Pró-Reitoria de Graduação Curso de Enfermagem Trabalho de Conclusão de Curso PERFIL EPIDEMIOLÓGICO E SOCIOECONÔMICO DE GESTANTES ACOMPANHADAS NO PRÉ-NATAL DE ALTO RISCO ATENDIDAS NO HOSPITAL DA ASA SUL (HRAS). Autoras: Isaurina Carvalho dos Santos e Maura Lúcia D’Assunção dos Santos Orientadora: Fernanda Monteiro de Castro Fernandes Brasília - DF 2011 ISAURINA CARVALHO DOS SANTOS MAURA LÚCIA D’ASSUNÇÃO DOS SANTOS PERFIL EPIDEMIOLÓGICO E SOCIOECONÔMICO DE GESTANTES ACOMPANHADAS NO PRÉ-NATAL DE ALTO RISCO ATENDIDAS NO HOSPITAL DA ASA SUL (HRAS). Trabalho de conclusão de Curso apresentado ao Curso de Enfermagem da Universidade Católica de Brasília para obtenção do título de bacharel em enfermagem. Orientadora: Fernanda Castro Fernandes Coorientadora: Lídia Peres Brasília 2011 Monteiro de Monografia de autoria de Isaurina Carvalho dos Santos e Maura Lúcia D’Assunção doa Santos, intitulada “PERFIL EPIDEMIOLÓGICO E SOCIOECONÔMICO DE GESTANTES ACOMPANHADAS NO PRÉ-NATAL DE ALTO RISCO ATENDIDA NO HOSPITAL DA ASA SUL HRAS”, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de bacharelado em Enfermagem da Universidade Católica de Brasília, em 16 de junho de 2011, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada: _______________________________________ Profª. Drª. Maria do Socorro Nantua Evangelista _______________________________________ Profº. MSc. Mauricio de Oliveira Chaves _______________________________________ Profª. MSc. Fernanda Monteiro de Castro Fernandes Brasília 2011 RESUMO Referência: SANTOS, Isaurina C; SANTOS, Maura L.D. Perfil Epidemiológico e Socioeconômico de gestantes acompanhadas no pré-natal de alto risco atendidas no Hospital da Asa Sul (HRAS). 2011. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Católica de Brasília. Brasília, 2011. A gestação é um fenômeno biológico que envolve transformações de aspectos fisiológicos, psicológicos, sociais, econômicos e culturais na vida da mulher podendo se desenvolver em um processo normal sem a presença de intercorrências. No entanto, devido a algum agravo, que pode ser causado tanto por uma patologia quanto por fatores sociais, há uma parcela de gestantes que podem apresentar uma evolução desfavorável tanto para a mãe como para o feto sendo designado como gestação de alto risco. A pesquisa teve como objetivo Identificar qual o perfil epidemiológico e socioeconômico de gestantes acompanhadas no pré-natal de alto risco; descrever o perfil das gestantes no pré-natal de alto risco; analisar se os fatores socioeconômicos podem influenciar nos agravos das gestantes de alto risco e, quais os agravos mais comuns apresentados pelas gestantes de alto risco. Trata-se de uma pesquisa quantitativa e estudo transversal, cujos dados foram coletados em um Hospital Regional da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, especializado em atendimentos à gestante e a criança. Foram utilizadas entrevistas de forma estruturada com um total de 50 gestantes. Nos resultados obtidos constatou-se que o fator socioeconômico das gestantes que fazem parte do grupo de alto risco do HRAS não foi o principal agravante do quadro clínico gestacional. Observouse que as doenças pré-existentes se constituem como um fator preponderante para o agravo da saúde da mãe e do feto. Outro dado importante foram as características demográficas, uma vez que a distância e a as maneiras para transpô-la são fatores que influenciam o acesso da gestante ao atendimento no serviço de saúde, especialmente quando se consideram populações de baixa renda”. A pesquisa evidenciou que a maioria das gestantes entrevistadas reside longe da unidade de saúde da qual fazem o tratamento para a gestação de alto risco, dificultando o acesso à assistência ao pré-natal para a gestante. Palavras chaves: Gravidez. Gestação de alto risco. Perfil socioeconômico. ABSTRACT Pregnancy is a biological phenomenon which involves changing in physiologic, psychological, social, economical and cultural aspects in woman’s life; it can occur in a normal process without presence of complications. However, because of any harm which can be caused either by pathology or social factors there is a group of pregnant women that might show an unfavorable evolution for the mother and for the baby, being named as risky pregnancy. The research’s goal is to identify the epidemiologic and social economic profile of the pregnant women followed by medical monitoring with possible risky delivery. It tries to clarify the consequences that the social economic factor can influence in complications of risky pregnant women, as well as identify the factors that cause complications in risky pregnancy. It is about a quality research which data was collect in a Regional Hospital from Health Office in Distrito Federal specialized in treatments of pregnant women and child. Interviews were used in a structured way in a total of 50 pregnant women. The results showed that the social economic factor of pregnant woman who is part of risky group in HRAS was not the main complication cause in pregnant clinical situation. It was observed that previous sickness constitute a relevant aspect to mother and child health complication. An important point was the demographic characteristic, once the distance and the several ways to overcome it are reasons to compromise the doctor’s service visiting, especially when low income population is considered. The research highlighted that most of the interviewed pregnant women live far away from the Health Unit where they are assisted in their risky pregnancy, which makes the access to doctor’s monitoring before delivery more difficult to pregnant women. Keywords: Pregnancy. Risky pregnancy. Social economic profile. LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Distribuição das entrevistadas em tipo de moradia e local de residência...................................................................................................................36 Tabela 2 - Distribuição das entrevistadas no pré-natal de alto risco do HRAS pelo grau de escolaridade e tipo de ocupação..................................................................37 Tabela 3 - Distribuição de renda familiar das gestantes entrevistadas no pré-natal de alto risco do HRAS.....................................................................................................39 Tabela 4 – Número de gestações e o tipo de parto das gestantes entrevistadas no pré-natal de alto riso do HRAS...................................................................................40 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Distribuição das gestantes atendidas no pré-natal de alto risco do HRAS pela faixa etária..........................................................................................................35 Gráfico 2 - Estado civil das gestantes entrevistadas no pré-natal de alto risco do HRAS..........................................................................................................................36 Gráfico 3 - Distribuição de doenças pré-existentes apresentadas pelas gestantes entrevistadas no pré-natal de alto risco do HRAS......................................................41 Gráfico 4 - Distribuição das imunizações das gestantes entrevistadas no pré-natal de alto risco do HRAS.....................................................................................................42 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 9 1.2 JUSTIFICATIVA ......................................................................................................... 11 1.3 HIPÓTESE................................................................................................................. 11 1.4 OBJETIVOS DO ESTUDO......................................................................................... 12 1.4.1 Objetivo geral ...................................................................................................... 12 1.4.2 Objetivos específicos .............................................. Erro! Indicador não definido. 2 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................................. 13 2.1 GRAVIDEZ ................................................................................................................ 13 2.2 MUDANÇAS NO ENFOQUE DE ATENDIMENTO À GESTANTE .............................. 14 2.3 FATORES EPIDEMIOLÓGICOS DA GESTAÇÃO DE ALTO RISCO ......................... 17 2.3.1 Assistência ao pré-natal e a visão do enfermeiro ................................................ 19 2.3.2 Rotina de atendimento à gestante nas unidades básicas de saúde .................... 21 2.4 Gestação de alto risco............................................................................................ 25 2.5 Ações de implementação de redução de riscos ..................................................... 29 3 METODOLOGIA ............................................................................................................... 30 3.1 TIPO DE PESQUISA ................................................................................................. 30 3.2 AMOSTRA ................................................................................................................. 30 3.3 LOCAL DE ESTUDO ................................................................................................. 31 3.4 ANÁLISE DOS DADOS ............................................................................................. 32 3.4.1 Aspectos éticos da pesquisa ............................................................................... 33 3.4.2Análise e discussão dos resultados...................................................................... 34 4. CONCLUSÃO .................................................................................................................. 45 9 1 INTRODUÇÃO Esta pesquisa teve como objetivo se fazer uma investigação sobre o Perfil epidemiológico e socioeconômico de gestantes acompanhadas no pré-natal de alto risco atendidas no Hospital da Asa Sul (HRAS). A gestação é um fenômeno que envolve transformações de aspectos fisiológicos, psicológicos, sociais, econômicos e culturais na vida da mulher, podendo ser um processo de gestação normal sem a presença de intercorrências. No entanto, há uma parcela de gestantes que por sofrerem algum agravo, apresentam maiores probabilidades de evolução desfavorável tanto para o feto como para mãe, constituindo o chamado “gestante de alto risco”. O fator socioeconômico pode ser uma das causas que podem influenciar o surgimento de agravos a saúde das gestantes de alto risco, (BRASIL, 2007). O risco gravídico pode causar conseqüências graves tanto para mãe quanto para o feto. As intercorrências que podem acontecer por parte materna, podem ser decorrentes de doenças pré-existentes ou adquiridas durante a gestação podendo causar uma alteração permanente à saúde da mãe ou até sua morte. Em relação ao feto as implicações podem ser desde uma má formação fetal, baixo peso ao nascer, maior freqüência de internações no primeiro ano de vida e ocorrência de abortos, (DOURADO, 2006). No Brasil, em toda sua extensão, as disparidades socioeconômicas se refletem nas taxas de mortalidade neonatal e infantil. Sendo assim, o pré-natal, como uma das medidas de prevenção de riscos à gravidez, deverá ser iniciado o mais precoce possível, porque é durante este período que a mulher gestante recebe acompanhamento médico e orientação sobre: cuidados com a alimentação, controle de peso, uso de polivitamínicos, tratamento odontológico e realização de exames que poderão identificar alguma intercorrência gravídica, (GAMA, 2002). O profissional de enfermagem pode atuar de forma significativa no controle e redução das complicações relacionadas com a função reprodutiva, por meio de uma adequada assistência ao ciclo gravídico-puerperal, ampliando os conhecimentos para proporcionar uma melhor assistência às gestantes de alto risco nos serviços de 10 pré-natal e agindo na orientação de planejamento familiar, de acordo com o contexto socioeconômico e cultural, (DOURADO, 2006). 11 1.2 JUSTIFICATIVA A importância de se pesquisar o perfil socioeconômico das gestantes de alto risco encontra-se no fato de que o fator socioeconômico tem influencia sobre as ações de saúde. A desigualdade social e econômica tem se caracterizado como um fator importante de diferenciação das condições de saúde da população. Indicadores como escolaridade, a renda e o local de moradia determinam tanto o acesso, quanto a qualidade da assistência prestada pelos serviços de saúde. A repercussão da qualidade da assistência de saúde na área materno-infantil começa desde a gestação e persiste no momento do parto, no puerpério e na atenção à criança, (BRASIL, 2007). 1.3 HIPÓTESE A hipótese desta pesquisa é a de que as gestantes que fazem parte do grupo de alto risco do HRAS possuem características socioeconômicas desfavoráveis o que contribui para a piora do quadro clínico. 12 1.4 OBJETIVOS DO ESTUDO 1.4.1 Objetivo geral Identificar qual o perfil epidemiológico e socioeconômico de gestantes acompanhadas no pré-natal de alto risco atendidas no hospital da asa sul (HRAS). 1.4.2 Objetivos específicos Descrever o perfil das gestantes no pré-natal de alto risco; Analisar se os fatores socioeconômicos podem influenciar nos agravos das gestantes de alto risco; Quais os agravos mais comuns apresentados pelas gestantes de alto risco. 13 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 GRAVIDEZ A gravidez é um acontecimento biológico e natural na vida da mulher, que se desenvolve em um contexto social e cultural. Na investigação das reações humanas e conhecimento melhor das influências e complexidade das vivências do ciclo grávido-puerperal, é importante considerar fatores como a história pessoal da gestante e seu passado obstétrico, o contexto da gravidez, sua idade e vínculo com o parceiro (DOURADO, 2006). Na gestação mesmo havendo alterações anatômicas, endócrinas, hemodinâmicas e imunológicas importantes, o organismo feminino se mantém em equilíbrio dinâmico por mecanismos compensatórios. No entanto, o limite entre a anormalidade e a doença é extremamente pequeno e manter o equilíbrio representa risco elevado de morbimortalidade (MARTINS, 2003). Em se tratando de um fenômeno fisiológico, a evolução da gravidez se dá na maior parte dos casos sem intercorrências. Apesar desse fato, há uma pequena parcela de gestantes que, por possuírem características específicas, ou por sofrerem algum agravo, apresenta maiores probabilidades de evolução desfavorável, tanto para o feto como para a mãe, sendo assim designadas "gestantes de alto risco” (BRASIL, 2000). A saúde reprodutiva foi definida em 1994, na Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, como Um estado de completo bem-estar físico, mental e social em todas as matérias concernentes ao sistema reprodutivo, suas funções e processos, e não apenas mera ausência de doença ou enfermidade. Dá-se a entender, que a pessoa possa ter uma vida sexual segura e satisfatória, tendo a capacidade de reproduzir e a liberdade de decidir sobre quando e quantas vezes devem fazê-lo (BRASIL, 2007). Os riscos que envolvem a mãe e o feto durante a gestação podem ser, a morte perinatal, morte materna, trabalho de parto prematuro, entre outros. Dentro das patologias que se manifestam ou se agravam na gestação, a hipertensão arterial e a diabetes são as mais freqüentes levando a gestante a ser incluída no chamado gravidez de alto risco (DOURADO, 2006). 14 2.2 MUDANÇAS NO ENFOQUE DE ATENDIMENTO À GESTANTE Durante décadas, o enfoque das políticas de saúde da mulher no Brasil era exclusivamente para o atendimento às demandas decorrentes da gestação e do parto, restringindo a atenção ao processo reprodutivo. Havia como base a especificidade biológica feminina e o seu papel social de mãe e doméstica. Entretanto, nos anos 80, com o aumento alarmante dos casos de AIDS e as mudanças no padrão procriativo, aspectos como a sexualidade ganharam relevância em relação à contracepção, a gravidez e o parto. Com essas mudanças, surgiu a dificuldade por parte do Ministério da Saúde em abordar a saúde da mulher de forma integral, sem desconsiderar problemas graves e complexos. Houve um direcionamento de ações para identificar os maiores problemas e alterar a realidade constatada com o objetivo de diminuir as taxas de mortalidade por causas evitáveis, promover condições de decisão sobre o direito reprodutivo e garantia de assistência integral e humanizada, no sentido de fortalecer as ações preventivas e de promoção à saúde (DOURADO, 2006). O Ministério da Saúde divulgou oficialmente o PAISM em 1984, por meio do documento preparado pela referida comissão: “Assistência Integral à Saúde da Mulher: bases de ação programática”. Para estabelecer sua proposta, o ministério partia da constatação de que o cuidado da saúde da mulher pelo sistema de saúde até então, limitava-se ao ciclo gravídico-puerperal. E, mesmo aí, era deficiente. Considerava-se esse quadro agravado face à crescente presença da mulher na força de trabalho, além do seu papel fundamental no núcleo familiar. O texto em questão salientava que o governo estava procurando agilizar a atenção à saúde da população em geral, atuando em duas frentes: expandir e consolidar a rede de serviços básicos de prestação de ações integrais de saúde (AIS); enfatizar atividades-chaves, identificadas por critérios epidemiológicos, pelo seu impacto e transcendência. Entre essas atividades estavam àquelas voltadas para o grupo materno-infantil: O conceito de assistência integral, aqui preconizado, envolve a oferta de ações globalmente dirigidas ao atendimento de todas as necessidades de saúde do grupo em questão, aonde todo e qualquer contato que a 15 mulher venha a ter com os serviços de saúde seja utilizado em benefício da promoção, proteção e recuperação de sua saúde, (OSIS, 1998). As diretrizes gerais do Programa previam a capacitação do sistema de saúde para atender as necessidades da população feminina, enfatizando as ações dirigidas ao controle das patologias mais prevalentes nesse grupo. Estabeleciam também a exigência de uma nova postura de trabalho da equipe de saúde em face do conceito de integralidade do atendimento; pressupunham uma prática educativa permeando todas as atividades a serem desenvolvidas, de forma que a clientela pudesse apropriar-se dos conhecimentos necessários a um maior controle sobre sua saúde, (OSIS, 1998). Ainda a título de diretrizes gerais, o documento em questão dedicava dois itens ao planejamento familiar. Primeiramente, situavam-se as atividades voltadas à regulação da fecundidade como complementares no elenco de ações de saúde materno-infantil, esclarecendo que as motivações do Ministério da Saúde para agir nessa área baseavam-se nos princípios de equidade, oportunidade de acesso às informações e aos meios para a regulação da fertilidade por parte da população e de ordem médica, traduzidos no risco gravídico. Enfatizava-se também que as atividades de planejamento familiar estavam desvinculadas de qualquer caráter coercitivo para as famílias que venham a utilizá-las (OSIS, 1998). O planejamento familiar deve ir além da solução dos problemas sociais e econômicos do país. Cabe ao Estado proporcionar meios e informações para que todos os brasileiros possam planejar suas famílias. A atenção à mulher deve ser integral: clínico-ginecológica e educativa, voltada ao aperfeiçoamento do controle pré-natal, do parto e puerpério; à abordagem dos problemas presentes desde a adolescência até a terceira idade; ao controle das doenças transmitidas sexualmente, do câncer cérvico-uterino e mamário e à assistência para concepção e contracepção (OSIS, 1998). Em 1983, o Ministério da Saúde através da Divisão Nacional de Saúde Materno Infantil (DINSAMI) elaborou o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher, com o objetivo de reduzir a morbi-mortalidade da mulher e da criança (PAISMC). Em 1984, o PAISMC foi implantado na Fundação Hospitalar do Distrito Federal (FHDF), e em 1991 houve a separação do Programa da Criança (PAISC) do Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM). O objetivo maior do PAISM é atender a mulher em sua integralidade, em todas as fases da vida, 16 respeitando as necessidades e características de cada uma delas. Para isto, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal tem dado ênfase ao atendimento à população feminina por meio de ações preventivas e de controle às doenças prevalentes nesse grupo populacional nos níveis primário, secundário e terciário de assistência. As áreas de atuação do PAISM são divididas em grupos baseados nas fases da vida da mulher, como: Assistência ao ciclo gravídico puerperal: pré-natal (baixo e alto risco), parto e puerpério; Assistência ao abortamento; Assistência à concepção e anticoncepção-; Prevenção do câncer de colo uterino e detecção do câncer de mama; Assistência ao climatério; Assistência às doenças ginecológicas prevalentes; Prevenção e tratamento das DST/AIDS; Assistência à mulher vítima de violência. O PAISM tem como atribuições: Planejar, em conjunto com os Centros de Saúde e outras unidades de saúde regionais, as atividades do PAISM previstas para a população alvo de cada abrangência; Supervisionar e avaliar as atividades do PAISM nestas unidades; Programar e supervisionar a distribuição de medicamentos básicos e equipamentos de apoio das ações do PAISM; Organizar e promover o inter-relacionamento dos profissionais executores das ações do PAISM; Promover cursos de educação continuada teóricos e práticos, bem como treinamento em serviços para os profissionais; Detectar o número de horas disponíveis e necessárias de profissionais para atingir a cobertura programada; Apresentar à coordenação Central do PAISM relatório mensal do Programa em sua Regional; 17 Participar das reuniões do PAISM central para auxiliar na avaliação, normatização e estabelecimento de diretrizes do PAISM-DF (NAISM, 2010, acesso em 07/09/2010). Em 1984 o Ministério da Saúde elaborou o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), marcando, sobretudo, uma ruptura conceitual com os princípios norteadores da política de saúde das mulheres e os critérios para eleição de prioridades neste campo. O PAISM incorporou como princípios e diretrizes as propostas de descentralização, hierarquização e regionalização dos serviços, bem como a integralidade e a equidade da atenção. O novo programa para a saúde da mulher incluía ações educativas, preventivas, de diagnóstico, tratamento e recuperação, englobando a assistência à mulher em clínica ginecológica, no prénatal, parto e puerpério, no climatério, em planejamento familiar, DST, câncer de colo de útero e de mama, além de outras necessidades identificadas a partir do perfil populacional das mulheres. O processo de construção do Sistema Único de Saúde (SUS) tem grande influência sobre a implementação do PAISM (BRASIL, 2007). Em 2003 a Área Técnica de Saúde da Mulher identificou ainda a necessidade de articulação com outras áreas técnicas e da proposição de novas ações, quais sejam: atenção às mulheres rurais, com deficiência, negras, indígenas, presidiárias e lésbicas e a participação nas discussões e atividades sobre saúde da mulher e meio ambiente (BRASIL, 2007). 2.3 FATORES EPIDEMIOLÓGICOS DA GESTAÇÃO DE ALTO RISCO Os indicadores epidemiológicos do Brasil mostram uma realidade na qual convivem doenças dos países desenvolvidos (cardiovasculares e crônico- degenerativas) com aquelas típicas do mundo subdesenvolvido (mortalidade materna e desnutrição). Os padrões de morbimortalidade encontrados nas mulheres revelam também essa mistura de doenças, que seguem as diferenças de desenvolvimento regional e de classe social (BRASIL, 2004). Apesar dos esforços, 21,3% dos óbitos maternos ocorridos no Brasil nos anos de 1996-1997 foram atribuídos às causas indiretas, que envolvem as doenças pré- 18 existentes complicadas pela gestação. A assistência perinatal adequada e a orientação sobre planejamento familiar pode contribuir para a redução destes óbitos (DOURADO, 2006). As desigualdades sociais, econômicas e culturais, se revelam no processo de adoecer e morrer das populações, e de cada pessoa em particular, de maneira diferenciada. De acordo com os indicadores de saúde, as populações expostas a precárias condições de vida estão mais vulneráveis e vivem menos. O relatório sobre a situação da população mundial demonstra que o número de mulheres que vivem em situação de pobreza é superior ao de homens, e que as mulheres trabalham durante mais horas do que os homens e pelo menos, metade do seu tempo é gasto em atividades não remuneradas, o que diminui o seu acesso aos bens sociais, inclusive aos serviços de saúde (BRASIL, 2007). As mulheres em idade reprodutiva, ou seja, de 10 a 49 anos, são 58.404.409 e representam 65% do total da população feminina, conformando um segmento social importante para a elaboração das políticas de saúde (BRASIL, 2007). A Síntese de Indicadores Sociais 2002, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresenta os seguintes dados: a população feminina ocupada concentra-se nas classes de rendimento mais baixas – 71,3% das mulheres que trabalham ganham até dois salários mínimos, contra 55,1% dos homens, e a desigualdade salarial aumenta conforme a remuneração. A proporção de homens que ganham mais de cinco salários mínimos é de 15,5% e das mulheres é de 9,2%. No que se refere ao trabalho doméstico, as mulheres dedicadas a essa atividade (19,2%) e que não recebem remuneração (10,5%) é bem maior do que a dos homens (0,8% e 5,9% respectivamente) para o ano de 2003 (BRASIL, 2007). A desigualdade social e econômica tem sido apontada como um importante fator de diferenciação das condições de saúde da população. Indicadores como a escolaridade, a renda e o local de moradia determinam tanto o acesso, quanto a qualidade da assistência prestada pelos serviços de saúde (GAMA, 2002). No Brasil, como um todo, as disparidades socioeconômicas se refletem nas taxas de mortalidade neonatal e infantil. Quando a gestação ocorre na adolescência o problema se potencializa. À situação de pobreza se soma a falta de estrutura emocional da jovem grávida, que muitas vezes não conta com o apoio do pai da criança e/ou da própria família. A adolescência é uma etapa da vida caracterizada por um complexo processo de desenvolvimento biológico, psicológico e social. Além 19 disso, um conjunto de experiências marca a vida do adolescente: o desenvolvimento do autoconhecimento que dá origem aos sentimentos de autoestima e de questionamento dos valores dos pais e dos adultos em geral; os impulsos sexuais ganham uma expressão mais efetiva em função da maturação física, e a percepção do início da potencialidade de procriação. Entretanto, esse processo se dá de forma diferenciada de acordo com a história de vida de cada adolescente e do grupo socioeconômico em que está inserido (GAMA, 2002). Ao se analisar a mortalidade materna, é importante conhecer o status social e econômico da mulher e seu acesso à saúde. Em muitos casos, o risco de a grávida vir a falecer é observado durante a gestação. São mulheres desinformadas, com nível socioeconômico baixo e doente. Não lhes é oferecida assistência à saúde adequada ou informações de planejamento familiar. O que se percebe, então, é que não se detecta, nem se corrige o risco de morte (RIQUINHO, 2006). 2.3.1 Assistência ao pré-natal e a visão do enfermeiro A assistência ao pré-natal não deve se limitar somente às ações clínicoobstétricas, mas devem incluir ações de educação em saúde na rotina da assistência integral, os aspectos antropológicos, sociais, econômicos e culturais, que devem ser conhecidos pelos profissionais que assistem as mulheres grávidas, buscando entendê-las no contexto em que vivem, agem e reagem, (LINHARES, 2009). A identificação de indivíduos de alto e baixo risco permite a equipe de saúde dispor de instrumentos para fornecer atendimento diferenciado. As necessidades de grupos de baixo risco são resolvidas, de maneira geral, com procedimentos simples no atendimento primário de assistência. Os grupos de alto risco geralmente requerem técnicas mais especializadas. Deve-se lembrar que durante toda a gestação podem ocorrer complicações que fazem uma gestação normal tornar-se de risco. Assim sendo, durante todo o pré-natal deve-se proceder a uma “avaliação de riscos” das gestantes de modo a identificá-las e encaminhá-las a um serviço de atendimento especializado. A detecção de qualquer risco implica em uma atenção especializada, com exame/avaliação e seguimentos adicionais e, se necessário, a referência da atenção básica para um serviço de nível mais complexo. Na ausência 20 de risco, o acompanhamento pré-natal deverá seguir as recomendações para a atenção básica na assistência pré-natal (LINHARES, 2009). Segundo Buzzo, 2007, a qualidade da assistência pré-natal ainda é deficiente no Brasil, porque mesmo em regiões com alta cobertura de concentração de consulta pré-natal, a mortalidade materna é alta. Um indicador da má qualidade do pré-natal no país é referente ao fato da hipertensão específica da gravidez ser a causa mais comum de morte materna no Brasil. O meio mais eficaz de redução desse tipo de morte está no adequado controle ao longo da gestação. Cabe ressaltar que a ausência da assistência pré-natal é um dos fatores de risco para a gestante e para o feto. Apesar do aumento no número de consultas de pré-natal, a qualidade dessa assistência é precária, sendo conferido pela alta incidência de sífilis congênita, pelo fato da hipertensão arterial ser a causa mais freqüente de morte materna no Brasil, e também porque apenas 41,01% das gestantes inscritas no Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento (PHPN) receberam a segunda dose ou a dose de reforço ou a dose imunizante da vacina antitetânica. Os indicadores do Sistema de Acompanhamento do Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento (Sisprenatal) demonstram que somente 4,07% das gestantes inscritas no PHPN realizaram o elenco mínimo de ações preconizadas pelo Programa e que somente 9,43% realizaram as seis consultas de pré-natal e a consulta de puerpério. (BRASIL, 2007). No pré-natal o enfermeiro deve ficar atento para também, interpretar a percepção que a gestante tem com relação a sua experiência da maternidade no contexto mais amplo (ambiente, família, mudanças físicas, psicológicas e sociais) por ser essa uma experiência única. O profissional enfermeiro não deve impor seus conhecimentos e desconsiderar a realidade do cliente; caso isso aconteça, as orientações dadas poderão não ser adotadas por incompatibilidade com essa realidade. Conhecer as necessidades de aprendizagem das gestantes no período do pré-natal é considerar a importância da cliente na determinação de seu autocuidado. Os profissionais de saúde devem assumir a postura de educadores que compartilham saberes, buscando devolver à mulher sua autoconfiança para viver a gestação, o parto e o puerpério (CIÊNC. SAÚDE COLETIVA, 2007). De acordo com a Lei do Exercício Profissional da Enfermagem – Decreto n.º 94.406/87 e o Ministério da Saúde, o pré-natal de baixo risco pode ser inteiramente 21 acompanhado pela enfermeira. Como descrito na Lei n.º 7.498 de 25 de julho de 1986, que dispõe sobre a regulamentação do exercício de Enfermagem, cabe ao enfermeiro realizar consulta de enfermagem e prescrição da assistência de enfermagem; como integrante da equipe de saúde: prescrever medicamentos, desde que estabelecidos em Programas de Saúde Pública e em rotina aprovada pela instituição de saúde; oferecer assistência de enfermagem à gestante, parturiente e puérpera e realizar atividades de educação em saúde (CIÊNC. SAÚDE COLETIVA, 2007). No atendimento ao pré-natal é importante considerar ainda: Agenda aberta a qualquer hora, para atendimento pré-natal por médico ou enfermeiro treinado, ou para atividades em grupo, ampliando-se as possibilidades de recepção e ingresso da gestante no pré-natal; Solicitação de teste gravidez ou pedido dos exames de rotina no momento do agendamento; Atendimento de pré-natal com consultas intercaladas, entre o enfermeiro e o obstetra que trabalhem em equipe; Estratégia de retornos marcados para dia preferencial de pré-natal favorecendo as atividades em grupo prévias à consulta (sala de espera); Garantia de agendamento da revisão pós-parto, quando a paciente trará informações sobre o parto e será introduzida em outros grupos (planejamento familiar, crescimento e desenvolvimento, atenção ao desnutrido...). Preenchimento obrigatório do Cartão de Pré-natal, visando garantir a qualidade das informações a respeito do atendimento à gestante; Referenciamento das gestações de risco para atendimento em níveis de maior complexidade; Encaminhamento das gestantes para o parto em maternidades de referência distrital, através do formulário de referência e contra referência fornecida no centro de saúde. Integração com o projeto de prevenção e combate à desnutrição (alimentação alternativa, distribuição de farinha enriquecida) para gestantes e nutrizes (CIÊNC. SAÚDE COLETIVA, 2007). 2.3.2 Rotina de atendimento à gestante nas unidades básicas de saúde 22 Inserção da gestante no Programa de Humanização do Parto e Nascimento/ SIS-Pré-natal; Vinculação à maternidade de referência para atendimento à urgência/parto; Cartão de pré-natal e prontuário deve ser de uso obrigatório; Calendário de consultas: o Primeira consulta: o mais precoce possível, podendo ser realizada pelo médico ou enfermeiro. o Consultas subseqüentes: A segunda consulta deverá ser realizada preferencialmente pelo médico para avaliação dos resultados dos exames complementares; As Consultas deverão ser mensais até a 32ª semana e quinzenais até a 40ª semana, intercaladas entre o obstetra e o enfermeiro treinado. Após a 40ª semana, retorno semanal com avaliação do bem estar fetal após a 41ª semana; Vinculação da gestante à maternidade de referência (os nomes da unidade de saúde e da maternidade de referência deverão estar escritos no cartão de pré-natal); Avaliação pós-parto e inserção da cliente no programa de planejamento familiar Exames laboratoriais de rotina: Primeira consulta: Eritrograma Grupo sanguíneo e fator Rh Glicemia de jejum (vide protocolo para rastreamento de diabetes gestacional a seguir) VDRL Sorologia IgG, IgM para toxoplasmose EUR e urocultura HbsAg Teste de HIV/AIDS oferecido para todas as gestantes 23 Em torno da 24ª a 28ª semana: Glicemia 2hs após 75g de dextrosol, para rastreamento de diabetes gestacional (vide fluxograma) Repetir VDRL Repetir IgM para toxoplasmose se anteriormente IgG negativo. Repetir ex.: urina rotina. Profilaxia do Tétano: Será feita com a aplicação da vacina dupla (contra tétano e difteria) ou na sua falta, com a vacina antitetânica, no seguinte esquema: 1ª dose: a partir do 4º mês de gestação 2ª dose: 60 dias após a 1ª (mínimo 30 dias após). 3ª dose: 60 dias após a 2ª (mínimo 30 dias após). Observações: Se a gestante já tiver recebido esquema incompleto, completar com as doses restantes. Se completamente imunizada anteriormente: até 5 anos - imune. > 5 anos - reforço com 1 dose Prescrição de Sulfato ferroso profilático a partir da 20ª semana de gestação (300 MG, 1 dg/dia) Para as gestantes Rh negativas: Coombs indireto na primeira consulta e mensalmente a partir da 24ª semana. Referenciar para nível de maior complexidade a gestante com teste de coombs indireto positivo. Avaliação ultrassonográfica: Solicitada pelo obstetra de acordo com critérios de indicação: Alteração da medida de fundo uterino em relação ao esperado: suspeita de crescimento intrauterino retardado (CIUR), gravidez múltipla, polidrâmnio; Mau passado obstétrico: abortamentos habituais, fetos mal formados, etc.; Quando necessário precisar a idade gestacional, 24 Nos casos a serem referenciados para pré-natal de maior complexidade Outras indicações a critério médico. Observações: As indicações de ecografia poderão ser ampliadas de acordo com disponibilidade do serviço. Marcação do exame: por telefone em serviço de ultrassom no nível secundário (CIÊNC. SAÚDE COLETIVA, 2007) Consulta de enfermagem: a) Entrevista da gestante: Preenchimento dos dados da ficha e cartão. Investigação e registro das alterações. b) Exame físico: Avaliação do peso e do estado nutricional da gestante. Determinação de sinais vitais. Avaliação das mamas direcionada ao aleitamento materno. Medida da altura uterina. Ausculta do BCF. Toque vaginal quando necessário para diagnosticar trabalho de parto. c) Solicitação dos exames laboratoriais de rotina padronizados (teste de gravidez, exame de urina rotina e urocultura com antibiograma, eritrograma, glicemia de jejum e pós dextrosol, grupo sanguíneo e fator RH, IgM e IgG para toxoplasmose, VDRL, pesquisa de HbsAg, anti HIV) d) Diagnóstico (análise e interpretação das informações): Cálculo da idade gestacional. Avaliação do estado nutricional materno. Acompanhamento do ganho de peso e crescimento uterino. Avaliação de situações de risco materno-fetais. e) Ações complementares: Orientações. Prescrição de Sulfato Ferroso profilático. Referenciamento para atendimento de maior complexidade (nível secundário ou terciário). Referenciamento para imunizações. Referenciamento para práticas educativas coletivas. 25 Referenciamento para programa de suplementação alimentar. Referenciamento para atendimento odontológico. Agendamento das consultas subseqüentes. (CIÊNC. SAÚDE COLETIVA, 2007) 2.4 Gestação de alto risco Por gestação de alto risco entende-se como sendo aquela na qual a vida ou saúde da mãe e/ou do feto tem maiores chances de serem atingidas por complicações que a média das gestações, (LINHARES, 2009). As gestações, tanto nas mulheres com idade de 40 anos, quanto nas adolescentes, apresentam aumento de risco de restrição de crescimento, sofrimento fetal e óbito intraútero, (BUZZO, 2007). De acordo com Dourado (2006) aproximadamente 20% das gestantes apresentam maiores probabilidades de evolução desfavorável, tanto para ela como para o feto, constituindo o chamado grupo "gestante de alto risco”. Desse modo, conhecer, sob o enfoque dessas gestantes, o acontecimento da concepção, a programação e o desejo de ter um filho, mesmo tendo conhecimento de um agravo anterior a gestação, poderá contribuir com os profissionais da saúde para a melhoria do cuidado e assistência às gestantes. Sendo assim, a enfermagem pode atuar de forma significativa para a redução das complicações relacionadas com a função reprodutiva, através de uma adequada assistência ao ciclo gravídico-puerperal, ampliando os horizontes para a equipe assistir melhor as gestantes de alto risco nos serviços de pré-natal e na orientação de planejamento familiar, de acordo com seu contexto socioeconômico-cultural. O interesse pela gestação de alto risco data da década de 70 e despertou a atenção de inúmeros estudiosos, no mundo inteiro. Para a generalização dos conhecimentos, o primeiro passo era a identificação, em determinada população, daquelas que tivessem fatores de risco. Assim, surgiram inúmeras tabelas e escores na literatura mundial, diferentes entre si, por relatarem realidades de países, ou mesmo regiões diferentes. 26 No Brasil, por suas grandes dimensões e, principalmente pelas diferenças socioeconômico-culturais, são evidenciados fatores de risco diversos para as várias regiões. Sendo assim, são listados os fatores mais comuns na população em geral. Desse modo, os fatores geradores de risco podem ser agrupados em quatro grandes grupos, que são: 1. Características individuais e condições sociodemográficas desfavoráveis; 2. História reprodutiva anterior à gestação atual; 3. Doenças obstétricas na gestação atual; 4. Intercorrências clínicas, (BRASIL, 2000). Esses fatores embora de risco, devem ser abordados, quanto ao atendimento especializado, na dependência da estruturação dos serviços locais. De maneira geral, são inicialmente atendidas no nível primário, e referenciadas posteriormente, se necessário, para níveis mais complexos de atenção. Na atenção às gestantes ditas de "baixo risco", deve-se atentar para o aparecimento ou agravamento dos referidos fatores. Fatores de risco na gravidez: 1. Características individuais e condições sociodemográficas desfavoráveis Idade menor que 17 e maior que 35 anos Ocupação: esforço físico, carga horária, rotatividade de horário, exposição a agentes físicos, químicos e biológicos nocivos, estresse. Situação conjugal insegura Baixa escolaridade Condições ambientais desfavoráveis Altura menor que 1,45 m Peso menor que 45 kg e maior que 75 kg Dependência de drogas lícitas ou ilícitas História reprodutiva anterior Morte perinatal explicada e inexplicada Recém-nascido com crescimento retardado, pré-termo ou malformado Abortamento habitual Esterilidade/infertilidade Intervalo interpartal menor que 2 anos ou maior que 5 anos Nuliparidade e Multiparidade 27 Síndrome hemorrágica ou hipertensiva Cirurgia uterina anterior Doença obstétrica na gravidez atual Desvio quanto ao crescimento uterino, número de fetos e volume de líquido amniótico Trabalho de parto prematuro e gravidez prolongada Ganho ponderal inadequado Pré-eclâmpsia e eclâmpsia Diabetes gestacional Amniorrexe prematura Zemorragias da gestação Aloimunização Óbito fetal 2. Intercorrências clínicas Hipertensão arterial Cardiopatias Pneumopatias Nefropatias Endrocrinopatias Hemopatias Epilepsia Doenças infecciosas Doenças autoimunes Ginecopatias (BRASIL, 2000). O Sistema Único de Saúde propõem integralidade na atenção às gestantes de alto risco, considerando a sensibilidade diagnóstica do nível básico para propor encaminhamentos adequados, através da rede de serviços por meio do sistema de referência e contra-referências. Contudo, faltam instrumentos que possibilitem avaliações dos processos que ocorrem na atenção pré-natal, em especial os de referência e contra-referências para evitar a duplicidade de meios para fins idênticos. A melhor forma para a investigação do conteúdo da atenção oferecida em todos os níveis de assistência e suas interrelações é conseguida pela aplicação de conceitos e métodos epidemiológicos na avaliação de serviços, programas e tecnologias. A qualidade da atenção dedicada ao pré-natal pode ser verificada pelo cumprimento 28 ou não das normas e rotinas por parte dos profissionais. O não preenchimento de registros indica utilização inadequada e sugere uma visão coletiva limitada no planejamento das ações de saúde do serviço, podendo interferir na execução das normatizações (BUCHABQUI JA et al.,2006). Uma pesquisa realizada nas capitais brasileiras e no Distrito Federal, analisando óbitos em mulheres de 10 a 49 anos (ou seja, mulheres em idade fértil), as dez primeiras causas de morte encontradas foram as seguintes, em ordem decrescente: acidente vascular cerebral; AIDS; homicídios; câncer de mama; acidente de transporte; neoplasia de órgãos digestivos; doença hipertensiva; doença isquêmica do coração; diabetes e câncer de colo do útero. A mortalidade associada ao ciclo gravídico-puerperal e ao aborto não aparece entre as dez primeiras causas de óbito nessa faixa etária. No entanto, a gravidade do problema é evidenciada quando se chama atenção para o fato de que a gravidez é um evento relacionado à vivência da sexualidade, portanto não é doença, e que, em 92% dos casos, as mortes maternas são evitáveis (BRASIL, 2007). A mortalidade materna se constitui como um bom indicador para avaliar as condições de saúde de uma população. A partir de análises das condições em que e como morrem as mulheres, pode-se avaliar o grau de desenvolvimento de uma determinada sociedade. Razões de Mortalidade Materna (RMM) elevada são indicativas de precárias condições socioeconômicas, baixo grau de informação e escolaridade, dinâmicas familiares em que a violência está presente e, sobretudo, dificuldades de acesso a serviços de saúde de boa qualidade. Estudo realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou que, em 1990, aproximadamente 585.000 mulheres em todo o mundo morreram vítimas de complicações ligadas ao ciclo gravídico-puerperal. Apenas 5% delas viviam em países desenvolvidos (BRASIL, 2007). A queda da mortalidade materna de 1999 a 2001 pode estar associada a uma melhoria na qualidade da atenção obstétrica e ao planejamento familiar. Nesse período, a mortalidade materna foi considerada uma prioridade do governo federal e vários processos estaduais e municipais foram deflagrados para reduzi-la. A partir do ano de 1998, diminuíram os óbitos em internações obstétricas no SUS, passando de 34,8 óbitos por 100.000 internações em 1997, para 28,6 óbitos por 100.000 internações em 2001. Nesse período, também caiu o número de mulheres que 29 morreram no parto em relação ao número de partos realizados, passando de 32,48 para 24 óbitos em 100.000 partos em 2001 (BRASIL, 2007). 2.5 Ações de implementação de redução de riscos Para Mendoza-sassi (2007) apesar de diversos programas e ações terem sido implementados no Brasil nas últimas décadas, a redução dos riscos à gravidez com conseqüente melhoria nos indicadores de saúde materna está longe de ser realidade. Entre essas implementações, destacam-se programas de aconselhamento à gravidez, com destaque para nutrição adequada, melhora da autoestima, apoio social e redução de potenciais fatores de risco, como tabagismo, alcoolismo e drogas. As ações têm sido, em geral, originadas de organismos governamentais. Por entender que, no centro da assistência inadequada à gravidez, está a falta de conhecimento da mulher quanto aos seus direitos reprodutivos, o Ministério da Saúde implantou no ano 2000 o Programa de Humanização no Prénatal e Nascimento (PHPN). Com o PHPN e a progressiva difusão dos conhecimentos em saúde e educação nessa área, espera-se que a gestante, durante as consultas de pré-natal, rejeite a atitude passiva de aceitar somente o que lhe é oferecido em detrimento daquilo a que tem direito, resultando em um atendimento de melhor qualidade. Até os momentos, a ênfase desse programa se dá nos procedimentos clínicos e laboratoriais que a gestante deve receber durante o pré-natal, enfocando também a identificação de situações de risco, que requerem a busca imediata de cuidados médicos. No entanto, pouco se sabe a respeito do conhecimento que a gestante tem sobre esse processo em si, ou seja, quanto conhece dos procedimentos necessários, ou a que tem direito, desde o início da gravidez até o pós-parto imediato. O PHPN constitui-se como base para, garantir parâmetros mínimos assistenciais para a gestante, educar e tornar a mulher mais partícipe, reduzindo, conseqüentemente, os índices de morbi-mortalidade materna (MENDOZA-SASSI, 2007). 30 3 METODOLOGIA 3.1 TIPO DE PESQUISA Para elaboração da metodologia desta pesquisa, optou-se por uma abordagem quantitativa e o estudo transversal. A pesquisa quantitativa, é um método de pesquisa social que utiliza técnicas estatísticas. Normalmente implica a construção de inquéritos por questionário (MINAYO, 1996). Já o estudo transversal, segundo Pereira (2005), a “causa” e “efeito” sao detectados simultaneamente. Somente a análise dos resultados permite identificar os grupos de interesse, os “expostos”, os “não-expostos”, os “doentes” e os “sadios”, de modo a investigar a associação entre exposição e doença. A relação exposição-doença é examinada, em uma dada população, em um particular momento. Fornece um retrato de como as variáveis estão relacionadas, naquele momento. A população para exame não é reunida, nem na época da exposição ao risco, nem na época do diagnóstico da doença. Os participantes sao reunidos em um momento definido pelo investigador – em geral, refere-se a data da coleta dos dados. A pesquisa quantitativa e o estudo transversal se complementam. Enquanto a primeira é mais adequada para apurar opiniões e atitudes explícitas e conscientes dos entrevistados, pois utilizam instrumentos padronizados (questionários) e são utilizadas quando se sabe exatamente o que deve ser perguntado para atingir os objetivos da pesquisa, a segunda permite detectar a causa e o efeito simultaneamente na análise dos dados obtido com a coleta dos dados. 3.2 AMOSTRA Participaram desta pesquisa 50 gestantes atendidas no pré-natal do HRAS no período de março a abril de 2011. 31 Os sujeitos participantes foram selecionados conforme os seguintes critérios: Critério de Inclusão: Gestantes acompanhadas no pré-natal de alto risco em idade reprodutiva, ou seja, de 10 a 49 anos, atendidas no HRAS, independente da idade gestacional, da raça e cor, escolaridade, nível socioeconômico e região habitacional. Critério de Exclusão: Excluiu-se, as gestantes acompanhadas no pré-natal de baixo risco, gestantes atendidas em outras unidades de saúde ou aquelas que não apresentam complicações tanto para a mãe quanto para o feto. 3.3 LOCAL DE ESTUDO O estudo foi realizado no Ambulatório de pré-natal de alto risco do Hospital Regional da Asa Sul do Distrito Federal, (HRAS), referência no Distrito Federal para a gestação de alto risco, UTI neonatal, reprodução assistida, programa de medicina fetal, câncer ginecológico e na assistência à mulher vítima de abuso sexual. Oferece assistência integrada ao parto normal e de risco, pré-natal de baixo e alto risco, com cobertura de 100% na sua área de abrangência. Oferece ainda atendimento de emergência nas áreas de gineco-obstetrícia e pediatria. Estratégia para a coleta de dados: Para a coleta de dados foi realizado um acompanhamento das consultas de pré-natal no Ambulatório do HRAS no período de março a abril de 2011, nesse momento as gestantes foram abordadas e convidadas a participar da pesquisa. Foi utilizado como instrumento desta pesquisa (Anexo A) o método de entrevista estruturada com questões fechadas, onde as perguntas foram feitas oralmente em uma ordem fixa, cada uma sendo acompanhada por um determinado conjunto de respostas dentre as quais a entrevistada escolheu o que melhor corresponde a sua opinião. Essa entrevista teve duração média de 20 minutos. Segundo Minayo (1996), as entrevistas estruturadas apresentam uma relação padronizada e fixa de perguntas (questionário ou formulário), cuja ordem e redação permanecem invariáveis para todos os entrevistados, que geralmente são em grande número. Recomenda-se que o mesmo seja pré-testado em uma amostra da população e permite o tratamento quantitativo dos dados. 32 Sendo este estudo quantitativo, a abordagem é estruturada para maximizar a fiabilidade e a validade da medição de conceitos chave (MINAYO, 1996). Sendo assim, o investigador tem claramente especificado um conjunto de questões que está a ser investigado. Assim, a entrevista é estruturada e concebida para responder a perguntas específicas. As principais vantagens deste método são de facilitar a análise dos dados e permitir a replicação do estudo. A escolha da entrevista como técnica para coleta de dados apoiou-se no fato de que a entrevista auxilia o pesquisador a conseguir uma de suas metas mais importantes, que é a de encorajar o entrevistado e dar a máxima contribuição a sua organização. Os aspectos investigados na entrevista referem-se ao perfil epidemiológico e socioeconômico das gestantes acompanhadas no pré-natal de alto risco. 3.4 ANÁLISE DOS DADOS Os dados obtidos neste estudo foram tabulados por meio da construção de um banco de dados para a análise e descrição dos resultados. Os programas computacionais utilizados foram o Statistical Package for Social Sciences (SPSS), versão 13.0 e o Microsoft Word. Para análise dos dados foi utilizado a análise estatística simplificada, para identificação da frequência das respostas ás questões fechadas. O método de análise de conteúdo pode ser definido como um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção dessas mensagens (BARDIN, 2002). Para Ferreira (2003) este método de análise é usado quando se quer ir além dos significados, da leitura simples do real. Aplica-se a tudo que é dito em entrevistas e depoimentos ou escrito em jornais, livros, textos ou panfletos, como também a imagens de filmes, desenhos, pinturas, cartazes, televisão e toda a comunicação não verbal: gestos, posturas, comportamentos e outras expressões culturais. 33 Na análise de conteúdo, surgem as discussões sobre as diferenças que existiriam se fosse enfatizada a abordagem qualitativa ou quantitativa nas pesquisas. Na análise quantitativa, o que serviria de referencial seria a frequência com que surgem certas características do conteúdo (BARDIN, 2002). Ferreira (2003) aponta que este método se realiza em três momentos: 1ª fase - Pré Análise: Este momento é o de organizar o material, de escolher os documentos a serem analisados, formular hipóteses ou questões norteadoras, elaborar indicadores que fundamentem a interpretação final. Nesta fase, inicia-se o trabalho escolhendo os documentos a serem analisados. No caso de entrevistas, elas serão transcritas na íntegra. O primeiro contato com os documentos se constitui no que se chama de leitura superficial (flutuante). É a leitura em que surgem hipóteses ou questões norteadoras, em função de teorias conhecidas. 2ª fase – Exploração do material: É o momento da codificação – em que os dados brutos são transformados de forma organizada e agregados em unidades, as quais permitem uma descrição das características pertinentes do conteúdo. Nesta fase há a eleição das categorias sociotécnicas intermediárias e finais de análise, preocupando-se com aspectos específicos dos discursos. 3ª fase – Tratamento e Interpretação dos resultados: Nesta fase a inferência na análise de conteúdo se orienta por diversos polos de atenção, que são os polos de atração da comunicação. Durante a interpretação dos dados, é preciso voltar atentamente aos marcos teóricos, pertinentes à investigação, pois eles dão o embasamento e as perspectivas significativas para o estudo. A relação entre os dados obtidos e a fundamentação teórica, é que dará sentido à interpretação. As interpretações a que levam as inferências serão sempre no sentido de buscar o que se esconde sob a aparente realidade, o que significa verdadeiramente o discurso enunciado, o que querem dizer, em profundidade, certas afirmações, aparentemente superficiais. 3.4.1 Aspectos éticos da pesquisa Foram respeitados no transcorrer da pesquisa todos os aspectos éticos e legais necessários para a preservação dos sujeitos participantes da mesma, tais como: sigilo dos nomes ou de qualquer informação que possa levar à identificação 34 do sujeito participante da pesquisa ou a qualquer advento que não esteja no contexto da pesquisa e que porventura o pesquisador venha a tomar conhecimento ou presenciar. Foi utilizado o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) para todos os sujeitos que participaram das entrevistas (Anexo). Os resultados da pesquisa serão publicados em jornais e revistas científicas, apresentados em eventos científicos e para equipes técnicas e de gestores da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) para que possam ser utilizados no planejamento, organização e adequação da assistência de enfermagem. Este estudo obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde do Distrito Federal (FEPECS) sob o parecer de número 465/10 em 13/12/210 (Anexo). Após o parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa da FEPECS esta pesquisa foi apresentada ao Diretor do Hospital Regional da Asa Sul com a finalidade de obter autorização para realização deste estudo. 3.4.2Análise e discussão dos resultados O estudo teve como objetivo categorizar o perfil epidemiológico e socioeconômico de gestantes acompanhadas no pré-natal de alto risco no Hospital da Asa Sul (HRAS). A pesquisa foi realizada em duas etapas: na primeira, procedeu-se a aplicação de questionário onde foram investigados os seguintes dados a respeito das participantes do estudo: características demográficas; idade; estado civil; vida reprodutiva (total de gravidez, número de filhos vivos e mortos); imunização; exames; nível socioeconômico (renda familiar); escolaridade; condições de habitação; peso; estatura e questões sobre o conhecimento do pré-natal. Na segunda etapa, por sua vez, foram analisados os dados obtidos por meio do questionário realizado com as gestantes do pré-natal de alto risco do ambulatório do HRAS. Em ambas as etapas o foco da abordagem foi identificar a presença de tópicos relacionados ao perfil epidemiológico e socioeconômico de gestantes acompanhadas no pré-natal de alto risco. 35 A seguir será apresentada a análise das entrevistas realizadas com as gestantes de alto risco do HRAS, por meio de gráficos e tabelas, buscando os fatores que contribuem para gestação de alto risco. Gráfico 1 observa-se a faixa etária das entrevistadas no pré-natal de alto risco do HRAS. 32% 16 30% 14 Menor de 18 anos 12 18 a 25 anos 10 16% 8 25 a 30 anos 30 a 35 anos 6 4 16% 6% Maior de 35 anos 2 0 Gráfico 1 – Distribuição das gestantes atendidas no pré-natal de alto risco do HRAS pela faixa etária. Fonte: Dados coletados em março de 2011. Com relação à idade, a maioria, 32% tinham entre 18 e 25 anos; 30% entre 25 e 30 anos; 16% entre 30 e 35 anos; 16% mais de 35 anos e 6% menores de 18 anos. Os dados desta análise permitiram verificar que 62% das gestantes entrevistadas não pertenciam a uma idade desfavorável para uma gravidez de alto risco, conforme preconizado pelo Ministério da saúde 2000, que as características individuais desfavoráveis sejam a idade menor que 17 e maior que 35 anos. Franceschini (2003) diz que mães muito jovens são fisiologicamente imaturas para suportar os estresses da gravidez e, o risco é especialmente maior quando a gestação acontece em menos de dois anos após a menarca. A gestante adolescente tem menores ganhos de peso e é questionado se ela compete com o feto os nutrientes, em prol do seu próprio crescimento. Gráfico 2 ilustra o estado civil das gestantes entrevistadas no pré-natal de alto risco do HRAS. 36 50% 25 36% 20 Casada 15 Solteira 10 Uniao estável 14% 5 0 Gráfico 2 - Estado civil das gestantes entrevistadas no pré-natal de alto risco do HRAS. Fonte: dados coletados em março de 2011. Quanto ao estado civil, 50% eram casadas, 36% tinham união estável e 14% são solteiras. Verificou-se então de acordo com esses dados que a maioria, 86% das gestantes apresentavam-se em situação conjugal estável, não constituindo um fator indicativo para uma gestação de alto risco. Segundo Dourado (2005) a situação conjugal instável e a maternidade para as solteiras são situações apresentadas como fator de risco gravídico e agravante para as complicações obstétricas como parto pré-termo, baixo peso ao nascer, aumento da mortalidade perinatal. Em contraponto, o fato de viver com companheiro é considerado como um fator favorável para a gestação, pois o casal tem a oportunidade de assumir e dividir a responsabilidade pela vida do filho e, como conseqüência, influenciar positivamente em resultados perinatais. Tabela 1 ilustra as características demográficas das gestantes participantes da pesquisa, tais como: o local de residência e o tipo de moradia das entrevistadas no pré-natal de alto risco do HRAS. Tipo de Moradia Nº Entrevistados Porcentagem Casa própria 26 52 Aluguel 17 34 Imóvel cedido 7 14 37 Local de Residência Nº Pessoas Porcentagem No restante do Distrito 27 54 Fora do Distrito Federal 20 40 Plano Piloto 3 6 Federal Tabela 1 – Distribuição das entrevistadas em tipo de moradia e local de residência no HRAS Fonte: Dados coletados em março de 2011 Com relação às características demográficas, 54% residiam dentro da área administrativa do Distrito Federal, 40% residiam fora da área administrativa do DF (entorno) e 6% residiam no Plano Piloto. Conforme observado nos dados obtidos, a maioria das gestantes residiam longe da unidade de saúde da qual faziam o tratamento para a gestação de alto risco. Isso torna mais difícil o acesso à assistência ao pré-natal para a gestante. No que se refere à moradia, 52% relataram possuir moradia própria, 34% relataram morar em imóvel alugado e 14% relataram morar em imóvel cedido. De acordo com Pereira (2006) a distância entre o usuário e o serviço de saúde assim como as maneiras para transpô-la são fatores que influenciam o acesso ao atendimento, especialmente quando se consideram populações de baixa renda. Tabela 2 ilustra o grau de escolaridade e o tipo de ocupação das gestantes entrevistadas no pré-natal de alto risco do HRAS. Escolaridade Nº pessoas Porcentagem Ensino fundamental 10 20 5 10 Ensino médio incompleto 6 12 Ensino médio completo 20 40 Ensino superior 6 12 3 6 incompleto Ensino fundamental completo incompleto Ensino superior completo 38 Ocupação Nº pessoas Porcentagem Trabalham fora de casa 24 48 Serviços domésticos 26 52 Tabela 2 – Distribuição das entrevistadas no pré-natal de alto risco do HRAS pelo grau de escolaridade e tipo de ocupação. Fonte: Dados coletados em março de 2011 Referente à escolaridade foram encontrados os seguintes resultados: 40% possuíam ensino médio completo, 20% possuíam ensino fundamental incompleto, 12% possuíam ensino médio incompleto, 12% possuíam ensino superior incompleto e 6% possuíam ensino superior completo. De acordo com os dados analisados, nota-se que a maioria das gestantes possui conhecimento escolar formal e esse conhecimento é indispensável para uma melhor compreensão no seu autocuidado. Dourado (2005) enfatiza que a escolaridade materna é um dos indicadores do nível socioeconômico e importante influenciador dos índices de saúde maternoinfantil. O conhecimento do grau de escolaridade subsidia a equipe multidisciplinar no sentido de adequar as orientações sobre a gestação, parto e puerpério à clientela assistida. Quanto à atividade profissional, 52% trabalhavam no serviço doméstico e 48% trabalhavam em atividades diversas. Os tipos de ocupação classificados de acordo com a Classificação Brasileira de Ocupação (CBO), estabelecido pela portaria nº 397. De 09/10/2002 do Ministério do Trabalho e Emprego, referidos pelas gestantes eram muito variados: do lar, 22 gestantes; duas secretárias; duas estudantes; uma gerente de confecção; quatro domésticas; uma auxiliar administrativo; uma copeira; uma técnica em enfermagem; três vendedoras; uma faxineira; uma manicure; uma babá; uma massoterapeuta; uma pedagoga; uma fiscal de caixa; uma empresária; uma telefonista; uma acompanhante de idoso; uma funcionária pública e duas atendentes. Conforme Oliveira (2008) o tipo de ocupação (analisar o esforço físico, carga horária extensa, rotatividade do horário, exposição a agentes químicos, físicos e biológicos, estresse) contribuem para a gestação de alto risco. Segundo Parada (2009) a gravidez afeta a mulher de uma forma que transcende as divisões de classe, permeando todas as suas atividades: educação, trabalho, envolvimento político-social, saúde, sexualidade, sua vida e seus sonhos. Ao mesmo tempo, essa experiência é influenciada por inúmeros fatores, dentre os 39 quais se destacam as circunstâncias de vida pessoal, a situação marital e as condições socioeconômicas, assim como as crenças e valores culturais a ela relacionados. Tabela 3 ilustra a renda familiar das gestantes entrevistadas no pré-natal de alto risco do HRAS. Renda Familiar Nº Pessoas Porcentagem Dois a três salários 26 52 1 Salário mínimo 19 38 Quatro a cinco salários 4 8 1 2 mínimos mínimos Mais de 6 salários mínimos Tabela 03 – Distribuição de renda familiar das gestantes entrevistadas no pré-natal de alto risco do HRAS. Fonte: Dados coletados em março de 2011 Quanto à renda familiar (expressa em salários mínimos de acordo com a classificação socioeconômica do brasileiro), 52% possuíam entre 2 e 3 SM, 38% possuíam 1 SM, 8% possuíam entre 4 e 5 SM, e 2% possuíam mais de 6 SM. Observou-se nos dados obtidos que o fator socioeconômico sendo um indicador que favoreça a uma gestação de alto risco, não foi relevante no resultado dessa pesquisa. Segundo Dourado (2005), o nível socioeconômico da gestante tem grande influência sobre aspectos da gestação e puerpério. A incidência de distúrbios psicossomáticos em gestantes está presente em toda classe social, entretanto é mais comum nas mulheres de classes sociais menos favorecidas. Diz a autora, que o conhecimento da ocupação de trabalho, da renda familiar e da escolaridade das gestantes, em especial às de alto risco, é de grande importância para a equipe de saúde. Mulheres com baixa renda e escolaridade e sem ocupação definida representam um grupo de alto risco social, no qual a probabilidade de óbito materno está aumentada. 40 Os dados referentes ao número de gestações e o tipo de parto das gestantes entrevistadas no pré-natal de alto risco do HRAS podem ser observados na Tabela 4 a seguir. Tipo x Parto Pessoas Normal Cesárea Aborto Gravidez tubária Numero de gestações 18 39 12 3 Pessoas 36 78 24 6 Porcentagem 18 7 5 2 1 1 2 36 14 10 4 2 2 4 Primeira gestação Segunda gestação Terceira gestação Quarta gestação Quinta gestação Sexta gestação Sétima gestação Porcentagem Tabela 4 - Número de gestações e o tipo de parto das gestantes entrevistadas no pré-natal de alto risco do HRAS. Fonte: Dados coletados em março de 2011 Quanto ao número de gestações, 36% eram primigestas, 30% já estavam na 2ª gestação, 14% estavam na 3ª gestação, 10% estavam na 4ª gestação, 4% estavam na 5ª gestação, 4% estavam na 7ª gestação e 2% estavam na 6ª gestação. Conforme o tipo de parto: 64% referiram ter tido partos cesárea, 36% referiram ter tido partos normal, destas, 24% tiveram abortos, 6% referiram ter tido gravidez tubária. Segundo Ministério da Saúde (2010) a determinação da via de parto e o momento ideal para este evento nas gestações de alto risco talvez represente ainda hoje o maior dilema vivido pelo obstetra. A decisão deve ser tomada de acordo com cada caso e é fundamental o esclarecimento da gestante e sua família, com informações completas e de uma maneira que lhes seja compreensível culturalmente, quanto às opções presentes e os riscos a elas inerentes, sendo que deve ser garantida a sua participação no processo decisório. Cabe salientar, todavia, que gravidez de risco não é sinônimo de cesariana. Em muitas situações é possível a indução do parto visando o seu término por via vaginal, ou mesmo aguardar o seu início espontâneo. A indicação da via de parto deve ser feita pelo profissional que for assistir ao parto. 41 Gráfico 3 ilustra o tipo de doença pré-existente apresentada pelas gestantes entrevistadas no pré-natal de alto risco do HRAS. 26,7% 16 21,7% 14 20% 12 Hipertensão arterial Diabéticas 15% 10 Cardiopatias 11,7% 8 Parto prematuro Infecção urinária de repetição 6 Outras 5% 4 2 0 Gráfico 3 – Distribuição de doenças pré-existentes apresentadas pelas gestantes entrevistadas no pré-natal de alto risco do HRAS. Fonte: dados coletados em março de 2011. Quanto às doenças pré-existentes, 26.7% eram portadoras de hipertensão arterial, 21.7% eram portadoras de outras doenças (anemia, epilepsia, hipotireoidismo, doenças no feto, glândula de Bartolini, hepatite B, fratura de bacia, trombose de MMII, cisto hepático), 20% eram diabéticas, 15% tiveram partos prematuro, 11.7% disseram já ter adquirido infecção do trato urinário de repetição, 5% eram cardiopatas. De acordo com os dados obtidos, as doenças crônicas prevalecem como indicadores de agravantes de gestação de alto risco. As alterações maternas salientadas que podem acarretar alterações no decurso da gestação são as doenças crônicas, que aparecem com o evoluir da vida e freqüentemente, algumas delas atingem não só a mãe, como também ao feto; como as doenças que surgem com o decorrer da gravidez, e as que são agravadas pela gestação. Dentre as doenças pré-existentes, é preciso ressaltar as principais; que são as cardiopatias, a hipertensão, o diabetes, as alterações circulatórias, entre outras. (GESTAÇÃO DE ALTO RISCO, 2011) Gráfico 4 ilustra as imunizações realizadas entrevistadas durante o pré-natal de alto risco do HRAS. pelas gestantes 42 60% 30 25 Esquema completo para gestantes 20 Apenas dt 15 10 Apenas hepatite B 24% 16% H1N1 5 0% 0 Gráfico 4 - Distribuição das imunizações das gestantes entrevistadas no pré-natal de alto risco do HRAS. Fonte: dados coletados em março de 2011. Quanto à imunização, 60% estavam imunizadas com esquema completo de vacinas indicadas para gestante; 24% vacinaram apenas com a vacina “DT”, 16% vacinaram apenas com a vacina contra hepatite “B” e nenhuma das gestantes foram vacinadas contra o vírus H1N1. De acordo com esses dados as gestantes estavam mantendo o cartão de vacinação para gestante atualizado, observando que no momento da entrevista as vacinas estavam atualizadas de acordo com a data de gestação em que a grávida se encontrava. De acordo com o Ministério da Saúde 2001 a vacina é o imunobiológico que contém um ou mais agentes imunizantes (vacina isolada ou combinada) sob diversas formas: bactérias ou vírus vivos atenuados, vírus inativados, bactérias mortas e componentes de agentes infecciosos purificados e/ou modificados quimicamente ou geneticamente. Não há nenhuma evidência de que a administração em gestantes de vacinas de vírus inativados (vacina contra a raiva, por exemplo) ou de bactérias mortas, toxóides (toxóide tetânico e toxóide diftérico) e de vacinas constituídas por componentes de agentes infecciosos (vacina contra infecção meningocócica e vacina contra hepatite B, por exemplo) acarrete qualquer risco para o feto. No entanto, as vacinas vivas (vacina contra sarampo, contra 43 rubéola, contra caxumba, contra febre amarela, BCG) são contra-indicadas em gestantes. Quanto aos exames realizados durante a gravidez, 86% realizaram o exame de ecografia gestacional; 86% realizaram o exame de hemograma completo; 86% realizaram o exame de glicemia, 68% realizaram o exame VDRL; 56% realizaram o exame de toxoplasmose; 50% realizaram o exame contra hepatite “C” e 28% realizaram o exame de colpocitologia. Conforme os dados obtidos, notou-se que as gestantes entrevistadas aderiram à assistência dispensada ao atendimento para as mulheres grávidas e realizaram os exames exigidos no pré-natal demonstrando preocupação com a sua saúde e a dos seus bebês. De acordo com o Ministério da Saúde (2008) existem doenças que podem afetar a vida da mãe e do feto como anemia, diabetes, as DSTs, hepatite B, infecções, câncer etc. Os exames de rotina do pré-natal, a ser realizados durante a gravidez que podem prevenir são: hemograma, glicemia, VDRL, tipagem sanguínea, teste Anti-HIV, Teste para Hepatite B (HBsAg), toxoplasmose, Exame de Urina, Exame Preventivo de Câncer de Colo de Útero. No que se refere à satisfação e segurança no serviço de acompanhamento ao pré-natal de alto risco oferecido no Hospital da Asa Sul (HRAS) 98% disseram estar satisfeitas e sentir segurança com o tratamento oferecido e apenas 2% disseram não estar satisfeita com o acompanhamento. O resultado avaliado neste item demonstra que a satisfação deste atendimento é devido ao acolhimento e segurança que a instituição proporciona às gestantes. A hospitalização, tão comum, quanto por vezes necessária, no seguimento da gravidez de alto risco, deve ser considerada como outro fator estressante adicional. Conscientiza-se a grávida da sua doença; é afastada do suporte familiar; vive conflito entre a dependência imposta e a perda de autonomia (perda do controle sobre si e sobre a gravidez). O atendimento pré-natal deve ser organizado para atender às reais necessidades de toda a população de gestantes de sua área de atuação por meio da utilização de conhecimentos técnico-científicos e dos meios e recursos adequados e disponíveis (BRASIL, 2010). De acordo com o Ministério da Saúde (2010) a estruturação da rede implica na disponibilidade de serviços de pré-natal para o baixo e alto risco, planejamento familiar, serviços especializados para atendimento das emergências obstétricas e partos incluindo os de alto risco, leitos de UTI neonatal e para adultos, leitos de 44 berçário para cuidados intermediários, assim como, eventualmente, a constituição de casas de apoio as gestantes de risco com dificuldades de acesso geográfico ou a puérperas que sejam mães de bebês que necessitam permanecer internados. Também implica na humanização do atendimento por meio da sensibilização e da atualização profissional das equipes do sistema como um todo. Esses serviços podem coexistir num mesmo município ou estarem organizados em uma região de saúde. Os parâmetros de assistência pré-natal e ao parto já são estabelecidos, porquanto os gestores têm como saber qual é a demanda e qualificar a rede, com adequação da cobertura, capacitação de recursos humanos e elaboração de protocolos (BRASIL, 2010). 45 4. CONCLUSÃO A gestação é um processo natural na vida da mulher, em que ocorrem profundas mudanças envolvendo todos os sistemas do organismo, que se alteram fisiologicamente se adaptando à nova condição, ocorrendo na maior parte dos casos sem intercorrências. No entanto, devido a características especificas feminina ou por sofrer algum agravo, algumas mulheres apresentam probabilidades de evolução gestacional desfavorável tanto para a mãe como para o feto, sendo assim designadas gestantes de alto risco. Esses riscos podem ser causados, pela presença de patologias associadas ao ciclo gravídico-puerperal ou até mesmo pela própria gestação. Uma gestação de evolução natural pode tornar-se uma gravidez de risco por várias razões como os fatores socioeconômicos, demográficos, história obstétrica ou reprodutiva, situação clínica materna, doença obstétrica atual, intercorrências clínicas e hábitos durante a gestação (fumo, álcool, drogas, etc.). Os fatores socioeconômicos, como a idade e escolaridade materna, estado civil e renda familiar, relacionados ao crescimento fetal, além das alterações fisiológicas e hormonais, as quais provocam modificações nos níveis de energia e humor, alteram, de forma significativa, a unidade familiar e seus padrões tradicionais de atividade. O baixo nível socioeconômico está associado ao estado nutricional e a outros fatores determinantes da velocidade de crescimento intrauterino. A análise deste estudo permitiu concluir que: Em relação à idade, ao se comparar os resultados obtidos nesta pesquisa verificou-se que de acordo com o preconizado pelo Ministério da Saúde (2000) a faixa etária das gestantes entrevistadas não pertencia a uma idade desfavorável para uma gravidez de alto risco. Do mesmo modo, a situação conjugal das gestantes pesquisadas não se enquadrava dentro dos fatores predisponentes para uma gestação de alto risco como cita Dourado (2005) que diz que “a situação conjugal instável e a maternidade para as solteiras são situações apresentadas como fator de risco gravídico e agravante para as complicações obstétricas como parto pré-termo, baixo peso ao nascer, aumento da mortalidade perinatal”, devido os resultados de a pesquisa 46 apresentar uma porcentagem maior de gestantes com estabilidade na situação conjugal. No que se refere à moradia, a análise dos dados permitiu observar que a maioria das gestantes possui residência própria, não se constituindo um fator considerado relevante para a gestação de alto risco. Já no que se refere às características demográficas, obteve-se um resultado negativo como agravante para as conseqüências de uma gravidez de alto risco como cita Pereira (2006) que “a distância entre o usuário e o serviço de saúde assim como as formas de condução são fatores que influenciam o acesso ao atendimento, especialmente quando se consideram populações de baixa renda”. A pesquisa evidenciou que a maioria das gestantes entrevistadas reside longe da unidade de saúde da qual fazem o tratamento para a gestação de alto risco, dificultando o acesso à assistência ao pré-natal para a gestante. Quanto à escolaridade os dados analisados permitiram verificar que a maioria das gestantes possui conhecimento escolar formal. O grau de escolaridade é um fator importante tanto para a aquisição do conhecimento quanto para uma melhor compreensão no que se refere às patologias e no autocuidado das gestantes. É um importante influenciador dos índices de saúde materno-infantil. Quanto à atividade profissional, verificou-se que a maioria das gestantes entrevistadas exerce atividades em sua própria residência, sendo também expostas a fatores que contribuem para a gestação de alto risco como, esforço físico, carga horária extensa, rotatividade do horário, exposição a agentes químicos, físicos e biológicos e estresse. Quanto à renda familiar observou-se nos dados obtidos que o fator socioeconômico sendo um indicador que favorece uma gestação de alto risco, não foi um dado relevante no resultado dessa pesquisa, devido a maioria das gestantes entrevistadas possuir uma renda salarial satisfatória. Em relação ao número de gestações, percebeu-se que a maioria das gestantes era primigesta, embora correlacionando com a faixa etária notou-se que não correspondiam ao grupo favorável para a manifestação de uma gravidez de alto risco. Conforme o tipo de parto, embora a maioria das gestantes relatarem ter tido partos cesárea, o Ministério da Saúde (2010) não cita esse procedimento como um fator causador de uma gestação de alto risco, uma vez que decisão deve ser tomada 47 de acordo com cada caso de gestação. Um fator a ser observado é o número considerável de abortos apresentados na pesquisa, que pode servir de alerta para averiguação de possível presença de enfermidade que possa comprometer a saúde da mãe. Quanto às doenças pré-existentes os dados obtidos, permitiram verificar que as doenças crônicas prevalecem como indicadores de agravantes de gestação de alto risco. Em relação à imunização, conforme os dados analisados observou-se que a maioria das gestantes está mantendo o cartão de vacinação para gestante atualizado. Do mesmo modo a maioria das gestantes realizaram os exames exigidos durante a gravidez, demonstrando cuidado com sua saúde e a do seu bebê. No que se refere à satisfação e segurança no serviço de acompanhamento ao pré-natal de alto risco oferecido no Hospital da Asa Sul (HRAS), a análise dos dados permitiu a verificação de alto grau de satisfação por parte das gestantes com o serviço de saúde dispensado no atendimento à gestação de alto risco. Isso proporciona maior segurança do estado gestacional sendo um fator positivo na recuperação da saúde da gestante de alto risco. A hipótese desta pesquisa era a de que as gestantes que fazem parte do grupo de alto risco do HRAS possuíam características socioeconômicas desfavoráveis que contribuíam para a piora do quadro clínico. No entanto observouse durante a análise dos resultados que não foi o principal agravante do quadro clínico gestacional. Percebeu-se que o perfil epidemiológico e socioeconômico das gestantes acompanhadas no pré-natal de alto risco não pertencia a uma idade desfavorável para uma gravidez de alto risco, do mesmo modo, a situação conjugal das gestantes pesquisadas não se enquadravam dentro dos fatores predisponentes para o agravante clínico. Permitiu ainda verificar que a maioria das gestantes possui conhecimento escolar formal, que a maioria exerce atividades em sua própria residência, possuem uma renda salarial satisfatória e residência própria. Verificou-se que as gestantes primigestas encontravam-se dentro de uma faixa etária favorável para a gestação. Quanto à imunização percebeu-se que o cartão de vacinas estava atualizado de acordo com o calendário de vacinação. Percebeu-se também a verificação de alto grau de satisfação por parte das 48 gestantes com o serviço de saúde concedido no atendimento a gestação de alto risco. Identificou-se que como fator preponderante causador dos agravos na gestação de alto risco as doenças pré-existentes. Notou-se também que as características demográficas, é um influenciador importante, uma vez que a distância entre o usuário e o serviço de saúde assim como as maneiras para transpô-la são fatores que influenciam o acesso ao atendimento e acompanhamento, dificultando o acesso à assistência ao pré-natal para a gestante. Como recomendação, sugere-se uma atuação mais significativa do profissional de enfermagem com o objetivo de: Orientar toda equipe quanto às complicações que podem surgir durante a fase da gestação, e assim estar preparada para atender as gestantes de alto risco; Proporcionar uma adequada assistência ao pré-natal das gestantes de alto risco, com orientação para as gestantes sobre o estado gravídico e as anormalidades que podem surgir durante a gravidez; Criar grupos de apoio com outros profissionais para assistir as gestantes nos aspectos psicológicos, sociais e espirituais com o objetivo de minimizar os conflitos que podem aparecer na fase gestacional. 49 REFERÊNCIAS BUCHABQUI; JA et al. Adequação dos encaminhamentos de gestações de alto-risco na Rede Básica de Atenção à Saúde de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Revista Brasileira de Saúde Materno e Infantil, Recife, 6 (1): 23-29, jan/mar., 2006. BUZZO, et al. Levantamento do perfil das gestantes de alto risco atendidas em uma maternidade de um hospital geral na cidade de Taubaté-sp. janus, lorena, v. 4, n. 6, p. jul./dez., 2007. DOURADO; Viviani Guilherme; Sandra Marisa Pelloso. Gravidez de alto risco: o desejo e a programação de uma gestação. Acta paul. Enferm, São Paulo v.20, n.1 Jan./Mar. 2007. DOURADO, Viviani Guilherme. Gravidez de alto risco: a vida e a morte entre os significados da gestação. 2005. 149 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem). Departamento de Enfermagem, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2005. FRANCESCHINI; Sylvia do Carmo Castro et al. Fatores de risco para o baixo peso ao nascer em gestantes de baixa renda. Rev. Nutr, Campinas v.16 n.2 April/June 2003. GAMA, Silvana Granado Nogueira da, Célia Landmann Szwarcwald, Maria do Carmo Leal. Experiência de gravidez na adolescência, fatores associados e resultados Peri natais entre puérperas de baixa renda. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 18(1): 153-161, jan-fev, 2002. LINHARES, et al. Adequação dos encaminhamentos de gestações de alto risco na Rede Básica de Atenção à Saúde de Sobral, Ceará, Brasil. Einstein. 2009;7(2 Pt 1):182-6. MENDOZA-SASSI RA et al. Avaliando o conhecimento sobre pré-natal e situações de risco à gravidez entre gestantes residentes na periferia da cidade de Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 23(9):2157-2166, set, 2007. BRASIL. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Gestão de Políticas Estratégicas. Área Técnica de Saúde da Mulher. Gestação de alto risco. Manual técnico 3. ed. Brasília, 2000. 50 BRASIL. Manual de Normas de Vacinação. 3.ed. Brasília: Ministério da Saúde: Fundação Nacional de Saúde; 2001 72p. BRASIL. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Plano de reorganização da atenção à hipertensão arterial e ao diabetes mellitus: hipertensão arterial e diabetes mellitus / Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília: Ministério da Saúde, 2001. BRASIL. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher. Princípios e diretrizes. Série C. Projetos, Programas e Relatórios. Brasília – DF. 2007. BRASIL. Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Conversando com a gestante. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Série F. Comunicação e Educação em Saúde) (Série Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos – Cadernos n. 8). Brasília: Ministério da Saúde, 2008. BRASIL. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Gestação de alto risco: manual técnico / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – 5. ed. –302 p. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos). Brasília: Ministério da Saúde, 2010. OLIVEIRA, Virgínia Junqueira . Vivenciando a gravidez de alto-risco: Entre a luz e a escuridão.2008 111f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem)-Escola de Enfermagem. Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2008. OSIS, Maria José Martins Duarte. PAISM: um marco na abordagem da saúde reprodutiva no Brasil. Cad. Saúde Públ, Rio de Janeiro, 14(Supl. 1):25-32, 1998. PARADA Cristina Maria Garcia de Lima; TONETE, Vera Lúcia Pamplona. Experiência da gravidez após os 35 anos de mulheres com baixa renda. Esc Anna Nery Rev Enferm 2009 abr-jun; 13 (2): 385-92 PEREIRA Paulo Henrique Gonçalves. Fatores associados ao acesso tardio ao prénatal do Centro de Saúde n° 1 do Paranoá, 2005 Comun Ciênc Saúde. 2006;17(2): 101-110 RIQUINHO, Deise Lisboa; Sandra Gomes Correia. Mortalidade materna: perfil sócio-demográfico e causal. Rev. bras. Enferm, Brasília, v.59 n.3 Brasília May/June 2006.Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S003471672006000300010&script=sci_arttext.>. Acesso em: abr. 2011. 51 TEMAS LIVRES FREE THEMES. Ações educativas no pré-natal: reflexão sobre a consulta de enfermagem como um espaço para educação em saúde. Ciênc. saúde coletiva v.12 n.2 Rio de Janeiro Mar./Apr. 2007. FERREIRA, B. Análise de Conteúdo. 2003. Disponível em: <http://www.ulbra.br/psicologia/psi-dicas-art.htm>. Acesso em: Junho/2008. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2002. PEREIRA, Maurício Gomes. Epidemiologia teoria e prática. 8ª reimpressão. Editora Guanabara Koogan S.A. Rio de Janeiro, 2005. MINAYO, M.C. de S. (org.) Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Rio de janeiro, Vozes, 1996. ANEXO A QUESTIONÁRIO DATA: / / . 01-I DADE: .......... 02- ESTADO CIVIL: ( ) SOLTEIRO ( ) CASADO ( ) U. ESTÁVEL 03- CIDADE:.................. AREA ( ) F/A ( ) F/DF ( ) 04- ESCOLARIDADE : ( )E.FUND.INC. ( )E.FUND.COM. ( )E.MED.INC. ( )E.MED. COM ( )ENS.SUP.INC.. ( )E..SUP.COM. 05- ESTATURA: ...........cm PESO: .........kg 06- TRABALHA ( )SIM ( )NÃO 07- OCUPAÇÃO: .......................................... 08- RENDA FAMILIAR: ( ) 1 SAL. MIN. ( ) 2/3 SAL.MIN. ( ) 3/4 SAL. MIN. ( ) 4/5 SAL.MIN. ( ) + 6 SAL.MIN. 09- MORADIA: ( ) PRÓPRIA ( )ALUGADA ( )CEDIDA 10- GESTAÇÃO: ....... PARTO: ........ 11- TIPO DE PARTO: ( )NORMAL ( )CESÁREA ( )ABORTO ( ) GEMELAR 12- DOENÇAS PRE-EXISTENTES: ( )HIPERTENSÃO ( )DIAB.MEL. ( )CARDIOPATIAS ( )PARTO PREMATURO ( )NEOPLASIA ( ) ITU REPETIÇÃO 13- IMUNIZAÇÃO: ( ) D.T. ( )HEPATITE B ( ) H1N1 14- EX. LABORATORIAL: ( )EC. GESTACIONAL ( )VDRL ( )TOXO ( )COLPOCITOL ( ) GLICEMIA ( )HEMOGRAMA ( ) HEPATITE B,C 15-VOCÊ SE SENTE ESPECIALIZADO ? ( ) SIM ( ) NÃO SEGURA COM ESTE ACOMPANHAMENTO ANEXO B Parecer do comitê de ética cx ANEXO C Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Instituição: Universidade Católica de Brasília - UCB Título do projeto: Perfil epidemiológico e socioeconômico de gestantes acompanhadas no pré-natal de alto risco atendidas no Hospital da Asa Sul (HRAS). Pesquisadoras: Isaurina Carvalho dos Santos e Maura Lúcia D’Assunção dos Santos, graduandas de enfermagem da Universidade Católica de Brasília – UCB. Lídia Peres – enfermeira, docente e coorientadora da UCB e Fernanda Monteiro de Castro Fernandes, enfermeira, mestre, orientadora e docente da Universidade Católica de Brasília - UCB. O senhor (a) está sendo convidado (a) a participar de uma pesquisa cujo propósito é investigar o Perfil epidemiológico e socioeconômico de gestantes acompanhadas no pré-natal de alto risco atendidas no Hospital da Asa Sul (HRAS). Buscar-se-á Identificar o perfil epidemiológico e socioeconômico de gestantes acompanhadas no pré-natal de alto risco. O resultado desta pesquisa é importante por possibilitar melhorias no processo de formação dos futuros enfermeiros (as) além de possibilitar uma assistência de enfermagem com qualidade efetiva às gestantes de alto risco. Sua participação será por meio da concessão de entrevista, de forma estruturada com questionário direcionado às gestantes e mais análise documental, onde serão investigados os seguintes dados a respeito das gestantes: características demográficas, idade, estado civil, vida reprodutiva (total de gravidez, nº de filhos vivos e mortos), imunização, exames, nível socioeconômico (renda familiar), escolaridade, condições de habitação, peso, estatura e questões sobre o conhecimento do pré-natal. Esta pesquisa será aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da FEPECS e lhe garantimos os direitos abaixo relacionados: Solicitar, a qualquer momento, maiores esclarecimentos sobre esta pesquisa, através do telefone: Fernanda Monteiro: 9963 7721; Segredo absoluto sobre nomes, local de trabalho, residência e quaisquer outras informações que possam levar à identificação pessoal e da instituição a qual pertence; Ampla possibilidade de negar-se a responder a quaisquer questões ou a fornecer informações que julgar prejudicial à sua integridade profissional, física, moral e social; Solicitar que parte das falas e/ou declarações não seja incluída em documento oficial, o que será prontamente atendido; Desistir, a qualquer tempo, de participar da pesquisa. Os resultados da pesquisa serão tornados públicos pelos seguintes meios: Artigo científico apresentado em Congressos e Seminários e publicados em revistas; Cópia do relatório final da pesquisa será encaminhada ao CEP-FEPECS. Este termo, em duas vias, é para certificar que, concorda em participar voluntariamente da pesquisa mencionada. Local: Data: ____/____/ 2010. Assinatura do (a) participante: ___________________________ Isaurina Carvalho dos Santos _________________________ MauraLúcia D’Assunção dos Santos ____________________________ Assinatura das Pesquisadoras: