Centro Universitário Fundação Santo André. Programa de Pós Graduação Latu Senso, em Prática Educacional no Atendimento as Necessidades Especiais. “Saúde Auditiva no Ensino Médio: um processo educacional.” Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado à Faculdade de Filosofia Ciências e Letras do Centro Universitário Fundação Santo André, como requisito parcial para obtenção do título de Pós Graduação. Orientação: Profª Dra. Marisa Sacaloski. Santo André 2012 Centro Universitário Fundação Santo André. Programa de Pós Graduação Latu Senso, em Prática Educacional no Atendimento as Necessidades Especiais. “Saúde Auditiva no Ensino Médio: um processo educacional.” Deise Fernandes de Moura Rodrigo Parreira Valverde Santo André 2012 RESUMO: Este artigo tem como finalidade verificar entre os alunos do Ensino Médio de ambos os sexos de um colégio particular do município de Santo André, os hábitos de saúde auditiva e quais as influências causadas pelos aparelhos eletrônicos de uso auditivo na qualidade de vida dos mesmos e sua interferência no processo de ensino aprendizagem do ponto de vista de alunos e professores. O melhor entendimento da audição e da perda auditiva começa com a compreensão de como escutamos. Com isso o artigo inicia-se apresentando formas de conscientização e prevenção dos alunos quanto ao uso saudável desses equipamentos. A pesquisa foi realizada por meio de um questionário com perguntas fechadas referentes ao comportamento dos alunos em seu cotidiano, tal instrumento foi aplicado a 40 alunos do ensino médio. A faixa etária dos alunos variou de 14 a 18 anos, sendo 37,5% do sexo masculino e 62,5% do sexo feminino. Das questões respondidas pelos professores, a minoria retira os aparelhos sonoros dos alunos quando usados em sala de aula, ou acham que estes equipamentos podem prejudicar a aprendizagem. Todos os alunos entrevistados utilizam aparelhos com fones de ouvido no seu cotidiano, sendo que quase metade o faz no ambiente escolar, e na prática de atividade física. Quanto à exposição em locais com barulhos muito fortes, a maioria freqüenta ambientes com som acima do desejável para o ouvido humano. Tais equipamentos são usados na maioria das vezes, mais de uma vez por semana. Em relação aos aparelhos sonoros mais utilizados pelos jovens pesquisados, o celular foi o de maior destaque, seguido pelo ipod e mp3/4, mas os alunos não creem que esses equipamentos prejudicam a aprendizagem, mas sabem o que fazer para prevenir a perda de audição. Quase metade dos estudantes teve algum amigo na escola com problemas de audição. Tais achados revelam que mesmo sabendo como se prevenir dos riscos relativos à audição, alunos e professores não tomam as medidas cabíveis para retirar os equipamentos ou reduzir a exposição a sons de forte intensidade. Aparentemente sequer identificam tais equipamentos como nocivos. Desta forma, é necessário um trabalho preventivo e de conscientização para que mudanças nos hábitos de exposição ao ruído sejam uma prática na escola e em outros ambientes. Palavras- chave: Perda Auditiva, aparelhos sonoros, educação ABSTRACT This article aims to check among middle school students of both sexes of a private college in the municipality of Santo André, hearing health habits and what the influences caused by auditory use electronic devices in their quality of life and its interference in the process of learning from the point of view of students and teachers. The better understanding of hearing and hearing loss begins with understanding how we listen. This article starts featuring forms of awareness and prevention of students regarding the use of these healthy equipment. The survey was conducted by means of a questionnaire with questions concerning the performance of the students locked in their routine, such an instrument was applied to 40 high school students. The age range of students varied from 14 to 18 years, with 37.5 males and female 62.5. Of the questions answered by teachers, the minority takes sound equipment of the students when used in the classroom, or find that these devices can disrupt the learning. All the students interviewed, use appliances with headphones in your daily life, with almost half the does in the school environment, and in the practice of physical activity. As for exposure in workplaces with strong noises, most frequents environments with desirable above sound to the human ear. Such equipment is used in most cases, more than once a week. For more sound equipment used by young people surveyed, the mobile phone was the featured, followed by iPod and mp34, but students did not believe that such equipment affect learning, but you know what to do to prevent hearing loss. Almost half of the students had some friend at school with hearing problems. Such findings reveal that even knowing how to prevent the risks relating to hearing students and teachers do not take reasonable measures to withdraw the apparatus or reduce exposure to sounds of strong intensity. Apparently even identify such equipment as harmful. In this way, there is a need for a preventive and awareness-building work that changes in habits of exposure to noise shall be a practice at school and in other environments. Keywords: hearing loss, sound equipment, education INTRODUÇÃO A degradação auditiva se manifesta progressivamente, com a exposição a sons muito fortes por longos períodos podendo causar o desgaste, ou ainda, em casos mais graves, a perda de alguns componentes do sistema auditivo. A audição é o sentido que nos coloca em contato com o mundo, porém se o som for muito intenso e a exposição prolongada, isso pode ser prejudicial. O trauma acústico é a perda auditiva, provocada por uma explosão ou estampido. Os níveis sonoros que atingem as estruturas da orelha interna ultrapassam os limites mecânicos produzindo lesão do Órgão de Corti. “A manutenção da exposição ao ruído e o distúrbio metabólico provocado, faz com que haja morte celular com perda auditiva definitiva” (CRUZ; COSTA, 1994). A exposição prolongada ao ruído pode causar perda auditiva, além de outros sintomas, comprometendo as relações do indivíduo no trabalho e dentro da sociedade, o que poderá prejudicá-lo no seu desempenho nas atividades cotidianas. A maioria dos indivíduos não consegue perceber se está com algum tipo de perda auditiva, principalmente as crianças e os adolescentes no ambiente escolar. É necessário que o professor fique sempre atento aos alunos e suas dificuldades de aprendizagem, pois os indivíduos com queixas de dificuldades escolares, geralmente apresentam pior desempenho em testes de processamento auditivo em função de atraso na manutenção das habilidades auditivas, podendo apresentar prejuízos no processo de ensino aprendizagem. O termo dificuldades de aprendizagem não se refere a um único distúrbio, mas sim á vários problemas que podem afetar qualquer área do desempenho escolar podendo alterar as possibilidades da criança de aprender independente de suas condições neurológicas (SMITH, STRICK, 2001). Essas dificuldades podem ser classificadas como naturais ou secundárias. As naturais são aquelas em que as causas estão relacionadas a fatores como a escola, pouca assiduidade da criança e aspectos referentes à família. Geralmente essas dificuldades são transitórias e tendem a ser superadas (SMITH; STRICK, 2001). As dificuldades secundárias são aquelas decorrentes de outras patologias como: portadores de déficits de atenção, sensoriais e quadros neurológicos mais graves. ( MOOJEN, 2003). As características mais encontradas na grafia de uma criança com dificuldades de aprendizagem são: erros ortográficos, lentidão ao realizar uma cópia, alterações no traçado da letra e uso incorreto do espaço. A leitura é lenta acarretando baixa compreensão e confusão com palavras semelhantes (SMITH, STRICK, 2001). Desta forma o objetivo desse artigo é verificar entre os alunos do Ensino Médio de ambos os sexos de um colégio particular do município de Santo André, os hábitos de saúde auditiva e quais as influências causadas pelos aparelhos eletrônicos de uso auditivo na qualidade de vida dos mesmos e sua interferência no processo de ensino aprendizagem do ponto de vista de alunos e professores. MATERIAL E MÉTODO A pesquisa foi realizada num colégio particular do município de Santo André, por meio de um questionário com perguntas fechadas referentes ao comportamento dos alunos em seu cotidiano. O questionário e termo de consentimento ( Anexo I e II) foram entregues para todos os alunos do Ensino Médio do Colégio juntamente com uma carta de esclarecimento sobre a pesquisa, pois a grande maioria dos alunos são menores de idade, necessitando assim de uma autorização dos responsáveis. Um dos autores desse estudo pertence ao corpo docente da instituição pesquisada, e antes da entrega dos questionários, explicou para todos os alunos a respeito da importância desse trabalho preventivo. Após breve conversa reflexiva, foram entregues um total de 150 questionários que é o público existente no colégio, sendo que desses, 51 são meninos e 99 são meninas. Foi dado um prazo de uma semana para a devolução dos mesmos, logo após foi realizado um levantamento de dados, e 40 questionários foram devolvidos no prazo e com o preenchimento correto. Desse montante, 15 são de meninos e 25 de meninas (Tabela 1). Tabela 1- Distribuição percentual dos alunos estudados segundo o sexo e a idade (n=40) Idade (em anos) Sexo masculino Sexo feminino Total No. % No. % No. % 14 anos 6 15 % 1 2,5 % 7 17,5 % 15 anos 4 10 % 14 35 % 18 45 % 16 anos 1 2,5 % 9 22,5 % 10 25 % 17 anos 1 2,5 % 1 2,5 % 2 5% 18 anos 3 7,5 % 0 0% 3 7,5 % Total 15 37,5 25 62,5 40 100 Além dos questionários aos alunos, também foram entrevistados dez professores da mesma instituição por meio de duas questões abertas (anexo III), sendo que 60 % responderam e 40% não devolveram os mesmos no prazo. Desses professores que colaboraram com o trabalho 33,3% são homens e 66,6% mulheres. Foram tabuladas todas as questões de forma comparativa e transformadas em gráficos. Após a devolução dos questionários a instituição pesquisada possibilitou a divulgação da pesquisa para os alunos, pais e professores, e foi possível informar e conscientizar a todos sobre a importância do uso correto de aparelhos com fone de ouvido, mostrando seus benefícios e malefícios a saúde auditiva, esse trabalho foi feito através de folders espalhados pela instituição, comunicados encaminhados para as famílias e palestras para os alunos. Resultados Nesse capítulo apresentamos os achados relativos ao questionário aplicado aos alunos do ensino médio de uma escola particular do município de Santo André e a seus professores. Quanto aos hábitos de exposição a ruídos os achados são ilustrados nos gráficos 1 a 4. Usa fones na atividade física 5% 50% 45% Usa fones na aula 55% 45% Frequenta ambientes com som forte sem resposta não sim 42,50% 57,50% usa fones 100% 0% 20% 40% 60% 80% 100 120 % % Gráfico 1: Distribuição percentual dos hábitos de exposição ao ruído na população estudada. menos que uma vez 22,50% mais que uma vez 30% uma vez por semana 12,50% todo dia 34% 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% Gráfico 2: Distribuição percentual da frequência de uso de fones de ouvido na população estudada. 40% entre 13 e 15 anos 32,50% entre 10 e 12 anos 62,50% menos de 10 anos 5% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% Gráfico 3: Distribuição percentual da idade de início do uso de equipamentos com fones de ouvido na população estudada. 80% 75% 70% 60% 45% 50% 37,50% 40% 30% 20% 20% 10% 0% celular mp3 ou mp4 ipod outros Gráfico 4: Distribuição dos sujeitos segundo os equipamentos sonoros eletrônicos utilizados. 70% Quanto ao contato com colegas que possuem perda de audição e quanto aos aspectos relativos às noções sobre cuidados com a audição e sua relação com a aprendizagem, os dados são apresentados nos gráficos de 5 a 7. 50% 45% 40% 40% 30% 20% 15% 10% 0% sim não sem resposta Gráfico 5: Distribuição dos sujeitos segundo a resposta à pergunta: “Você tem ou teve algum amigo na escola com problemas de audição?” 60% 50% 52,50% 45% 40% 30% 20% 10% 2,50% 0% sim não sem resposta Gráfico 6: Distribuição dos sujeitos segundo a resposta à pergunta:” Você acha que a utilização excessiva de fones de ouvido pode atrapalhar o rendimento escolar?” evitar locais com muito barulho 32,50% diminuir o volume dos aparelhos 35% não ouvir sons muito alto 45% 0% 10% 20% 30% 40% 50% Gráfico 7: Distribuição percentual sobre os cuidados da audição mencionados pelos alunos. A seguir apresentamos as respostas dos professores sobre o uso de equipamentos sonoros eletrônicos com fones (gráficos 8 e 9). 40% sem resposta 20% interfere na compreensão do conteúdo 20% 10% ajuda em momentos criativos 10% 0% 10% 20% 30% 40% 50% Gráfico 8: Distribuição das respostas dos professores quanto ao uso de equipamentos sonoros eletrônicos na sala de aula. 40% sem resposta 30% retiro o aparelho quando usado não me incomodo 10% sou a favor em determinados momentos 10% sou contra o uso 10% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% Gráfico 9: Distribuição das respostas dos professores entrevistados para a pergunta: “Com relação ao uso excessivo de aparelhos eletrônicos com fones de ouvido, qual a sua avaliação quanto a esse hábito dos alunos, e como isso pode interferir no processo de ensino aprendizagem ?” DISCUSSÃO Dos alunos entrevistados, 100% utilizam aparelhos com fones de ouvido no seu cotidiano, sendo que 45% usam o mesmo no ambiente escolar, e na prática de atividade física. Quanto à exposição em locais com barulhos muito fortes, 57,50% confirmaram freqüentar ambientes com som acima do desejável para o ouvido humano (Gráficos 1 a 4). A poluição sonora é um dos fatores mais graves que afetam o planeta. Dada a sua repercussão na saúde e no meio ambiente, é considerado um sério problema de saúde pública mundial. Por conviver constantemente com esse mal, a humanidade está acostumada com o ruído e em muitos casos não percebe seus efeitos maléficos na saúde, no ambiente e na qualidade de vida. Porém estudos indicam que o ruído está entre os principais agentes causadores de estresse, insônia, depressão e outros sintomas que levam a mudanças físicas e psicológicas negativas nos seres humanos. A ciência tem desvendado nobres funções do sono como as psicológicas, as intelectuais, as da memória, as do humor e as da aprendizagem. O sono parece ser o período mais fecundo para consolidar os traços mnemônicos e geradores de criatividade. Prejuízos causados a ele diminuem a capacidade das funções superiores do cérebro, condenando suas vítimas a cidadãos de segunda classe (JOUVET, 1977; DE KONINCK ET AL, 1989; PIMENTELSOUZA, 1990). A sensibilidade de Scbopenhauer já o permitia antecipar de mais de um século as provas científicas de hoje ao afirmar: "O barulho é a tortura do homem de pensamento". Quanto à freqüência do uso de fones de ouvido, a população estudada apresentou resultados interessantes, 34% utilizam todos os dias, 30% mais de uma vez, 12,50% uma vez e 22,50% menos que uma vez por semana (Gráfico 2). Mais de 50 % dos alunos acredita que o uso desses equipamentos não atrapalha a aprendizagem Guilherme (1991) estima em 30 % de perda da audição nos jovens que usam aparelhos com fones de ouvido acima de duas horas por dia a níveis próximos de 100 dB. No quadro abaixo apresentamos exemplos de sons cotidianos e sua intensidade. Quadro 1: Níveis intensidade (dBNPS) das diversas fontes sonoras. FONTE SONORA Arma de fogo Concerto de “rock” Serra elétrica / furadeira pneumática Pátio do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro (medição fornecida pela Infraero) INTENSIDADE dB NPS 130-140 110 100-105 80-85 (dosimetria – 8h) Tráfego pesado 80 Automóvel (passando a 20 metros) 70 Conversação a 1 metro 60 Sala silenciosa 50 Área residencial à noite 40 Falar sussurrando 20 Fonte: Sociedade Brasileira de Otologia (SOB), 2010. O quadro 1 demonstra que não é difícil estarmos expostos por grande espaço de tempo em ambientes cujos sons têm intensidade sonora muito elevada, dessa forma percebemos que diariamente, em diferentes situações, estamos sujeitos a possíveis danos a audição, sem mesmo nos darmos conta disso. Em relação aos sons emitidos por aparelhos de fone de ouvido, estudos mostram que os mesmos podem chegar a emitir em média, no volume máximo, 114 decibéls, comparando com o quadro percebe-se que estes aparelhos chegam a emitir mais decibéls do que uma serra elétrica, ou até mesmo podem ser equivalentes a um show de rock. O Quadro 2 destaca alguns danos que estamos sujeitos a causar em nosso organismo quando ficamos expostos a um nível alto de ruído: Impacto de ruídos na saúde – volume/reação efeitos negativos exemplos de exposição. Quadro 2. Reações orgânicas e efeitos negativos frente aos diversos níveis de ruído (dBNPS). Intensidade dBNPS Até 50 55 a 65 65 a 70 Acima de 70 Reação orgânica Efeitos negativos Nenhuma. Nenhum. (Organização Mundial da Saúde) Estado de alerta Redução do poder de concentração e da produtividade intelectual Redução das defesas do Aumento da cortisona e do organismo colesterol sanguíneo, liberação de endorfina que torna o organismo dependente. Estresse degenerativo e Aumenta risco de enfarte e comprometimento da infecções. saúde mental Fonte: Unesp, 2010 O aparelho auditivo está sujeito a lesões que podem ser irreversíveis. A parte do ouvido freqüentemente afetada são as células da cóclea. É cada vez mais comum a perda auditiva em jovens, estimando-se que um terço desses enfrentará problemas auditivos precoces. Isso pode ser atribuído ao uso excessivo de aparelhos com fones de ouvido, como MP3 players, falta de advertências pela maioria dos fabricantes desse tipo de aparelho e efeitos cumulativos diários. Com o avanço da tecnologia, a possibilidade de ouvir música em vários tipos diferentes de aparelhos aumentou, com isso também cresceu o número de usuários desses aparelhos. É comum encontrar pessoas em diferentes faixas etárias que ficam expostas por várias horas, a um volume elevado, ouvindo esses aparelhos portáteis, sem, muitas vezes, conhecer os danos causados pelos mesmos. De acordo com a Norma Regulamentadora 15 (NR-15) que destaca a segurança e medicina do trabalho em atividades e operações insalubres, os limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente devem ser seguidos conforme o quadro abaixo: Quadro 3. Exposição diária permissível ao nível de ruído NÍVEL DE RUÍDO DB (A) MÁXIMA EXPOSIÇÃO DIÁRIA 85 8 horas 86 7 horas 87 6 horas 88 5 horas 89 4 horas e 30 minutos 90 4 horas 91 3 horas e 30 minutos 92 3 horas 93 2 horas e 40 minutos 94 2 horas e 15 minutos 95 2 horas 96 1 hora e 45 minutos 98 1 hora e 15 minutos 100 1 hora 102 45 minutos 104 35 minutos 105 30 minutos 106 25 minutos 108 20 minutos 110 15 minutos 112 10 minutos 114 8 minutos 115 7 minutos Fonte: Brasil Leis, 2005 Segundo a Sociedade Brasileira de Otologia (SOB) o limite máximo de exposição diário permitido, sem grandes conseqüências, é de 85 decibéis. Acima deste valor, dependendo do tempo de exposição e sensibilidade individual, existe o risco de danos a audição, podendo causar inclusive surdez. Levando em conta que um MP3 player pode chegar a 114 decibéls e que muitas pessoas ficam expostas ao volume máximo desses aparelhos, percebese, portanto, que pode ser esse um dos motivos mais comuns que leva as pessoas, na maioria jovens, a terem problemas auditivos. A pesquisa que desenvolvemos, surgiu pelo interesse em poder orientar os alunos do Ensino médio quanto a utilização correta de aparelhos com fones de ouvido. Os adolescentes são, dentre as diversas faixas etárias da população, os que mais utilizam MP3 players e, muitas vezes, por utilizarem-se deste aparelho excessivamente, em intensidade elevada, causam danos a sua audição. Em relação aos aparelhos sonoros mais utilizados pelos jovens pesquisados, o celular foi o de maior destaque com 75%, seguido pelo iPod com 45% e por ultimo o mp3/4 com 37,50% e outros 20% (Gráfico 4). Quanto ao contato com colegas que possuem perda de audição, verifica-se que 45% tiveram algum amigo na escola com problemas de audição, 40% não e 15% não responderam a pergunta (Gráfico 5). A deficiência auditiva é uma diminuição da capacidade de percepção normal dos sons, sendo considerado surdo o indivíduo cuja audição não é funcional na vida comum, e parcialmente surdo, aquele cuja audição, ainda que deficiente, é funcional com ou sem prótese auditiva. Pelo menos uma em cada mil crianças nasce profundamente surda. Muitas pessoas desenvolvem problemas auditivos ao longo da vida, por causa de acidentes ou doenças. Existem dois tipos principais de problemas auditivos. O primeiro afeta o ouvido externo ou médio e provoca dificuldades auditivas "condutivas" (também denominadas de "transmissão"), normalmente tratáveis e curáveis. O outro tipo envolve o ouvido interno ou o nervo auditivo. Chama-se surdez neurossensorial. A deficiência auditiva pode ser classificada como deficiência de transmissão, quando o problema se localiza no ouvido externo ou médio (nesse caso, o prognóstico costuma ser excelente); mista, quando o problema se localiza no ouvido médio e interno, e sensorioneural (neurossensorial), quando se origina no ouvido interno e no nervo auditivo. Infelizmente, esse tipo de surdez em geral é irreversível. A surdez condutiva faz perder a intensidade sonora: é como tentar entender alguém que fala muito baixo ou está muito longe. A surdez neurossensorial corta o volume sonoro e também distorce os sons. Essa interpretação descoordenada de sons é um sintoma típico de doenças do ouvido interno. (MEC/SEESP, 1995). A surdez neurossensorial pode se manifestar em qualquer idade, desde o prénatal até a idade avançada. A cóclea é um órgão muito sensível e vulnerável aos fatores genéticos, às doenças infantis, aos sons muito altos e a alguns medicamentos. Muitos idosos também sofrem de surdez neurossensorial. Um parto difícil ou prematuro, sobretudo quando o bebê não recebe oxigênio suficiente, às vezes causa surdez neurossensorial. Ao nascer, a criança está sujeita à icterícia, prejudicial ao nervo auditivo, podendo levar à perda de audição. A icterícia é mais comum em bebês prematuros. Muitos problemas que surgem no parto estão se tornando menos freqüentes à medida que se aprimoram as técnicas de assistência a bebês de "alto risco". (MEC/SEESP, 1995). Outro dado interessante nesse trabalho está relacionado à aprendizagem, pois a maioria dos jovens acredita que o uso de fones de ouvido em sala de aula não atrapalha no rendimento escolar, pois já estão acostumados a estudar, conversar com os amigos e ficar no computador usando esses variados aparelhos sonoros. Sendo que muitos jovens não conseguem estudar se não estiver ouvindo alguma música. No entanto para termos um melhor entendimento não somente em sala de aula, mas no nosso dia a dia, necessitamos um pouco de silêncio sem muitos ruídos juntos, dessa forma nossa atenção ficará voltada apenas para um único foco, fazendo com que tenhamos uma atenção maior naquilo que estamos realizando. A compreensão do que se escuta depende, além da atenção à mensagem, do processamento auditivo, que compreende a memória, as associações que se faz e síntese (DREOSSI, 2004). Quando perguntado aos alunos entrevistados quais os cuidados preventivos, muitos citam que um dos cuidados para a audição é de não ouvir sons muito altos ou para reduzir o “volume” dos equipamentos, isso nos surpreendeu, pois notamos no convívio diário desses alunos que sempre estão com um volume bastante alto chegando a incomodar quem está próximo, mas ele mesmo nem percebe. A falta de percepção de estarem em um ambiente ruidoso, pode representar uma fonte de perigo, pois quanto mais sons externos esses jovens ouvirem mesmo já estando com o fone de ouvido, a tendência de aumentar o som do aparelho será bem maior. Russo (1997), se expressa muito bem em suas palavras: Que o respeito a um órgão tão perfeito – o ouvido humano - e a valorização de um dos mais importantes sentidos dos quais somos dotados – a audiçãosejam um compromisso mais do que momentâneo, mas que o assumamos por toda a vida, pois som e audição continuam a ser uma das mais belas combinações (p.49). Com relação às questões respondidas pelos professores, 30% retiram os aparelhos sonoros dos alunos quando usados em sala de aula e 40% dos professores não responderam nossa pergunta. Com isso podemos perceber que numa sala ruidosa e com alunos que estão usando aparelhos sonoros, o professor tende a superar os ruídos competitivos elevando a intensidade da sua voz para se fazer ouvir e ao mesmo tendo chamar atenção para aquilo que esta sendo trabalhado. Isso caracteriza o “Efeito Lombard”, que corresponde a essa tendência onde quem fala mantém constante relação entre o nível de sua fala e o ruído (DREOSSI, 2004). Por outro lado, os alunos despendem grande energia para manter a atenção, pois lidam não somente com o barulho da sala, mas também, com muitos ruídos externos, onde também pode ocasionar um baixo rendimento escolar. Os professores acreditam que o uso excessivo de aparelhos eletrônicos com fones de ouvido, não somente atrapalha no processo de ensino aprendizagem, mas também tira toda a atenção do aluno interferindo, assim na compreensão do conteúdo (gráfico 8). Com essa situação os professores se vêem impossibilitados de realizar um trabalho que realmente culmine com um ensinoaprendizagem eficiente. Segundo Sancho, as novas tecnologias trazem novos horizontes à escola; assim alunos e professores podem estar mais próximos e o processo de ensino-aprendizagem pode ganhar um dinamismo, inovação e poder de comunicação inusitada. A aprendizagem se dá através da descoberta e o professor passa a ser um guia do aluno (SANCHO, 1998). Desta forma os professores podem juntamente com os alunos promover debates, roda de conversas e exposições em sala de aula sobre o assunto, promovendo assim um maior conhecimento da deficiência auditiva causada por fones de ouvido. O professor precisa abrir espaço para compreender a dinâmica estabelecida em sala de aula, pelo aluno, como a construção de seu conhecimento e também de sua subjetividade. Se de um lado temos os alunos buscando novos saberes, do outro deveríamos ter o professor que investiga, observa, escuta, propõe situações problemas, intervém e organiza o espaço para que a aprendizagem se concretize. Nós como professores precisamos ter uma visão mais ampla perante nossos alunos, oferecer para eles aquilo que mostram interesse, dessa forma as aulas passarão a ser mais interessantes e os alunos participarão sem perder a atenção. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesse artigo apresentamos os achados relativos ao questionário aplicado aos alunos do ensino médio de uma escola particular do município de Santo André e a seus professores. Das questões respondidas pelos professores, a minoria retira os aparelhos sonoros dos alunos quando usados em sala de aula, ou acham que estes equipamentos podem prejudicar a aprendizagem. Todos os alunos entrevistados utilizam aparelhos com fones de ouvido no seu cotidiano, sendo que quase metade o faz no ambiente escolar, e na prática de atividade física. Quanto à exposição em locais com barulhos muito fortes, a maioria freqüenta ambientes com som acima do desejável para o ouvido humano. Tais equipamentos são usados na maioria das vezes, mais de uma vez por semana. Em relação aos aparelhos sonoros mais utilizados pelos jovens pesquisados, o celular foi o de maior destaque, seguido pelo ipod e mp3/4. Quase metade dos estudantes teve algum amigo na escola com problemas de audição. Dessa forma concluímos que é de extrema importância a orientação e prevenção no cuidado com a saúde auditiva, o limite máximo de exposição diário permitido, sem grandes conseqüências, é de 85 decibéis. Acima deste valor, dependendo do tempo de exposição e sensibilidade individual, existe o risco de danos a audição, podendo causar inclusive surdez. Levando em conta que um MP3 player pode chegar a 114 decibéis e que muitas pessoas ficam expostas ao volume máximo desses aparelhos, percebese, portanto, que pode ser esse um dos motivos mais comuns que leva as pessoas, na maioria jovens, a terem problemas auditivos. Quando aos cuidados preventivos quanto à audição, a maioria relata medidas de redução do volume dos equipamentos sonoros. Tais achados revelam que mesmo sabendo dos riscos relativos à audição, alunos e professores não tomam as medidas cabíveis para retirar os equipamentos ou reduzir a exposição a sons de forte intensidade. Aparentemente sequer identificam tais equipamentos como nocivos. Aparentemente sequer identificam tais equipamentos como nocivos. Desta forma, é necessário um trabalho preventivo e de conscientização para que mudanças nos hábitos de exposição ao ruído seja uma prática na escola e em outros ambientes. REFERÊNCIAS AUDIREAL, APARELHOS AUDITIVOS. Saúde Auditiva. Disponível em: <http://audireal.com.br/informativo.htm?gclid=CP6p7_v17KkCFQ5Y7AoddkK_ WA> Acesso em 28 Fev. 2011. BEMZEN, REDAÇÃO. Perigo Invisível: Música alta prejudica a audição. Disponível em: <http://bemzen.uol.com.br/noticias/ver/2010/11/09/1936-perigoinvisivel>. Acesso em: 22 Jan. 2012. BRASIL - Subsídios para Organização e Funcionamento de Serviços de Educação Especial - Área da Deficiência Auditiva - Secretaria de Educação Especial – Série Diretrizes 6 - Brasília: MEC/SEESP, 1995. CRUZ, D.L.M., COSTA. S.S. Da Disacusias Neurossensoriais Induzidas por Ruído. In: COSTA, S.S.da; CRUZ, D.L.M.; OLIVEIRA, J.A.A. de. Otorrinolaringologia. Princípios e pratica. Porto Alegre: Artes Medicas, 1994. DREOSSI, Raquel Cecília Fischer. A Interferência do ruído na aprendizagem. Revista Psicopedagogia, São Paulo, v. 2,no. 64, p. 38-47, 2004. MOOJEN S. Caracterizando os transtornos de aprendizagem. In: Bassols A.M.S, Santis MFB, Sukiennik P.B., Cristóvão P.W., Fortes S.D.(org.) Saúde mental na escola 1: uma abordagem multidisciplinar. Porto Alegre: Mediação; 2003. P. 98-110. PROJETO ACADEMIA DE CIENCIA, INSTITUTO FERNAND BRAUDEL. Por que muito barulho prejudica a audição? Disponível em: <http://www.academiadeciencia.org.br/curiosidades/18112009.shtml> Acesso em: 11 Fev. 2012. RUSSO, I. P. 1997. Noções gerais de acústica e psico-acústica. In: Perda auditiva induzida pelo ruído, p.49, Porto Alegre. SANCHO, J. Para uma tecnologia educativa. Porto. Alegre: ArtMed, 1998 SMITH C, STRICK L. Dificuldades de aprendizagem de A a Z: um guia completo para pais e educadores. Porto Alegre, RS: Artmed; 2001. SOCIEDADE BRASILEIRA DE OTOLOGIA (SOB). Campanha Nacional da Saúde Auditiva. Disponível em: <http://www.saud eauditiva.org. br/ >. Acesso em: 28 fevereiro. 2012. UNESP. O barulho e seus efeitos sobre a audição. Disponível em: <www.bauru.unesp.br>. Acesso em: 29 Jun. 2010. ANEXOS 1 Termo de Consentimento Livre e Esclarecimento Título: SAÚDE EDUCACIONAL AUDITIVA NO ENSINO MÉDIO: UM PROCESSO Você está sendo convidado a participar de um estudo sobre saúde e prevenção auditiva. Os hábitos da juventude em relação à música eletronicamente amplificada, como freqüência a discotecas, academias de ginásticas e o uso de equipamentos de som com fones de ouvidos podem causar perdas auditivas. Para participar deste projeto você terá que responder a um questionário (em anexo). Sua participação neste estudo é de livre e espontânea vontade, sem nenhum custo e seu consentimento de participação poderá ser retirado a qualquer momento. As informações obtidas serão analisadas em conjunto, não sendo divulgada a identificação de nenhum participante. Nós, Profº Rodrigo Parreira Valverde e Profª Deise Fernandes, estudantes da Pós Graduação do Curso de Práticas Educativas no Atendimento as Necessidades Especiais, do Centro Universitário da Fundação Santo André sob a supervisão da Profª Marisa Sacaloski, colocamo-nos à sua disposição para esclarecer todas as dúvidas sobre esta pesquisa. AUTORIZAÇÃO Eu,___________________________________responsável pelo (a) aluno (a) ______________________________________ concordo em deixar meu (minha) filho (a) a participar voluntariamente deste estudo e poderei retirar meu consentimento a qualquer momento. _________________________________ Data ___/___/___ Assinatura do responsável Declaramos que obtivemos de forma voluntária o consentimento deste aluno para a participação neste estudo. ________________________________________________ Data ___/___/___ Rodrigo Parreira Valverde / Deise Fernandes de Moura *Termo Elaborado a partir das Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos do Conselho Nacional de Saúde, Resolução 196/96 – Ministério da Saúde. ANEXO 2 - Questionário TEMA: Saúde Auditiva no Ensino Médio: Um Processo Educacional. IDADE:___________SEXO:__________________SÉRIO/ANO:____________ Este questionário destina-se a conhecer melhor sua audição. E orientá-lo quanto aos cuidados com a sua saúde auditiva. ORIENTAÇÕES PARA O PREENCHIMENTO DO QUESTIONÁRIO: Responda as questões abaixo circulando sim ou não e quando necessário assinale com X as alternativas. 1- Usa fones de ouvido para ouvir música? (SIM) (NÃO) a)- Com que freqüência ? ( ) Todos os dias. ( ) Um vez por semana. ( ) Mais que uma vez por semana. ( ) Menos que uma vez por semana. b)- Quantas horas de uso ? ( ) Seis horas por dia. ( ) Mais que seis horas por dia. ( ) Menos que seis horas por dia. c)- Escreva abaixo com que idade você começou a utilizar aparelhos eletrônicos com fones de ouvido ? idade ___________. 2- Freqüenta ambientes de som muito alto como (SIM) (NÃO) danceterias, academias de ginástica, shows e etc. ? Há quanto tempo ? ____________________________ a)- Com que freqüência ? ( ) Um vez por semana. ( ) Mais que uma vez por semana. ( ) Menos que uma vez por semana. 3- Você acha que a utilização excessiva de (SIM) (NÃO) fones de ouvido pode atrapalhar no seu rendimento escolar ? 4- Você utiliza fones de ouvidos em horários de aulas? (SIM) (NÃO) ( ( ) só no intervalo ) em algumas aulas ( ) em todas aulas 5- Você usa fones de ouvido enquanto pratica alguma atividade física ? (SIM) (NÃO) 6- Assinale quais aparelhos eletrônicos que você usa: ( ) celular ( ) mp3 ou mp4 ( ) ipod ( ) outros quais ___________________ 7- Na família há pessoas com problemas de audição? (SIM) (NÃO) Em caso afirmativo, quem? ___________________ Se souber qual é o problema __________________. 8- Você tem ou teve algum amigo na escola com problemas de audição ? (SIM) (NÃO) ANEXO 3 Questões feitas aos professores da Instituição pesquisada: 1- Com relação ao uso excessivo de aparelhos eletrônicos com fones de ouvido, qual a sua avaliação quanto a esse hábito dos alunos, e o que isso pode interferir no processo de ensino aprendizagem? 2- Qual a sua ação perante o aluno que utiliza esses equipamentos em sala de aula?