HOSPITAL ALEMÃO OSWALDO CRUZ INSTITUTO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS EM SAÚDE UNIDADE DE AVALIAÇÃO DE TECNOLOGIAS EM SAÚDE AVALIAÇÃO DE TECNOLOGIA EM SAÚDE IMUNOGLOBULINAS INTRAVENOSAS Revisão sistemática da literatura dos ensaios clínicos randomizados que compararam diretamente a eficácia e eventos adversos das diferentes apresentações comerciais de imunoglobulinas intravenosas. MARÇO 2014 Órgão Financiador: Não se aplica Responsável técnico/revisor: Anna Buehler (Pesquisadora da Unidade de Avaliação de Tecnologias em Saúde, do Instituto de Educação e Ciências em Saúde, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz) Potenciais conflitos de interesse: Não existem/existiram conflitos de interesses conhecidos na realização dessa avaliação. 2 Sumário PRINCIPAIS MENSAGENS: .............................................................................. 4 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 5 2. OBJETIVO: .................................................................................................. 6 3. CRITÉRIOS DE ELEGIBILIDADE: .............................................................. 6 3.1. Critérios de inclusão: ............................................................................. 6 3.2. Critérios de exclusão: ............................................................................ 7 4. MÉTODOS................................................................................................... 7 4.1. Desenho de estudo ............................................................................... 7 4.2. Fontes de evidência e estratégia de busca ........................................... 7 4.3. Avaliação da elegibilidade e extração dos dados. ................................. 8 5. RESULTADOS ............................................................................................ 8 5.1. Busca das evidências............................................................................ 8 5.2. Descrição e resultados dos estudos...................................................... 9 CONCLUSÕES ................................................................................................ 28 ANEXO 1- Estratégia de busca ........................................................................ 31 ANEXO 2 – FLUXO DE SELEÇÃO DOS ARTIGOS ........................................ 32 Identificação .................................................................................................. 32 ANEXO 3 – DESCRIÇÃO DETALHADA DOS ESTUDOS ELEGÍVEIS ........... 33 ESTUDO 1 – Kuitwaard e cols.12 2010 ......................................................... 33 ESTUDO 2 – Matamoros e cols.13 2005 ....................................................... 34 ESTUDO 3 – Bussel e cols.11 2004 .............................................................. 35 ESTUDO 4 e 5 - Roifman e cols.16 2003 / Mahadevia e cols.26 2005 ........... 36 ESTUDO 6 – Pilz e cols.20 1997 ................................................................... 37 ESTUDO 7 – Steele e cols.17 1987 ............................................................... 38 ESTUDO 8 – Pirofsky15 1987 ........................................................................ 39 ESTUDO 9 - Ochs e cols.14 1980.................................................................. 40 Estudo 10 – Kallerberg e cols.18 2007 ........................................................... 41 APÊNCIDE 1: ................................................................................................... 42 LISTA DE REFERÊNCIAS: .............................................................................. 45 3 PRINCIPAIS MENSAGENS: As evidências atuais são insuficientes para afirmar que as diferentes apresentações de imunoglobulinas intravenosas (IGIVs) diferem entre si em termos de eficácia e segurança. As evidências existentes não abordam todas as indicações formais e offlabel das IGIVs As evidências existentes não avaliam todas as apresentações comercias das IGIVS disponíveis no mercado para uma mesma indicação. Não há nível de confiança adequado para recomendar fortemente nenhuma apresentação comercial em relação à outra, nem afirmar que não existam diferenças entre diferentes apresentações nas situações clínicas consideradas. A maioria dos estudos identificados não permite obter conclusões em relação às IGIVs investigadas porque 1) algumas apresentações comerciais investigadas foram descontinuadas do mercado; 2) algumas indústrias fabricantes das formulações estudadas não existem mais ou foram adquiridas por outra indústria; 3) não existem descrições suficientes das características das apresentações investigadas que permitam identificar apresentações atuais equivalentes. Novos ensaios clínicos randomizados de comparação direta e adequadamente desenhados são necessários para avaliar se existem diferenças na eficácia e segurança das diferentes apresentações comerciais de IGIV, considerando desfechos clinicamente relevantes e importantes para o paciente. 4 1. INTRODUÇÃO As imunoglobulinas intravenosas (IGIV) são preparações biológicas de anticorpos altamente purificados provenientes do plasma de milhares de um mínimo de 1.000 doadores 1. A indicação primária das IGIVs é no tratamento das imunodeficiências. Também são utilizadas na profilaxia de infecções em certas condições de doença. Atualmente, altas doses de IGIVs têm papel imunomodulatório importante no tratamento de um número crescente de doenças autoimunes e doenças inflamatórias sistêmicas, cujas maioria dessas indicações são consideradas não lincenciadas (indicações off-label) 2-7. Diversas são as formulações comercialmente disponíveis. Cada uma delas apresenta características técnicas de produção muito particulares, o que não permite considerar como iguais seus efeitos biológicos8. Dessa forma, as diferentes imunoglobulinas não podem ser tratadas como medicações similares. De acordo com Weekes e cols9 no âmbito da tomada de decisão clínica, a eficácia, a segurança e os custos são os três aspectos de maior relevância a se considerar. Se a questão emerge da diferença entre duas formulações distintas, idealmente as evidências científicas de superioridade devem vir de ensaios clínicos randomizados bem desenhados, que avaliem diretamente as diferentes formulações de IGIV nas diversas situações clínicas em que as imunoglobulinas têm indicação de tratamento. Mais ainda, deve-se investigar desfechos que possam ser considerados como clínicamente relevantes e importantes para o paciente. Entretanto, uma busca rápida na literatura evidencia que a maioria dessas evidências provém de estudos que consideram diferenças nos aspectos físicoquímicos das formulações, de delineamento de estudo observacional, experimentais animais ou laboratoriais in vitro. Tais estudos não permitem confirmar a superioridade de uma formulação em detrimento à outra, apenas inferir indiretamente tais diferenças. Ainda, a maioria dessa literatura demonstra como as diferenças nas formulações impactam na tolerabilidade das mesmas (reações adversas) e não investigam desfechos relevantes, como impactos na mortalidade ou taxas anuais de infecção (se for uma condição de imunodeficiência primária, por exemplo). Tal literatura é bastante extensa e um resumo dessa evidência encontra-se no apêndice 1 desse documento. 5 Portanto, identificar se existe literatura que adequadamente responda essa questão de pesquisa é fundamental para embasar a tomada de decisão tanto em nível de conduta médica quanto em nível de gestão dos serviços de saúde. 2. OBJETIVO: Identificar estudos que tenham comparado diretamente a eficácia e segurança de diferentes apresentações comerciais das imunoglobulinas intravenosas em quaisquer condições clínicas e desfechos investigados. 3. CRITÉRIOS DE ELEGIBILIDADE: 3.1. Critérios de inclusão: Revisões sistemáticas de ensaios clínicos randomizados que tenham incluído estudos que avaliaram diretamente a eficácia e a segurança de diferentes apresentações comerciais das imunoglobulinas intravenosas Avaliações econômicas que tenham comparado custo-efetividade/custoutilidade das diferentes apresentações comerciais das imunoglobulinas intravenosas Ensaios clínicos randomizados que tenham avaliado diretamente a eficácia e segurança de diferentes apresentações comerciais das imunoglobulinas intravenosas Estudos observacionais comparativos de efetividade que tenham investigado desfechos relacionados à segurança das diferentes apresentações comerciais das imunoglobulinas intravenosas na prática clínica. 6 3.2. Critérios de exclusão: Estudos observacionais e/ou não comparativos Ensaios clínicos randomizados que tenham comparado a eficácia das imunoglobulinas com placebo. Estudos experimentais animais ou in vitro que tenham avaliado o efeito de parâmetros físico-químicos de diferentes apresentações comerciais das imunoglobulinas intravenosas. 4. MÉTODOS 4.1. Desenho de estudo Revisão sistemática da literatura para a identificação de estudos que tenham comparado diretamente a eficácia e segurança das diferentes apresentações comerciais das imunoglobulinas intravenosas, independente da condição alvo e desfechos investigados. 4.2. Fontes de evidência e estratégia de busca Para a identificação dos estudos elegíveis, foram pesquisadas as seguintes fontes de evidência: MEDLINE via Pubmed Embase Cochrane Library LILACS Center for reviews and dissemination (CRD) Clinicaltrials.gov, Adicionalmente, as listas das referências bibliográficas de revisões narrativas de interesse e dos estudos elegíveis foram avaliadas, a fim de identificar alguma evidência relevante que não tenha sido identificada pela estratégia de busca. A estratégia de busca foi elaborada considerando termos para a caracterização da intervenção e relacionando-os com termos que permitissem referenciar apresentações comerciais ou farmacêuticas. Sempre que possível, utilizou-se o 7 vocabulário controlado da base (Mesh para o MEDLINE e Cochrane, Emtree para o Embase e DeCs para a Bireme), sensibilizado tais termos com sinônimos e palavras derivadas (Anexo 1). Não foram definidos termos que caracterizassem a condição clínica do paciente ou desfechos. Também não foi utilizado filtro para ensaios clínicos randomizados, uma vez que outros delineamentos de estudo foram permitidos. 4.3. Avaliação da elegibilidade e extração dos dados. Todas as referências que foram recuperadas das bases foram inicialmente triadas através da leitura de título e resumo, utilizado um gerenciador de referências (EndNote 6.0). Estudos elegíveis ou que necessitassem de uma leitura mais detalhada para confirmação da elegibilidade foram avaliados em forma de texto completo. Os estudos que preencheram os critérios de elegibilidade foram descritos em termos de intervenções, condição clínica do paciente e desfechos investigados. A qualidade metodológica dos estudos foi avaliada utilizando os critérios da Cochrane10. A avaliação de cada domínio no estudo é julgada como baixo risco de viés (+), risco incerto (?) ou alto risco de viés (-). Para critérios de classificação foram consideradas as seguintes convenções: se não mencionado no texto: alto risco de viés; se apenas mencionado no texto, porém não descrito adequadamente (por exemplo, apenas escrito como duplocego, sem definir a quem se refere o duplo e o processo de garantia do cegamento): risco incerto; se descrito de forma adequada: baixo risco de viés. Os resultados dos estudos foram tabulados de forma descritiva e a metanálise calculada apenas se aplicável. 5. RESULTADOS 5.1. Busca das evidências As estratégias de busca foram construídas conforme as especificidades de cada base. A descrição referente à busca no MEDLINE encontra-se no Anexo 1. Para as demais bases, os termos foram adequados conforme necessário. 8 A somatória da busca nas bases resultou em 4.084 citações, das quais 214 eram duplicatas e foram excluídas. Três mil oitocentos e setenta citações foram triadas e 40 tiveram seu texto completo avaliado a fim de confirmar a elegibilidade. Dez estudos foram incluídos na revisão sistemática, sendo 8 ensaios clínicos randomizados 11-17 e dois estudos de avaliação econômica18,19. O fluxo de seleção dos artigos encontra-se no Anexo 2. Um ensaio clínico randomizado registradofoi identificado (NCT01963143) Trata-se de um estudo de bioequivalência do Gammaplex® 10% comparado com Gammaplex® 5%. Além dos parâmetros farmacocinéticos, esse estudo irá avaliar a tolerabilidade das imunoglobulinas em pacientes com imunodeficiência primária. 5.2. Descrição e resultados dos estudos Oito ensaios clínicos randomizados11-17 e dois estudos de avaliação econômica18,19 foram incluídos. As informações mais importantes e os resultados dos principais desfechos investigados estão apresentados na Tabela 1 abaixo. Os resultados dos estudos de avaliação econômica estão listados na Tabela 2. A descrição detalhada de cada estudo encontra-se no Anexo 3. 9 Estudo N pacientes Kuitwaard e cols. 12 2010 I = 13 C = 14 T= 27 Matamoros e cols.13 2005 I = 18 C= 17 T = 35 Período de seguime nto 6 a16 semanas (média 10 semanas) Intervenção Controle Condição clínica Desfechos investigados Resultados 95% IC 4 infusões de IGIV líquida 10% (100g/L; Kiovig®, Baxter) 4 infusões de IGIV liofilizada 5% (50g/L; Gammagard® S/D, Baxter) Poliradiculoneuropatia desmielinizante inflamatória crônica. Pontuação escala ODSS DA = -0.004 3 infusões de IGIV solução líquida à 5% (Flebogamma 5%, Grifols) Imunodeficiênci a primaria e secundaria Tempo para cada infusão (horas) 16 meses 3 infusões de IGIV solução líquida à 10% (Flebogamma 10%, Grifols) 95% IC (-0,4; 0,4) Percepção de bem-estar do paciente relatada pelo paciente e investigador através de uma escala análoga visual I= 2,0 ± 0,7 1,8 ±0,6 1,8 ± 0,6 C= 2,8 ± 0,7 2,8 ±0,7 2,7 ± 0,7 (valor de p não informado) A satisfação foi comparável em ambos os grupos (superior a 80%; valor de p não informado) 10 Bussel e cols.11 2004 Roifman e cols.16 2003 I= 48 C=49 T=97 I= 73 C= 73 T= 146 6 meses para seguranç a, 21 para eficácia 9 meses 2 infusões de IGIV solução líquida à 10% caprilato/ cromatografia ( IVIG -C, Gamunex®, Bayer) Média de 10,2 infusões de IGIV solução líquida à 10% caprilato/ cromatografia (IGIV-C, Gamunex® 10%) 2 infusões de solução líquida à 10% solvente/ detergente tratada imunoglobulina (IGIV -SD, Gamimune® , Bayer) Média de 10,7 infusões de IGIV solução líquida à 10% solvente/ detergente tratada imunoglobulina (IGIV-SD, Gamimune® 10% Púrpura trombocitopênic a idiopática crônica Proporção de pacientes com concentração de plaquetas aumentada de 35/39 (90%) vs 35/42 (83,3%) 1.08 (0.91;1.28)* ≤20 x 109/L para ≥50 x 109/L durante 7 dias pós tratamento Imunodeficiênci a primária Manutenção dos níveis de plaqueta ≥50 x 109/L por ≥ 7 dias Proporção de pacientes com infecção sinopulmonar validada 29/39 vs 25/42 1.25 (0.92;1.70)* P=0.115 Proporção de pacientes com qualquer infecção 15% no grupo IGIV-C e 32,9 % no grupo IGIV-SD P=0,012. Taxa anual de infecção 0,18 no grupo IGIV-C e 0.43 no grupo IGIV-SD (p=0,023) 12,3 % no grupo IGIV-C e 23,3% no grupo IGIV-SD P=0,06. 11 Pilz e cols.20 1997 Steele e cols.17 1987 I=14 C=13 T= 27 I=5 C=5 T=10 Só definido o período de avaliação do score APACHE: 4 dias.. 6 meses. 3 infusões de IGIV sem especificação de concentração de IgGs, enriquecido com IgM (Pentaglobin®, Biotest) 5ml/Kg/dia (total 15 mL/Kg) Infusão mensal de IGIV nativa sem especificação de concentração de IgGs, 5% de sucrose (Revlon) (total 6) 2 infusões de IGIV (Polyglobin®, Tropon), 12 mL/Kg no dia 1 e 6 mL/Kg no dia 2 (total 18 mL/Kg) Infusão mensal de IGIV solução à 10% (mIGIV) Gamimune 10% maltose (total 6) Pacientes em UTI pós cirurgia cardíaca com APACHE ≥ 24. Imunodeficiênci a primária Melhora na pontuação APACHE II Sem diferenças entre os grupos (p=0,51) IGIV MA: -5,2 (95%IC 12,5; 2,1) IGIV: -6,9 (95%IC -13,4; 0,4) Proporção pacientes com diminuição do APACHE II de > 7 dia 1 ao 5 Sem diferenças entre os grupos (p=0,86) IGIV MA: 54% (95% IC 25 – 81) IGIV : 57% (95% 29 – 82) Mortalidade intra-hospitalar Sem diferenças entre os grupos (p=0,90) IGIVMA:31% (95%IC 961) IGIV :29% (95%IC 8-58) Nativa: 0 (0%) vs mIGIV: 2 (20%) Hospitalização Dias doentes Nativa: 6 (60%) vs mIGIV: 7 (70%) Dias perdidos escola/trabalh Nativa: 1 (10%) vs mIGIV: 3 (30%) 12 Pirofsky15 1987 T= 39 6 meses Ochs e cols.141980 T=30 6 meses 3 infusões de IGIV não modificada, sem especificação de concentração de IgGs, 10% maltose, pH 4.24 (Cutter Biological) 3 infusões de IGIV modificada, sem especificação de concentração de IgGs, (mIVIG), pH 6.8 (Gamimune, Cutter Biological, Berkeley, CA) IGIV 10% 0.3 mol/L glicina Imunodeficiênci a primária o Media de elevação total dos níveis séricos de IgGs. Nativa pH 4.25: 852 mg/dL mIGIV pH 6.8: 813 mg/dL. IGIV 5% 0.1 Imunodeficiênci Aceitabilidade IGIV -maltose 5%: 27/29 mol/L glicina com a primária do paciente (93.10%) e 10% maltose 2/29 (6,9%) não tiveram (Cutter preferência. Laboratories, Inc.; Berkeley, CA) IC: intervalo de confiança; I: intervenção; C: controle, T: total, ODSS: Overall disability sum score; IGIV: imunoglobulina intravenosa DA: diferença absoluta, *calculado pelos autores 13 Tabela 2 - Estudos de avaliação econômica Estudo Mahadevia e cols.19 2005 N Período de pacientes e seguimento perspectiva adotada I= 73 9 meses C= 73 T= 146 Perspectiva da sociedade Intervenção Controle Condição clínica Desfechos investigados Média de 10,2 infusões de IGIV caprilato/ cromatografia (IGIV-C, Gamunex® 10%) solvente/ detergente tratada imunoglobulina (IGIV-SD, Gamimune® 10% Imunodeficiência Custo incremental não primária ajustado da IGIVC comparada com IGIVSD de: Medicação prescrita Hospitalização Consulta/ Emergência Custo de produtividade Custos totais Custo incremental ajustado da IGIVC comparada com IGIVSD de: Kallenberg T=14 15 semanas IGIV liquida à IGIV liofilizada , Medicação prescrita Hospitalização Custos totais Imunodeficiência Redução de custo do Resultados 95% IC - U$307 -U$ 954 -U$ 41 - U$ 8 - U$1.294 - U$ 302 (-598;-6) - U$ 1.454 (-1.828;- 1.080) U$ 1.304 (-1.867; -742) € 33.92 14 e cols.18 2007 Não informado 10% (Kiovig, Baxter) solução à 6% primária (Immunoglobuline IV, Sanquin, Amsterdam) profissional de saúde para reconstituição Redução de custo por ocupação de leito €7.76 /paciente/infusão (0.81h x €9.58) Redução de custo por tempo de infusão (hora do enfermeiro) €17.74/paciente/infusão (0.81h X€21.90) Redução total de custo €59.42/paciente/infusão 15 A Tabela 3 apresenta o risco de viés nos estudos incluídos: Tabela 3 – Avaliação do risco de viés nos ensaios clínicos randomizados incluídos Estudo Geração da Alocação sequência sigilosa aleatória dos tratamentos Kuitwaard e cols.12 2010 Matamoros e cols13 2005 Bussel e cols.11 2004 Roifman e cols.16 2003 Pilz e cols.20 1997 17 Steele e cols. 1987 Pirofsky15 1987 14 Cegamento dos participantes e equipe Cegamento dos avaliadores de desfecho Dados de desfecho incompletos Relato seletivo de análises Outros vieses - - - - - - +* ? ? + + - + - - - - - + + +* - - - ? + + +* ? ? ? ? + - + + + - - - ? ? ? ? ? - + + + + - Ochs e cols. 1980 (-) baixo risco; (?) risco incerto; (+) alto risco Outros vieses: *potenciais conflitos de interesse presente 16 A Tabela 4 apresenta os eventos adversos reportados pelos estudos. Tabela 4 – Frequência de reações adversas reportadas pelos ensaios clínicos randomizados: Kuitwaard et al 2010 Matamoros et al 2005 Flebo- Flebogamm gamm a 10% a 5% (n=18 (n=35 ) ) Bussel et al 2004 IGIV-C IGIV10% S/D (Gamu 10% nex) Gamim (n=48) une N (n=49) Gammaga rd S/D (n=13) Kiovig (n=14) Qualquer evento NR NR NR NR 25 (52%) 27 (55%) Roifman et al 2003 IGIV-C IGIV10% S/D (Gamu 10% nex) Gami (n=87) mune N (n=85 ) 80 80 (92%) (94%) Fadiga Dor muscular/ articulação Náusea 10 (77%) 8 (62%) 10(71%) 9 (64%) NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR 5 (12.8% ) NR NR NR NR 2 (6%) 5 (10%) 4 (8%) NR NR NR NR NR NR 1 (3) 13 (45) Cefaleia 8 (62%) 6 (43%) 2 (1.1% ) 0 (0%) 2 (6%) 24 (50%) 6.9%/ infusion NR NR NR NR NR NR Vômito NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR 1 (3%) NR 6 (13%) 8 (16%) Febre 0 (0%) NR 8.0%/ infusi on NR 5 (10%) 5 (10%) NR NR NR NR NR 5 (38%) 6 (46%) 6 (43%) 1 (7%) NR 3 (17%) NR 0 (0) NR NR NR NR NR NR 5 (50%) NR NR NR Itching Calafrios 2 (20%) NR NR NR NR NR NR NR 0 (0) NR 14 (48) 24 (49%) NR NR Steele et al 1987 unmo Gami dified mune IVIG N (n=5) (n=5) Pirofsky 1987 Ochs et al 1980 Native IGIV 5% pH 4.25 (n=39) mIGIV pH 6.8 (n=39) IGIV IGIV maltose 10% 5% (n=39) (n=39) NR NR 2(5.1) NR NR NR NR NR 1 (3) NR 19 (66) 17 Dor nas costas / pescoço Tontura Rubor Eritema/ rash cutâneo Dor na área de infusão Dor no peito 3 (23%) 6 (43%) NR NR 3 (6%) 4 (8%) NR NR NR NR NR NR NR NR 5 (38%) 3 (23%) 3 (23%) 4 (29%) 5 (36%) 5 (36%) NR NR 0 (0) 1 (2%) NR 3 (6%) 3 (6%) NR 0 (0%) NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR 1 (3) NR NR 9 (31) NR 3 (23%) 4 (29%) NR NR 1 (6%) NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR 0 (0) NR NR NR NR NR NR NR NR 0 (0) 6 (21) Astenia Episódio de hipertensão NR NR NR NR 1 (6%) NR 1 (6%) NR 0 (0) 2 (4%) NR 3 (6%) NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR NR – não reportado pelo estudo 18 A evidência comparativa em relação aos eventos adversos nos estudos é limitada devido à baixa incidência dos eventos. Os estudos de Kuitwaad e cols 12, Matamoros e cols13, Bussel e cols11 e Roifman e cols16 não demonstraram diferenças na incidência de eventos adversos entre os grupos. O estudo de Steele e cols17 avaliou somente o evento febre como desfecho e encontrou uma maior incidência com o uso da formulação líquida comparada à liofilizada. Pirofsky e cols15 relatam a incidência de um desfecho composto (incidência de “qualquer evento”). De acordo com os autores, o grupo que recebeu a formulação com pH 6.8 teve menor risco de eventos adversos em relação ao grupo comparador, cujo foi pH 4.25 (5,1% VS 12,8% respectivamente; p não reportado). Ochs e cols.14 evidenciaram maior incidência de eventos adversos no grupo que recebeu IGIV líquida, solução à 10% comparado ao grupo experimental IGIV líquida, solução à 5% e maltose em todos os eventos investigados. 19 INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS: A identificação de apenas 8 ensaios clínicos considerando o repertório de indicações de tratamento das IGIVs permite concluir que a literatura referente ao objeto dessa avaliação é escassa. Além de escassa, as evidências são limitadas do ponto de vista de validades interna e externa. Os principais aspectos dessas limitações serão melhores detalhados conforme descrição abaixo: Indicações de tratamento: O inicio da utilização das imunoglobulinas data da década de 50 21, no tratamento das imunodeficiências primárias. Atualmente, diversas são as indicações formais das IGIVs. Não menos expressivas são as indicações offlabel das IGIVs, cada vez mais utilizadas na prática clínica. Estas incluem diversas doenças autoimunes, neuroimunológicas e infecciosas. Considerando apenas as indicações formais, estas divergem entre os países. Nos EUA são seis indicações licenciadas, enquanto que na Europa estão registradas cinco. A tabela abaixo apresenta as indicações registradas nas Agências Regulatórias Americana (FDA)23 e Europeia (EMA)24 Tabela 5 – Indicações das imunoglobulinas segundo Agências Regulatórias FDA22 EMA23 Indicações Indicações Imunodeficiência humoral Imunodeficiências primária Neuropatia motora Transplante de multifocal, medula óssea Leucemia linfocitica Síndrome de crônica de células B Guillain-Barré, Púrpura Púrpura trombocitopênica crônica trombocitopênica idiopática Síndrome de Kawasaki Síndrome do linfonodo mucocutâneo Poliradiculoneuropatia desmielinizante inflamatória crônica FDA – Food and Drug Administration; EMA – European Medicines Agency 20 No Brasil, documento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) classifica as indicações das imunoglobulinas em formais, aceitáveis, experimentais e não fundamentadas, baseada na hierarquia das evidências científicas24. Abaixo, estão listadas apenas as formais e aceitáveis (Tabela 6) . Tabela 6 - Tabela das indicações formais e aceitáveis das IGIVs, de acordo com a ANVISA. Indicações formais Terapia de reposição em pacientes com hipo ou a agamaglobulinemia congênitas, imunodeficiência congênita severa e combinada (SCID), imunodeficiência variável comum, síndrome de Wiskott Aldrich, mieloma, leucemia linfocítica crônica com hipogamaglobulinemia secundária grave e infecções recorrentes Infecções recorrentes em crianças com AIDS Doença de Kawasaki Síndrome de Guillain Barré Púrpura neonatal alo-imune Púrpura trombocitopênica imune Necrólise epidérmica tóxica (síndrome de Lyell) Indicações aceitáveis Polirradiculoneuropatias desmielinizantes crônicas Miastenia Gravis Dermato/polimiosite Doença do Neurônio Motor Esclerose múltipla Vasculites ANCA-positivas Aplasia de medula óssea por Parvovirus B19 Púrpura pós-transfusional Doença Inflamatória intestinal Sepse Oftalmopatia de Graves Retinopatia de Birdshot Síndrome da pessoa rígida Desse modo, observa-se que a evidência da presente revisão sistemática não compreende de forma satisfatória todas as possíveis indicações em que as diferentes apresentações de IGIVs deveriam ser comparadas. Dos oito ensaios clínicos randomizados identificados, cinco avaliaram as IGIVs em imunodeficiências, um em poliradículoneuropatia desmielinizante inflamatória crônica, um em púrpura trombocitopênica idiopática crônica e um em pacientes cardíacos em UTI (indicação off-label). 21 Apresentações comerciais Os nomes comerciais das formulações de IGIV e de seus respectivos fabricantes variam entre os países. Nos EUA são registrados 10 apresentações comerciais de seis fabricantes distintos. Na Europa, o EMA registra quatro apresentações comerciais, de três laboratórios. No Brasil, foram identificadas 15 apresentações comerciais de registro vigente na ANVISA, de sete laboratórios diferentes (Tabela 7). Tabela 7. Lista das apresentações comerciais registradas na Anvisa, FDA e EMA. ANVISA FDA Flebogamma® 5% e 10% Flebogamma® 5% e 10% Grifols Grifols Gamunex® 10% Meizler Sandoglobulina Privigen® 10% CSL Behring Sandoglobulina® liofilizada 6g e 12g CSL Behring Endobolin Kiovig® 10% Baxter Endobulin® S/D 5% Baxter Pentaglobin® 5% Biotest Octagam® 5% e 10% Octapharma Gammaplex® 5% Meizler Vigam® 5% Meizler Sandoglobulina® liofilizada 6g Meizler Tegeline® liofilizada LFB Gamunex-C® 10% Grifols Privigen® CSL Behring Carimune® NF liofilizada 3g, 6g e 12g CSL Behring Gammagard® liquid 10% Baxter Gammagard® S/D 5% Baxter Bivigam® 10% Biotest Octagam® 5% Octapharma Gammaplex ® 5% Bio Products Laboratory ________________ EMA Flebogamma® 5% e 10% Grifols _______________ Privigen® CSL Behring _________________ Kiovig® 10% Baxter HyQvia® 10% Baxter ________________ ________________ ________________ ________________ ________________ ________________ ________________ ________________ Das dez apresentações comerciais disponíveis nos EUA, apenas quatro são comuns às apresentações comerciais registradas em território nacional. Ainda, o Gamunex® registrado no Brasil é de uma indústria farmacêutica diferente 22 dos EUA (respectivamente da Meizler Biopharma S/A e da Grifols Therapeutics, Inc). Nesses casos, é incerto se existe uma correspondência exata da formulação em relação ao processo de fabricação e utilização dos componentes utilizados. Dos oito estudos identificados, apenas dois investigaram apresentações comerciais que possuem correspondentes nacionais de mesma concentração e indústria fabricante em ambos os grupos 12,13. Outros permitem apenas inferir sobre uma apresentação correspondente considerando alguma característica descrita, porém não é possível garantir que se trate de formulações idênticas. A tabela abaixo resume o possível pareamento entre os produtos. Tabela 8 – Comparações entre as IGIVs investigadas nos estudos e as apresentações comercializadas em território nacional Estudo Kuitwaard e cols.12 Matamoros e cols.13 Pilz e cols20 Bussel e cols11 Apresentações utilizadas nos estudos Intervenção: Kiovig® 10% (Baxter) Controle: Gammagard S/D 5% (Baxter) Intervenção Flebogamma® 10% (Grifols) Controle Flebogamma® 5% (Grifols) Intervenção Polyglobin® N (Tropon Biologische Praparate) Controle Pentaglobin® (Biotest) Intervenção Gamunex® 10% Bayer Controle Gaminune® N 10% Roifman e cols.16 Intervenção Gamunex® 10% Representantes nacionais de mesma apresentação e fabricante Endobulin Kiovig® 10% (Baxter) Possíveis equivalentes NA NA Endobulin® S/D 5%. (Baxter) NA Flebogamma® 10% (Grifols) NA Flebogamma® 5% (Grifols) NA Não há especificações suficientes para sugerir alternativas NA Pentaglobin® (Biotest) NA Gamunex® 10% NA O Gaminune® foi descontinuado do mercado e substituído pelo Gamunex ® NA Gamunex® 10% 23 Bayer Controle Gaminune® N 10% Steele e cols.17 Pirofsky15 Ochs e cols.14 Intervenção IGIV 5% liofilizada não modificada (Revlon Health Care group) Controle Gamimune® 10% à 10% maltose (Cutter) Intervenção IGIV 5% não modificada, 10% maltose Controle Gamimune 10% sol. modificada (Cutter) Intervenção IGIV 5% à 10% de maltose (Cutter) Controle: IGIV 10% NA NA NA Meizler O Gaminune® foi descontinuado do mercado e substituído pelo Gamunex ® Não há especificações suficientes para sugerir alternativas O Gaminune® foi descontinuado do mercado e substituído pelo Gamunex ® NA Octagam® Octapharma NA NA NA O Gaminune® foi descontinuado do mercado e substituído pelo Gamunex ® Não há especificações suficientes para sugerir alternativas Não há especificações suficientes para sugerir alternativas NA – Não se aplica Muitos dos estudos são antigos. Assim, é importante destacar algumas das indústrias fabricantes das marcas estudadas ou não existem mais ou forma adquiridas por outra companhia farmacêutica. É o caso do fabricante do Polyglobin® N 20, descrito como fabricado pela antiga Tropon Biologische Praparate, adquirido pela MEDA, da Alemanha, mas que não tem em seu portifólio de produtos nenhuma apresentação de IGIV comercializada. Nos estudos de Bussel e cols11 e Roifman e cols.16, as IGIVs eram fabricadas pela Bayer. A divisão de hemoderivados da Bayer foi comprada pela Telecris e, posteriormente, pela Grifols, que comercializa o Gamunex®-C, substituto atual do Gaminune®. O estudo de Steele e cols.17 investigou no grupo intervenção a formulação fabricada na época pela Revlon Health Care group. O outro laboratório citado pelos demais estudos era o antigo Cutter, comprado pela Bayer em 1978. 24 Características e qualidade metodológica dos estudos Além das limitações supracitadas, existem as limitações decorrentes dos estudos per se. Os estudos encontrados relatam dados de forma incompleta, não descrevendo informações necessárias à interpretação dos resultados, como tempo entre as infusões, taxa de infiltração e doses administradas. O estudo de Matamoros e cols., por exemplo, descreveu o resultado de forma qualitativa, sem apresentação das estimativas numéricas nos grupos. Ainda em relação ao relato incompleto, a maioria dos estudos possui pequeno tamanho de amostra e não descrevem de maneira adequada os parâmetros utilizados no cálculo do tamanho da amostra. Dessa forma, não há como avaliar se os estudos têm poder estatístico adequado para avaliação dos desfechos. Os estudos que investigaram diferentes IGIVs para a mesma indicação (imunodeficiências) não permitem que os resultados sejam comparados entre si, uma vez que diferem em relação aos comparadores, protocolo de tratamento, períodos de tratamento e desfechos. Além disso, os desfechos investigados tem uma relevância clínica questionável. A única exceção, é o estudo de Roifman e cols.16 , não permite que seus dados sejam considerados, pois a apresentação comercial de um dos braços investigados foi descontinuada do mercado. De qualquer forma, esse estudo investigou desfechos relacionados à episódios de infecção. O estudo de Pilz e cols.20 se enquadra na mesma situação. Apesar de investigar mortalidade como um desfechos relevante, uma limitação adicional é com a inclusão de apenas 27 pacientes, não há poder estatístico adequado para identificar diferenças25. Todos os demais estudos investigaram desfechos substitutos ou menos relevantes. Dentre estes, diferenças em pontuações de escalas, de gravidade de doença, de bem-estar; ou preferências do paciente. Outros ainda avaliaram como desfecho de eficácia os níveis alcançados de IgG ou de plaquetas pós infusão. Apesar de todos os estudos incluídos serem ensaios clínicos randomizados, existem importantes limitações metodológicas. Considerando os resultados da tabela 2, que resumiu a avaliação, observa-se o alto risco de viés para pelo menos um dos domínios avaliados. Assim, a maioria não descreve o sigilo da alocação e em 3 estudos não houve a descrição de nenhum esquema de cegamento. Adicionalmente, os estudos de Roifman e cols.16 e Bussel e cols.11 possuíam potenciais conflitos de interesse e o estudo de Kuitwaard e cols12 não 25 reporta os dados das fases abertas do estudo, estabelecidas como parte do escopo do estudo. Custos O custo de tratamento varia bastante entre as diferentes apresentações comerciais. Isso porque além do custo de aquisição do produto, outros parâmetros que diferem entre as apresentações também impactam no valor total do tratamento. Para fins de referência, a tabela abaixo apresenta o custo de aquisição das diferentes apresentações comerciais, baseado na Tabela de Preço de Medicamentos da ANVISA. Para a maioria das apresentações o preço máximo ao consumidor não está disponível por se tratar produto de uso exclusivo hospitalar. Os preços são apresentados considerando o preço de fábrica, o ICMS de 18% e a apresentação no volume de 200mL. Os que não apresentavam a opção 200 ml foram considerados em 100 ml e estão especificados entre parênteses. APRESENTAÇÃO COMERCIAL Flebogamma® 5% Flebogamma® 10% Grifols Gamunex® 10% Meizler Sandoglobulina Privigen® 10% CSL Behring Sandoglobulina® liofilizada 6g Sandoglobulina® liofilizada 12g CSL Behring Endobolin Kiovig® 10% Baxter Endobulin® S/D 5% Baxter Pentaglobin® 5% (100mL) Biotest Octagam® 5% Octagam® 10% Octapharma Gammaplex® 5% Meizler Vigam® 5% Meizler PREÇO DE FÁBRICA (R$) 2.920,19 5.839,74 PREÇO MÁXIMO AO CONSUMIDOR (R$) 4.036,76 ND 4.146,14 ND 4.841,69 ND 892,44 1.784,90 ND 4.906,41 ND 2.453,19 ND 1.382,52 ND 2.222,57 4.907,31 ND 6.783,68 2.335,28 3.224,05 1.997,96 ND 26 Sandoglobulina® liofilizada 6g Meizler Tegeline® liofilizada (100mL) LFB ND: não disponível. 931,52 ND 888,33 ND Dessa forma, observa-se uma variação significante entre as apresentações. Além do custo de aquisição, outros parâmetros devem ser considerados: Percentual de reembolso (precaução com as indicações off-label) Tempo de preparação do produto Armazenamento Validade Incidência e custos associados aos eventos adversos associados Nem todos esses parâmetros foram abordados nos dois estudos econômicos identificados. O primeiro estudo de avaliação econômica comparou a apresentação liofilizada solução à 6% versus a apresentação líquida solução a 10% 18. No segundo estudo de avaliação econômica identificado, duas apresentações líquidas, com processos de inativação viral diferentes (Gamunex® vs Gamimune®), foram comparadas. Seus resultados não serão discutidos porque ambos os estudos apresentam uma limitação importante, que é de não considerarem o custo de aquisição dos produtos nas análises. Adicionalmente, seus resultados não se aplicam porque, em pelo menos um dos braços, a apresentação comercial não está mais no mercado. Como conclusões passíveis de comentários, o estudo de Kallenberg e cols.18, que foi observacional e controlado pelo próprio paciente, permitiu observar uma vantagem da apresentação líquida em relação à liofilizada, devido à 1) não necessidade de reconstituição do produto (consequentemente economizando o valor da hora de profissional de saúde alocado para o preparo) e 2) maior concentração de IGIV (10% vs 6%), que impacta no menor tempo de infusão (menor necessidade de um profissional alocado para administração) e menor tempo de ocupação de leito. Já o estudo de Mahadevia e cols.19 claramente favorece o Gamunex® em relação ao Gamimune® em todos os desfechos analisados durante um período de 9 meses, exceto para o custo incremental relacionados à perda de produtividade, que foram similares entre os tratamentos. 27 CONCLUSÕES Existe pouca evidência direta sobre a apresentação comercial em relação à outra. superioridade de uma A evidência existente não aborda todas as indicações formais e off-label das IGIVs A evidência existente não avalia todas as apresentações comercias das IGIVS disponíveis no mercado brasileiro. As evidências existentes não permitem concluir com nível de confiança adequado que uma apresentação comercial seja superior a outra ou que não haja, de fato, diferenças entre as duas apresentações comerciais. Considerando a evidência direta, ou seja, a que se refere ao estudo que avaliou diretamente duas diferentes apresentações comerciais que tenham correspondentes idênticos comercializados em território nacional, os resultados permitem sugerir que: Não houve diferenças entre o Endobulin Kiovig® 10% da Baxter e o Endobulin S/D 5% liofilizado da Baxter na melhora da incapacidade em pacientes com poliradiculoneuropatia desmielinizante inflamatória crônica considerando um período médio de tratamento de 10 semanas. Não houve diferenças na incidência de eventos adversos, exceto para o evento “calafrio”, cuja incidência foi menor no grupo que recebeu Kiovig®.(nível de confiança das evidências: moderado, com base na qualidade metodológica do estudo) Não houve diferenças entre a as apresentações líquidas Flebogamma 10% da Grifols e Flebogamma 5% da Grifols em relação à sensação de bem-estar do paciente do ponto de vista do paciente e do médico no tratamento de pacientes com imunodeficiência primária. Não há diferença em relação à incidência de eventos adversos (nível de confiança das evidências: baixo, com base na qualidade metodológica do estudo) As evidências provenientes dos demais estudos11,14,16,17,20 se comportam como evidência indireta, considerando que não há como garantir que existam correspondentes idênticos nacionalmente comercializados em relação à formulação e/ou laboratório fabricante. Entretanto, elas apontam que: 28 O Gamunex® 10% da Bayer (inativação viral por caprilato/cromatografia) demonstrou ser superior ao Gamimune® apresentação líquida à 10% da Bayer (inativação viral por solvente/detergente) por reduzir os episódios validados e clinicamente definidos de infecção sinopulmonar e diminuir a taxa anual de infecção em pacientes com imunodeficiência primária em 9 meses de tratamento. Além disso, o Gamunex® poderia reduzir os custos incrementais (ajustados) de medicação prescrita, hospitalização e custos totais. Para obtenção desses resultados, considerou-se o mesmo valor de aquisição dos produtos. A incidência de evento foi similar entre as duas apresentações (nível de confiança das evidências: moderado, com base na qualidade metodológica do estudo) Na púrpura trombocitopênica crônica, os níveis de plaquetas alcançados e considerados satisfatórios foram igualmente alcançados com o uso do Gamunex 10% da Bayer (inativação viral por caprilato/cromatografia) e o Gamimune® à 10% da Bayer (inativação viral por solvente/detergente) em 21 dias. Em seis meses de seguimento, não houve diferença na incidência de eventos adversos (nível de confiança das evidências: baixo, com base na qualidade metodológica do estudo) Da perspectiva de custos hospitalares, existe um redução modesta de custo na utilização da apresentação líquida a 10% comparada a uma apresentação liofilizada de concentração à 6% considerando os valores alocados para pagamento do profissional que prepara a medicação, profissional que administra a medicação, além de uma modesta redução de custo de ocupação de leito e custos totais (nível de confiança das evidências: baixo, com base na qualidade metodológica do estudo) Existe uma preferência por parte do paciente em utilizar a apresentação liquida à 5% que contém maltose em sua formulação à apresentação 10%, com uma adicional redução na incidência de eventos adversos, em pacientes com imunodeficiência primária em 3 meses de tratamento (nível de confiança das evidências: baixo, com base na qualidade metodológica do estudo) Não existem diferenças nos níveis de IgGs alcançados com a utilização de IGIV apresentação líquida à 5% que contém maltose e à pH 4.25 e outra que apresente pH 6.8, porém sem especificação de concentração. Entretanto, a incidência de 29 eventos adversos foi maior na apresentação à 5% ph 4.25. (nível de confiança das evidências: baixo, com base na qualidade metodológica do estudo) 30 ANEXO 1- Estratégia de busca MEDLINE: ("Immunoglobulins, Intravenous"[Mesh] OR "Immunoglobulins, Intravenous" OR immune globulin, intravenous OR intravenous immune globulin OR intravenous antibodies OR intravenous immunoglobulins OR iv immunoglobulins OR immunoglobulins, iv OR ivig OR antibodies, intravenous OR intravenous ig OR endobulin OR flebogamma dif OR grifols brand of intravenous immunoglobulins, human OR gamimune OR gamimmune OR gamimune n OR gamimmune n OR gammagard OR iveegam OR baxter brand of intravenous immunoglobulins, human OR gammonativ OR octapharma brand of intravenous immunoglobulins, human OR gamunex OR bayer brand of intravenous immunoglobulins, human OR globulin-n OR globulin n OR intraglobin OR intraglobin f OR biotest brand of intravenous immunoglobulins, human OR intravenous immunoglobulins, human OR human intravenous immunoglobulins OR immunoglobulins, human intravenous OR immunoglobulins, intravenous, human OR immune globulin intravenous (human) OR modified immune globulin (anti-echovirus antibody) OR privigen OR venimmun OR csl behring brand of intravenous immunoglobulins, human OR sandoglobulin OR venoglobulin OR venoglobulin-i OR venoglobulin i OR alpha globin) AND (((((commercial*) OR ("Pharmaceutical Preparations"[Mesh] OR "Pharmaceutical Preparations" OR preparations, pharmaceutical OR pharmaceutical products OR products, pharmaceutical OR drugs OR pharmaceutic preparations OR preparations, pharmaceutic)) OR ("Drug Compounding"[Mesh] OR "Drug Compounding" OR compounding, drug OR drug preparation OR drug preparations OR preparation, drug OR preparations, drug)) OR ("Therapeutic Equivalency"[Mesh:noexp] OR clinical equivalence OR clinical equivalency OR therapeutic equivalency OR equivalencies, therapeutic OR equivalency, clinical OR equivalency, therapeutic))) 31 Identificação ANEXO 2 – FLUXO DE SELEÇÃO DOS ARTIGOS Referências identificadas através busca nas bases (n = 4084) Elegibilidade Triagem Referências após remoção das duplicatas (n =3870) ) Referências triadas (n = 3870 ) Artigos com texto completo avaliados para elegibilidade (n = 40 ) Referências excluídas (n = 3829 ) Artigos com texto complete excluídos, com as razões (n =30) 7 ECR não comparando diretamente diferentes marcas de IVIG 8 estudos não comparativos Incluídos 14 revisões narrativas Estudos incluídos na análise qualitativa (n = 10 ) 1revisão sistemática com estudos não diretamente comparativos 32 ANEXO 3 – DESCRIÇÃO DETALHADA DOS ESTUDOS ELEGÍVEIS ESTUDO 1 – Kuitwaard e cols.12 2010 Ensaio clínico randomizado, multicêntrico, que comparou a eficácia de duas marcas de imunoglobulinas, Kiovig e Gammagard S/D, ambos da Baxter, em 27 pacientes com poliradiculoneuropatia desmielinizante inflamatória crônica. Para os tratamentos serem considerados como equivalentes, uma margem de equivalência de até 1 ponto na escala utilizada no desfecho primário foi definida. O objetivo primário do estudo foi avaliar a eficácia da imunoglobulina liofilizada 5% (50g/L; Gammagard S/D, Baxter AG, Vienna, Austria) comparada à imunoglobulina líquida 10% IVIg (100g/L; Kiovig, Baxter AG, Vienna, Austria) na diferença absoluta da alteração dos valores de pontuação da escala Overral Disability Sum Score (ODSS) entre os grupos. A alteração na escala em cada um dos grupos foi obtida pela diferença da pontuação obtida após as infusões das imunoglobulinas com seus respectivos valores obtidos inicialmente no estudo. Como desfechos secundários foram comparadas as incidências de eventos adversos entre os grupos No total, 10 infusões foram realizadas em 3 fases distintas. Na primeira fase do estudo, todos os pacientes receberam 2 infusões de Gammagard S/D. A segunda fase foi a fase cega do ensaio clínico randomizado, onde 14 pacientes foram randomizados para receberem 4 infusões de Kiovig e 13 pacientes foram randomizados para receberem 4 infusões de Gammagard S/D.O período de tratamento foi de 6 a 16 semanas, com uma média de 10 semanas. Não há descrição de dosagem e nem da taxa de infusão das imunoglobulinas. A terceira fase foi aberta e todos os pacientes receberam 4 infusões de Kiovig. Essa fase teve como objetivo avaliar a incidência de eventos adversos. Os resultados apresentados no estudo referem-se aos resultados da fase randomizada do estudo. Não houve diferença estatisticamente significante na medida primária de eficácia [diferença absoluta ODSS = - 0.004 (95% IC -0.4 a 0.4)]. Em relação à incidência de eventos adversos, os autores afirmam que ambas as apresentações foram bem tolerada e que não houve diferenças 33 estatisticamente significantes entre os grupos, exceto para calafrios, que a incidência foi menor no grupo alocado para o Kiovig (7% versus 46%, p = 0,03). ESTUDO 2 – Matamoros e cols.13 2005 Ensaio clínico randomizado, aberto, multicêntrico, cross-over, para avaliar a segurança, manutenção dos níveis plasmáticos de IgG antes da infusão e eficácia clínica da imunoglobulina líquida pasteurizada gamaglobulina 10% (Flebogamma 10% Grifols) comparada com a imunoglobulina líquida pasteurizada gamaglobulina 5% (Flebogamma 5% Grifols) em pacientes com imunodeficiências primária e secundária. Os pacientes receberam 2 doses de gamaglobulina 5% antes da randomização e 3 doses das respectivas intervenções alocadas. Trinta e cinco pacientes foram randomizados, sendo 18 alocados para receberem IGIV 10% e 17 para receberem IGIV 5%. A dose estabelecida foi entre 200 e 400 mg/Kg a cada 2-4 semanas. A infusão foi realizada a 0,01-0,02 ml/kg/min nos primeiros 30 minutos, seguido de um fluxo máximo de 0,04 ml/kg/min. Na avaliação do tempo para infusão, o grupo controle (5%) apresentou um tempo de infusão de 2,8 ± 0,7, 2,8 ±0,7 e 2,7 ± 0,7 respectivamente para as 3 infusões e o grupo intervenção apresentou tempos respectivamente de 2,0 ± 0,7, 1,8 ±0,6 e 1,8 ± 0,6, porém sem informar se essa diferença no tempo de infusão foi estatisticamente significante. O estudo apresenta como desfecho de eficácia clínica a pontuação de uma escala análoga visual de bem-estar, aplicada ao paciente e médico assistente, que representa a sensação de bem-estar do paciente com o tratamento alocado. Os resultados são apresentados como descritivos, informando que para ambos os grupos essa satisfação foi superior a 80% e, portanto, não havendo diferença entre as apresentações. O valor de p não é informado, apenas descrito como não significante. Em relação aos eventos adversos, não houve diferenças estatisticamente significantes entre os grupos durante qualquer fase do estudo (p= 0,06). 34 ESTUDO 3 – Bussel e cols.11 2004 Ensaio clínico randomizado, multicêntrico, internacional, de não-inferioridade para avaliar a eficácia e segurança da imunoglobulina líquida IGIV caprilato/cromatografia (IGIV-C, Gamunex® 10%) com a imunoglobulina tratada por solvente/detergente (IGIV-SD, Gamimune® 10%) em pacientes adultos e pediátricos com púrpura trombocitopenica idiopática. Os pacientes foram tratados por 2 dias consecutivos, com administração de uma infusão por dia, 1g/Kg/dia, com uma taxa de infusão inicial de 0,01-0,02 mL/kg/minuto por 30 minutos. Quando bem tolerado, a taxa de infusão foi gradualmente aumentada até o máximo de 0,08 mL/kg/minuto (0.06 mL/kg/minute nos centros do Canadá). Noventa e sete pacientes foram randomizados, 48 para o grupo IGIV-C e 49 para o grupo IGIV-SD. O estudo foi cego em nível de paciente e participante, mas não há descrição sobre cegamento de avaliadores de desfecho. Entretanto, não foi considerado alto risco para viés, considerando que os desfechos são todos medidas laboratoriais. As análises de eficácia foram por protocolo e as de eventos adversos por intenção de tratar. O estudo tem uma limitação importante de interpretação de resultados, porque é descrito que “devido à natureza não sincronizada das amostra entre os pacientes para a contagem de plaquetas, o tamanho das amostras variou diariamente, e, nesse sentido, a comparação direta dos tratamentos devem ser interpretadas com cautela”. Adicionalmente, não é fornecido nenhuma informação quantitativa que permitisse validar os achados considerando essa informação. O desfecho primário foi dias proporção de pacientes que tiveram a concentração de plaquetas aumentada de ≤20 x 109/L para ≥50 x 109/L durante 7 dias pós tratamento e o desfecho secundário foi a manutenção dos níveis de plaqueta ≥50 x 109/L por ≥ 7 dias. Para o desfecho primário, o percentual foi de 90% (35/39) para o grupo IGIV-C e 83% (35/42) para o grupo IGIV-SD [RR 1,08 95% IC (0.91;1.28)] Para o desfecho secundário, o percentual foi de 74% (29/39) para o grupo IGIV-C e 60% (25/42) para o grupo IGIV-SD [RR 1,25 95% IC (0.92;1.70)] Parâmetros laboratoriais e antígenos virais foram adicionalmente investigados, diferenças entre os grupos e sem evidencia de transmissão. Não houve diferenças entre as incidências dos eventos adversos reportados. 35 ESTUDO 4 e 5 - Roifman e cols.16 2003 / Mahadevia e cols.26 2005 Ensaio clínico randomizado, multicêntrico, internacional, duplo-cego, de equivalência, para comparar a segurança, toxicidade e eficácia da IGIV caprilato/cromatografia (IGIV-C, Gamunex® 10%) com a imunoglobulina tratada por solvente/detergente (IGIV-SD, Gamimune® 10%) em pacientes com imunodeficiência primária. Os pacientes foram tratados por nove meses, com doses que variaram entre 100 e 600 mg/kg administradas em dose única por infusão intravenosa a cada 3-4 semanas. O desfecho primário foi proporção de pacientes com pelo menos uma infecção aguda validada (pneumonia, sinusite e exarcebação aguda de sinusite crônica) durante o período do estudo. O desfecho secundário foi proporção de pacientes com todas as infecções (validada e clinicamente definida), tempo para a primeira infecção, taxa anual de infecção, parâmetros de função pulmonar, segurança relacionada à infusão e contaminação viral e eventos adversos reportados. Cento e setenta e dois pacientes foram randomizados para receberem IGIV-C (n=87) ou IGIV-SD (n=85). Entretanto, as análises não foram realizadas segundo o principio de intenção de tratar, sendo incluídos nas análises os dados de 73 pacientes por grupo. O grupo IGIV-C recebeu uma média de 10,2 ± 1,3 infusões e o grupo IGIV-SD recebeu uma média de 10,7 ± 1,6 infusões. As doses por infusão foram similares e respectivamente de 443,4 ±133,9 e 454,1 ± 114,9 mg/Kg. No grupo IGIV-C, 12,3% (9/73) dos pacientes apresentaram um episódio de infecção validado. No grupo IGIV-SD, esse percentual foi de 23,2% (17/73); (p=0,06). Considerando as incidências dos episódios validados e de sinusites agudas definidas clinicamente, a diferença na incidência apresentou diferenças estatisticamente significantes entre os grupos, favorecendo a IGIV-C (11/73 vs. 24/73, respectivamente para os grupos IGIV-C e IGIV-SD; p=0,012). As taxas anuais de infecção foram de 0,18 no grupo IGIV-C e 0,43 no grupo IGIV-SD (p=0,012). Episódios de infecções clinicamente definidos e não validados ocorreram em frequências similares entre os grupos (p não significante). 36 A incidência de eventos adversos foi igual entre os grupos e o evento mais comumente reportado foi cefaleia (6,9% por infusão no grupo IGIV-C e 8% por infusão no grupo IGIV-SD). O estudo de avaliação econômica de Mahadevia e cols. utilizou os dados de eficácia e segurança desse ensaio clínico para realizar uma análise retrospectiva do custo incremental do IGIV-C comparado ao IGIV-SD. Essas análises foram conduzidas sob a perspectiva da sociedade, considerando custos indiretos associados à perda de produtividade e considerando um cenário que pressupõe o mesmo valor de aquisição das duas formulações. Os resultados favoreceram o grupo IGIV-C. Nas análises não ajustadas, o grupo IGIV-C apresentou menores custos por participante com gastos em medicações incidentes ( U$ 307), hospitalizações ( U$954), em consultas médicas ou emergência ( U$41) e custos totais ( U$1294). Considerando os gastos com todas as medicações, o custo por participante das medicações para as infecções validadas e não validadas foram menores no grupo IGIV-C que no grupo IGIV-SD ( U$ 38 para os episódios validados e U$ 80 para os episódios não validados). O custo de produtividade por participantes foi similar entre os grupos (U$ $426 para grupo IGIV-C versus U$418 para o grupo IGIVSD). Nas análises multivariadas, os custos médios foram menores no grupo IGIV-C para prescrição medicamentosa [ -U$302, 95% IC - U$598, –U$6], hospitalização ( -U$ 1454, 95% CI –U$1828; –U$1080) e custos totais ( -U$1304, 95% CI –U$1867; –U$742). Custos associados com produtividade e gastos médicos foram similares entre os grupos. De acordo com os autores, todas as análises de sensibilidade realizadas no estudo continuaram favorecendo o grupo IGIV-C com significância estatística. ESTUDO 6 – Pilz e cols.20 1997 Pacientes em UTI pós cirurgia cardíaca com APACHE II score ≥ 24 foram randomizados para receberem, de forma aberta, IVIgG (Polyglobin N; TroponBiologische Praparate; Cologne, Germany) 12 mL/Kg no dia 1 e 6 mL/Kg no dia 2 ou IVIgG enriquecido com IgM - IgGMA (Pentaglobin; Biotest; Dreieich, Germany) 5mL/Kg nos dias 1,2 e 3. 37 Os desfechos avaliados foram: melhora na pontuação APACHE II, a proporção de pacientes que melhoraram com a terapia, definido como a proporção de pacientes com diminuição da pontuação do APACHE II de > 7 pontos do dia 1 ao dia 5 e a mortalidade intra-hospitalar. O estudo tem limitações metodológicas importantes. Não há descrição adequada de nenhuma das principais características. Ainda, o estudo incluiu 27 pacientes, quando o cálculo do tamanho de amostra com poder de 70% foi de 36. A justificativa relatada é a interrupção precoce do estudo por futilidade, ou seja, por não ter achado diferenças estatisticamente significantes entre os grupos, o que, considerando a interpretação do texto parece representar uma limitação na elegibilidade de pacientes (interrupção por recrutamento) Não houve diferenças estatisticamente significantes entre as duas formulações em relação a nenhum dos desfechos avaliados. A redução na pontuação do APACHE II em 4 dias foi de -6,9 (95%IC -13,4; -0,4) no grupo IVIgG comparado com -5,2 (95%IC -12,5; 2,1) no grupo IgGMA (p=0,51). As proporções de melhora clínica foram de 57% (95% 29 – 82) no grupo IVIgG e 54% (95% IC 25 – 81) no grupo IgGMA (p=0,86). Para a mortalidade intra-hospitalar, as proporções foram de 29% (95%IC 8-58) no grupo IVIgG e 31% (95%IC 9-61) no grupo IgGMA(p=0,90). ESTUDO 7 – Steele e cols.17 1987 Ensaio clínico randomizado, cross-over, multicêntrico, para avaliar a IVIG nativa, 5% sucrose (Cutter Laboratories, Inc., Berkeley, CA) comparada à IVIG modificada (mIVIG), 10% maltose (Gamimune® - Cutter Laboratories, Inc., Berkeley, CA ) em 10 pacientes com imunodeficiência primária. As infusão de 200mg/Kg foram mensais, por 6 meses, e por mais 6 meses após a troca das formulações. Os desfechos clínicos hospitalização, números de dias que os pacientes se sentiam doentes, dias perdidos de escola/trabalho, dias em uso de antibiótico e febre; e a quantificação de anticorpos para vírus, protozoários e bactérias, bem como a opsonização de anticorpos para S.pneumoniae, foram avaliados em 6 meses. As médias dos níveis de IgGs foram determinadas durante um ano, sempre imediatamente após as infusões e na 4° semana após as infusões, antes da infusão subsequente. 38 Em relação à qualidade metodológica do estudo, não há descrição adequada da geração da lista de randomização e sigilo da alocação. O cegamento está descrito apenas em nível de paciente e investigador. Não houve perda de seguimento As médias nos níveis de IgGs variam principalmente em relação à 4° s semanas pós infusões, chegando a cair abaixo dos níveis mínimos em alguns pacientes em ambos os grupos. Imediatamente após as infusões, a média (e desvio padrão) no grupo nativo foi de 664 mg/dL (204) e no grupo mIVIG foi de 743 mg/dL (197). Após 4 semanas das infusões, as médias foram 338 mg/dL (209) no grupo nativo e 392 mg/dL (198) no grupo mIVIG. Duas pessoas (20%) foram hospitalizadas no grupo mIVIG comparadas à nenhuma no grupo IG nativa. O número de dias em que os pacientes estiveram doentes foi de 116 dias no grupo IG nativa e 218 dias no grupo mIVIG. O número de dias perdidos de trabalho ou escola foi de 3 dias no grupo IG nativa e 29 dias no grupo mIVIG. Não estão descritas as medidas de efeito e os valores de p. Maior opsonização de anticorpos foi aparente no grupo nativo até a 3° infusão e depois igual nos grupos. Não houve diferenças entre os grupos para os demais desfechos. ESTUDO 8 – Pirofsky15 1987 Ensaio clínico randomizado, multicêntrico, duplo-cego, cross-over, para comparar a IVIG 5% nativa, líquida, estabilizada com 10% maltose, de pH 4,25, com a formulação Gamimune, de pH 6,8 (Cutter Biological, Berkley, CA) em 39 pacientes com imunodeficiência primária. Os pacientes foram randomizados para receberem três infusões (1 por mês) de uma das formulações e depois trocados de tratamento para receberem mais 3 infusões (1 por mês). A dose foi de 400 mg/Kg e a taxa de infusão iniciou em 0,01-0,02 ml/Kg/min (0,5-1,0 mg/Kg/min) até o máximo de 0,04 ml/Kg/min (2,0 mg/Kg/min). 39 Em relação à qualidade metodológica do estudo, não foram descritos adequadamente nenhum dos domínios avaliados. Não foi descrita a proproção da randomização ou número de paciente por grupo. Não houve perda de seguimento relatada. Existe uma descrição da tolerabilidade das apresentações não especificada por natureza do evento. A maioria dos eventos é relatada considerando o tratamento total e não por grupos. A incidência de eventos foi de 12,8% na IVIG pH 6,8 e 5,1% na apresentação de pH 4,25, sem diferenças estatisticamente significantes entre os grupos. A elevação total média dos níveis séricos de IgGs foram 852 mg/dL no grupo nativo pH 4.25 e 813 mg/dL no grupo mIVIG pH 6.8. Os parâmetros laboratoriais avaliados tiveram alterações transitórias, não clinicamente significantes e não diferiram entre os grupos. ESTUDO 9 - Ochs e cols.14 1980. Ensaio clínico randomizado, cross-over, multicêntrico, para avaliar a IVIG nativa 5%, 0.1 mol/L glicina e 10% maltose (Cutter Laboratories, Inc., Berkeley, CA) comparada à IVIG 10%, 0.3 mol/L glicina (Cutter Laboratories, Inc., Berkeley, CA ) em 30 pacientes com imunodeficiência primária. O estudo não investigou nenhum desfecho de eficácia, apenas a incidência, natureza e severidade dos eventos adversos entre os grupos. Os pacientes foram randomizados para receberem três infusões (1 por mês) de uma das formulações e depois trocados de tratamento para receberem mais 3 infusões (1 por mês). A dose foi de 100-150 mg/Kg e a taxa de infusão foi de 40-60 mg/Kg/h. Em relação à qualidade metodológica do estudo, não há descrição do método de geração aleatória dos tratamentos nem o procedimento de garantia do sigilo da alocação. O cegamento está adequadamente descrito em nível de paciente e investigador apenas. Houve 1 interrupção de tratamento por conta de intolerância no grupo IVIG 10% . Três pessoas apresentaram reações adversas durante o tratamento com a IVIG-maltose. No grupo da IVIG 10%, 22/29 pacientes apresentaram eventos adversos (75,9%). 40 Não houve necessidade de parar o diminuir a taxa de infusão no grupo IVIGmaltose. Por outro lado, 13/22 pacientes no grupo IVIG 10% (59%) tiveram que interromper ou reduzir a taxa de infusão. De todos os pacientes, 93,10% relataram preferência ao tratamento com IVIGmaltose e 6,9% não tiveram preferência. Estudo 10 – Kallerberg e cols.18 2007 Estudo de avaliação econômica, observacional, aberto, unicêntrico, controlado pelo próprio paciente, que investigou a apresentação líquida à 10% (Kiovig®, Baxter) em 5 infusões sucessivas após utilização de uma solução à 6% de uma apresentação liofilizada (Immunoglobuline® IV; Sanquin, Amsterdam, the Netherlands) em velocidade máxima de infusão. Foram avaliados 15 pacientes portadores de imunodeficiência primária Os dados forma coletados como médias das duas últimas infusões de velocidade máxima e compreendem 15 semanas de tratamento. Foram avaliados os custo de recursos humanos, ocupação de leito e custos totais. Para estimativas de valores, foi utilizado a base de dados da Holanda. Como resultado, a apresentação líquida de concentração 10% apresentou redução de custo do profissional de saúde para reconstituição (€ 33.92 ), reduziu o custo por ocupação de leito [ total €7.76 /paciente/infusão (0.81h x €9.58)], reduziu o custo por tempo de infusão (hora do enfermeiro assistente) [€17.74/paciente/infusão] e reduziu o custo total em €59.42 por paciente a cada infusão. A principal limitação do estudo é que não se considerou o custo de aquisição do produto. 41 APÊNCIDE 1: Diferenças nos parâmetros físico-químicos das apresentações comercias de imunoglobulinas intravenosas e impacto na tolerabilidade das medicações A composição das subclasses das imunoglobulinas e excipientes, bem como estabilizantes, açúcares e conservantes é específica de cada formulação, o que não as permitem ser classificadas como fármacos similares. As preparações geralmente contêm 96% de IgG, mas as variações na presença e nas quantidades de outros componentes podem resultar em diferenças de pH, conteúdo de sódio, osmolaridade e estabilidade. Para garantir a eficácia e tolerabilidade das IgGs, a estabilidade das formulações é essencial. Três fatores físico-químicos podem afetar de forma significante a estabilidade da fração de IgG na preparação líquida: agregação, fragmentação e oxidação27. A agregação e fragmentação são propriedades afetadas pela concentração de IgG, pH, temperatura, tempo de armazenamento e agitação28. Oxidação causa descoloração das formulações de IgGs. Desequilíbrio entre as concentrações dos monômeros e dímeros de IgGs pode causar ruptura da integridade das formulações27. Altos níveis de dímeros de IgG estão associados com a redução da tolerabilidade da formulação, levando a um aumento na chance de cefaleia, febre e rubor. Estabilizantes como maltose, sucrose, glicose e os aminoácidos glicina ou Lprolina, são inseridos nas formulações como o objetivo de prevenir a formação de dímeros e polímeros e, portanto, também impactam na tolerabilidade da formulação. O uso de sucrose (Tegeline ® ; Carimune NF ® /Sandoglobulin ®), por exemplo, está associado ao maior risco para falência renal 29-31. Nesse sentido, a reconstituição de uma solução liofilizada a 10% (Gammagard SD® 10%) dobra a concentração de açúcar em relação à concentração de 5% (Gammagard SD® 5%). Por outro lado, as incidências de eventos renais são mais comumente reportadas em formulações que apresentam sucrose (Tegeline® Carimune®) do que as que apresentam os demais açúcares (Octagam® Gamimune® Flebogamma® Gammagard® Gamunex®)32. A concentração de IgA também é sugerida como fator que afeta a tolerabilidade das formulações. Evidências sugerem que o risco para reações sistêmicas é menor com produtos que contêm menor quantidade de IgA33 42 mesmo em pacientes pediátricos34, apesar de ainda permanecerem controvérsias35. As apresentações com maiores concentrações de IgA são a liofilizada Carimune® NF (720 mcg/mL) , seguida da Octagam® 5% (≤ 200 mcg/mL). A que apresenta menor concentração é a liofilizada Gammagard SD (2,2 mcg/mL) e Gammaplex 5% (< 10 mcg/mL). A osmolaridade é um aspecto negativo quando a formulação se apresenta como uma solução hiperosmolar. Nesse sentido, há evidências que demonstram um aumento no risco para AVCs tromboembólicos em pacientes com doença cardiovascular, disfunção renal ou tromboembolismo, devido às alterações hemodinâmicas que a solução hiperosmolar acarreta 36,37. Soluções hiperosmolares são resultantes das apresentações liofilizadas de concentração 5% ou maiores, que são reconstituídas para alcançarem concentrações de 3% a 12% (Gammagard® SD). As apresentações líquidas a 10% (Gammagard® liquida, Gamunex®, Privigen®) têm uma média de osmolaridade que variam de 256 a 320 mOsm/Kg e devem ser preferidas quando utilizadas em pacientes com alto risco para eventos. A concentração de sódio também varia largamente entre as diferentes apresentações comerciais. Deve-se atentar-se para esta diferença especialmente em população com risco aumentado para eventos tromboembólicos, pois contribui para o aumento da osmolaridade da solução. Algumas reconstituições de apresentações liofilizadas de soluções 5% a 10% (Gammagard® SD) podem resultar em soluções salinas a 2%, sendo que podem variar desde traços a 0,9% nas formulações originais. Considerando as demais variáveis, tanto o pH quanto a temperatura de armazenamento também afetam a estabilidade de longo prazo das soluções de IgGs. Em um estudo conduzido para avaliar tal influência 38, o armazenamento entre pH 5.0 e 6.0 foi considerado como pH ótimo por conferir um equilíbrio entre a estabilidade conformacional e a tendência para oligomerização. Temperaturas de armazenamento maiores que 5°C mantém proporções ótimas de dímeros na solução. Um aspecto importante a ser considerado é a substituição de uma marca por outra. Nesse sentido, há evidências que demonstram que 34% dos eventos adversos relacionados à infusão ocorrem durante essa substituição. Os eventos adversos das imunoglobulinas são diferentes em relação ao tempo de ocorrência e as características clínicas. Os efeitos rápidos ocorrem logo após o início da infusão e geralmente representam as características clínicas das reações anafiláticas. Durante a infusão podem ocorrer reações leves e complicações são muito raras. O próximo período das reações adversas típica 43 é 24-48 horas e 72h após a infusão. O mecanismo que ocasiona as reações adversas desse período são baseados na concentração de dímeros de IgG, que estimulam grande produção de citocinas pro-inflamatórias pelas células imunocompetentes. Altos níveis de citocinas estão associados com cefaleia, que é a reação adversa mais comumente reportada, com estimativas atingindo até 72% dos pacientes8. Também estão associadas à febre, calafrios, sintomas de gripe e mal-estar. A incidência de tais eventos varia bastante na literatura, de 2 a 25%. As reações dos anticorpos anti-IgAs presentes no soro do paciente em resposta às concentrações de IgA da formulação das imunoglobulinas são responsáveis pelas reações moderadas ou graves31. Considerando as reações mais graves relacionadas às diferenças nas formulações das imunoglobulinas discutidas acima, fica evidente que as diferentes imunoglobulinas diferem em relação ao risco de eventos adverso e, dessa forma, este deve ser considerado na escolha da formulação a ser utilizada. Assim, é importante parear os fatores de risco do paciente com as características físico-química das diferentes apresentações a fim de diminuir o risco de eventos adversos. O balanço entre o risco e benefício deve ser considerado adicionando evidências de eficácia entre as diferentes apresentações. A tabela abaixo resume essas considerações: Fatores de risco Fatores de risco IGIVs paciente Volume [ ] açucares [ ] sódio Osmolaridade pH Cardíaco X X X Disfunção renal X X X X Anticorpos anti-IgA Risco X X X tromboembólico (pré) diabetes X Pacientes idosos X X X X Neonatos/pediátricos X X X X [ ] IgA X 44 LISTA DE REFERÊNCIAS: 1. Gurcan HM, Keskin DB, Ahmed AR. Information for healthcare providers on general features of IGIV with emphasis on differences between commercially available products. Autoimmunity Reviews 2010;9:553-9. 2. Ahmed AR, Dahl MV. Consensus statement on the use of intravenous immunoglobulin therapy in the treatment of autoimmune mucocutaneous blistering diseases. Archives of dermatology 2003;139:1051-9. 3. Bayrakci B, Ersoy F, Sanal O, Kilic S, Metin A, Tezcan I. The efficacy of immunoglobulin replacement therapy in the long-term follow-up of the B-cell deficiencies (XLA, HIM, CVID). The Turkish journal of pediatrics 2005;47:239-46. 4. 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