Aula 2 de Farmacologia- dia 06.03.2009 Farmacocinética Uma das divisões mais importantes em farmacologia é a divisão em Farmacocinética e Farmacodinâmica. Farmacocinética- é o que o organismo faz sobre a droga. Corresponde ao movimento da substância no organismo. Farmacodinâmica- é o que o medicamento faz no organismo. Corresponde aos efeitos da substância no organismo e como ela funciona. Droga Organismo Farmacocinética Farmacodinâmica Vias de Admnistração Local de ação e Absorção Mecanismo de ação Distribuição Biotransformação Eliminação Concentração no local do receptor Para que um medicamento produza o efeito desejado é necessário chegar ao local de ação, que pode ser um tecido, célula ou estrutura especializada para recebe-lo (receptor), numa determinada concentração. Para que isso aconteça devemos conhecer as propriedades da substância, como eu devo admnistra-la (por qual via), o que vai acontecer até que ela chegue ao seu destino, que barreiras vão existir e qual o tempo de transformações que essa droga vai sofrer. Tudo isso quem estuda é a farmacocinética. Para que ela chegue ao local desejado é necessário que seja bem admnistrada, na dose certa, com tempo entre as doses bem calculados e, no local de ação, irá produzir efeitos às custas de mecanismos próprios. Isso quem estuda é a Farmacodinâmica. Farmacocinética clínica- ciência que estuda a dinâmica das drogas dentro dos sistemas biológicos que envolve absorção, distribuição, metabolismo e eliminação. Estuda, entende e quantifica. Exemplo- quanto admnistrar de cada medicamento?, qual o tempo entre as doses para se manter a dose efetiva? Absorção - é a passagem da droga do seu local de aplicação até a corrente sanguínea (Voces acham que todo medicamento deve ser absorvido para agir? Não, existem medicamentos de uso tópico, que não passam pra circulação. No caso de um antidiarréico não é necessário ir até a corrente sanguínea e voltar ao intestino para funcionar. No caso da drenagem de um abcesso, coloca-se um anestésico local na pele). A absorção é necessária quando o medicamento tiver destino sistêmico. As substâncias atravessam as membranas através de 3 maneiras: 1)Difusão passiva (mais comum)- a substância vai atravessar a membrana para chegar a corrente circulatória por diferença de concentração. Quando a concentração diminui, podemos ter a substância no sangue numa quantidade maior do que no local de aplicação. Para manter as concentrações plasmáticas devemos fazer novas admnistrações (obs-posologia é o tempo entre as doses). Deve haver condições de solubilidade do medicamento. Essa forma de transporte não é específica (qualquer droga que seja solúvel em lipídeos). 2)Difusão facilitada- exige um transportador, sem gasto energético. É um pouco mais seletiva que a difusão passiva pois o medicamento precisa se combinar com algum constituinte da membrana, desde que não tenha alto peso molecular. 3)Transporte ativo- também exige transportador, mas requer gasto energético e pode se dar contra o gradiente de concentração. Os medicamentos não utilizam os mecanismos de bomba para atravessar a membrana, embora possam interferir neles. Há condições para que os medicamentos sejam absorvidos. Muitas vezes utilizamos medicamentos topicamente para ação em superfície (pele ou mucosas) que podem ser absorvidos por terem propriedades penetrantes, e assim chegam a corrente circulatória e produzem efeitos não-desejáveis (efeitos colaterais). Devemos nessas situações, obter recursos para que haja diminuição da absorção de tais medicamentos. Fatores envolvidos na absorção dos medicamentos 1)Ligados aos medicamentos- a)Lipossolubilidade-A membrana é lipoprotéica. Para serem bem absorvidas, as substâncias devem ser lipossolúveis, embora a passagem possa ser atraves da proteína, contanto que não tenha um alto peso molecular. Quanto mais lipossolúvel, mais facilmente é absorvida. b) Grau de ionização- Estar ionizada dificulta a passagem, enquanto que não estar ionizada facilita. Os medicamentos são geralmente ácidos ou bases fracos (propriedade em solução de se apresentarem ou não ionizados, dependendo do pH meio). Em soluções ácidas as bases fracas estarão mais ionizadas e em soluções alcalinas os ácidos fracos estarão mais ionizados. Uma substância ácida em um meio ácido será bem absorvida. Uma substância básica em um meio ácido não será bem absorvida. Ex: aspirina é uma droga ácida por VO cai no estômago (pH ácido), sendo que vai ser bem absorvida nessa estrutura. No entanto, a aspirina é uma substância irritante que pode desencadear hemorragia, úlceras... Nas pessoas com úlceras, costuma-se usar antiácidos que alcalinizam, e isso diminui a absorção da aspirina pelo estômago, sendo que parte do medicamento seguirá até o intestino até encontrar um pH que favoravel à absorção, embora aconteca de modo mais lento. Há drogas que são liberadas apenas no intestino, por exemplo, para proteger a mucosa gástrica. Há meios de retardar ou acelerar a absorção de medicamentos- alcalinizar o estômago antes de ingerir aspirina. c)Peso molecular- caso não seja lipossolúvel, pode ser absorvida pelo canal protéico contanto que não tenha alto peso molecular. d) Concentração- de acordo com a difusão passiva, quanto mais concentrado, maior será a quantidade de substância que vai atravessar a membrana e chegar até a corrente sanguínea. Se eu preciso se uma concentração plasmática alta, devo admnistrar uma dose alta. Cada medicamento possui sua margem de concentração mínima para fazer efeito. Caso eu admnistre uma concentração muito inferior a sua margem terapêutica, não haverá efeito. No entanto, existem limites. Nem toda substância pode ser usada em qualquer concentração. Existe tambem uma dose máxima, acima da qual podem ocorrer efeitos tóxicos. Esse fator deve ser reconsiderado caso haja algum déficit hepático ou renal, por exemplo. 2) Fatores envolvidos na absorção ligados ao organismo- a) Vascularização do localQuando nos deparamos com uma situação aguda na qual precisamos de efeito rápido utilizamos a via endovenosa, na qual eliminamos a fase da absorção. Se tivermos uma situação na qual o medicamento se apresenta na forma intramuscular ou subcutânea, a forma intramuscular será absorvida mais rapidamente, pois o músculo é mais vascularizado. Quanto mais vascularizado o tecido, melhor será a absorção. Os locais pouco vascularizados são úteis para liberar o medicamento lentamente, servindo como depósitos .( Ex- Penicilina G apresenta-se na forma cristalina e forma intramuscular. A penicilina G cristalina é endovenosa e usada nos casos graves, como uma endocardite, sendo que assim como a concentração é rapidamente alcancada, ela rapidamente desaparece. Não há perdas. No entanto, a penicilina G intramuscular ou benzetacil, vai proporcionar uma liberação lenta da droga a partir do músculo. Se eu administro, via endovenosa, a penicilina G cristalina, é necessário administrar a cada 4 hs ou infusão venosa contínua para manter a concentração efetiva. Se eu administro intramuscular não vou manter o mesmo pico de concentração plasmática, mas a concentração vai durar 30 dias, pois essa é uma preparação de depósito. O tecido celular subcutâneo tambem é utilizado como forma de depósito, mas nunca quando se deseja obter concentrações elevadas. b) Superfície de absorção- Quando admnistramos VO e a absorção é no intestino, a mesma é muito eficiente pois o intestino oferece muita superfície, quando comparada à superfície do estômago. Quando aplicamos uma substância na pele ou na mucosa, espalhamos para aumentar a superficie de contato com a pele. c) Permeabilidade vascular- a barreira hematoencefálica bloqueia os medicamentos pois os capilares não permitem a passagem de substâncias já que não há espaco entre as células. Quando aplicamos no músculo, massageia-se e aplica-se compressa quente que promovem vasodilatação, aumentando o espaco entre as celulas, aumentando a absorção. Ao aumentar a permeabilidade capilar, aumenta-se a absorção. Distribuição- processo pelo qual um fármaco reversivelmente abandona a corrente circulatória e passa para o intersticio (líquido extracelular) e/ou as células dos tecidos. Enquanto a absorção é a chegada à corrente circulatória, a distribuição é a saída. Substâncias muito lipossolúveis podem ter picos de efeito (caso dos barbitúricos, que são usados no précirúrgico, por exemplo, tem duração curta e saem da corrente circulatória passando ao SNC por lipossolubilidade. Ao cair o nível no plasma, a substância passa do SNC ao sangue e a pessoa tende a acordar. Como é muito lipossolúvel, parte da substância se deposita na gordura e vai sendo liberada lentamente, e a pessoa vai se sentindo sonolenta de novo). *Permeabilidade da membrana- importante para a chegada da substância na corrente circulatória e passar para o intersticio. * Proteínas plasmáticas de ligação- No sangue pode haver um impedimento para a saída da corrente sanguínea, dependendo das propriedades da substância. Há substâncias que passam rapidamente para os tecidos, ao passo que outras circulam por mais tempo por se ligarem às proteinas plasmaticas. Drogas ligadas a proteínas não atravessam membranas, sendo que não vão ser nem mesmo filtradas no rim. Se eu admnistro uma substância que se liga muito às proteínas plasmáticas, eu devo considerar que nem toda a dose administrada vai estar biodísponivel. Isso é importante no cálculo da dose. Se a substância se liga muito a dose deve ser alta. A proteína não inativa a substância, apenas a prende na corrente. A medida que a fração livre vai passando para o tecido a proteína vai liberando a substância antes combinada. (Ex- a penicilina se liga 90% à proteína plasmática, então na admnistracção eu vou ter 10% biodisponível e 90% combinada. À medida que se utiliza, libera-se mais 10%, afim de manter a proporção.). Não há inativação, apenas retardo. A proteína plasmática é uma estrutura que tem limites nas ligações e as substâncias podem competir umas com as outras para se ligarem às proteínas. Isso deve ser considerado nos cálculos de associação de fármacos. Pode haver substâncias que tem mais afinidade pelas proteínas, e combinadas com outras de menor afinidade, vão estar em menor biodisponibilidade. Assim, pode haver potencialização do efeito por mecanismo farmacocinético. Deve ser consierado ainda o aspecto nutricional dos pacientes. No caso de desnutridos, pode não haver albumina disponível para se ligar ao fármaco, aumentando assim a biodisponibilidade da droga. * Propriedade Lipofílica do droga- lipofílicas se acumulam no tecido adiposo (caso dos barbitúricos), que é pouco vascularizado e vai distribuir a droga lentamente. * Volume de distribuição A droga no organismo: A DROGA NO ORGANISMO EXTRACELULAR LIGADA LIGADA LIGADA LIVRE LIVRE LIVRE METABOLIZADA METABOLIZADA METABOLIZADA INTRACELULAR RECEPTORES ABSORÇÃO DROGA PLASMA EXCRETADA Profa. Eli - 2008 Metabolismo- Um aspecto que pode acontecer com o fármaco que impede que toda dose que eu administrei chegue ao local de ação é a metabolização. A maior parte das substâncias sofre modificações no organismo. Os metabólitos podem ser ativos ou inativos. A droga é uma substância estranha e o organismo deve se livrar dela, dificultando sua permanência. Se é uma substancia lipossolúvel que entrou no organismo e conseguiu se movimentar graças à essa lipossolubilidade, o organismo trata de torná-la hidrossolúvel, dificultando esse movimento. Os metabólitos, de um modo geral, são substâncias menos ativas e mais facilmente excretadas. É um processo que ocorre nos pulmões, sangue e fígado. *Fígado- principal via do metabolismo. Pode converter pró-drogas (inativas) em formas ativas, mas o mais comum é que as substâncias sejam admnistradas na forma ativa e sejam inativadas nesse órgão. Nele ocorrem as fases 1 e 2. A Reação de fase 1 envolve o sistema do citocromo P 450. Esse sistema está localizado no Retículo Endoplasmático dos hepatócitos. É um sistema do fígado encarregado da metabolização. Através de cadeias transportadoras de elétrons a droga se liga a esse sistema e então sofre redução ou oxidação. Isso torna a substância em outra nova. A metabolização envolve enzimas que podem ser estimuladas ou bloqueadas. Há medicamentos que apenas interferem nas enzimas que vão metabolizar até mesmo um componente do nosso organismo. Há medicamentos que vão interferir com adrenalina, noradrenalina, diminuindo a metabolização de substâncias. Os inibidores da Monoaminoxidase, por exemplo, são inibidores enzimáticos que vão diminuir a metabolização. Há meios de interferir na metabolização de substâncias endógenas e exógenas. Temos que considerar com a interação de drogas. Fármacos que aparentemente tem ações totalmente distintas, podem interagir através da indução ou inibição enzimática, aumentando ou diminuindo o metabolismo, fazendo com que a droga permaneça mais ou menos tempo no organismo. Caso uma droga acelere o metabolismo da outra, pode haver uma fase sem a ação da substância. No caso de um antibiótico, as bactérias podem adquirir resistência nessa período. A Reação de faze 1 envolve a Redução, Hidrólise e Oxidação. A substância que sofre uma dessas etapas vai se tornar mais reativa quimicamente e às vezes até mais tóxica. Reação de Fase 2- a substância é conjugada com outra (ácido glicurônico, glicina,sulfato) e é eliminado. Essa conjugação facilita a eliminação, principalmente pela via renal. Essa fase serve para acelerar a eliminação. FÁRMACO FASE 1 DERIVADO FASE 2 CONJUGADO Oxidação Conjugação Hidroxilação Desalquilação Desaminação Exemplo Aspirina Ácido salicílico Glicuronídio Acetilcolina Colina Ácido Acético Às vezes há formação de um metabólito que não é eliminado pois o paciente é insuficiente renal, podendo causar efeitos tóxicos. Nem todos os medicamentos são metabolizados. Há medicamentos eliminados in natura, ativos (antibióticos para infecção do trato urinário). Há medicamentos que não sofrem a FASE 1, sendo somente conjugados e eliminados. Existem aqueles que sofrem a FASE 1 e o metabólito tem atividade igual ao medicamento original (hipoglicemiantes orais) ou diferente. *Essas transformações tem a participação de enzimas. A estimulação das enzimas microssomais, por medicamentos e outras substâncias é um importante problema clínico. Substâncias como analgésicos, hipoglicemiantes orais, anticonvulsivantes(fenobarbital), sedativos e tranquilizantes são estimulantes enzimáticos, estimulando sua própria metabolização, assim como de outras drogas usadas juntas. Um indutor pode estimular ativamente a síntese de uma enzima (citocromo P450). O contrário tambem pode acontecer. A inibição das enzimas diminui a produção dos metabólitos e diminui a depuração total, aumentando os efeitos farmacológicos se os metabólitos forem inativos. Quando acontece inibição enzimática é preciso diminuir as doses ou aumentar o tempo entre elas. * Inibidores da biotransformação – exposição aguda ao etanol, cloranfenicol e outros antibióticos, cimetidina, dissulfiram (tratamento de alcoólatras, inibe o metabolismo do álcool, potencializando o mal-estar ao ingerir o mesmo) e propoxifeno. * Enzimas que sofrem interferência de inibidores- colinesterase, monoaminoxidase, álcool desidrogenase, aldeído desidrogenase e citocromo P 450. Aula 3- Continuação- dia 09/03/2009 Eliminação Os medicamentos podem ser eliminados do organismo através dos: 1) Pulmões pelo ar expirado, 2) Fígado, pela bile que vai até o intestino e são eliminados com as fezes ou saem do intestino e retornam para a circulação se tiverem condição de ser absorvido (isso é a circulação enterohepática), 3)Rins-principal forma de eliminação sistêmica. Neles ocorrem diferentes processos: Filtração Glomerular, Reabsorção Tubular e Secreção Tubular. Excreção renal: As unidades anatômicas funcionais dos rins são os néfrons. O sangue arterial passa em primeiro lugar pelos glomérulos que filtram parte do plasma. Muitas substâncias sofrem filtração glomerular e, em condições de serem eliminadas, vão com a urina. Elas vêm pelo sangue até o glomérulo, são filtradas e eliminadas com a urina: esse é um caminho principalmente das substâncias hidrossolúveis (não têm mais condições de atravessar as membranas). Muitas substâncias são também secretadas nos túbulos proximais. Então, a substância pode não ser filtrada, principalmente se estiver ligada à proteínas plasmáticas(nessa situação ela nunca vai ser filtrada!), mas pode ainda ser eliminada pelo rim, sofrendo um processo de secreção tubular. Essa secreção acontece a nível dos túbulos e exige afinidade entre a substância e um carreador, que vai pegar a substância e transporta-la para o túbulo. Ligar a um carreador é uma possibilidade para eliminação renal de substâncias que não são filtradas. E nessa situação a substância pode estar ligada à proteína plamática. Se uma substância está ligada à proteína ela não vai ser filtrada, mas pode ser secretada (isso acontece com a penicilina G cristalina que é administrada em situações agudas e se liga muito às proteínas plasmáticas). Poderíamos pensar que uma droga que se liga muito às proteínas deveria ter uma durabilidade de ação muito grande pois não é filtrada, mas ela pode ser secretada. Muitas substâncias podem ainda ser reabsorvidas pelo epitélio tubular e liberadas no líquido intersticial renal e a seguir nos vasos. Então, a chegada da sustância no Túbulo renal não significa que necessariamente ela será eliminada pela urina. Ela só será eliminada pela urina se não estiver em condições de ser reabsorvida (hidrossolúvel, por exemplo). As drogas são, na sua maioria, removidas do corpo através da urina, na forma inalterada ou como metabólitos polares (ionizadas). As substâncias lipofílicas (apolares) não são eliminadas suficientemente pela urina. Se tiverem na forma lipossolúvel podem ser reabsorvidas. As drogas lipofílicas são metabolizadas em produtos mais polares para serem excretados pela urina. A função do metabolismo é transformar em formas mais facilmente eliminadas (de lipossolúvel para hidrossolúvel, de apolar para polar). A reabsorção tubular acontece quando, da luz tubular, a substância retorna para o capilar tubular e daí segue para a circulação sistêmica. E a secreção é o caminho inverso: do capilar passa para o interior do túbulo, podendo ter o uso de um carreador. Isso tem aplicação clínica: se eu quiser que a penicilina tenha uma duração de mais de 4 hs devo administrar uma substância que compete com a penicilina pelo carreador, impedindo a secreção da penicilina+carreador para o túbulo, e a penicilina continua circulando. [olhar slides 39 e 40]. Aqui temos o sangue trazendo as drogas para o glomérulo. Se a droga não estiver ligada à proteínas, ela não será filtrada. Se não for lipossolúvel, segue com a urina. Se for lipossolúvel pode ser reabsorvida. Todas substâncias podem ser filtradas desde que não estejam ligadas às proteínas plasmáticas. No túbulo proximal vamos ter secreção ativa de algumas drogas, especialmente ácidos. No túbulo distal pode haver a reabsorção de substâncias lipossolúveis. A substância foi filtrada na forma lipossolúvel e pode retornar à corrente circulatória. Se ela não sofrer reabsorção ou for secretada, ela pode então ser eliminada com a urina. Princípios Farmacocinéticos: úteis na quantificação dos processo da Farmacocinética. 1) Estado de equilíbrio: a quantidade de droga administrada é igual à quantidade de droga eliminada, dentro de um intervalo de doses. Então, quando nós temos a mesma quantidade de droga administrada e eliminada, dizemos que estamos em um estado de equilíbrio. Muitas vezes o estado de quilíbrio só é atingido após a repetição de várias doses. É por isso que muitas vezes nós fazemos a dose de ataque e depois a dose de manutenção. A dose de ataque é mais elevada para acelerar o estado de equilíbrio. E a dose de manutenção serve para manter o estado de equilíbrio. 2) As drogas de meia-vida curta atingem o estado de equilíbrio rapidamente e as doses devem ser repetidas em intervalos curtos. Se a meia vida for longa, as doses são administradas em intervalos de tempo maiores e pode demorar mais para atingir o equilíbrio. Apenas depois de atingir o equilíbrio podemos diminuir as doses. Muitas vezes começamos com 2 cp, depois 4 e depois 1 cp. Valores Farmacocinéticos: A quantificação das etapas da farmacocinética é através dos valores farmacocinéticos. A Absorção é quantificada pela Biodisponibilidade. A Distribuição é quantificada pelo volume de distribuição. A Eliminação é quantificada pela meia-vida e pelo cleareance (depuração). 1) Biodisponibilidade (Absorção) : é a fração do fármaco administrado que atinge a circulação sistêmica. É expressa como a fração do fármaco administrado que tem acesso à circulação sistêmica na forma quimicamente inalterada-ativa (a substância pode ser absorvida, mas na forma inativa). Absorção adequada não garante biodisponibilidade devido à biotransformação no fígado antes de chegar à circulação geral (Metabolismo de primeira passagem, ex: administração de uma substância VO, que passa para a circulação hepática a partir do intestino, mas no fígado existem enzimas que vão metabolizar e inativar parte daquela substância administrada, e apenas depois dessa passagem é que vai ser disponibilizado para a circulação sistêmica a fração ativa que não foi metabolizada no fígado). Alguns medicamentos sofrem uma grande redução na sua parcela ativa e nesse caso devemos aumentar a dose ou administrar por uma via diferente da VO. Se eu administrar nitrato para tratar crise de angina, devo usar via sublingual. Se for nitrato para previnir crise, posso usar VO em doses muito maiores. A biodisponibilidade da via sublingual é bem maior que da VO. (E por que não devo usar sempre a via sublingual? Pois a duração é muito curta, não é útil para previnir as crises). A biodisponibilidade influencia na resposta clínica, na escolha das doses e das vias de administração. Exemplo da quantificação da biodisponibilidade : Se eu administrar 5 mg de uma droga oralmente e 1 mg cair na corrente circulatória. Isso significa que ocorreu o fenômeno de primeira passagem e a biodisponibilidade é de 20%. A biodisponibilidade pode ser alterada por: a) Ataque químico, enzimático ou por bactérias (não administramos insulina VO pois ela não estaria biodisponível, sendo metabolizada no próprio intestino), b) Falha de absorção ( a substância sofre a influência do alimento, muitas podem ser misturadas e eliminadas com as fezes), c) Metabolismo de primeira passagem pelo fígado, d) Falha de desintegração ou dissolução podendo ser proposital (substâncias preparadas para desintegrarem não no estômago, mas no intestino), pode acorrer não-absorção devido a uma diarréia, por exemplo. 2) Volume de Distribuição (Medida de Distribuição): quantifica o movimento da droga entre o sangue e os tecidos. Temos que conhecer se as substâncias se distribuem melhor pelo sangue ou tecidos. Temos 3 tipos de substâncias: de pequeno, médio ou grande volume de distribuição. Se permanece mais no sangue, tendo dificuldade de se difundir para os tecidos, dizemos que tem pequeno volume de distribuição. Saber essa propriedade é muito importante para atingirmos as concentrações desejadas. Se a substância se distribui igualmente entre o sangue e os tecidos dizemos que ela tem médio volume de distribuição [ver quadro das substâncias de volumes diferentes]. O warfarin tem pequeno volume de distribuição pois se liga muito à albumina (depósito que libera lentamente para os tecidos), assim sua concentração no sangue é maior do que no tecido. A quinacrina se liga muito ao DNA dos tecidos, sendo retirada do sangue com muita facilidade. 3) Medidas de Eliminação (meia-vida e depuração ou cleareance) *Meia-vida: é o tempo necessário para eliminar metade da quantidade total da droga. Meia-vida curta necessita de doses mais frequentes. Doença hepática pode aumentar a meia-vida pois aumenta o tempo de metabolização [olhar o gráfico]. Geralmente são necessárias 4 a 5 meia-vidas para eliminar totalmente a droga do organismo. As substâncias com meia-vida curta vão ser mais rapidamente eliminadas, e as de meiavida longa têm maior duração. (Ex: Se uma droga tem a meia-vida de 10 s e você administra 6mg ao paciente, após 30s quanto da droga permanece? 0,75 mg). Em indivíduos normais, a meia-vida da amoxicilina é de 1 h. O fenobarbital (anticonvulsivante) é de 86 hs. *Depuração (Cleareance): muito importante para identificar o funcionamento hepático e renal. Corresponde ao volume de líquido biológico (sangue ou plasma) que contem a quantidade da droga removida pelo rim (depuração renal) ou ainda metabolizada pelo fígado (depuração hepática) por unidade de tempo. A depuração total corresponde à renal+hepática. Com esses dados da depuração nós podemos estabelecer a dose. Se eu estiver com uma depuração renal diminuída significa que o paciente está com insuficiência renal e o espaço entre as doses deve ser modificado. Exemplo: [olhar slides 56 e 57] Supondo que no fígado saudável eu tenha um fluxo de 2L de sangue/ min. Antes eu tinha 10 mg/L da substância. Depois que passou pelo fígado ela foi totalmente depurada (resultou apenas um metabólito). O cleareance, nesse caso, é de 2L/min. Eu posso ter um caso em que reste 5mg/L, e a depuração foi incompleta. No segundo caso, a depuração foi de 1L/min. O mesmo pode acontecer nos rins. Essas determinações são muito importantes para se definir o funcionamento renal e hepático. A depuração da creatinina é tomada como referência para cálculo de doses. Populações Pacientes Especiais: 1) Doença renal: O metabolismo hepático está normal, o volume de distribuição pode estar normal ou aumentado (não está sendo eliminada totalmente), e a eliminação está prolongada AUMENTAR o intervalo entre as doses. 2) Doença Hepática: A eliminação renal está normal, o volume de distribuição está normal ou aumentado (não está sendo metabolizado totalmente), e a velocidade de metabolismo enzimático está mais lento DIMINUIR a dose para compensar o que não está sendo metabolizado ou AUMENTAR o intervalo entre as doses. 3) Fibrose Cística: O metabolismo e a eliminação estão aumentados, assim como o volume de distribuição AUMENTAR a dose e DIMINUIR o intervalo. Obs: No caso de hipoalbumineima devemos diminuir a dose ou diminuir o espaço entre as doses (vai passar p/ tecidos e ser eliminada mais rapidamente) Existe tabelas para cálculo das doses de acordo com a taxa de depuração. TERMOS IMPORTANTES: Absorção, Distribuição, Eliminação, Metabolismo, Citocromo P450, Excreção, Farmacocinética, Biodisponibilização, Meia-Vida, Cleareance, Metabolismo de primeira passagem, Volume de distribuição.