Influência de diferentes espaçamentos e densidades de semeadura

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Influência de diferentes espaçamentos e densidades de
semeadura nas características agronômicas do trigo
Gerson Sander1, Antonio Carlos Torres da Costa2, Jose Barbosa Junior
Duarte3, Deniele Marini4 e Janaina Dartora5
1
Eng. Agrôn., Mestrando em produção vegetal, PPGA, UNIOESTE, Marechal Cândido
2
Rondon - PR. Email: [email protected]. Eng. Agrôn., Professor Doutor da
Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE, Marechal Cândido Rondon - PR.
3
Email: [email protected] Eng. Agrôn., Professor Doutor da Universidade
Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE, Marechal Cândido Rondon – PR.
4
Email: [email protected]. Eng. Agrôn., Mestranda em produção vegetal, PPGA,
UNIOESTE, Marechal Cândido Rondon – PR. Email: [email protected].
5
Eng. Agrôn., Mestranda em produção vegetal, PPGA, UNIOESTE, Marechal Cândido
Rondon – PR. Email: [email protected].
O Trigo (Triticum aestivum L.) é uma planta de ciclo anual, cultivada durante o inverno e na
primavera. O grão é consumido na forma de pão, massa alimentícia, bolo e biscoito. O Paraná
é o principal produtor de trigo do Brasil e tem participado, em média, com mais de 50% da
produção nacional de acordo com a CONAB (2007). Desde 1997 o Paraná se mantém em
primeiro lugar no ranking de produção nacional de trigo. Esta produção se justifica pelo clima
propício e solos férteis encontrados no estado e ao padrão tecnológico dos triticultores
paranaenses, cuja maioria é filiada à cooperativas, ou acompanhada por outros órgãos de
assistência técnica. A maior concentração de áreas está nas regiões Norte e Oeste do Paraná,
que dispõem de condições favoráveis ao desenvolvimento da cultura, possibilitando elevados
potenciais produtivos, que em conjunto com o uso eficiente dos fatores de produção e manejo,
as produtividades podem ser aumentadas (Hubner, 2003).
Pela sua importância econômica, estratégica e sendo uma alternativa na rotação de culturas, o
cultivo de trigo representa uma oportunidade de renda ao agricultor no período de inverno e
contribui de maneira significativa para a sustentabilidade do agronegócio (IAPAR 2008).
A semente de trigo representa no estado do Paraná 11,04 % do custo de produção da lavoura,
sendo superior ao custo da adubação de 10,68% (SEAB/DERAL, 2010). Devido à importância
deste insumo, tanto na expectativa de produção da cultura quanto na composição de seus
custos, é sempre necessário proceder, na instalação de uma lavoura, a determinação da
quantidade econômica de semente a ser utilizada, a fim de se promover a diminuição dos
custos de produção, propiciar melhor desenvolvimento fisiológico da planta e maximizar sua
produção.
A produtividade e a qualidade do produto final são resultantes da interação de um conjunto de
fatores, entre os quais se destacam o potencial genético da cultivar, o manejo fitotécnico, o
nível tecnológico adotado e as condições ambientais, que podem potencializar ou restringir a
expressão desse potencial. Segundo Felício (1982), a relação entre a produtividade de grãos e
o número de plantas é bastante complexa. Para determinada condição de solo, clima, cultivar e
tratos culturais, há um número de plantas por unidade de área, em determinado espaçamento
entre linhas, que conduz à mais alta produtividade.
1
A semente pela sua importância, no contexto da produção agrícola, merece especial atenção
de técnicos e produtores, no que diz respeito, à sua qualidade fisiológica e à determinação da
quantidade requerida, por unidade de área. Segundo Cánovas e Trindade (2003),
recomendações feitas sem critério técnico podem acarretar estandes mal dimensionados, com
diminuição do potencial produtivo da cultura, desperdício de sementes e como conseqüência,
aumentos nos custos de produção com prejuízo na rentabilidade da atividade agrícola do
produtor.
2
Em trigo, a produtividade potencial depende do número de perfilhos m , resultado do produto
2
de plantas por m , espigas por planta, comprimento de espigas, espiguetas por espiga, grãos
por espigueta, massa de grãos, peso hectolitro e rendimento (Acevedo et al., 2002). Desta
forma o presente trabalho tem como objetivo avaliar a influência da densidade de semeadura e
do espaçamento entrelinhas na cultura do trigo, na região de Marechal Cândido Rondon - PR.
O experimento foi conduzido a campo, no ano agrícola de 2010, em uma propriedade rural no
município de Marechal Cândido Rondon, região oeste do Estado do Paraná, situada a uma
latitude de 24º33’ Sul e longitude de 54º03’ oeste, com a altitude de 410 metros.
O delineamento experimental utilizado foi de blocos ao acaso, com quatro repetições e doze
tratamentos, em esquema fatorial 3x4, constituídos por 3 espaçamentos (13, 17 e 21 cm entre
2
linhas) e 4 densidades de sementes (200, 300, 400 e 500 sementes viáveis m ), totalizando 48
parcelas de 2 m x 6 m de comprimento.
O plantio da cultura foi realizado com semeadora no dia 15 de maio de 2010, em sistema de
-1
semeadura direta, sob profundidade de 3 a 5 cm, sendo a adubação realizada com 250 kg ha
formulado NPK 08-20-20 de acordo com a recomendação e exigência da cultura. A adubação
-1
de cobertura foi realizada com uréia na dose de 150 kg ha no inicio do perfilhamento. A
cultivar utilizada foi a BRS 208, a qual é muito utilizada pelos agricultores na região oeste do
Paraná, pertencendo a classe comercial trigo pão e possui hábito de crescimento
indeterminado. Durante a condução do experimento foi realizada aplicação com herbicida pós-1
emergente Ally (metsulfuom-metilíco) na dose de 6,6 g ha no controle das principais plantas
daninhas. Foram realizadas aplicações com inseticida Dimexion (dimetoato) na dose de
-1
-1
0,630 L ha e Lorsban (clorpirifós) na dose de 0,75 L ha para controle de pulgão e lagarta.
-1
Para controle de doenças utilizou-se duas aplicações de fungicida, sendo uma de 0,8 L ha de
-1
Opera (piraclostrobina + epoxiconazol) e uma de 0,75 L ha de Tilt (propiconazole).
A colheita das parcelas foi realizada manualmente nos dias 5 e 6 de setembro de 2010,
momento que a cultura estava em estádio de maturidade fisiológica. Para retirada das
2
amostras utilizou-se uma área útil de 1 m de cada parcela, sendo avaliado o número de
espigas no momento da colheita, após quantificação as espigas foram cortadas com auxílio de
tesoura manual e armazenadas em pacote de papel.
Para determinação do comprimento de espiga, número de espiguetas e número de grãos por
espiga foram selecionadas aleatoriamente 10 amostras por parcela. Após foi realizada a
debulha manual dos grãos, a massa correspondente foi determinada com auxílio de balança de
-1
precisão 0,01 e estimada a produtividade por ha , também foi avaliada a massa de 100 grãos e
peso hectolitro (PH) de cada parcela. Procedeu-se a análise de variância, sendo as médias
comparadas entre si pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade.
O comprimento das espigas de trigo foi influenciado pelo espaçamento e densidade de
semeadura, nos tratamentos com espaçamento de 17 cm, observa-se que ocorreu a redução
2
do tamanho de espiga com o aumento da densidade, reduzindo de 6,64 cm no tratamento com
2
2
200 sementes m para 5,54cm no tratamento de 500 sementes m (Tabela 1). Nos
espaçamentos de 13 cm e 21 cm observa-se que o tamanho da espiga não sofreu redução
significativa com o aumento da densidade, porém pode ser visualizada uma tendência de
redução do tamanho com aumento da mesma.
Tabela 1. Comprimento de espigas de trigo (cm) sob diferentes espaçamentos e densidades
de semeadura.
Espaçamento
(entre linhas)
13 cm
17 cm
21 cm
2
200
6,19 Ab
6,64 Aa
6,22 Aab
Densidade (sementes m )
300
400
6,13 Aa
6,04 Aa
6,06 Ba
5,89 BCa
6,08 Aa
5,95 Aa
500
5,72 Aa
5,54 Ca
5,89 Aa
Pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade, médias seguidas pela mesma letra maiúscula/minúscula não
diferem estatisticamente entre si na linha/coluna.
Para os diferentes espaçamentos apenas houve diferença no tratamento com 200
2
sementes m , onde no espaçamento de 13 cm, o comprimento é de 6,19 cm, para 6,22 e 6,64
nos espaçamentos maiores, isso provavelmente ocorre devido a maior competição entre
plantas no espaçamento de menor (Tabela 1).
Com relação ao número de grãos por espiga, observa-se que ocorreu diferença apenas para
as densidades, sendo que entre os diferentes espaçamentos na mesma densidade não ocorre
diferença (Tabela 2). No espaçamento de 13 cm apenas o tratamento com maior densidade
diferenciou dos demais. Já para o espaçamento de 17 cm o comportamento foi semelhante,
2
porém os tratamentos com 400 e 500 sementes m obtiveram as menores quantidades de
grãos por espiga (Tabela 2). O incremento da densidade de plantas aumenta a competição
entre indivíduos por água, luz e nutrientes, reduzindo a disponibilidade de fotoassimilados para
atender à demanda para enchimento dos grãos e manutenção das demais estruturas da planta
(SANGOI & SALVADOR, 1997). Não é verificada diferença significativa na quantidade de grãos
por espiga no espaçamento de 21 cm.
Tabela 2. Número de grãos em 10 espigas de trigo sob diferentes espaçamentos e densidades
de semeadura.
Espaçamento
(entre linhas)
13 cm
17 cm
21cm
2
200
302,50 Aa
313,25 Aa
294,25 Aa
Densidade (sementes m )
300
400
278,25 Aba
267,25 Aba
278,75 Aba
269,75 Ba
286,50 Aa
279,50 Aa
500
250,25 Ba
243,50 Ba
268,75 Aa
Pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade, médias seguidas pela mesma letra maiúscula/minúscula não
diferem estatisticamente entre si na linha/coluna.
O número de espiguetas por espiga teve comportamento semelhante ao comprimento de
espigas (Tabela 1), podendo ser verificado que apenas ocorre diferença entre as densidades
no espaçamento de 17 cm, onde as menores quantidades são de 13,53 e 12,75 nos
2
tratamentos com espaçamento de 17 cm com 400 e 500 sementes por m respectivamente
(Tabela 3), nos demais tratamentos o número de espiguetas é igual.
3
Tabela 3. Número de espiguetas por espiga de trigo sob diferentes espaçamentos e
densidades de semeadura.
Espaçamento
(entre linhas)
13 cm
17 cm
21cm
2
200
14,28 Aa
14,63 Aa
14,28 Aa
Densidade (sementes m )
300
400
13,90 Aa
13,65 Aa
14,03 Aba
13,53 BCa
13,88 Aa
13,48 Aa
500
13,33 Aa
12,75 Ca
13,38 Aa
Pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade, médias seguidas pela mesma letra maiúscula/minúscula não
diferem estatisticamente entre si na linha/coluna.
A massa de 100 grãos foi estatisticamente igual entre todos os tratamentos nas condições em
que o trabalho foi realizado (Tabela 4), porém com o aumento da densidade de semeadura
visualmente podemos perceber uma tendência de decréscimo na massa de grãos. O fator
espaçamento não diferiu entre si.
Tabela 4. Massa de 100 grãos de trigo sob diferentes espaçamentos e densidades de
semeadura.
Espaçamento
(entre linhas)
13 cm
17 cm
21cm
2
200
3,48 Aa
3,51 Aa
3,47 Aa
Densidade (sementes m )
300
400
3,39 Aa
3,39 Aa
3,47 Aa
3,34 Aa
3,50 Aa
3,44 Aa
500
3,20 Aa
3,35 Aa
3,30 Aa
Pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade, médias seguidas pela mesma letra maiúscula/minúscula não
diferem estatisticamente entre si na linha/coluna.
Mesma observação feita para massa de 100 grãos é verificada para o peso Hectolitro, ou seja,
não ocorreu influência dos tratamentos.
Tabela 5. Peso Hectolitro PH de grãos de trigo sob diferentes espaçamentos e densidades de
semeadura.
Espaçamento
(entre linhas)
13 cm
17 cm
21cm
2
200
75,40 Aa
75,00 Aa
74,50 Aa
Densidade (sementes m )
300
400
74,50 Aa
73,80 Aa
74,40 Aa
74,50 Aa
74,80 Aa
74,90 Aa
500
74,10 Aa
74,10 Aa
74,40 Aa
Pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade, médias seguidas pela mesma letra maiúscula/minúscula não
diferem estatisticamente entre si na linha/coluna.
Quanto à produtividade de grãos de trigo, não ocorreu interferência dos diferentes
espaçamentos e densidades de semeadura testadas, sendo que a média de rendimento foi de
-1
2419 a 2673 kg ha , valores próximos a média nacional (SEAB, 2010). Demonstrando também
que a cultura do trigo possui uma ampla faixa de adaptação e pode estar sendo cultivada em
diferentes espaçamentos e densidades menores, reduzindo assim o custo com sementes no
momento da implantação da cultura. Como não foram detectadas diferenças significativas entre
as densidades utilizadas para a maioria dos caracteres, principalmente rendimento de grãos,
seria mais vantajoso a recomendação da menor densidade de sementes por metro, reduzindo
o consumo de sementes.
4
-1
Tabela 6. Produtividade de grãos de trigo kg ha sob diferentes espaçamentos e densidades
de semeadura.
Espaçamento
(entre linhas)
13 cm
17 cm
21cm
2
200
2658,30 Aa
2528,11 Aa
2419,84 Aa
Densidade (sementes m )
300
400
2590,97 Aa
2673,25 Aa
2546,07 Aa
2636,74 Aa
2488,74 Aa
2610,55 Aa
500
2631,61 Aa
2497,88 Aa
2581,71 Aa
Pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade, médias seguidas pela mesma letra maiúscula/minúscula não
diferem estatisticamente entre si na linha/coluna.
A produtividade de grãos da cultivar BRS 208 não é influenciada significativamente pelos
diferentes espaçamentos e densidades de semeadura. Assim o agricultor poderá optar por
espaçamentos entre 13 a 21 cm, escolhendo a melhor opção de acordo com suas máquinas e
implementos sem ter prejuízos. E para as condições em que o experimento foi realizado pode
ser reduzida a densidade de semeadura, possibilitando assim menores custos com a
implantação da cultura.
Referências
ACEVEDO, E.; SILVA, P.; SILVA, H. Wheat growth and physiology. In:CURTIS, B.C.; RAJARA,
S.; MACPHERSON, H.G. (Ed.) Bread Wheat - improvement and production. FAO. 2002, p.
39-70.
CÁNOVAS, A.D.; TRINDADE, M. G. Densidade de semeadura de trigo – uma questão de
economia. Comunicado Técnico 54. Goiás, 2003.
CONAB. Safras – Grãos. Disponível em: <http://www.conab.gov.br>. Acesso em: 23 jun. 2010.
EMBRAPA. Reunião da comissão brasileira de pesquisa de trigo e triticale. Londrina:
Embrapa Soja, 2008. n 301. 147p.
FELICÍO, J. C. Revista Científica do Instituto Agronômico de Campinas. Bragantia, V. 41, n. 4,
Campinas, 1982.
HUBNER, O. Trigo, 2003. Disponível em: <http://www.pr.gov.br/seab/deral/cultura1>.
Acessado em: 23 jun. 2010.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento/Departamento de
Economia Rural. Trigo safra 2009/10. Disponível em: http://www.seab.pr.gov.br/
arquivos/File/deral/trigo_relato_ 2009_10.pdf Acesso em: 28 de junho de 2011.
SANGOI, L.; SALVADOR, R.J. Dry matter production and partitioning of maize
hybrids and dwarf lines at four plant populations. Ciência Rural, Santa Maria, v.27, n.1, p.16, 1997.
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