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NTD News for Africa
Janeiro
2016
Esquistossomose em crianças em idade escolar do Burkina Faso, após
uma década de quimioterapia preventiva
Ouedraogo H, et al. (2016). Bulletin of the World Health Organization2016; 94: 37–45. doi:
http://dx.doi.org/10.2471/BLT.15.161885 [Full article can be accessed at
http://www.who.int/bulletin/volumes/94/1/15-161885/en/]
Introdução
A esquistossomose humana é endémica em 78 países. Em 2013, cerca de 240 milhões de pessoas
em África estavam no grupo de risco de infecção e necessitaram de quimioterapia preventiva.
Vários países endémicos em África lançaram programas nacionais de controle da esquistossomose,
na sequência da resolução da Assembleia da Organização Mundial de Saúde em 2001. Os programas
centram-se na quimioterapia preventiva com praziquantel e são direccionados a crianças em idade
escolar e adultos em risco, por via de programas de administração em massa de medicamentos
(MDAs). O Burkina Faso criou em 2004 um programa nacional de controle da esquistossomose e de
helmíntos transmitidos pelo solo, com o principal objectivo de usar a administração em massa de
praziquantel como forma de prevenir a esquistossomose humana. Em 2007 esse programa foi
integrado num programa nacional de combate às doenças tropicais negligenciadas. Em 2013, foram
realizadas quatro e cinco campanhas de tratamento MDA, nas zonas meso-endémicas e hiperendémicas, respectivamente. Em 2013, foi feita uma pesquisa em 22 locais de sentinela nas áreas
com endemia de esquistossomose no país, para determinar o impacto das campanhas MDA
realizadas, e para ajudar no planeamento das acções.
Métodos
A pesquisa foi realizada pela equipa nacional de monitoria e avaliação, após a conclusão dos
requisitoss de aprovação ética no país. Nos 22 locais de sentinela, foram recolhidas amostras de
fezes e urina, de modo a verificar a existência de ovos de esquistossomo de Schistosoma mansoni e
S.haematobium, nas 3514 crianças em idade escolar, através dos métodos the Kato-Katz e filtragem
de urina. Foram comparados dados de 2013 com os dados sumarizados do estudo de base,
publicados a partir de 2004, e também com as avaliações de 2008, nos mesmos 22 locais de
sentinela, uma vez que os dados não tratados não estavam disponíveis. Em geral, a intensidade da
infecção foi comparada com base na média aritmética de número de ovos, para todos participantes.
Foi considerado que as crianças tinham infecções severas de S. haematobium se tivessem pelo
menos 50 ovos por 10 ml de urina. As crianças com mais de 399 ovos por grama de fezes foram
consideradas como sendo portadoras de infeções severas de S. mansoni. A prevalência e a
intensidade da infecção foram comparadas utilizando testes χ2 e Kruskal–Wallis, respectivamente.
Resultados
Das 3514 crianças em idade escolar observadas, 287 crianças (prevalência ajustada de 8.76%)
apresentaram infecções com S.haematobium, com um intervalo de variação de 0.0% a 56.3%. A
prevalência de S.haematobium foi significativamente mais elevada em Boucle du Mouhoun, CentreEst, e Sahel, em comparação com outras oito regiões. A S. mansoni só foi detectada em duas regiões,
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Centre-Sud (0.31%) e HautsBassins (8.75%). Em todas as crianças do estudo, a intensidade média
aritmeticamente ajustada da infecção por S. haematobium foi de 6.0 ovos por 10 ml de urina. Menos
de 1% das crianças em seis regiões apresentam valores elevados de infecções por S. Haematobium.
De acordo com os dados da avaliação do impacto realizada em 22 locais de sentinela, a prevalência
de S. haematobium em 2008 foi consideravelmente mais elevada, comparada com 2013. No geral, a
prevalência e intensidade da infecção por S. haematobium desceu de forma extraordinária entre
2004 e 2013. Dentro do programa integrado para o controle de doenças tropicais negligenciadas, o
custo - incluindo o transporte dos medicamentos, a sua distribuição, supervisão durante a
distribuição, formação dos distribuidores de medicamentos, e mobilização social - de uma
campanha de MDA com praziquantel foi estimado em US$ 0.08 (8 cêntimos do dólar americano)
por pessoa tratada, utilizando dados da campanha de MDA de 2013-2014.
Discussão e Comentários
O Burkina Faso tem feito progressos no controle da esquistossomose, a um preço modesto, desde
que o programa começou. De acordo comos critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS), 8
regiões já tinham eliminado a esquistossomose urino-genital como problema de saúde pública, e
três outras regiões já tinham alcançado o alvo de controle da morbilidade causada pela
esquistossomose, através da quimioterapia preventiva. Os dados indicam que o tratamento regular
com praziquantel pode prevenir a morbilidade causada pela esquistossomose e pode levar à
eliminação da esquistossomose em certos locais de transmissão.
Foi contudo notado que alguns locais de sentinela revelaram valores de prevalência semelhantes ou
mais elevados em 2013 do que em 2008. As possíveis causas para um aumento na prevalência de
infecção são: a frequência do tratamento pode não ter sido adequada, a cobertura do foco de
tratamento pode ter sido inadequada, ou factores sociais ou ambientais que apoiam a transmissão,
entre outros, apesar dos benefícios da quimioterapia preventiva.
Na sequência dos resultados da avaliação, o programa nacional reviu o progresso alcançado e
traçou objectivos para a nova fase do programa. Os objectivos serão os de utilizar a MDA: (i) uma
vez a cada dois anos, para interromper a transmissão de S. haematobium e S. mansoni nas regiões de
Cascades, Centre, Centre-Nord, Centre-Ouest, Centre-Sud, Nord, Plateau Central e Sud-Ouest
regions; (ii) anualmente, para controlar a morbilidade relacionada com a esquistossomose ou
eliminar a esquistossomose como problema de saúde pública nas regiões de Boucle du Mouhoun,
Est, HautsBassins e Sahel; e (iii) semestralmente, para controlar a morbilidade relacionada com a
esquistossomose ou eliminar a esquistossomose como problema de saúde pública na região CentreEst.
No geral, para além de alargar o tratamento, outras intervenções de saúde pública poderão ter que
ser acrescentadas, tais como, água, higiene e saneamento, educação de saúde, controle do número
de caracóis, e pesquisa operacional sobre os moluscicidas (pesticidas para eliminação de moluscos).
Terá também de ser apoiada a comunicação sobre a mudança de comportamentos, de modo a
alterar o comportamento relativo ao contacto com a água, para minimizar o risco de infecções no
futuro.
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