PIB fraco permite que Dilma corrija câmbio e desequilíbrio

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Terça, 18 de novembro de 2014 / Broadcast Agência Estado
PIB fraco permite que Dilma
corrija câmbio e desequilíbrio
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Ricardo Leopoldo
A economia fraca neste fim de ano e em 2015 dá condições para que o governo diminua
muito a apreciação do câmbio nos próximos 13 meses. Isso porque, com a atividade
estagnada, diminui o efeito inflacionário causado pela menor valorização do real ante o
dólar. E o Brasil tem um problema estrutural com o câmbio, que nos últimos 20 anos
gerou efeitos negativos sobre as contas externas e à indústria.
Por exemplo: em 2006, o saldo comercial atingiu um resultado positivo de US$ 46,45
bilhões, o que colaborou para um superávit de contas correntes de US$ 13,64 bilhões.
Naquele ano, as exportações de manufaturados superou as importações em US$ 5,14
bilhões.
O uso contínuo do câmbio, especialmente pelo Banco Central, como recurso de última
instância para combater a inflação fez esses números mudarem drasticamente anos a
frente. Em 2013, o superávit comercial alcançou US$ 2,55 bilhões, o que foi importante
para o registro de um déficit de transações correntes de US$ 81,37 bilhões, o equivalente a
3,7% do PIB, segundo cálculo de Thaíz Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados.
Em 2003, as importações de manufaturados alcançaram US$ 69,87 bilhões, mas saltaram
para US$ 198,11 bilhões em 2013. Isso fez com que no ano passado o saldo comercial
destes produtos ficasse negativo em US$ 105,21 bilhões, relata Daiane Santos,
economista da Funcex.
E nesse período, o vazamento de demanda para o exterior foi prejudicial para as fábricas
do País. Dados do IBGE apontam que, em 2006, a participação total das indústrias de
transformação e extrativa mineral sobre o valor adicionado (PIB menos impostos) atingiu
20,3%. No ano passado, esse indicador chegou a 17,2%.
Desde 2008, as transações correntes do País registram números negativos. Daquele ano
até 2013, o déficit acumulado atingiu US$ 287,86 bilhões. Se for adicionada a projeção de
Thaís Zara de resultado negativo de US$ 85,5 bilhões em 2014, ou 3,8% do PIB, o
montante chegará a US$ 373,36 bilhões. É importante ressaltar, contudo, que 2008 e 2009
foram o ápice da pior crise internacional desde os anos 1930 e a economia global está com
graves problemas há seis anos, com exceção da China e dos EUA. Nos sete anos anteriores,
de 2001 a 2007, as contas correntes do Brasil exibiram um saldo positivo de US$ 14,18
bilhões, o que foi motivado em boa parte pelo ciclo de expansão ímpar registrado pelo
mundo nesse período.
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Em função deste quadro preocupante das contas externas, o câmbio precisa mudar.
Especialistas defendem que no horizonte de um ano o objetivo do governo deveria ser levar
o dólar para a direção de R$ 3,00, como destaca Monica Baumgarten de Bolle, diretora da
Casa das Garças. O professor Márcio Garcia (PUC-RJ) aponta uma taxa entre R$ 2,80 e R$
3,00. Para ambos, não é viável para o País registrar um déficit de contas correntes perto do
patamar de 4% do PIB, quando o crescimento neste ano será nulo e tudo indica que não
deverá superar 1% em 2015. Se a economia estivesse crescendo mais, com um volume
maior de investimentos e aumento da importação de equipamentos, esse saldo negativo
poderia estar em 5% do PIB.
Com o cenário de um PIB baixo também em 2015, distante do crescimento potencial entre
2,5% e 3%, essa é uma circunstância favorável para levar o câmbio para um patamar mais
razoável, que poderia chegar a R$ 2,75 em menos de seis meses, advoga o professor Luiz
Gonzaga Belluzzo. O problema estrutural das contas externas pode ser em boa parte
corrigido em dois anos, com um dólar a R$ 2,85 em dezembro do próximo ano, o que
poderia levar o déficit de transações correntes para 3% do PIB em 2016, defende Tony
Volpon, diretor de pesquisas para a América Latina da Nomura Securities.
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Medidas
Para o câmbio mudar, são necessárias algumas medidas.
A primeira delas é o fim do programa de swap cambial que valerá até o fim de dezembro.
Todos os especialistas citados são contra a prorrogação dele em janeiro, sob pena de
prolongar um grave desequilíbrio das contas externas. A história recente mostra que o
desfecho de uma dinâmica insustentável do câmbio é a explosão da cotação do dólar ante o
real. A grande apreciação da moeda nacional ante à americana entre 1995 e 1998 provocou
a maxidesvalorização de janeiro de 1999, quando Gustavo Franco deixou a presidência do
BC.
E movimentos abruptos no câmbio provocados por investidores assustados e que
pretendem defender seus ativos geralmente provocam um movimento de manada, que leva
inevitavelmente a um "overshooting" desse preço relativo. Quando isso acontece, os
impactos são bem fortes sobre a economia. Entre outros, surge uma onda muito alta de
inflação. Em 2002, o dólar atingiu quase R$ 4,00, o que foi determinante para o IPCA
subir 12,5% naquele ano, a maior taxa desde 1995.
Em 2015, contudo, há duas forças monetárias a considerar.
Uma é externa: o início da alta de juros nos EUA. Ela não causa apreensão agora, pois uma
elevação dos Fed Funds é esperada para começar no terceiro trimestre.
Outra é interna: o terceiro ciclo de alta da Selic do governo Dilma, iniciado no dia 29 de
outubro, e que poderá levar os juros para 12% em março, segundo muitos economistas.
A alta de juros normalmente estimula o ingresso de capitais no País, pois há o habitat
perfeito para operações de arbitragem, com retornos elevados, 5,67% ao ano em termos
reais, e risco muito baixo. Este é um fator de apreciação do câmbio.
Talvez um antídoto mais eficiente para conter uma alta expressiva de juros seja um ajuste
fiscal firme, plurianual, capaz de elevar o superávit primário gradualmente de 1,0% do PIB
em 2015 para 2,5% em 2018, defende o professor Nelson Marconi, da Escola de Economia
de São Paulo da FGV.
Nelson Barbosa, ex-secretário-executivo do ministério da Fazenda e também acadêmico da
EESP-FGV, destaca que é importante um superávit primário que estabilize e depois reduza
a dívida pública como proporção do PIB. Este é um elemento fundamental para aumentar
a credibilidade da política econômica.
A gestão da política cambial requer que não se permita a apreciação do real. O câmbio deve
voltar a ser flutuante. Qual é cotação ideal? Ninguém sabe. Mas déficits de transações
correntes de 3,8% do PIB e a redução contínua da participação da indústria no valor
adicionado indicam que certamente a marca de R$ 2,60 não é a que o Brasil precisa.
Ricardo Leopoldo é jornalista do Broadcast
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