartilha; Ações positivas foram destacadas, informando ao leitor o que ele deve fazer e não o que ele não deve; Desenvolveu-se uma única ideia em cada tópico, sem, contudo, apresentar muita informação em uma mesma página. Ilustrações As imagens foram criadas no programa Adobe Ilustrator; Foram selecionadas imagens que ajudem a explicar ou enfatizar pontos importantes no texto e que sejam familiares ao público-alvo, permitindo que os mesmos se identifiquem com a mensagem; Evitaram-se ilustrações abstratas com função apenas decorativa; Foram utilizados desenhos de linhas simples; Não foram utilizadas caricaturas; Designer e Utilizou-se a letra Amasis MT, tamanho 12 para o corpo do texto e Layout letra Obelix; Tamanho 20 para os títulos; Mantiveram-se, no máximo, dois tipos de fontes (título e subtítulo) com espaçamento 1,5; Utilizou-se o papel couchê 80Kg na capa e Couchê 60Kg no texto. O papel fosco no texto reduz o brilho, melhora a legibilidade e possibilita a escrita no papel; O negrito e maiúsculo foram utilizados nos títulos; Optou-se por cores vivas, com fundo nas cores amarela, azul, verde ou laranja; Programa utilizado para editoração foi Adobe Indesigner; 69 Evitaram-se palavras maiúsculas, itálico ou sublinhado no texto; Foi acrescentado espaço em branco no final para anotações. Fonte: Strategic and Proactive Communication Branch (2009) A cartilha foi idealizada, proporcionando diálogo/interação entre o personagem e o leitor, por meio de uma história. Esse formato possibilita o uso de frases curtas e objetivas, facilitando o entendimento. Passamai, Sampaio e Lima (2013); Strategic and Proactive Communication Branch (2009); Moreira, Nóbrega e Silva (2003) e Doak, Doak e Root (1996) ressaltam as seguintes orientações: uso de palavras com uma ou duas sílabas; maioria das sentenças, se possível, entre oito a dez palavras; parágrafos limitados a 3-5 sentenças; comunicação como se o autor estivesse conversando com um amigo; e estilo de conversação com tom mais natural e compreensível. Com relação à letra, recomenda-se letra em bastão para alfabetização das crianças. Após a alfabetização, as crianças começam a aprender outros tipos de letra, dentre as quais as mais recomendadas para leitura são letras no padrão Serif (BRASIL, 2006). São aconselháveis fontes serifadas em textos extensos, pois tendem a guiar o olhar através do texto, ajudando os olhos do autor a ―deslizar‖ pela história (RUMJANEK, 2009). Desta forma, optou-se pela letra Amasis MT, tamanho 12. Com relação às ilustrações, estas foram utilizadas para representar o conteúdo apresentado, incutindo-lhe significado e facilitando o aprendizado. Foram preservadas a harmonia das cores e homogeneidade das figuras na idealização do layout. Teles (2011) ressalta que as ilustrações devem ser adequadas ao tema, de modo a facilitar a compreensão e recordação do texto, clarificando e reforçando a informação. Para Doak, Doak e Root (1996), a imagem tem fator decisivo em lê ou não a informação. Deve chamar a atenção do público-alvo e retratar claramente o conteúdo em questão. Desenhos de linhas simples promovem realismo sem incluir detalhes indesejados. As imagens podem melhorar os materiais de comunicação, quando utilizadas corretamente. As fotografias funcionam melhor para mostrar "vida real", pessoas e emoções, no entanto, podem apresentar imagens de fundo que tirem a 70 atenção do público a partir da imagem que deseja destacar. Ilustrações simples ou desenhos de linha podem simplificar as complexidades e destacar os principais componentes de uma ideia (STRATEGIC AND PROACTIVE COMMUNICATION BRANCH, 2009). Alguns conteúdos, como o preparo e a aplicação da insulina, são representados por meio de textos e imagens que vão se delineando e aparecendo paulatinamente (conforme visualizado nas páginas 30 a 32). Tal estratégia instiga a descoberta, o desafio e a construção do conhecimento. Realizaram-se também colagens nos locais de aplicação da insulina (páginas 28 e 29), de forma a aproximar o conteúdo à realidade concreta e facilitar a aprendizagem dos locais exatos de aplicação. ―Situar‖ a aprendizagem significa realizá-la na vida concreta do aluno, não para nisto se aquietar, mas como ponto de partida para mudanças que vão sempre além daquilo que se encontra dado. Outra maneira primorosa de ―situar‖ a aprendizagem é também orientar-se por estratégias centradas em problematizações e uso de metodologias ativas (DEMO, 2009). 4.1.4 Jogos, charadas, palavras cruzadas e colagens Ainda na perspectiva da construção do conhecimento e com a finalidade de proporcionar leitura ativa e interativa, a cartilha apresenta jogos, charadas e colagens, conforme figuras 8 e 9. Tais estratégias acrescentam o lúdico e potencializam o processo ensinoaprendizagem, tornando-o prazeroso, desafiador, além de fornecer feedback ao conteúdo explanado. A ludicidade é uma estratégia empregada para estabelecer relações, tornando-se um elo na comunicação entre os profissionais de saúde e as crianças, favorecendo o autoconhecimento, a cooperação, imaginação, criatividade e transformação de práticas (ARAÚJO et al., 2013). 71 Figura 8 - Imagens reais da cartilha com apliques e a forma de leitura Fonte: Moura, 2015. 72 Figura 9 - Imagens da cartilha ilustrando as estratégias lúdicas e didáticas utilizadas (labirinto, desenho, charadas, colagens de adesivos e exercícios) Fonte: Moura, 2015. 73 Aliar aspectos lúdicos ao cognitivo constitui importante estratégia para o ensino-aprendizagem de conceitos abstratos e complexos, favorecendo a motivação interna, o raciocínio, a argumentação, a construção de representações mentais, a afetividade, a autoaprendizagem e a socialização (PERIM; STRUCHINER; GIANNELLA; 2013; BARBOSA et al., 2010). Bastable (2010) apresenta uma pirâmide de aprendizagem baseada no tipo de material instrucional e nível de envolvimento do aprendiz. A aprendizagem por meio de leitura (somente material escrito) retém, em média, 10% da informação; a audição 20%; a visão 30%. Na cartilha em questão, aliou-se fala e/ou escrita com uso de texto, imagens, jogos, além da leitura falada. Segundo o autor, tal modalidade tem índice médio da retenção de 70% da informação. A diagramação da cartilha foi organizada conforme representado na Figura 10. Figura 10 - Esquema representativo dos elementos que compõem a cartilha Capa: título Parte externa Composição da cartilha Contracapa: ficha catalográfica (autores, título, instituição, número de páginas, ano de publicação) Elementos prétextuais Parte Interna Elementos textuais Elementos pósSumário textuais Fonte: Moura, 2015 Apresentação Sumário Conteúdo (páginas 6 a 40) Plano de Tratamento (página 41) Anotações (página 42) 74 4.2 Análise do processo de validação de conteúdo e aparência A amostra deste estudo foi constituída de 29 enfermeiros, dois educadores e seis designers/publicitários/jornalistas. O número mínimo de proficientes seria 22, conforme amostra especificada na metodologia. Desta forma, conseguiu-se êxito na amostra em questão. Os enfermeiros avaliaram a cartilha nos aspectos relacionados ao conteúdo e à aparência, enquanto os educadores e designer/publicitários/jornalistas analisaram os aspectos referentes à aparência. Os participantes enfermeiros tinham experiência com DM1 e educação em saúde, com média de tempo de experiência de 10 e 11,7 anos, respectivamente. Além da experiência supracitada, 28 (96,5%) participaram da elaboração/avaliação de material educativo e 25 (86,2%) apresentaram publicações sobre o tema em periódicos indexados. Obtive-se também boa formação acadêmica entre os participantes enfermeiros. Vinte (68,9%) eram doutores e oito (27,5%) mestres, dos quais três com doutorado em andamento. Com relação à ocupação desses participantes, cinco enfermeiros estavam apenas na assistência, 17 eram docentes e pesquisadores e sete realizavam ensino, pesquisa e assistência. Os proficientes que avaliaram a aparência totalizaram oito. Destes, um era bacharel em designer, outro formado em jornalismo e quatro publicitários. Foram selecionadas pessoas com experiência em produção de tecnologias de informação e comunicação. Com relação à pós-graduação, dois graduados, três concluíram especialização e um mestrado. Os dois participantes da área da educação que também participaram da validação de aparência, eram formados em pedagogia e apresentaram experiência com ensino infantil. Uma pessoa especialização e a outra especialização e mestrado. A Tabela 3 apresenta a descrição dos Índices de Validade de Conteúdo e testes estatísticos da cartilha Aplicando a insulina: a aventura de Beto. 75 Tabela 3 - Índice de Validade de Conteúdo (IVC), teste de distribuição binominal dos itens e Alfa de Cronbach das dimensões da cartilha Aplicando a insulina: a aventura de Beto. Fortaleza - CE, Brasil, 2015 Dimensões de avaliação do conteúdo CONTEÚDO O conteúdo está apropriado ao público-alvo A divisão dos títulos e subtítulos do material são pertinentes Os trechos-chave são pontos importantes e merecem destaque O conteúdo é suficiente para atender às necessidades do públicoalvo A sequência do texto é lógica IVC* 0,91 0,97 0,94 IVC** 1,0 Teste Alpha de binominal cronbach (p-value) ,714 ,002 1,0 ,002 1,0 ,002 0,96 ,013 0,96 ,013 0,87 0,93 ,724 LINGUAGEM O estilo da redação é compatível com o público-alvo A escrita utilizada é atrativa É clara e objetiva 0,87 0,94 0,91 1,0 ,002 1,0 1,0 ,002 ,002 ,000 MOTIVAÇÃO O conteúdo está motivador e incentivam a prosseguir com a leitura O conteúdo desperta interesse do leitor CULTURA O texto está compatível culturalmente com o público-alvo, atendendo a diferentes perfis de público IVC GERAL*** 1,0 ,002 1,0 ,002 0,99 1,0 ,000 1,0 0,93 1,0 ,002 ,725 Fonte: Moura, 2015 IVC1 = I-CVI IVC2 = S-CVI/UA O processo de validação confere confiabilidade à cartilha, respaldando seu uso em práticas educativas. No concernente à validade de conteúdo, nesta verificam-se os conceitos representados de forma adequada, bem como se os itens 76 ou textos do instrumento são representativos dentro do universo do construto teórico (POLIT; BECK, 2011). A primeira versão da cartilha foi considerada validada com IVC geral de 0,93 (S-CVI/AVE - Scale-Level Content Validity Index, Average Calculation Method). Esse IVC foi obtido a partir da soma do IVC de cada item dividido pelo total de itens (POLIT; BECK, 2006). No cálculo do S-CVI/UA, obtive-se pontuação de 1,0 em quase todos os itens, exceto em: ―O conteúdo é suficiente para atender às necessidades do públicoalvo‖ e ―A sequência do texto é lógica‖. Nesses itens, um proficiente avaliou como ―Necessita de grande revisão para tornar-se adequado‖, resultando em um IVC de 0,96 em ambos os casos. Nesse cálculo, dividiu-se o número total de itens considerados como adequados pelos juízes pelo número total de itens (POLIT; BECK, 2006). Realizou-se o cálculo do I-CVI (Level Content Validity Index) obtido a partir da média dos valores dos itens avaliados pelos juízes (POLIT; BECK, 2006). Os itens atingiram a pontuação entre 0,87 e 1,0, considerando-se, assim, a cartilha validada em todos os aspectos relacionados ao conteúdo. Os itens que receberam menor pontuação foram ―o conteúdo é suficiente para atender às necessidades do público-alvo‖ e ―o estilo da redação é compatível com o público-alvo‖, ambos com IVC = 0,87. Esse IVC justificou-se pela necessidade de acrescentar novos conteúdos. Com relação à linguagem da cartilha, houve o cuidado de usar minimamente os termos técnicos e, quando foram utilizados, eram acompanhados de explicações. No entanto, obteve-se IVC de 0,87, pois alguns proficientes julgaram a linguagem de difícil compreensão para o público-alvo. Ressalta-se que a condição de cronicidade da doença requer da criança a familiaridade com certos termos científicos, uma vez que a mesma deve estar ciente de aspectos importantes, como: aplicação da insulina, monitorização glicêmica, sinais e sintomas de hipoglicemia e hiperglicemia, dentre outros. Os itens relacionados à motivação e cultura foram aceitos em unanimidade, demonstrando ser material atrativo e compatível culturalmente com o público-alvo. 77 Analisou-se também o coeficiente do alpha de Cronbach que mede a consistência interna das respostas dos juízes. Quanto mais homogênea a amostra de respondentes, maior a possibilidade de um coeficiente alto (ALEXANDRE; COLUCCI, 2011). A cartilha Aplicando insulina: a aventura de Beto foi avaliada por juízes em diversos estados do Brasil (Ceará, Piauí, Sergipe, Paraíba, Rio Grande do Norte, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul). A intenção foi avaliá-la sob diversos olhares, perspectivas e contextos, tornando-a aplicável a nível nacional. Acredita-se que esse objetivo foi atingido, pois, mesmo diante de uma amostra heterogênea, obtive-se resultados dos testes estatísticos satisfatório. O resultado do alpha de Cronbach nas dimensões relativas ao conteúdo foi ,725. Atingiu-se também concordância entre os juízes nos aspectos relacionados ao conteúdo. Tal concordância foi comprovada estatisticamente por meio de teste binominal, com P= 0,8 e p < 0,05. Além do conteúdo, os proficientes avaliaram a cartilha quanto à aparência (Tabela 3). Foi calculado o Índice de Concordância, considerando-se taxa aceitável de 80% entre os membros do comitê, conforme recomendações de Polit e Beck (2006). Nos itens relacionados à aparência da cartilha, alcançou-se elevado percentual de concordância. A maioria dos itens apresentaram IC 100%, uma vez que os proficientes responderam ―adequado‖ ou ―necessita de pequena revisão para tornar-se adequado‖. Nos itens ―As ilustrações utilizadas são pertinentes e elucidam o conteúdo‖ e ―As ilustrações são claras e transmitem facilidade de compreensão‖, atingiu-se IC 93%. As principais sugestões relacionadas a esses itens foram para melhorar as figuras relacionadas ao rodízio nos locais de aplicação da insulina e acrescentar imagens da caneta e bomba de insulina. O alpha de Cronbach relacionado à validação de aparência foi ,745 e o teste binominal apresentou significância estatística com p < 0,05. 78 Tabela 4 - Índice de Concordância (IC), teste de distribuição binominal dos itens e Alfa de Cronbach das dimensões da cartilha Aplicando a insulina: a aventura de Beto. Fortaleza - CE, Brasil, 2015 Dimensões de avaliação da aparência ILUSTRAÇÕES São pertinentes e elucidam o conteúdo São claras e transmitem facilidade de compreensão As legendas aplicadas as imagens estão adequadas e auxiliam o leitor a compreender a imagem A quantidade está adequada para o conteúdo do material educativo LAYOUT O tipo de letra utilizada facilita a leitura As cores aplicadas ao texto são pertinentes e facilitam a leitura A composição visual está atrativa e bem organizada O formato (tamanho) do material educativo e número de páginas estão adequados A disposição do texto está adequada O tamanho da letra dos títulos, subtítulos e texto são adequadas IC GERAL IC Teste binominal (p-value) Alpha de cronbach ,735 93% 93% ,002 ,002 ,002 100% 100% ,002 ,706 100% 100% 100% 100% 100% 100% 98,4% ,002 ,002 ,002 ,002 ,002 ,002 ,745 Fonte: Moura, 2015 Após avaliação quantitativa com o cálculo do IVC e IC, procedeu-se à avaliação qualitativa, na qual analisaram-se as sugestões, críticas e elogios dos proficientes. As sugestões foram, em maioria, correções de textos e frases, objetivando o melhor entendimento para o leitor. Nas páginas 8 e 9, ver a linguagem, pois está muito elaborada para uma criança de 8 anos. Na página 14, explicar o que é célula (P2). Na página 29, ao invés de escrever teste seus conhecimentos, talvez seja melhor escrever na ponta da língua ou alguma frase que seja comum às crianças escolares (P2). 79 Na frase “Minha mãe me levou ao médico. Ele solicitou [...]. Sugiro ver a possibilidade de trocar a palavra “solicitou” por “pediu”, que no linguajar popular, seria mais comum. No item do certo/errado, sugiro que ao invés de frasco de insulina sendo agitado “vigorosamente”, use a palavra com força ou com rapidez (P10). Em alguns momentos há uma escrita formal, fugindo um pouco da linguagem do público infantil. Por exemplo, na apresentação da cartilha, o uso do termo lhe (P14). Inicialmente, buscou-se ressaltar o medo da criança e família diante do diagnóstico, com a seguinte frase: ―Diabetes. O que é isso? Eu vou morrer?‖ Acatando as sugestões, ressaltaram-se apenas as dúvidas mediante o diagnóstico, mantendo a frase: ―Diabetes. O que é isso?‖. Conforme visualizado na Figura 11. Figura 11 - Páginas da cartilha pré e pós-validação pelos juízes Versão pré-validação Fonte: Moura, 2015. Versão pós-validação 80 Foram solicitadas também mudanças na explicação da fisiopatologia do diabetes. Trata-se de assunto difícil de ser abordado, em virtude dos inúmeros termos técnicos relacionados. Em virtude da especificidade do assunto, os termos técnicos foram abordados de forma simples, com recursos lúdicos e imagens do cotidiano, conforme visualizado na Figura 12. É válido ressaltar que o caráter crônico da doença tende a tornar esses termos técnicos familiares. Figura 12 - Ilustrações pré e pós-validação das páginas relacionadas à explicação da fisiopatologia do diabetes Versão pré-validação Versão pós-validação Fonte: Moura, 2015. A cartilha apresentava os três tamanhos de seringas e agulhas e, com relação às insulinas, apresentam-se as insulinas humanas (NPH e Regular). Desta forma, os juízes consideraram pertinente acrescentar explicações sobre o sistema 81 de infusão contínua e a caneta para aplicação da insulina, além dos análogos da insulina (de ação ultrarrápida e prolongada). Consideraram-se essas sugestões pertinentes, uma vez que a literatura aponta os benefícios desses recursos no tratamento farmacológico. As Figuras 13 e 14 apresentam os acréscimos realizados. Essa página contou com um recurso de pop-up. Onde lê-se ―colar aplique‖, a autora colou as imagens da bomba de infusão, seringa e caneta de insulina, conforme visualizado a seguir. Desta forma, ao abrir nessa página, as imagens com os dispositivos para aplicação da insulina permaneciam dispostos em pé. 82 Figura 13 - Ilustração dos acréscimos realizados na cartilha relacionados aos tipos de insulina e dispositivos para aplicação Fonte: Moura, 2015 83 Figura 14 - Imagem real da cartilha com a montagem dos apliques Fonte: Moura, 2015 O tratamento intensivo clássico é o que utiliza duas doses de insulina NPH com três doses de insulina regular. Com o surgimento dos análogos de insulina de ação ultrarrápida (lispro, asparte e glulisina) e de ação prolongada (glargina e detemir), algumas vantagens podem ser obtidas na substituição das insulinas NPH e regular por esses análogos, principalmente no que diz respeito aos eventos hipoglicêmicos graves e noturnos (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 20142015). Com relação aos dispositivos para aplicação da insulina, o tratamento com múltiplas doses tornou-se bastante prático após o surgimento das canetas e do Sistema de Infusão Contínua de Insulina (SICI). O SICI parece ser atualmente o padrão-ouro no tratamento intensivo do DM1. Os resultados no controle glicêmico durante a terapia com infusão subcutânea contínua de insulina são melhores que os obtidos com múltiplas injeções diárias (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2014-2015). Em virtude dos benefícios em relação ao melhor controle glicêmico, esses análogos e o SICI devem ser incentivados no tratamento de crianças e adolescentes, conferindo-lhes maior liberdade e melhor qualidade de vida. No entanto, faz-se necessário profissionais capacitados no manejo desses dispositivos, atividades educativas para capacitação dos pacientes e familiares, além de políticas públicas que garantam continuamente os insumos necessários para o tratamento com a insulina e monitorização glicêmica. 84 Com relação à aparência, alterou-se a paleta de cores da cartilha, conforme visualizado na Figura 15. A quantidade de ilustrações está adequada, mas acho que a paleta de cores não está adequada. Há muitos tons quentes e amarelados. Sugiro tons mais vivos, cores primárias (amarelo, azul, vermelho) e secundárias (verde, violeta etc.) (P30). Sugiro cores mais leves, que passem calma e tranquilidade (P31). A forma como foi apresentada a cartilha é bastante atrativa para crianças. As frases curtas também ajudam na concentração e compreensão do texto (P33). Figura 15 - Versão pré e pós-validação da capa da cartilha Aplicando a insulina: a aventura de Beto Versão pré-validação Versão pós-validação Fonte: Moura, 2015. Um desafio na construção dessa cartilha foi aliar a explicação de termos científicos ao imaginário infantil. Para tal, utilizaram-se recursos lúdicos, cores atrativas e figuras que fazem parte do cotidiano da criança. Esse processo de adaptação do material educativo às sugestões dos proficientes constitui etapa essencial para tornar a cartilha ainda mais completa, 85 confiável e eficaz durante a atividade de educação em saúde. No entanto, trata-se de um processo laborioso analisar individualmente as sugestões, conferir na literatura científica a pertinência, avaliar a aplicabilidade na implementação e reelaborar o conteúdo. Dessa forma, com as alterações realizadas, acredita-se ter tornado a cartilha Aplicando a insulina: a aventura de Beto mais acessível e compreensível para o público-alvo. 4.3 Análise do índice de legibilidade e compreensão da cartilha Aplicando a insulina: a aventura de Beto. A habilidade para realizar o autocuidado depende, em parte, da capacidade de leitura e compreensão de informações. Nesse contexto, a informação escrita tem sido utilizada como estratégia complementar para educação em saúde. Essa capacidade de leitura e compreensão pode ser dificultada se houver discrepância entre o nível de escolaridade do leitor e o de dificuldade da informação (BASTABLE, 2010). Nesse sentido, a cartilha educativa Aplicando a insulina: a aventura de Beto foi escrita atentando-se para o uso de frases e palavras curtas e que fazem parte do cotidiano dos leitores. Tal estratégia contribui para diminuição do nível de dificuldade na leitura. Após realizar os ajustes pertinentes ao processo de validação, foi avaliada a legibilidade da cartilha por meio da aplicação do índice de legibilidade de Flesch-Kincaid (ILFK). A adaptação do ILFK para o português foi realizada por Nunes, Oliveira Júnior (2000) e resultou na classificação em quatro níveis de dificuldade de leitura, conforme observado no Quadro 3. 86 Quadro 5 - Interpretação dos valores obtidos com o Índice de Legibilidade de Flesh (adaptação para textos em português) ILF% DIFICULDADE DE LEITURA ESCOLARIDADE APROXIMADA 75 100 Muito fácil Até 4ª série (ensino fundamental) 50 75 Fácil Até 8ª série (ensino fundamental) 25 50 Difícil Ensino médio ou universitário 0 25 Muito difícil Áreas acadêmicas específicas Fonte: NUNES; OLIVEIRA JÚNIOR (2000) A cartilha Aplicando a insulina: a aventura de Beto obteve ILFK 52,8, sendo classificada como leitura fácil. Além da leitura, ressalta-se a capacidade de compreensão, o que irá contribuir na tomada de decisão. Compreende-se que a capacidade do leitor não está vinculada apenas à decifração de sinais, mas, sobretudo, à capacidade de dar sentido a esses sinais e compreendê-los (RUMJANEK, 2009). Segundo Adams et al. (2009), letramento funcional em saúde (LFS) é a capacidade cognitiva de entender, interpretar e aplicar informações escritas ou faladas sobre saúde. O ILFK, assim como os demais testes para avaliar a legibilidade, recebem críticas devido ao aspecto puramente quantitativo, não considerando características individuais, como interesse e familiaridade com o tema (DOAK; DOAK; ROOT, 1996; BASTABLE, 2010). Além disso, crianças com uma mesma idade e escolaridade podem apresentar capacidades de leitura diferentes. Reconhece-se que para a idade do público em questão, o ideal seria a classificação muito fácil, no entanto, a especificidade do tema da cartilha motivou a escrita de algumas palavras polissílabas e termos técnicos. Esses termos foram escritos repetidas vezes, o que pode elevar a avaliação quantitativa do índice. Contudo, acredita-se que isso não aumentou o nível de dificuldade da leitura, uma vez que essas palavras fazem parte do cotidiano das crianças com DM1 e seu conhecimento é estratégia sine qua non para a promoção do autocuidado. Dentre essas palavras, destaca-se: insulina, diabetes, tratamento, glicemia, monitorização e alimentação. 87 Inserir a criança no mundo letrado é permitir que ela seja construtora do próprio conhecimento, tendo em vista sua forma de conhecer e compreender o mundo que a cerca. Trata-se de um sujeito cognoscente, alguém que pensa, constrói interpretações e age sobre o real para fazê-lo (BRASIL, 2006). A habilidade de leitura não garante a capacidade de compreensão. O índice de legibilidade realizado envolveu a decodificação de palavras, habilidade de pronúncia. O teste de compreensão da escuta, por sua vez, envolve o significado das palavras, pensamento crítico, experiência com o assunto, culminando com a capacidade de realizar comandos. Doak, Doak e Root (1996) recomendam que sejam escolhidos pontoschave no texto, especialmente aqueles que lidam com mudanças de comportamento. O texto deve ser curto. Não demorar mais que três minutos para ler. E as questões são entre 7 e 10. Realizou-se a leitura em voz alta e pausada do texto que se encontra nas páginas 24 a 29. Posteriormente, a criança foi questionada oralmente sobre assuntos apresentados no texto. O Quadro 4 apresenta a descrição do nível de compreensão do material instrucional, segundo percentual de respostas corretas (BASTABLE, 2010). Quadro 6 - Descrição do nível de compreensão do material instrucional, segundo percentual de respostas corretas PERCENTUAL DE RESPOSTAS < 75% 75% a < 90% ≥ 90% ADEQUAÇÃO DO MATERIAL INSTRUCIONAL Difícil compreensão Adequado. Pode ser necessário auxílio para compreensão total Fácil e pode ser entendido completamente e de modo independente Fonte: BASTABLE (2010) Nessa fase, participaram 30 crianças com idades entre 7 e 11 anos (média = 8,7 e desvio padrão = ±1,55). Trinta e seis por cento tinham 7 anos; 12% oito anos; as crianças com nove e dez anos ambas apresentaram 16%; e 20% tinham 11 anos de idade. Com relação ao sexo, a maioria era do sexo feminino (56%). 88 Obteve-se percentual geral de 90,3% de acerto, conforme visualizado na Tabela 5. Segundo Bastable (2010), esse percentual é considerado ―fácil‖ e pode ser entendido completamente e de modo independente. Tabela 5 - Descrição do percentual de acertos do teste de compreensão da escuta da cartilha Aplicando a insulina: a aventura de Beto. Fortaleza- CE, 2015 Pergunta % de acertos 1) Quais os tipos de insulina que o texto fala? 80,0 2) De acordo com o texto que acabamos de ler, quais os 68,0 materiais podem ser utilizados para aplicar a insulina? 3) Existem tamanhos diferentes de agulha? 100,0 4) Por quê? 100,0 5) Cite os locais de aplicação da insulina. 96,0 6) É preciso mudar os locais de aplicação da insulina? 100,0 7) Explique como é feita a mudança dos locais de aplicação 88,0 da insulina Média do percentual de acertos 90,3 Fonte: Moura, 2015 O percentual de acertos corresponde às perguntas acertadas em totalidade. Alguns participantes responderam com palavras diferentes, porém sinônimas, ao texto lido. Estas também foram consideradas corretas, uma vez que a intenção do teste foi a compreensão da escuta e não a memorização da leitura. As que estavam erradas, incompletas ou não foram respondidas, correspondem ao percentual de erros. O apêndice I apresenta as perguntas e respectivas respostas. Dentre as perguntas incompletas, destacam-se as perguntas 1 e 2, conforme descritas na Tabela 4. Para a pergunta 1, as crianças responderam insulina NPH e regular, no entanto, cinco não citaram os análogos da insulina. Com relação aos materiais para aplicação da insulina (pergunta 2), oito crianças responderam prontamente o material que utilizava e lembrou de apenas mais um tipo, tornando a respostas incompleta. Seringa, bomba... vixe, não lembro (CTC3). 89 Bastable (2010) ressalta que o tempo de diagnóstico pode favorecer a familiaridade com os termos técnicos, devido à cronicidade da doença e continuidade do tratamento. Apenas uma criança não citou os locais de aplicação da insulina. A mesma referiu barriga, braços e coxas. A pergunta 6 foi a única que identificou-se erro nas respostas. Apesar de ter lido a forma correta de realização do rodízio, três participantes responderam erroneamente. As respostas foram condizentes com a técnica realizada pelos mesmos. Cada vez eu faço num local diferente (CTC 7). Faço em um local, depois vou para outro (CTC9). Ressalta-se também a necessidade de produção de autonomia entre os pacientes. Uma criança não soube responder a essa resposta: A mãe me diz quando trocar (CTC5). O texto lido no Teste de Compreensão da Escuta aborda a necessidade do rodízio nos locais de aplicação, no entanto, não discorre sobre a prevenção de lipodistrofia. Como aspecto positivo, ressalta-se o conhecimento de algumas crianças sobre o motivo da necessidade de rodízio. Devido à complexidade do termo científico, o mesmo foi citado, porém, não corretamente. Sim, é preciso para não formar lipotrofia na pele (CTC1). Sim, para não causar lesão na pele e nem ficar dura (CTC2). As Normas Internacionais para o Autocuidado em Diabetes destacam que a educação em diabetes é eficaz para a melhoria de resultados clínicos e qualidade de vida. O apoio contínuo também é fundamental para sustentar progressos realizados pelos participantes durante as ações educativas (FUNNEL et al., 2009). Por isso, a necessidade de atividades contínuas de educação em saúde contextualizadas à realidade e às necessidades individuais. Além disso, os pacientes devem ser avaliados quanto ao conhecimento adquirido e às técnicas desenvolvidas, visando adequação e eficácia na adesão ao tratamento. 90 4.4 Implementação e avaliação da cartilha Aplicando a insulina: a aventura de Beto Essa fase do estudo aconteceu em dois momentos. Para o primeiro encontro foram selecionados locais que fossem convenientes para os participantes considerando proximidade e facilidade no acesso. Dois grupos aconteceram no domicilio de um dos participantes e os demais foram realizados em postos de saúde. Iniciou-se com a aplicação de um formulário com a caracterização socioeconômica e clínica dos participantes (Apêndice J), além do questionário de avaliação do conhecimento sobre insulinoterapia (Apêndice L). Seguiu-se com a leitura dialogada da cartilha. Após a leitura, foi aberto espaço para discussão. As crianças foram incentivadas pela pesquisadora a relatar dúvidas, anseios, medos, dificuldades e aspectos positivos no manejo da insulinoterapia. Ao final, disponibilizou-se a cartilha para criança levar ao domicílio e incentivou-se a leitura desta. Em virtude do tempo prolongado dessa atividade, foi servido lanche com frutas, suco e água para os participantes. Algumas recomendações foram seguidas: evitaram-se frutas muito maduras, o suco era sem açúcar e orientou-se os participantes a evitar ingestão das frutas em grande quantidade. Segundo as Diretrizes Brasileiras de Diabetes (2014-2015), as necessidades de nutrientes para crianças e adolescentes com DM 1 e 2 parecem ser similares às para outros indivíduos de mesma idade. Recomenda-se duas a quatro porções de frutas por dia, atentando-se para o açúcar natural presente nas frutas. Essa etapa foi realizada pela autora com auxílio de dois acadêmicos de enfermagem. Esses alunos deram apoio logístico (acomodação dos participantes, lanche e água), enquanto a leitura da cartilha e aplicação do questionário foram realizadas pela pesquisadora. Foram realizados dez grupos, com dezoito crianças. Cinco encontros foram individuais; em dois, compareceram dois participantes; e em três encontros, compareceram três pessoas. Alguns encontros foram individuais, devido à distância dos domicílios dos participantes, o que dificultou um local comum e de fácil acesso. Os grupos tinham duração entre 65 e 100 minutos, com média de 90 minutos. 91 Durante a atividade educativa com a leitura da cartilha, atentaram-se para alguns princípios importantes que podem contribuir para o processo ensinoaprendizagem, conforme orienta Bastable (2010): a informação foi apresentada com entusiasmo; utilizou-se reforço positivo (elogio, incentivo) diante de colocações positivas das crianças; as crianças completavam trechos na cartilha durante a leitura. Além disso, as atividades foram realizadas em espaços amplos e com grupos pequenos. Integrar o paciente com diabetes em um grupo de iguais é uma das maneiras de ajudá-lo. Discorrer sobre a doença possibilita trabalhar as fantasias, trocar experiências, compartilhar sentimentos, dúvidas e, assim, contribuir para aquisição de mecanismos de enfrentamento e adaptação à doença (PENNAFORT; SILVA; QUEIROZ, 2014). Reconhecendo a necessidade de autocuidado diante da cronicidade do Diabetes Mellitus tipo 1, a cartilha Aplicando a insulina: a aventura de Beto pode ser utilizada como ferramenta para educação em saúde de crianças. Desta forma, objetivou-se empoderá-las de conhecimentos para promoção do autocuidado, sobretudo relacionado ao preparo e à aplicação da insulina. Segundo o CREMESP (2012), a criança a partir de oito anos, mediante treinamento, pode estar apta a realizar glicemia capilar e aplicação de insulina, sendo recomendável fazê-lo sob supervisão de um adulto. A aprendizagem é reconhecida enquanto um processo ativo e requer motivação e disposição para aprender. Segundo Araújo et al. (2013), a utilização de metodologias ativas aumenta o potencial da ação educativa, estimulando a construção e o redimensionamento de conceitos e significados sobre os fatores relacionados ao processo saúde-doença. A ludicidade, por sua vez, é empregada como instrumento para estabelecer relações, facilitando a comunicação entre os profissionais de saúde e as crianças, favorecendo o autoconhecimento, a imaginação, cooperação e criatividade. Após 30 dias de posse da cartilha, realizou-se o segundo encontro. Durante esse intervalo de tempo, a criança recebeu ligações semanais para lembrar e incentivar a leitura da cartilha. Essas ligações foram realizadas pela pesquisadora. O segundo encontro foi realizado por um acadêmico de enfermagem, sob a supervisão da pesquisadora, a qual atuou como observador não participante. 92 Contou-se com dois acadêmicos que participaram de forma alternada a cada encontro. Optou-se por realizar a avaliação por uma pessoa externa à pesquisa, de forma a minimizar possíveis vieses. Os mesmos foram devidamente treinados pela pesquisadora, conforme especificado no Procedimento Operacional Padrão Nº3. Esse encontro iniciou com a entrega de um kit com o material necessário (boneco, frasco de insulina, seringa com graduação de 30 unidades, algodão e álcool). Foi solicitado ao participante que colocasse a insulina na geladeira para retirar no momento da realização do procedimento. Seguiu-se com a aplicação do questionário de avaliação do conhecimento - pós-teste (Apêndice L). Posteriormente, a criança recebeu o comando para o preparo e aplicação de 10 unidades de insulina NPH no boneco. Esse procedimento foi guiado por um check list (Apêndice M). Os procedimentos foram checados atentando-se para a ordem e maneira adequada de realização. O segundo encontro aconteceu individualmente no domicílio dos participantes, em virtude da necessidade de recursos, como pia para lavagem das mãos e geladeira para guardar a insulina. Teve duração entre 25 e 43 minutos. As imagens apresentadas nas Figuras 16 a 18 retratam momentos vivenciados durante a implementação e avaliação da cartilha educativa. Cumprindo os princípios éticos, respeitou-se a imagem das crianças e todas estavam acompanhadas de seus responsáveis. Figura 16 - Imagens representando o primeiro encontro para leitura da cartilha Fonte: Moura, 2016. 93 Figura 17 - Imagens representando o segundo encontro para avaliação do conhecimento e da técnica de preparo e aplicação da insulina Fonte: Moura, 2016. 94 Figura 18 - Imagens representando as respostas das crianças aos exercícios presentes na cartilha Fonte: Moura, 2016. 95 A Tabela 6 apresenta o perfil socioeconômico das crianças participantes da fase de implementação e avaliação da cartilha. Tabela 6 - Perfil socioeconômico das crianças participantes da fase de implementação e avaliação da cartilha Aplicando a insulina: a aventura de Beto. Fortaleza- CE, 2016 VARIÁVEIS n % Média/Desvio padrão Idade (em anos) 7-9 4 33,3 10-12 14 77,7 Masculino 8 44,4 Feminino 10 66,6 18 100,0 <1 1 5,5 1 4 33,3 >1 13 72,2 R$ 170- 300 8 44,4 R$ 301- 600 7 38,8 R$ 601 – 1500 3 16,6 10,2±2 Sexo Escolaridade Ens. Fundamental Incompleto Renda familiar (salário mínimo) 1.588,00±1.091,6 Renda per capita 389,00±245,40 Fonte: Moura, 2016 A maioria dos participantes são do sexo feminino e encontram-se na faixa etária entre 10 e 12 anos, com 66,6% e 77,7%, respectivamente. A literatura não aponta relação entre sexo e a presença de DM1. Com relação a faixa etária, atualmente sabe-se que a incidência de DM1 vem aumentando, particularmente na população infantil com menos de cinco anos de idade (SBD, 2014-2015). Apesar desse estudo identificar predomínio de crianças em faixa etária maior, com média de 10,2 anos, observa-se a precocidade do 96 diagnóstico dessas crianças ao comparar a idade com o tempo de diagnóstico, em que se obteve média de 4,6 anos. Estudo que traçou o perfil clínico-epidemiológico de crianças internadas com DM1 observou que a maioria era do sexo feminino (62,3%), com idade média de 12,9 anos; 62,3% possuíam renda de até dois salários mínimo (QUEIROZ; SILVA; ALFENAS, 2010). Rubin, Azzolin e Muller (2011), por sua vez, identificaram em estudo 64% de crianças do sexo feminino e idade média de nove anos. Sabe-se que rotina de consultas, exames e, por vezes, sinais e sintomas relacionados à doença podem ocasionar atraso escolar. No entanto, dado positivo é a escolaridade adequada dos participantes para a idade, com média de 6,6 anos de estudo. A escola é o espaço para as oportunidades educacionais, porém, é o local em que a criança fica exposta a atividades físicas, alimentos impróprios e profissionais despreparados no manejo de crises hipoglicêmicas e cetoacidose. A incapacidade dos profissionais relacionada ao manejo correto da doença desperta comportamentos materno de medo e insegurança. Pesquisa mostra que a família apresenta receio ao ambiente escolar, diante da insegurança em relação ao preparo dos educadores em lidar com os filhos. Reconhece-se que um ambiente seguro é aquele que dispõe de pessoas treinadas para medir a glicemia e reconhecer e tratar um episódio de hipoglicemia (MARTINS et al., 2013). Com relação à renda familiar, 72,2% referiram mais de um salário, com valor máximo de R$ 6.000,00 e média de R$ 1.921,00. A renda per capita variou entre R$ 170,00 e 1.500,00, com predomínio na faixa de R$ 170,00 a R$ 300,00 (44,4%) e média de R$ 450,80. Estudo realizado por Martins et al. (2013) identificou baixa renda familiar entre os participantes. A maioria das mães (66,6%) sobrevivia com renda mensal menor que trezentos e oitenta reais e as demais não apresentavam renda, pois moravam na casa dos pais. A terapêutica intensiva recomendada pelo Diabetes Control and Complication Trials inclui a monitorização com quatro medidas de glicemia capilar e a aplicação de insulina fracionada em três ou mais aplicações ao dia, o que envolve aquisição de grande quantidade de insumos (SBD, 2014-2015). Somado a isso, acrescentam-se os custos relacionados à alimentação e ao transporte para o serviço 97 de saúde. Desta forma, o custo do tratamento torna-se incompatível com a renda familiar. Apesar da existência da Lei n° 11.347, de 27 de setembro de 2006 que dispõe sobre a distribuição gratuita de medicamentos e materiais necessários à aplicação e monitoração da glicemia capilar aos portadores de diabetes inscritos em programas de educação para diabéticos (BRASIL, 2006), a realidade mostra fornecimento irregular, forçando a família, por vezes, a comprar os insumos necessários ao tratamento. Tal fato pode gerar conflitos e situações estressantes para o paciente e familiares, representando impacto nos aspectos pessoal, social e financeiro. Para minimizar os custos, uma prática que vem sendo frequentemente realizada é a reutilização da seringa e agulha descartáveis. Estudo realizado por Becker, Teixeira e Zanetti (2012) identificou que 94,6% das pessoas reutilizavam a seringa e agulha após o uso no domicílio. Tal prática é controversa. A Agência Nacional de Vigilância à Saúde, juntamente com os fabricantes, condena a reutilização do material. No entanto, a Portaria nº 2.583 do Ministério da Saúde e o Caderno da Atenção Básica de Diabetes recomendam a reutilização do conjunto seringa/agulha (acopladas), em até oito vezes, desde que respeitadas as orientações sobre armazenamento em geladeira ou lugar adequado, com a devida proteção da agulha por sua capa protetora plástica (BRASIL, 2013). 98 Tabela 7 - Perfil clínico dos participantes da fase de implementação e avaliação da cartilha Aplicando a insulina: a aventura de Beto. Fortaleza- CE, 2016 VARIÁVEIS n % Média Desvio padrão Tempo de diagnóstico de DM1 (em anos) 6 meses – 3 8 44,4 4–6 6 33,4 7–9 2 11,1 10 – 11 2 11,1 Pai 1 5,6 Mãe 12 66,6 Irmão 1 5,6 Tia/Avó 4 22,2 3–4 10 55,5 5–6 8 45,5 Sim 5 27,8 Não 13 72,2 Cetoacidose diabética 4 80,0 Outros 1 20,0 4,6 ±3,0 Grau de parentesco do cuidador Monitorização glicêmica domiciliar (ao dia) Internação por DM1 no último ano Motivo da internação Intercorrências no último ano Hipo e hiperglicemia 10 Hiperglicemia 4 Hipoglicemia 3 Ausência de intercorrência 1 Tipo de tratamento Insulina NPH e Insulina Regular 12 66,6 Análogos da Insulina 6 33,4 Contagem de carboidratos 8 45,5 Dieta convencional 10 55,5 Atividade física 11 61,1 Fonte: Moura, 2016 4,27±1,12 99 A Tabela 7 apresenta o perfil clínico dos participantes da fase de implementação e avaliação da cartilha. Observa-se que a maioria (44,4%) apresenta tempo de diagnóstico entre oito meses e três anos. No entanto, ressalta-se o diagnóstico precoce da doença, uma vez que 66,6% apresentavam entre quatro e 11 anos de diagnóstico do diabetes tipo 1. Os mesmos foram questionados também quanto ao tempo de tratamento, o qual foi concomitante à descoberta da doença. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (2014-2015), uma vez que o pâncreas para de funcionar, faz-se necessária a reposição imediata de insulina para evitar complicações futuras. Ao serem questionados sobre o grau de parentesco do cuidador, a mãe apresentou-se como a principal responsável pelos cuidados ao paciente (66,6%), seguida de outras mulheres, na figura da tia ou avó (22,2%). Estudo realizado por Correia Júnior et al. (2014) identificou que os cuidadores eram as mães das crianças. As condições crônicas carregam consigo particularidades que envolvem o sistema familiar como um todo. Estes sentem-se responsáveis pelo paciente, sobretudo quando se trata de crianças, e a tarefa de cuidar pode ser considerada complexa e, por vezes, cansativas (NÓBREGA et al., 2010). O cuidado dispensado à criança com DM1 é diário e intenso, em virtude das múltiplas aplicações de insulina e monitorização glicêmica. As mães, na maioria das vezes, dividem esse cuidado com as tarefas de dona de casa e, por vezes, realizam atividades profissionais fora de casa, o que torna a função de cuidadora algo exaustivo. Segundo Barbosa et al. (2012), trata-se de uma atividade geradora de sobrecarga, devido às inúmeras necessidades advindas da condição crônica da criança. Observaram-se dados semelhantes em relação à frequência da monitorização glicêmica que variou entre três e seis vezes ao dia, com média de 4,27 vezes. Essa frequência revela a realização de glicemias pré e pós-prandiais, possibilitando o ajuste da dose de insulina e prevenindo episódios de hipo ou hiperglicemia. Estudo que identificou qual de dois esquemas de monitorização da glicemia viabiliza melhor controle metabólico, ressalta que tanto o esquema pré como o pós-prandial melhoraram o controle metabólico. No entanto, o esquema de 100 monitorizações pré-prandiais possibilitou os maiores percentuais de quedas nos níveis de hemoglobina glicada, demonstrando ser mais efetivo (GROSSI et al., 2009). Em pessoas com Diabetes Mellitus tipo 1, o controle glicêmico intensivo previne o desenvolvimento e a progressão de complicações micro e macrovasculares em comparação com o tratamento convencional. As metas de controle glicêmico para crianças e adolescentes com DM 1 também são mais flexíveis (BRASIL, 2013). Vinte e sete vírgula sete por cento (27,7%) dos participantes relataram a ocorrência de internações no último ano. Apesar de ser um número baixo, trata-se de um dado preocupante, evidenciando descompensação do diabetes e surgimento de condição grave, a cetoacidose diabética. Apenas um paciente manteve a glicemia controlada no último ano, não referindo intercorrências relacionadas ao DM. Os demais apresentaram hipoglicemia e hiperglicemia de forma isolada ou associada. As complicações agudas do DM incluem a descompensação hiperglicêmica aguda, que pode evoluir para complicações mais graves, como cetoacidose diabética, síndrome hiperosmolar hiperglicêmica não cetótica e a hipoglicemia. Essas complicações requerem ação imediata da pessoa, família ou dos amigos e do serviço de saúde (BRASIL, 2013; SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2014-2015). O objetivo do tratamento do DM 1 é a obtenção de um bom controle metabólico, promoção do crescimento e desenvolvimento adequados, prevenção de complicações e manutenção da qualidade de vida. Para isso, exige a associação entre a insulinoterapia, dieta e atividade física (QUEIROZ; SILVA; ALFENAS, 2010). O uso de insulina é imprescindível e deve ser instituído assim que o diagnóstico for realizado. É prescrita em três ou mais doses diárias, com insulinas de ações diferentes ou sistema de infusão contínua (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2015). Os participantes deste estudo realizavam insulinoterapia, sendo 66,6%, em uso das insulinas NPH e Regular; e 33,4%, em uso de análogos da insulina. O tratamento intensivo clássico é o que utiliza duas doses de insulina neutral protamine Hagedorn (NPH) (antes do café da manhã e antes de dormir), com 101 três doses de insulina regular (antes do café da manhã, do almoço e do jantar). Entretanto, com o surgimento dos análogos da insulina de ação ultrarrápida (lispro, asparte e glulisina), algumas vantagens podem ser obtidas na substituição da insulina regular por esses análogos, principalmente no que diz respeito aos eventos hipoglicêmicos graves e noturnos (SBD, 2015). Com relação à alimentação, 45,5% realizavam dieta com contagem de carboidratos e 55,5% a dieta convencional. Não há requisição nutricional específica para criança com diabetes, a não ser aquela requerida para um adequado crescimento e desenvolvimento. Trata-se alimentação saudável e que deve ser consumida por todos os indivíduos. A palavra ―dieta‖, que traz consigo sentido de ―proibição‖, deve ser abolida. O plano alimentar implica evitar açúcares refinados e adesão a uma alimentação equilibrada do ponto de vista de conteúdo de hidratos de carbono, proteínas e gorduras. A contagem de carboidratos é uma alternativa que pode ser aliada à alimentação e oferece resultado objetivo, facilitando o cálculo da dose de insulina a ser administrada, antecedendo cada refeição (SBD, 2009). Estudo que objetivou avaliar a associação entre fatores nutricionais e o controle glicêmico observou que dietas com maior teor de proteína, menor teor de gordura saturada e com índice glicêmico e carga glicêmica mais baixos afetaram positivamente o controle glicêmico (QUEIROZ; SILVA; ALFENAS, 2010). Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (2014-2015), educação nutricional é parte do plano alimentar como ferramenta para otimizar a aderência à terapia nutricional. Através do conhecimento, é possível para o portador de diabetes compreender a importância e influência dos alimentos na homeostase glicêmica e prevenção de complicações tardias. Para completar o tratamento, recomenda-se a atividade física como importante aliada na prevenção de complicações micro e macrovasculares. O exercício físico atua diminuindo a resistência insulínica. Indivíduos fisicamente ativos possuem níveis mais baixos de insulina circulante, melhor ação em receptores e pós-receptores de membrana, melhor resposta de transportadores de glicose e maior capilarização nas células musculares esqueléticas. Deve ser realizada regularmente, de intensidade moderada a vigorosa por 30 a 60 minutos (MICULIS et al. 2010; SBD, 2015). 102 A Associação Americana de Diabetes (ADA, 2015) contraindica atividade física em paciente diabético de qualquer idade, com glicemia superior a 250 mg/dl. Como descrito anteriormente, após um mês de posse da cartilha, as crianças foram avaliadas com relação ao conhecimento e técnica de preparo e aplicação da insulina. Visando manter coerência entre o referencial teórico que fundamentou a construção e implementação da cartilha e a avaliação, foi elaborado pelas autoras instrumento para avaliar o conhecimento dos participantes fundamentado nos pressupostos do construtivismo descrito por Piaget. O construtivismo não apresenta um método de avaliação, mas descreve alguns princípios a serem considerados na avaliação da construção do conhecimento. Trata-se de avaliação mais qualitativa, no entanto, em virtude da necessidade de avaliar a eficácia da cartilha educativa, optou-se pela elaboração de questionário quantitativo. Na perspectiva da proposta construtivista, avaliar é acompanhar e valorizar todo o processo de construção do conhecimento. É processual. Não tem caráter punitivo e sim diagnóstico (PIAGET, 2004). O comportamento dos seres vivos não é inato, nem resultado de condicionamento. Para Piaget (1978), o comportamento é construído a partir de uma interação entre o meio e o indivíduo, depende da capacidade cognitiva do aluno e de experiências prévias (PIAGET, 1978; POLESE, 2012). Segundo Macedo (2015), existem duas formas indissociáveis, irredutíveis e complementares de se fazer a avaliação da produção e construção do conhecimento. Uma é a que analisa a criança como sujeito epistêmico e outra, como sujeito psicológico. A primeira propõe uma análise estrutural e a segunda uma análise funcional. A criança, ao expressar seu conhecimento espontâneo, articula-o com um conhecimento produzido pelos colegas ou pela sociedade. A avaliação construtivista deve responder a estas quatro questões: O quê? Como? Por quê? Para quê? O Quadro 5 exemplifica questões elaboradas pela autora para compor o instrumento de avaliação do conhecimento fundamentadas nas questões de avaliação propostas por Piaget. 103 Quadro 5 - Relação entre as formas de avaliação propostas por Piaget e as perguntas elaboradas no instrumento de avaliação do conhecimento sobre insulinoterapia. Fortaleza – CE, 2016 Formas de avaliação Perguntas do instrumento de avaliação do conhecimento sobre insulinoterapia elaboradas pelas autoras* Perguntas na ordem do “o quê?” - O que você e outras crianças sentem Compromete-se com a identidade ou quando a glicemia está alta? caracterização do objeto ou do - A insulina é produzida por qual órgão? conceito. Sintetiza-o por um nome, frase ou imagem. Perguntas na ordem do “como?” - Falando da insulina, essa você conhece Relacionam-se com procedimentos, bem. Marque um X na opção que modos de fazer, soluções que Tornam apresenta como a insulina age no corpo um objeto possível Perguntas na ordem do “por quê?” Relacionam-se causal. com Relações a - Marque os locais onde a insulina pode explicação ser aplicada. espaço-temporal. - Marque os locais adequados para Localização ou direção do objeto em guardar as agulhas que você já utilizou? um sistema. Lembre-se de que depois essas agulhas devem ser levadas para a unidade de saúde mais próxima Perguntas na ordem do “para quê?” - Olhando a figura abaixo, o que você “para quem?” acredita que falta para um bom controle da Relaciona-se com o valor, a utilidade, glicemia? o sentido do objeto para quem o - Quando descobri que tinha diabetes aprende. Trata-se do valor pessoal e minha rotina mudou. Vi que preciso me prático do conceito/objeto. cuidar, pois quero crescer forte e saudável. Escreva no coração abaixo o que você faz para se cuidar * Na versão completa do instrumento, essas perguntas são acompanhadas por desenhos, opções para marcar ou um poema. Fonte: MACEDO (2015); MOURA, GUEDES (2016) 104 Autores propõem taxonomias para os objetivos do processo de aprendizagem. Bloom (1956) apud Ferraz e Belhot (2011) apresentam o processo de aprendizado em três domínios: cognitivo, psicomotor e afetivo. A proposta desta pesquisa permitiu avaliar os domínios cognitivo e psicomotor. Desta forma, realizouse pré e pós-teste para avaliar o conhecimento aprendido, além de checklist para avaliar a realização da técnica de preparo e aplicação da insulina. A avaliação foi considerada enquanto estratégia processual. Nesta perspectiva, em virtude do curto espaço de tempo dispensado, a técnica da aplicação da insulina foi avaliada em um boneco ao invés da criança se autoaplicar. A Tabela 8 apresenta a avaliação do domínio cognitivo, com os percentuais de acertos no pré e pós-testes. O domínio cognitivo relaciona-se com a reformulação/aquisição de conhecimentos e desenvolvimento intelectual (BLOOM; 1956 apud FERRAZ; BELHOT, 2011). 105 Tabela 8 - Distribuição do percentual de acertos do questionário de avaliação do conhecimento aplicado antes e após a intervenção (pré e pós- teste). Fortaleza- CE, 2016 PARTICIPANTES PRÉ – TESTE PÓS – TESTE % nº Diferença p* (Crianças) nº % 1 12 85,7 14 100,0 14,3 2 9 64,2 12 85,7 21,5 3 12 85,7 13 92,8 7,1 4 10 71,4 12 85,7 14,3 5 10 71,4 13 92,8 21,4 6 11 78,5 13 92,8 14,3 7 11 78,5 13 92,8 14.3 8 13 92,8 14 100,0 7,2 9 12 85,7 13 92,8 7,1 10 10 71,4 12 85,7 14,3 11 12 85,7 14 100,0 14,3 12 12 85,7 13 92,8 7,1 13 11 78,5 14 100,0 21,5 14 11 78,5 13 92,8 14,3 15 12 85,7 14 100,0 14,3 16 11 78,5 13 92,8 14,3 17 12 85,7 13 92,8 7,1 18 9 64,2 12 85,7 21,5 ,000 * Valor de p obtido a partir do teste t de Student Fonte: Moura, 2016 Considera-se a cartilha eficaz na produção de conhecimento, uma vez que, após leitura, obteve-se melhoria do conhecimento em 100% dos participantes. A diferença do percentual de acertos das questões no pré e pós-teste variou entre 7,1 e 21,5%. A média de acertos das crianças no pré-teste é diferente da média de acertos das crianças no pós-teste (p, 000). Em alguns casos, houve menor diferença de percentual de acertos, no entanto, os participantes tinham bom conhecimento prévio e, após a leitura, chegaram a 100% de aproveitamento; 27,8% das crianças acertaram 100% das 106 questões e 50% acertaram 92,8% das questões, totalizando 77,8% que acertaram entre 13 e 14 questões ao final da implementação. Dessa forma, ressalta-se a importância da cartilha Aplicando a insulina: a aventura de Beto enquanto recurso auxiliar nas atividades de educação em saúde. A intenção não é substituir a atividade do profissional e sim proporcioná-lo um recurso que auxilie/complemente sua ação, facilitando o processo ensino-aprendizado. Estudo que avaliou materiais educativos produzidos para crianças com diabetes identificou que apenas 66,6% mostraram-se adequados ao público infantil. Dentre os 30 materiais analisados, 25 continham a descrição de estórias de personagens com diabetes. Destes, 20 apresentaram-se como história em quadrinhos e cinco em formato de livro. Nos demais materiais educativos/ informativos, a forma de apresentação foi a apresentação de texto com ilustrações, perguntas e respostas, poema, música e literatura de cordel (GONÇALVES et al., 2014). A cartilha com recursos lúdicos, metáforas, atividades, em uma linguagem simples e com palavras e imagens cotidianas, possibilita a criança participar do processo ensino-aprendizado de forma participativa e descontraída, o que contribui para a aprendizagem significativa. Sparapani e Nascimento (2010) realizaram estudo, no qual as próprias crianças citaram os jogos, brincadeiras na sala de espera, utilização do brinquedo na execução de procedimentos, livros, filmes, internet e videogames como recursos terapêutico na educação do paciente. As crianças possuem natureza singular e se apresentam como seres que sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio. Na educação em saúde, podese oferecer às crianças condições para a aprendizagem que ocorrem nas brincadeiras ou aquelas advindas de situações pedagógicas intencionais. No processo de ensino-aprendizagem, propiciam-se situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis. 107 Tabela 9 - Distribuição do percentual de acertos das questões do questionário de avaliação do conhecimento aplicado antes e após a intervenção (pré e pósteste). Fortaleza- CE, 2016 QUESTÕES Pré-teste Pós-teste % % O que você e outras crianças sentem quando a 33,3 50,0 glicemia está alta? A criança com diabetes tem muita 100,0 100,0 100,0 100,0 55,5 88,8 A insulina é produzida por qual órgão? 100,0 100,0 Marque os materiais que podem ser usados para 22,2 55,5 100,0 100,0 77,7 100,0 Marque com um x onde você guarda sua insulina. 100,0 100,0 Quando for preparar a insulina nph você deve 61,1 100,0 Qual a primeira coisa a fazer quando for preparar 94,4 100,0 94,4 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 _________________ no sangue. No tratamento do diabetes a criança recebe injeção de ______________________. Falando da insulina, essa você conhece bem. Marque um x na opção que apresenta o que a insulina faz no corpo aplicar insulina. Marque os locais adequados para guardar as agulhas que você já utilizou? Lembre que depois essas agulhas devem ser levadas para a unidade de saúde mais próxima Marque os locais onde a insulina pode ser aplicada. a insulina? Qual a primeira coisa a fazer quando for aplicar a insulina? Olhando a figura abaixo, o que você acredita que falta para um bom controle da glicemia? Quando descobri que tinha diabetes minha rotina mudou. Vi que preciso me cuidar, pois quero P* 0,015 108 crescer forte e saudável. Escreva no coração abaixo o que você faz para se cuidar Fonte: Moura, 2016 *Valor de p obtido a partir do teste t de Student No pré-teste, obteve-se variedade maior de questões erradas. Do total de 14 questões, sete apresentaram erro, dentre as quais, citam-se: sinais e sintomas da hiperglicemia (questão 1); função da insulina (questão 4); materiais utilizados para sua aplicação (questão 6); locais de aplicação (questão 8); necessidade de homogeneizar a insulina no preparo da NPH (questão 10); qual a primeira coisa a fazer quando for preparar a insulina (questão 11); e qual a primeira coisa a fazer quando for aplicar a insulina (questão 12). No pós-teste, apenas três questões permaneceram erradas. Estas foram consideradas erradas por estarem incompletas, ou seja, os participantes não responderam em totalidade os sinais e sintomas da hiperglicemia, locais e materiais utilizados na aplicação. A perda de peso foi o sintoma menos associado à hiperglicemia. Com relação ao local de aplicação, houve esquecimento da região superior do glúteo e a bomba de insulina não foi citada pelos participantes que erraram essa questão. Os resultados da tabela confirmam que a média de acertos das questões no pré-teste é diferente da média de acertos das questões no pós-teste (p, 015). A bomba de insulina é um material de custo elevado. Não é disponibilizada no Sistema Único de Saúde, o que a torna pouco acessível. A incompletude nas respostas a essa questão pode estar relacionada ao fato de os participantes não utilizarem esse material e não tê-lo visto anteriormente. Segundo a American Academy of Pediatrics, todas as crianças com diabetes, independente da idade, devem ser consideradas candidatas para a terapia com bomba de insulina. Os critérios de elegibilidade desta terapêutica incluem: pais motivados e familiarizados com contagem de carboidratos, tratamento anterior com múltiplas injeções diárias de insulina e aceitação pela criança da realização de seis a nove testes diários de glicemia (EUGSTER; FRANCIS; 2006). O conhecimento em saúde é requisito fundamental para o autocuidado, sobretudo de pessoas com doenças crônicas. O autocuidado dá-se pelo empoderamento de conhecimentos sobre as ações necessárias ao tratamento e, em 109 igual importância, pela conscientização e motivação em adquirir novos hábitos de vida. Portanto, ressalta-se que o conhecimento é importante, porém, não necessariamente, é preditor de autocuidado. Estudo que objetivou verificar conhecimentos e atitudes de pessoas com diabetes que participavam de um programa de educação para o autocuidado, indicou que os participantes tinham conhecimento e compreensão acerca da doença, no entanto, apresentaram dificuldades de mudanças. Assim, não modificaram atitudes para o enfrentamento adequado da doença (RODRIGUES et al., 2009). Em virtude da necessidade de mudanças no estilo de vida e adoção de hábitos saudáveis, a educação em saúde deve ser incluída como estratégia de cuidado aos pacientes com diabetes mellitus tipo 1. Dessa forma, ressalta-se o desafio de realizar essa atividade de forma atrativa e que gere aprendizagem significativa capaz de promover mudança. Outra forma de contribuir no enfrentamento da doença é a interação da criança/adolescente com amigos e familiares. Essa interação pode contribuir positiva ou negativamente, conforme relata Sparapani et al. (2012), a integração da criança com DM1 ao seu grupo de amigos, a compreensão da doença e os cuidados com o tratamento pelos pares são questões extremamente válidas para o alcance do adequado manejo da doença. As atitudes positivas foram reveladas por meio de demonstrações de companheirismo dos amigos frente às diversas situações vividas pela criança com o Diabetes Mellitus, inclusive nas intercorrências. As atitudes negativas foram relacionadas ao plano alimentar e aos preconceitos. O conhecimento deficiente sobre o diabetes e insulinoterapia também foi identificado nos estudos de Rodrigues et al. (2009) e Becker; Teixeira; Zanetti; (2012). No primeiro estudo, as questões com maiores índices de acerto estiveram relacionadas à hipoglicemia. Por outro lado, os menores índices de acerto foram obtidos para questões relacionadas ao gerenciamento do diabetes na presença de outras doenças. O segundo estudo ressalta que há desconhecimento dos procedimentos básicos para aplicação da insulina, como: delimitação da região de aplicação, rodízio do local de aplicação, temperatura de armazenamento da insulina, dentre outros. 110 Ainda em relação aos domínios da aprendizagem, o psicomotor é conhecido como domínio das habilidades. Aprender, nesse domínio, envolve adquirir habilidades motoras grossas e finas com crescente complexidade na coordenação neuromuscular para executar movimentos/procedimentos (BLOOM, 1956 APUD FERRAZ; BELHOT; 2011). Na avaliação desse domínio, o Quadro 7 apresenta as crianças conforme realização correta das ações para o preparo e aplicação da insulina. De posse dos materiais guardados em seus devidos lugares, os participantes receberam o comando para preparar e aplicar em um boneco 10 unidades da insulina NPH. A realização do procedimento foi avaliada por meio de um check list (Apêndice M) que possibilitou ao pesquisador checar a realização ou não dos procedimentos. Como critério de inclusão, foram selecionadas crianças que não realizavam a autoaplicação da insulina. Trata-se de procedimento complexo, no entanto, é possível a autoaplicação na faixa etária dos participantes desse estudo (7 a 12 anos), sob a supervisão de um adulto. O fato de os participantes desse estudo não realizar a autoaplicação, pode evidenciar superproteção por parte do cuidador. Segundo Teixeira et al. (2012), a atitude das mães pode excluir as crianças do mundo real, além de despertar sentimentos de dependência excessiva, desconfiança nos outros, instabilidade emocional, medo das adversidades e insegurança do mundo externo. A proteção desmedida dos pais interfere no desenvolvimento da autonomia e pode estar encobrindo rejeição inconsciente. As páginas 30 a 32 da cartilha Aplicando a insulina: a aventura de Beto apresentam os passos para o preparo e a aplicação da insulina. Assim, esperou-se que após a leitura a criança conseguisse realizar o procedimento. Correlação significativa entre atitude e conhecimento da pessoa com diabetes sugere que o aumento do conhecimento contribui para aquisição de habilidades de autocuidado. No entanto, essa afirmação nem sempre é verdadeira, ressaltando a necessidade de novas estratégias que possibilitem obter o conhecimento para o manejo da doença e incorporá-lo no dia a dia (RODRIGUES et al., 2009). 111 Quadro 6 - Descrição das crianças conforme realização correta das ações para o preparo e a aplicação da insulina. Fortaleza- CE, 2016 PASSOS PARA C1 C 2 C 3 C 4 C 5 C 6 C 7 C 8 C 9 C10 C11 C12 C13 C14 C15 C16 C17 C18 PREPARO E APLICAÇÃO DA INSULINA Retire a insulina daX X X X X X X X X X X X X X X X X X geladeira Espere 15 minutos X X - X X X X X X X X X X X X X X X Lave as mãos X - X X - X X - X X X X X X X X - X Retire a tampa e limpe aX X X X - X X X - - X X - X X X X X borracha do frasco com algodão molhado no álcool Pegue a seringa e puxe oX X X X X X X - X X X X X X X X X X êmbolo até localizar a marca que indica a dose a ser aplicada Coloque o ar da seringaX X X X X X X - X X X X X X X X X X dentro do frasco Pegue o frasco semX X X X X X - X X X X X X X X X X X retirar a agulha e posicione-o de “cabeça para baixo”. Aspire a quantidade de insulina até a marca que corresponde a dose a ser aplicada Verifique se têm bolhasX X X X X X X X X X X X X X X X X X Observe se na seringaX X X X X X - X X X X X X X X X X X tem a dose correta. Coloque o frasco de “cabeça para cima” e retire a agulha Passe o algodão secoX X X X X X X X X X X X X X X X X X com movimento único no local de aplicação Segure a seringa comoX X X X X X X X X X X X X X X X X X se fosse um lápis. Mantenha pequena distância entre a agulha e a pele do local de aplicação Faça uma prega no localX X X X X X X X X X X X X X X X X X de aplicação e coloque a agulha Empurre a insulinaX X X X X X X X X X X X X X X X X X lentamente 112 Espere cinco segundos eX retire a agulha X X X X X X X X X X X X X X X X X- procedimento realizado - Procedimento não realizado Após um mês de posse da cartilha, os participantes haviam realizado a autoaplicação da insulina sob a supervisão de um adulto. Os mesmos relataram alternar o procedimento com o cuidador, não havendo, portanto, autonomia completa. A análise do Quadro 6 evidencia a não realização dos seguintes procedimentos por alguns dos participantes: esperar 15 minutos após retirar da geladeira (procedimento 2); lavagem das mãos (procedimento 3); antissepsia do frasco (procedimento 4); ―técnica do ar‖ (procedimentos 5 a 7); e aspiração da dose prescrita (procedimento 9). Os passos 3 e 4 foram os menos realizados, demonstrando a baixa adesão aos procedimentos de higiene e antissepsia. Ao final, os participantes foram informados sobre os procedimentos não realizados. Alguns relataram esquecimento durante a simulação, mas que sempre os realizavam nas situações reais. Uma criança não realizou corretamente o passo 9, uma vez que aspirou a insulina em uma dose menor que a solicitada. A mesma recebeu novas orientações sobre a contagem das unidades na seringa e foi reforçada a importância da dose correta para o controle glicêmico. Teixeira et al. (2012) identificaram falhas ao analisar a técnica da automonitorização glicêmica. A saber: 5,3% dos participantes não lavaram as mãos e 24,6% não utilizaram álcool no local de aplicação do teste. Com relação à aplicação da insulina, todos realizaram os passos corretamente. Esse dado diverge de outro estudo, em que 64,7% das pessoas apresentaram complicações nos locais de aplicação relacionadas, sobretudo, à técnica inadequada para aplicação de insulina. As pessoas desconheciam o tamanho da agulha, sendo esta informação indispensável pelo risco associado a injúrias (BECKER; TEIXEIRA; ZANETTI, 2012). Cabe destacar o conhecimento sobre as diferenças de escalas de graduação de insulina entre as seringas de 30UI, 50UI e 100UI. Em estudo recente, 24,9% das pessoas com DM citaram apresentar dificuldades em visualizar a dose da insulina na seringa, 10,6% referiram dificuldades motoras durante a técnica de X 113 aspiração e 36,1% aspiraram dosagem diferente da prescrita (BECKER; TEIXEIRA; ZANETTI, 2012). Nesse contexto, a qualidade do cuidado à pessoa com DM ainda é deficiente no Brasil. Segundo Becker, Teixeira e Zanetti (2012), há desconhecimento dos procedimentos básicos para aplicação de insulina, como: delimitação da região de aplicação e rodízio, temperatura de armazenamento da insulina, entre outros. Destarte, após a identificação das variáveis envolvidas no processo de aplicação da insulina, é necessário buscar medidas que auxiliem a continuidade do cuidado para o desenvolvimento de confiança e habilidade técnica, por meio de intervenções educativas. A intenção da cartilha produzida neste estudo é contribuir para o empoderamento de conhecimentos sobre a doença e o tratamento desta, além da produção de autocuidado e autonomia. Ainda na aplicação do pós-teste, os participantes foram solicitados a emitirem opiniões pessoais em relação à cartilha. Ressalta-se a dificuldade da pesquisadora em obter respostas mais completas que suscitassem a necessidade de modificações no material educativo. Apesar de realizar entrevista com perguntas abertas, os participantes responderam de forma simples e sucinta. De forma geral, considerou-se a avaliação positiva, uma vez que nenhum participante relatou dificuldade na leitura. Nessa fase, as crianças receberam a denominação ―crianças do grupo implementação (CGI) seguido do numeral. Inicialmente, as crianças foram incentivadas a discorrer sobre a cartilha. As falas a seguir exemplificam algumas respostas: ―muito interessante‖ (CGI 4); ―é uma boa cartilha. Ajuda muito as pessoas que não têm conhecimento sobre a doença‖(CGI7). Ao serem questionadas sobre as facilidades na leitura, alguns conteúdos destacaram-se como mais atrativos: ―achei legal como ele explicou a parte da preparação da insulina‖(CGI11); ―as colagens dos adesivos dos locais de aplicação da insulina ajuda a aprender mais‖(CGI14). Com relação ao questionamento sobre o que mais gostaram na cartilha, obtiveram-se relatos relacionados ao material em si e ao conteúdo: ―gostei do jeito que o Beto se deu com a diabetes‖(CGI2); ―gostei dos desenhos e das tirinhas‖; ―gostei muito dos exercícios, ficava feliz quando acertava‖(CGI15). 114 No que se referem aos comentários sobre o conteúdo, destacaram-se s que apontaram a cartilha enquanto recurso que facilita o aprendizado: ―ela é bem importante e fácil da gente aprender porque tem várias figuras que deixa mais fácil‖(CGI9); ―gostei de aprender a aplicação da insulina corretamente segundo a cartilha‖; ―ajuda muito as crianças que tem diabetes para aprender sobre a doença‖(CGI14). Por fim, os comentários sobre as imagens destacaram aspectos relacionados ao colorido, atratividade e familiaridade das imagens: ―são legais e bem coloridas‖(CGI5); ―achei normal porque já vi em outros livros‖(CGI9). A avaliação da cartilha pela criança é de extrema importância, visto que são elas as protagonistas que irão usufruir dessa tecnologia. Segundo Freire (1997), deve-se considerar o educando como agentes de sua própria história, agentes de transformação, devendo ter um olhar próprio sobre a realidade na qual estão inseridos. Martins et al. (2012) reconhecem a necessidade da participação do público-alvo na produção de materiais. A análise das falas confirma a importância das seguintes estratégias na produção de materiais educativos: conteúdo apresentado por meio de diálogo com um personagem semelhante ao público-alvo e exercícios (colagens, charadas, certo/errado, dentre outros). Essas estratégias, bem como outras citadas no Quadro 2 facilitam o processo ensino-aprendizado, tornando o material mais lúdico e atrativo para o leitor. A percepção dos participantes em relação ao material produzido possibilita identificar se o conteúdo e as imagens estão condizentes com a realidade vivenciada e o desenvolvimento cognitivo, os quais são requisitos essenciais para efetividade do aprendizado. 115 5 CONCLUSÃO Frente as inúmeras inovações tecnológicas na área da saúde, faz-se imprescindível aos enfermeiros a constante atualização de conhecimentos e inovação das estratégias de cuidado, de forma a prestar assistência de qualidade e voltada para as necessidades e singularidades dos indivíduos. Nessa perspectiva, o uso de tecnologias educativas emerge como um recurso terapêutico. O empoderamento dos indivíduos em relação ao processo saúde-doença contribui para o autocuidado e a melhoria da qualidade de vida. A efetivação deste estudo, por meio da construção, validação e implementação da cartilha educativa Aplicando a insulina: a aventura de Beto, possibilitou os achados descritos a seguir. Foi elaborada cartilha educativa fundamentada no referencial teórico do Construtivismo de Jean Piaget. Em virtude das características e especificidades do desenvolvimento cognitivo infantil, a cartilha contou com recursos lúdicos, além de jogos, exercícios, charadas, colagens e montagens de brinquedos, tornando o material mais atrativo e interativo. Apresenta-se em 42 páginas. Após elaborada a primeira versão, a cartilha foi considerada validada em todos os aspectos relacionados ao conteúdo com IVC de cada item, variando entre 0,87 e 1,0 e IVC geral de 0,93. Apesar de ser uma amostra heterogênea, com juízes distribuídos em diversos estados do Brasil, obteve-se boa consistência interna das respostas, com coeficiente alpha de Cronbach de ,725. A intenção dessa amostra heterogênea foi avaliar a cartilha sob diversos olhares, perspectivas e contextos, tornando-a aplicável a nível nacional. Além do conteúdo, os proficientes avaliaram a cartilha quanto à aparência. Obteve-se Índice de Concordância (IC) geral de 98,4%. A maioria dos itens apresentaram IC 100%, uma vez que os proficientes responderam ―adequado‖ ou ―necessita de pequena revisão para tornar-se adequado‖. Nos itens ―As ilustrações utilizadas são pertinentes e elucidam o conteúdo‖ e ―As ilustrações são claras e transmitem facilidade de compreensão‖, obteve-se IC 93%. Identificou-se também concordância entre os juízes nos aspectos relacionados ao conteúdo e à aparência. Tal concordância foi comprovada estatisticamente por meio de teste binominal com P = 0,8 e p < 0,05. 116 A cartilha passou por modificações relacionadas a correções de textos e frases, objetivando o melhor entendimento para o leitor, além do acréscimo de explicações sobre o sistema de infusão contínua, caneta para aplicação da insulina e análogos da insulina. A habilidade para realizar o autocuidado depende, em parte, da capacidade de leitura e compreensão de informações. Nesse contexto, foi avaliada a legibilidade da cartilha por meio da aplicação do índice de legibilidade de FleschKincaid (ILFK). Obteve-se resultado de 52,8, sendo classificada como leitura fácil. O Teste de Compreensão da Escuta, por sua vez, foi realizado com trinta participantes com percentual geral de 90,3% de acerto das questões. A implementação da cartilha foi realizada em dois momentos, com 19 participantes. No primeiro encontro, foi realizada leitura dialogada. Após um mês de posse da cartilha, as crianças foram avaliadas com relação ao conhecimento e à técnica de preparo e aplicação da insulina. Considera-se a cartilha eficaz na produção de conhecimento, uma vez que, após a leitura, obteve-se melhoria no conhecimento em 100% dos participantes. A diferença do percentual de acertos das questões no pré e pós-teste variou entre 7,1 e 21,5%; 27,8% das crianças acertaram 100% das questões e 50% acertaram 92,8% das questões. Após um mês de posse da cartilha, os participantes já haviam realizado a autoaplicação da insulina sob a supervisão de um adulto. Os mesmos relataram alternar o procedimento com o cuidador, não havendo, portanto, autonomia completa. O presente estudo identificou que a melhoria do conhecimento sobre diabetes e a autoaplicação da insulina podem ser alcançados com o uso da cartilha educativa Aplicando a insulina: a aventura de Beto. Portanto, infere-se que a cartilha pode ser utilizada como recurso auxiliar nas atividades de educação em saúde. A intenção não é substituir a atividade do profissional e sim proporcioná-lo recurso que auxilie/complemente sua ação, facilitando o processo ensino-aprendizado. Por fim, comprova-se a tese: o uso da referida cartilha sobre insulinoterapia para educação em saúde de crianças com DM1 possibilita a melhoria do conhecimento sobre o assunto, bem como a aplicação da insulina em crianças na faixa etária de 7 a 11 anos. 117 LIMITAÇÕES DO ESTUDO E RECOMENDAÇÕES Os achados deste estudo foram criteriosamente avaliados e medidos por testes estatísticos recomendados pela comunidade científica nacional e internacional, conferindo-lhe confiabilidade e relevância. No entanto, algumas limitações merecem destaque. A cartilha foi avaliada quanto à legibilidade e compreensão da escuta, sendo considerada adequada ao público-alvo. No entanto, houve dificuldade em realizar a validação com as crianças. As mesmas foram questionadas sobre aspectos relacionados ao conteúdo e à aparência da cartilha. As respostas foram muito positivas, mas não se obtiveram respostas que suscitassem mudanças no material produzido. Por questões relacionadas à infraestrutura e logística, não foi possível realizar o primeiro encontro em grupo para implementação da cartilha no mesmo local onde as crianças recebem assistência. As mesmas foram convidadas para participar do grupo em um local que fosse de fácil acesso, no entanto, algumas não compareceram. Curto intervalo de tempo entre a implementação da cartilha e a avaliação. Recomenda-se divulgar a cartilha na comunidade acadêmica e entre os enfermeiros nos três níveis de assistência, incentivando lhes a utilizar novas tecnologias necessárias que potencializem atividades o educativas processo ensino-aprendizagem. cotidianas que contribuam Fazem-se para o empoderamento de conhecimentos e autocuidado de crianças e adolescentes com Diabetes Mellitus tipo 1. Urge o desenvolvimento de novas pesquisas em outros contextos e cenários. Além disso, pode-se cogitar em outras formas de implementação e avaliação da aplicabilidade da cartilha e da sua eficácia para melhoria do conhecimento e da promoção da autoaplicação da insulina. 118 REFERÊNCIAS AGUILAR, M.J.; GARCIA, P.A.; GONZÁLEZ, E.; PÉREZ, M.C.; PADILLA, C.A. A nursing educational intervention helped by One Touch UltraSmart™ improves monitoring and glycated haemoglobin levels in type I diabetic children. Journal of Clinical Nursing, v. 21, p. 1024-32, 2012. ALENCAR, D.C.; LIMA, A.C.S.; ALMEIDA, V.C.F.; SAMPAIO, K.J.A.J.; DAMASCENO, M.M.C.; ALENCAR, A.M.P.G. Sentimentos de adolescentes com Diabetes Mellitus frente ao processo de viver com a doença. Rev Bras Enferm, Brasília, v. 66, n. 4, p. 479-84, 2013. ALEXANDRE, N.M.C.; COLUCI, M.Z.O. Validade de conteúdo nos processos de construção e adaptação de instrumentos de medidas. Ciência & Saúde Coletiva, v. 16, n. 7, p. 3061-3068, 2011. ALMINO, M.A.F.B.; QUEIROZ, M.V.O.; JORGE, M.S.B. 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Res., v. 61, n. 6, p. 395–404, 2012. 128 APÊNDICE A – CARTA- CONVITE Fortaleza, _____de ________________ 20___ Caro (a) Colega Estou desenvolvendo um estudo intitulado ―Construção e validação de uma cartilha educativa sobre insulinoterapia para crianças com diabetes mellitus tipo 1‖ na condição de doutoranda do Programa de Pós-Graduação Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde. Reconhecendo sua experiência profissional e certa de sua valiosa contribuição nessa etapa do estudo, venho convidá-lo(a) a emitir seu julgamento sobre o conteúdo e aparência desse material educativo, preenchendo o formulário de avaliação em anexo. O material educativo foi elaborado a partir da análise da literatura sobre o assunto, conteúdo de comunidades virtuais e blogs na internet, além de grupos com as crianças para identificar suas necessidades de aprendizado. Na elaboração do material consideramos o desenvolvimento cognitivo das crianças na faixa etária em estudo segundo os pressupostos de Piaget. As atividades que solicito vossa contribuição referem-se a: 1) Leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre-Esclarecido; 2) Preenchimento do Questionário de Caracterização dos Proficientes; 3) Leitura da Sinopse da fase operatório-concreta descrita por Piaget que caracteriza crianças de 8 a 12 anos; 4) Apreciação e análise da tecnologia educativa à luz do instrumento de avaliação em anexo; 5) Comentários, críticas ou sugestões relacionadas à inclusão, exclusão ou alterações nos textos e figuras que compõem a cartilha. Para cumprir o cronograma desta pesquisa solicito, por gentileza, a devolução do material dentro do prazo máximo de 10 (dez) dias. Agradeço antecipadamente sua disponibilidade em partilhar conhecimento e experiência, convicta que sua valiosa contribuição ampliarà as possibilidades deste estudo. Colocamo-nos à disposição para maiores esclarecimentos que se façam necessários. Denizielle de Jesus Moreira Moura Av. João Pessoa, nº 6943, aptº 522. Parangaba. Fone: (85) 88659135/ 32238234 E-mail: [email protected] Dra. Maria Vilani Cavalcante Guedes Orientadora E-mail: [email protected] 129 APÊNDICE B- TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE-ESCLARECIDO- PROFICIENTES Sou Denizielle de Jesus Moreira Moura, doutoranda do Programa de Pósgraduação em Enfermagem da Universidade Estadual do Ceará. Estou desenvolvendo um estudo intitulado ―Construção e validação de uma cartilha educativa sobre insulinoterapia para crianças com diabetes mellitus tipo 1‖ sob a orientação da professora Dra. Maria Vilani Cavalcante Guedes. Esse estudo tem como objetivo construir e validar um material educativo destinado a crianças portadoras de DM1. Para tanto, precisa ser submetido a um rigoroso processo de validação. Logo, venho por meio deste convidá-lo(a) a participar deste estudo na qualidade de proficiente. Ressalto que esse material está registrado no 6º Ofício de Notas – Cartório Melo Júnior, sob o número 841900. Assim, o senhor(a) receberá um questionário de caracterização dos proficientes, o material educativo minimizado e um instrumento para avaliação da cartilha. Você está sendo convidado(a) a participar, como voluntário(a). Será preservado o anonimato dos participantes. Sua participação é livre e exigirá a disponibilidade de tempo para avaliação do material educativo. Informo que os riscos da atividade são mínimos e a pesquisadora estará atenta para resolvê-los ou minimizá-los. Os riscos de sua participação poderão ser: constrangimento em responder a algum questionamento. Para minimizar, os participantes receberão o material por email ou pessoalmente e terão a liberdade de avaliá-lo onde lhe for mais conveniente. Os participantes serão beneficiados com certificado de participação no processo de validação. Asseguro que as informações obtidas serão utilizadas apenas para o meu estudo e, a qualquer momento, poderá receber informações sobre os procedimentos realizados. Sua participação também não implica em ônus ou gratificações financeiras. Você tem a liberdade de retirar seu consentimento sem qualquer prejuízo ou penalidade. Sinta-se livre para fazer qualquer pergunta durante a leitura do termo de consentimento ou a qualquer momento da pesquisa pelo telefone (85) 88659135 ou comunicar-se com o Comitê de Ética em Pesquisa do Universidade Estadual do Ceará pelo telefone 3101. 9890. Informo que este termo será feito em duas vias, uma para o pesquisador e outra para o participante. Eu, ____________________________________________, declaro que depois de ser esclarecido pelo pesquisador e ter entendido o que me foi explicado, concordo em participar da pesquisa. Fortaleza, ______ de ______________ de 20___ ____________________________________________________ Assinatura do Pesquisado _____________________________________________________ Assinatura do Pesquisador Responsável 130 APÊNDICE C- SINOPSE- FASE OPERATÓRIO-CONCRETA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL PROPOSTA POR PIAGET Jean Piaget, importante estudioso do desenvolvimento infantil, afirma que o desenvolvimento da inteligência na criança ocorre a partir das funções invariantes: assimilação, acomodação, organização e equilibração. Dá-se nas seguintes fases: sensório-motor (0 a 2 anos), pré-operacional (2 a 7 anos), operatório-concreto (8 a 11 anos) e operacional formal (acima de 12 anos) (BELSKY, 2010; PIAGET, 2009). A psicologia infantil estuda o desenvolvimento mental e das condutas da criança até a fase de transição constituída pela adolescência, que marca a inserção do indivíduo na fase adulta. Certamente, esse desenvolvimento não se dá isolado dos fatores relacionados à educação, condições sociais, econômicas e psicológicas (PIAGET, 2009). Não há, porém, uma transmissão estéril dessas influências. Elas são assimiladas, isto é, processadas e incorporadas à personalidade (PIAGET, 1967). As características de cada uma dessas fases descritas por Piaget fundamentam a escolha para a aplicação do jogo educativo na infância, especificamente para as crianças entre 8 anos e 12 anos. A idade 7-8 anos marca uma modificação decisiva no desenvolvimento mental. É o ponto de referência para olhar além das aparências imediatas. Inicia o processo de concentração individual e colaboração efetiva. Ao invés de condutas impulsivas, egocêntricas, a criança inicia a reflexão sobre suas ações, desenvolve a capacidade de raciocinar sobre o mundo de um modo mais lógico (PIAGET, 2009). Depois, dos 7-8 anos as crianças chegam às reproduções de movimentos e transformações, assim como às imagens antecipadoras de categorias correspondentes. Nota-se também a constituição das primeiras operações lógicomatemáticas, isto é, em que a atividade perceptiva é dirigida pela inteligência. O esforço de tomada de consciência do próprio pensamento é cada vez mais sistemático (BELSKY, 2010; PIAGET, 2009). Após diversos estudos, porém sem apresentar estatísticas que poderiam ser falaciosas, Piaget destaca que o esforço de tomada de consciência do próprio pensamento é cada vez mais sistemático (PIAGET, 1967; PIAGET, 1990). 131 Conhecer o desenvolvimento cognitivo, psicológico e social na criança subsidia o planejamento de cuidado clínico e educativo condizente com suas necessidades e capacidade de aprendizado. As intervenções realizadas devem respeitar a fase do desenvolvimento, uma vez que, mesmo em faixas etárias próximas, podem ser observadas muitas diferenças se forem em fases de desenvolvimento diferentes. Muitas são as mudanças da infância para a adolescência, logo, recursos lúdicos são cabíveis, mas podem ser abordados de diferentes formas a depender do público em questão. 132 APÊNDICE D – CARACTERIZAÇÃO DOS PROFICIENTES Nº ___________ 1- IDENTIFICAÇÃO Nome: _______________________________________________Idade: _____ Local de trabalho:_________________________________________________ Experiência com Diabetes Mellitus tipo 1(em anos):______________________ Experiência com Educação em Saúde (em anos):________________________ Experiência com Educação (em anos):________________________________ Experiência com elaboração/avaliação de material educativo 1.SIM ( ) 2. NÃO ( ) Publicações em periódicos indexados sobre os temas: Diabetes Mellitus tipo 1, Educação em Saúde, Tecnologias Educativas 1. SIM ( ) 2. NÃO ( ) Participa de alguma grupo/projeto de pesquisa 1.SIM ( ) 2. NÃO ( ) Se sim, qual a temática: ____________________________________________ 2- QUALIFICAÇÃO Formação: ____________________________________________________________ Especialização:__________________________________________ Ano: ___________ Mestrado: _____________________________________________ Ano: ___________ Doutorado: _____________________________________________ Ano: ___________ Ocupação atual: 1. Assistencia 2. Ensino 3. Pesquisa 4. Consultoria 3- TRAJETÓRIA PROFISSIONAL INSTITUIÇÃO TEMPO 133 APÊNDICE E- INSTRUMENTO DE VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO E APARÊNCIA PELOS PROFICIENTES INSTRUÇÕES: Analise cuidadosamente a tecnologia educativa de acordo com os critérios estabelecidos. Em seguida, classifique-os atribuindo o valor que mais se adequa, em sua opinião, de acordo com a valoração abaixo. Para as opções 3 e 4, descreva o motivo pelo qual considerou essa opção no espaço destinado ao item. VALORAÇÃO: 1 2 3 4 Inadequado Necessita de grande revisão para tornar-se adequado Necessita de pequena revisão para tornar-se adequado Adequado 1.CONTEÚDO 1.1 O conteúdo está apropriado ao público alvo 1 2 3 4 1.2 A divisão dos títulos e sub-títulos do material são 1 2 3 4 pertinentes 1.3 Os trechos chave são pontos importantes e merecem 1 2 3 4 destaque 1.4 O conteúdo é suficiente para atender as necessidades do 1 2 3 4 público alvo 1.5 A sequência do texto é lógica 1 2 3 4 ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 2. LINGUAGEM 2.1 O estilo da redação é compatível com o público alvo 1 2 3 4 2.2 A escrita utilizada é atrativa 1 2 3 4 2.3 A linguagem é clara e objetiva 1 2 3 4 ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 3. ILUSTRAÇÕES 3.1 As ilustrações utilizadas são pertinentes e elucidam o 1 2 3 4 134 conteúdo 3.2 As ilustrações são claras e transmitem facilidade de 1 2 3 4 compreensão 3.3 As legendas aplicadas as imagens estão adequadas e 1 2 3 4 auxiliam o leitor compreender a imagem 3.4 A quantidade de ilustrações está adequada para o 1 2 3 4 conteúdo do material educativo ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 4. LAYOUT 4.1 O tipo de letra utilizada facilita a leitura 1 2 3 4 4.2 As cores aplicadas ao texto são pertinentes e facilitam a 1 2 3 4 leitura 4.3 A composição visual está atrativa e bem organizada 1 2 3 4 4.4 O formato (tamanho) do material educativo e número de 1 2 3 4 páginas estão adequados 4.5 A disposição do texto está adequada 1 2 3 4 4.6 O tamanho da letra dos títulos, sub-títulos e texto são 1 2 3 4 adequadas ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 5. MOTIVAÇÃO 5.1 O conteúdo está motivador e incentivam a prosseguir com 1 2 3 4 a leitura 5.2 O conteúdo despertou interesse do leitor 1 2 3 4 ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 6. CULTURA 6.1 O texto está compatível culturalmente com o público alvo 1 atendendo a diferentes perfis de público 2 3 4 135 ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Por favor, indique outros especialistas enfermeiros que possam colaborar com a validação deste estudo. Nome Telefone E-mail 136 APÊNDICE F - TERMO DE ASSENTIMENTO LIVRE - ESCLARECIDO Meu nome é Denizielle, sou enfermeira e gostaria de lhe convidar para participar da minha pesquisa. Desenvolvi uma cartilha educativa que pode lhe ajudar a aprender sobre o diabetes e sobre o tratamento com a insulina. Você não é obrigado a participar, não divulgaremos o seu nome e não lhe será causado problemas. Essa é a cartilha que foi elaborada para você ler. Você aceita participar? ( ) Sim ( ) Não 137 APÊNDICE G - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE-ESCLARECIDO – PAI/MÃE OU RESPONSÁVEL PELA CRIANÇA Prezado (a) Senhor (a) Sou Denizielle de Jesus Moreira Moura, enfermeira, aluna do curso de doutorado Universidade Estadual do Ceará. Estou desenvolvendo, sob a orientação da professora Dra. Maria Vilani Cavalcante Guedes, um estudo intitulado: “Construção e validação de uma tecnologia para educação em saúde de crianças com diabetes”. Tem como objetivo elaborar a validar um material educativo sobre insulinoterapia para crianças com Diabetes Mellitus tipo 1. A criança ________________________________, sob sua responsabilidade, está sendo convidado (a) como voluntário (a) a participar neste estudo. Irei realizar atividades educativas com o uso de uma cartilha a qual será disponibilizada à criança para levar ao domicílio e devolver na próxima consulta. A participação da criança é livre. Ressalto que ela já foi consultada e aceitou participar do estudo. Asseguro que as informações obtidas serão utilizadas apenas para o meu estudo, respeitando o anonimato dos participantes. Solicito permissão para registrar os encontros com as crianças em fotos e filmagens as quais serão divulgadas com o devido respeito às imagens das crianças. A qualquer momento, o (a) senhor (a) poderá receber informações sobre os procedimentos realizados. A participação da criança também não implica em custos ou gratificações financeiras. Ressalto que os riscos são mínimos e podem estar relacionados a hipo ou hiperglicemia por tempo prolongado sem alimentação ou descompensação da DM1. Para minimizá-los, será oferecido um lanche com alimentos apropriados antes dos encontros entre criança e pesquisadora. Caso a criança precise de algum tipo de assistência por problemas relacionados a pesquisa, o pesquisador irá encaminhá-la para acompanhamento especializado no CIDH. Como benefícios, ressaltamos a produção de um material educativo que facilite o processo de ensino-aprendizagem sobre a insulinoterapia, contribuindo para a possibilidade de auto-aplicação da insulina pela criança. Diante do aceite da criança, favor assinar ao final do documento caso permita sua participação. Será preservado o anonimato dos participantes. A participação não é obrigatória, e, a qualquer momento, poderá desistir de participar e retirar seu consentimento. Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador (a) ou com a instituição. Durante a execução do projeto, não haverá prejuízo nas consultas de rotina na unidade de saúde ou qualquer outro risco no tratamento. Qualquer dúvida, dano ou desconforto poderá ser relatado a pesquisadora pessoalmente ou pelo telefone (85) 88659135 ou comunicar-se com o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará pelo telefone 3101. 9890. Informo que este termo será feito em duas vias, uma para o pesquisador e outra para o participante. Eu, ____________________________________________, declaro que depois de ser esclarecido pelo pesquisador e ter entendido o que me foi explicado, concordo com a participação da criança na pesquisa. Fortaleza, ______ de ______________ de 20___ _________________________________ Assinatura do Pesquisador Responsável __________________________________ Assinatura ou Digital do Pesquisado 138 APÊNDICE H- TEATRO PARA GRUPO FOCAL COM AS CRIANÇAS Personagens: uma criança portadora de DM1 e uma enfermeira. Número de participantes no grupo: máximo 5 crianças - Criança: Bom dia criançada! - Criança: Eu sou Aninha. Tudo bem com vocês? Sou uma criança muito feliz. Eu brinco com meus amigos, às vezes ajudo minha mãe e estudo muito pois quero ser cientista quando crescer. - Criança: Qual o seu nome? Hum... nome de artista de cinema. - Criança: Qual o seu nome? VocÊ parece com um jogador de futebol. - Criança: Qual o seu nome? ...... (Fazer brincadeiras com os nomes) - Criança: Vocês sabiam que temos uma coisinha em comum? Quem adivinha o que é? ........ Eu tenho diabetes. Quem aqui tem diabetes? Quem toma insulina? Pois é, eu também. Fiquei triste no começo. Tinha umas dificuldades, mas hoje já tiro de letra e tudo graças a minha enfermeira Sara (cantar e dançar a música ―sara, sara, sara, sarará‖). Soube que vocês estavam aqui e pedi para ela vir ajudar vocês também. - Enfermeira: bom dia criançada! Como a Aninha falou, meu nome é Sara. Sou enfermeira e cuido de crianças como você que têm diabetes. - Enfermeira: para que eu possa lhes ajudar me digam: o que querem saber sobre diabetes? O que acham que é importante aprender para que possam se cuidar? - Enfermeira: Fulano, o que você quer saber sobre diabetes? O que vocÊ acha difícil no tratamento (perguntar a cada um). - Enfermeira: para lhes explicar sobre a doença, vou começar mostrando um vídeo bem legal para vocês. 139 APÊNDICE I - TESTE DE COMPREENSÃO DA ESCUTA 1) Quais os tipos de insulina que o texto fala? Insulina NPH, regular e análogos da insulina 2) De acordo com o texto que acabamos de ler, quais os materiais podem ser utilizados para aplicar a insulina? Seringa, bomba de insulina e caneta descartável 3) Existem tamanhos diferentes de seringa? Sim 4) Porquê? Tem uma agulha adequada para cada faixa etária e/ou peso corporal 5) Cite os locais de aplicação da insulina. Barriga (região lateral do umbigo), atrás dos braços (acima do cotovelo), coxas (na frente e lateral), nádegas (parte de cima do bumbum). 6) É preciso mudar os locais de aplicação da insulina? Sim 7) Explique como é feito a mudança dos locais de aplicação da insulina. Aplica em um mesmo local com espaço de dois entre uma aplicação e outra. Depois vai para outra parte do corpo. 140 APÊNDICE J - FORMULÁRIO- CARACTERIZAÇÃO DAS CRIANÇAS 1. Identificação: ________________________________________________________ 2. Endereço______________________________________________________ 3. Telefone_______________________________________________________ 4. Idade: _______________________________ 5. Sexo 1. ( ) M 2. ( ) F 6. Escolaridade (anos de estudo): ________ 1. Analfabeto ( ) 2. Ensino Fundamental Incompleto( ) 3. Ensino Fundamental Completo( ) 4. Ensino Médio Incompleto( ) 5. Ensino Médio Completo( ) 7. Renda familiar: 1. Menos de um salário mínimo( ) 2. Um salário mínimo( ) 3. Mais de um salário mínimo( ) Quanto? ______________________________ 8. Quantas pessoas dependem dessa renda_________ 9. Tempo de diagnóstico de DM 1 (anos):_________________ 10. Tempo atendimento no ambulatório (anos):______________ 11. Grau de parentesco do cuidador: 1. Pai( ) 2. Mãe( ) 3. Irmão( ) 4. Tio(a)( ) 5. Avô/ Avó( ) 6. Outros:_______________________________ 12. Quem aplica a insulina: 1. Paciente ( ) 2. Pai( ) 3. Mãe( ) 4. Irmão( ) 5. Tio( ) 6. Avô( ) 7. Outros _____________________________ 13. Frequência da monitorização domiciliar: 1.1 x dia( ) 2. 2 x dia( ) 3.3 x dia ( ) 4. Quando necessário( ) 14. Internações por DM1 no último ano: 1. Não( ) 2. Sim( ) Frequência: __________________ 15 Se Sim, especifique que complicação: 1. Retinopatia( ) 2. Neuropatia( ) 3. Cetoacidose diabética( ) 4. Crise de hipoglicemia ou hiperglicemia( ) 5.Outros_______________________________________________________ 16. Intercorrência no último ano ( ) Não ( ) Sim, qual ____________________________ 17. Internação no último ano ( ) Não ( ) Sim, motivo ____________________________ 18. Tipo de tratamento ( ) Insulina NPH ( ) Insulina Regular ( ) Análogos da Insulina ( ) Hipoglicemiante oral ( ) Contagem de carboidratos ( ) Dieta ( ) Atividade física 141 APÊNDICE L - PRÉ E PÓS - TESTE DE AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO IMAGINO QUE SUA VIDA MUDOU MUITO APÓS DESCOBRIR QUE TEM DIABETES. GOSTARIA QUE ME RESPONDESSE ALGUMAS QUESTÕES A PARTIR DO QUE VOCÊ APRENDEU E DAS SUAS EXPERIÊNCIAS 1) O QUE VOCÊ E OUTRAS CRIANÇAS SENTEM QUANDO A GLICEMIA ESTÁ ALTA? ( ) A CRIANÇA SENTE MUITA FOME ( ) A CRIANÇA COME POUCO ( ) A CRIANÇA SENTE MUITA SEDE ( ) NÃO QUER BEBER ÁGUA ( ) A CRIANÇA FICA MAIS GORDA ( ) A CRIANÇA PERDE DE PESO ( ) A CRIANÇA FAZ MUITO XIXI ( ) A CRIANÇA NÃO SENTE VONTADE DE FAZER XIXI 1. ( ) acertou 2) NOS 2 ( ) errou BALÕES ABAIXO, MARQUE UM X NO QUE COMPLETA CORRETAMENTE A FRASE. A CRIANÇA COM DIABETES TEM MUITA _________________ NO SANGUE. GORDURA 1 ( ) acertou GLICOSE CHOCOLATE 2 ( ) errou 3) NO TRATAMENTO DO DIABETES A CRIANÇA RECEBE INJEÇÃO DE ______________________. 1 ( ) acertou 2 ( ) errou 4) FALANDO DA INSULINA, ESSA VOCÊ CONHECE BEM. MARQUE UM X NA OPÇÃO QUE APRESENTA O QUE A INSULINA FAZ NO CORPO ( ) LEVA OS ALIMENTOS PARA O ESTÔMAGO ( ) LEVA OS ALIMENTOS PARA O SANGUE ( ) LEVA O AÇÚCAR (GLICOSE) QUE ESTÁ NO SANGUE PARA DENTRO DA CÉLULA ( ) DESTROI A GLICOSE 142 1 ( ) acertou 2 ( ) errou 5) A INSULINA É PRODUZIDA POR QUAL ÓRGÃO? ( ) ESTÔMAGO ( ) PÂNCREAS ( ) CORAÇÃO ( ) MÃOS 1 ( ) acertou 2 ( ) errou 6) MARQUE OS MATERIAIS QUE PODEM SER USADOS PARA APLICAR INSULINA. 1 ( ) acertou 2 ( ) errou 7) MARQUE OS LOCAIS ADEQUADOS PARA GUARDAR AS AGULHAS QUE VOCÊ JÁ UTILIZOU? LEMBRE QUE DEPOIS ESSAS AGULHAS DEVEM SER LEVADAS PARA A UNIDADE DE SAÚDE MAIS PRÓXIMA 1( ) acertou 2 ( ) errou 143 Lixeira comum Garrafa plástico Lata de alumínio 8) MARQUE OS LOCAIS ONDE A INSULINA PODE SER APLICADA. 1. ( ) acertou 2 ( ) errou MAIS UM VERSINHO PARA VOCÊ APRENDER E ENSINAR AOS AMIGOS. VAI FICAR AINDA MAIS SABIDO. COMO USAR A INSULINA, FAZER CERTA APLICAÇÃO: ANTES LAVE BEM AS MÃOS LIMPE COM ALGODÃO COM SERINGA DESCARTÁVEL NÃO TEM CONTAMINAÇÃO OLHE SEMPRE A VALIDADE SE ESTIVER ESTRANHA A COR DE CONSISTÊNCIA ESTRAGADA NUNCA USE POR FAVOR NÃO TROQUE O MEDICAMENTO SEM FALAR COM O DOUTOR 144 9. MARQUE COM UM X ONDE VOCÊ GUARDA SUA INSULINA. ( ) DENTRO DA GELADEIRA ( ) EM CIMA DA GELADEIRA ( ) NO ARMÁRIO ( ) NA BOLSA (válido para crianças que usam caneta de insulina) ( ) FORA DA GELADEIRA 1. ( ) acertou 2 ( ) errou 10. QUANDO FOR PREPARAR A INSULINA NPH VOCÊ DEVE ( ) ROLAR LENTAMENTE O VIDRO DA INSULINA ENTRE AS MÃOS ( ) AGITAR RAPIDAMENTE O VIDRO DA INSULINA 1 ( ) acertou 2 ( ) errou 11. QUAL A PRIMEIRA COISA A FAZER QUANDO FOR PREPARAR A INSULINA? 1. ( ) acertou 2 ( ) errou 12. QUAL A PRIMEIRA COISA A FAZER QUANDO FOR APLICAR A INSULINA? 145 1. ( ) acertou 2 ( ) errou 13. OLHANDO A FIGURA ABAIXO, O QUE VOCÊ ACREDITA QUE FALTA PARA UM BOM CONTROLE DA GLICEMIA? 1 ( ) acertou 2 ( ) errou ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ 146 14. QUANDO DESCOBRI QUE TINHA DIABETES MINHA ROTINA MUDOU. VI QUE PRECISO ME CUIDAR, POIS QUERO CRESCER FORTE E SAUDÁVEL. ESCREVA NO CORAÇÃO ABAIXO O QUE VOCÊ FAZ PARA SE CUIDAR 1. ( ) acertou 2 ( ) errou ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ________________________________________ ____ 147 Perguntas relacionadas à percepção da criança sobre a cartilha – PÓS-TESTE O que você achou da cartilha? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Quais as facilidades na leitura da cartilha? ___________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Quais as dificuldades na leitura da cartilha? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ O que você mais gostou nessa cartilha? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Faça algum comentário sobre o texto que se encontra na cartilha ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Faça algum comentário sobre as imagens da cartilha ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 148 APÊNDICE M - CHECK LIST PARA AVALIAR O PREPARO E APLICAÇÃO DA INSULINA 1. Retire a insulina da geladeira 2. Lave as mãos 3. Retire a tampa e limpe a borracha do frasco com algodão molhado no álcool 4. Pegue a seringa e puxe o êmbolo até localizar a marca que indica a dose a ser aplicada 5. Coloque o ar da seringa dentro do frasco, empurre o êmbolo 6. Pegue o frasco sem retirar a agulha e posicione-o de ―cabeça para baixo‖. Aspire a quantidade de insulina até a marca que corresponde a dose a ser aplicada 7. Verifique se tem bolhas 8. Observe se na seringa tem a dose correta. Coloque o frasco de ―cabeça para cima‖ e retire a agulha 9. Passe o algodão seco com movimento único no local de aplicação 10. Segure a seringa como se fosse um lápis. Mantenha pequena distância entre a agulha e a pele do local de aplicação 11. Faça uma prega no local de aplicação e coloque a agulha 12. Empurre a insulina lentamente 13. Espere 5 segundos e retire a agulha 149 APÊNDICE N PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRÃO Nº 1 CONSTRUÇÃO DA CARTILHA EDUCATIVA SOBRE INSULINOTERAPIA ESTABELECIDO EM: RESPONSÁVEL: Denizielle de Jesus Moreira Moura OBJETIVOS Elaboração de uma cartilha educativa sobre insulinoterapia destinada a crianças com DM1. MATERIAL NECESSÁRIO - Computador. - Papel - Impressora DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES 1. Escolha do conteúdo a ser abordado na cartilha. 2. Realizar a escolha do conteúdo a partir das seguintes etapas: análise dos comentários de sete blogs sobre DM1 e entrevista em grupo focal com as crianças; 3. Ampla revisão da literatura. 4. Organização do conteúdo em sequência lógica de raciocínio: apresentação do personagem; fisiopatologia do DM1; insulinoterapia (tipos de insulina, preparo, aplicação, armazenamento, transporte e descarte); 5. Descrição das frases conforme recomendações de DOAK, DOAK, HOOT (1996) e STRATEGIC AND PROACTIVE COMMUNICATION BRANCH (2009): letra Amasis MT, tamanho 12 para o corpo do texto e letra Obelix Pro tamanho 20 para os títulos; Evitar letras estilizadas; manter a mesma fonte ou, no máximo, dois tipos (título e sub-título); bom contraste entre papel e texto; não colocar texto em fundo trabalhado; evitar palavras maiúsculas, itálico ou sublinhado; incluir espaços em branco; usar frases curtas (< 3 linhas ou entre 12-15 palavras); evitar muita informação em uma mesma página. 6. Criação de imagens que representem o conteúdo apresentado. As imagens serão criadas por um designer gráfico com o auxílio do Adobe Ilustrator. Deve incutir significado ao conteúdo, facilitando o aprendizado. Serão preservadas a harmonia das cores e homogeneidade das figuras na idealização do layout. 7. Junção do conteúdo e imagens para construção do layout da cartilha educativa. Utilizar programa Adobe Indesigner para editoração. 8. Encaminhar a um profissional para realizar revisão de português. 9. Finalização da primeira versão da cartilha a qual passará por um processo de validação. CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES PREPARADO POR: Denizielle EXECUTADO POR: Denizielle 150 APÊNDICE O PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRÃO Nº 2 VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO E APARÊNCIA POR PROFICIENTES ESTABELECIDO EM: OBJETIVOS Realizar validação de conteúdo e aparência da cartilha educativa pelos proficientes. MATERIAL NECESSÁRIO Carta-convite (APÊNDICE A) Termo de Consentimento Livre-Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE B) Sinopse do desenvolvimento cognitivo infantil segundo Piaget (APÊNDICE C) Caracterização dos especialistas (APÊNDICE D) Cartilha educativa a ser avaliada (APÊNDICE E) Instrumento para avaliação da cartilha educativa (APÊNDICE F) DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES 1. Calcular o número de especialistas que irão compor a amostra no processo de validação. Utilizaremos a seguinte fórmula conforme recomendação de (Lopes, Silva, Araujo, 2012): n = Zα2 x P x ( 1 - P ) / E2 , onde " Zα " refere-se ao nível de confiança adotado, "P " a proporção esperada de especialistas indicando a adequação de cada item, e "E" representa a diferença proporcional aceitável em relação ao que seria esperado. 2. Identificar, por meio do curriculum Lattes, proficientes que preencham critérios de inclusão no processo de validação. A amostragem será por bola de neve e a inclusão dar-se-á pela análise do curriculum lattes com observação de dois critérios: experiência clínica mínima de 5 anos trabalhando com a população alvo e com conhecimento teórico na área do construto. 3. Contactar os especialistas via e-mail. Os mesmos serão convidados mediante a apresentação da carta-convite. Nesse momento, perguntar ao especialista como deverá ser encaminhado o material para avaliação (e-mail, correio ou pessoalmente). 4. Após aceitação, foi encaminhado o TCLE para confirmação da anuência, o instrumento de avaliação e a cartilha educativa. O envio ocorrerá conforme for mais conveniente ao participante. No TCLE estão descritos os procedimentos a serem realizados no processo de validação. 5. Após o retorno dos formulários preenchidos, a avaliação do conteúdo será realizada pela medição do Índice de Validade de Conteúdo (IVC): 1) I-CVI (Level Content Validity Index) – validade de conteúdo dos itens individuais; 2) S-CVI/AVE (Scale-Level Content Validity Index, Average Calculation Method) - ―média dos valores dos itens calculados separadamente, isto é soma-se todos os IVC calculados separadamente e divide-se pelo número de itens considerados na avaliação‖. Considerou-se o índice igual ou superior a 0,80 como desejável na validação do conteúdo. 6. Os itens que não atingirem esse valor serão reformulados. Essa variável é considerada desfecho e será mensurada a partir da aplicação de um formulário de avaliação da cartilha junto aos proficientes. 151 7. A validação de aparência será realizada pelo nível de concordância entre os juízes por meio do percentil simples. 8. De posse dos instrumentos, os dados obtidos serão compilados no programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 20.0. Utilizaremos o teste exato de distribuição binominal, para estimar a confiabilidade estatística das respostas de cada item, considerando nível de significância de 5% (p<0,05) e proporção de 0,8 de concordância tal qual a estimada para o IVC. 9. Será adotado ainda o coeficiente de Alpha de Cronbach para análise da consistência interna da opinião dos juízes em cada dimensão com um valor mínimo aceitável de 0,7. 10. As variáveis preditoras do processo de validação são: conteúdo, linguagem, ilustrações, layout, motivação e cultura. Esses itens estão presentes no instrumento de avaliação de conteúdo e aparência e serão avaliados por meio de uma escala do tipo Likert com pontuação de 1 a 4, onde 1 refere-se a inadequado; 2 necessita de grande revisão para tornar-se adequado; 3 necessita de pequena revisão para tornar-se adequado; e 4 adequado. 11. Realização dos ajustes na cartilha educativa para elaboração da versão final a ser implementada junto às crianças. CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES PREPARADO POR: Denizielle EXECUTADO POR: Denizielle 152 APÊNDICE P PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRÃO Nº 3 IMPLEMENTAÇÃO DA CARTILHA EDUCATIVA COM CRIANÇAS ACOMETIDAS PELO DM1. ESTABELECIDO EM: OBJETIVOS Implementar a cartilha educativa por meio de uma leitura dialogada com crianças acometidas por DM1 assistidas no Centro Integrado de Diabetes e Hipertensão. MATERIAL NECESSÁRIO Termo de Assentimento Livre-Esclarecido Versão final da cartilha educativa Formulário pré e pós-teste DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES 1. Participarão do estudo crianças na faixa etária de 8 a 11 anos assistidas no Centro Integrado de Diabetes e Hipertensão (CIDH). 2. A amostragem nessa fase quase-experimental do tipo antes e depois será por conveniência. 3. As crianças serão convidadas a participar do estudo por meio do Termo de Assentimento Livre-Esclarecido. As que aceitarem, solicitaremos a assinatura do responsável. 4. Aplicação do formulário pré-teste. 5. A implementação da cartilha será realizada em grupo com, no máximo, cinco participantes. 6. Essa atividade se repetirá até atingir o número de participantes necessário para compor a amostra. 7. Será realizada leitura dialogada da cartilha. 8. Após a leitura será aberto espaço para discussão. As crianças serão incentivadas pela pesquisadora a relatar dúvidas, anseios, medos, dificuldades e aspectos positivos no manejo da insulinoterapia 9. As crianças receberão a cartillha educativa para levar ao domicílio. 10. De posse da cartilha educativa, realizaremos contato telefônico semanal para incentivar a leitura do material educativo. O contato telefônico deverá ser solicitado no momento da aplicação do formulário pré-teste. 11. Agendaremos novo encontro para avaliação após 30 dias. 12. A avaliação será realizada por dois acadêmicos de enfermagem 153 devidamente treinados pela pesquisadora de forma a minimizar possíveis viéses. 13. O treinamento dos acadêmicos será realizado na semana em que será iniciada a avaliação, com um tempo de intervalo máximo de 4 dias de antecedência. Terá duração de oito horas. Será lhes apresentado os objetivos e metodologia do estudo, além do formulário a ser aplicado. Todas as perguntas do formulário serão explicadas. 14. Será aplicado individualmente o formulário pós-teste pelo acadêmico de enfermagem. 15. As crianças que não retornarem para o segundo encontro após três agendamentos serão consideradas como perdas na amostra. CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES PREPARADO POR: Denizielle EXECUTADO POR: Acadêmicos 154 APÊNDICE Q PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRÃO Nº 4 ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DA CARTILHA EDUCATIVA COM CRIANÇAS ACOMETIDAS PELO DM1. ESTABELECIDO EM: OBJETIVOS Realizar análise estatística descritiva e inferencial dos resultados da implementação da cartilha educativa sobre insulinoterapia para crianças com DM1. MATERIAL NECESSÁRIO Computador DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES 1. Os formulários pré e pós-teste são avaliados como amostras pareadas, de forma a avaliar a diferença de conhecimento antes e após a intervenção educativa. 2. Os dados serão analisados pela estatística descritiva (medidas de tendência central e medidas de dispersão) e pela estatística inferencial. 3. Na estatística inferencial realizaremos teste de diferença de média (teste t Student); 4. Variáveis analisadas na estatística descritiva: sexo (masculino, feminimo), idade (em anos), escolaridade (série que está cursando e anos de estudo), renda percapta (medida pela divisão da renda familiar pelo número de dependentes), tempo de diagnóstico (medido em anos), presença de complicações do diabetes (evidenciado pelo diagnóstico médico). CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES PREPARADO POR EXECUTADO POR 155 ANEXO A – PARECER COMITÊ DE ÉTICA 156 157