198 Relato de caso Schwanoma Vestibular de Crescimento Rápido: Relato de Caso e Revisão de Literatura Vertebroplastia Percutânea Marcelo Lemos Vieira da Cunha1 Denildo César Amaral Veríssimo1 Roberta Rehder1 Daniel Dutra Cavalcantti2 Cassio Zottis Grapiglia2 Luis Alencar Biurrum Borba3 SUMÁRIO ABSTRACT A história natural dos schwanomas vestibulares ainda não é totalmente conhecida, mas a maioria destas lesões tende ao crescimento lento, algumas vezes sem qualquer manifestação clínica durante toda a vida do indivíduo, sendo em ocasiões achado de autópsias. Consideráveis avanços no conhecimento da anatomia da base do crânio, assim como os recursos tecnológicos de eletrofisiologia, como a monitorização intra-operatória têm possibilitado índices crescentes de preservação funcional do nervo facial e da audição. Devido a isso, a ressecção cirúrgica completa da lesão permanece sendo o tratamento de escolha quando possível. No entanto, em casos selecionados, o tratamento conservador é uma opção muito bem aceita, desde que haja um seguimento radiológico estrito. Opções terapêuticas como a radiocirurgia são também válidas e devem sempre ser consideradas no armamentarium neurocirúrgico. Novos estudos com quimioterápicos (bevacizumab) também podem mudar a conduta referente às indicações cirúrgicas. Neste artigo, apresentamos o caso de um paciente sexo feminino, de 35 anos de idade, com schwanoma vestibular à direita, intracanalicular, diagnosticado em 2006 com rápido crescimento volumétrico da lesão verificado em exame de seguimento realizado cinco anos após o diagnóstico inicial. É realizada também uma revisão da literatura mundial, envolvendo os padrões de crescimento do schwanoma vestibular, bem como opções de tratamento e seguimento lesional. The natural history of vestibular schwannomas is not yet fully understood. Most of these lesions have a tendency of slow growth, some of them without clinical manifestations during the patient´s life and the tumor may not be discovered until occasional autopsies. Improvements in the knowledge of skull base microsurgery anatomy as well as the development in neurophysiological monitoring skills, such as intraoperative monitoring, reduce the risk of injury to the facial nerve during vestibular schwannomas resection. Due to the feasibility of electroneurography and intraoperative facial monitoring, gross total surgical removal consists in the treatment of choice whenever possible. In selected cases, conservative treatment is still an accepted option , once follow up imaging control can be strictly done. Radiosurgery also represents a valid treatment choice and should be considered in the neurosurgical armamentarium. New studies concerning the development of chemotherapeutic agents (bevacizumab) may also change the overall assesment related to surgical indications. The article reports a middle-aged woman diagnosed with right vestibular intracanalicular schwannoma in 2006 and presenting with a rapid tumor growth pattern seen in follow-up exams five years later. The paper also present a complete literature review about the growth patterns of vestibular schwannoma as well as treatment options and follow-up of the lesion. Key words: Vestibular Schwannoma, Proliferative index, Tumor size. Palavras-chave: Schwanoma vestibular, Índice Proliferativo, Tamanho do tumor. 1 - Médico residente em neurocirurgia do Departamento de Neurocirurgia do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba - Curitiba / PR / Brazil. 2 - Neurocirurgião, membro do Departamento de Neurocirurgia do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba - Curitiba / PR / Brazil. 3 - Chefe do Departamento de Neurocirurgia do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba - Curitiba / PR / Brazil. Recebido em 03 de agosto de 2011, aceito em 12 de setembro de 2011 Cunha MLV, Veríssimo DCA, Rehder R, Cavalcantti DD, Grapiglia CZ, Borba LAB - Schwanoma Vestibular de Crescimento Rápido: Relato de Caso e Revisão de Literatura J Bras Neurocirurg 22 (4): 198-204, 2011 199 Relato de caso Introdução O schwanoma vestibular (SV) é a lesão mais freqüente na topografia do ângulo ponto-cerebelar, atingindo índices de 8090% dos tumores nesta região16. O tratamento consiste, em sua grande maioria, de excisão cirúrgica a qual pode ser realizada de diferentes maneiras. A escolha da abordagem depende basicamente do tamanho da lesão, idade do paciente e status da função auditiva pré-operatória ipsilateral e contralateral à lesão. No entanto, o SV geralmente assume um padrão lento de crescimento e o tratamento conservador, sobretudo em lesões pequenas e em idosos, é sugerido3,29,32. Apresentamos um caso de SV de tratamento inicialmente conservador em paciente jovem baseado em aspectos clínicos e radiológicos que evoluiu com rápido crescimento no período de poucos anos. Relato do Caso Figure 1. RM, axial, seqüência ponderada em T2: Lesão iso/hipointensa restrita ao CAI direito. Evidencia-se remodelação com aumento das dimensões do CAI no lado referido. DA, sexo feminino, 35 anos de idade, encaminhada ao Serviço de Neurocirurgia do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba para investigação de cefaléia holocraniana acompanhada de vertigem, não associada a náuseas e vômitos. Paciente relata diagnóstico prévio de schwanoma vestibular direito restrito ao canal auditivo interno, de aproximadamente 12 mm de espessura ( Fig. 1 e 2), realizado em outro serviço há cinco anos, sem seguimento adequado. À época apresentava crises de vertigem freqüentes como achado clínico, sem alteração ao exame físico neurológico conforme relato médico da época. Crises vertiginosas apresentaram melhora parcial após uso de antivertiginoso e antidepressivo tricíclico. Figure 2. RM, coronal, seqüência ponderada em T2: Lesão iso/hipointensa em CAI direito. A referida paciente iniciou com piora dos episódios de vertigem, cefaléia intensa após esforço físico e hipoacusia à direita três meses prévios à admissão de nosso serviço. Ao exame físico neurológico admissional, paciente apresentava-se lúcida e orientada. Ausência de déficit motor. Sem sinais/sintomas de comprometimento da função cerebelar. Ausência de alteração de reflexos profundos e superficiais. Nervos cranianos preservados à exceção do VIII nervo craniano direito. Condução aérea maior que condução óssea à direita verificada através do teste de Rinne. Lateralização à esquerda verificada pelo teste de Weber. Cunha MLV, Veríssimo DCA, Rehder R, Cavalcantti DD, Grapiglia CZ, Borba LAB - Schwanoma Vestibular de Crescimento Rápido: Relato de Caso e Revisão de Literatura J Bras Neurocirurg 22 (4): 198-204, 2011 200 Relato de caso Audição classificada como classe III segundo classificação de Gardner-Robertson. Ressonância magnética de crânio ( RM ) evidenciando processo expansivo situado no ângulo ponto-cerebelar direito, com extensão para o conduto auditivo interno ( CAI ) , medindo aproximadamente 30 x 35 x 33 mm nos maiores diâmetros (craniocaudal x anteroposterior x laterolateral), heterogêneo em T1 e T2 e com realce significativo pelo contraste endovenoso. (Fig. 3 e 4). Sistema ventricular supratentorial com topografia, morfologia e dimensões normais. Submetida a craniotomia retrossigmoidéia direita para exérese de tumor em ângulo ponto-cerebelar direito sem intercorrências. Imagem pós-operatória satisfatória ( Fig. 5). Figure 5. TC crânio controle PO imediato: exérese completa da lesão, com estigmas pós-cirúrgicos da abordagem retrosigmóidea e pneumoencéfalo em região pontina e cerebelar à direita. Figure 3. RM, axial, seqüência ponderada em T1 (com contraste paramagnético): Lesão expansiva de grandes dimensões, com intenso realce ao administrar contraste, ocupando CAI ,extendendo-se ao ângulo ponto-cerebelar direito. Essa lesão produz compressão e deslocamento das estruturas adjacentes do tronco e do IV ventrículo. (Rápido crescimento lesional conforme demonstra RM realizada em torno de 5 anos após o primeiro exame). Paciente apresentou boa evolução pós-operatória recebendo alta hospitalar no quarto dia pós-operatório. Ao exame físico no primeiro dia pós-operatório paciente apresentava-se lúcida, orientada, com House-Brackman grau IV à direita com teste de Schirmer positivo. Relato de melhora de audição pela paciente ao falar no telefone. Laudo histopatológico ( Fig.6 ) revelou lesão compatível com schwanoma . Imuno-histoquímica demonstrou valor de 5% no Ki67/Mib 1. Discussão Figure 4. RM, axial, seqüência em T2 demonstrando lesão iso/hiperintensa na região do ângulo ponto-cerebelar, com achados típicos de massa extra-axial: “fenda” distinta de líquor entre o tumor e o encéfalo, com deslocamento de estruturas adjacentes. A história natural do SV não é totalmente conhecida, mas a maioria dessas lesões apresenta tendência a um crescimento lento, muitas vezes não apresentando nenhum tipo de sintoma durante toda a vida do indivíduo sendo diagnosticado somente à autópsia. Infelizmente, não há um comportamento regular, de forma que possibilite prever com precisão a taxa de crescimento lesional. Podem ocorrer diferentes padrões de crescimento entre Cunha MLV, Veríssimo DCA, Rehder R, Cavalcantti DD, Grapiglia CZ, Borba LAB - Schwanoma Vestibular de Crescimento Rápido: Relato de Caso e Revisão de Literatura J Bras Neurocirurg 22 (4): 198-204, 2011 201 Relato de caso lesões similares e até no mesmo tumor ao longo dos anos. Cerca de 70% dos SVs diagnosticados não crescem e em até 16% desses podem até mesmo apresentar involução. Dos tumores que apresentam aumento de tamanho, 70% tem crescimento inferior a 2 mm/ano29,31,40. O maior desenvolvimento da biologia e genética molecular permitiu a localização do gene responsável pela ocorrência do SV. Trata-se de distúrbio no gene da neurofibromatose tipo 2 (NF-2) localizado no cromossomo 22 banda q12 – o mesmo do meningioma e mesoteliomas25,43. O produto do gene NF-2 é a moesin-ezrin-radixin-like protein, chamada simplificadamente de merlin39. A merlin atua como supressor tumoral e mutações no gene NF-2 levariam a deficiência desta proteína ocasionando ruptura da sinalização intracelular resultando em transformações celulares que originam os SVs43. Muitas proteínas que interagem com a merlin foram identificadas. No entanto, como essa interação proteína-proteina se relaciona com a atividade de supressão tumoral ainda é pobremente compreendida. Fatores extrínsecos supostamente implicados na alteração da biologia molecular tumoral tais como medicações (eritropoietina, metrotexate) e radioterapia ainda carecem de mais estudos para correlação causal6,14,21. No momento seus papéis permanecem indefinidos. Usualmente, a rápida expansão do volume tumoral esta relacionado a um aumento do componente cístico, em lesões sabidamente císticas, e em casos de neurofibromatose tipo II6. Mais raramente, o crescimento rápido está associado a hemorragias intratumorais, as quais se apresentam, geralmente, com quadro clínico de instalação súbita21. Além de condições benignas responsáveis pelo crescimento anormalmente rápido dos SVs, o neurocirurgião deve suspeitar e investigar causas de histologia maligna. Além da degeneração maligna do próprio SVs, as metástases, embora pouco freqüentes, são bem relatadas na literatura, sobretudo com tumor primário em mama9,19,22,34,42,44,45. Podem mimetizar o aspecto habitual do SV à RMN, tornando o diagnóstico pré-operatório difícil. Muitas vezes, a suspeita de lesão metastática se dá somente no trans operatório devido à lesão anormalmente vascularizada na topografia do ângulo ponto cerebelar. A taxa de crescimento reportada na literatura gira em torno de 0–30 mm/ano3. Três diferentes taxas de crescimento são sugeridas13: lenta (0,02 cm/ano), média (0,2 cm/ano) e rápida (1 cm /ano). O último segmento corresponde apenas 9 a 13% dos casos de SVs. Geralmente a taxa de crescimento é maior em jovens e em tumores maiores se comparado aos SVs em idosos e de tamanho menor33. Um aumento no tamanho do tumor maior que 10 mm/ ano é considerado extremamente raro6. No entanto, o crescimento do volume tumoral com demonstração radiográfica não necessariamente representa proliferação celular tumoral. Mulheres apresentam um índice de proliferação maior que os homens. Isto pode ser traduzido pela maior incidência desse tipo de lesão no sexo feminino que compreendem 58 a 76% dos casos. Alterações hormonais têm sido sugeridas como possível explicação para o maior crescimento tumoral relatado durante a gestação1. Já na série de Hwang et. al12, idade, sexo, duração dos sintomas não apresentaram correlação com índice de proliferação tumoral. Schuknecht25, ao revisar 1400 ossos temporais, encontrou uma incidência de 0,57% de SV. Esse número é bem superior aos SVs clinicamente diagnosticados na população geral: somente 0,001%29. O desenvolvimento contínuo dos exames de imagem, sobretudo na Ressonância magnética nuclear (RMN) utilizando contraste de gadolíneo, permite um maior número de SVs serem diagnosticados, especialmente, os menores sem sintomas ou com sintomas mínimos os quais eram subdiagnosticados no passado. A interpretação radiológica, associada ao exame clínico, são os instrumentos utilizados para avaliação do crescimento tumoral, uma vez que a piora do audiograma não esta estatisticamente relacionada ao crescimento do tumor23. Há duas formas de mensuração dos SVs na RMN. A primeira consiste na análise linear ou unidimensional (1D) considerando o maior diâmetro da lesão. É a mais amplamente utilizada no controle radiológico pela fácil e rápida execução. Está baseada nos critérios RECIST (Response Evaluation Criteria in Solid Tumors) fundamentado no modelo teórico de que os tumores sólidos crescem uniformemente em todas as dimensões. O formato irregular do SV, ocasionado pela anatomia peculiar do meato acústico interno (conduto auditivo interno ou CAI) e ângulo ponto cerebelar, torna imprópria a acurácia de representação do crescimento de todo o tumor. O meio mais adequado de mensuração é o volumétrico ou tridimensional (3D). Embora maior dispêndio de tempo e esforço seja requerido, Harris et al3 comprovaram em seu estudo a maior sensibilidade no método 3D em relação ao 1D para rastreio do crescimento e progressão dos SVs. Os resultados desse estudo demonstram uma prova quantitativa de que as medidas 1D subestimam as taxas de crescimento dos SVs e de que a medida 3D deve ser fortemente considerada quando a taxa de crescimento do tumor é considerada para a decisão terapêutica. Uma correta mensuração do volume tumoral ganha ainda mais importância se levarmos em consideração que alguns autores consideram a taxa de crescimento tumoral no primeiro ano após o diagnóstico como preditor do comportamento tumoral nos anos subseqüentes29. Cunha MLV, Veríssimo DCA, Rehder R, Cavalcantti DD, Grapiglia CZ, Borba LAB - Schwanoma Vestibular de Crescimento Rápido: Relato de Caso e Revisão de Literatura J Bras Neurocirurg 22 (4): 198-204, 2011 202 Relato de caso O contorno tumoral revelado nos exames de imagem pode refletir alterações fibróticas na consistência tumoral. Lee et al.17 afirmam que o tamanho do tumor é influenciado pela angiogênese e celularidade ao invés de atipia, fibrose ou necrose. Schultz et al35, relaciona o contorno lobulado e o padrão heterogêneo da intensidade de sinal a processo maligno ou crescimento rápido, fato que é contestado por outros estudos12. O tratamento conservador é uma opção bem reconhecida, sobretudo, em idosos e lesões somente intrameatais. No entanto, o fator preditivo mais importante para integridade do nervo facial e audição é o tamanho do tumor8. Outros fatores, como biologia do tumor, sintomas presentes e experiência cirúrgica também são importantes, mas difíceis de quantificar. Quanto menor a lesão, maior a chance de preservação das referidas funções. Há de se ter em mente que a mudança de tamanho da lesão não é constante e os sintomas flutuam devido à compensação central1. Outro fato negligenciado pela política do “watch-and-see”, referese à provável e imprevisível perda auditiva mesmo em tumores sem taxa de crescimento significativo8. Estudos histopatológicos do osso temporal demonstraram neo formação óssea dentro da cóclea sugestiva de etiologia vascular para a perda auditiva, mas isso ainda deve ser melhor elucidado24. Sendo assim, o melhor período para preservação de função auditiva pode ser perdido. Atualmente não há nenhum tipo de tratamento medicamentoso para os SVs. O quimioterápico bevacizumab vem sendo utilizado em estudos de pacientes com NF-2. O bloqueio do fator de crescimento endotelial vascular (FCEV) ocasionado pelo bevacizumab tem ocasionado a melhora auditiva em alguns pacientes e também está associado à redução volumétrica da maioria dos SVs que apresentaram crescimento progressivo17,30. São aguardadas conclusões a respeito, mas em futuro próximo pode vir a serem incluído como opção terapêutica. Alguns autores argumentam que o tamanho crítico para bons resultados microcirúrgicos seria de 1,5 a 2 cm de extensão extracanalicular, baseado em abordagens translabiríntica e retrossigmóide20,38. Segundo a série de Gjuric et al8, pacientes com lesão restrita ao meato apresentam 67% de preservação da audição, ao passo que em paciente com lesões de 1,5 cm de extensão extracanalicular esse número reduz a 21%. Bederson et al2 optou por tratamento conservador em 70 pacientes de uma série de 178. Com seguimento médio de 26 meses, nove (13%) dos 70 pacientes apresentaram crescimento tumoral rápido com piora clinica, necessitando de intervenção cirúrgica após 14 meses de observação em média. Ao que parece, há um novo crescimento mais acelerado em SVs submetidos à ressecção cirúrgica, o que exige manutenção da vigilância neurocirúrgica em relação ao crescimento no pós- operatório, sobretudo em ressecções parciais1,15,42. A maioria das recorrências é tardia, com pico em torno de oito anos de seguimento pós-cirúrgico. Na série publicada por Ogawa et al28 o tempo de duplicação do SV de tratamento conservador é, em média, de 36,5 meses. Já nos SVs tratados cirurgicamente e que apresentaram recorrência foi de 31,8 meses. Em um relato de caso de Harada et al10 o índice proliferativo, através da imunohistoquímica Ki-67/MIB-1, avaliado em um mesmo paciente com SV recorrente foi na primeira, segunda e terceira cirurgias de 2.3, 4.6 e 14.7% respectivamente. A quantidade de tumor ressecado também parece ter valor prognóstico. Thomassin et al37 em sua série relata uma taxa de recorrência dos SVs de 9,2% para ressecção completa, números semelhantes aos encontrados na literatura mundial que giram em torno de 8 a 10%. Nesta mesma série esse índice atinge 20% nos casos de ressecção parcial. Em um seguimento com RM de encéfalo realizado por Kameyama et al15, com período médio de 16 anos, sugere-se que tumores residuais restritos a topografia intracanalicular têm reduzido risco de recrescimento após ressecção subtotal do SVs. O resultado cirúrgico em lesões císticas é menos favorável se comparados a lesões sólidas. Os SVs císticos apresentam maior agressividade devido à aderência ao tronco cerebral e ao nervo facial1. Comparado aos tumores sólidos, um maior grau de atipia nuclear é associado aos SVs císticos. Há a orientação da tentativa de ressecção capsular nesses casos para impedir o rápido recrescimento lesional inerente a este tipo de SV e a tendência de reoperação. Os melhores resultados funcionais são atrelados a ressecção da lesão quanto menor for seu volume. Deve-se ter em mente também que nas lesões císticas, assim como nas de grande volume, a radiocirurgia não deve ser utilizada como uma opção de tratamento12. Sendo assim, a política do “wait and scan” não encontra lugar em SVs com variante cístico. O índice proliferativo Ki-67 reflete o potencial crescimento tumoral e pode ser utilizado como um guia no seguimento desses pacientes, sobretudo nos de ressecção parcial. Os maiores níveis são encontrados na cápsula e os menores no parênquima da lesão. O valor médio do Ki-67 nos SVs é em torno de 0-3% 1,18 , valor abaixo do encontrado na paciente relatada. Estudo realizado por Tella et al.36 analisou a correlação de aspectos clínicos e imunohistoquímicos nos SVs. O tamanho dos tumores correlacionou-se somente com o índice proliferativo (Ki-67), não havendo correlação com significância estatística entre a idade dos pacientes, duração dos sintomas e esse índice proliferativo. A relação entre o Ki-67 e a estimativa de crescimento dos SVs ainda necessita de maiores estudos e seu valor ainda que possa ter algum valor prognóstico deve ser visto com algumas ressalvas. Por exemplo, Chen et al4 relata um caso com contagem de Ki- Cunha MLV, Veríssimo DCA, Rehder R, Cavalcantti DD, Grapiglia CZ, Borba LAB - Schwanoma Vestibular de Crescimento Rápido: Relato de Caso e Revisão de Literatura J Bras Neurocirurg 22 (4): 198-204, 2011 203 Relato de caso 67 de atividade moderada em tumores com taxa de crescimento de 11,4 mm/ano e, contraditoriamente, observou um índice de Ki-67 de alta atividade em um tumor com crescimento de 1,3 mm/ano. Os valores de Ki-67 também devem ser interpretados corretamente nos SVs císticos os quais apresentam, sabidamente, maior propensão ao crescimento rápido. No entanto, nestas lesões o Ki-67 é significativamente menor, possivelmente explicado pela baixa densidade celular no tipo cístico. A tomografia por emissão de pósitrons (PET) tem sido utilizada para avaliar a atividade metabólica dos SVs no pré-operatório e tentar correlacionar com a atividade metabólica pós-operatória através do Ki-67. Contudo, nenhuma relação foi encontrada até o momento43. Um estudo conduzido por Dalgorf et al5 realizou uma investigação imunohistoquímica de receptores hormonais e a concentração do fator de crescimento endotelial vascular (FCEV) nos SVs em mulheres com idade média de 32,3 anos sem estigmas de neurofibromatose. Neste estudo há uma significante correlação entre a concentração do FCEV na taxa de crescimento dos SVs. Com relação aos receptores de estrogênios (RE) e receptores de testosterona (RT) não foram encontrados nenhuma evidência histopatológica relacionando RT e RE ao crescimento dos SVs. Porém, o papel dos hormônios sexuais no crescimento dos SVs pode ser de forma indireta, por exemplo, interagindo com a proteína merlin. O avanço no conhecimento dos mecanismos moleculares inerentes à formação dos SVs está em constante progresso. Uma melhor compreensão das funções e interações da proteína merlin com outras proteínas pode culminar com novas opções de tratamento para os SVs. No momento, o tratamento observacional é válido, sobretudo em idosos, lesões intracanaliculares e em pacientes assintomáticos. Contudo, como proposto por Samii et al33, deve-se ter uma estrita monitorização do crescimento tumoral através de imagem, particularmente nos primeiros 24 meses após o diagnóstico. Lesões sintomáticas, císticas e em pacientes portadores de NF-2 demandam um excisão tumoral mais precoce. 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