MÔNICA DA SILVA PEREIRA 5 A ARTETERAPIA NO PROCESSO TERAPÊUTICO COM CRIANÇAS HOSPITALIZADAS Mônica da Silva Pereira1 ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano IX • vol 1• nº 1 2º sem de 2015 65 MÔNICA DA SILVA PEREIRA RESUMO O presente artigo vem discorrer sobre a Arteterapia como processo terapêutico com crianças hospitalizadas, tendo como objetivo compreender a forma como o paciente se expressa. Ao descobrir-se doente, a criança se isola internamente, impossibilitando que haja bons resultados em seu tratamento médico. Nesse meio tempo, o arteterapeuta observará e identificará como a criança demonstrará suas angústias e emoções, buscando integrá-la ao seu novo ambiente, de forma que seja humanizado e confortável, priorizando seu bem-estar, sua relação familiar e sua relação com a equipe multidisciplinar. Alguns autores levantam a importância de se compreender a forma como as crianças manifestam um comportamento típico do seu estado, como raiva, apatia, fobias, entre outros sentimentos que possam alterar sua conduta diante das limitações impostas pelo ambiente hospitalar. Em suma, existe uma resistência por parte da criança ao tratamento, levando-a a nutrir ressentimentos pela falta da presença familiar e o convívio em seu meio social. É necessário que o arteterapeuta respeite o momento de doença da criança sem forçá-lo, e conheça sua história, sua motivação e seus sentimentos, para assim desenvolver recursos conforme sua necessidade e situação. A verificação de determinadas atividades pelo terapeuta permitirá que o mesmo entre em contato com a realidade do paciente e passe a estimulá-lo para que não se desmotive em relação ao seu tratamento, recebendo o apoio de todos ao seu redor. Por fim, o artigo ressaltará o papel da arteterapia como processo terapêutico com crianças hospitalizadas, favorecendo a expansão estrutural da sua personalidade e amadurecendo o resgate do SER criativo. Palavras-chave: Arteterapia, ambiente hospitalar, criança hospitalizada, processo terapêutico. 1 Faculdade das Américas [email protected] ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano IX • vol 1• nº 1 2º sem de 2015 67 A ARTETERAPIA NO PROCESSO TERAPÊUTICO COM CRIANÇAS HOSPITALIZADAS ABSTRACT The above article comes to talk about art therapy as a therapeutic process with hospitalized children, aiming to understand how the patient expresses. To discover themselves ill, the child is isolated internally, making it impossible for there good results in their medical treatment. Meanwhile, the art therapist will observe and identify how the child will demonstrate their anxieties and emotions, seeking to integrate it into their new environment, so that is humane and comfortable prioritizing your well being, your family relationship and their relationship with the multidisciplinary team. Some authors raise the importance of understanding how children manifest a typical behavior of their status as anger, apathy, phobias and other feelings that can change your approach considering the limitations imposed by the hospital environment. In short, there is a resistance from the child to the treatment, leading him to nourish resentment for the lack of family presence and interaction in their social environment. It is necessary that the art therapist respects the moment of child’s illness without forcing him, but knowing their history, their motivation and their feelings and develop resources as well as your need and situation. The verification of certain activities by the therapist will allow the same contact with the reality of the patient and encourage him to pass so that it does not desmotive regarding their treatment, receiving the support of everyone around her. Finally, the article will highlight the role of art therapy as a therapeutic process with children hospitalized favoring structural expansion and maturing of his personality ransom of being creative. Keywords: Art therapy, hospital environment, hospitalized child, therapeutic process. 68 REVISTA INTERAÇÃO | Ano IX • vol 1• nº 1 2º sem de 2015 ISSN (1981-2183) MÔNICA DA SILVA PEREIRA INTRODUÇÃO Atualmente, busca-se a conexão com o chamado eu interior, a busca por si mesmo, um caminho natural e espontâneo, a busca pela essência. O ser humano luta todos os dias para lidar com situações que acabam por gerar sentimentos que são nocivos ao seu bemestar. Sentimentos fazem parte do repertório do homem, e existem meios de se expressar, um deles é através da arteterapia. A arteterapia vem como um auxílio no alívio ou cura do indivíduo; e nos dias atuais tem ajudado pessoas a livrar-se de traumas, fobias, medos e raivas, entre outros. E como tornar a própria ruptura deste vital processo. (MATOS; MUGIATTI 2014, p.28) Para a criança não é fácil passar por diversos tratamentos em idade precoce, o que a leva a não corresponder adequadamente ao tratamento, e é neste momento delicado que cabe ao arteterapeuta atuar e decifrar algumas manifestações que o paciente transmite, tendo um olhar humano, investigador, buscando oferecer assistência ao aluno e à sua família. O arteterapeuta é um agente transformador que certamente atuará na ampla reestruturação psicoafetiva da criança para uma adaptação ao espaço hospitalar, onde irá preparar diversas atividades lúdicas processo terapêutico, tem feito parte do e recreativas, com muitas possibilidades de ambiente hospitalar, atuando principalmente diversos recursos e materiais, levando-a a com crianças hospitalizadas, que, devido a criar suas pinturas, desenhos, dramatizar, a uma doença mais grave, tomou o hospital por fim de liberar um fluxo criativo e assim iniciar lar, ficando longe da família, amigos, escola e seu processo terapêutico. Porém, diante da sociedade. disso, poderão ocorrer casos em que a A partir disso, surgem os conflitos internos da criança, alimentando sentimentos e assim impedindo uma recuperação plena. criança se afaste, se exclua do ambiente em que está inserida. De acordo com Olivier (2011, p.36), Há, ainda, que se levar em conta que a Esse é um processo que costuma criança e o adolescente, nessa fase, se ser demorado porque requer muita encontram em pleno período de aprendizagem, prática por parte do terapeuta e muita que estão ávidos por novidades, essas dedicação por parte do paciente. Não operadas pela observação, experiência e basta entender regras e conceitos, comunicação – elementos constitutivos da é preciso ter muita sensibilidade e aprendizagem em condições permanentes. experiência E o isolamento da escola vem justamente se rabisco perdido em um desenho ou um ISSN (1981-2183) para reconhecer um REVISTA INTERAÇÃO | Ano IX • vol 1• nº 1 2º sem de 2015 69 A ARTETERAPIA NO PROCESSO TERAPÊUTICO COM CRIANÇAS HOSPITALIZADAS Cabe traço, um borrão em uma pintura, porém sentimentos que levem o paciente a uma mais sensibilidade e experiência ainda apatia. É fundamental estimular na criança exigida do terapeuta que se dispõe a um processo de autonomia criativa para analisar processos psicodramáticos ou que haja um equilíbrio emocional, sanando expressivo-corporais e vocais, pois os eventuais desequilíbrios afetivos que o sinais são muito sutis e rápidos. ambiente hospitalar possa causar. também a presença de uma equipe multidisciplinar que esteja ao lado do arteterapeuta, para abordar estratégias que mudem a rotina da criança para que, juntos, possam transformar um ambiente frio e inóspito, em um lugar que a acolha, seja cativante e aconchegante e a ajude em sua recuperação. A criança tem sua forma simbólica de demonstrar seus sentimentos e trata de usála para expressar ao seu interlocutor o que realmente lhe acontece interiormente. Segundo Piaget (1973) apud Gamez, Ramal (2013, p.12) [...] a ação humana é desequilibrada pelas transformações que aparecem no mundo, exterior ou interior, e cada Recursos como pinturas, colagem, contação de história, escrita criativa, máscaras, mosaicos, modelagem, bordado, tecelagem e fotografias, são formas de explorar as manifestações, surgindo a necessidade de conhecer melhor a criança e sua história para poder identificar suas diferentes forma de expressão e enxergar nessas atividades uma fragilidade e dificuldade em lidar com a doença. A arte, nessa concepção, propicia um espaço em que se pode produzir com liberdade, isto é, livre de condicionamentos e preconceitos, não limitando a criação apenas a resultados estéticos, formais e nem a padrões culturais ou morais. Mesmo nova conduta vai funcionar não só o que pode ser considerado estranho, feio para estabelecer o equilíbrio como ou desproporcional, deve ser acolhido no também para tender a um equilíbrio processo, porque acima de tudo, deve ser mais estável que o do estágio anterior aceito como um objeto estético. Consideramos a essa perturbação. que é na vivência desta experiência, nesse Necessariamente, a criança neste estágio sentimento de pertencer e reconhecimento, deseja se expressar de alguma forma. É que o homem satisfaz a necessidade de essencial que o arteterapeuta fique atento expressão e afirmação, que na maioria das a essas manifestações, realizando uma vezes, não consegue satisfazer nas outras mediação que consista em desbloquear relações com o mundo. (NAGEM, 2011). 70 REVISTA INTERAÇÃO | Ano IX • vol 1• nº 1 2º sem de 2015 ISSN (1981-2183) MÔNICA DA SILVA PEREIRA É preciso que haja uma compreensão no Desta forma, o artigo poderá contribuir para decorrer do processo terapêutico por parte do um novo olhar sobre a arteterapia, solicitando arteterapeuta, pois é necessário que a criança do terapeuta uma visão ampla e profissional, saia do seu estado egocêntrico e possa valer- e que utilize suas habilidades para refletir se de sua criatividade, trazendo à tona a sobre sua ação, oferecendo uma atuação que capacidade de criar, organizar suas ideias, atenda às necessidades e particularidades de nomear suas atividades, liberando suas cada criança no contexto hospitalar. emoções mais enraizadas em si, estando hábil para enfrentar diversas situações surgidas no seu processo cura. No processo terapêutico de crianças hospitalizadas, a arteterapia terá o enfoque essencial no ato de desbloqueio emocional no contexto hospitalar e, através da revisão literária, o presente artigo irá abordar os recursos terapêuticos com a criança para que haja um alívio no seu atual momento de enfermidade e que será usado como indicador para expressões psicoafetivas. Dentro da arteterapia é possível a criança promover sua criatividade e, desta forma, facilitar que alcance sua singularidade como pessoa e assim atuar no seu tratamento. Deste modo a arteterapia vem integrar arte e saúde para que se tenha uma contribuição na condução ao autoconhecimento, permitindo, O artigo teve origem em uma pesquisa bibliográfica de títulos sobre a área de arteterapia e alguns conceitos dentro da pedagogia. Baseando-se na diversidade encontrada na literatura, o levantamento deuse a partir da necessidade de entender a maneira como a arteterapia atua no processo terapêutico de crianças hospitalizadas durante seu período de internação. Foram selecionadas obras relacionadas à pesquisa, a fim de se buscar uma ampliação sobre o tema tratado, sendo a grande maioria livros de acervo pessoal e outros com empréstimos da biblioteca da Faculdade das Américas. Dentre vários artigos, foram selecionados apenas três: A importância da psicomotricidade na arteterapia em um hospital oncológico, artigo científico publicado pela aluna de pós-graduação em Psicomotricidade da assim, que a criança possa trilhar seu UNIFAI Eliane Latterza; Arteterapia na classe caminho em busca de si próprio, compreender hospitalar, monografia publicada por Victor seu estado de enfermidade e, sobretudo, Vita de Morais da Universidade Candido recuperar sua autoestima, resgatando a Mendes como requisito parcial para obtenção própria criatividade para assim superar e de grau de Especialista em Arteterapia em reinventar sua própria vida. Educação e Saúde; As práticas educativas ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano IX • vol 1• nº 1 2º sem de 2015 71 A ARTETERAPIA NO PROCESSO TERAPÊUTICO COM CRIANÇAS HOSPITALIZADAS vivenciadas pelo pedagogo nos hospitais: Esta ciência visa a analisar o que o paciente possibilidades e desafios, artigo escrito por cria e qual será seu comportamento ao longo Vera Lucia Lins Sant’Anna, Elenice Moraes do processo terapêutico, investigando quais de Souza e Lucimary Gonçalves da Cruz para distúrbios ou traumas atrapalham sua vida, a revista Pedagogia em Ação. e assim a arteterapia vem auxiliar para que se haja um bom tratamento e desta forma liberar relacionavam com a proposta da pesquisa, sentimentos como raiva, traumas, medos verificando atentamente as informações úteis entre outros. Foram eliminados os que não para o trabalho, sendo necessária uma leitura É fundamental que o arteterapeuta tenha mais detida dos conteúdos para analisar uma boa formação e acima de tudo paciência, pontos que sejam úteis ao artigo. pois, dependendo do paciente, pode haver Afinal, o que é Arteterapia ? É uma expressão que permite ao indivíduo a sua reabilitação emocional, através da arte. De acordo com Olivier (2011, p.35) a arteterapia é: uma recusa em realizar as atividades ou se tornar muito longo o processo de fluxo criativo. Diante disto, o terapeuta deve estar sempre se atualizando, buscando adquirir novos conhecimentos e conhecer áreas como psicologia e artes, que serão fundamentais Uma ciência fundamentada em para a realização de uma sessão terapêutica, medicina e artes em geral, que estuda porém isto não impede que o arteterapeuta e pratica os meios adequados para tenha formação em várias áreas, e o mais aliviar ou curar indivíduos por meio importante é que o terapeuta tenha uma da expressão da arte, trazendo à tona sensibilidade, e trate seu paciente com uma ideia, trauma, tristeza etc; em uma humanização. catarse psicanalítica. É a arte pela arte No Brasil, Nise da Silveira foi uma das que analisa principalmente o processo precursoras da arteterapia, introduzindo a criativo e não a obra em si. Psicologia Junguiana e recusando-se a usar A arteterapia busca analisar o que o métodos abrasivos como forma de cura em paciente procura demonstrar através da arte pacientes com transtornos mentais. Em e utiliza diversos recursos como pinturas, 1956 criou a Casa das Palmeiras, onde seus colagens e expressões corporais como pacientes eram tratados com atividades de exemplos, a fim de se observar o processo forma livre em um ambiente de respeito e, criativo. acima de tudo, acolhimento. 72 REVISTA INTERAÇÃO | Ano IX • vol 1• nº 1 2º sem de 2015 ISSN (1981-2183) MÔNICA DA SILVA PEREIRA A Psicologia Junguiana ou a chamada A criança hospitalizada Psicologia Analítica foi criada por Carl Gustav A hospitalização pode ocorrer quando Jung, médico de formação e doutoramento, menos se espera, em qualquer estágio da nascido na Suíça em 1875. Para Jung, os vida (infantil, adulta e idosa) fazendo com desenhos dos pacientes iam muito além que a rotina mude totalmente, ocasionando do consciente e do inconsciente pessoal, as memórias de seus pacientes (figuras, símbolos e arquétipos) ficavam armazenadas na zona psíquica. Assim, Jung comprovou a teoria do Inconsciente Coletivo, uma espécie de memória de conjunto que poderia ser em uma internação de curta, média ou longa duração A doença, como processo biológico, sempre existiu, representando a instabilidade entre as várias relações do todo do indivíduo com o ambiente externo, este em permanente mudança. (MATOS; MUGIATTI, 2014) No caso das crianças que estão em idade acionada em sonhos ou desenhos, mesmo escolar, a doença surge inesperadamente, que, individualmente, o paciente não tivesse impossibilitando sua convivência social e conhecimento de seu conteúdo. Pode-se familiar e, por vezes necessitarão de períodos resumir o inconsciente coletivo como uma longos de hospitalização, o que torna esta zona mental interpsíquica e intrapsíquica, fase dolorosa e estressante. repleta de imagens representativas de fator O afastamento da sua rotina habitual comuns a toda humanidade. (OLIVIER, 2011). provocado pela doença traz em sua nova Desta forma, pode-se entender que o inconsciente é criativo e guarda emoções fortes que não conseguem ter acesso à consciência e precisam ser liberados e nisso entra a arte com sua essência mais saudável. Descobrir o inconsciente nos rotina uma mescla de sentimentos, e é neste momento que a criança se recolhe, provocando em si alterações de humor e o aparecimento de distúrbios emocionais e psíquicos. Conforme a idade da criança, a mesma torna passa a se tornar individualista, fechando- pessoas ricas, descobrir que temos um se em um casulo próprio, dificultando a banco de dados com conteúdos belíssimos, aproximação da equipe médica, causando conteúdos estes de nosso passado que, um entrave em seu tratamento, fazendo somados com ideias presentes, formarão pensamentos inteiramente novos e criativos. (BITTENCOURT, 2011). ISSN (1981-2183) com que ela entre num clima de expectativa e medo, despertando em si a sensação de desamparo, ansiedades, inquietudes, choro REVISTA INTERAÇÃO | Ano IX • vol 1• nº 1 2º sem de 2015 73 A ARTETERAPIA NO PROCESSO TERAPÊUTICO COM CRIANÇAS HOSPITALIZADAS frequente, apatia e insegurança. É essencial que a equipe multidisciplinar Outro ponto a considerar é a presença crie um diálogo com a família e juntos dos familiares no processo de adaptação do possam unir-se no processo terapêutico da paciente ao ambiente hospitalar, devendo ser orientados sobre seu fundamental papel no cuidado do paciente durante seu período de internação, sendo valiosa a sua participação no decorrer do tratamento, criando pontes entre a criança e a equipe multidisciplinar, tendo assim um sucesso no tratamento. De acordo com Matos e Mugiatti (2014, p.63) criança, podendo encontrar um caminho de descobertas e colocando-se de maneira ativa durante o tratamento hospitalar. O processo terapêutico deve seguir a linha de humanização, fortalecendo o vínculo com outras crianças, a fim de diminuir a ansiedade e o medo, fortalecendo sua autoestima e diminuindo seu tempo de internação, transformando o espaço hospitalar em espaço lúdico. Em se tratando da família então presente, transparece a necessidade de lhe conferir a devida importância e incentivo, pois da sua participação depende em parte considerável, o êxito do tratamento no seu todo. A experiência tem sido pródiga em mostrar quão férteis são os investimentos enquanto a ela elemento indispensável ao inter/transdisciplinar. portanto, esse direcionados, contributivo trabalho e multi/ Considerando, ao dizer que a criança “se embrutece” com grande facilidade se não receber estímulo algum, podendo apresentar um quadro de pseudodebilidade mental, que pode vir a alternar de forma mais acentuada o seu quadro biológico. A criança necessita de atividades que a ajudem a superar esta fase frágil de sua vida e a enfrentar sua doença, para que esta não atinja seu emocional e psíquico. É necessário também a importância de se adaptar o ambiente hospitalar, permitindo que elenco o local seja algo menos traumático e passe a participante, vê-se como da mais realçar o potencial terapêutico, para libertar extrema importância à atuação convicta e cuidar da criança lesada emocionalmente de todos, quanto ás suas respectivas que, sendo esta sensorial, capta tudo o que atribuições, de está ao seu redor, e o tratamento terapêutico preservação da real qualidade de suas vem entender e tratar a raiz do problema, tarefas. buscando dentro de si formas de expressar pela valioso Matos e Mugiatti (2014) deixam isso claro necessidade 74 REVISTA INTERAÇÃO | Ano IX • vol 1• nº 1 2º sem de 2015 ISSN (1981-2183) MÔNICA DA SILVA PEREIRA suas emoções e libertar sua real essência. de tudo ser poupada de emoções súbitas. De acordo com Piloto (2011, p.81) O terapêutico constrói um Por essas experiências, é que a elo curativo interior, o que proporciona ao criança se conecta com o meio em indivíduo uma transformação íntima, única e que vive, pois a livre expressão da singular que iniciada através da arte permitirá criança vai retratar aquilo que pode a criança um resgate de suas concepções experimentar. criança internas e assim sua criatividade fluirá ao desenha, ela exercita a construção seu exterior, possibilitando ao arteterapeuta da representação do mundo; é o um ajuste necessário para a compreensão momento da criação simbólica onde simbólica das suas criações, promovendo um ela se coloca por inteiro na atividade, desligamento do seu momento de stress. Quando a independentemente das características É importante que o momento criativo seja do material que usa, fazendo com que de livre expressão e permita o ajuste e o esse momento esteja funcionando com amadurecimento do próprio EU e, a partir de assimilação de conteúdos internos. então, a criança passará a ter um interesse E é bom que essa criança tenha livre do seu universo e o mundo que a cerca. expressão, que seu potencial criador esteja em pleno desenvolvimento. realizar suas próprias Antes de iniciar o processo terapêutico deve-se proceder a um momento verbal no qual Desta forma a criança estará tranquila para processo o arteterapeuta realizará uma anamnese, que produções, tem a função de questionar o histórico de vida criando sem medo e sem regras, sendo do paciente, sendo necessária a presença do espontâneo ao ponto de ser sensível ao olhar familiar, para, desta forma, abordar de forma sua obra e projetar nelas seus sentimentos e completa o diagnóstico emocional da criança. necessidades. É necessário seguir um roteiro e o terapeuta O processo terapêutico com a criança quando necessário, caso ocorram pontos hospitalizada Aqui destaca-se ter a sensibilidade e firmeza de interromper a presença do arteterapeuta, que é de suma importância que não sejam pertinentes ao objetivo do tratamento. para diminuir o impacto da hospitalização, A partir da anamnese em mãos, o oferecendo recursos adequados nos quais a arteterapeuta pode preparar atividades que criança possa fantasiar seus sentimentos e estejam de acordo com as necessidades angústias e, desta forma, expandir as suas da criança, que irá integrar de forma mais tendências criativas, confiando em si e acima adequada variadas técnicas que servirão ISSN (1981-2183) REVISTA INTERAÇÃO | Ano IX • vol 1• nº 1 2º sem de 2015 75 A ARTETERAPIA NO PROCESSO TERAPÊUTICO COM CRIANÇAS HOSPITALIZADAS para o desbloqueio emocional, liberação (Piloto, 2011) de conteúdos inconscientes e fluência no Portanto, o ato de criar é tornar visível processo criativo que permitiram a vazão uma energia, é poder falar de seus anseios, de sentimentos, causando um bem-estar e medos, suas descobertas, suas dificuldades, harmonia dentro de si. suas alegrias e tristezas e ao mesmo tempo Philippini (2009) afirma que a Arteterapia tem como conceito um conjunto de estratégias por meio desta linguagem é que a criança contará sua história. expressivas que facilitam a expansão da Quando inserida na atividade proposta estruturação emocional, ou seja, o processo pelo terapeuta, a criança envolve-se na criativo traz uma codificação da expressão vivência terapêutica de forma mais consciente emocional inconscientes, e mostra-lhe o quanto é capaz de superar podendo utilizar linguagens e materiais diversidades surgidas em seu caminho, é expressivos, buscando encontrar um canal fornecer a ela uma experiência rica e de apropriado para cada indivíduo e oferecendo forma natural, dispondo em sua obra somente caminhos coisas que conhece e que tiveram algum e conteúdos alternativos como colagens, pinturas, desenhos etc. ou aquela em que a criança se sinta à vontade em realizar. significado especial em sua vida. É conveniente deixar a imaginação, a fan- Por isso, na Arteterapia, o importante é tasia, a liberdade para criar à solta e deixar “fazer arte”, é expressar-se, é ser criativo, é que a criança se expresse permitindo que deixar o sujeito expressar plasticamente seus ela possa ordenar suas obras, liberando car- conflitos, conhecendo-se como uma pessoa gas de energias, sentimentos tristes e assim inteira, capaz de trabalhar com todas as suas tornando-se uma criança pronta para enfren- sensações e percepções. Quando a criança tar todos os obstáculos com mais segurança, não tem a possibilidade de agir, ela torna- percepção e equilibrar o seu emocional. se rígida nos movimentos e pensamentos. A criança, quando entra no mundo simbólico, está mostrando como pensa, sente e age, CONSIDERAÇÕES FINAIS O artigo discute a importância da se organiza, aprende, interage com o meio, arteterapia no processo terapêutico com enfim mostra-nos como está construindo sua crianças hospitalizadas, que através de história de vida. Possibilitar a uma criança variadas técnicas, realizam um desbloqueio essa experiência, que é única, mágica e sem emocional, deixando fluir a imaginação, a inibições é extremamente apaixonante e uma fantasia e a liberdade de criar. Nesse sentindo, das melhores formas de conhecê-la melhor. o indivíduo explora um novo momento (real 76 REVISTA INTERAÇÃO | Ano IX • vol 1• nº 1 2º sem de 2015 ISSN (1981-2183) MÔNICA DA SILVA PEREIRA ou imaginário), e isto é fundamental para seu arteterapeuta estimula o seu resgate criativo, processo de cura. transformando sua dor em superação, O arteterapeuta encontrará várias formas recuperando sua autoestima e acima de tudo expressivas e simbólicas que a criança permitindo que ela reinvente sua própria vida. produzirá e isso é essencial para que se REFERÊNCIA possa compreender seu real significado que ajudará a liberar sentimentos que sufocam BITTENCOURT, Danielle. IN: DINIZ, e o seu SER, ou seja, o contexto terapêutico Inconsciente busca contribuir para trazer à consciência Estudos em Arteterapia. Rio de Janeiro, conteúdos sombrios e transformá-los em p.131-141, 2011. emoções leves, alegres e positivas. Coletivo. Jung Ligia. CADERNOS DA AARJ (Org.). Estudos em A conclusão, portanto, caminha no sentido Arteterapia: a Arte facilitando novos caminhos de que cada criança se manifesta no mundo de na busca do SER. 2. ed. Copacabana: Wak, forma única, diante de diferentes emoções, e 2011. 216 p. desta forma a doença não a impede de realizar GAMEZ, Luciano; RAMAL, Andrea (Org.). atividades e sim restabelece o paciente em Psicologia da Educação. Rio de Janeiro: um caminho de aprendizado, crescimento LTC, 2013. 144 p. interior, experimentações e vivências, tendo LATTERZA, Eliane. A importância da dentro do ambiente hospitalar a presença psicomotricidade na arteterapia em um da arteterapia como promoção do equilíbrio hospital oncológico. 2010. emocional da criança. em: Nesse caso, Nagem (2011) afirma que vivendo e experimentando, o indivíduo plasma o seu caminho e, ao mesmo tempo, configura <http://www.unifai.edu.br/publicacoes/ artigos_cientificos/alunos/pos_graduacao/01. pdf>. Acesso em: 20 fev. 2014. 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