INSETO PRAGA 2. CONCEITO DE INSETO-PRAGA O conceito de "praga" é bastante dinâmico e relativo uma vez que, envolve um conjunto de fatores de natureza ecológica, econômica, social e cultural. Um único inseto jamais pode ser considerado praga já que não compensa economicamente a sua eliminação, exceto nos casos de insetos vetores de agentes fitopatogênicos que mesmo em baixo nível populacional, justifica seu controle. Este conceito está relacionado com população de insetos que esteja causando algum tipo de prejuízo, cuja eliminação compense sob o ponto de vista econômico (NAKANO et al., 1981). De acordo com SILVEIRA NETO (1976) o crescimento e o tamanho da população dos insetos variam ao longo do tempo, flutuando em função da presença ou ausência dos fatores ecológicos (Fig.1). Estes fatores podem ser de dois tipos básicos: independente da densidade populacional como os climáticos (radiação solar, temperatura, luz, umidade relativa, pluviosidade, vento, pressão, etc.) e físicos (edáficos, gravidade, som e tipo de planta cultivada); bem como dependente da densidade populacional como os fatores alimentares e os bióticos (competição intra e interespecífica, além dos inimigos naturais como parasitóides, predadores e microorganismos entomopatogênicos). Na primeira fase em que a curva se apresenta na forma de uma sigmóide, considerada como fase logarítmica, o crescimento populacional é muito rápido. Em seguida há um decréscimo no crescimento ocorrendo nesta fase, um equilíbrio da população, manifestada pela estabilização do nível populacional por um período mínimo de cinco anos. Também nesta fase a população apresenta uma oscilação (afastamento simétrico do nível de equilíbrio) e flutuação (afastamento assimétrico do nível de equilíbrio). Por último, há uma fase de crescimento negativo, quando a população do inseto decresce podendo chegar até a extinção. Figura 1. Modelo de crescimento padrão e flutuação populacional de insetos. (SILVEIRA NETO et al., 1976) NÍVEIS POPULACIONAIS Tendo em vista as flutuações populacionais de insetos em função da presença ou ausência dos fatores bióticos e abióticos, é possível definir três níveis básicos de densidade populacional: - Nível de Equilíbrio (NE); corresponde à densidade média populacional de insetos, durante um longo período de tempo na ausência de mudanças permanentes no ambiente; - Nível de Controle (NC); corresponde à densidade populacional na qual medidas de controle devem ser efetivadas para que os prejuízos (Danos) econômicos não aconteçam; - Nível de Dano (ND); corresponde à menor densidade populacional do inseto que implica em prejuízo ao agricultor. Quando a população de insetos encontram-se em (NE), o agroecossistema deve ser apenas monitorado, pois neste estágio nenhuma medida de controle se justifica. Corresponde ao período em que é dada a “chance” para os inimigos naturais atuarem. Conforme a posição do Nível de Equilíbrio da população de uma determinada espécie de inseto em relação ao Nível de Controle e Nível de Dano determinados para a praga, considerando todos os aspectos intrínsecos à lavoura em questão, pode-se caracterizar as seguintes condições para que um determinado inseto venha a adquirir ou não, o status de praga (Fig.2): a. Inseto não praga - quando o NE situa-se abaixo do NC e ND e nunca atingem o NC ou ND. os picos populacionais b. Pragas esporádicas - quando o NE situa-se abaixo do NC e ND atingem ocasionalmente o NC ou ND, medidas podendo restabelecer o equilíbrio após a adoção de de controle. c. Insetos-praga - quando o NE está situado abaixo dos NC e ND, populacionais atingem estes dois modo e os picos populacionais no entanto, todos os picos níveis, requerendo a adoção de medidas de controle de que se possa restabeler um novo NE situado mais abaixo em relação ao NC e ND. d. Pragas severas - quando o NE está situado acima do NC e ND, preventivo para não conprometer a justificando o controle produtividade da lavoura. Figura 2. Modelos de flutuação populacional e as diferentes condições para que um inseto atinja o status de praga. 3. CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS DE DANOS Os danos causados pelos insetos-praga estão intimamente relacionados com a sua biologia, ecologia e parte da planta atacada, manifestada através do tipo de dano causado. Em função dos aspectos supra mencionados os danos podem ser classificados em: a. Diretos - quando a planta é totalmente destruída ou o processo de herbivoria atinge as diferentes regiões da planta que são usadas na comercialização. Os prejuízos vão variar de acordo com a importância econômica dos produtos. Ex: broca dos frutos de graviola e cupuaçú, moscas-das-frutas, desfolhadores de hortaliças. b. Indiretos - quando alguma parte da região da planta é destruida, tendo como consequência a redução da capacidade fotossintética, ou obstrução da translocação da seiva para os frutos, raízes, tubérculos, etc. Estes insetos podem ser considerados pragas menos severa, considerando a tolerância e a capacidade de regeneração da planta em relação ao ataque sofrido. Ex. minadores, sugadores que ovipoem endofiticamente, serra-paus. c. Toxinas - durante o processo de alimentação ou oviposição, alguns insetos injetam substâncias tóxicas nas plantas, afetando o seu metabolismo e promovendo alteraçõew no seu desenvolvimento e morfologia. Este tipo, plica que um inseto-praga mesmo em baixo nível populacional pode causar severos danos. Ex. insetos formadores de galhas. d. Transmissão de patógenos - quando alguns insetos atuam como veículo de disseminação de vírus, bactéria, fungos, etc. As bactérias e fungos são transmitidas através do contato do corpo do inseto com a planta, nas regiões onde ocorrem injúrias provocadas durante a alimentação e oviposição. As viroses podem ser transmitidas por via mecânica ou por meio de complexas relações com a biologia do inseto. Ex. vaquinhas, pulgões, moscas-brancas. e. Exudatos - insetos como os da subordem homoptera, excretam substâncias açucaradas que ao se esparramarem sobre as folhas, favorecem o desenvolvimento de fungos, comprometendo a atividade fotossintética, além de atrair formigas formando associações do tipo protocoperação. Esse complexo (exsudatos, excrementos e exúvias de insetos) interferem na qualidade dos produtos agrícolas, comprometendo sua comercialização. Ex. pulgões e moscas-brancas. Segundo MATTHEWS (1984) deve-se sempre considerar a capacidade da planta de tolerar e compensar os danos sofridos. A avaliação destes danos deve ser visto caso à caso, já que as práticas agrícolas e as condições ambientais, influenciam consideravelmente a ação dos insetos e a reação das plantas. 4. MÉTODOS DE CONTROLE DE INSETOS PRAGAS São vários e intermináveis os métodos de controle de insetos-pragas e se utilizam em demasia dos conhecimentos gerados pela ciência básica, aplicada e da tecnologia disponível (Luckmann & Metcalf, 1975). Numa ordem crescente de complexidade, estes métodos podem ser apresentados da seguinte forma: 4.1. MÉTODOS LEGISLATIVOS OU REGULATÓRIOS Consiste na aplicação de leis, decretos e portarias de âmbito federal, estadual e municipal, que determinam o cumprimento de medidas normatizadoras, fruto de práticas e procedimentos relativamente consolidados em relação ao controle de determinados insetos-pragas. Estas medidas são: 4.1.1. Quarentena: tem por objetivo impedir, através de ações preventivas, a introdução de insetos-pragas exóticas e assim, evitar sua disseminação no país, ou numa determinada área geográfica. Assim, todos os vegetais ou parte destes, quando importados, devem passar por um período de 40 dias sob observação, em local previamente designado pelo Serviço de Defesa Sanitária Vegetal do Ministério da Agricultura, que deverá manter fiscais em pontos estratégicos do país como: aeroportos, portos e rodoviárias de modo a controlar a entrada ou passagem de materiais exóticos. Caso seja constatada alguma contaminação, o material vegetal deverá ser imediatamente destruido. Este procedimento se aplica também para os casos de exportação, particularmente de frutos, cujo valor no mercado externo está intrinsecamente relacionado às medidas quarentenárias adotadas pelos países exportadores. Em certos casos, como o das moscas-das-frutas, a exportação de frutas somente se efetivará, se o local de cultivo for considerado "área livre", ou seja, ausência total de infestação por estes insetos. Como exemplo, o Ministério da Agricultura através da Secretaria Nacional de Defesa Agropecuária, em conjunto com especialistas dos países importadores e de representantes do setor de produção de frutos, elegeram no Brasil as áreas de Mossoró e Açu no Rio Grande do Norte como livres de ocorrência de moscas-das- frutas. O significado disto é que os frutos destas regiões podem ser exportados sem a necessidade de qualquer tipo de tratamento pós-colheita ou quarentenário. 4.1.2. Medidas legislativas para controlar certos insetos: constituem num conjunto de ações profiláticas associadas à determinadas práticas agrícolas circunscritas a certas regiões do país. A lei de nº 2.869 de 25 de junho de 1956, determina a queima de galhos de acácia negra no Rio Grande do Sul, objetivando a destruição do serra-pau Oncideres impluviata. Por sua vez, há um decreto baixado pelo governo do Estado de São Paulo, de nº 19.594 de 27 de julho de 1980, que obriga a destruição dos restos de cultura de algodão até 15 de julho de cada ano. Esta medida tem por objetivo eliminar possíveis focos da lagarta rosada (Pectinophora gossypiella) e, da broca do algodoeiro (Eutinobothrus brasiliensis), de modo a evitar problemas de reinfestação e migração para os plantios vizinhos. Esta prática, indiretamente, tem contribuido para a redução da população do bicudo (Anthonomus grandis) introduzido no início da década de 80 no Brasil. Uma série de leis e decretos foram criados nos vários municípios do Estado de São Paulo, para tornar obrigatório o combate às saúvas pelos agricultores, de modo a evitar que elas danifiquem as plantações vizinhas. 4.1.3. Controle do comércio e uso de agrotóxicos: todos os agroquímicos devem apresentar no seu rótulo a sua constituição química ou biológica, o limite de tolerância de resíduos tóxicos nos alimentos, teor do ingrediente ativo, tipo de formulação e culturas para as quais estão recomendados e registrados. O Ministério da Agricultura é o responsável pela fiscalização através da análise periódica destes produtos quanto aos ítens mencionados, de modo a evitar fraudes e adulterações. 4.2. MÉTODOS CULTURAIS OU USO DE PRÁTICAS AGRONÔMICAS Consiste na adoção de práticas que considere o aproveitamento da capacidade genética da planta e contribuam para modificações das características edafoclimáticas de um determinado agroecossistema, de modo que possa interferir desfavoravelmente no desenvolvimento dos insetos-praga. A aplicação deste método exige conhecimento prévio sobre a bioecologia do inseto alvo, bem como da fenologia da planta, dentre outros. 4.2.1. Uso de variedades resistentes Consiste no emprego de plantas que devido a sua constituição genotípica é menos danificada que uma outra, em igualdade de condições (Rossetto, 1973). Este ítem será melhor estudado num capítulo à parte. 4.2.2. Rotação de culturas Algumas espécies de insetos morrem quando uma dieta não oferece estímulos apropriados, o que leva à rejeição de determinados hospedeiros considerados inadequados. Baseado neste fato, o emprego de certas plantas em sistema de rotação de cultura passa a ser uma necessidade, enquanto estratégia de controle. A rotação de culturas visa melhorar a distribuição dos plantios no campo, otimizar trabalho, auxiliar no controle de invasoras e insetos, manter a matéria orgânica e nitrogênio no solo, aumentara produção e diminuir as perdas por erosão (BERTONI, 1981). A prática de rotação de culturas é mais eficiente contra pragas não polífagas e, para insetos com limitada capacidade de migração e dispersão. Dos insetos-praga que podem ser controlados através de rotação de cultura é possível citar a larva-arame (Conoderus spp.; a broca-da-raiz do algodoeiro (Eutinobothrus brasiliensis); lagarta-rosada (Pectinophora gossypiella), lagarta-rosca (Agrotis ipsilon); tamanduá-da-soja (Sternechus subsignatus), besouros de solo (Phyllophaga spp.); os gorgulhos (Sphenophorus levis e Metamasius hemipterus) e cupins de mandioca e cana-de-açucar. No sistema de agricultura de várzea em que os solos são alagados anualmente, destruindo portanto aquelas pragas que poderiam permanecer em diapausa até o próximo ciclo de cultura, este método não utilizado com freqência. No entanto, na agricultura de terra firme é recomendável a adoção desta estratégia de controle. 4.2.3. Destruição dos restos das culturas O corte de plantas e a queima dos restos culturais logo após a colheita, contribuem para diminuir a população das pragas. Esta é uma medida recomendada para controlar o bicudo do algodoeiro (Anthonomus grandis); lagarta-rosada (P. gossypiella); traça-das-crucíferas (Plutella spp.) e broca-da-raiz (E. brasiliensis). Este tipo de profilaxia é também usada para mosca-dasfrutas, mosca-da-mandioca, cupins e gorgulhos em cana-de-açucar e curuquerê-dos-capinzais. 4.2.4. Aração do solo Agumas pragas do solo são severamente prejudicadas quando se revolve a terra. O objetivo é expor os insetos nas suas formas mais suscetíveis (larva ou pupa) à radiação solar, aos inimigos naturais como os pássaros e mamíferos, além de serem destruídas por ação mecânica dos implementos agrícolas, reduzindo assim sua população. Pupas de Erinnyis ello (mandarová-da-mandioca) podem ser destruídas por este método. 4.2.5. Alteração da época de plantio e/ou colheita A manipulação da época de plantio pode influenciar a intensidade de dano sobre a cultura. A simples antecipação ou atrazo no plantio ou na colheita pode diminuir ou eliminar o ataque das pragas. Com esta prática, é possível minimizar os danos, evitando-se com que o inseto não ataque a planta no seu período de maior vulnerabilidade. Assim, a antecipação do plantio normalmente reduz o ataque de Anticarsia gemmatalis, A. grandis e Helicoverpa zea, enquanto o adiamento da época de plantio geralmente provoca menos danos de Hypera postica e da mosca-de-Hesse, Maytiola destructor. Quanto à colheita em se tratando de frutos, esta deverá ser realizada tão logo se verifique o início da maturação dos mesmos. Isto se aplica particularmente nas frutíferas passíveis de serem atacadas pelas moscas-das-frutas, de modo a minimizar os danos provocados por esta praga. A colheita antecipada da batatinha destinada à semente, além de reduzir as viroses, permite a colheita de tubérculos menores e mais uniformes, diminuindo também o período de exposição das batatas às pragas do solo. Para as pragas de produtos armazenados que apresentam infestação cruzada, essa prática reduz a infestação no campo. 4.2.6. Poda ou desbaste É empregada para controlar certas pragas como brocas, cochonilhas, pulgões, moscasbrancas, etc. em frutíferas e plantas ornamentais. A broca do tronco da graviola e do biribá é uma coleobroca (Cratosomus bombina) cujo ataque exige a poda dos ramos afetados. 4.2.7. Adubação O efeito da adubação do solo sobre o teor de nutrientes da planta, e, conseqüentemente sobre os insetos que dela se alimentam é bastante diverso. A adubação com potássio, nitrogênio e fósforo pode reduzir a população de pragas ou aumentar, como no caso da maioria dos insetos sugadores e alguns mastigadores. O efeito dos fertilizantes sobre os insetos varia com o nutriente e a espécie, influenciando na longevidade, fecundidade e nos danos causados. Uma planta equilibrada nutricionalmente apresente maior resistência ao ataque de pragas (TANDON, 1973). O excesso de nitrogênio aumenta a infestação de ácaros; o potássio em citrus aumenta a infestação do ácaro da falsa ferrugem. 4.2.8. Limpeza da cultura As ervas daninhas podem ser hospedeiros alternativos de várias pragas, sendo que muitas são vetores de fitopatógenos, o que prejudica as plantas cultivadas. Assim, recomenda-se a aplicação de técnicas de manejo de ervas daninhas, de modo que elas não prejudiquem a cultura e ao mesmo tempo possa servir de abrigo aos inimigos naturais. A infestação de pulgões tende a ser menor nas proximidades do mato. Por outro lado, a existência de plantas daninhas infestadas pelo ácaro rajado, permite a transferência do mesmo para as novas culturas, quando próximas, pois quando a população desta praga aumenta, formam-se teias que são levadas pelos ventos, transportando os ácaros nas suas diferentes fases. 4.2.9. Manejo da água - irrigação ou drenagem A irrigação pode reduzir populações de pragas como tripes, pulgões, ácaros, etc. Assim, populações do ácaro Tetranychus medonielli têm seu desenvolvimento reduzido em pomares de maçã com sistema de irrigação por aspersão em relação à aspersão no solo. Desta forma, além do efeito direto (mecânico), o tipo de irrigação também pode afetar as pragas pela alteração do microclima local. O cultivo do milho irrigado diminui a infestação da lagarta do cartucho (Spodoptera frugiperda), pelo acúmulo constante da água no "cartucho" e pelo aumento da umidade do solo, afetando as pupas. A irrigação por aspersão permite o controle mecânico dos pulgões que atacam várias culturas. Outras pragas como o pão-de-galinha e a broca gigante da cana-deaçucar são eliminadas por inundação das áreas infestadas. Os gorgulhos aquáticos que infestam as lavouras de arroz irrigado, são eliminados quando se faz a drenagem dos tabuleiros. 4.2.10. Uso de culturas armadilhas Consiste na semeadura de algumas fileiras com cultivar mais precoce, ou outro hospedeiro preferencial, em áreas marginais da lavoura para atrair e posteriormente eliminar as pragas com uso de inseticida restrito a esta área. Esta técnica tem sido adotada para controlar a broca-daraiz e o bicudo do algodoeiro, bem como da vaquinha Cerotoma trifurcata em soja. 4.2.11. Cultivo mínimo e plantio direto Consiste em não se revolver o solo a cada novo plantio. A manutenção da massa vegetal ou de matéria seca sobre a superfície do solo, tem propiciado o controle de algumas pragas pelo aumento de umidade, principalmente daquelas que passam por uma fase do seu ciclo evolutivo no solo, como os noctuídeos que pupam no solo, e a lagarta elasmo que prefere os solos secos. 4.2.12. Culturas intercalares Consiste em intercalar plantas de espécies diferentes numa mesma área. O plantio de feijão intercalado com cana-de-açucar contribui para diminuição da infestação da cigarrinha Empoasca kraemeri no feijoeiro. 4.2.13. Presença de florestas Vários animais insetívoros têm na floresta o seu principal abrigo. A manutenção de faixas de mata no meio de plantas cultivadas, principalmente em reflorestamento tem contribuído para redução de sauveiros, pela preservação de pássaros, tamanduás, tatus e outros animais que se alimentam de içás. 4.3. MÉTODOS MECÂNICOS Consiste na adoção de práticas agronômicas geralmente de fácil execução, em caráter complementar à outros métodos de controle. Podem também ser adotados nas situações em que outras medidas de supressão de pragas não podem ser efetivadas. Os principais métodos são: 4.3.1. Catação manual: consiste na remoção de ovos, larvas e pupas de insetos das diferentes regiões da planta. Comumente o controle da broca gigante da cana-de-açucar (Castnia licus) em algumas regiões do Estado de Alagoas, é feito através do uso de facões pontiagudos, para esmagar e extrair as lagartas do interior da base do colmo. O bicho cesto (Oiketicus kirbyi) que ataca cafezais e citros, pode ser controlado através da catação manual. Em relação ao curuquerê da couve (Ascia sp., devido à peculiaridade da forma de ataque, os ovos e as lagartas podem ser facilmente removidas das folhas. Ressalta-se que este método depende da disponibilidade e do custo da mão-de-obra bem como do tamanho da lavoura. 4.3.2. Uso de barreiras: consiste na formação de valetas ou barreiras para impedir o deslocamento de lagartas como o curuquerê-dos-capinzais (Mocis latipes) e ninfas de gafanhotos, em grandes surtos. 4.3.3. Uso de armadilhas: o emprego de frascos caça-moscas contendo substâncias atrativas para captura de moscas-das-frutas (Fig.3), o uso de tábuas pintadas em amarelo e untadas em óleo SAE 140 para captura da mosca-branca, cigarrinha-das-pastagens, tripes e moscas minadoras de folhas, são alguns dos recursos usados nesta estratégia. Outros meios como: distribuição de pedaços de pseudo-caule de bananeira, para atração e captura do moleque-da-bananeira (Cosmopolitis spp.; Metamasius spp.; uso de bambus ou bagaço de cana para captura do gorgulho (Sphenophorus levis) são também usados como alternativa de controle. 4.3.4. Esmagamento de insetos: são usados rolofacas para esmagamento de cigarrinhas e lagartas; esmagamento também é usado nas infestações de brocas de ramos e troncos de frutíferas como figueira e coqueiro. O emprego da broca-cupinzeira, implemento acoplado ao diferencial de um perfurador de solo e o conjunto engatado nos três pontos do trator de modo que o implemento possa ser acionado pela tomada de força, é um recurso usado no controle do cupim de montículo (Cornitermes cumulans) no qual o cupinzeiro é desintegrado, tanto da parte localizada acima como abaixo do nível do solo, resultando no esmagamento da colônia. Figura 3. Armadilha tipo frasco caça-mosca mod. Macphail, para captura de adultos de moscasdas-frutas. 4.4. MÉTODOS FÍSICOS 4.4.1. Fogo: o seu uso é limitado, recomenda-se para pequenas áreas como hortas e viveiros de mudas. No entanto, para os casos em que o controle químico torna-se anti-econômico, justifica-se o seu emprego, através de lança-chama, que também pode ocorrer de forma complementar à outros métodos. O fogo é usado na queima de restos de culturas para o controle de cigarrinhas e cochonilhas em pastagens e cana-de-açucar; da lagarta-rosada em algodão e coleobrocas através da destruição dos ramos. 4.4.2. Drenagem: está associada à biologia do inseto em que parte do seu ciclo evolutivo ocorre no meio aquático. É empregada no controle de náiades de carapanã, gorgulhos aquáticos em lavoura de arroz irrigado e larvas de moscas que se desenvolvem no restilo que se acumula na cultura de cana-de-açucar. 4.4.3. Temperatura: as variações na temperatura ambiente ou controlada podem contribuir para o controle de insetos. Temperaturas acima de 50oC ou a menos 5oC, podem matar ou conduzir o inseto a um estado de hibernação ou de estivação permanente. Este método é recomendado no controle de insetos de grãos armazenados. No entanto, há registro de redução drástica das pragas de espiga do milho, quando submetidas à altas temperaturas. O uso de ar quente a 47oC é uma das alternativas de controle pós-colheita de larvas e ovos de moscas-dasfrutas em papaia. No tratamento pós-colheita de manga para o controle de moscas das-frutas, recomenda-se o mergulho de frutos em água à temperatura de 46,1oC, durante o tempo de 71 a 90 minutos, de acordo com o peso do fruto. Por outro lado, pode-se também utilizar temperatura abaixo de 5oC para controlar esta praga, através do tratamento pós-colheita. 4.4.4. Inundação: quando o uso deste método é compatível com a cultura em questão, tratase de um ótimo recurso no controle de insetos subterrâneos. A lagarta-rosca (Agrotis ipsilon), o pão-de-galinha (Ligyrus sp.), cupins, broca gigante da cana-de-açucar e lagarta dos capinzais (Mocis latipes), são algumas das pragas que podem ser controladas por este método. 4.4.5. Água: o emprego de jato d água sob pressão de 300lbs na lavagem de tronco em pomares de citros, tem sido uma alternativa de controle da cochonilha de carapaça Parlatoria sp. Da mesma forma, o impacto da água de irrigação contribui para diminuição da população de pulgões. 4.4.6. Energia: a principal fonte de energia é a solar. Esta se propaga através de radiações eletromagnéticas que compreende um amplo espectro contendo desde as ondas de rádio de baixa energia e longo comprimento de onda, até a radiação gama que é de alta energia e curto comprimento de onda. De um modo geral as ondas longas provocam o aquecimento do ambiente, enquanto as ondas curtas produzem efeitos químicos e ionização de átomos. Deste espectro, as faixas de radiação que têm sido empregadas no controle de insetos-pragas são: ultravioleta (UV), luminosa, sonora, infravermelho (IV) e gama. A Fig.4 ilustra o espectro eletromagnético onde pode-se observar a relação entre a variação do comprimento de onda e a e energia. A importância da variação dos diferentes tipos de ondas, seja incidente ou refletida, é que elas interferem no comportamento dos insetos através dos efeitos de ondas longas (insetos noturnos) e de ondas curtas (insetos diurnos). Figura 4. Espectro da radiação solar (GALLO et al., 1989) 4.4.6.1. Ultravioleta (cor): Os insetos detectam radiações que vão do ultravioleta ao infravermelho, sendo maior a sensibilidade às ondas de menor comprimento, o que não acontece com o homem. Assim, as cores podem exercer ação de atratividade ou de repelência em relação aos insetos, permitindo desta forma o seu emprego no controle dos mesmos. A formação das cores percebidas pelos insetos nem sempre são as mesmas observadas pelo homem (Fig. 5). Folhas ou qualquer outro substrato que reflitam radiação na faixa do ultravioleta repelem o pulgão Myzus persicae. O uso de palha de arroz em cobertura morta nos canteiros de olerícolas e lavoura de feijão, pelo fato de refletir o ultravioleta, contribui para reduzir a infestação de pulgões alados, vetores de viroses. Da mesma forma o uso de cal, que dada a sua coloração branca, causa ação de repelência aos pulgões. Por outro lado, a cor amarelo-ouro tem sido usada em superfícies contendo substância adesiva para atrair mosca-branca e mosca minadora. Figura 5. Cores resultantes da absorção seletiva de determina da radiação e cores monocromáticas resultantes da emissão de determinados comprimento de onda (Gallo et al. 1989) 4.4.6.2. Luz: particularmente a visível, influencia o inseto através do seu desenvolvimento via fotoperíodo ou do seu comportamento, via comprimento de onda. Desta forma, os insetos adaptados à percepção de radiação infravermelha, portanto noturnos, quando submetidos à luz visível, ocorre uma migração dos pigmentos dos omatídeos como resposta ao novo comprimento de onda. Assim, os insetos podem ser atraídos ou repelidos por esta fonte luminosa. A luz ultravioleta e a verde atraem mais insetos que a amarela e a vermelha. Com isto, pode-se usar qualquer fonte de luz, acoplada a um dispositivo para capturar ou destruir os insetos atraídos. Estes dispositivos podem ser armadilhas ou lençol branco associado a uma fonte luminosa. As lâmpadas que emitem energia na faixa do ultravioleta, atraem mais insetos. Em função disto, as armadilhas luminosas são confeccionadas com lâmpadas fluorescentes ultravioleta, conhecidas por luz negra (BL ou BLB). O primeiro registro de uso dessas armadilhas data de 1874. Há vários tipos. A mais comum é o modelo "Luiz de Queiroz" (Figura 6). Existem outros tipos de armadilhas, como a de eletrocussão, usada em ambientes fechados para o controle de mosca doméstica. Figura 6. Esquema da armadilha luminosa mod. "Luiz de Queiroz . 4.4.6.3. Som: as ondas sonoras produzem vibrações de partículas. O som apresenta diferentes faixas de frequência medida em hertz. Quando a frequência supera 20.000 hertz ou 20.000 c.p.s. (ciclos por segundo), este é denominado de ultra-som, não sendo percebido pelo ouvido humano que só ouve sons emitidos entre 16 e 20.000 c.p.s. Muitas espécies de insetos são sensíveis à faixa do ultra-som, cuja percepção é utilizada para sua sobrevivência, como por exemplo, na defesa contra ação de morcegos insetívoros. O controle de insetos através do som pode ser usado de duas formas: a) Pela produção de calor, através da energia intensa A emissão de ondas sonoras acima de 39.000 hertz produz aquecimento e pode controlar o gorgulho do arroz (Sitophillus oryzae) em grãos armazenados. Pode também ocorrer duplo efeito (ressonância e aquecimento) no controle desta praga uma vez que, a simples elevação de temperatura (38oC) não é suficiente para matar todos os insetos. b) pelo uso de diversas frequências, afetando o comportamento dos insetos através da emissão de sons desejáveis ou não. O som pode ser empregado como atraente ou repelente. Simulando-se o som emitido pelas fêmeas de carapanã em atividade de vôo, consegue-se atraí- la e assim, capturá-la. Também através de simulação de sons, pode-se atrair os insetos para armadilhas, como acontece com algumas espécies de cigarrinhas do arroz. A emissão na faixa de 25.000 a 60.000 hertz, simula o som de morcegos insetívoros, que são predadores de mariposas, afugentando-os. Como o raio de ação do ultra-som é muito curto. há limitação deste método de controle, sendo usado mais apropriadamente em ambientes fechados. 4.4.7. Radiação ionizante: o emprego de substâncias que provocam a esterilização dos insetos é conhecida há anos. Em 1916 Runner submeteu o "besouro do fumo" Lasioderma serricorne aos raios X, obtendo ovos estéreis. A esterilização torna o inseto incapaz de produzir descendentes. Ela pode ocorrer quando: 1) a fêmea torna-se infecunda; 2) aspermia ou inativação dos machos; 3) incapacidade para cópula; 4) mutação letal dominante nas células reprodutoras dos machos e das fêmeas. Esta última é a mais viável, embora possa ocorrer a combinação dessas situações. O exemplo clássico deste tipo de controle foi o realizado com a mosca-da-bicheira Cochliomyia hominivorax em 1954, quando a mesma foi erradicada da ilha de Curaçao. A radiação ionizante pode ser obtida em forma de energia pelos raios X e (gama); em forma de partículas pelos raios alfa, beta, nêutrons e elétrons acelerados. As substâncias mais comumente empregadas como fonte de radiação gama são o Cobalto 60 com meia vida de 5,3 anos e o Césio 137 com meia vida de 30 anos, sendo a primeira mais econômica do que os raios X e menos econômica do que os elétrons acelerados, motivo pelo qual são mais usados. A radiação ionizante pode ser empregada através da esterilização total, com aplicação direta dos raios sobre a população dos insetos. Este processo é usado para pragas de produtos armazenados. Esta radiação pode também ser usada para esterilizar insetos para posterior liberação em populações normais num ecossistema definido, permitindo a sua competição com outros da população natural. Esta última é conhecida por TIE (técnica do inseto estéril), porque consiste na liberação de machos e fêmeas estéreis tratadas em fontes de radiação ionizante. Para a esterilização total da praga, algumas considerações precisam ser estabelecidas: suscetibilidade da espécie à radiação; determinação da dose letal para as diversas fases do inseto (ovo, larva, pupa e adulto); racionalização do material a ser exposto à radiação e natureza do produto a ser tratado, pois as radiações podem alterar as qualidades organolépticas de alguns alimentos. Na TIE a quantidade de insetos liberados deve ser calculada em função da população natural existente num ecossistema delimitado. Esta técnica é recomendada para os seguintes casos: 1. espécies que transmitem doenças graves; 2. espécies que não são controladas por inseticidas; 3. espécies que apresentam baixa tolerância quanto ao nível de infestação; 4. espécies que são controladas com inseticidas que deixam resíduos não toleráveis ao ambiente; 5. quando não houver outra alternativa de controle; As condições básicas para que a TIE possa ser usada são: 1. a esterilização não pode afetar o comportamento do macho, principalmente em relação a sua sexualidade; 2. criação massal econômica e contínua; 3. boa capacidade de dispersão; 4. a população da praga no campo deve estar com sua densidade baixa, para isto, muitas vezes é necessário a aplicação de inseticidas visando a redução da população. 5. a população estéril liberada não deve produzir dano; 6. para a erradiçação do inseto-praga, a área em questão deve ser limitada por barreiras naturais; 7. fiscalização permanente para evitar reinfestação e assegurar a continuidade do programa até completa erradicação; 8. conhecimento da biologia e ecologia do inseto visado; 9. viabilidade econômica; 10. garantia de continuidade do programa de esterilização durante várias gerações da praga; O sucesso obtido com a erradicação da mosca varejeira na ilha de Curaçao, estimulou o desenvolvimento de novas pesquisas voltadas em particular para as moscas-das-frutas. Dentre estes projetos, destaca-se o de erradicação de Bactrocera dorsalis no Japão e o de erradicação de Ceratitis capitata na Guatemala e sul do México (Chiapas), através do programa MOSCAMED. 4.5. MÉTODOS BIOLÓGICOS Consiste no uso de inimigos naturais (parasitóides, predadores e patógenos) para o controle de insetos-pragas. Segundo DeBach (1964) controle biológico é definido como "a ação de parasitos, predadores ou patógenos que mantêm a densidade populacional de outros organismos numa média mais baixa que ocorreria em sua ausência". Na realidade, os especialistas consideram o Controle Biológico como uma ciência que trata da ação de inimigos naturais na regulação das populações de seus hospedeiros e suas presas, sejam eles insetos-pragas ou ervas daninhas. O Controle Biológico é o componente fundamental do equilíbrio da natureza, cuja essência está baseada no mecanismo da densidade recíproca, isto é, com o aumento da densidade populacional da presa, ou do hospedeiro, os predadores ou os parasitóides, tendo maior quantidade de alimento disponível, també, aumentam em número. Desta forma, os inimigos naturais causam um declínio na população da praga. Posteriormente a população do inimigo natural diminui com a queda no número de presas ou hospedeiros, permitindo que a população da praga se recupere e volte a crescer. Neste caso, os parasitóides e predadores são agentes de mortalidade dependentes da densidade populacional da praga. Por outro lado, os fatores físicos de mortalidade, como a temperatura e a umidade, podem impedir, temporariamente, o aumento no número de indivíduos da praga,independente do tamanho da população desta. Estes são os fatores independentes da densidade populacional, na densidade de uma população, em diferentes tipos de ambientes. 4.5.1. Tipos de controle biológico 4.5.1.1. Controle biológico natural O controle biológico é uma extensão do controle natural; em cada ecossistema existem espécies abundantes e raras e, geralmente, cada espécie mantém um status numérico. Segundo DeBach (1964), o controle biológico natural refere-se a manutenção da densidade populacional, mais ou menos flutuante, de um organismo, dentro de certos limites superiores e inferiores definidos por um período de tempo pela ação de fatores bióticos e/ou abióticos. Evidentemente que estes limites, juntamente com a densidade média, sofrerão mudanças se as ações dos fatores regulatórios forem alterados, ou se algumas forem eliminadas ou se houver novas inclusões. Portanto, uma das características do controle natural, é o seu carater permanente, quando comparado com o controle químico. 4.5.1.2. Controle biológico clássico Consiste na introdução de inimigos naturais de um país para outro, ou de uma região para outra muito distante. Chama-se clássico por causa do primeiro caso de sucesso de controle biológico internacional em 1888, com a introdução da joaninha Rodolia cardinalis (Mulsant, 1850) (Coleoptera; Coccinelidade) da Autrália, para o controle do pulgão branco Icerya purchasi Maskell, 1879 (Homoptera; Margarodidae) na Califórnia; EUA. 4.5.1.3. Por incremento e por conservação DeBach (1964) define incremento como a manipulação de inimigos naturais a fim de torná-los mais eficientes na regulação das densidades populacionais do hospedeiro, ou da presa, isto é, tornar o inimigo natural mais bem adequado ao ambiente. O controle biológico por conservação consiste em modificar o ambiente de forma a eliminar ou reduzir os efeitos adverso do ambiente aos inimigos naturais. Na prática não se separam os dois, porque as técnicas envolvidas geralmente produzem efeitos relativos a ambos. 4.5.2. Agentes de controle biológico Os agentes de controle biológicos conhecidos como inimigos naturais, são os parasitóides, predadores e patógenos, sendo que os dois primeiros são chamados de entomófagos e o terceiro de entomopatógeno. O parasitóide é um organismo que para o seu completo desenvolvimento necessita de apenas um indivíduo hospedeiro. O predador é um organismo que necessita de mais de um indivíduo para completar seu desenvolvimento. Patógeno refere-se a um microorganismo que vive e se alimenta dentro de ou sobre um organismo hospedeiro. Além dos vírus, fungos, bactérias e protozoários, os nematóides que não são microorganismos, também são considerados agentes entomopatogênicos.