Realizado por: Paulo Alexandre de Lemos Coelho Nº 10503012 Ano: 2002 / 2003 Email: [email protected] INDICE 1. 2. 3. 4. 4.1. 4.2. 4.3. 4.4. 4.4.1. 4.4.2. 4.4.3. 4.4.4. 4.4.4. 4.5. 4.5.1. 4.5.2. 4.5.3. 4.5.4. 4.6. 5. 5.1. 5.2. 5.3. 5.3.1. 5.3.2. 5.3.3. 5.3.4. 5.3.5. 5.3.6. 5.3.7. 5.4. 5.5. 5.6. 6. 6.1. 6.1.1. 6.1.2. 6.2. 6.3. Introdução..................................................................................................... 4 Agradecimentos ............................................................................................ 5 Apresentação do grupo EFACEC................................................................. 6 Meios dieléctricos....................................................................................... 19 Considerações gerais .................................................................................. 19 Classificação dos meios isolantes............................................................... 21 Concepção do isolamento........................................................................... 22 Princípios base para efectuar a coordenação de isolamento....................... 22 Coordenação de isolamento........................................................................ 22 Condições dieléctricas e outros factores que afectem o isolamento........... 23 Níveis de isolamento normalizado ............................................................. 24 Condições gerais de ensaio......................................................................... 25 Distâncias no ar entre partes condutoras sob tensão e estruturas ligadas à terra............................................................................................................ 25 Concepção de dieléctricos .......................................................................... 26 Estudo electromagnético ............................................................................ 26 Regras básicas para a concepção de dieléctricos........................................ 26 Critérios de concepção dos dieléctricos ..................................................... 27 Descargas parciais ...................................................................................... 27 Dieléctricos mais utilizados na Indústria Eléctrica de média tensão.......... 28 Análise comparativa dos meios gasosos isolantes gasosos actualmente mais utilizados (Ar, Ar sintético, Azoto, SF6) ................................................... 30 Ar ................................................................................................................ 30 Azoto (N2) .................................................................................................. 31 Hexafluoreto de Enxofre (SF6) ................................................................... 32 Comportamento dieléctrico do isolamento no SF6 ..................................... 32 Considerações gerais .................................................................................. 33 A molécula de SF6 ...................................................................................... 33 Propriedades dieléctricas do SF6 ................................................................ 34 Corte no SF6 ............................................................................................... 35 Comportamento do SF6 perante o arco eléctrico ........................................ 39 Considerações ambientais do SF6 ............................................................... 40 Ar sintético ................................................................................................. 42 Propriedades eléctricas dos dieléctricos em estudo, comparação entre os diversos dieléctricos .................................................................................. 43 Alteração das propriedades dos dieléctricos com a variação da pressão.... 44 Proposta de protótipo para ensaio laboratorial de dieléctricos ................... 51 Forma de onda ............................................................................................ 51 Definição das condições dieléctricas.......................................................... 53 Influência da forma de onda da tensão de choque...................................... 53 Influência da geometria dos eléctrodos ...................................................... 54 Influência das condições ambientais .......................................................... 55 Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 2 / 79 6.4. 6.5. 6.6. 6.7. 7. 7.1. 7.2. 7.3. 7.4. 7.5. 7.6. 8. 9. 10. Distribuição do campo eléctrico ................................................................. 56 Disrupção dieléctrica .................................................................................. 57 Comportamento do campo eléctrico........................................................... 59 Protótipo ..................................................................................................... 63 Ensaio Laboratorial..................................................................................... 64 Principio de funcionamento do gerador ..................................................... 65 Procedimento .............................................................................................. 68 Característica das formas de onda aplicadas .............................................. 69 Condições ambientais do ensaio................................................................. 69 Ensaio utilizando o ar atmosférico como dieléctrico.................................. 70 Ensaio com a cuba fechada e cheia de ar sintético ..................................... 71 Conclusões.................................................................................................. 76 Nota final .................................................................................................... 78 Bibliografia................................................................................................. 79 Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 3 / 79 1. Introdução O presente trabalho “Alternativas ao gás SF6 como meio de isolamento na aparelhagem de Média Tensão”, que se insere na pesquisa da empresa visando o cumprimento do protocolo de Kyoto, tem como objectivo permitir ao aluno o contacto com a pesquisa e inovação em termos de tecnologias de isolamento e corte no domínio da aparelhagem de média tensão, após um conhecimento sólido das tecnologias actuais. Para tal realizou-se uma análise comparativa das propriedades eléctricas dos meios isolantes gasosos actualmente mais utilizados (SF6, azoto, ar e ar sintético) e retirou-se algumas considerações sobre a alteração das suas propriedades com a variação da pressão. O trabalho foi realizado na empresa EFACEC-AMT, S.A., no departamento de I&D e recorrendo ao laboratório de média tensão do mesmo. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 4 / 79 2. Agradecimentos Neste espaço gostaria de deixar os meus agradecimentos aos que tornaram possível a sua realização. Ao Prf. Dr. António Machado e Moura, Professor Catedrático da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto pelo seu interesse e disponibilidade em aceder ao meu pedido de supervisionar o estágio. Ao Sr. Eng. Rui Cardoso director da EFACEC AMT, S.A. por me ter possibilitado a realização deste estágio. Ao Eng. Miguel Carvalho responsável pelo departamento I&D da EFACEC AMT, S.A., pelo apoio dado, conhecimentos transmitidos e a disponibilidade com que acolheu as minhas interpelações. Ao Sr. Manuel Martins responsável pelo laboratório da EFACEC AMT S.A. pela colaboração prestada na elaboração dos ensaios. Tratou-se de uma experiência enriquecedora, que possibilitou: o meu contacto com o mercado de trabalho, o conhecimento das realidades de uma empresa de referência no mercado e proporcionou-me um desenvolvimento de competências técnicas e pessoais. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 5 / 79 3. Apresentação do grupo EFACEC ¾ Síntese histórica do grupo EFACEC Com mais de meio século de actividade a EFACEC surgiu da ELECTRO-MODERNA, um pequeno fabricante de motores e uma das mais antigas empresas no sector do material eléctrico. A sociedade foi constituída a 12 de Agosto de 1948, tendo na sua génese o Eng.º. António Ricca Gonçalves, Director da ELECTRO-MODERNA. O Eng.º. António Ricca preconizava então a criação de uma empresa sólida, financeiramente e tecnicamente capaz de se impor no mercado nacional e de concorrer em pé de igualdade, com a concorrência externa. A ELECTRO-MODERNA associa-se então aos ACEC, Ateliers de Construtions Electrique de Charleroi, à CUF – Companhia União Fabril, e ainda a um grupo de pequenos accionistas. A então denominada EFME, EFA em 1949, e, finalmente, EFACEC a partir de 1962, inicia um processo de apetrechamento tecnológico e humano que culmina na inauguração, em 23 de Junho de 1951, das instalações fabris da Arroteia, Leça do Balio. Inicialmente dedicada à produção de motores eléctricos, a EFACEC dá, a partir de 1957, os primeiros passos na afirmação da sua capacidade tecnológica e industrial ao decidir dedicarse também à produção de transformadores. Devido ao crescimento das encomendas neste sector, a empresa consolida-se e ultrapassa as crises económicas conjunturais que, ciclicamente, abalaram o sensível tecido industrial português. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 6 / 79 Em 1959, a EFACEC redefine a sua estrutura societária e estabelece, de novo, um período de crescimento. Incorpora neste período a SOPREL e a INEL, aumentando a sua capacidade industrial nas áreas de Aparelhagem Eléctrica de Alta e Média Tensão, e introduzindo nas suas actividades a produção de elevadores e montacargas. Com estas operações a EFACEC passa a constituir a maior sociedade portuguesa no campo da electrotecnia. É ainda nesta altura que a EFACEC inicia o fabrico dos grandes transformadores de potência do tipo SHELL, entrando deste modo no mais restrito “clube” dos fabricantes mundiais deste equipamento. Entre 1966 e 1973, vê crescer 2,5 vezes a área fabril e 6 vezes o volume de encomendas. Perante este crescimento e expansão, as acções da EFACEC são admitidas, em 1969, no mercado de valores de Lisboa. Quando, em 1973, comemora 25 anos de existência, a EFACEC é uma empresa conceituada e solidamente implantada no mercado nacional, protagonizando nos anos seguintes, novos desenvolvimentos. Nesse mesmo ano adquire uma posição maioritária na JORRO, empresa produtora de bombas hidráulicas (incorporada definitivamente em 1979). Procede à ampliação das instalações fabris de produção de transformadores de medida e de grande potência, e aumenta consideravelmente as instalações da fábrica de motores da Maia. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 7 / 79 Nos anos de 1976 e 1977, dá-se início à actividade na área dos Sistemas de Tracção. A primeira encomenda surge logo em 1977 e dizia respeito a vários motores de tracção de 500 cv, destinados a locomotivas Diesel-Eléctricas. Neste último ano assiste-se à entrega do 1º transformador trifásico de 420 kV, 315 MVA, com 450 toneladas de peso (a maior unidade trifásica construída em Portugal). Em 1980, é adquirida a quase totalidade das acções da RABOR, providenciando-se a constituição de uma unidade de produção de motores eléctricos à escala europeia. Com a saída em 1987 do sócio maioritário, os ACEC, a EFACEC inicia um novo período na história da empresa, e os anos oitenta vão representar um momento fundamental na redefinição das suas grandes opções estratégicas. O investimento na modernização dos meios de produção, na concepção de produtos e no desenvolvimento de novas tecnologias permitiram manter a liderança da EFACEC nas várias actividades em que está envolvida. No final da década de oitenta, assiste-se à implementação de uma estratégia de internacionalização. Numa primeira fase, criou-se uma estrutura de agentes, delegações e filiais, sustentando-se, desse modo, o rápido crescimento das exportações, consubstanciado nos sectores dos motores eléctricos e transformadores (70% do volume de exportações). A primeira metade da década de 90 representou para a EFACEC a aposta nos mercados externos. A compreensão das características da globalização levou a um constante investimento na internacionalização. Contudo, num mercado global, a internacionalização de uma empresa não se limita a uma política de desenvolvimento das suas exportações. Cada vez mais há que ser capaz de se aproximar do cliente com produtos específicos que satisfaçam os requisitos de cada mercado. Para acomodar os produtos e sistemas às necessidades dos clientes e garantir serviços pós venda adequados, há que encontrar parceiros locais capazes de, com incorporação local, aplicar o “know how” da EFACEC (tecnológico, management e qualidade). Especialmente na área dos sistemas estas alianças são essenciais. Em Junho de 1990, criaram-se as primeiras empresas afiliadas detidas em 100% pelo grupo EFACEC. As filializações introduziram uma forte racionalização das funções e dos objectivos que caracterizaram cada uma das actividades. Acrescentaram também uma agressividade comercial e um maior rigor e disciplina de gestão, factores decisivos para as empresas que, tal como as empresas do GRUPO EFACEC, têm hoje uma forte expressão. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 8 / 79 Em 1997 a EFACEC entra numa nova fase de internacionalização, da qual uma etapa fundamental é o início de laboração da LIAOYANG EFACEC Electrical Equipment, Co. Ltd, joint-venture na China para o fabrico de Transformadores de Potência e de Distribuição. Outras joint-ventures com empresas locais localizadas noutras zonas do globo são constituídas. Ainda em 1997, a EFACEC entra definitivamente no mercado das telecomunicações, através da constituição da ENT – Empresa Nacional de Telecomunicações, maioritariamente detida pela EFACEC (51%). A velocidade com que se tem assistido à globalização dos mercados está directamente ligada aos grandes avanços nas comunicações. No passado dizia-se: “o segredo é a alma do negócio”. Hoje, no mercado global, com os meios de comunicação disponíveis, os segredos circulam muito rapidamente. Para além da tradicional necessidade de credibilidade, flexibilidade e capacidade de inovação, a verdadeira alma do negócio internacional baseia-se na velocidade de resposta adequada. Para dar resposta rápida e adequada às várias solicitações recebidas dos mais diversos mercados com normas próprias, culturas diversas, moedas diferentes, as empresas vêem-se obrigadas a dispor não só de recursos humanos altamente qualificados, abertos e fluentes em línguas estrangeiras, como também de sofisticados meios técnicos e financeiros. No final de 1999 foram aprovados os princípios orientadores de uma nova estratégia para o Grupo EFACEC, a qual visa o reforço e a consolidação da competitividade, através da reorganização em três áreas de negócio (EAS - Engenharia, Ambiente e Serviços; EN - Energia; AMT - Aparelhagem de Média Tensão, TLE - Telecomunicações, Logística e Electrónica). Cada uma das novas áreas de negócio passa a ter uma estrutura orgânica e responsáveis próprios, sendo orientadas para as necessidades globais dos clientes de forma a optimizar as sinergias do Grupo, permitindo a passagem para uma lógica de sistemas e soluções integradas e diferenciadoras, por oposição a uma lógica de produto. Esta estratégia deverá permitir ainda o reforço da coesão e dos processos internos e o desenvolvimento de uma cultura assente na satisfação das necessidades do cliente, da melhoria contínua e no envolvimento criativo dos colaboradores do Grupo EFACEC. [www.efacec.pt] Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 9 / 79 ¾ Estrutura e rede internacional Figura 1: Organização da empresa Figura 2: Rede internacional Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 10 / 79 ¾ Produtos e instalações Figura 3: Pólo Industrial da Arroteia, Transformadores de Potência, Transformadores de Distribuição, Aparelhagem de Alta Tensão, Subestações Móveis, Aparelhagem de Média Tensão Nota: Tendo o campo de estágio do presente trabalho sido circunscrito à EFACE – AMT “Aparelhagem de Média Tensão”, apresento em seguida uma breve descrição da mesma. A divisão da EFACEC de Aparelhagem de Média Tensão apresenta, desde 1950, uma grande experiência no fabrico de disjuntores, seccionadores, quadros eléctricos e outros produtos para redes de média tensão. As instalações fabris situam-se a cerca de 5 km do centro do Porto, integradas num dos pólos industriais da EFACEC, a Arroteia. Estão equipadas com os mais modernos meios de produção e gestão integrada por computador, pelo que são consideradas das mais modernas da Europa no seu ramo. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 11 / 79 Figura 4: Aspecto do interior da empresa Uma fábrica moderna equipada com linhas de produção flexíveis, uma criteriosa selecção de matérias-primas, aliada a um Sistema de Garantia de Qualidade NP EN ISO 9001, garantem que os produtos satisfazem as normas aplicáveis e as especificações técnicas mais exigentes (ver figura 6). Estes produtos são o fruto de anos de experiência e o resultado de elevados investimentos nas mais avançadas tecnologias em meios de engenharia, concepção e ensaios. Meios Técnicos: • CAD -Desenho tridimensional assistido por computador • CIM -Fabrico integrado por computador • CAE -Análise de campos eléctricos e magnéticos; • CAE -Análise mecânica de movimentos e estruturas; • Linha de produção de chaparia de alta precisão e grande capacidade; • • Linha de produção automática de injecção de peças em resina epóxida (método de gelificação rápida); Laboratório de ensaios de Média Tensão. Gama de produtos: • Disjuntores de vácuo e SF6; • Quadros de distribuição modular; Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 12 / 79 • Quadros extraíveis isolados a ar; • Quadros isolados a SF6 Figura 5: Aspecto de uma das salas de trabalho onde se utiliza o desenho tridimensional assistido por computador como ferramenta de trabalho. Aparelhagem Disjuntor de Vácuo DIVAC Até 24 kV Até 3150 A Até 40 kA Disjunto de SF6 DIFLU Até 36 kV Até 2500 A Até 25 kA Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 13 / 79 Interruptores-seccionadores em SF6 IATS Até 36 kV Até 630 A Até 16 kA Interruptor-seccionador ISP e seccionador SE Até 36 kV Até 630 A Até 16 kA Quadros blindados para distribuição primária Quadro blindado extraível NORMACEL, com disjuntor de vácuo Até 17.5 kV / 24 kV Até 2500 A / 2000 A Até 40 kA / 25 kA NORMACEL Cassette, compartimento com disjuntor de vácuo extraível e seccionador de terra Até 17.5 kV / 24 kV Até 2500 A / 2000 A Até 40 kA / 25 kA Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 14 / 79 Quadro blindado extraível QBN4, com disjuntor de vácuo Até 12 kV / 15 kV Até 2000 A Até 25 kA Quadro blindado extraível QBN7, com disjuntor de SF6 Até 36 kV Até 2000 A Até 25 kA Quadros modulares e compactos para a distribuição secundária Quadro modular NORMAFIX Até 24 kV / 36 kV Até 1250 A / 630 A Até 25 kA / 16 kA Quadro compacto FLUOFIX GC, com isolamento em SF6 Até 24 kV Até 630 A Até 25 kA Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 15 / 79 Quadro compacto extensível FLUOFIX GC.M, com isolamento em SF6 Até 24 kV Até 630 A Até 25 kA Quadro compacto FLUOFIX GC.T, para exterior e com isolamento em SF6 Até 24 kV Até 630 A Até 25 kA Centros de Transformação Posto de transformação compacto para exterior com invólucro em aço inox PUC Até 24 kV Até 1000 kVA Posto de transformação compacto para exterior com invólucro em betão PUCBET Até 24 kV / 36 kV Até 1600 kVA / 630 kVA Posto de transformação compacto em bastidor PUB Até 24 kV Até 630 kVA Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 16 / 79 Unidade compacta de transformação para exterior TPS com FLUOFIX GC.T ¾ Tecnologia e qualidade: conceito chave Para o fabrico dos produtos e a realização das instalações e sistemas, o Grupo EFACEC dispõe de equipas técnicas qualificadas e emprega as mais modernas tecnologias resultantes, na sua maioria, de desenvolvimento próprio. A Qualidade, isto é, a totalidade das características de um produto ou serviço que determinam a sua aptidão para satisfazer as necessidades explícitas ou implícitas, tem hoje em dia, uma importância incontestável no mundo dos negócios. Cada vez mais as empresas reconhecem esta realidade e o que ela representa para a sua competitividade em mercados cada vez mais exigentes. A melhoria da qualidade, sob a forma de eliminação das falhas do produto, ou ainda da eliminação de desperdícios, é também cada vez mais um meio importante de melhorar a produtividade. O mercado é algo móvel que exige das empresas uma contínua revisão dos seus produtos, de modo a ajustá-los a novas exigências e expectativas, para assim satisfazer as necessidades dos clientes. Essa contínua revisão e melhoramento dos produtos, só é possível através do planeamento e implementação da Qualidade dos produtos. Os meios de produção são objecto de aperfeiçoamento permanente com introdução de técnicas actualizadas como, por exemplo, a utilização de sistemas CAD/CAM em ambiente CIM. Sendo a qualificação dos trabalhadores um factor determinante na qualidade dos produtos, o Grupo EFACEC, através dos seus Serviços de Formação Profissional, facilita aos seus trabalhadores, de todos escalões hierárquicos, os meios de actualizarem os seus conhecimentos realizando os seus conhecimentos realizando acções de formação de diversos tipos. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 17 / 79 Tendo como objectivo número um a satisfação dos seus clientes, a EFACEC adoptou uma estratégia baseada numa política QUALIDADE TOTAL. Todas as áreas de actividade possuem departamentos de Garantia de Qualidade dispondo de meios humanos e técnicos (nomeadamente diversos laboratórios) necessários ao controlo de qualidade em todas as fases de realização das instalações e sistemas e do fabrico dos produtos, desde a aquisição das matérias-primas até aos ensaios finais, com observância das normas e procedimentos dos respectivos sistemas de qualidade. Os diversos Sistemas de Garantia de Qualidade são objecto de auditorias e homologações por entidades qualificadas, nomeadamente pela Lloyd's Register of Shiping – London – e pela APCER. Figura 6: Certificados de qualidade Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 18 / 79 4. Meios dieléctricos 4.1. Considerações gerais Designa-se por dieléctrico qualquer substância que não seja condutora, poderemos então considerar como sinónimos as palavras isolante e dieléctrico. Estes têm como função realizar a oposição ao campo eléctrico, ou modificar o campo eléctrico. Nos dieléctricos não existem electrões livres de condução, isto é, todos os electrões estão ligados aos átomos ou ás moléculas do dieléctrico. Existem dois tipos de moléculas: as moléculas apolares, nas quais a nuvem de electrões e os núcleos positivos têm o seu centro de massa no mesmo ponto, e moléculas polares, em que os centros de massa das cargas positivas e negativas não coincidem, o que faz com que a molécula seja um pequeno dipolo eléctrico. Nos dieléctricos formados por moléculas polares, quando não existe nenhum campo eléctrico externo, os pequenos dipolos encontram-se orientados aleatoriamente, pelo que não se observa qualquer efeito de separação de cargas a nível macroscópico. Quando se introduz um campo eléctrico, os dipolos moleculares orientamse no sentido oposto ao campo e o corpo comporta-se como um grande dipolo eléctrico. No caso de serem materiais constituídos por moléculas apolares, o campo externo polariza as moléculas no sentido oposto, produzindo também o mesmo efeito de um dipolo macroscópico, mas de menor intensidade do que no caso de moléculas polares. Se o campo eléctrico for muito forte, poderá acontecer que a separação entre electrões e núcleos seja muito grande, podendo mesmo libertar-se alguns electrões, deixando as respectivas moléculas ionizadas. Este fenómeno constitui uma ruptura do dieléctrico, o que faz com que apareçam cargas livres transformando o dieléctrico num condutor; todavia, as cargas livres desaparecem rapidamente devido à acção do campo. Um exemplo típico de ruptura de um dieléctrico é um raio. As tempestades dão-se quando existem campos intensos entre as nuvens e os objectos na superfície da Terra. O ar é um dieléctrico que não permite a passagem de cargas entre as nuvens e os objectos. Quando o campo fica muito intenso, dá-se uma ruptura de algumas moléculas do ar e uma descarga eléctrica brusca ocorre. Se o dieléctrico fosse um sólido, a ruptura deixaria fissuras na matéria. Cada dieléctrico é caracterizado por um valor máximo de campo eléctrico que pode suportar sem ruptura, a que se denomina rigidez dieléctrica – campo eléctrico máximo que um dieléctrico pode suportar sem perder as suas qualidades de isolador. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 19 / 79 Os dieléctricos empregues na indústria do sector eléctrico deverão possuir propriedades físicas e químicas desejáveis de maneira a serem compatíveis com outros materiais aplicados no sistema e aceites quer a nível económico quer a nível ambiental. Desta forma a indústria do sector eléctrico permite efectuar uma exploração de forma mais eficiente, mais económica, mais robusta, mais segura assegurando o respeito pelo ambiente. Os dieléctricos são escolhidos de acordo com as propriedades mais adequadas para a função que vão desempenhar e para as condições de trabalho e de ambiente em que são inseridos. Dado que, a sua função principal é realizar o isolamento de partes activas e por conseguinte o isolamento de sistemas eléctricos de energia, é necessário considerar alguns factores que influenciam a escolha dos isolantes. Os mecanismos de ruptura dieléctrica são extremamente complexos, eles dependem da forma de onda da tensão aplicada (principalmente da velocidade de crescimento e amplitude) e da natureza dos isolantes (ar, gás, dieléctrico sólido ou líquido). Na prática, a ruptura dieléctrica distingue-se pelo Arco eléctrico - quando a disrupção tem lugar num gás que separa dois eléctrodos metálicos. A figura seguinte mostra o desenvolvimento de um arco eléctrico (ao choque): Figura 7: Fotografias sucessivas da descarga que se desenvolve num intervalo ponta-plano, submetido a um a tensão de choque com um valor máximo de 1,8MV. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 20 / 79 Portanto, define-se como nível de isolamento de um aparelho eléctrico como sendo a sua aptidão de suportar a tensão de impulso ao choque correspondente ao nível de tensão nominal definida para o aparelho. Estes valores são definidos normativamente para cada tipo do produto pelas normas internacionais CEI. Assim, por exemplo, para um interruptor de tensão nominal de 24 kV, o nível de isolamento para a tensão de choque correspondente será de 125 kV. 4.2. Classificação dos meios isolantes Os meios isolantes dividem-se em sólidos, líquidos e gasosos. Estes são em geral constituídos por Resina epóxica, Ar, Óleo, pelo muito utilizado SF6, (câmaras de corte de disjuntores, postes blindados herméticos, entre outros...) e mais recentemente por Azoto ou Ar Sintético. Uma maneira mais adequada de distinguir os diferentes tipos de meios isolantes consiste em os classificar. Os isolantes podem ser classificados em: - Meios isolantes autoregeneráveis; - Meios isolantes não-autoregeneráveis; Distinção entre ambos os isolantes em função do seu comportamento no decurso de um ensaio dieléctrico: - Um isolamento autoregenerável: isolantes líquidos e gasosos, não vêem as suas qualidades isolantes perdidas ou modificadas na sequência de uma descarga disruptiva durante um ensaio dieléctrico. - Nos isolantes não-autoregeneráveis: isolantes sólidos, uma descarga disruptiva destroi as suas propriedades isolantes e um grande numero de choques à tensão nominal pode provocar uma deterioração gradual do seu isolamento, sendo por esta razão que os isolamentos não-autoregeneráveis são ensaiados por aplicação de um numero limitado de choques. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 21 / 79 Então, os primeiros podem ser novamente colocados sob tensão após a ocorrência de uma ruptura dieléctrica á qual foram submetidos, sem deterioração. Quanto aos segundos, estes necessitam de uma intervenção que imobilize por um indeterminado tempo o aparelho em causa, o qual pode mesmo ser levado definitivamente a fora de uso. 4.3. Concepção do isolamento Para um inventário prático e completo é necessário encontrar um método de classificações. As condições dieléctricas são essencialmente definidas por três parâmetros, a saber: a sua amplitude, a sua forma, e a sua frequência de aparição do espectro. Podemos defini-los segundo outros critérios, como o tipo de sistema sobre o qual elas aparecerão ou o tipo de acontecimento que elas provocam, ou ainda o lugar da sua aparição. Permitem mais facilmente encontrar as equivalências entre as diversas condições dieléctricas sobre os sistemas físicos independentes. Geralmente classifica-se as condições segundo a sua forma principal, os seus níveis e as suas frequências de visibilidade. Procede-se geralmente ao estudo das condições em três categorias: - Regime a 50Hz, compreendem regimes permanentes e regimes temporários à frequência fundamental; - Sobretensões de manobra; - Sobretensões ao choque. 4.4. Princípios base para efectuar a coordenação de isolamento 4.4.1. Coordenação de isolamento A coordenação de isolamento engloba a selecção do valor do dieléctrico dos materiais e a sua colocação no trabalho, em função das tensões que podem aparecer no sistema, ao qual os materiais são destinados tendo em conta as características dos dispositivos de protecção Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 22 / 79 disponíveis. Pretende-se, então reduzir para um nível aceitável do ponto de vista económico e também de exploração, a probabilidade que as condições dieléctricas resultantes impostas aos materiais causam danos nos isolamentos dos materiais ou afectem a continuidade de serviço. 4.4.2. Condições dieléctricas e outros factores que afectem o isolamento As condições dos dieléctricos sobre os isolantes podem ser classificadas da seguinte forma: - Tensões à frequência industrial, dentro das condições normais de exploração; - Sobretensões temporárias: - Defeitos à terra; - Variações bruscas de carga; - Fenómenos de ressonância e ferroressonância; - Sobretensões de manobra: - Ligação e religação de uma linha; - Defeitos e extinção de defeitos; - Corte de correntes capacitivas ou indutivas; - Perda de uma carga; - Cortes de arco; - Sobretensões de choque; As sobretensões são classificadas segundo a forma de onda de tensão, forma essa que determina os efeitos sobre os isolantes. O comportamento do isolamento depende da distribuição geométrica do campo e do tipo do dieléctrico. Para uma dada condição dieléctrica, o comportamento do isolamento interno pode ser influenciado pelo seu grau de envelhecimento. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 23 / 79 A gama de tensões aplicadas aos materiais situam-se entre os valores normalizados de tensões entre 1KV a 52KV, ou seja, onde se encontram os valores normalizados das tensões na gama de Média Tensão 12KV;17,5KV;24KV e 36KV. Consideram-se os seguintes ensaios dieléctricos: - Ensaios à frequência industrial de curta duração (1min); - Ensaios à frequência industrial de longa duração; - Ensaios aos choques de manobra; - Ensaios aos choques de arco eléctrico; No comportamento à tensão de serviço, sobretensões temporárias e sobretensões de manobra verifica-se, no caso geral, por um ensaio à frequência industrial de curta duração. O comportamento com sobretensões do arco eléctrico verifica-se para um ensaio de choque do arco eléctrico. O envelhecimento do isolamento interno afectam o comportamento à tensão de serviço, assim como as sobretensões necessitam geralmente de ensaios de longa duração à frequência industrial. No momento em que, o isolante empregue é um gás, a temperatura e pressão, parâmetros da modificação da densidade do gás irão alterar as performances do isolamento. Ou seja, as condições ambiente influenciam o comportamento do gás isolante. A necessidade de estudos completos de sobretensões do sistema, deste modo a necessidade da realização de ensaios, exigem a aplicação de um grande número de choques, o que limita na prática a utilização do método estatístico. Com a aplicação do método convencional a tensão de ensaio ao choque correspondente deve ser escolhida de entre os valores normalizados. 4.4.3. Níveis de isolamento normalizado Em seguida é visualizada a tabela dos níveis de isolamento normalizado: Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 24 / 79 Un - Tensão nominal (valor eficaz) Tensão nominal ao choque de arco eléctrico (valor máximo) Tensão nominal de curta duração à frequência industrial (valor eficaz) 12kV 17,5kV 24kV 36kV 75kV 95kV 125kV 170kV 28kV 38kV 50kV 70kV 4.4.4. Condições gerais de ensaio O propósito dos ensaios indicados é de verificar que cada material respeita as tensões nominais que determinam o seu nível de isolamento. Para cada tipo de ensaio e cada tipo de material, a comissão de estudos da CEI trata da técnica de ensaios em alta tensão, ou a comissão competente de aparelhos para esse material deve especificar os métodos de detecção e falhas de isolamento e os critérios que permitam afirmar que ele tem ou não uma falha de isolamento durante os ensaios. Dentro do possível, os ensaios devem ser realizados de acordo com as normas. 4.4.4. Distâncias no ar entre partes condutoras sob tensão e estruturas ligadas à terra Os valores das distâncias no ar dadas na tabela seguinte são valores mínimos determinados pela consideração das propriedades dieléctricas, no entanto, não têm em consideração os aumentos que poderão ser necessários devido às tolerâncias de construção, efeitos de curtocircuito, entre outros… Tensão nominal aos choques de arco eléctrico(kV) Distância no Ar mínima Fase-Massa (mm) 75 95 125 170 120 160 220 320 Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 25 / 79 4.5. Concepção de dieléctricos 4.5.1. Estudo electromagnético O estudo electromagnético tem como objectivo essencial determinar o campo eléctrico e avaliar o comportamento das linhas equipotenciais nos dieléctricos dos sistemas eléctricos de energia e seus interfaces. Deste modo a geometria apresenta um papel preponderante de forma a que o campo eléctrico não ultrapasse os valores limite aceitáveis para os diferentes tipos de dieléctricos, sólidos, líquidos e gasosos. 4.5.2. Regras básicas para a concepção de dieléctricos Reduzir os valores máximos do campo eléctrico em particular nos pontos triplos - Eléctrodo – isolante sólido – gás; Optimização das dimensões - Distâncias entre fases; - Distâncias entre fase-massa; Escolher linhas de fuga suficientes; Assegurar-se que em ambientes muito húmidos/poluídos não se produz envelhecimento rápido dos materiais isolantes (descargas parciais); Evitar a retenção de humidade/água, escolhendo a forma adequada da peça isolante; Evitar que as juntas de vedação estejam submetidas a campos eléctricos elevados; Verificar que os isolantes não estão em contacto com corpos metálicos com temperaturas de funcionamento em regime permanente superiores às admissíveis para estes materiais, evitandose assim o envelhecimento precoce. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 26 / 79 4.5.3. Critérios de concepção dos dieléctricos Condutores totalmente “inseridos” em dieléctricos Nesta situação o critério de concepção do dieléctrico é fornecido directamente pelas características dieléctricas do material isolante. A característica mais importante é a rigidez dieléctrica, dado que, esta verifica se o campo eléctrico aplicado é inferior ao máximo admissível para o material em questão. Condutores isolados ao Ar Nesta outra situação o critério a adoptar é o respeito pelo nível de tensão de ensaio ao choque. Em seguida são amostrados os valores referência não limitativos, isto é, poderão ser consideradas distâncias mais pequenas com a introdução de técnicas de controlo do campo eléctrico e deflexão do mesmo. Un – tensão nominal (kV) Distância mínima fase-massa (mm) 12 17.5 24 36 120 160 220 320 4.5.4. Descargas parciais Estas descargas geradas pelos campos eléctricos têm um especial interesse nos critérios de concepção dos dieléctricos dado que avaliam as descargas na medida em que estas prejudicam ou não a vida dos isolantes: Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 27 / 79 Isolantes gasosos (efeito coroa) As descargas parciais nos gases são denominadas vulgarmente, por efeito de coroa, distinguem-se então duas situações distintas: Isolamentos a Ar O efeito de coroa é admissível até algumas centenas de pC; Isolamentos a SF6 O efeito de coroa deverá ser inferior a 1pC, dado que este efeito é prejudicial na medida em que provoca a decomposição do SF6; 4.6. Dieléctricos mais utilizados na Indústria Eléctrica de média tensão É indispensável tomar consciência da natureza multidisciplinar de diversos estudos e ensaios que conduzem um determinado construtor à adopção definitiva de um dieléctrico. A sua realização necessita de conhecimentos em electricidade, mas também química e estática. Esses trabalhos poderão levar vários anos. Numerosas experiências são igualmente necessárias a fim de avaliar a duração de vida do novo material. Estima-se que o recente progresso no uso de isolantes na indústria eléctrica, deve-se essencialmente a três motivos: – Dimensionar da melhor forma possível o isolamento dos materiais eléctricos; ou seja, optimizar o isolamento de forma a reduzir os custos inerentes; – Manter a taxa de defeito dos isolantes abaixo dos valores aceitáveis pelos utilizadores; – Desenvolver novos isolantes de forma a permitir a construção de novos materiais isolantes que suportem tensões cada vez mais elevadas, ou o funcionamento em condições especificas; Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 28 / 79 Contudo, diversas condições ligadas essencialmente à industrialização, provocam mudanças importantes. Como consequência, os produtores dos isolantes e os seus utilizadores devem: – Ter em conta as diversas exigências associadas aos locais onde serão instalados os materiais; – Reduzir ou suprimir a poluição resultantes da dispersão de isolantes; – Regular os processos de fabricação e de emprego dos isolantes de forma a reduzir o consumo de energia; – Ter em atenção as condições ambientais permitidas; Inicialmente o ar à pressão atmosférica foi o dieléctrico utilizado, a sua fácil acessibilidade e as suas características o proporcionaram. Mais tarde sempre com a idéia vincada de desenvolver novos isolantes, de forma a permitir a construção de novos materiais isolantes que suportem tensões cada vez mais elevadas, ou o funcionamento em condições especificas surgiu o óleo. O óleo cedeu terreno para o SF6, em particular nos domínios superiores de tensão, de poder de corte e de corrente. O SF6 é agora o dieléctrico gasoso por excelência. Novas tecnologias começam a ser equacionadas uma delas o Azoto, outra o Ar sintético. Presentemente a indústria está a ser obrigada a descobrir novos substitutos dos produtos que hoje são utilizados nos sistemas eléctricos de energia, de forma a optimizar a indústria do sector eléctrico ao nível da sua exploração, robustez, economia, e aspecto ambiental. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 29 / 79 5. Análise comparativa dos meios gasosos isolantes gasosos actualmente mais utilizados (Ar, Ar sintético, Azoto, SF6) Todos os gases são normalmente bons isolantes eléctricos, de entre eles mesmos alguns são correntemente utilizados na electrotecnia. Meios dieléctricos em estudo: AR AR Sintético N2 5.1. Ar A primeira técnica de corte utilizada foi do corte no ar à pressão atmosférica. O ar é um isolante gasoso por excelência devido às suas propriedades físicas e químicas, consequentemente é utilizado com grande frequência na electrotecnia. O ar à pressão atmosférica tem uma rigidez dieléctrica relativamente pequena e nenhum processo físico particular vem acelerar a recombinação dos iões e dos electrões, de modo que a constante de tempo de ionização é relativamente elevada [5]. Aliada às suas qualidades de isolante, este tem a particularidade de apresentar um custo de produção nulo. À pressão atmosférica e à temperatura ambiente o ar assegura o isolamento das linhas aéreas, barramentos, e sob pressão é utilizado como dieléctrico de corte – disjuntores. Entre outros aparelhos eléctricos empregues na indústria eléctrica. Dos parâmetros que influenciam o comportamento dieléctrico do ar, quando utilizado como meio de corte da tensão eléctrica, destacam-se os seguintes: Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 30 / 79 Pressão - P; Temperatura - T; Poeiras; Corrente de ar; Actualmente a principal desvantagem deste tipo de aparelho reside nas suas dimensões, condicionadas pelas das câmaras de corte e das distâncias de isolamento no ar. As modernas técnicas de corte no SF6 permitiram reduzir de modo acentuado as dimensões e os custos de aparelhagem de média tensão de modo a quase se poder afirmar que os disjuntores e contactores de corte no ar estão ultrapassados. 5.2. Azoto (N2) O azoto é uma tecnologia alternativa que começa a ser bastante utilizada na electrotecnia, ultimamente começou a ser utilizado como isolante na Média Tensão. O azoto N2 é um gás diatómico e em condições atmosféricas normais (15ºC e 700mm Hg) é incolor, inodoro e sem paladar. O azoto é o principal componente do ar atmosférico (78,08% do volume total). À pressão atmosférica e a temperaturas inferiores a -196ºC é um líquido incolor, ligeiramente mais claro do que a água. O azoto é insusceptível para a respiração ou combustão, mas tem um papel essencial como elemento de matéria viva (animal e vegetal) e participa no processo natural complexo de transformação da matéria. Trata-se de um gás não inflamável, inerte e não tóxico. Em grandes concentrações, asfixia ou pode mesmo causar tonturas, podendo servir como anestésico. O azoto não é corrosivo e pode ser empregue com quase todos os metais geralmente usados em temperaturas normais [1], [3]. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 31 / 79 O azoto é utilizado como meio de refrigeração. Obtém-se industrialmente por destilação fraccionada do ar liquefeito. Propriedades físico-quimicas: [1] Peso molecular 28,013 g/mol Temperatura de ebulição (1 atm) -195,8 ºC Temperatura crítica -146,9 ºC Pressão crítica 33,9 bar Densidade do gás (15ºC, 1 atm) 4,187 g/l Densidade do líquido (p.e., 1 atm) 0,807 g/ml Peso específico (ar=1) 0,967 Solubilidade em água (0 ºC, 1 atm) 2,33 cm3 N2/100 cm3 H2O Calor latente de vaporização (1 atm) 47,44 cal/g 5.3. Hexafluoreto de Enxofre (SF6) 5.3.1. Comportamento dieléctrico do isolamento no SF6 As aplicações do SF6 com isolante são cada vez mais numerosas. A indústria eléctrica, essencialmente, a aparelhagem para sistemas de distribuição e transporte de energia, utilizam à cerca de duas dezenas de anos o SF6 como isolante e agente de corte do arco eléctrico . Este estudo permite determinar a influência, sobre as tensões de disrupção no SF6, de vários parâmetros tais como: - A pressão do gás; - A limpeza dos eléctrodos, o seu estado de superfície, e as suas dimensões; - As impurezas sólidas; - Estuda-se também a influência da forma de tensão aplicada aos eléctrodos, em particular a forma dos impulsos de tensão; - Mistura de gases com o SF6. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 32 / 79 Os ensaios são efectuados numa célula de eléctrodos coaxiais, no entanto em certos casos o estudo é feito em células de eléctrodos planos, estes últimos apresentam um campo praticamente uniforme, enquanto em eléctrodos coaxiais apresentam um campo divergente, afim de conhecer a diferença do comportamento dieléctrico do SF6. 5.3.2. Considerações gerais O gás SF6 possui uma série de propriedades físicas e químicas que o torna um meio isolante e extintor do arco eléctrico por excelência. Propriedades físico-quimicas [1]: Peso molecular 146,05 g/mol Temperatura sublimação -63,9 ºC Pressão vapor (20 ºC) 22,77 ºC Temperatura critica 45,5 ºC Pressão crítica 37,1 atm Densidade do gás (20ºC, 1 atm) 6,16 g/l Densidade do líquido (p.sat. -50 ºC) 1,91 kg/l Densidade do líquido (21 ºC) 1,371 g/ml Peso específico (ar = 1) 5,11 Solubilidade em água (10 ºC, 1 atm) 0,0076 ml/ml H2O Calor latente de vaporização 38,6 cal/g 5.3.3. A molécula de SF6 Gás de síntese, obtido pela reacção directa do flúor sobre o enxofre a alta pressão e temperatura, o SF6 apresenta-se, à temperatura ambiente, como um gás não inflamável, não tóxico, incolor e inodoro com uma densidade relativamente elevada em relação ao ar. É extremamente estável inerte até cerca de 500ºC comportando-se como um gás nobre. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 33 / 79 A molécula, perfeitamente simétrica, tem no seu centro um átomo de enxofre. Os seis electrões de valência, que constituem as ligações livres, são constituídos por seis átomos de flúor para completar a camada electrónica periférica. Estes seis átomos de flúor encontram-se dispostos em redor do átomo de enxofre nos seis vértices dum octaedro regular. Este edifício, cujas ligações químicas estão saturadas, revela-se perfeitamente inerte quimicamente e apresenta uma grande estabilidade concretizada por uma energia de formação elevada (1096 kj/mol.) [2], [5]. 5.3.4. Propriedades dieléctricas do SF6 A primeira das qualidades do SF6 para um construtor de aparelhagem eléctrica, manifesta-se no domínio da rigidez dieléctrica, onde para igual pressão, revela-se superior à maioria dos meios conhecidos. Esta característica deve-se às dimensões elevadas da sua molécula e aos múltiplos mecanismos de colisões inelásticas que lhe permitem «travar» eficazmente alguns electrões livres, sempre presentes, que o campo eléctrico tende a acelerar e que constituem os iniciadores da descarga. O SF6 caracteriza-se por possuir excelentes propriedades dieléctricas o que faz com que seja um excelente extintor do arco pelas seguintes razões: – a alta energia de dissociação do SF6 conduz ao resfriamento eficaz do arco. Os iões provenientes da dissociação são muito electronegativos e captam rapidamente os electrões livres; – a recombinação muito rápida das moléculas de SF6 dissociadas permite o restabelecimento de tensões muito severas; – permite uma rápida dissipação do calor gerado pelo arco, devido ao seu calor específico elevado; – permite uma regeneração da rigidez dieléctrica entre contactos muito rápida, devido à sua recombinação rápida e espontânea. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 34 / 79 Apresentando um peso especifico de 6,14g/l ele é cinco vezes mais pesado que o ar (dSF6 ≈ 5dar). Esta propriedade aliada à ausência de cheiro e cor, requer algumas medidas de precaução ao nível de trabalho, de forma a evitar acidentes por vezes fatais devido à asfixia. O coeficiente de transmissão de calor é aproximadamente vinte e cinco vezes o do ar, e a tensão do arco é cinco a dez vezes menor que a do ar. Influência dos factores que provocam o envelhecimento de estruturas isolantes no SF6 ligados essencialmente às descargas parciais no gás: – presença de imperfeições nas rugosidades da superfície dos condutores e invólucros; – impurezas sólidas nos gazes (presença de humidade). Diga-se contudo e para abreviar, que algumas das notáveis propriedades dieléctricas do SF6 existem igualmente dispersas noutros gases com flúor, tais como o freon. Contudo o SF6 afirmase como «líder» incontestado no domínio do corte. 5.3.5. Corte no SF6 Propriedades térmicas do SF6. Considera-se um arco contido num tubo cilíndrico cheio de um gás e percorrido por uma corrente de intensidade constante. Por uma lógica intuitiva verifica-se que a temperatura deste arco é máxima na vizinhança do eixo do tubo, decrescendo à medida que nos afastamos dele [5], [6]. N – Núcleo P – Patamar térmico B – Bainha T – Temperatura r – Raio h – altura a) b) a) Corrente de fraca intensidade (io) b) Corrente elevada (i<i0) Figura 8: Curva de repartição da temperatura dum arco eléctrico contido num tubo cilíndrico Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 35 / 79 Quando a intensidade da corrente aumenta, observa-se, na maioria dos gases, a aparição duma espécie de patamar térmico e a formação, no centro do tubo, duma zona cilíndrica onde a temperatura se eleva rapidamente, a que se chama núcleo do arco e rodeado duma zona mais fria denominada bainha. Quanto maior for a intensidade, maior é a temperatura máxima do núcleo, mantendo-se constante a do patamar. A razão da existência da barreira advém do facto de se produzir uma mudança de estado do gás a esta temperatura, as moléculas dissociam-se em átomos. Como todas as mudanças de estado, a dissociação exige algum consumo de energia, dita energia de dissociação (igual à energia de formação). Tudo se passa como na ebulição da água onde a energia de vaporização assegura um arrefecimento muito importante e que mantém a temperatura constante e igual a 100º enquanto houver água no recipiente. Aqui a presença do gás molecular na bainha, situada em redor do núcleo do arco, mantém fixa a temperatura de ligação (entre o núcleo central e a bainha que o rodeia), assegurando um arrefecimento do núcleo tanto mais enérgico quanto mais baixa for esta temperatura. Isto traduzse por uma espécie de hipercondutividade térmica do gás na vizinhança da temperatura de dissociação. [3]. λ – Condutividade térmica T – Temperatura Figura 9: Condutividade térmica do azoto e do hexafluoreto No caso do SF6, só o núcleo é electricamente condutor, pois a temperatura de barreira é inferior à temperatura mínima de ionização apreciável, que se situa a temperaturas superiores a 3000ºK. Ao contrário, no caso do azoto e da maioria dos gases estáveis conhecidos, a temperatura da barreira de dissociação é bastante superior à da temperatura de ionização. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 36 / 79 R – Raio do tubo Quando o núcleo central desaparece, durante o decrescimento da corrente, a bainha, muito fria no caso do SF6, deixa de conduzir a corrente enquanto se mantém condutor no caso do azoto. Figura 10: Comparação da variação da condutância entre o azoto e o hexafluoreto de enxofre Quando a corrente diminui, observa-se tanto para o SF6 como para o azoto, uma diminuição rápida da temperatura do núcleo. Este possui para o efeito uma fraca inércia térmica, o que se percebe tendo em atenção o seu pequeno raio e a massa volúmica do gás fortemente reduzida. Quando a corrente se aproxima, no caso do SF6 que possui uma condutância muito mais baixa, sucede-se o desaparecimento do núcleo. O mesmo não se sucede tanto para o azoto como para outros gases usuais, cuja bainha se mantém condutora durante bastante tempo, devido à sua temperatura elevada e à grande inércia térmica. Principal propriedade eléctrica do SF6 A importante vantagem de ordem térmica que se referiu anteriormente é completada por uma outra vantagem notável ligada às características electronegativas do flúor, (Afinidade do electrão) [2]. As excelentes propriedades isolantes do hexafluoreto de enxofre são atribuídos à forte afinidade do electrão (electronegatividade) da molécula SF6. Isto é baseado principalmente em dois mecanismos, a captação da ressonância e na separação da ligação dos electrões, de acordo com as equações: Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 37 / 79 SF6 + e- → SF6SF6 + e- → SF5- + F Quando a temperatura aumenta, para temperaturas superiores a 2000 ºK, a molécula de SF6 dissocia-se em átomos de enxofre e de flúor. N – nº de partículas por cm3 T – Temperatura Figura 11: Curvas de decomposição do SF6 Na fig. 11 verifica-se que se continuarmos a aumentar a temperatura para valores superiores a 3000 ºK os átomos de enxofre vão progressivamente ionizar-se (curva de S+). Note-se contudo, que a maioria dos electrões assim libertados são imediatamente capturados pelos átomos de flúor para formar os iões negativos de flúor, pesados e por consequência com pequena mobilidade, os quais participam muito reduzidamente na condutância do plasma. (Verificar que as curvas S+ e F- têm o mesmo início). Os números de electrões livres que são os verdadeiros responsáveis pela condutância, não aumentam senão para temperaturas superiores a 4000 ºK. Inversamente, quando a corrente diminui e se aproxima do zero e por consequência a temperatura do arco diminui, verifica-se que o número de electrões livres diminui, e por consequência a condutância diminui também. Assim para valores inferiores a 4000 ºK, temperatura para a qual quase todos os electrões livres são capturados, a resistência do arco sofre um aumento brusco antes mesmo do desaparecimento do núcleo (2100 ºK). Resumindo, pode-se dizer que no SF6 antes mesmo que o núcleo central tenha desaparecido completamente devido ao arrefecimento do arco, a condutância deste já se tornou praticamente Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 38 / 79 nula, graças à captura dos electrões livres pelos átomos de flúor, os quais se transformam abaixo de 6000 ºK em verdadeiros «devedores» de electrões. Esta propriedade, associada à existência da barreira hipercondutora e às notáveis propriedades dieléctricas do SF6, conferem-lhe um conjunto de qualidades que não existem em nenhum outro meio actualmente conhecido. 5.3.6. Comportamento do SF6 perante o arco eléctrico As descargas eléctricas tendem a decompor o gás numa intensidade proporcional à energia das mesmas. Sob a influência do arco o SF6 decompõe os seus elementos atómicos, segundo: ∆E SF6 S + F6 A regeneração do gás seria total se não houvesse reacções secundárias entre o gás decomposto e metais vaporizados dos contactos; os produtos mais comuns destas reacções secundárias são CuF2, WF6, SF4, S2F2. As características isolantes do SF6 variam em função da pressão (função da densidade). As excelentes características extintoras e isolantes do SF6 dão preferência à sua utilização numa enorme gama de tensões e encontra-se actualmente como preferência actual. Sendo todas as restantes condições iguais, o tempo de extinção do arco usando SF6 é aproximadamente 100 vezes menor do que usando ar. O desempenho superior de extinção de arco do SF6 comparado com outros gases é ilustrado na figura seguinte. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 39 / 79 Figura 12: Curvas de variação da corrente do arco em função da pressão 5.3.7. Considerações ambientais do SF6 O hexafluoreto de enxofre (SF6) é usado na transmissão e distribuição de energia desde 1960. Após os primeiros anos de experiência no equipamento de alta tensão, foram lançados no mercado mundial em 1980 os primeiros aparelhos de corte para média tensão usando o SF6 como isolante. As excelentes propriedades dieléctricas possibilitaram que o SF6 seja hoje usado para várias escalas de tensão desde os 12 kV. O mercado dos produtos utilizados na distribuição de energia encheu-se com este gás e o crescimento do seu uso é acentuado. Em alguns segmentos, tais como a distribuição secundária, aproximadamente 50% de todas as unidades principais integradas no anel (RMU) usam SF6. Os problemas ambientais causados pelo aumento da industrialização e um interesse público crescente em edições ambientais, conduziram à descoberta que os gases eram a causa da ascensão global da temperatura. Depois deste estudo foi decidido no protocolo de Kyoto, que os países industriais reduziriam a quantidade de gases libertados, que contribuem para o efeito da estufa. Um dos gases que contribui para o efeito de estufa é o SF6. As quantidades de SF6 instaladas nos aparelhos de corte de média tensão são pouco significantes. O hexafluoreto de enxofre oferece um grande número de vantagens, contudo tem Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 40 / 79 uma desvantagem. O SF6, embora não sendo um gás prejudicial à camada de ozono, é considerado como um gás que provoca o efeito de estufa. Globo terrestre Estratosfera Troposfera Q QQ. A figura 13: Efeito de estufa O efeito de estufa é mostrada esquematicamente em figura 13. Devido às fortes propriedades de absorção dos gases como o CO2, o metano (CH4), o óxido de nitrogênio (NOX) ou o SF6, a radiação infravermelha (RI) que reflete na superfície da terra é obstruída na atmosfera. Por esta razão a dissipação de calor da terra é reduzida e causa uma ascensão da temperatura na troposfera. Além deste efeito e por ser um gás de efeito de estufa o SF6 caracteriza-se pelo inconveniente de possuir um poder de absorção da radiação infravermelha muito mais elevado do que todos os outros gases. Este factor é expresso num potencial de aquecimento global elevado (GWP) de 22,200 por 100 anos. Este efeito ambiental prejudicial, entretanto é compensado parcialmente pelos seguintes factores: – A contribuição dos aparelhos de corte elétrico para as emissões de SF6 são de muito menor dimensão, contrariamente às aplicações como a isolação térmica das janelas, ou um gás inerte para finalidades militares ou também como um gás inerte para a engenharia de processos. – Apesar de seu elevado factor de GWP, o SF6 no global é responsável por somente 0,1% aproximadamente do efeito sintético total da estufa devido à sua concentração extremamente baixa na atmosfera. Após um longo tempo de falta de interesse por todas as indústrias, que não somente a elétrica, é lhes pedido para que forneçam soluções para parar o adicional aumento de SF6 na atmosfera. Os fabricantes de aparelhos de corte isolados a gás têm investigado alternativas ao SF6 com as finalidades da isolação e de corte [4]. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 41 / 79 5.4. Ar sintético O ar é um gás incolor, inodoro e insípido, que se obtém mediante a compressão do gás atmosférico a partir de uma mistura elaborada dos seus componentes, mediante destilação criogenia. O ar sintético utiliza-se como um gás comburente em: absorção atómica de chama, em cromatografia de gases com detectores de ionização de chama, e em analisadores de hidrocarbonatos totais e óxidos de nitrogênio [1]. – Tratamentos médicos – Gás de protecção para utilizações eléctricas. Composição do ar sintético versus o ar atmosférico (1) N2 Ar Atmosférico (% vol.) 78,084 O2 20,946 21 Ar 0,934 * CO2 0,033 * Outros gases 0,003 * Ar Sintético (% vol.) 79 (1) a 0 m de altitude isento de humidade (*) medida de tolerância ± 1% do valor obsoluto O Ar sintético comprimido difere do ar atmosférico pela percentagem bastante inferior de H2O. Assim, a água é condutora logo, a sua ausência diminuirá a possibilidade de ionização do meio, adquirindo melhores qualidades como isolante. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 42 / 79 Especificações da pureza do ar sintético [1]. Ar sintético Pureza O2 N2 H2O CO CO2 THC >99,995% 21% ± 1% balanço <3 vpm <1 vpm <1 vpm <3 vpm 5.5. Propriedades eléctricas dos dieléctricos em estudo, comparação entre os diversos dieléctricos Permitividade - ε: Propriedade eléctrica que traduz o estado de polarização de um dieléctrico. ε = εo × εr Constante eléctrica - εo: εo=8,854 × 10-12 F.m-1 Constante dieléctrica ou permitividade relativa do material - εr: (Característica do dieléctrico) Ar N2 SF 6 εr 1,000536 Cond. Amb. 20ºC, 1 atm 1,000824 20ºC, 1 atm 1,002084 20ºC, 1 atm Rigidez dieléctrica – Emáx. – kV . mm-1: Propriedade que caracteriza todos os isolantes. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 43 / 79 Ar N2 SF 6 Emáx.(kV/mm) 3,0 Cond. Amb. 3,17 20ºC, 1 atm ≈2,5 a 3 × 3,0 20ºC, 1 atm 20ºC, 1 atm O SF6 apresenta uma rigidez dieléctrica superior à do Ar (2,5 a 3), esta propriedade é essencialmente devida à característica electronegativa da molécula SF6 que capta os electrões livres e previne o fenómeno de avalanche que origina a disrupção. Esta mesma razão faz também com que o SF6 seja um agente extintor do arco, cuja sua eficácia pode ser estimada em cerca de dez vezes mais que a do ar. 5.6. Alteração das propriedades dos dieléctricos com a variação da pressão. Curvas de Paschen para o Ar , Azoto e o SF6 A lei de Paschen mostra que a tensão de disrupção (Vc) é função do produto entre a pressão do gás e a distância dos eléctrodos (p.d) [10]. Ou seja: Em que: E – valor do campo eléctrico(kV/mm), P – pressão do gás(bar), η– coeficiente de ligação, α – coeficiente de ionização, γ – coeficiente de ionização secundário, Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 44 / 79 Nota: Nos gases electronegativos como o caso do SF6 é necessário utilizar o coeficiente de ionização α’=α-η. Figura 14: Curva de Paschen para o Ar, temperatura 20ºC. Figura 15: Curva de Paschen para o N2, temperatura 20ºC. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 45 / 79 Figura 16: Curva de Paschen para o SF6, temperatura 25ºC Após uma breve leitura dos gráficos, verificamos que o SF6 apresenta um valor de tensão de disrupção superiores ao do N2 e ao do Ar, para um mesmo valor de (p.d). No entanto, convém salientar que esta lei não é válida para uso geral, está limitada, isto é, a curva de Paschen é válida até aproximadamente 1atm x 5mm. Para distâncias maiores (ou pressões maiores, e distâncias pequenas), ocorrem mudanças no mecanismo de disrupção. Gráfico do Campo Eléctrico máximo entre o Ar e o SF6, em função do produto da pressão pela distância dos eléctrodos – Rigidez dieléctrica. Figura 17: Rigidez dieléctrica ,num campo uniforme, do SF6 e do Ar. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 46 / 79 Constata-se que o SF6 apresenta um valor do campo eléctrico superior ao do Ar, o que comprova como já foi referido anteriormente, que o SF6 apresenta uma rigidez dieléctrica superior à do Ar. Isto na presença de um campo eléctrico uniforme. Gráfico da Tensão de Disrupção entre o Ar e o SF6 em função da sua geometria (raio das esferas) Figura 18: Tensão disruptiva em função do raio das esferas. Verifica-se que o SF6 apresenta um valor da tensão de disrupção superior, pelas razões atrás descritas, ao do Ar e que a geometria em causa (diâmetros de esferas) tem uma influencia importante para diâmetros pequenos, quando empregue o SF6. Relativamente ao Ar, a geometria em causa não tem praticamente nenhuma influência, uma vez que expressa um valor praticamente constante. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 47 / 79 Ábaco das características internas dos dieléctricos em estudo Figura 19: Comportamento dos parâmetros característicos dos dieléctricos em estudo Este ábaco mostra a variação dos parâmetros intrínsecos dos dieléctricos em função do valor do campo eléctrico aplicado. Gráfico da tensão de disrupção do SF6 em função do produto entre a pressão e a distância entre os eléctrodos, Vc=f(d.p). Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 48 / 79 Figura 20: Mostra o relacionamento da tensão de corte com a pressão num campo não homogenio em comparação com aquele de uma mistura de azoto. Este gráfico mostra o comportamento do SF6 e de uma mistura de azoto (tensão máxima admissível) para as diversas distâncias entre eléctrodos a uma dada pressão (d.p) [1]. O SF6 apresenta um valor da tensão de disrupção superior, pelas razões atrás descritas, ao do azoto. Para a mesma distância e pressão o SF6 apresenta uma tensão máxima admissível superior ao do azoto. A capacidade de corte no ar é aumentada dramaticamente pela adição de quantidades pequenas de SF6. Em contraste, o ar tem somente uma influência limitada na capacidade de Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 49 / 79 corte do hexafluoreto do enxôfre. A adição de 10% do ar por volume reduz a tensão de corte do SF6 aproximadamente 3%, a adição de 30% de ar para aproximadamente 10%. O SF6 tem uma condutividade térmica elevada a baixas temperaturas. Na figura 21 a condutividade térmica em função da temperatura do SF6 e N2. A existência deste pico de condutividade resulta de uma mudança de estado do gás. A dissociação requer uma quantidade bem definida de energia, bem como o calor da vaporização. Isto realça a transferência térmica no arco, ajudando a reduzir a temperatura do arco. Inversamente num ambiente mais baixo os elementos recombinam-se e liberta-se esta energia, transportando quantidades de energia através do arco eléctrico. Figura 21: Condutividade térmica do SF6 e N2 em função da temperatura. O nitrogênio não é corrosivo e pode ser empregue com quase todos os metais geralmente usados em temperaturas normais. Alguns exemplos são: aço inoxidável, cobre, bronze, etc. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 50 / 79 6. Proposta de protótipo para ensaio laboratorial de dieléctricos 6.1. Forma de onda Com o propósito de efectuar o estudo do protótipo para ensaios laboratoriais de dieléctricos, vamos primeiro determinar a forma de onda a aplicar, segundo a norma CEI 60. A tensão permanente do sistema não é de longe a única condição dieléctrica interna, bem pelo contrário, numerosos fenómenos eléctricos são causas de condições extremamente variadas e nessa sequência, analisaremos a natureza, as durações e amplitudes. Classificação das condições dieléctricas definidas em função da forma global da tensão aplicada para os modelos de ensaios e condições dieléctricas, respectivamente. - Tensão á frequência industrial, regime permanente não perturbado; - Sobretensões temporárias á frequência industrial ou á frequência vizinha; - Sobretensões de manobra; - Sobretensões atmosféricas (ao choque); Em outros termos, podemos classificar em regimes permanentes, quase permanentes e transitórios, respectivamente. As sobretensões são representadas em laboratório por choques de tensão em forma biexponencial. A sua forma geral é dada pela seguinte expressão: U cr u (t) = − e T cr τq −e − T cr τf (e − t τq −e − t τf ) em que: Ucr – é amplitude máxima da onda de tensão atingido no empo Tcr. τq – é a amplitude de tensão de cauda τf - é a amplitude de tensão de frente Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 51 / 79 A forma geral de um choque bi-exponencial á representada na figura seguinte: Figura 22: Forma geral de um choque bi-exponencial. Caracteriza-se por dois parâmetros: - Duração da meia amplitude T2; - Duração convencional de frente T1, definido da forma seguinte; Seja, T90 o tempo para o qual a onda de choque atinge 90% do seu valor máximo (crista), e T30 o tempo correspondente a 30% do seu valor máximo. Então, T1= 1,67 (T90 - T30 ) Esta definição é mais precisa que a do Tcr, porque ele não é sempre fácil de assinalar, e a origem do choque perturba, frequentemente, as oscilações parasitas perturbando assim a medida de Tcr. Mais, a crista da onda por vezes apresenta uma forma plana no instante onde atinge o seu máximo, não podendo assim ser assinalada com precisão. Diz-se presentemente que as correntes do arco eléctrico apresentam uma grande diversidade de forma e amplitude. Todavia, representa-se as diversas condições dieléctricas relativas ao arco eléctrico, por um choque com características especificas 1,2/50µs. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 52 / 79 6.1.1. Definição das condições dieléctricas Distinguem-se dois casos segundo o valor da tensão eléctrica aplicada ao eléctrodo, ou seja a tensão imposta apresenta um valor positivo ou negativo. A informação actual disponível sobre os intervalos de ar efectuados salienta que, os casos de disrupção em que a polaridade é positiva são mais frequentes que os negativos na grande maioria dos casos práticos, incluindo o presente. Daí que, os casos em que a polaridade é negativa são incomparavelmente menos numerosos do que os referentes á polaridade positiva. 6.1.2. Influência da forma de onda da tensão de choque No laboratório, os choques mais frequentemente realizados são em forma biexponenecial. Decidiu-se convencionalmente representar as sobretensões atmosféricas por o choque bi-exponencial da forma 1,2/50µs. T1=1,2µs ± 30% ÆTempo de frente T2=50µs ± 20% Æ Tempo de cauda Figura 23: Forma de onda da tensão de choque aplicada nos ensaios efectuados. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 53 / 79 6.2. Influência da geometria dos eléctrodos A geometria do intervalo pode ser caracterizada por diversos parâmetros, entre os quais destacam-se: - Forma geométrica dos eléctrodos; - Distância entre eléctrodos; Figura 24: Repartição do campo eléctrico num intervalo esfera-plano para diferentes valores de reacção d/D. Os parâmetros que definem a geometria do intervalo, o mesmo que dizer a forma do eléctrodo e a distância ao plano têm uma influência determinante sobre os mecanismos da descarga e portanto sobre as variações dos parâmetros de disrupção. Dizemos em particular que as características eléctricas da primeira coroa* são largamente dependentes da radiação do campo eléctrico, e portanto da geometria do intervalo. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 54 / 79 *Primeira coroa – é a primeira manifestação luminosa visual perto do eléctrodo pouco antes do começo do choque. O fenómeno é breve e desenrola-se num tempo da ordem de grandeza da centena dos nano segundos. 6.3. Influência das condições ambientais Nos intervalos de ar, as condições ambientais resumem-se geralmente à temperatura, pressão e o estado higrométrico do ar. Para ser um estudo exaustivo é preciso citar outros parâmetros tais como a condutividade do ar, intensidade de irradiações ionisantes, presença de corpos estranhos tais como poeiras, ou películas de água, composição química, etc., que são factores que permitem caracterizar melhor o meio isolante. No entanto, verifica-se que a pressão e a temperatura conjugam os seus efeitos para modificar a densidade do ar. Com o intento de comparar nas diversas condições ambientais os resultados obtidos, define-se a densidade relativa do ar, δ. Esta tem como objectivo fazer a transposição da densidade do ar nas condições ambientais presentes (pressão P e temperatura θ) nas condições de referência P0=1013mbar e θ0=20ºC (CEI 60 – 1/1989). Este valor para o factor de correcção é determinado pela NORMA – CEI - 52 1960, e calculado através da seguinte formula: δ= P 273 + 20 P × = 0,289 × 1013 273 + T 273 + T em que: P – pressão atmosférica (mbar), T - temperatura (ºC), Por conseguinte, a tensão de disrupção U num intervalo de ar pode ser medida sob a forma U = U0 δ Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 55 / 79 em que: U0 – tensão de disrupção nas condições de referência 6.4. Distribuição do campo eléctrico O campo eléctrico na superfície de um condutor em equilíbrio é perpendicular à superfície, logo se conclui que a superfície do condutor é sempre equipotencial. Dentro do condutor o campo eléctrico é nulo, o que implica um potencial constante dentro deste. De referir ainda, que num condutor em equilíbrio qualquer excesso de carga distribui-se sempre sobre a superfície, apesar de a distribuição de carga, por vezes, não ser uniforme. Considera-se três condutores diferentes com a mesma carga superficial σ. Os condutores apresentam diferentes formas geométricas, um é plano, o outro convexo e por fim o último côncavo. Nos três casos a separação das linhas de campo sobre a superfície deve ser a mesma, e o campo é igual nos três casos quando a distância d a partir da superfície for igual a zero. À medida que d aumenta, como as linhas de campo são perpendiculares à superfície do condutor, a separação das linhas vai ser maior no caso do condutor convexo, e menor no caso do condutor côncavo, no caso do condutor côncavo, as linhas de campo acabam por se afastar à medida que d aumenta. Uma vez que o campo eléctrico é inversamente proporcional à distância entre as linhas de campo, o campo produzido pelos três condutores é representado na figura seguinte: Figura 25: Condutores com a mesma carga superficial e o campo eléctrico por eles produzido em função da distancia d a partir da superfície Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 56 / 79 Vemos perfeitamente que o condutor côncavo apresenta um valor do campo eléctrico superior ao condutor plano e estes dois condutores têm um campo eléctrico maior que o condutor convexo. Portanto, a carga superficial não pode ser a mesma nos pontos onde o condutor é côncavo, convexo ou plano. Esta tem que ser maior nas regiões convexas, menor nas regiões planas e ainda menor nas regiões côncavas, de forma a obter o mesmo valor para o campo eléctrico. Nas regiões convexas, quanto menor for o raio da curvatura, maior será a carga superficial, e nas regiões côncavas quanto maior for o raio de curvatura, maior será a carga superficial. No caso de um intervalo em que o eléctrodo apresenta uma polaridade positiva o vector campo eléctrico é orientado do eléctrodo em causa em direcção ao plano, o que se conclui que o campo é divergente na vizinhança do eléctrodo. No caso do eléctrodo ter polaridade negativa o campo é convergente na vizinhança do mesmo. A disrupção estabiliza-se mais facilmente no campo divergente que no campo convergente. Assim se deduz que: - A tensão de disrupção num grande intervalo de ar é tanto mais “forte” quando o eléctrodo é cátodo. - A tensão de disrupção de um grande intervalo de ar é tanto mais “fraca” quando o eléctrodo é ânodo. A repartição do campo eléctrico num grande intervalo de ar não é somente determinada pela a geometria dos eléctrodos em presença. É condicionada largamente pela a existência, em redor, de estruturas sob tensão ou ligadas à massa. Esta importante conclusão não simplifica, infelizmente, o problema da disrupção, pois para intervalos geometricamente idênticos poderão ter propriedades sensivelmente diferentes em função do local onde eles são inseridos. Contudo, mais nenhuma modificação significativa da dispersão não é colocada em evidência quando a geometria dos eléctrodos é modificada. Todas as rugosidades, por um efeito de concentração das linhas de força e de superfícies equipotenciais, podem consideravelmente aumentar o campo superficial local. 6.5. Disrupção dieléctrica Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 57 / 79 A disrupção dieléctrica manifesta-se com o aparecimento de um arco eléctrico entre dois eléctrodos ambos ou não. Os estudos efectuados permitem agora uma melhor compreensão da influência de numerosos parâmetros sobre o desenvolvimento da disrupção, entre eles destacam-se: - Influência da geometria do intervalo compreende o comprimento ou a forma dos eléctrodos; - Influência da forma de onda do choque da tensão aplicada; - Influência do meio ambiente; Condução nos gases: - Ionização; processo de ionização; - Aplicação de um campo eléctrico; - Relação I = f(E) – Figura 14; - Rigidez dieléctrica; - Emissões de iões; Figura 26: Característica Corrente-Tensão, num gás, em regime de pré-descarga As altas temperaturas concentradas nas peças dos contactos produzem uma termo-emissão de electrões a partir do contacto negativo ou positivo iniciando-se assim o processo de ionização Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 58 / 79 pelo qual se ira formar o arco eléctrico. A corrente do arco eléctrico, é constituída por electrões que saem do cátodo dirigindo-se para o ânodo. No caso de corrente alternada este processo muda, evidentemente de sentido a cada meia onda. A descarga do arco é iniciada quando a tensão sobre a distância entre os contactos e o grau de ionização da mesma forem suficientemente grandes. A ionização ou o grau de concentração de iões não é uniforme, as cargas eléctricas tendem a fluir das regiões de alta para as regiões de baixa concentração de iões. A ionização por choque ocorre quando as temperaturas do arco e as velocidades moleculares são tão altas, que os choques entre moléculas e entre átomos ocasionam a sua decomposição em iões e electrões. Factores importantes que influenciam positivamente a desionização da zona do arco: boa condutividade térmica, pressão adequada do meio exterior. 6.6. Comportamento do campo eléctrico Comportamento do campo eléctrico nas diferentes formas geométricas, como se distribuí no espaço, visualização das linhas de força do campo eléctrico para as diferentes formas geométricas. Formas de geometria possíveis de utilizar: - Varão (R=8mm): (cobre) - Barra normal (40×5mm): (cobre) - Barra boleada (40×5mm): (cobre) Ensaios para uma tensão nominal de 17,5KV, com aplicação de uma onda de choque de 95KV NORMA CEI 60694 para as diferentes formas geométricas: Linhas equipotenciais da tensão aplicada: Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 59 / 79 Varão Barra normal: Barra boleada Linhas de força equipotenciais do Campo Eléctrico: Formas geométricas Varão: Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 60 / 79 Barra normal: Pormenor da extremidade: Barra boleada : Pormenor da extremidade: A tensão da curva inicial usando SF6 em campos não homogéneos é também consideravelmente maior do que se usando o ar. figura 27 e figura 28 mostra a respectiva dependência da pressão e do raio da curvatura dos eléctrodos no caso do SF6 e do ar num sistema do eléctrico de ponto por ponto. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 61 / 79 Figura 27: Dependência da pressão e raio de curvatura dos eléctrodos Figura 28: Dependência da pressão e raio de curvatura dos eléctrodos Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 62 / 79 6.7. Protótipo Para ensaios laboratoriais de dialéctricos projectou-se uma cuba hermeticamente fechada. Figura 29: Cuba – alçado lateral Figura 30: Cuba – alçado principal Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 63 / 79 Trata-se de uma cuba estanque em chapa de aço pintada, com visor em acrílico. A cuba foi projectada para suportar o ciclo de vazio e enchimento com gás. O visor em acrílico permitirá visualizar a disrupção. Para reforçar o apoio ao acrílico foram dimensionadas duas grelhas: uma interior e outra exterior, permitindo ao acrílico suportar pressões mais elevadas. Foi utilizado um isolador exterior para a passagem da tensão de impulso de 50 kV. Para se efectuar o enchimento e vazio foi projectada uma válvula colocada na tampa superior. No interior da cuba foram colocados dois eléctrodos protegidos por dois isoladores, sendo o eléctrodo principal em barra normal. O eléctrodo secundário será de posição fixa e o principal de posição variável, permitindo assim ajustar a distância entre os eléctrodos. O eléctrodo secundário possui uma ligação exterior por onde possibilitará a sua ligação à massa. A forma de onda utilizada será a descrita anteriormente, bi-exponencial da forma 1,2/50µs, tal como recomendada. 7. Ensaio Laboratorial O ensaio visa uma análise comparativa de um meio isolante alternativo: Ar sintético versus Ar atmosférico. Figura 31: Cuba – medição da distância entre eléctrodos Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 64 / 79 A realização dos ensaios de ondas de choque de características especificas (designada 1,2/50µs) são assegurados no laboratório de ensaios EFACEC – AMT através de um gerador de ondas de choque, segundo a Norma CEI 60-1 T1=1,2µs ± 30% Æ [0.84 , 1.56] , tempo de frente T2=50µs ± 20% Æ [40 , 60] , tempo de cauda 7.1. Principio de funcionamento do gerador Durante a carga dos condensadores C, o seccionador I está fechado e as meias esferas descarregadoras não são condutores: os condensadores estão em paralelo e uma fonte de tensão continua Uc assegura a carga. Quando os condensadores são carregados abres-se o seccionador I e a disrupção de todos os descarregadores E é comandada simultaneamente. No instante t=0 origina-se o choque. Os condensadores C estão em série e constituem nesse instante uma fonte de tensão nUc para um gerador compreendendo n etapas. A capacidade de frente Cf é descarregada e a tensão A é nula. Esquematicamente podemos dizer que nos instantes seguintes à “disrupção” dos descarregadores os condensadores C descarregam-se com uma constante de tempo CRq, enquanto que a capacidade de frente carrega-se com uma constante de tempo nRfCf. Praticamente nRfCf é muito inferior á CRq se bem que a carga de Cf se efectua rapidamente relativamente á descarga de C. Ao fim de um certo tempo, para a ocorrência do tempo de crista, a tensão aos terminais de Cf apanha a tensão aos terminais dos condensadores C e, essas duas capacidades descarregam-se através das resistências Rq. Regulando convenientemente o valor das diferentes resistências e diferentes condensadores, podemos variar as formas de tensão de choque produzida por este gerador e em particular o ajuste das formas de corrente de arco eléctrico. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 65 / 79 Figura 32: Esquema do gerador das ondas de choque Figura 33: Forma de onda produzida pelo gerador das ondas de choque Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 66 / 79 A performance de um gerador de choque exprime-se não somente pela tensão máxima de carga (Uc) dos condensadores C e por o número de etapas n (400KV), mas igualmente através da energia electrostática armazenada. E= 1 n C U c2 (KJ) 2 Figura 34: Gerador da onda de choque Figura 35: Gerador da onda de choque e protótipo Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 67 / 79 Figura 36: Vista do laboratório de ensaios 7.2. Procedimento Os ensaios foram realizados na EFACEC – AMT mais precisamente no laboratório de Média Tensão, coma colaboração de um técnico com a formação adequada. Ensaios com Ar à pressão atmosférica Os ensaios consistiram em aplicar uma onda de choque aos eléctrodos, segundo as normas para duas distâncias diferentes entre o eléctrodo e a massa (Fase-Massa). Utilizou-se como dieléctrico o ar à pressão atmosférica, ou seja, a cuba encontrava-se aberta. Foram feitas várias leituras dos resultados da tensão de disrupção por forma a confirmar os seus valores. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 68 / 79 Determinou-se assim a tensão de disrupção para as duas distâncias. Ensaios com Ar Sintético O segundo passo consiste na utilização do ar sintético como dieléctrico. Para isso a cuba foi fechada e cheia com o referido ar. Inicialmente o enchimento foi realizado à pressão de 0bar (pressão atmosférica), tendo-se de seguida variado a pressão em pequenos intervalos até ao valor de 0,5 bar, valor máximo permitido pelo acrílico. Para cada valor de pressão efectuaram-se várias leituras, com a finalidade de confirmar o valor da medida da tensão disruptiva. Determinou-se a tensão de disrupção para cinco valores diferentes de pressão do ar sintético. 7.3. Característica das formas de onda aplicadas Tempo de subida Tempo de descida 7.4. Condições ambientais do ensaio Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 69 / 79 - Temperatura 23ºC - Humidade absoluta 60% - Pressão 999mb 7.5. Ensaio utilizando o ar atmosférico como dieléctrico Figura 35: Protótipo aberto Figura 36: Eléctrodos à distância 39,5mm Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 70 / 79 Figura 37: Eléctrodos à distância 74,5mm Distância d (mm) Tensão disruptiva Ud (kv) 39,5 47,9 74,5 65,44 A tensão disruptiva é directamente proporcional à distância entre os eléctrodos, ou seja aumentando a distância entre eléctrodos, a tensão disruptiva aumentará também. Como dieléctrico utilizou-se o ar atmosférico. Para cada distância realizaram-se várias medidas para confirmar o valor. 7.6. Ensaio com a cuba fechada e cheia de ar sintético Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 71 / 79 Figura 38: Distância entre eléctrodos d= 39,5 Realizou-se este ensaio para uma distância entre eléctrodos d = 39,5mm. A pressão inicial foi de 0 bar (pressão atmosférica). De seguida realizou-se mais quatro ensaios às pressões 0,1; 0,2; 0,3; e 0,5. Figura 39: Protótipo em enchimento Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 72 / 79 Figura 40: Forma de onda do gerador de choque em que não houve disrupção Figura 41: Forma de onda do gerador de choque em que houve disrupção à pressão de 0bar. Obtiveram-se os seguintes valores de tensão de disrupção para os vários valores da pressão. 0 Tensão disruptiva (kV) 49,01 0,1 49,52 0,2 51,3 0,3 51,8 0,5 53,58 Pressão (bar) Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 73 / 79 Tensão disruptiva Ed (kV) Tensão disruptiva versus Pressão 54 53 Distância d=39,5mm 52 51 Linear (Distância d=39,5mm) 50 49 48 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 Pressão (bar) Figura 41: Gráfico das tensões disruptivas obtidas a várias pressões A pressão é directamente proporcional à tensão disruptiva. Para a pressão a 0 bar a tensão disruptiva no ar sintético aumentou em relação ao ar atmosférico, o que demonstra a influência da humidade na disrupção. Para a pressão de 0,5 bar obteve-se uma tensão de disrupção de 53,58 kV. Verificou-se no entanto, que o visor em acrílico, mesmo tendo o protótipo sido reforçado, não suportou pressões superiores a 0,5 bar, como tal por interpolação determinou-se o valor da pressão para 125 kV (24 kV), um valor utilizado para tensões de choque na média tensão. Os valores obtidos permitem a aproximação linear da distribuição. 0 Tensão disruptiva (kV) 49,01 0,1 49,52 0,2 51,3 0,3 51,8 0,5 53,58 8,17* 125 Pressão (bar) * Valor calculado por interpolação Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 74 / 79 Tensão disruptiva Ed (kV) Tensão disruptiva versus Pressão 140 120 100 80 60 40 Distância d=39,5mm 20 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Pressão (bar) Figura 42: Gráfico da tensão disruptiva, vários valores da tensão versus pressão incluindo a pressão a Ed =125kV. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 75 / 79 8. Conclusões Com o ar sintético há um aumento provocado da tensão disruptiva. O ar sintético tem melhores qualidades isolantes que o ar atmosférico.Tal facto deve-se à reduzida percentagem de teor de humidade (H2O), que o ar sintético possui e que o distingue do ar atmosférico. A água é condutora, quanto menor for a sua percentagem na constituição de um dieléctrico, maior é a sua resistividade, por consequência a tensão de disrupção também será maior. O ar sintético não consegue igualar as características do isolante SF6 . Facilmente se conclui que para a mesma distância e pressão o SF6 suporta tensões de disrupção superiores. O SF6 tem propriedades únicas que colocam o SF6 como o meio quase ideal para a interrupção do arco e rigidez dieléctrica. O estudo anteriormente efectuado mostra que o SF6 apresenta melhores qualidades isolantes que o Ar e o Azoto. O SF6 é capaz de suportar tensões mais elevadas sem produzir o arco eléctrico, permitindo ainda uma rápida regeneração da rigidez dieléctrica entre contactos e o restabelecimento de tensões severas. A rigidez dieléctrica é maior para o SF6 do que para todos os outros meios conhecidos à mesma densidade. A razão deve-se ao tamanho e às massas físicas relativamente grandes. O peso molecular é 146, o azoto é 28. O tamanho e a massa reduzem a propagação de electrões livres. O SF6 age como um amortecedor inelástico para o mecanismo da colisão. Esta comparação é legítima, na medida em que permite um melhor conhecimento do comportamento dos dieléctricos e contribui de certa forma para a optimização do planeamento ao nível da construção e exploração da aparelhagem de média tensão Assim para que se proceda à realização de um projecto para a substituição do SF6 num dado aparelho de corte e protecção é necessário elaborar um conjunto de estudos, entre eles o melhor dieléctrico a utilizar, de forma a encontrar uma solução óptima e não inferior à do SF6. Esta solução consiste em projectar um produto que satisfaça as exigências pedidas (correcto funcionamento) e em simultâneo seja um produto produzido a um preço rentável. Com este tipo de procedimento consegue-se obter maiores proveitos económicos. O afastamento verificado entre o valor do gradiente de disrupção é devido à forma do campo eléctrico e à diferença das distâncias entre os eléctrodos. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 76 / 79 O SF6 é claramente o melhor isolante que o mercado possui e com este conseguiu-se uma redução muito significativa do espaço necessário para a implantação dos aparelhos de corte e protecção. Como alternativas a este temos duas soluções: azoto ou ar sintético. A rigidez dieléctrica de um gás aumenta com a pressão, na realidade ela aumenta com a densidade, pois tem-se um maior numero de moléculas por unidade de volume, dificultando assim a ionização. Qualquer uma destas soluções à pressão de 3 bar (pressão normalmente utilizada para o SF6 na aparelhagem de média tensão), obtém-se uma tensão de disrupção inferior à do SF6. O ar sintético e o azoto só serão a alternativa pretendida a pressões bastante superiores. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 77 / 79 9. Nota final Embora existam problemas ambientais criados pelo SF6, dado ser um gás que contribui para o efeito de estufa, num futuro mais próximo vai continuar a ser usado. As suas características de corte são impares e nenhum dos eléctrodos alternativos as possui. Para obtermos tensões de disrupção equivalentes ao SF6 terá de se aumentar a pressão dos dieléctricos alternativos e/ou a distância dos eléctrodos. Assim perdermos algumas das principais características adquiridas pela média tensão com o uso do SF6, como por exemplo: fiabilidade, custos, características de corte e redução do espaço. A sua substituição é muito difícil de concretizar e necessitará de grandes investimentos, na continuação deste trabalho, procurando novas soluções e com características similares. Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 78 / 79 10. Bibliografia [1] – http://www.gasin.pt [2] – http://www.solvay.com [3] – http://www.metatechcotp.com [4] – Reponsible use of SF6 in electrical distribution systems – Dr. Siegfried RUHLAND da Alstom [5] – Técnicas de corte do Eng. Caetano Gonçalves Joule – Merlin Gerin [6] – Avances in high voltages and arc interruption in SF6 – Un Maller MS Noidu [7] – Electric Field, Dielectric, constructions – FH Kreuger [8] – Mitsubishi 12/24/36 kV Free gas – Insulated switchgear [9] – L´hexafluorure de soupre – Alstom Atlantique [10] – Breakdown of gases in uniform fields Paschen curves for nitrogen, air and súlfur hexafluoride [11] – Encyclopedie des Gaz [12] – Efect of moisture and gaseous additives on dielectric strength of sulphur hexafluoride [13] – Normas CEI [14] – http://www.epa.gov/highgwp1/sf6/ [15] – http://www.spvs.org.br Projecto / Seminário / Trabalho Final de Curso 79 / 79