159 Revista Brasileira de ISSN 0034-7280 Oftalmologia PUBLICAÇÃO OFICIAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA Indexada nas bases de dados: LILACS SciELO Literatura Latino-americana em Ciências da Saúde Scientific Electronic Library OnLine Disponível eletronicamente no site: www.sboportal.org.br Publicação bimestral Editor Chefe Riuitiro Yamane - Niterói - RJ Co-editores Arlindo José Freire Portes - Rio de Janeiro - RJ Newton Kara José - São Paulo - SP Roberto Lorens Marback - Salvador - BA Silvana Artioli Schellini - Botucatu - SP Corpo Editorial Internacional Baruch D. Kuppermann - Califórnia - EUA Christopher Rapuano - Filadélfia - EUA Felipe A. A. Medeiros - Califórnia - EUA Howard Fine - Eugene - EUA Jean-Jacques De Laey - Ghent - Bélgica Lawrence P. Chong - Califórnia - EUA Miguel Burnier Jr. - Montreal - Canadá Peter Laibson - Filadélfia - EUA Steve Arshinoff - Toronto - Canadá Daniel Grigera - Olivos - Argentina Curt Hartleben Martkin - Colina Roma - México Felix Gil Carrasco - México - México Corpo Editorial Nacional Abelardo de Souza Couto Jr. - Rio de Janeiro - RJ Acacio Muralha Neto - Rio de Janeiro - RJ Adalmir Morterá Dantas - Niterói- RJ Ana Luisa Hofling de Lima - São Paulo - SP Antonio Augusto Velasco E. Cruz - Ribeirão Preto - SP Ari de Souza Pena - Niterói - RJ Armando Stefano Crema - Rio de Janeiro - RJ Carlos Alexandre de Amorim Garcia - Natal - RN Carlos Augusto Moreira Jr. - Curitiba - PR Carlos Ramos de Souza Dias - São Paulo - SP Celso Marra Pereira - Rio de Janeiro - RJ Denise de Freitas - São Paulo - SP Edmundo Frota de Almeida Sobrinho - Belém - PA Eduardo Cunha de Souza - São Paulo - SP Eduardo Ferrari Marback - Salvador - BA Fernando Cançado Trindade - Belo Horizonte - MG Fernando Oréfice - Belo Horizonte - MG Flavio Rezende - Rio de Janeiro - RJ Francisco de Assis Cordeiro Barbosa - Recife - PE Francisco Grupenmacher - Curitiba - PR Francisco Valter da Justa Freitas - Fortaleza - CE Giovanni N.U.I. Colombini - Rio de Janeiro - RJ Guilherme Herzog Neto - Rio de Janeiro - RJ Rev Bras Oftalmol, v. 67, n. 4, p. 159-206, Jul./Ago. 2008 Haroldo Vieira de Moraes Jr. - Rio de Janeiro - RJ Helena Parente Solari - Niterói - RJ Henderson Celestino de Almeida - Belo Horizonte - MG Hilton Arcoverde G. de Medeiros - Brasília - DF Homero Gusmão de Almeida - Belo Horizonte - MG Italo Mundialino Marcon - Porto Alegre - RS Jacó Lavinsky - Porto Alegre - RS João Borges Fortes Filho - Porto Alegre - RS João Luiz Lobo Ferreira - Florianópolis - SC João Orlando Ribeiro Gonçalves - Teresina - PI Joaquim Marinho de Queiroz - Belém - PA José Ricardo Carvalho L. Rehder - São Paulo - SP Laurentino Biccas Neto - Vitória- ES Leiria de Andrade Neto - Fortaleza - CE Liana Maria V. de O. Ventura - Recife - PE Manuel Augusto Pereira Vilela - Porto Alegre - RS Marcelo Palis Ventura - Niterói - RJ Marcio Bittar Nehemy - Belo Horizonte - MG Marco Antonio Rey de Faria - Natal - RN Marcos Pereira de Ávila - Goiânia - GO Maria de Lourdes Veronese Rodrigues - Ribeirão Preto - SP Maria Rosa Bet de Moraes Silva - Botucatu - SP Mário Luiz Ribeiro Monteiro - São Paulo - SP Mário Martins dos Santos Motta - Rio de Janeiro - RJ Miguel Ângelo Padilha Velasco - Rio de Janeiro - RJ Milton Ruiz Alves - São Paulo - SP Nassim da Silveira Calixto - Belo Horizonte - MG Newton Kara José Jr. – São Paulo – SP Octávio Moura Brasil do Amaral Fº. - Rio de Janeiro - RJ Oswaldo Moura Brasil - Rio de Janeiro - RJ Paulo Augusto de Arruda Mello - São Paulo - SP Paulo Schor - São Paulo - SP Raul Nunes Galvarro Vianna - Niterói - RJ Remo Susanna Jr. - São Paulo - SP Renato Ambrósio Jr. - Rio de Janeiro - RJ Renato Luiz Nahoum Curi - Niterói - RJ Rogério Alves Costa - Araraquara - SP Rubens Camargo Siqueira - S. José do Rio Preto - SP Sebastião Cronemberger - Belo Horizonte - MG Sérgio Henrique S. Meirelles - Rio de Janeiro - RJ Suel Abujâmra - São Paulo - SP Tadeu Cvintal - São Paulo - SP Valênio Peres França - Nova Lima - MG Virgílio Augusto M. Centurion - São Paulo - SP Walton Nosé - São Paulo - SP Wesley Ribeiro Campos - Passos - MG Yoshifumi Yamane - Rio de Janeiro - RJ Redação: Rua São Salvador, 107 Laranjeiras CEP 22231-170 Rio de Janeiro - RJ Tel: (0xx21) 3235-9220 Fax: (0xx21) 2205-2240 Tiragem: 5.000 exemplares Edição: Bimestral Secretaria: Juliana Matheus Editoração Eletrônica: Sociedade Brasileira de Oftalmologia Responsável: Marco Antonio Pinto DG 25341RJ Publicidade: Sociedade Brasileira de Oftalmologia Responsável: João Diniz Revisão: Eliana de Souza FENAJ-RP 15638/71/05 Normalização: Edna Terezinha Rother Assinatura Anual: R$240,00 ou US$210,00 160 ISSN 0034-7280 Revista Brasileira de Oftalmologia Rua São Salvador, 107 - Laranjeiras - CEP 22231-170 - Rio de Janeiro - RJ Tels: (0xx21) 3235-9220 - Fax: (0xx21) 2205-2240 - e-mail: [email protected] - www.sboportal.org.br Revista Brasileira de Oftalmologia, ISSN 0034-7280, é uma publicação bimestral da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Diretoria da SBO 2007-2008 Presidente Luiz Carlos Pereira Portes Vice-presidente Mário Martins dos Santos Motta Vices presidentes regionais Jacó Lavinsky Luiz Gonzaga Cardoso Nogueira Márcio Bittar Nehemy Newton Kara José Secretário Geral Gilberto dos Passos 1º Secretário Guilherme Herzog Neto 2º Secretário Armando Stefano Crema Tesoureiro Mário Hideo Nagao Diretor de Cursos Sérgio Henrique S. Meirelles Diretor de Publicações Riuitiro Yamane Diretor de Biblioteca Octávio Moura Brasil Conselho Consultivo Carlos Fernando Ferreira Flávio Rezende, Miguel Ângelo Padilha Oswaldo Moura Brasil Paiva Gonçalves Filho Yoshifumi Yamane Conselho Fiscal Fernando Dantas Coutinho Luiz Augusto Morizot Leite Filho Marcus Vinícius Abbud Safady Suplentes José Augusto de Lima Mizael Augusto Pinto Rogério Neurauter SOCIEDADES FILIADAS A SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA Associação Brasileira de Banco de Olhos e Transplante de Córnea Presidente: Dr. Ari de Souza Pena Sociedade Catarinense de Oftalmologia Presidente: Dr. Ademar Valsechi Associação Matogrossense de Oftalmologia Presidente: Dra. Maria Regina Vieira A. Marques Sociedade Goiana de Oftalmologia Presidente: Dr. Solimar Moisés de Souza Associação Pan-Americana de Banco de Olhos Presidente: Dr. Elcio Hideo Sato Associação Paranaense de Oftalmologia Presidente: Dr. Fernando Cesar Habib Associação Sul Matogrossense de Oftalmologia Presidente: Dra. Cristina Rebello Hilgert Associação Sul-Mineira de Oftalmologia Presidente: Dr. Elias Donato Sociedade Alagoana de Oftalmologia Presidente: Dr. Jack Arnold Oliveira Lima Sociedade Brasileira de Administração em Oftalmologia Presidente: Dr. Renato Ambrósio Jr. Sociedade Brasileira de Catarata e Implantes Intraoculares Presidente: Dr. Marco Rey Faria Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular Presidente: Dra. Ana Estela Besteti P. P. Sant’Anna Sociedade Brasileira de Cirurgia Refrativa Presidente: Dr. José Ricardo Lima Rehder Sociedade Maranhense de Oftalmologia Presidente: Dr. Mauro César Viana de Oliveira Sociedade de Oftalmologia da Bahia Presidente: Dra. Cláudia Galvão Brochado Sociedade de Oftalmologia do Ceará Presidente: Dr. Sérgio Augusto Carvalho Pereira Sociedade Norte Nordeste de Oftalmologia Presidente: Dr. Luiz Nogueira Sociedade de Oftalmologia do Nordeste Mineiro Presidente: Dr. Mauro César Gobira Guimarães Sociedade de Oftalmologia de Pernambuco Presidente: Dr. Paulo Josse Suassuna de Medeiros Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Norte Presidente: Dr. Uchoandro Bezerra Costa Uchôa Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Sul Presidente: Dr. Afonso Reichel Pereira Sociedade Brasileira de Ecografia em Oftalmologia Presidente: Dr. Celso Klejnberg Sociedade Paraibana de Oftalmologia Presidente: Dr. Ivandemberg Velloso Meira Lima Sociedade de Oftalmologia do Amazonas Presidente: Dr. Manuel Neuzimar Pinheiro Junior Sociedade Paraense de Oftalmologia Presidente: Dr. Ofir Dias Vieira Sociedade Capixaba de Oftalmologia Presidente: Dr. Konstantin Márcio Gonçalves Sociedade Sergipana de Oftalmologia Presidente: Dr. Joel Carvalhal Borges 161 Revista Brasileira de ISSN 0034-7280 Oftalmologia PUBLICAÇÃO OFICIAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA Fundada em 01 de junho de 1942 CODEN: RBOFA9 Indexada nas bases de dados: LILACS SciELO Literatura Latino-americana em Ciências da Saúde Scientific Electronic Library OnLine Disponível eletronicamente no site: www.sboportal.org.br Publicação bimestral Rev Bras Oftalmol, v. 67, n.4, p. 159-206, Jul./Ago. 2008 Sumário - Contents Editorial 163 A ciência Adalmir Morterá Dantas Artigos originais 165 Estudo retrospectivo da utilização do transplante de membrana amniótica em um serviço terciário de Oftalmologia Retrospective study of amniotic membrane transplantation in a terciary ophthalmic health care service Eduardo Conforti de Oliveira, Gabriel Zatti Ramos, Vivian Cristina Costa Afonso, Luciene Barbosa Souza 172 Mudanças no padrão de conduta do transplante de córnea após campanha informativa Education and pattern behavior on corneal donation Manuela Fiorese Benites, Mariana Sponholz Araujo, Ilana Barrichello Torres, Geraldo Fraga Santini Canto, Ricardo Cebrian, Hamilton Moreira 177 Qualidade de vida em pacientes com retinopatia diabética proliferativa Quality of life in patients with proliferative diabetic retinopathy Regina Halfeld Furtado de Mendonça, Karina Franco Zihlmann, Mayara Limeira Freire, Regina Carvalho de Salles Oliveira, Newton Kara José 184 Intravenous sodium fluorescein enhances the visibility of vitreous during vitrectomy surgery for diabetic retinopathy Fluoresceína sódica intravenosa aumenta a visibilidade do vítreo durante a cirurgia de vitrectomia para retinopatia diabética Rubens Camargo Siqueira, Rodrigo Jorge, Fabio Canamary 162 Relato de caso 193 Papilopatia diabética e triamcinolona intravítrea Diabetic papillopathy and intravitreal triamcinolone Eduardo de França Damasceno, Nadyr Antonia Pereira Damasceno, Soraya Alessandra Horowitz, Octavio Moura Brasil do Amaral Filho Artigo de revisão 196 Aspectos oftalmológicos da síndrome da hipertensão intracraniana idiopática (pseudotumor cerebral) Ophthalmic aspects of idiopathic intracranial hypertension syndrome (pseudotumor cerebri) Mário Luiz Ribeiro Monteiro, Frederico Castelo Moura Instruções aos autores 204 Normas para publicação de artigos na RBO EDITORIAL 163 A ciência D eixo deliberadamente à margem a discussão do conceito e da posição da Biologia e da Medicina na classificação das ciências. Seria por si só assunto para uma conferência, tal a complexidade de que se reveste e as controvérsias existentes. Desejo limitar o assunto e focalizar apenas o papel da ciência no mundo contemporâneo e a função social da medicina. A ciência teve origem na Grécia. Foram os gregos os primeiros a iniciarem as práticas científicas. O que existia antes era, sem dúvida, conhecimento de um número limitado de fatos, uma concepção sensorial do mundo, uma coordenação de ações, destinadas à procura dos elementos necessários à vida humana. Os conhecimentos assumiam, em regra, o aspecto de misticismo e constituíam privilégio de alguns grupos. Havia, antes, sacerdócio ou misticismo, e não propriamente ciência. Três ou quatro milênios mais tarde “os gregos romperam subitamente os muros da prisão do segredo e do tradicionalismo e proclamaram a liberdade da investigação intelectual”. Era, no entanto, uma ciência puramente especulativa, sem objetivos imediatos e somente tomou os aspectos da ciência moderna quando o espírito prático dos romanos infiltrou-se no espírito intelectual especulativo dos gregos. O homem começou a compreender suas possibilidades no domínio da natureza, na interpretação dos fenômenos naturais e na organização de leis e instalações de condições que lhes facilitassem a vida e lhes assegurassem melhores prerrogativas na hierarquia dos seres. A evolução e as transformações passaram a ser feitas com rapidez, o que foi reduzindo o tradicionalismo místico e ampliando a concepção objetiva dos fenômenos. Os conhecimentos e os resultados das pesquisas científicas começaram a proporcionar mudanças tão rápidas, verdadeiros avanços na evolução, que os mais esclarecidos e de melhor visão se impressionaram. A burguesia, à medida que foi evoluindo e conquistando posição política mais ou menos definida, começou a estimular a ciência, a ampará-la, com o objetivo de lutar contra o Estado feudal, destruindo as forças que lhe davam apoio. Desde então, teve início o prestígio da ciência e o seu desenvolvimento foi tomando vulto a cada dia, e assim favorecendo grandemente a burguesia e o capitalismo, na sua marcha política para a conquista do poder. Deu-lhes, de fato, a vitória. Começou, então, a organização das sociedades científicas, patrocinadas e favorecidas pelas grandes empresas a núcleos industriais. Um dos principais marcos desta transformação foi a instalação da Royal Society, na Inglaterra, em 1645. Surgiram várias academias de ciências, em diversas partes do mundo. Foi inaugurado o sistema de remunerar determinadas pessoas, com o objetivo único de se dedicarem à investigação científica. Tal prática foi se espalhando em toda a Europa e nos Estados Unidos. No século XIX, o fenômeno assumiu tais proporções que, na Europa, a primeira condição para alguém ser professor universitário era dedicar-se de maneira sistemática à investigação científica. A evolução continuou e, à medida que as técnicas de investigação iam se tornando mais apuradas e o acervo de conhecimentos ia tomando maiores proporções, foi se operando uma transformação rápida no mundo, às vezes desconcertante, criando situações difíceis e embaraçosas. Neste ciclo, apareceram os grandes vultos da humanidade que com seus estudos continuados, pesquisas absorventes, consumindo suas vidas, renunciando aos prazeres do mundo, proporcionaram ao homem os elementos para melhores condições de existência e para a luta árdua contra a natureza. Estabelecia-se, assim, uma correlação estreita entre a ciência pura e ciência aplicada. Aliás, quase sempre elas se confundem, sendo difícil estabelecer os seus verdadeiros limites. A ciência pura, meramente especulativa, merece este conceito pela falta de imediatismo dos seus propósitos e pelo seu aparente desinteresse, enquanto que a aplicada se exerce com objetivos predeterminados. Mas, em última análise, a ciência tem caráter finalista, evidente, às vezes, oculto, outras, desde que se propõe ao controle e domínio da natureza, em favor do bem-estar e da felicidade do homem. A história da ciência apresenta numerosos e indiscutíveis exemplos desta estreita correlação. Os resultados da ciência nem sempre são imediatos. São de Ramon y Cajal as seguintes palavras: “Cultivemos a ciência por si mesma, sem considerar, no momento, as aplicações. Estas chegam sempre. Às vezes, demoram muito, às vezes anos, às vezes séculos.” Com o desenvolvimento científico e o progresso técnico dele decorrente, a evolução da humanidade começou a se fazer em ritmo mais acelerado e surgiram problemas de grande complexidade para os agrupamentos humanos. Os resultados das pesquisas científicas não tiveram aplicação em todos os recantos do mundo e os que tinham sob suas mãos o controle político administrativo não tardaram em se aproveitar do trabalho exaustivo e Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 163-4 164 A ciência contínuo, realizado em poeirentos laboratórios, por grupos de idealistas, dominados pela idéia fixa de servir à humanidade. Houve, porém, uma verdadeira dissociação entre a política e a ciência e isto constituiu a principal causa do desequilíbrio que se estabeleceu no mundo. Os políticos não quiseram perder a oportunidade de tirar o melhor proveito material possível e os cientistas não tiveram a habilidade, a malícia, nem dispuseram de tempo suficiente para o estabelecimento de diretrizes que resultassem em benefício da vida humana. Surgiram os grandes centros científicos e culturais e as universidades. A Física, a Química, a Matemática e as ciências aplicadas se transformaram em chave do progresso, cimentaram a evolução e proporcionaram ao homem magníficos elementos para adaptação da natureza ao seu bem-estar. Disse Cannon: “Em cem anos, os pesquisadores têm transformado o mundo civilizado. O progresso do conhecimento nos tempos modernos é, sobretudo, um progresso do conhecimento da ciência e da técnica científica. Os pesquisadores de Física, Química e das Ciências Médicas, têm trazido tais contribuições, que os antepassados dos que vivem atualmente considerariam descobertas científicas miraculosas”. Outro grande pensador, Julian Huxley, diz: “Pode-se dizer que a ciência e os seus resultados são a base da nossa civilização, como os postes de aço num edifício moderno. Eliminais os resultados da ciência e nossa civilização desmoronará como um edifício ruirá sem sua armadura.” A medicina, que é a aplicação de um conjunto de ciências, teve de acompanhar a evolução e deixou de ser individual para tornar-se coletiva. O médico durante toda a evolução científica teve sempre grandes e pesadas responsabilidades, e desempenhou função social de grande relevo através das manifestações de caridade no exercício da profissão médica. Pagou, porém, pesados tributos. Com a evolução científica geral, marchou a medicina, que passou a desempenhar a cada dia função das mais importantes nas sociedades. Na própria guerra, o seu papel foi dos mais relevantes. O Brasil, “este vasto hospital”, esta imensa repartição pública desorganizada, esta sociedade em plena crise, precisa mais do que nunca, da ciência das Universidades e da cultura, na sua mais ampla expressão. Dr. Adalmir Morterá Dantas Livre-Docente, Professor Titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 163-4 ARTIGO ORIGINAL 165 Estudo retrospectivo da utilização do transplante de membrana amniótica em um serviço terciário de Oftalmologia Retrospective study of amniotic membrane transplantation in a terciary ophthalmic health care service Eduardo Conforti de Oliveira1, Gabriel Zatti Ramos2, Vivian Cristina Costa Afonso2, Luciene Barbosa Souza3 RESUMO Objetivo:Nos últimos anos , o transplante de membrana amniótica (MA) tem sido utilizado com freqüência na reconstrução da superfície ocular em diversas doenças oculares. Este estudo objetiva identificar as indicações mais freqüentes do transplante de MA, assim como avaliar os resultados deste procedimento. Métodos: Foram analisados retrospectivamente os prontuários de 107 pacientes submetidos ao transplante de MA, avaliando a indicação do transplante de MA e a evolução do quadro no período pósoperatório. Resultados: Dos 107 pacientes estudados, as indicações de MA mais freqüentes foram exérese de pterígio 33.64%(n=36), defeito epitelial persistente 29.90%(n=32), liberação de simbléfaro 18.69%(n=20), queimadura química 6.54%(n=7), cérato-conjuntivite primaveril 4.67%(n=5), síndrome de Stevens-Johnson 2.80%(n=3), penfigóide ocular cicatricial 1.86%(n=2), ceratopatia bolhosa 1.86%(n=2). No seguimento dos pacientes houve recidiva do pterígio em (6.25%) nos pterígios primários e em (15%) nos pterígios recidivados. Não houve recidiva nos pacientes com simbléfaro, tendo como causa pterígio recidivado. Houve fechamento do epitélio com o uso de MA nos pacientes do estudo variando de 50 a 80%, dependendo da doença de base. Na fase aguda da queimadura química houve fechamento epitelial em 50% dos casos. Já nos que utilizaram MA na fase crônica da queimadura a restauração da superfície ocular ocorreu em 33% dos casos. Uso da MA na cérato-conjuntitivite primaveril com papilas gigantes, 80% não apresentaram recidiva das papilas.Todos os pacientes que tiveram indicação de MA, devido à ceratopatia bolhosa apresentaram diminuição da dor . Os pacientes que tiveram como causa da utilização de membrana a Síndrome de Stevens-Johnson (SSJ) na fase aguda apresentaram diminuição importante do processo inflamatório . Dos pacientes que receberam enxerto de MA na fase crônica da SSJ, 50% apresentaram evolução favorável. Conclusão: O enxerto de membrana amniótica nas diferentes doenças avaliadas apresentou resultados favoráveis na maioria delas. Esta técnica pode ser considerada como boa alternativa terapêutica a ser empregada nestas situações, além de ser um método barato e de fácil execução cirúrgica. Descritores: Âmnio/transplante; Procedimentos cirúrgicos reconstrutivos/tendências; Transplante de tecidos ; Oftalmopatias/cirurgia ; Doenças da túnica conjuntiva/cirurgia; Doenças da córnea/cirurgia; Estudos retrospectivos 1 Médico assistente do Hospital Oftalmológico de Sorocaba – HOS - Sorocaba (SP),Brasil; Estagiários do Departamento de Retina do Hospital Oftalmológico de Sorocaba - HOS - Sorocaba (SP), Brasil; 3 Coordenadora do Serviço de Residência Médica do Hospital Oftalmológico de Sorocaba - HOS - Sorocaba (SP), Brasil; Professora do Programa de Pós-Graduação em Oftalmologia da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP - São Paulo (SP), Brasil. 2 Este trabalho foi realizado no Serviço de Oftalmologia do Hospital Oftalmológico de Sorocaba – Sorocaba (SP), Brasil. Recebido para publicação em: 24/8/2007 - Aceito para publicação em 10/7/2008 Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 165-71 166 Oliveira EC, Ramos GZ, Afonso VCC, Souza LB INTRODUÇÃO N os últimos anos, o transplante de membrana amniótica (MA) tem sido utilizado com freqüência na reconstrução da superfície ocular em doenças cicatriciais da córnea e conjuntiva como queimaduras químicas, penfigóide ocular cicatricial, (1-3) eritema multiforme, dentre outras . A membrana amniótica promove cicatrização nos defeitos epiteliais persistentes por facilitar a adesão e migração de células epiteliais basais, além de prevenir a apoptose celular e restaurar o fenótipo epitelial (4),também tem ação angiogênica, cicatricial, (1,4,6) antinflamatória e antimicrobiana . A MA tem sido usada para tratamento de diversas doenças como: úlcera de perna, perda de pele, síndrome de Stevens-Jhonson, cirurgias pélvicas e vaginais, queimaduras de pele e cicatrizes cirúrgicas (7). Seu primeiro uso em oftalmologia foi em 1940 para (7) tratamento de defeito conjuntival . Recentemente tem sido utilizado também para tratamento de doenças cicatriciais da conjuntiva, queimaduras químicas e de(7) feitos epiteliais persistentes . Ela possui diversas propriedades incluindo efeitos antiadesivos, antibacterianos, proteção de lesões, redução da dor e facilitador de epitelização (7,8). A MA é composta principalmente por uma camada espessa de colágeno, membrana basal de laminina e colágeno tipo IV. É considerada imunologicamente inerte por não expressar antígenos de histocompatibilidade (HLA-A,B ou DR), conse(7) qüentemente não induzindo rejeição imunológica . A MA, especialmente o epitélio, também produz vários fatores de crescimento, incluindo fator de crescimento basal de fibroblasto, fator de crescimento de hepatócito e fator de crescimento de transformação beta. Esses fatores de crescimento podem modular a proliferação (7) e diferenciação de células corneanas e conjuntivais . Este estudo tem como objetivo analisar as indicações mais freqüentes do transplante de MA em um serviço de referência em oftalmologia, bem como avaliar os resultados deste procedimento. MÉTODOS Foram analisados retrospectivamente os prontuários de 107 pacientes submetidos a transplante de MA no Hospital Oftalmológico de Sorocaba, no período de janeiro de 2005 a janeiro de 2007. A membrana Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 165-71 amniótica foi obtida de placentas provenientes de cesáreas eletivas de pacientes da Santa Casa de Sorocaba.Todas essas pacientes tinham exames sorológicos negativos para HIV, Hepatite B, Hepatite C e Sífilis, reconfirmados pela sorologia do sangue do cordão umbilical depois do parto. A MA foi obtida no centro cirúrgico obstétrico; e procedeu-se sua lavagem com soro fisiológico 0.9% em ambiente estéril e a seguir à lavagem com solução tampão fosfato. Realizada a adequada preparação , MA foi estendida sobre papel de filtro de nitrocelulose estéril , com a face epitelial para cima. A MA aderida ao filtro 2 foi cortada em fragmentos que variaram de 2 a 4 cm , colocada em um recipiente estéril contendo glicerol e meio de preservação de córnea TC-199 na proporção 1:1. Posteriormente era congelada a –80°C, seguida de refrigeração a 4° C. O tempo máximo de utilização das membranas foi de 2 meses de congelamento.. As cirurgias foram realizadas pela mesma equipe, sendo a membrana fixada com fio nylon 10-0 em pontos separados e utilizada com a face epitelial para baixo somente nas queimaduras agudas; nas demais indicações a membrana foi fixada com sua face epitelial para cima. Para tratamento de Defeito Epitelial Persistente, tendo como causa queimadura química, foi realizado transplante de células limbares juntamente com o enxerto de membrana amniótica, nas demais causas foi realizado apenas o enxerto de MA. No pós-operatório foi realizado acompanhamento de acordo com o grupo a ser estudado.Nos grupos, (exérese de pterígio , liberação de simbléfaro e Síndrome de Stevens Johnson) os pacientes foram acompanhados nos primeiro, sétimo,trigésimo dias, 3 e 6 meses, 1 ano, 1,5 anos de cirurgia, nos grupos (Defeito epitelial persistente, Queimadura química, Cerato-conjuntivite primaveril ) foram avaliados no primeiro, sétimo,décimo quinto e trigésimo dias e 1,5, 3 e 6 meses e 1 ano de cirurgia, no grupo de ceratopatia bolhosa os pacientes foram acompanhados no primeiro,sétimo,trigésimo dias e terceiro mês de cirurgia. Avaliou-se também neste estudo, dados dos prontuários referentes às doenças que originaram a indicação do transplante de membrana amniótica e a evolução do quadro no pós-operatório. RESULTADOS Dos 107 pacientes nos quais foi feito uso de membrana amniótica, encontramos as seguintes indicações Estudo retrospectivo da utilização do transplante de membrana amniótica em um serviço terciário de Oftalmologia em ordem de freqüência: exérese de pterígio 33.64%(n=36), defeito epitelial persistente (DEP) 29.90%(n=32), liberação de simbléfaro 18.69%(n=20) , queimadura química 6.54%(n=7) , cérato-conjuntivite primaveril 4.67%(n=5), síndrome de Stevens-Johnson 2.80%(n=3), penfigóide ocular cicatricial 1.86%(n=2) e ceratopatia bolhosa 1.86%(n=2) (Gráfico 1). Do grupo de pacientes nos quais se utilizou MA isoladamente (exérese de pterígio), 44,44% (n=16) eram pterígios primários e 55,56%(n=20) pterígios recidivados . Esses pacientes foram avaliados em um ano e meio e foi observado recidiva do pterígio em 6.25%(n=1/16) dos casos em exérese de pterígios primários. Recidiva de 15%(n=3/20) nos casos pósexérese dos pterígios recidivados foi encontrada. No grupo de pacientes no qual foi feito uso de MA por DEP (n=32), as principais causas desta doença, em ordem de frequência foram: pós-cirurgia de transplante de córnea 31.25% (n=10), pós-ceratite herpética 21.80% (n=7), retransplante córnea pós-transplante tectônico 18.75% (n=6), pós-queimadura química 15.62% (n=5), pós-ceratite bacteriana 6.25%(n=2) e por artrite reumatóide 6.25% (n=2). Esses pacientes foram acompanhados 1º, 7º, 15º, 30º e 45 dias , 3º e 6º meses de enxerto da MA, observando-se o fechamento do epitélio, com a reabsorção da MA nos pacientes que utilizaram MA em: 80% (n=4/5) pós-queimadura química, 70% (n=7/10) pós-transplante de córnea, 57.14% (n=4/7), pós-ceratite herpética, 50%(n=1/2), pósceratite bacteriana, 50% (n=3/6) pós-retransplante, pós-transplante tectônico, 50% (n=1/2 )por artrite reumatóide. Os pacientes que utilizaram membrana amniótica pós-liberação de simbléfaro (n=20) tiveram como etiologia deste sinal: pós-queimadura química 60% (n=12), pterígio recidivado 30% (n=6), síndrome Stevens-Johnson (seqüela) 10% (n=2) , esses pacientes foram reavaliados um ano e meio da cirurgia de enxerto de MA apresentando recidiva do simbléfaro em: 16.6% (n=2/12) pós-queimadura química, 50%(n=1/2) na Síndrome de Stevens-Johnson. Não foi observada recidiva do simbléfaro nos pacientes que tiveram como indicação de uso da MA pósliberação de simbléfaro tendo como causa pterígio recidivado. Nos pacientes que utilizaram enxerto de MA devido à queimadura química(n=7), 57.14% (n=4) utilizaram membrana na fase aguda da queimadura e 42.85% (n=3) utilizaram na fase crônica para promo- 167 Gráfico 1 Principais indicações do uso da membrana amniótica ver reconstrução da superfície ocular (nestes foi necessário usar conjuntamente enxerto de limbo do olho contralateral, pois apresentavam insuficiência limbar). Os pacientes que utilizaram a MA na fase aguda foram acompanhados 1º, 07º, 15º, 30º e 45 dias 3ºe 6º mês da cirurgia apresentando fechamento epitelial em 50% dos casos. Já os que utilizaram MA na fase crônica foram acompanhados até um ano da cirurgia apresentando restauração da superfície ocular em 33%(n=1/ 3) dos casos. O grupo de pacientes que utilizaram membrana amniótica, tendo como causa da indicação cératoconjuntitivite primaveril (n=5), eram pacientes crônicos que apresentavam papilas gigantes na conjuntiva tarsal superior não responsivas ao tratamento clínico e com repercussões corneais. Nesses casos, foi realizado a exérese das papilas com lâmina 15.0 e implante da membrana amniótica na conjuntiva tarsal superior com face estromal da membrana voltada para conjuntiva tarsal. Esses pacientes foram acompanhados 01º,07º, 15º , 30º e 45º dias e nos , 3º e 6° meses e 1 ano de cirurgia, com 80%(n=4) não apresentando recidiva das papilas e 20%(n=1) apresentaram recidiva das papilas. Dos pacientes que tiveram como causa da utilização de membrana a Síndrome de StevensJohnson,(n=3) esta foi utilizada na fase aguda em 33,33% (n=1) e na fase crônica em 66,66% (n=2). O Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 165-71 168 Oliveira EC, Ramos GZ, Afonso VCC, Souza LB paciente que recebeu enxerto de membrana amniótica na fase aguda foi acompanhado nos dias 07, 15 e 45 dias do período pós-operatório e apresentou diminuição importante do processo inflamatório ativo. Já os pacientes que receberam enxerto de membrana amniótica na fase crônica foram acompanhados 15, 30 dias, 3º e 6º meses e 1 ano da intervenção, sendo que 50% (n=1) destes casos apresentaram reatividade do processo inflamatório ativo trinta dias pós-enxerto e 50% (n=1) apresentaram evolução favorável para futuras cirurgias de restauração ocular, sem recidiva do simbléfaro. Os pacientes que tiveram indicação de MA devido à ceratopatia bolhosa (n=2) foram acompanhados 01º, 07º, 30 dias e 3 meses, demonstrando diminuição da dor em 100% das vezes. Os pacientes com penfigóide ocular cicatricial perderam o seguimento em nosso serviço. DISCUSSÃO O uso de membrana amniótica e suas características O transplante de MA pode ser considerado uma alternativa para diversas situações, mostrando-se um excelente substrato para reconstrução da superfície conjuntival e também em algumas afecções (9) corneanas . Nos casos de queimadura química em que há comprometimento severo da região limbar ou posteriormente ocorre a formação de simbléfaro, o uso da MA tem apresentado bons resultados quando utilizado como (9) substrato para reconstrução da região alterada . Nas queimaduras químicas na fase aguda pode-se utilizar a MA como lente de contato utilizando seu epitélio para baixo objetivando-se efeito antiinflamatório, promover rápida epitelização, diminuição da dor e prevenção para o desenvolvimento de seqüelas a longo prazo10. Pode ser utilizada também na fase crônica na reconstrução da superfície ocular (9-11). Em pequenas queimaduras o enxerto de membrana amniótica rapidamente restaura as superfícies corneana e conjuntival, e em queimaduras severas há certa restauração da superfície ocular conjuntival, com debilitação da formação de simbléfaro e redução da inflamação estromal e limbar, porém não previne defi(10) ciência das células germinativas limbares . O uso de membrana amniótica como terapêutica isolada não é suficiente para promover a cura corneana na ausência (12) de células germinativas limbares . Os resultados da Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 165-71 atual pesquisa não foram tão satisfatórios quanto os (13) apresentados por Shimazaki et al. que apresentou altíssima incidência da restauração epitelial em seus pacientes que foram submetidos a enxerto de membrana amniótica pós-queimadura química ou térmica. Na presente pesquisa, observou-se ótimos resultados do enxerto de membrana amniótica nos pacientes com ceratoconjuntivite primaveril, 80% não apresentaram recidiva das papilas e nos 20% restantes apesar da recidiva papilar encontrada, esta era muito mais branda que o quadro clínico anterior e não traziam repercussão corneana. (14) Tseng et al. sugerem o uso de membrana amniótica para reconstrução da superfície conjuntival, estando seu índice de sucesso relacionado com a quantidade de tecido conjuntival sadio remanescente, e extensão corneana sem deficiência de células germinativas limbares. O uso de membrana amniótica pode ser considerado uma boa alternativa no tratamento cirúrgico de pterígio, especialmente nos pterígios primários porque sua taxa de recorrência é significativamente menor se comparado com aproximação conjuntival direta(15) e transplante conjuntival. Também, o uso da MA pode ser indicado para os casos em que há envolvimento conjuntival difuso (pterígio nasal e temporal), e naqueles casos onde se deseja preservar a conjuntiva bulbar para uma futura cirurgia filtrante de glaucoma(15). Em (16) estudo realizado por Ma et al. observou-se a eficácia e a segurança do enxerto de MA, como terapia adjuvante após a remoção de pterígio primário, comparado com enxerto conjuntival e instilação de mitomicina tópica; foi observado que não houve diferença significante na taxa de recorrência do pterígio entre os 3 grupos estudados. Os resultados do atual trabalho quanto à utilização de membrana amniótica pós-liberação de simbléfaro, tendo como causa do simbléfaro pterígio recidivado, assemelham-se aos (7) descritos por Shimazaki et al. não observando-se recidiva do simbléfaro no seguimento, porém em seu estudo foi utilizado limbo autólogo juntamente com a membrana amniótica e nós apenas utilizamos o enxerto de membrana. A MA também pode ser utilizada no tratamento de defeitos epiteliais persistentes, especialmente nos casos refratários ao tratamento convencional em que há comprometimento mais severo das células limbares, onde geralmente é necessário transplante de células limbares .O uso da membrana amniótica aumenta a Estudo retrospectivo da utilização do transplante de membrana amniótica em um serviço terciário de Oftalmologia taxa de sucesso do tratamento pois ajuda na reconstrução do estroma perilimbal e reduz a inflamação e vascularização no local (14). Ela possui uma membrana basal espessa e matriz estromal avascular, a membrana basal facilita a migração, adesão e diferenciação das células epiteliais basais sendo também importante para prevenir a apoptose epitelial. Essas ações explicam porque a membrana amniótica efetivamente (17) permite a rápida epitelização corneana . Além disso, a membrana basal da membrana amniótica funciona como substrato para o crescimento das células epiteliais germinativas, prolongando seu período de vida e mantendo sua capacidade de produzir colônias (clonogenicidade), explicando o mecanismo de expansão das células germinativas do limbo e células amplificadoras transitórias da córnea durante o tratamento da deficiência límbica parcial(11-14). (18) Chen et al. utilizou transplante de MA para tratamento de úlcera neurotrófica grave e foi observado em seu estudo cicatrização da úlcera em 76.4% (n=13/17) em 16.6 dias pós-enxerto de MA. Nessa atual pesquisa, foi observado fechamento do epitélio corneano pós-enxerto de MA para tratamento de DEP em: 80%(n=4/5) dos casos pós-queimadura química, 70% (n=7/10) pós-transplante de córnea, 57.14% (n=4/7) pós-ceratite herpética, 50% (n=1/2) pósceratite bacteriana, 50%(n=3/6)) pós-retransplante de córnea pós-transplante tectônico e 50% (n=1/2) pósartrite reumatóide . O penfigóide ocular cicatricial e a síndrome de Stevens-Johnson são doenças auto-imunes, caracterizadas por inflamação crônica recorrente, podendo causar conjuntivite cicatricial, olho seco severo, disfunção de células germinativas conjuntivais corneanas, rejeição de transplante de córnea, meibomite e triquíase severas. A utilização de membrana amniótica é importante na reconstrução da superfície ocular tanto como novo substrato para conjuntiva bulbar, como também para procedimento inicial antes da realização de transplante de limbo1. Na síndrome de Stevens-Johnson pode-se usar membrana amniótica durante a fase aguda da doença quando há risco de perfuração, realizando-se um recobrimento corneano e também na fase crônica da doença tentando-se promover membrana basal(1). Podese também com seu uso conseguir uma boa restauração da superfície bulbar e boa profundidade do fórnice e prevenir a recorrência de simbléfaro em caso severos (19).É necessário lembrar que as defesas da superfície ocular sejam restauradas prévia ou simultanea- 169 mente a reconstrução da superfície ocular pelo enxerto de MA com ou sem transplante de células (11) germinativas do limbo .Incluem nessas medidas a oclusão do ponto lacrimal ou o uso de soro autólogo (1) para deficiência lacrimal severa , correção plástica da margem palpebral quando necessário e problemas envolvendo cílios, tarsorrafia para evitar exposição ocular e outros. No presente estudo, observou-se recidiva de simbléfaro em 50% dos pacientes que utilizaram membrana amniótica pós-liberação do simbléfaro na fase crônica da síndrome de S. Johnson diferindo do (19) estudo apresentado por Honavar et al. onde não foi observado recidiva de simbléfaro no seguimento de seus pacientes. Em pacientes com ceratopatia bolhosa o recobrimento corneano com membrana amniótica é uma opção para alivio da dor. O efeito benéfico da membrana amniótica na ceratopatia bolhosa pode ser atribuído a adesão de um novo substrato composto pala membrana basal e matriz estromal avascular da membrana amniótica, além disso apresenta propriedades estimuladoras de epitelização e moduladoras de pro(20) cessos cicatriciais e inflamatórios . Resultados obtidos em estudo realizado pela Unifesp-EPM (21) asseme(20) lham-se aos descritos por Pires et al. , onde observouse ausência de dor em 90% dos pacientes com ceratopatia bolhosa submetidos a esse procedimento. Na presente casuística, limitou-se apenas a 02 pacientes submetidos a esse procedimento com diminuição da dor em 100% deles. Seu efeito é temporário, pois ela é reabsorvida em aproximadamente duas semanas (7) . Porém, apesar da reabsorção precoce da membrana, observou-se seu efeito “analgésico” até o término do seguimento. CONCLUSÕES As indicações mais freqüentes de transplante de MA no serviço de referência em oftalmologia do Hospital Oftalmológico de Sorocaba foram: exérese de pterígio, defeito epitelial persistente e liberação de simbléfaro. Os melhores resultados obtidos com o transplante da MA foram a redução da dor em 100% dos casos de ceratopatia bolhosa, ausência de recidiva de simbléfaro nos pacientes que tiveram como causa base o pterígio recidivado, ausência de recidiva de papilas na conjuntiva tarsal superior em 80% dos pacientes com ceratoconjuntivite primaveril, fechamento Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 165-71 170 Oliveira EC, Ramos GZ, Afonso VCC, Souza LB epitelial em 80% dos pacientes que apresentavam defeito epitelial pós-queimadura química. O enxerto de membrana amniótica nas diferentes doenças avaliadas apresentou resultados favoráveis na maioria delas. Esta técnica pode ser considerada uma boa alternativa terapêutica a ser empregada nestas situações, além de ser um método barato e de fácil execução cirúrgica. Contudo, novos estudos com maior número de pacientes em cada grupo estudado são necessários para elucidar melhor a importância da MA no tratamento das diferentes doenças oculares. Keywords: Amnio/transplantation; Reconstructive surgical procedures /trends; Tissue transplantation ; Eye diseases/surgery; Conjunctival diseases/surgery; Corneal diseases/surgery; Retrospective studies REFERÊNCIAS 1. 2. ABSTRACT 3. Objective: During the last years amniotic membrane (AM) autograft has been frequently used for reconstruction of the ocular surface in many diseases. This study intends to analyze the major indications for AM as well the results of this procedure. Methods: Data of 107 patients who had done AM autograft surgery were retrospectively analised regarding the indications and postoperatory follow-up. Results: The indications for AM autograft was ptherygium 33.64% (n=36), persistent epithelial defect 29.90% (n=32), simblepharum 18.69% (n=20), chemical injury 6.54%(n=7), vernal conjunctivitis 4.67% (n=5), StevensJohnson 2.80% (n=3), ocular cicatricial penfigoid 1.86% (n=2), bullous keratopathy 1.86%(n=2). At the followup of ptherygium was observed recurrence between 6,25%(in primary ptherygium) and 15% (in recurrence ptherygium). No recurrence was observed in simblepharum surgery for complications due ptherygium. Recovery of epithelial integrity was between 50 and 80% depending the disease. In the acute phase of chemical burns recovery was observed in 50%, however in chronic chemical burns the recovery was only in 33% of the cases. The AM in vernal conjunctivitis to resolve giant papillae, 80% of the cases showed good evolution. In 100% of the case due bullous keratopathy the patients had improvement of the pain. In Steven-Johnsons syndrome (SJS) at the acute phase the patients had improevment of the inflammatory component. In the chronic phase of SJS, 50% of the patients had favorable evolution after the procedure. Conclusion: Amniotic membrane autograft showed promising results for the majority ocular surface diseases enrroled in this study. This surgical tecnic cheap and easy doing asweel a good therapeutic alternative for many ocular surface diseases. Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 165-71 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. Tsubota K, Satake Y, Ohyama M, Toda I, Takano Y, Ono M, et al. Surgical reconstruction of the ocular surface in advanced ocular cicatricial pemphigoid and Stevens-Johnson syndrome.Am J Ophthalmol 1996;122(1):38-52. Gomes JAP, Komagome CM, Santos N, Cunha MC, Freitas D. Membrana amniótica nas cirurgias reconstrutivas da superfície ocular nas ceratoconjutivites cicatriciais. Arq Bras Oftalmol 1999; 62(5):562-76. Gomes JAP. Atualização no tratamento das ceratoconjutivites cicatriciais . Arq Bras Oftalmol. 2000;63(1):91-6. Kim JC, Tseng, SC. Transplantation of preserved human amniotic membrane for surface reconstruction in severely damaged rabbit corneas . Cornea 1995 ;14(5):473-84. Colocho G, Graham WP 3rd, Greene AE, Matheson DW, Lynch D. Human amniotic membrane as a physiologic wound dressing. Arch Surg 1974;109(3):370-3. Talmi YP, Sigler L, Inge E, Finkelstein Y, Zohar Y. Antibacterial properties of human amniotic membranes. Placenta 1991;12(3):285-8. Shimazaki J, Shinozaki N, Tsubota K. Transplantation of amniotic membrane and limbal autograft for patients with recurrent pterygium associated with symblepharon. Br J Ophthalmol 1998;82(3):235-40. Trelford JD, Trelford-Sauder M. The amnion in surgery, past and present. Am J Obstet Gynecol 1979;134(7)-833-45. Tseng SC , Prabhasawat P, Lee SH .Amniotic membrane transplantation for conjunctival surface reconstruction. Am.J.Ophthalmol. 1997;124(6):765-74. 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Amniotic membrane transplantation with or without limbal allografts for corneal surface reconstruction in patients with limbal stem cell deficiency. Arch Ophthalmol 1998;116(4):431-41. Estudo retrospectivo da utilização do transplante de membrana amniótica em um serviço terciário de Oftalmologia 15. Prabhasawat P, Barton K, Burkett G, Tseng SC. Comparison of conjunctival autografts ,amniotic membrane grafts and primary closure for pterygium excision.Ophthalmology 1997;104(6):974-85. 16. Ma DH, See LC, Liau SB, Tsai RJ. Amniotic membrane graft for primary pterygium :comparison with conjunctival autograft and topical mitomycin C treatment. Br J Ophthalmol 2000;84(9):973-8. 17. Lee SH, Tseng SC. Amniotic membrane transplantation for persistent ephithelial defects with ulceration. Am J Ophthalmol 1997;123(3): 303-12. 18. Chen HJ , Pires RT, Tseng SC. Amniotic membrane transplantation for severe neurotrophic corneal ulcers . Br J Ophthalmol 2000,84(8):826-33. 19. 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Pinheiro Machado, 1283 CEP 18705-370 – Avaré – SP Tel: (15) 8114-9120/(14) 3732.1151 ou HOSBOS Tel: (15) 3212-7000 (Centro de Estudos) E-mail : [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 165-71 ARTIGO ORIGINAL 172 Mudanças no padrão de conduta do transplante de córnea após campanha informativa Education and pattern behavior on corneal donation Manuela Fiorese Benites1, Mariana Sponholz Araujo2, Ilana Barrichello Torres2, Geraldo Fraga Santini Canto 3, 4 5 Ricardo Cebrian , Hamilton Moreira RESUMO Objetivo: Confrontar informações obtidas sobre doação de córneas através de questionários aplicados antes e após a realização de um ciclo de palestras informativas aos profissionais da área de saúde. Verificar o grau de conhecimento destes profissionais de hospital universitário em relação a informações básicas sobre o transplante de córnea. Documentar a reação pessoal destas pessoas frente ao procedimento. Métodos: Foi realizada uma campanha através de aulas com material audio visual específico trazendo informações detalhadas sobre o processo de doação e transplante de córneas. Estas palestras foram direcionadas a 115 profissionais da área de saúde: 46 médicos e 69 acadêmicos de medicina. Para a avaliação foi elaborado um questionário, aplicado antes e depois das aulas com intervalo de 1 mês, composto de 7 perguntas referentes ao procedimento do transplante em si, e 3 perguntas direcionadas à posição pessoal do médico em relação à doação de córneas. Resultados: Inicialmente obteve-se 61,72% de acertos nas perguntas objetivas, aumentando para 77,70% após o acesso às palestras. Nas perguntas subjetivas a porcentagem de profissionais que doariam suas córneas foi 91,5%, subindo para 93% após as aulas. De forma semelhante o número que autorizaria a doação de córnea de um familiar aumentou de 91,5% para 94,4%. Quando questionados se já haviam abordado uma família espontâneamente e solicitado o procedimento de doação de córneas a resposta foi positiva em 4,8% dos profissionais avaliados, e esta porcentagem subiu apenas para 5,5% após a realização das palestras. Conclusão: O despreparo dos profissionais de saúde em relação aos vários aspectos que concernem o transplante de córneas é nítido. Iniciativas isoladas como palestras informativas, apesar de necessárias, não são suficientes para mudar esta realidade. Descritores: Transplante de córnea; Doadores de tecidos; Listas de espera; Conhecimentos, atitudes e prática em saúde; Questionários 1 Residente em Oftalmologia do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba - HUEC - Curitiba (PR), Brasil; Acadêmico da Faculdade Evangélica do Paraná - FEPAR - Curitiba (PR), Brasil; Acadêmico da Universidade Positivo - Curitiba (PR), Brasil; 4 Especializando em Oftalmologia do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba - HUEC - Curitiba (PR), Brasil; 5 Professor Adjunto da Universidade Federal do Paraná - UFPR - Curitiba (PR), Brasil; Professor Titular da Faculdade Evangélica do Paraná - FEPAR - Curitiba (PR), Brasil. 2 3 Trabalho foi realizado no Hospital Universitário Evangélico de Curitiba – HUEC – Curitiba (PR), Brasil. Recebido para publicação em: 30/3/2008 - Aceito para publicação em 11/7/2008 Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 172-6 Mudanças no padrão de conduta do transplante de córnea após campanha informativa INTRODUÇÃO U m dos procedimentos cirúrgicos de maior importância na oftalmologia moderna é o transplante de córneas, afinal, a recuperação da capacidade visual de um indivíduo influi diretamente em sua qualidade de vida e capacidade laborativa(1) . Na atualidade, o transplante de córnea é a modalida(2-3) de mais comum de transplante de tecidos . Entretanto, o número de cirurgias desse tipo ainda é pequeno em relação à demanda de pacientes aguardando por este tratamento. A lista de espera para o transplante de córnea em 2006, no Brasil, era de 24.549 córneas, sendo que somente no Paraná esse número ultrapassava 1.459 córneas. Para este mesmo período, o tempo de espera pelo transplante era de aproximadamente 1 ano e seis meses (4). Esta falta de doadores não é real, uma vez que o número de potenciais doadores se apresenta muito maior do que o número de córneas captadas. Segundo estimativa norte-americana, publicada em 1990, dos 20.000 potenciais doadores que vão a óbito por ano apenas 3.000 doaram (5) efetivamente algum órgão . Tal quadro também é constatado no Brasil, onde o problema é ainda mais grave. Essa situação parece ser reflexo da falta de informações tanto (2-6) por parte da população quanto da classe médica . A retirada da córnea só pode ser realizada a partir do momento em que a doação é autorizada pela família do doador cadáver por escrito (7). A doação espontânea depende da lembrança de algum familiar do doador a respeito desta possibilidade. Essa pessoa, então, precisa entrar em contato com os profissionais envolvidos no processo de morte e funeral para que autorize a doação e sejam realizados os procedimentos legais. Estas pessoas devem estar bem orientadas e preparadas para corresponder adequadamente à esta demanda. De outra forma, há a abordagem pró-ativa, na qual um profissional capacitado entra em contato com o familiar que quer realizar a doação para que esta seja efetivada. Os objetivos do nosso trabalho são confrontar informações obtidas sobre doação de córneas através de questionários aplicados antes e após a realização de um ciclo de palestras informativas aos profissionais da área de saúde. Verificar o grau de conhecimento destes profissionais de hospital universitário em relação a informações básicas sobre o transplante de córnea. Documentar a reação pessoal destas pessoas frente ao procedimento. MÉTODOS Trata-se de um estudo transversal, com dados obtidos através da aplicação de questionários entre médi- 173 Gráfico 1 Porcentagem de acertos antes e após as palestras Legenda: Clinica = Clínica Médica, Onco = Oncologia, GO = Ginecologia e Obstetrícia cos e estudantes de medicina. Para realizarmos a pesquisa, seis especialidades médicas foram selecionadas levando em conta o volume de pacientes: clínica médica, clínica cirúrgica, ginecologia e obstetrícia, pediatria, ortopedia e oncologia. Foi elaborado um questionário contendo 10 perguntas. A primeira parte era composta de sete perguntas referentes ao procedimento da doação e transplante de córneas tais como: qual o tempo necessário para a retirada de córneas, quais as contra-indicações, etc; e na segunda, através de três perguntas, o enfoque foi direcionado à reação pessoal do médico em relação à doação de córneas (Questionário 1). Este questionário foi distribuído para os grupos e somente após o recolhimento dos mesmos foi realizada a aula informativa padronizada sobre o assunto. Estas aulas foram ministradas durantes o mês de outubro de 2006. Decorrido 1 mês da explanação inicial, reaplicaram-se os questionários para os mesmos setores. Finalmente os dados obtidos antes e após o ciclo de palestras foram analisados, comparados e confrontados com a literatura. RESULTADOS Participaram do estudo 115 profissionais da área de saúde: 46 médicos e 69 acadêmicos de medicina. Nos questionários realizados anteriormente às palestras obtivemos 61,72% de acertos nas perguntas objetivas. Esta porcentagem aumentou para 77,70%, 1 mês após as palestras. Os escores discriminados por especialidade encontram-se no Gráfico 1, assim como a diferença percentual entre as duas etapas do trabalho. Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 172-6 174 Benites MF, Araujo MS, Torres IB, Canto GFS, Cebrian R, Moreira H Questionário 1 FORMAÇÃO: ( ) Médico ( ) Residente ( ) Acadêmico de medicina ( ) Outros IDADE: ESPECIALIDADE: 1. MARQUE COM UM (X) AQUELES QUE NÃO PODEM SER DOADORES DE CÓRNEA? ( ) Pacientes hipertensos e diabéticos ( ) Pacientes com septicemia ( ) Pacientes com icterícia ( ) Paciente com miopia ou astigmatismo ( ) Paciente hepatite B ou HIV. 2. QUAL A IDADE MÍNIMA e MÁXIMA PARA SER DOADOR? A) 16 e 60 anos B) 18 e 55 anos C) 21 anos e 45 anos D) Não há idade mínima nem máxima 3. QUAL TEMPO MÁXIMO ENTRE A MORTE E A RETIRADA DAS CÓRNEAS PARA QUE ESTAS SEJAM VIÁVEIS? A) 2 horas B) 6 horas C) 12 horas D) 24 horas 4. QUANTO TEMPO DURA O PROCEDIMENTO DE RETIRADA DAS CÓRNEAS? A) 15 min B) 30 min C) 1 hora D) 1h30m 5. QUAL O ASPECTO DO DOADOR APÓS A RETIRADA DAS CÓRNEAS? A) Alterado B) Desagradável C) Normal 6. PARA ONDE VAI A CÓRNEA RETIRADA? A) Diretamente para o receptor B) Para um banco de olhos C) Para o hospital onde o paciente faleceu 7. APÓS A AUTORIZAÇÃO, ONDE A CÓRNEA PODE SER RETIRADA? A) Somente no centro cirúrgico ou em ambiente estéril B) No IML C) Na capela D) Na casa do paciente E) Todas estão corretas 8. VOCÊ DOARIA SUAS CÓRNEAS? ( ) Sim ( ) Não 9. VOCÊ AUTORIZARIA A DOAÇÃO DE UM FAMILIAR? ( ) Sim ( ) Não 10. JÁ SOLICITOU ALUGUMA DOAÇÃO? ( ) Sim . Quantas vezes? ( ) Não Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 172-6 Mudanças no padrão de conduta do transplante de córnea após campanha informativa Em relação às perguntas pessoais realizadas na primeira etapa, observamos que de todos os médicos e acadêmicos abordados, 91,5% doariam suas córneas, 91,5% autorizariam a doação da córnea de um familiar e apenas 4,8% já haviam solicitado alguma doação. Já na segunda etapa, o número de doadores de suas próprias córneas aumentou para 93%, a autorização da retirada da córnea de um familiar cresceu para 94,4% e a experiência de solicitar a doação subiu para 5,5%. DISCUSSÃO Os profissionais de saúde são de fundamental importância no aumento do número de doadores de órgãos e tecidos. Segundo Mack et al. a falta de conhecimento dos mesmos a respeito do processo está diretamente relacionada à não procura de doadores, dificultando o contato da família dos potenciais doadores com as centrais de doa(8) ção de órgãos . Esta relação se faz presente, uma vez que, o médico que carece de informações a respeito do tema acaba apresentando receio em abordar a família do possível doador, conforme foi constatado no estudo de (9) Ishay et al. . Da mesma forma, Alves et al. concluiu em seu estudo , que a familiaridade dos médicos em relação à legislação brasileira e aos vários aspectos médicos do (6) transplante de órgãos era insatisfatória . Além disso, em nosso estudo foi constatado um relativo despreparo dos médicos e acadêmicos em relação a todos os aspectos que concernem ao transplante de córnea.As especialidades menos preparadas foram a de Clínica Médica e Clínica Cirurgica, justamente as áreas que possuem mais contato com patologias de alto índice de mortalidade. Este desconhecimento é lamentável, já que um estudo de 1998, realizado por Ferreira et al. na Central de Captação de órgãos da Unicamp, mostrou que o nosso país possui uma das menores taxas mundiais de recusa familiar da doação de órgãos, porém se nenhum profissi(10) onal abordar a família, não haverá a doação . Os acertos aumentaram em todas as especialidades após as aulas, demonstrando que estas foram adequadas para a função de informar. Porém, o aumento na solicitação da doação de córneas foi muito pequeno, o que mostrou que a campanha informativa isoladamente não foi eficaz e que há necessidade de investimentos nesta área. avaliação foi verificada a relativa falta de preparo dos profissionais de saúde em relação à doação e transplante de córneas. De forma semelhante, a reação pessoal destes profissionais foi pouco favorável à doação de suas córneas ou das de seus familiares. Esta realidade evidencia que apesar dos resutados do ciclo de palestras informativas, há necessidade da preparação de equipes especializadas para realizar a abordagem e contato com as famílias de potenciais doadores, para que haja um aumento no número de doações e, conseqüentemente, no número de pacientes beneficiados através deste procedimento. ABSTRACT Objective: To compare obtained data about cornea donation through a questionnaire applied before and after the realization of an expositive lecture given to health professionals.To identify these professional’s knowledge about basic cornea transplant information.To verify their personal reaction towards the procedure.Methods: A campain was performed using specific audio-visual classes about the cornea transplant’s and donation process. These lectures were directed to 115 health professionals: 46 doctors and 69 medical students. For the evaluation a test was created and applied before and after the classes, with a one month break.This test included 10 questions, 7 about cornea transplant’s specific information, and the other 3 were about their donation’s opinion. Results: The questions about the procedure were corrected 61, 72% at the first application and 77, 70% at the second, answered a month later than the first. At the subjective questions the percentage of professionals that would donate their corneas was 91,5%, increasing to 93% after the classes. In a similar way, the number that would authorize a family’s cornea donation changed from 91,5% to 94,4%. When they were asked about previous cornea transplant solicitation, the answer was positive at 4,8% of the tests and increased only to 5,5% after the campain. Conclusion: Doctors and medical students are not prepared to deal with the multiple aspects of the cornea transplant procedure.And although needed, isolated actions as informative campains are not enough to change this reality. Keywords: Corneal transplantation, Tissue donors; Waiting lists; Health Knowledge, attitudes, practice; Questionnaires REFERÊNCIAS CONCLUSÃO O nível de conhecimento sobre o transplante e doação de córneas aumentou em todas as especialidades envolvidas, porém de maneira discreta. Através da 175 1. Arensten JJ. Laibson PR. Surgical management of pseudophakic corneal edema: Complications and visual results following penetrating keratoplasty. Ophthalmic Sug. 1982;13:371-3. Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 172-6 176 2. 3. 4. 5. 6. 7. Benites MF, Araujo MS, Torres IB, Canto GFS, Cebrian R, Moreira H Rodrigues AM, Sato EH. Conhecimento e atitude da população do Hospital São Paulo sobre doação de córneas. Arq Bras Oftalmol. 2002; 65(6):637-40. 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ENDEREÇO PARA CORRESOPONDÊNCIA: Manuela Fiorese Benites Rua Gastão Câmara, 644 – Apto 72 CEP 80730-300 – Curitiba – PR [email protected] 177 ARTIGO ORIGINAL Qualidade de vida em pacientes com retinopatia diabética proliferativa Quality of life in patients with proliferative diabetic retinopathy 1 2 3 Regina Halfeld Furtado de Mendonça , Karina Franco Zihlmann , Mayara Limeira Freire , Regina Carvalho de Salles Oliveira4, Newton Kara José 5 RESUMO Objetivo: Verificar a qualidade de vida dos pacientes portadores de RDP. Métodos: Foram estudados 61 pacientes do Setor de Retina, do Departamento de Oftalmologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, cidade de São Paulo, Brasil, portadores de RDP, maiores de 18 anos. Todos os pacientes foram submetidos a um inventário de qualidade de vida “WHOQOL – Bref – 1998”. Foram classificados dois grupos: Grupo I, com Acuidade Visual (AV) melhor que 20/200 e Grupo II, com AV pior ou igual a 20/200. Resultados: Não foi encontrada diferença estatisticamente significante entre os grupos quanto às pontuações nos domínios: físico (p = 0,255) e psicológico (p = 0,287). Quanto aos domínios social (p = 0,019) e meio ambiente (p = 0,009), houve significância estatística. Conclusão: Os domínios que apresentaram maior significância para o grupo com pior AV (Grupo II) foram o social e o meio ambiente, o que pode demonstrar falta de apoio da sociedade aos pacientes portadores de RDP. Descritores: Diabetes mellitus; Retinopatia diabética; Qualidade de vida 1 Doutora, Médica assistente da Fundação Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP – São Paulo (SP) – Brasil; Professora Convidada da Universidade La Sapienza, Roma – Italia; Doutoranda, Psicóloga da Divisão de Psicologia do Instituto Central do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP – São Paulo (SP) – Brasil; 3 Psicóloga, estagiária em Psicologia Hospitalar pelo Instituto Central do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP – São Paulo (SP) – Brasil; 4 Pedagoga, Doutora pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP – São Paulo (SP) – Brasil; 5 Professor Titular do Departamento de Oftalmologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP – São Paulo (SP) – Brasil e da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP - Campinas (SP) – Brasil. 2 Trabalho realizado no Departamento de Oftalmologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP – São Paulo (SP), Brasil. Recebido para publicação em: 3/4/2008 - Aceito para publicação em 16/7/2008 Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 177-83 178 Mendonça RHF, Zihlmann KF, Freire ML, Oliveira RCS, José NK INTRODUÇÃO O diabetes mellitus (DM) faz parte de um grupode doenças metabólicas caracterizadas porhiperglicemia resultante de distúrbios na secreção de insulina e/ou na ação da insulina. A hiperglicemia associa-se a complicações, disfunções e insuficiência de vários órgãos, como olhos, rins, nervos, cérebro, coração e vasos sangüíneos. As alterações metabólicas podem estar relacionadas a defeitos de secreção e/ou ação da insulina envolvendo processos patogênicos específicos, como a destruição das células b do pâncreas. Estima-se 35 milhões de pessoas com DM no mundo (Organização Panamericana de Saúde – OPS), sendo 19 milhões de pessoas na América Latina e Caribe. Essa doença de grande prevalência mundial mostra-se como um grave problema de Saúde Pública, caracterizando-se como um desafio para os sistemas de saúde, na medida em que, nos casos avançados, a DM pode resultar em complicações cardiovasculares, alterações visuais, amputação de membros inferiores e doenças renais (1). A retinopatia diabética (RD) é uma complicação muito comum do diabetes. É uma grande causa de cegueira no mundo, decorrente da alteração dos vasos retinianos e é o principal fator de cegueira na faixa etária dos 20 aos 50 anos. A fisiopatologia da RD ainda não é totalmente esclarecida, mas acredita-se que a glicemia elevada piora o quadro clínico. A prevalência da RD aumenta com a duração da doença e com a idade do paciente. Após 20 anos de doença, perto de 99% dos portadores de DM insulino dependentes e 60% dos portadores de DM não insulino dependentes têm algum grau de RD (2). A RD consiste na manifestação retiniana de (3) edema, exsudatos e hemorragias . Pode ser classificada em retinopatia diabética não proliferativa (RDNP) e proliferativa (RDP). As hemorragias podem ser desencadeadas por proliferação neurovascular, a qual representa um fator importante na patogênese de complicações que podem levar à perda visual. Por esse motivo, pacientes com RDP devem ser submetidos a exames oftalmológicos freqüentes, com um adequado controle da glicemia, diagnóstico e tratamento precoce, (4) para evitar o risco de perda visual . Atualmente, podemos encontrar vários estudos relacionando os efeitos do DM sobre a auto-estima do paciente, sobre sua capacidade de aderir ao tratamento e sobre sua qualidade de vida. Neste trabalho, Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 177-83 enfocamos a questão da qualidade de vida em pacientes com RPDP. A Qualidade de Vida pode ser diretamente relacionada com o conceito de auto-estima e com o bemestar pessoal, que englobam uma série de aspectos envolvendo a capacidade funcional, o nível socioeconômico, o estado emocional, a interação social, a atividade intelectual, o autocuidado, o suporte familiar, o próprio estado de saúde, os valores éticos e culturais, a religiosidade, o estilo de vida, a satisfação profissional e/ou as atividades diárias e o ambiente em que se vive. Trata-se de um conceito subjetivo e bastante ligado a esses aspectos citados, dependendo do contexto em que cada indivíduo está inserido, como nível sociocultural, faixa etária e suas aspirações pessoais (5). Com o crescente número de estudos na área, a Organização Mundial de Saúde, no ano de 1948, conceituou, de forma mais completa, a expressão, descrevendo Qualidade de Vida como a percepção do próprio indivíduo acerca de sua posição na vida, envolvendo contextos culturais e sistemas de valores em que está inserido, bem como seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações pessoais. A partir da década de 1970, a avaliação da Qualidade de Vida (QV) cresceu de uma atividade relativamente restrita para uma disciplina formal, com uma estrutura teórica coesa, métodos consagrados e diversas aplicações. Nos últimos anos, a Qualidade de Vida tornou-se uma variável útil para determinar o impacto global das doenças e dos tratamentos médicos, a partir da perspectiva do paciente (6). A mensuração da QV possibilita a comparação entre estudos de tratamento, evidenciando características importantes que podem auxiliar na compreensão da escolha terapêutica, pois permite a identificação dos (7) aspectos da QV afetados pela terapia proposta . Dessa forma, os dados podem fornecer maiores informações em relação à resposta de diferentes pacientes ou grupos de pacientes; subsidiar o prognóstico de resultados terapêuticos individuais, tendo em vista a relação de QV e prognóstico clínico; auxiliar na avaliação da eficiência de um procedimento, por fornecer dados subjetivos significativos. Outro aspecto importante dos estudos da QV é o fato de que a compreensão do impacto subjetivo dos tratamentos “como melhoras sintomatológicas, efeitos colaterais ou tóxicos, alterações na dinâmica social e econômica e aspectos da vida diária ou psicológica dos pacientes”, na perspectiva deles próprios é de extrema Qualidade de vida em pacientes com retinopatia diabética proliferativa importância para atender às suas necessidades (7). Alguns trabalhos com pacientes portadores de DM mostraram que essa doença pode afetar diretamente a QV. Pode-se constatar, nesses estudos, o alto nível de depressão nos pacientes. Dessa forma, o DM foi relacionado como um fator de risco no desenvolvi(8) mento da depressão . Em um estudo comparativo da avaliação de aspectos psiquiátricos, pode-se observar que a avaliação da QV dos pacientes diabéticos apresentou um alto índice no domínio psicológico compa(9) rado com pacientes esquizofrênicos . Assim, constatase a importância da avaliação da QV para melhor conhecimento do estado mental do paciente, favorecendo estratégias mais eficientes para a adesão ao tratamento. Entretanto, no que concerne à Retinopatia Diabética, poucos trabalhos relacionando os aspectos subjetivos dos pacientes foram publicados. Pesquisas sobre essa questão poderiam, portanto, promover novas estratégias em relação aos tratamentos, facilitando a promoção de saúde aos pacientes e permitindo a construção de fatores favorecedores da qualidade de vida. É o que se pretende apresentar no presente trabalho, que investigou a qualidade de vida dos pacientes portadores de retinopatia diabética proliferativa (RDP). MÉTODOS Trata-se de um estudo quantitativo, transversal, com uma amostra de conveniência de 61 pacientes, maiores de 18 anos, portadores de Retinopatia Diabética Proliferativa, do Ambulatório de Oftalmologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, cidade de São Paulo, Brasil. Os pacientes assinaram um Termo de Consentimento Livre e esclarecido, e a pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital das Clínicas (CAPPesq) com o nº 1057/05. Todos os preceitos da Resolução 196/96 do Conselho Nacional da Saúde foram seguidos. Os pacientes responderam ao inventário de qualidade de vida “WHOQOL – ABREVIADO – versão em português, dos instrumentos de avaliação de qualidade de vida - 1998”, após a consulta de rotina com o médico oftalmologista. O entrevistador perguntava ao médico qual a acuidade visual do paciente e, em uma sala reservada, aplicava o questionário. A QV pode ser avaliada por vários inventários. A necessidade de instrumentos de rápida aplicação e com características psicométricas satisfatórias fez com 179 que o Grupo de Qualidade de Vida da OMS desenvolvesse uma versão abreviada do WHOQOL-100, o WHOQOL-bref ( 10). WHOQOL-Bref é composto por quatro domínios: físico, psicológico, relações sociais e meio-ambiente. Os dados obtidos pelo inventário WHOQOL-Bref foram analisados e digitados em planilha do Microsoft Excel e analisados pelo Software SPSS para Windows versão 12.0. Todos os pacientes responderam a todas as 26 questões que compunham o questionário e, dessa (10-13) forma, a amostra pôde ser estudada integralmente . As variáveis qualitativas foram representadas por freqüência absoluta (n) e relativa (%) e as quantitativas, por média, desvio padrão (dp), mediana, valores mínimo e máximo. A distribuição normal das pontuações dos domínios foi testada pela Prova de Kolmogorov-Smirnov. Em nenhum dos testes, essa hipótese foi rejeitada. A comparação entre os grupos I e II foi feita pelo teste t Student para amostras independentes. Adotou-se o nível de significância de 0,05 (a = 5%). Níveis descritivos (p) inferiores a esse valor foram considerados significantes e representados. RESULTADOS A amostra foi composta por 61 pacientes do setor de Retina do Departamento de Oftalmologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, portadores de RDP, com idades variando entre 30 e 73 anos e média de 58 anos (dp = 8 anos), sendo 52,5% de homens e 47,5% de mulheres. A maior parte dos pacientes (70,4%) tinha primeiro grau completo ou incompleto e 54,1% dos pacientes era casado ou vivia com companheiro. Quanto à percepção de sua própria saúde, apenas 18% a consideravam boa e 52,5%, muito ruim ou fraca. A Tabela 1 mostra as medidas descritivas das características dos pacientes que fizeram parte da amostra. Dos 61 pacientes avaliados, 28 (45,9%) tinham acuidade visual (AV) melhor que 20/200 e 33 (54,1%) tinham AV pior ou igual a 20/200. A amostra foi dividida em dois grupos de interesse, formados segundo a AV dos pacientes: grupo I, com acuidade visual melhor que 20/200 e grupo II, com AV pior ou igual a 20/200. O grupo I teve 64,3% de mulheres e o grupo II, 66,7% de homens. A média de idade, nos dois grupos, foi semelhante: 57 anos no grupo Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 177-83 180 Mendonça RHF, Zihlmann KF, Freire ML, Oliveira RCS, José NK Tabela 1 Tabela 2 Características da amostra de 61 pacientes com RDP Características da amostra classificados segundo a acuidade visual Variáveis N (%) Sexo Masculino Feminino Idade (anos) Média ± d.p. Mínimo – Máximo Nível educacional Analfabeto I grau incompleto I grau completo II grau incompleto II grau completo III grau incompleto III grau completo Estado civil Solteiro (a) Casado (a) Vivendo como casado (a) Separado (a) Divorciado (a) Viúvo (a) Não informado Percepção geral da saúde pessoal Muito ruim Fraca Nem ruim, nem boa Boa Variáveis 32 (52,5) 29 (47,5) Sexo – n (%) Masculino Feminino Idade (anos) Média ± d.p. Mínimo – Máximo Nível educacional – n (%) Analfabeto I grau incompleto I grau completo II grau incompleto II grau completo III grau incompleto III grau completo Estado civil – n (%) Solteiro (a) Casado (a) Vivendo como casado (a) Separado (a) Divorciado (a) Viúvo (a) Não informado Saúde – n (%) Muito ruim Fraca Nem ruim, nem boa Boa 57,8 ± 8,5 30 – 73 8 (13,1) 24 (39,3) 19 (31,1) 2 (3,3) 4 (6,6) 1 (1,6) 3 (4,9) 7 31 2 3 8 8 2 (11,5) (50,8) ( 3,3) ( 4,9) (13,1) (13,1) ( 3,3) 7 25 18 11 (11,5) (41,0) (29,5) (18,0) Grupo I (n = 28) Grupo II (n = 33) 10 (35,7) 18 (64,3) 22 (66,7) 11 (33,3) 57,3 ± 6,5 45 – 73 58,2 ± 9,9 30 – 73 3 12 11 1 1 (10,7) (42,9) (39,3) ( 3,6) ( 3,6) 5 12 8 1 3 1 3 (15,2) (36,4) (24,2) ( 3,0) ( 9,1) ( 3,0) ( 9,1) 3 13 1 2 5 4 (10,7) (46,4) ( 3,6) ( 7,1) (17,9) (14,3) 4 18 1 1 3 4 2 (12,1) (54,5) ( 3,0) ( 3,0) ( 9,1) (12,1) ( 6,1) 2 12 8 6 ( 7,1) (42,9) (28,6) (21,4) 5 13 10 5 (15,2) (39,4) (30,3) (15,2) Tabela 3 Medidas descritivas das pontuações nos diferentes domínios da escala WHOQOL-BREF na amostra de 61 pacientes Domínios (n = 61) Físico Psicológico Social Meio ambiente WHOQOL – BREF Média dp Mediana Mínimo Máximo 47,42 53,62 53,55 45,80 17,52 19,61 20,32 13,95 46,43 58,33 58,33 46,88 10,71 0 0 6,25 82,14 83,33 100,00 78,13 I e 58 anos no grupo II. Como na amostra total a maior parte dos pacientes (82,2% e 60,6% respectivamente nos grupos I e II) tinha primeiro grau completo ou incompleto. Entre 50% e 60% dos pacientes era casado ou vivia com companheiro. Quanto à percepção de sua própria saúde, 21,4% Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 177-83 no grupo I e 15,2% no grupo II, a consideravam boa e 50,0% e 54,6% respectivamente muito ruim ou fraca. Na Tabela 2, se encontram as medidas descritivas das características dos pacientes, divididos segundo a AV. Na tabela 3, se encontram as medidas descriti- Qualidade de vida em pacientes com retinopatia diabética proliferativa 181 Tabela 4 Medidas descritivas das pontuações nos diferentes domínios da escala WHOQOL-BREF na amostra de 61 pacientes divididos em dois grupos Escala WHOQOL-BREF Domínios Físico Média ± d.p. Mediana Mínimo – Máximo Psicológico Média ± d.p. Mediana Mínimo – Máximo Social Média ± d.p. Mediana Mínimo – Máximo Meio ambiente Média ± d.p. Mediana Mínimo – Máximo Grupo I(n = 28) Grupo II(n = 33) Comparação 50,51 ± 17,73 50,00 10,71 – 82,14 45,35 ± 17,26 46,43 14,29 – 82,14 p = 0,255 56,55 ± 21,71 64,58 0 – 83,33 51,14 ± 17,59 54,17 16,67 – 83,33 p = 0,287 60,12 ± 20,20 58,33 0 – 100 47,98 ± 18,98 50,00 16,67 – 75,00 p = 0,019 * 50,78 ± 14,09 51,56 25,00 – 78,13 41,57 ± 12,54 40,63 6,25 – 65,63 p = 0,009 * * Nível de significância de 0,05 vas das pontuações dos domínios da escala WHOQOL – BREF aplicada na amostra de 61 pacientes. Na Tabela 4, se encontram as medidas descritivas das pontuações dos domínios da escala WHOQOL – BREF aplicada na amostra de pacientes, divididos segundo a AV (grupos I e II). Não foi encontrada diferença estatisticamente significante entre os grupos quanto às pontuações nos domínios: físico (p = 0,255) e psicológico (p = 0,287). Foi encontrada diferença estatisticamente significante entre os grupos nos domínios social (p = 0,019) e meio-ambiente (p = 0,009). Em ambos os domínios, as médias de pontuação do grupo I foram significantemente maiores do que as médias do grupo II. DISCUSSÃO Considerando-se que o conceito de Qualidade de Vida envolve contextos sócioculturais e sistemas de valores, pode-se inferir que, na situação de doença incapacitante como a RDP, seria esperado que o grupo II (pacientes com pior AV) apresentasse piores escores em todos os domínios (físico, psicológico, social e meio ambiente), especialmente nos domínios físico (no campo da sensação de bem-estar físico e capacidade de lo- comoção e trabalho) e no domínio psicológico (no campo da auto-percepção e auto-estima dos indivíduos), quando comparado ao grupo I (pacientes com melhor AV). Surpreendentemente, não constatamos diferenças estatisticamente significantes entre os grupos, pelo menos no que concerne ao domínio físico e psicológico. Observou-se, entretanto, que a qualidade de vida da população estudada sofre maior impacto na relação dos sujeitos com o mundo (domínio das relações sociais) e com o ambiente físico (domínio meio ambiente). Os resultados apontaram diferença estatisticamente significante entre os grupos I e II, nos domínios social (p= 0,019) e meio-ambiente (p=0,009). Vale salientar que as ações educativas para o controle da DM junto ao paciente, família e comunidade são de extrema importância, tendo em vista que um dos maiores problemas no controle da doença é a dificuldade de acesso ao Centro de Saúde (14). Nosso trabalho também mostra que há maior impacto no domínio social e no de meio ambiente, especialmente nos pacientes considerados “mais graves” (com pior AV). Dessa forma, pode-se enfatizar a importância da assistência à saúde, na questão da prevenção, orientação e acessibilidade aos serviços de saúde, principalmente em relação a esses pacientes com RPD, portadores de necessidades especiais. Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 177-83 182 Mendonça RHF, Zihlmann KF, Freire ML, Oliveira RCS, José NK Talvez seja possível compreender que, para eles, a questão da acessibilidade pode representar uma questão de grande impacto na QV. Sobre a acessibilidade pode-se dizer que esta significa o grau de facilidade com que as pessoas obtêm os cuidados de saúde, e representa o centro do funcionamento dos serviços de saúde, no que concerne ao atendimento direto a consultas médicas e hospitalização, como também ao indireto, por meio da realização de exames preventivos e diagnósticos. A acessibilidade ultrapassa as condições e distribuições geográficas de acesso ao paciente, porque também compreende questões como o acolhimento por parte dos profissionais, disponibilidade dos serviços às necessidades dos pacientes, entre outras questões que visam à promoção da saúde dos que procuram (15) esses serviços . Dessa forma esse tipo de demanda, mais específica, precisaria ter “voz”, principalmente em um país em desenvolvimento como o Brasil, com grandes carências de infra-estrutura de serviços públicos de qualidade. A maioria (52,5%) dos pacientes entrevistados afirmou que seu estado de saúde geral era muito ruim ou fraco. Trata-se, portanto, do investimento e cuidado nas áreas onde há, de fato, uma demanda, para minimizar o sofrimento e desconforto causado pela (1) doença . Esta pesquisa tem o mérito de contribuir para a investigação da Retinopatia Diabética Proliferativa e avaliação da Qualidade de Vida em pacientes com DM, uma vez que se observa a escassez de trabalhos na literatura nacional. Embora, a amostra seja relativamente pequena, ainda assim, foi possível estabelecer diferenças estatisticamente relevantes, o que pode indicar que esses fatores observados têm, de fato, grande relevância para o tema. O instrumento de mensuração de qualidade de vida da OMS pode mostrar-se útil para ampliar a visão da referida temática, bem como impulsionar intervenções que possibilitem uma melhora na QV desses pacientes. É interessante notar que as grandes diferenças “práticas” entre pacientes com distinta AV não foram observadas na auto-avaliação da qualidade de vida, pelo menos, quanto aos domínios físico e psicológico. A diferença fundamental entre os grupos está relacionada com suas demandas na obtenção de recursos sociais e ambientais para suprir suas necessidades. Tal diferença, presente em um país repleto de grandes diferenças sócioeconômicas, como é o caso do Brasil, pode nos levar a uma reflexão crítica sobre o papel do poder pú- Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 177-83 blico e sua responsabilidade, em especial a portadores de DM, que representa um dos principais problemas de saúde mundial. ABSTRACT Objective: To verify the Quality of life for the Proliferative Diabetic Retinopathy (PDR) patients. These subjects have a higher risk for severe visual loss, due to the vascular retina complications. Methods: We evaluated the Quality of Life of 61 PDR patients, over 18 years old, who have been followed up in the Ophthalmology Clinic of the Clinical Hospital of Medicine School of São Paulo, Brazil. All patients data were obtained using a questionnaire of health quality of life “WHOQOL – Bref - Portuguese version - 1998”, and the statistical analysis was done using SPSS program. The 61 patients were classified in two groups: Group I, with 28 patients (46%), with better visual acuity (VA) of 20/200 and Group II, with 33 patients (54%), with worse or equal VA of 20/200. Results: No statistical significant difference (SSD) was observed between the groups, regarding to physical domain (p= 0,255) and psychological domain (p=0,287). SSD was observed between the groups, regarding to social domain (p=0.019) and environment domain (p=0.009). Conclusion: Patients with poor VA can be equivalent with those with better vision in physical and psychological domains (no SSD). The SSD regarding to social and environment domains demonstrate the lack of social support for people living with severe visual loss. Keywords: Diabetes mellitus; Diabetic retinopathy; Quality of life REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. Aguilar PIDSG. Qualidade de vida em pessoas com diabetes Mellitus tipo 2 [tese doutorado]. Ribeirão Preto: Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo; 2004. Moreira Jr CA, Ávila M. Retinopatia diabética. In: Moreira Jr CA, Ávila M. Retina e vítreo. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2000. Corrêa ZMS, Eagle Júnior R. Aspectos patológicos da retinopatia diabética. Arq Bras Oftalmol. 2005; 68(3): 410-4. Elfervig LS, Elfervig JL. Proliferative diabetic retinopathy. Insight. 2001; 26(3): 88-91; quiz 92-3. 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Methods: Fourteen consecutive cases of vitreoretinal surgery for vitreous hemorrhage and tractional retinal detachment secondary to diabetic retinopathy underwent intravenous injection of sodium fluorescein to 20% 1 hour before the surgery. The images of the steps of the surgeries were recorded. Results: The sodium fluorescein stained green from the vitreous peripheral, vitreous base, posterior hyaloid, further improving visibility to a complete and more secure vitrectomy. The sodium fluorescein also stained fibrous points (sites of neovascularization) with high intensity making it easier its visibility. No complications associated with the dye injection were observed in all cases. Conclusion: Intravenous sodium fluorescein can be used safely for facilitating the observation of the vitreous, vitreous base, posterior hyaloid and sites of neovascularization. This technique can facilitate the process of vitrectomy in patients with diabetic retinopathy Keywords: Fluorescein; Diabetic retinopathy; Vitrectomy 1 Doutor, responsável pelo Centro de Pesquisa Rubens Siqueira - CPRS – São José do Rio Preto (SP), Brasil; Responsável pelo Departamento de Oftalmologia da Faculdade de Medicina de Catanduva – FAMECA – Catanduva (SP), Brasil; Colaborador em pesquisa do departamento de Retina da USP - Ribeirão Preto-SP 2 Doutor, responsável pelo Departamento de Retina da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo - USP - Ribeirão Preto (SP), Brasil; 3 Estagiário em Retina e Vítreo no Centro Especializado Retina e Vítreo - CERV -São José do Rio Preto (SP), Brasil. Trabalho realizado no Centro de Pesquisa Rubens Siqueira – CPRS - São José do Rio Preto (SP), Brasil. Recebido para publicação em: 17/1/2008 - Aceito para publicação em 21/7/2008 Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 184-7 Intravenous sodium fluorescein enhances the visibility of vitreous during vitrectomy surgery for diabetic retinopathy 185 INTRODUCTION V itrectomy is the treatment of choice for proliferative diabetic retinopathy with traction or persistent vitreous hemorrhage (1). It can frequently restore useful vision in diabetic patients and reduce the risk of visual loss from traction retinal detachment (2). The use of dilute sterile sodium fluorescein (NaFl) has previously been suggested as an aid in (3-4) (3-4) vitrectomy . Except for two published letters , there are no large studies describing the safety and efficacy of intravitreal NaFl in vitreous surgery. However, there is a study that described the safety and efficacy to use Intravitreal sodium fluorescein to enhance the visibility of clear vitreous during vitreous surgery for macular (5) hole . We will describe in this paper the efficacy of Intravenous NaFl for enhances of visibility of vitreous during vitrectomy surgery for diabetic retinopathy. METHODS Fourteen consecutive vitreoretinal surgery cases for vitreous hemorrhage and tractional retinal detachment, secondary to diabetic retinopathy, were submitted to intravenous sodium fluorescein 20% injection 1 hour previously the surgery (Table 1). Surgery was performed under peribulbar anesthesia by a single surgeon (R.C.S). Standard Three-port Pars Plana Vitrectomy was performed using Accurus vitrectomy machine (Alcon, Fort Worth, Texas, USA) with the sclerotomies placed 4 mm (phakic eyes) or 3.5 mm (aphakic and pseudophakic eyes) posterior to the limbus. We do not use special filter to observe the contrast. Limited core vitrectomy and removal of the vitreous close to the sclerotomy used for the insertion of the vitreous cutter were initially performed. In phakic eyes, in order to avoid direct trauma to the lens caused by the vitrectomy instruments, vitrectomy at the vitreous base from the 6 to 12 O’clock position was performed with the vitreous cutter held by the right hand, and from the 12 to 6 O’clock position was performed with the left hand. Initially, the central vitreous was removed (core vitrectomy), followed by peeling of dense epiretinal membranes. Vitreous shaving was performed with scleral indentation by an assistant using a muscle hook. The images of all surgery steps were recorded. Finally, the retina was inspected by indirect ophthalmoscope and fluid-gas exchange completed the procedure. Figure 1: A - View of the mid periphery showing uncut green coloured vitreous gel stained with sodium fluorescein during vitreous surgery; B,C - Posterior hyaloid detachment procedure, it was possible to see the hyaloid and the adherent’s areas; D - Fluorescein stained fibrous points (neovascularization sites) with highly intensity making it easier these areas observation RESULTS The study group consisted of 14 diabetic retinopathy patients. Fluorescein stained the peripheral uncut clear vitreous green, vitreous base, posterior hyaloid and improved the visibility in all instances. At surgery time fluorescein stained the whole vitreous (Figure 1A), especially the vitreous base and the posterior hyaloid in the posterior pole. Fluorescein also stained fibrous points (neovascularization sites) with stronger intensity making it easier these areas observation (Figure 1 D). At vitreous base shaving, fluorescein helped in the visualization even of the retina vitreous junction, following the traction movements of the vitreous when the vitrectomy probe gets closer from the retina, and evidencing the limits of vitreous base with the periphery retina, reducing the incidence of iatrogenic periphery tears. During posterior hyaloid detachment procedure, it was possible to see the hyaloid and the adherent’s areas (Figure 1 B,C). There was no stain of the lens or capsule (pseudophakic) during surgery, and it was possible to notice that flourescein stained the anterior chamber, especially at pseudophakic patients, but did not affected the vitreous observation, not interfering at vitrectomy. No complications associated with the dye injection were observed in all cases. Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 184-7 186 Siqueira RC, Jorge R, Canamary F Table 1 Results of the vitreoretinal surgery for vitreous hemorrhage and tractional retinal detachment secondary to diabetic retinopathy underwent intravenous injection of fluorescein to 20% 1 hour before the surgery Visual acuity is best-corrected Snellen acuity Patient Age Sex Retinal Vitreous status status Visual acuity preop Visual acuity postop IOP preop IOP postop Complication related to fluorescein Lens status Follow up (months) 1 2 3 54 36 75 M M F VH VH VH CF HM 20/60 LP 20/400 20/30 12 10 14 62 14 11 No No No Phakic Phakic Phakic 7 7 8 4 5 6 36 29 32 M F M clear clear VH CF 20/30 HM CF 20/80 20/80 13 14 15 32 44 13 No No No Phakic Pseudophakic pseudophakic 4 9 6 7 38 F VH CF 20/60 15 16 No phakic 2 8 43 M Clear CF 20/150 16 50 No phakic 6 9 10 11 83 27 69 F F M VH clear VH 20/100 20/60 20/200 20/80 20/100 CF 12 14 12 18 54 10 No No No Pseudophakic Phakic Aphacik 6 4 4 12 13 67 51 F M VH VH HM 20/100 CF 20/30 14 15 16 19 No No Phacik Pseudophakic 7 5 14 15 F TRD ERM Without TRD TRD TRD Without TRD Without TRD ERM without TRD TRD TRD Without TRD TRD Without TRD TRD clear 20/25 20/200 13 16 No Phakic 5 Legend: LP - light perception; CF - finger counting; HM - hand movements; TRD - Tractional retinal detachment; VH - vitreous hemorrhage; ERM - epiretinal membrane DISCUSSION The vitrectomy has shown an increase in its statement due to technical improvement mainly through better performance of equipment, speed cutting and increased less invasive systems (small gauge). One of the new tools of vitrectomy are substances capable of dyeing the structures intraocular facilitating visibility. Some dyes have been well studied as indocyanine green (ICG), trypan blue and more recently the sodium fluorescein (6-10). In order to avoid the eye toxicity and also greater manipulation during surgery (injection and aspiration of the dye), we evaluated in this study the possibility of the use of intravenous sodium fluorescein to as a dye for use in vitrectomy. In this study we used the intravenous sodium fluorescein one hour before surgery in order to improve the visibility of areas of interest during surgery for vitrectomy in patients with diabetic retinopathy.We chose this group of patients because they show a drop of bloodretinal barrier thus facilitating the leak of f sodium Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 184-7 fluorescein for vitreous cavity. The patients who were included in this study had diabetic retinopathy with vitreous hemorrhage (9 patients) and tractional retinal detachment (7 patients). We observed that the sodium fluorescein stained the vitreous body, vitreous base, posterior hyaloid and sites of neovascularization. There was no need to use any special filter for viewing the contrast. In all patients, the color green was the sodium fluorescein observed with ease and especially when put the light pipe near the area to be examined. To remove the posterior hyaloid with active aspiration, we observe that the sodium fluorescein provided a clear vision of the posterior hyaloid moved. We also observed that the sites of neovascularization became impregnated by sodium fluorescein. This facilitated the prevention of bleeding during the removal of posterior hyaloid. Another feature of intravenous sodium fluorescein is that there was no impregnation of the lens or the posterior capsule in pseudophakic eyes. This fact is one more advantage compared to other dye such as trypan Intravenous sodium fluorescein enhances the visibility of vitreous during vitrectomy surgery for diabetic retinopathy blue that can lead to impregnation of the posterior capsule and subsequent worsening of visibility. There was greater impregnating the vitreous base compared with the central vitreous, facilitating the vitreous shaving. The intravenous sodium fluorescein may be a good tool to get vitreoretinal surgery in patients with diabetic retinopathy. Meanwhile a greater number of cases will need to assess the real benefit of this technique RESUMO Objetivo: Observar a eficácia da fluoresceína sódica intravenosa, na visibilidade do vítreo, durante a cirurgia de vitrectomia nos pacientes com retinopatia diabética. Métodos: Quatorze casos consecutivos de cirurgia vitreorretiniana para hemorragia vítrea e descolamento tracional da retina secundário à retinopatia diabética, foram submetidos à injeção de fluoresceína intravenosa a 20%, 1 hora antes da cirurgia.As imagens de todos os passos das cirurgias foram gravadas. Resultados: A fluoresceína corou de verde o vítreo periférico, base vítrea, hialóide posterior melhorando a visibilidade para uma vitrectomia completa e mais segura. A fluoresceína também corou pontos fibrosos (sítios de neovascularização) com alta intensidade tornando mais fácil sua observação. Nenhuma complicação associada com a injeção do contraste foi observada. Conclusão: Fluoresceína sódica intravenosa pode ser usada de forma segura para facilitar a observação do vítreo, base vítrea, hialóide posterior e sítios de neovascularização. Esta técnica pode facilitar o procedimento de vitrectomia em pacientes com retinopatia diabética. Descritores: Fluoresceína; Retinopatia diabética; Vitrectomia 187 REFERENCES 1. Hoerle S, Poestgens H, Schmidt J, Kroll P. Effect of pars plana vitrectomy for proliferative diabetic vitreoretinopathy on preexisting diabetic maculopathy. Graefes Arch Clin Exp Ophthalmol. 2002; 240(3):197-201. 2. Arrigg PG, Cavallerano J. The role of vitrectomy for diabetic retinopathy. J Am Optom Assoc. 1998; 69(11):733-40. Review. 3. Girard LJ. Fluorescein staining of formed vitreous to aid in vitrectomy. Ophthalmic Surg. 1984; 15(10): 874. 4. Griffiths MF. The use of fluorescein in vitrectomy. Arch Ophthalmol. 1987; 105(7): 889. 5. Das T, Vedantham V. Intravitreal sodium fluorescein enhances visualization of clear vitreous during vitreous surgery for macular hole: a safety and efficacy study. Clin Experiment Ophthalmol. 2004, 32(1): 55-7. 6. DiLoreto DA Jr, Das T, del Cerro C, Cox C, del Cerro M. Fluorescein as a marker for subretinal transplantation of human fetal neural retina. 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ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA: Dr. Rubens Camargo Siqueira Rua Saldanha Marinho, 2815 – Conj.42 São José do Rio Preto CEP 15.010-100 – SP – Brasil Tel: (17)32345858 e-mail: [email protected]. Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 184-7 RELATO 188 DE CASO Síndrome de Wildervanck (Síndrome cérvico-óculo-acústica) Wildervanck syndrome João Luís Curvacho Capella1, Iris de Souza Yamane2, Yoshifumi Yamane3 RESUMO O artigo relata o caso clínico de uma criança do sexo feminino, cinco anos de idade que apresenta a rara síndrome de Wilderwanck que consiste da síndrome de Klippel-Feil associada à síndrome de Duane e deficiência auditiva. O exame revelou alterações marcadas da coluna cervical, limitação bilateral da abdução, limitação da adução do olho direito associada à enoftalmia, diminuição da fenda palpebral, anisotropia em A, esotropia nas lateroversões e hipoacusia auditiva neurosensorial bilateral. Nossa paciente revelou a associação de síndrome de Klippel-Feil do tipo II com síndrome de Duane bilateral. Descritores: Estrabismo/ diagnóstico; Anormalidades múltiplas/diagnóstico; Síndrome da retração ocular/diagnóstico; Síndrome de Klippel-Feil/diagnóstico; Relatos de casos [Tipo de publicação] 1 Pós-graduando em Ofalmologia do Serviço de Oftalmologia do Hospital Municipal da Piedade – Rio de Janeiro (RJ), Brasil; Pós-graduanda do Setor de Cirurgia Refrativa do Serviço de Oftalmologia da Universidade de São Paulo – USP – São Paulo (SP), Brasil; 3 Doutor; Professor Regente da Disciplina de Oftalmologia da Universidade Gama Filho – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. 2 Recebido para publicação em: 8/4/2008 - Aceito para publicação em 21/7/2008 Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 188-92 Síndrome de Wildervanck (Síndrome cérvico-óculo-acústica) 189 INTRODUÇÃO E A m 1952, Wildervanck (1) descreveu pela primeira vez uma síndrome com acometimento cervical, ocular e auditivo, que consistia na Síndrome de Klippel-Feil (2) associada à Síndrome de Duane (3) e a deficiência auditiva. Estudos subseqüentes mostraram que a Síndrome de Wildervanck afeta preferencialmente mulheres, e pode estar associada à parali(4-5) sia de outros nervos cranianos inferiores . Em face da raridade da síndrome e do pequeno número de artigos publicados sobre o assunto, nos estimulou a descrever o primeiro caso da Síndrome de Wildervanck da literatura nacional. Relato do caso Identificação: M.C.C., 5 anos, sexo feminino, branca, natural RJ, estudante. Queixa principal: “Olho torto para dentro e às vezes para cima”. História da doença atual: os pais observaram esotropia e hipertropia intermitente no olho direito com 1 ano de idade. História patológica Pregressa: prematura de 8 m, 50 cm / 2,60 kg; membrana hialina; atraso motor e desenvolvimento; surdez bilateral; convulsão afebril; uso de Gardenal. Ectoscopia: assimetria facial; linha de implantação dos cabelos posterior baixa; pescoço curto com redução do movimento; cifoescoliose; Ombro de Sprengel; torcicolo leve (Figura 1). Exame externo: epicanto e telecanto. Biomicroscopia: normal. Acuidade visual sem correção: 0,8 / J1 em ambos os olhos. Motilidade (Figura 2): O estudo das excursões oculares revelou limitação da abdução do OD e OE de –3 e limitação da adução do OD de –1. Observou-se B C D E Figura 2: S. Duane com ET em V; B-C: limitação da abdução do OD e OE. C: enoftalmia com diminuição da rima palpebral no OD e OE na tentativa de adução. Anisotropia em A (A-E) a diminuição da fenda palpebral e enoftalmia, que acentuava na tentativa de adução do olho direito e anisotropia em ¨A¨. O teste de cobertura a 33 cm revelou as seguintes medidas: Medida do desvio - 33 cm +10dp +40dp 0 +30dp -20dp -3 Figura 1: Assimetria facial; linha de implantação dos cabelos posterior baixa; pescoço curto com redução do movimento; cifoescoliose; ombro de Sprengel; torcicolo leve -1 -3 Pupilas: Normais Fundo de olho: Normal Tonometria bidigital: Normal Refratometria: + 0,25 = - 1,50 x 170º - AV 1,0 / J1 + 0,25 = - 0,50 x 85º - AV 1,0 / J1 Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 188-92 190 Capella JLC, Yamane IS, Yamane Y Figura 3: Esquerda: corte sagital: alteração na forma das vértebras cervicais superiores e dos espaços intervertebrais; Direita: corte coronal presença de hemivértebras Exames complementares realizados: Radiografias de coluna cervical e torácica com baixa resolução dificultou a identificação de alterações nos corpos vertebrais e nos discos intervertebrais. Ressonância nuclear magnética de crânio e coluna cervical apresentou alteração na forma dos corpos vertebrais nos cortes sagital e coronal, com fusão do 1º ou 2º espaço interespinhal, associada com outras anomalias vertebrais, como hemivértebras (Figura 3). A eletroencefalografia foi realizada em duas fases diferentes: o primeiro, com sono espontâneo, que apresentou inúmeras ondas agudas e pontas difusas ou nas regiões posteriores. O segundo, com sono induzido, onde se encontrou pontas e ondas agudas esparsas ou difusas. O laudo do neurologista relata sinais de irritação cortical. O teste de potencial evocado auditivo apresentou ausência de respostas bilateralmente na pesquisa de emissões otoacústicas evocadas. Na audiometria infantil relataram-se curvas audiométricas compatíveis com perda auditiva neurossensorial profunda bilateral (Figuras 4 e 5). Os exames de ultra-sonografia abdominal e de eletrocardiograma foram normais. DISCUSSÃO A Síndrome de Wildervanck, descrita inicialmente em 1952 por Wildervanck LS, compreende a tríade clínica da Síndrome de Klippel-Feil associada a deficiência auditiva e a Síndrome de Duane (limitação da abdução ou da adução, com retração do globo ocular no (1) olho afetado na tentativa da adução) . Klippel e Feil descreveram o caso de um paciente de 46 anos com “fusão” de vértebras cervicais. Este paciente possuía a tríade clássica da Síndrome de Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 188-92 Figura 4. Teste de potencial evocado auditivo revela 3% de resposta no ouvido direito e 0% no esquerdo. Klippel-Feil (KFS): pescoço curto, linha de implantação dos cabelos posterior baixa e redução do movimento do pescoço. O exame de raios X da coluna cervical revela(2) va aparente fusão das vértebras cervicais . A incidência da síndrome de Klippel Feil (SKF) é de 1 para 42.000 e pode ser subdividida em 3 tipos Síndrome de Wildervanck (Síndrome cérvico-óculo-acústica) Figura 5: Audiometria infantil - curvas audiométricas mostram perda auditiva neurossensorial profunda bilateral dependendo da extensão do acometimento das vértebras: Tipo 1 – Fusão cervical maciça com envolvimento de vértebras torácicas superiores; Tipo 2 – Fusão do 1º ou 2º espaço interespinhal associada com outras anomalias vertebrais, como hemivértebras; Tipo 3 – Fusão das vértebras cervicais e das vér(2) tebras torácicas inferiores . Em relação ao nosso paciente, encontramos a SKF tipo II. A incidência e a herança desta condição variam com cada tipo de SKF. A incidência de anomalias associadas como o ombro de Sprengel (descolamento congênito da omoplata para cima), fenda palatina, anomalias renais e cardíacas e atraso no desenvolvimento varia com o tipo de KFS. Associações freqüentes com síndrome de KlippelFeil: Escoliose – 60%; Espinha bífida(6) – 45%; Alterações renais (agenesia renal unilateral vezes ) – 40%; Ombro de Sprengel – 30%; Surdez – 30%; Alterações nas costelas – 30%; Fenda palatina/ Lábio leporino– 15%; Malformações cardíacas – 10% Achados menos freqüentes: Costelas cervicais, anomalias no processo odontóide e na junção atlas-axis, problemas oculares, paralisia do nervo facial, acúmulo de pele no pescoço, assimetria facial, dedos extranumerários ou em falta, obstrução de vias aéreas superiores crônica, má-forma(2,6) ção de extremidade superior . Achados raros: MURCS – é a síndrome que se caracteriza por anomalias do ducto de Müller, agenesia renal e displasia do somito cervical. É uma rara associação muito onde a menina afetada revela agenesia úterovaginal associa- 191 da á alterações renais, malformações da coluna cervical e torácica. VATER – é a síndrome que se associa com anomalia vertebral, atresia anal, fístula traqueoesofagiana (6) e defeitos em raio radial . O sexo feminino responde por 65% do total dos casos. Os tipos 1 e 3 são os mais freqüentes e se expressam com maior severidade. A incidência para o tipo 2 é igual para ambos os sexos. A síndrome de Klippel-Feil decorre de fatores genéticos e ambientais . A agressão ocorre entre a terceira e quarta semana do desenvolvimento embrionário, causando imperfeita segmentação dos somitos do mesoderma. Existem relatos esporádicos de casos com herança autossômica dominante (6). (7) Alterações audiológicas são comuns, porém estudos detalhados destas lesões são poucos elucidativos. McGaughran estudou 44 pacientes portadores de SKF e observou que em 80% dos casos havia diminuição da (8) acuidade auditiva, unilateral ou bilateral . Todos os tipos de alterações auditivas foram encontrados nos pacientes com a síndrome, mas a perda neurossensorial bilateral foi a mais freqüente. Este estudo revelou que em 43% dos pacientes havia disacusia por perda neurossensorial. Outro achado freqüente foi a hipoacusia auditiva aérea, porém não se observou especificidade nos traçados dos audiogramas para a SKF. Detectou-se também inúmeras anormalidades otológicas como: microtia (estreitamento do meato auditivo externo) microtia) agenesia cóclear (anomalia de Mondini), ausência do vestíbulo anomalias dos ossículos e de canais semicirculares (4-7-8). A síndrome de Wildervanck caracteriza-se pela associação da síndrome de Klippel-Feil com deficiência auditiva e à síndrome de Duane. Também pode estar associada a surdez ou surdo-mudez, torcicolo com pescoço curto membranoso, epilepsia, retardamento mental, fenda palatina e destrocardia, esotropia, exotropia, hipertropia, torcicolo ocular, nistagmo horizontal e atrofia corio-retiniana. Afeta principalmente mulheres, mas há relato de homens acometidos (1,4-5,7,9). A Síndrome de Duane, descrita por Duane caracteriza-se por retração do globo e diminuição da rima palpebral na tentativa de adução devido à co-contração (3) dos retos medial e lateral . Segundo Huber pode-se classificar esta síndrome em: Tipo I – limitação ou ausência de abdução com adução normal ou levemente limitada e retração do globo ocular com diminuição da rima palpebral na tentativa de adução; Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 188-92 192 Capella JLC, Yamane IS, Yamane Y Tipo II – limitação da adução com abdução normal ou levemente limitada e retração do globo ocular com diminuição da rima palpebral na tentativa de adução; Tipo III – limitação da adução e da abdução e retração do globo ocular com estreitamento da fenda (10-11) palpebral na tentativa de adução . Outros sinais podem ser observados entre estes 3 tipos : 1. Na tentativa de abdução, pode ocorrer um aumento da fenda palpebral; 2. Um desvio vertical anômalo (up-shoot e downshoot) pode ser observado na tentativa de adução do olho afetado. Acredita-se que esse fenômeno vertical seja decorrente de um fenômeno da “rédea”, produzido pelo músculo reto lateral espessado que desliza para cima ou (11) para baixo em relação a sua inserção escleral . No nosso caso, encontramos a Síndrome de Duane bilateral. Indica-se a cirurgia na síndrome de Duane quanr do o desvio é maior que 20 na posiçâo primária do olhar, enoftalmia marcada, torcicolo severo e up shoot ou down(11) shoot intensos . O planejamento cirúrgico ideal é o recuo do(s) Reto(s) horizontal(is) e a cirurgia do fio (faden operation). No caso descrito, não havia indicação de cirurgia para correção da Síndrome de Duane, pois a enoftalmia, torcicolo e fenômenos verticais anômalos eram discretos. ABSTRACT This article reports a case of a female five years old child with rare syndrome of Wilderwanck wich consists in a association of Klippel–Feil syndrome and Duane syndrome and auditive hypoacusia. Ocular examination reveals alterations of cervical column, bilateral abduction limitations, aduction limitation Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 188-92 of right eye associated with enophthalmos, palpebral fissure decrease, anisotropia in A, lateroversions esotropia and bilateral neurosensorial auditive hypoacusia. Our patient reveal an association of Klippel-Feil Syndrome type II with bilateral Duane Syndrome. Keywords: Strabismus/diagnosis; Abnormalities, multiple/diagnosis; Duane retraction syndrome/ diagnosis; Klippel-Feil syndrome/diagnosis; Case reports [Publication type] REFERÊNCIAS 1. Wildervanck LS. A case of Klippel-Feil’s syndrome, associated with abducens paralysis, retraction of the eyeball and deafmutism. Ned Tijdschr Geneeskd. 1952; 96(44): 2752-6. 2. Klippel LM, Feil A. 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Descritores: Acetonido de triancinolona/uso terapêutico; Papiledema/quimioterapia; Papiledema/etiologia; Diabetes mellitus/complicações, Acuidade visual; Relatos de casos [Tipo de publicação] 1 Médico do Setor de Retina e Vítreo do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ - Rio de Janeiro (RJ), Brasil; 2 Médico do setor de Retina e Vítreo do Hospital Naval Marcílio Dias – Rio de Janeiro (RJ), Brasil; 3 Médico do setor de Retina e Vítreo do Hospital Naval Marcílio Dias – Rio de Janeiro (RJ), Brasil; 4 Professor Adjunto do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Recebido para publicação em: 31/1/2008 - Aceito para publicação em 15/7/2008 Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 193-5 194 Damasceno EF, Damasceno NAP, Horowitz SA, Amaral Filho OMB INTRODUÇÃO A papilopatia diabética, inicialmente descrita por Lubow (1) , é definida como edema de disco óptico que ocorre em pacientes diabéticos do tipo I ou II de forma usualmente transitória, unilateral ou bilateral associada, na maior parte das vezes, com (2) mínimo ou nenhum deficit visual . Há relatos de casos (3) associados ou não com retinopatia diabética , bem como casos similares descritos como mimetizando edema macular clinicamente significativo devido à sua extensão sobre a região papilomacular (4). Devido à característica fugaz não é comumente recomendado nenhum tipo de tratamento a não ser um adequado controle (3) glicêmico . Este relato expõe uma proposta alternativa para o manejo da papilopatia diabética com o uso intraocular de acetonido de triancinolona em casos de diminuição da acuidade visual. Relato de caso Mulher de 45 anos, diabética (tipo I) insulinodependente, há 12 anos, com controle metabólico irregular, apresentando queixas de halos visuais há 1 semana após descontrole glicêmico (330 mg/dl ) . Ao exame oftalmológico apresentava acuidade visual com correção de 20/40 no olho direito (OD) e 20/ 20 no olho esquerdo (OE); reflexo pupilar fotomotor normal; biomicroscopia e pressão intra-ocular (PIO) normais em ambos os olhos (AO). Com ultrassonografia 5 B de olho direito apresentando elevação do disco óptico, sem sinal de aumento da escavação ou presença de calcificação; com olho esquerdo normal. Ao exame de fundoscopia apresentava edema e hiperemia de disco óptico no OD (Figuras 1 e 2). Apresentava-se com exame de campimetria computadorizada inexpressivo, com discreto aumento de mancha cega no OD. Exame de tomografia computadorizada (TC) de crânio e parecer neurológico com ausência de alterações. Não havia sinais de retinopatia diabética ao exame fundoscópico ou angiográfico.Ao exame retinográfico com contraste fluorescente revelou extravasamento de contraste no disco óptico direito. Conforme não havia sinal de alteração de reflexo fotomotor direto e consensual neste mesmo olho, foi aventada a hipótese diagnóstica de Papilopatia Diabética. Foi feito um controle glicêmico junto com endocrinologista, durante o período de acompanhamento. Foi realizado procedimento de injeção intravítrea de triancinolona (Kenalog – 40 mg/ml)– 0,1 ml intravítrea no OD, com mais uma injeção consecutiva com intervalo de 2 meses de acompanhamento. A evolução do quadro da papilopatia diabética Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 193-5 Figura 1: Papilopatia – Disco óptico OD Figura 2: Angiografia – Disco Óptico OD se sucedeu com acuidade visual melhorando para 20/25 no OD após um período de 8 meses do quadro inicial, com campo visual novamente inexpressivo (dentro da normalidade) e resolução do quadro de edema papilar e hiperemia. DISCUSSÃO Uma síndrome de edema de disco óptico de caráter transitório e idiopático, com mínima ou sem evidência clínica de permanente baixa visual, afetando usualmente diabéticos jovens, foi primeiramente descrita em 1971, por Lubow and Makley, e na literatura nacional por Souza Filho et al., em 1981 (1,6) . A incidência desta entidade é difícil de ser estimada devido à sua baixa constância, havendo relatos de uma freqüência de 0,4 % entre todos os pacientes diabéticos, observados em trabalhos (2-3) de pequena casuística . Disto denota pela raridade, a Papilopatia diabética e triamcinolona intravítrea dificuldade de grandes estudos para determinação de sua etiopatogenia e terapêutica . O diagnóstico é de exclusão clínica, visto haver outras entidades causadoras de edema de disco óptico em pacientes diabéticos, como hipertensão intracraniana, hipertensão arterial, e neuropatia óptica isquêmica anterior não arterítica (NOIA) ou mesmo a (7) forma arterítica . Tais patologias foram descartadas através de tomografia computadorizada de crânio, reflexo pupilar fotomotor, campo visual computadorizado, exame de sangue e exame clínico geral. Havendo concordância com estes critérios neste relato de caso. A diferenciação com pseudopapiledema causado por drusas de papila foi realizada através da fotografia anerita, que evidenciou ausência de lesões autofluorescentes, campo visual computadorizado sem alterações compatíveis e ultrassonografia B com ausência de imagem compatível com drusas. Como são pequenos os números de publicações pertinentes à papilopatia diabética, não há uma regra clássica de procedimentos terapêuticos, sendo a própria involução espontânea sem total garantia de prognóstico favorável em todos os casos, podendo ocorrer baixa da acuidade visual no decorrer ou após o quadro da papilopatia diabética.A paciente em tela evoluiu para acuidade de 20/25 em olho direito, mantendo 20/20 em olho esquerdo. O uso de corticóides sistêmicos ou tópicos na papilopatia diabética foi pouco comentado até 2004, quando foi descrito o uso da triancinolona intravítrea como tratamento para os casos em que a exuberância do extravasamento capilar peripapilar acomete a região macular, ocasionando edema de mácula associado ou não à retinopatia diabética, sendo recomendado nos casos de amplo acometimento de acuidade visual (4). Conforme relatos atuais, a papilopatia diabética pode atuar como fator prognóstico (8), e embora existam relatos substanciais de bom prognóstico em relação a preservação da acuidade e campo visual, acredita-se que a triancinolona possa atuar como mediador de limitação de tempo de evolução desta entidade, pelas suas propriedades anti-inflamatória e (9-10) estabilizadora de perfusão capilar . No caso relatado, apesar de haver uma melhora anatômico-visual após um período relativamente longo de 8 meses, houve mais precocemente uma melhora da acuidade visual logo após 30 dias da segunda aplicação da triancinolona intravítrea. Desta forma, acredita-se na validade deste tipo de procedimento, bem como se sucedeu uma evolução satisfatória da Papilopatia Diabética no caso descrito. Do mesmo modo, uma vez que há controvérsias sobre a real etiologia desta entidade, até em relação a outra entidade (11) afim, como a neuropatia óptica isquêmica , acredita-se 195 que haja necessidade de maior pesquisa para fundamentar esta opção terapêutica com triancinolona . Disto, se resume que esta entidade ainda com padrões semiológicos e terapêuticos, pouco definidos, ainda requer maior pesquisa para definições mais abalizadas . Entretanto, concordase de que prós e contras da terapia devem ser analisados e expostos ao paciente, caso a caso . ABSTRACT The authors describe one case of diabetic papillopathy.They used an intravitreal triamcinolone as an option of treatment. Keywords: Triancinolone acetonide/therapeutic use; Papilledema/drug therapy; Papilledema/etiology; Diabetes mellitus/complications; Visual acuity; Case reports [Publication type] REFERENCIAS 1. Lubow M, Makley TA Jr. Pseudopapilledema of juvenile diabetes mellitus. Arch Ophthalmol. 1971; 85(4): 417–22. 2. 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Damasceno Rua Jangadeiros, 40 – Apto. 601 CEP 22420-010 – Rio de Janeiro – RJ e-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 193-5 ARTIGO 196 DE REVISÃO Aspectos oftalmológicos da síndrome da hipertensão intracraniana idiopática (pseudotumor cerebral) Ophthalmic aspects of idiopathic intracranial hypertension syndrome (pseudotumor cerebri) Mário Luiz Ribeiro Monteiro1, Frederico Castelo Moura2 RESUMO A síndrome do pseudotumor cerebral é uma condição caracterizada por elevação da pressão intracraniana na ausência de lesões expansivas e de ventriculomegalia e com a constituição do líquor normal em um paciente sem alterações no nível de consciência. A terminologia desta afecção modificou nos últimos anos acompanhando os avanços nos métodos diagnósticos e no conhecimento da sua fisiopatogenia. Quando nenhuma causa é identificada a condição é denominada hipertensão intracraniana idiopática. Os pacientes freqüentemente são examinados pelo oftalmologista, já que apresentam achados como papiledema, diplopia e perda visual, uma complicação freqüentemente grave e irreversível. Neste artigo, revisamos os critérios diagnósticos, as alterações oftalmológicas, em especial a perda visual, bem como o tratamento enfatizando a importância do oftalmologista no diagnóstico e na monitoração da visão durante o tratamento clínico desta afecção, bem como na realização do tratamento cirúrgico pela descompressão da bainha do nervo óptico. Descritores: Pseudotumor cerebral/complicações; Pseudotumor cerebral/diagnóstico; Transtornos da visão/etiologia; Papiledema/etiologia; Diagnóstico diferencial 1 Livre-docente, professor associado de Oftalmologia e Chefe dos Serviços de Neuroftalmologia e Doenças da Órbita da Divisão de Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP – São Paulo (SP), Brasil; 2 Doutor, Médico do Setor de Neuroftalmologia e Órbita da Divisão de Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP – São Paulo (SP), Brasil. Trabalho realizado na Divisão de Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). São Paulo (SP), Brasil. Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 196-203 Aspectos oftalmológicos da síndrome da hipertensão intracraniana idiopática (pseudotumor cerebral) INTRODUÇÃO A síndrome da hipertensão intracraniana idiopática (HII) é uma afecção caracterizada por sinais e sintomas de aumento da pressão intracraniana (PIC), ausência de lesões expansivas e de ventriculomegalia aos exames de neuroimagem, e constituição do líquor normal em um paciente sem altera(1) ções no nível de consciência . A HII é uma condição não rara na população geral com incidência de 1 caso para cada 100.000 habitantes por ano, entretanto em mulheres jovens e obesas (com índice de massa corporal ≥ 30) apresenta incidência em torno de 20 casos por 100.000 habitantes por ano. (2) A síndrome foi primeiro descrita por Quincke (3) que a denominou meningite serosa. Nönne a chamou de pseudotumor cerebral e Symonds4 mais tarde utilizou o termo hidrocéfalo otítico. A doença se tornou melhor definida como uma entidade clínica com o desenvolvimento de métodos neuroradiológicos para afastar lesões expansivas intracranianas. Foley introduziu o termo hipertensão intracraniana benigna(5). Posteriormente vários autores documentaram a ocorrência de perda visual grave em muitos destes pacientes(6-9) e o termo benigno passou a ser inadequado sendo preferível a denominação hipertensão intracraniana idiopática (HII). Embora atualmente ainda se use com freqüência o termo síndrome do pseudotumor cerebral, esta é uma denominação mais genérica do que hipertensão intracraniana idiopática. O termo pseudotumor cerebral é mais amplo, englobando tanto a HII como também outras condições que provocam hipertensão intracraniana sem processo expansivo ou ventriculomegalia, como na hipertensão intracraniana por obstrução de seios venosos durais ou por alterações no conteúdo protéico do líquor. Embora, a síndrome da HII seja relativamente benigna do ponto de vista neurológico, pode levar à inúmeras alterações oftalmológicas acarretando perda visual em uma porcentagem muito alta de indivíduos. O conhecimento do seu quadro clínico e das suas principais manifestações oftalmológicas é, portanto, de fundamental importância para o oftalmologista que tem uma participação importante no diagnóstico, seguimento e tratamento desta afecção. Neste trabalho, revisaremos a fisiopatogenia, o quadro clínico e o tratamento da HII, enfatizando particularmente as principais manifestações oftalmológicas desta condição. FISIOPATOGENIA A fisiopatogenia da HII ainda não é compreendida na sua totalidade. Existem algumas teorias correntes 197 para explicar o aumento da pressão intracraniana incluindo: o aumento da resistência ao fluxo de saída do líquido cefalorraquidiano (LCR), o aumento da produção do LCR e o aumento da pressão venosa cerebral. Em condições fisiológicas, a taxa de produção do LCR é igual à taxa de reabsorção do mesmo, que é realizada pelas granulações aracnóides (10). Na HII, as taxas de produção e absorção do LCR permanecem iguais, entretanto a PIC se eleva possivelmente para compensar o aumento da resistência nas granulações aracnóides. A associação entre HII e obesidade é bem conhecida, especialmente em mulheres jovens com ganho de peso recente. Atualmente, um efeito mecânico direto (aumento da pressão abdominal → aumento da pressão torácica → aumento da pressão venosa cerebral → aumento da resistência nas granulações aracnóides) é uma das teorias mais aceitas para explicar a associação da HII com obesidade. No entanto, não se pode explicar o fato de que, embora a obesidade seja comum na população geral, a HII ocorre apenas em um número pequeno de pessoas. Da mesma forma, embora a obesidade acometa igualmente os dois (10) sexos, a HII ocorre preferentemente em mulheres . A HII também pode ocorrer associada a um fator desencadeante presumível como fármacos que incluem o uso de vitamina A, tetraciclina, corticosteróides, lítio, anticoncepcionais, ácido nalidíxico, nitrofurantoína etc. A afecção também já foi descrita como sendo associada a outras afecções como a Doença de Addison, a doença pulmonar obstrutiva crônica e a apnéia obstrutiva do sono. Nestes casos, deve-se evitar a denominação “idiopática” para a síndrome e considerar como hipertensão intracraniana associada ao fator em questão. As características clínicas são semelhantes àquelas do grupo sem causa detectável talvez apenas com a diferença que geralmente apresentam uma evolução mais curta e uma maior propensão à remissão completa e espontânea ou relacionada à suspensão ou resolução do fator associado. No entanto, deve ser enfatizado que nem sempre a relação entre os fatores acima mencionados e a hipertensão intracraniana pode ser estabelecida com segurança. Todas as condições acima estão incluídas dentro da chamada síndrome do pseudotumor cerebral (SPC) primário. Desta forma, o termo SPC primário pode ser totalmente idiopático (quando se usa também o termo HII) ou desencadeado por algum fator como as drogas e doenças acima mencionadas. Já as condições decorrentes de obstruções no sistema de drenagem venosa craniana ou por alterações na composição do líquido (aumento de proteína no líquor) são classificadas como SPC secundário (11). Todos estes tipos de pseudotumor Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 196-203 198 Monteiro MLR, Moura FC Figura 1: Papiledema moderado Figura 2: Papiledema hemorrágico Figura 3: Papiledema crônico Figura 4: Papiledema atrófico. Observe palidez importante de papila associada à gliose peripapilar cerebral podem estar associadas a quadro clínico semelhante àquele dos pacientes sem etiologia definida, mas em vários deles existem alterações neuroradiológicas que permitem separá-los e identificar alterações que podem exigir tratamentos específicos dependendo do caso. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Pacientes com HII podem apresentar sintomas relacionados ao aumento da PIC e ao papiledema. Cefaléia é o sintoma mais comum relacionado ao aumento da PIC e, comumente, o mais precoce na síndrome da HII, entretanto não apresenta características especificas em relação ao tipo, intensidade, à localização, à frequência e aos fatores de exacerbação. Em casos mais típicos a dor de cabeça é diária, descrita como pulsátil, podendo ser acompanhada de náuseas e vômitos e algumas vezes acordando o paciente à noite. Alguns pacientes podem não se queixar de cefaléia em até 20% dos casos, os levando-os a procurar assistência oftalmológica (12) inicialmente . Diplopia horizontal também ocorre com freqüência por aumento da PIC devido paresia do nervo abducente. Raramente, diplopia vertical pode ocorrer (13) por paresia do nervo troclear , entretanto, tal sintoma deve levantar a suspeita de outra condição associada. Tinido pulsátil pode ser ouvido uni ou bilateralmente e Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 196-203 exacerbado em posição de supino. Os sintomas associados ao papiledema ocorrem devido ao acometimento das funções visuais. Obscurecimento transitório da visão é um sintoma freqüente da HII, ocorrendo em até 70% dos pacientes, que se caracteriza por perda transitória da visão que pode ser parcial ou total. Geralmente apresenta duração de alguns segundos (não mais do que um minuto), acomete um ou ambos os olhos, pode ser precipitada por mudanças posturais e por manobra de Valsalva e se associa a recuperação completa da visão. Embora, seja uma manifestação característica da doença, e muitas vezes esteja associado à perda visual permanente, o obscurecimento transitório da visão não é considerado, por si só, com um sinal prognóstico da função visual (7). Perda progressiva do campo periférico geralmente ocorre nesta síndrome, entretanto é um sintoma dificilmente relatado pelos pacientes. Distorção da visão central pode ocorrer nos casos de papiledema agudo por edema e exsudatos maculares (tipo estrela macular) e no papiledema crônico por dobras de coróides. Raramente, perda visual súbita pode ocorrer devido à hemorragia sub-retiniana secundária a membrana neovascular (15) associada ao papiledema crônico . Em torno de 5% dos pacientes com HII podem ser completamente assintomático tendo o seu diagnóstico realizado em uma consulta de rotina. Entre os sinais oftálmicos do pseudotumor cerebral, o papiledema é o sinal mais relevante para a suspeita diagnóstica, sendo um dado extremamente importante para o diagnóstico. O papiledema se caracteriza, nos estágios iniciais por borramento da borda do disco óptico associado à protrusão do mesmo e ao obscurecimento dos vasos superficiais ao cruzar a margem do disco (Figura 1). Podem-se observar também, nos estágios iniciais, sinais de compressão da veia central da retina como ausência de pulso venoso espontâneo, ingurgitamento venoso, hemorragias retinianas em chama de vela e edema retiniano peripapilar. A observação do pulso venoso, embora muito difundida em especial entre os neurologistas, é na verdade pouco útil no diagnóstico do papiledema. Acredita-se que o pulso venoso espontâneo desapareça quando a pressão intracraniana excede 200 mm de água. Se o pulso estiver presente, a pressão intracraniana deve estar abaixo deste nível. No entanto, deve ser lembrado que pode haver grande flutuação nos níveis da pressão intracraniana em grande número de afecções e que o pulso venoso pode estar presente em uma destas flutuações, a despeito da existência do papiledema. Além disso, o pulso venoso não é observado em todos os indiví- Aspectos oftalmológicos da síndrome da hipertensão intracraniana idiopática (pseudotumor cerebral) Figura 5: Campo visual manual evidenciando constrição difusa das isópteras, aumento da mancha cega e retração mais acentuada no setor nasal inferior 199 Figura 6: Campo visual computadorizado evidenciando constrição difusa e importante em paciente com papiledema duos normais. Hegdes Jr et al. observaram que a freqüência de visibilização do pulso venoso espontâneo varia de acordo com a conformação do disco óptico, com a amplitude do pulso da pressão braquial e coroidal e com a pressão intra-ocular. Em discos ópticos onde a veia era observada penetrando a escavação fisiológica, o pulso venoso foi observado em 70% dos casos, enquanto que naqueles em que isto não era possível o pulso venoso foi observado em apenas 6% dos casos (16). Por estas razões, na grande maioria das vezes a pesquisa do pulso venoso não auxilia no diagnóstico diferencial do papiledema. Além das hemorragias retinianas, podem existir exsudatos algodonosos na retina peripapilar, que representam pequenas áreas de enfarte, e tortuosidade dos vasos retinianos. Em alguns casos o número de hemorragias peripapilares é muito grande (Figura 2). Em casos mais severos, dobras retinianas circunferenciais (linhas de Paton) podem ser observadas e exsudatos duros e hemorragias podem ocorrer na região macular. As hemorragias e os exudatos duros geralmente são mais importantes quando a hipertensão intracraniana se desenvolveu rapidamente. Quando o papiledema se torna crônico, as hemorragias e os exudatos geralmente desaparecem e ele se torna mais arredondado (Figura 3). A escavação fisiológica central se torna obliterada e pequenos exsudatos duros podem aparecer na superfície do disco com aspecto que lembra pequenas drusas. Quando o papiledema persiste por muito tempo, o disco óptico passa a ser atrófico e ocorre estreitamento e embainhamento dos vasos retinianos. A palidez da papila começa a se tornar evidente e ocorre redução no edema, devido à redução nas fibras nervosas (Figu- ra 4). Alterações pigmentares circunferenciais na retina peripapilar se tornam aparentes. Além disso, vasos telengectásicos e veias optociliares sobre o disco óptico podem ser observados nestes estágios. Importante ressaltar que o papiledema e os sinais associados podem ser assimétricos ou unilaterais e assim, HII não deve ser excluído do diagnóstico diferencial das neuropatias ópticas monoculares. Pessoalmente pudemos documentar tal situação em vários pacientes com pseudotumor cerebral (17). Kirkham et al. sugeriram que o papiledema unilateral nestes pacientes seria decorrente na presença de anomalia na bainha do nervo óptico, a qual impediria a transmissão da pressão do (18) líquor para a cabeça do nervo óptico . No entanto, MuciMendoza et al. relataram dois casos de papiledema unilateral em pseudotumor cerebral, nos quais a tomografia computadorizada revelou aumento bilateral da imagem dos nervos ópticos na órbita, indicando, portanto, patência do espaço subaracnoideu perióptico, mesmo do lado em (19) que não havia papiledema . Parece, portanto, mais provável que os fatores anatômicos e fisiológicos que determinam se o disco óptico irá ou não desenvolver edema, em pacientes com pressão intracraniana elevada, devem atuar na porção distal do nervo óptico. O mecanismo exato para explicar esta ocorrência incomum é, no entanto, desconhecido (17). Entre as funções visuais, a acuidade visual comumente é preservada a não ser que o curso da doença seja de longa duração e quando ocorre geralmente se associa a perda importante do campo visual periférico e atrofia óptica. Outros fatores associados à perda da acuidade visual já foram comentados acima. Alteração na sensibilidade ao contraste pode ocorre entre 50-75% dos pacientes com HII, e pode ser utilizada como avali- Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 196-203 200 Monteiro MLR, Moura FC ação complementar da função visual no papiledema inicial. A visão de cores também pode ser acometida na HII, entretanto não deve ser utilizada na avaliação do papiledema precoce, uma vez que esta função é depen(20) dente do campo visual central . Defeitos de campo visual são extremamente comuns nos pacientes com HII podem acometer entre 496, 7, 14 87% dos pacientes durante alguma fase da doença. . Aumento da mancha cega é o achado mais comum ao exame de campo visual e ocorre devido à hipermetropia secundária ao papiledema. Geralmente, o primeiro sinal de dano axonal na HII é o defeito campimétrico no quadrante nasal inferior, respeitando a linha média horizontal (Figura 5). Constrição generalizada do campo visual (Figura 6), também é um defeito característico da síndrome e ocorre geralmente no estágio tardio da doença e associada ao papiledema atrófico. Outros tipos de defeitos perimétricos podem ser encontrados nos pacientes com HII como defeito arqueado, escotoma central ou cecocentral. Wall e George (14) mostraram que dos 87% dos olhos apresentando defeitos campimétricos, 51% dos olhos persistiam com defeitos, mostrando que parte das alterações visuais são reversíveis na SHII. O exame de campo visual é fundamental para avaliação do grau de acometimento da função visual tendo em vista que outros exames, como o eletrorretinograma e o potencial visual evocado, se revelam pouco sensíveis ou inespecíficos às alterações do campo visual periférico que ocorrem mais precoce na (9) evolução do papiledema . A avaliação radiológica é fundamental no paciente com HII, no intuito de descartar a presença de massas intracranianas ou ventriculomegalia. Entretanto, os exames neurorradiológicos podem também contribuir (21-22) com o diagnóstico da HII ao detectar achatamento da esclera posterior, sela túrcica vazia, alargamento do espaço subaracnóideo perióptico e deslocamento vertical do nervo óptico, que ocorrem em 80%, 70%, 45% e (21) 40% dos pacientes, respectivamente . DIAGNÓSTICO E DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL O diagnóstico da HII é essencialmente um diagnóstico de exclusão. Mesmo mulheres jovens, obesas e em idade fértil apresentando papiledema necessitam de avaliação completa incluindo atenciosa anamnese, avaliação oftalmológica e neurológica e exames complementares (análise do LCR e neuroimagem) para descartar uma causa secundária de SPC. O preenchimento dos critérios diagnósticos (Tabela 1) para HII, juntamente com a investigação sobre uso dos fármacos associados com SPC primário e com a Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 196-203 Tabela 1 Critérios diagnósticos para síndrome da hipertensão intracraniana idiopática 1. Sinais e sintomas de hipertensão intracraniana (cefaléia, náuseas, vômitos, obscurecimento transitório da visão e papiledema); 2. Ausência de sinais neurológicos focais, com exceção apenas da paralisia unilateral ou bilateral de abducente; 3. LCR apresenta aumento da pressão, entretanto os parâmetros bioquímicos e citológicos se mostram dentro dos limites normais; 4. Ventrículos simétricos com tamanho normal ou reduzido ao exame de imagem. Legenda : LCR = liquído cefalorraquidiano. exclusão da SPC secundário, diminui consideravelmente as chances de confusão ou atraso no diagnóstico da síndrome. Existem sinais que alertam para as condições que mimetizam a HII como o perfil demográfico atípico (indivíduos do sexo masculino e sem obesidade), paralisia oculomotora (com exceção à paralisia do nervo abducente), diplopia vertical, oftalmoplegia internuclear, alteração do nível de consciência, sinais neurológicos focais, início abrupto dos sintomas e evolução rápida da perda visual e dos sintomas neurológicos. Na presença de um ou mais destes sinais, a exclusão das condições patológicas que mimetizam a HII assume ainda maior importância devendo ser afastadas condições como infecções (encefalite, meningite e otite média), neoplasias (glioma, carcinomatose meníngea e leucemia) e afecções vasculares (trombose venosa cerebral e malformação arteriovenosa). Algumas condições não patológicas podem levar à confusão diagnóstica com a HII e à realização desnecessária de exames complementares. Comumente, esta situação ocorre nos pacientes que apresentam drusas ocultas do nervo óptico, nervo óptico congenitamente cheio e na síndrome do disco óptico inclinado. O aspecto oftalmoscópico do nervo óptico destas condições pode simular o papiledema. A confusão diagnóstica é ainda maior quando existem defeitos de campo visual associado a estas anomalias do nervo óptico. Associada a estes achados oftalmológicos, o paciente pode ser portador de enxaqueca e/ou apresentar uma única medida de pressão do LCR apresentando valor acima ou próximo do limite superior da normalidade devido à obesidade ou à técnica inadequada para o procedimento e, assim, ser considerado portador da HII e receber um tratamento desnecessário. Nestes casos a observação cuidadosa dos Aspectos oftalmológicos da síndrome da hipertensão intracraniana idiopática (pseudotumor cerebral) limites da papila, bem como a angiofluoresceinografia e a ecografia e até mesmo a tomografia computadorizada podem ser úteis na identificação de drusas ocultas e de outras anomalias do nervo óptico. O exame do LCR também pode apresentar resultados falso-negativos, ou seja, os níveis da pressão inicial se apresenta dentro ou abaixo dos limites normais (50200 mmH 0, em decúbito lateral) em pacientes com qua2 dro clínico de pseudotumor cerebral. Alguns autores consideram que medidas entre 200 e 250 mmH20 não são diagnósticas. Tal fato é devido às flutuações naturais da pressão liquórica que podem ocorrer entre os períodos de hipertensão. Assim, o diagnóstico destes casos comumente requer punções de repetição ou até mesmo monitoração contínua da PIC, para documentar a hipertensão intracraniana (23). Exames neuroradiológicos são fundamentais para o diagnóstico da HII (Tabela 1) e para a exclusão das causas secundárias de hipertensão intracraniana. Tomografia computadorizada (TC) é capaz de detectar lesões ou massas intracranianas, embora imagem por ressonância magnética (IRM) seja mais sensível para esta finalidade. Mesmo nos pacientes com SHII que apresentam exames de TC e IRM convencionais sem alterações, trombose venosa cerebral (TVC) pode ser detectada através da angiografia convencional ou da (23) angioressonância magnética em até 35 % dos casos . Entretanto, a sensibilidade e especificidade da angioressonância magnética não é clinicamente satisfatória e a taxa de achados falso-positivos e falsonegativos ainda compromete o método. Mesmo assim, qualquer paciente com diagnóstico de HII, principalmente os atípicos, merecem uma investigação para TVC utilizando estes métodos. TRATAMENTO O objetivo do tratamento na HII é a redução da PIC, tendo em vista que o desconhecimento do mecanismo etiopatogênico impossibilita um tratamento específico. As principais indicações do tratamento são cefaléia permanente, papiledema moderado a severo e perda visual associada a defeito perimétrico(20). Pacientes assintomáticos podem ser seguidos com monitoração regular e sem tratamento. A função visual deve ser monitorada continuamente durante o tratamento tanto através da medida da acuidade visual, mas principalmente pela monitoração do campo visual e do papiledema. A medida isolada da acuidade visual não é suficiente para o seguimento do paciente. Medidas da pressão intracraniana, embora úteis, podem ser enganosas, uma vez que a pressão 201 intracraniana flutua bastante durante o dia e não se correlaciona sempre com o quadro clínico. A perimetria computadorizada pode ser útil em pacientes colaborativos, enquanto que a manual deve ser usada naqueles onde a perda visual é muito acentuada ou quando o resultado da perimetria computadorizada não foi confiável. Deve-se também tomar cuidado quando a resultados falso-positivos decorrentes de múltiplos obscurecimentos transitórios da visão durante a realização do exame perimétrico, especialmente quando realizados no campímetro computadorizado. Recentes estudos comprovaram que a perda de peso melhora o papiledema e a função visual nos pacientes obesos com HII, além de se associar à redução da PIC (24-25). Assim, nestes pacientes, a redução de peso e a manutenção de uma dieta adequada, com redução do consumo de vitamina A e de produtos contendo tiramina, devem ser incentivados como tratamento co-adjuvante (20) da HII . Acetazolamida, um inibidor da anidrase carbônica, é considerada a primeira linha de tratamento na HII e atua diminuindo a produção de LCR do plexo coróide e assim reduzir a PIC. A dose terapêutica é variável, mas comumente dose de 1000 mg/dia (dividida em 4 tomadas ao dia) é suficiente para melhorar os sintomas. O efeito colateral mais comum da acetazolamida, além de principal motivo para suspensão do tratamento, é a parestesia das extremidades dos membros. Pacientes que necessitam de altas doses para atingir o efeito terapêutico e os que se tornam refratários ao efeito da acetazolamida necessitam de uma alternativa terapêutica(20-23). O diurético furosemida é uma alternativa para acetazolamida, podendo ser usado como adjuvante ou mesmo substituto. O mecanismo de redução da PIC pela furosemida é desconhecido e seu efeito é muito menos potente em relação à acetazolamida. Recentemente, topiramato, um antiepilético com propriedade inibitória da anidrase carbônica, tem sido considerado como medicação de segunda linha para SHII. Embora, apresente efeito hipotensor menos potente do que a acetazolamida, o topiramato apresenta a vantagem de induzir perda de peso e profilaxia para cefaléia. Devido aos múltiplos efeitos colaterais, principalmente em pacientes obesos, corticosteróide deve ser utilizado preferencialmente nos casos de papiledema agudo associado à perda visual de rápida evolução, enquanto se aguarda o procedimento cirúrgico indicado (20-23). Recidiva do quadro pode ocorrer quando da retirada do corticóide e portanto, quando utilizado, deve ter sua redução realizada de maneira lenta e gradual para evitar recidiva do quadro. Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 196-203 202 Monteiro MLR, Moura FC Punções lombares de repetição já foi um tratamento usado na hipertensão intracraniana idiopática, no entanto, levando-se em consideração os dados que indicam que o volume do líquor é restituído em 1 ou 2 horas e a resistência dos pacientes na sua utilização, este tratamento tem sido cada vez menos utilizado. Embora tratamento clínico seja satisfatório na maioria dos casos, tratamento cirúrgico deve ser indicado nas seguintes situações: (1) perda visual progressiva a despeito de terapia medicamentosa máxima; (2) perda visual grave ou de rápida instalação no início do quadro, associada a defeito pupilar aferente relativo ou outro sinal de disfunção visual grave; (3) papiledema grave causando edema ou exsudato macular; e (4) intolerância medicamentosa. Dois principais procedimentos cirúrgicos são usados na HII: a fenestração da bainha do nervo óptico (FBNO) e a derivação lombo peritoneal. A derivação lombo peritoneal embora efetiva no controle da hipertensão intracraniana pode se complicar com oclusão ou deslocamento da válvula, dor ciática e infecção. Devido à alta taxa de complicações, o uso da derivação lombo-peritoneal tem diminuído, embora ainda seja uma alternativa possível em casos graves. A descompressão da bainha do nervo óptico é um procedimento que foi descrito pela primeira vez por De Wecker, em 1872, para tratamento do papiledema. A utilização de técnicas cirúrgicas rudimentares e o pouco conhecimento da fisiopatogenia do papiledema fizeram com que o procedimento caísse no esquecimento. Após os estudos de Hayreh sobre a fisiopatogenia do papiledema em 1964, houve um novo interesse por este tratamento cirúrgico, reintroduzido por Galbraith e Sullivan, em 1979, que descreveram uma técnica cirúrgica na qual desinseriram o músculo reto medial e realizaram uma abertura na bainha do nervo óptico em sua porção medial e anterior. Desde então, o procedimento se tornou mais difundido e a partir do final dos anos 80, começou a ser usado com maior freqüência para tratamento do papiledema na SPC. O mecanismo de ação da FBNO não é bem conhecido, mas se acredita que ocorra um efeito filtrante associada à redução da pressão local e melhora da circulação na cabeça do nervo. Outra possibilidade é que a cicatrização da aracnóide, que ocorre após o procedimento, possa proteger o nervo óptico do aumento da pressão liquórica, impedindo que a pressão se transmita até a cabeça do nervo óptico. Comumente, não há alteração da PIC, a não ser que a fístula seja grande e apresente uma drenagem de LCR suficiente para diminuir a PIC. A taxa de complicação da FBNO varia de 4,8% a 48%, com uma média de 12,9% (20). As principais complica- Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 196-203 ções são distúrbios da motilidade ocular extrínseca, geralmente transitórios, e alterações pupilares. A maioria dos pacientes apresenta melhora ou estabilização da função visual nos primeiros meses após o procedimento. Raramente os pacientes podem apresentar perda visual no período per-operatório. Pode também ocorrer alguma perda da função visual mesmo em olhos operados (26) com sucesso, particularmente nos casos graves . Reoperações podem ser necessárias nestes casos e apresentam o mesmo risco de complicação, embora seja tecnicamente mais difícil devido a cicatrização e fibrose pós-operatória (27). Vários autores já documentaram o controle do papiledema com esta cirurgia, obtendo alguma melhora visual em uma porcentagem significativa dos casos. No entanto, deve ser lembrado que a melhora visual geralmente é discreta e não ocorre em pacientes com perda visual de longa duração e acentuada. Analisamos os resultados de 24 olhos de 17 pacientes com SPC, nos quais realizamos a descompressão da bainha do nervo óptico por via medial (28), com a modificação da técnica descrita (29) por Sergott et al. .Obtivemos melhora visual em 15, enquanto que houve piora visual em 1 e a visão permaneceu inalterada em 8 olhos. A piora visual foi observada em apenas 1 olho de uma paciente operada quando apresentava perda visual rapidamente progressiva e muito severa da visão, já com edema pálido de papila. Houve resolução do papiledema em todos os olhos operados. Nossa casuística inclui um número muito grande de pacientes operados em fase final da doença, o que serve para salientar que a condição é muitas vezes pouco reconhecida em nosso meio. Embora, a melhora visual em olhos com papiledema atrófico seja possível, a maior ênfase no tratamento clínico e cirúrgico da SPC deve ser no sentido de prevenir ou estabilizar a perda visual. É fundamental, portanto, a participação ativa do oftalmologista seja no diagnóstico, no monitoramento e no tratamento desta afecção. ABSTRACT Pseudotumor cerebri is a syndrome of increased intra-cranial pressure without a space-occupying lesion or ventriculomegaly in a patient with normal level of conscience and normal cerebrospinal fluid constitution. The terminology for the disorder has changed over the years in accordance with advances in diagnostic technology and insights into the disease process. When no secondary cause is identified, the syndrome is termed idiopathic intracranial hypertension. Patients are not Aspectos oftalmológicos da síndrome da hipertensão intracraniana idiopática (pseudotumor cerebral) uncommonly seen by ophthamologists since they present with papiledema, double vision and visual loss, a frequently severe and irreversible complication. In this paper we review the diagnostic criteria and the ophthalmic manifestations of this condition. We also emphasize the importance of the ophthalmlogist in the diagnosis and monitoring of visual function during the medical treatment of this condition as well as in the in the event of surgical treatment performed using optic nerve sheath decompression. Keywords: Pseudotumor cerebri/complications; Pseudotumor cerebri/diagnostic; Vision disorders/ etiology; Papilledema/etiology; Diagnosis, differential REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. Friedman DI, Jacobson DM. Diagnostic criteria for idiopathic intracranial hypertension. Neurology. 2002; 59(10): 1492-5. Quincke H. Ueber meningitis serosa und verwandte Zustände. Dtsch Z Nervenh. 1897; 9: 149-68. Nönne M. Über Fälle von Symptomenkomplex “Tumor cerebri” mit Ausgang in Heilung (Pseudotumor cerebri). Dtsch Z Nervenh. 1904; 27: 169-216. Symonds CP. Otitic hydrocephalus. Brain. 1931; 54(1): 55-71. Foley J. Benign forms of intracranial hypertension; toxic and otitic hydrocephalus. Brain. 1955; 78(1): 1-41. 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Somente após aprovações finais dos revisores e editores, os manuscritos serão encaminhados para publicação. O manuscrito aceito para publicação passará a ser propriedade da Revista e não poderá ser editado, total ou parcialmente, por qualquer outro meio de divulgação, sem a prévia autorização por escrito emitida pelo Editor Chefe. Os artigos que não apresentarem mérito, que contenham erros significativos de metodologia, ou não se enquadrem na política editorial da revista, serão rejeitados não cabendo recurso. Os artigos publicados na Revista Brasileira de Oftalmologia seguem os requisitos uniformes proposto pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas, atualizado em fevereiro de 2006 e disponível no endereço eletrônico http:// www.icmje.org APRESENTAÇÃO E SUBMISSÃO DOS MANUSCRITOS O artigo enviado deverá ser acompanhado de carta assinada por todos os autores, autorizando sua publicação, declarando que o mesmo é inédito e que não foi, ou está sendo submetido à publicação em outro periódico. A esta carta devem ser anexados: • Declaração de Conflitos de Interesse, quando pertinente. A Declaração de Conflitos de Interesses, segundo Resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1595/2000, veda que em artigo científico seja feita promoção ou propaganda de quaisquer produtos ou equipamentos comerciais; • Certificado de Aprovação do Trabalho pela Comissão de Ética em Pesquisa da Instituição em que o mesmo foi realizado; • Informações sobre eventuais fontes de financiamento da pesquisa; • Artigo que trata de pesquisa clínica com seres humanos deve incluir a declaração de que os participantes assinaram Termo de Consentimento Livre Informado. Todas as pesquisas, tanto as clínicas como as experimentais, devem ter sido executadas de acordo com a Declaração de Helsinki. A Revista Brasileira de Oftalmologia não endossa a opinião dos autores, eximindo-se de qualquer responsabilidade em relação a matérias assinadas. Os artigos podem ser escritos em português, espanhol, inglês ou francês. A Revista Brasileira de Oftalmologia recebe para publicação: Artigos Originais de pesquisa básica, experimentação clínica ou cirúrgica; Divulgação e condutas em casos clínicos de relevante importância; Revisões de temas específicos, Atualizações; Cartas ao editor. Os Editoriais serão escritos a convite, apresentando comentários de trabalhos relevantes da própria revista, pesquisas importantes publicadas ou comunicações dos editores de interesse para a especialidade. Artigos com objetivos comerciais ou propagandísticos serão recusados. Os manuscritos deverão Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 204-6 obedecer as seguintes estruturas: Artigo Original: Descreve pesquisa experimental ou investigação clínica - prospectiva ou retrospectiva, randomizada ou duplo cego. Deve ter: Título em português e inglês, Resumo estruturado, Descritores; Abstract, Keywords, Introdução, Métodos, Resultados, Discussão, Conclusão e Referências. Artigo de Revisão: Tem como finalidade examinar a bibliografia publicada sobre um determinado assunto, fazendo uma avaliação crítica e sistematizada da literatura sobre um determinado tema e apresentar as conclusões importantes, baseadas nessa literatura. Somente serão aceitos para publicação quando solicitado pelos Editores. Deve ter: Texto, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract, Keywords e Referências. Artigo de Atualização: Revisões do estado-da-arte sobre determinado tema, escrito por especialista a convite dos Editores. Deve ter: Texto, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract, Keywords e Referências. Relato de Caso: Deve ser informativo e não deve conter detalhes irrelevantes. Só serão aceitos os relatos de casos clínicos de relevada importância, quer pela raridade como entidade nosológica, quer pela não usual forma de apresentação. Deve ter: Introdução, Descrição objetiva do caso, Discussão, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract e Keywords e Referências. Cartas ao Editor: Têm por objetivo comentar ou discutir trabalhos publicados na revista ou relatar pesquisas originais em andamento. Serão publicadas a critério dos Editores, com a respectiva réplica quando pertinente. Preparo do Manuscrito: A) Folha de Rosto deverá conter: • Título do artigo, em português e inglês, contendo entre dez e doze palavras, sem considerar artigos e preposições. O Título deve ser motivador e deve dar idéia dos objetivos e do conteúdo do trabalho; • Nome completo de cada autor, sem abreviaturas, porém, se o autor já possui um formato utilizado em suas publicações, deve informar à secretaria da revista; • Indicação do grau acadêmico e/ou função acadêmica e a afiliação institucional de cada autor, separadamente. Se houver mais de uma afiliação institucional, indicar apenas a mais relevante. Cargos e/ou funções administrativas não devem ser indicadas. • Indicação da Instituição onde o trabalho foi realizado; • Nome, endereço, fax e e-mail do autor correspondente; • Fontes de auxílio à pesquisa, se houver; • Declaração de inexistência de conflitos de interesse. B) Segunda folha Resumo e Descritores: Resumo, em português e inglês, com no máximo 250 palavras. Para os artigos originais, deverá ser estruturado (Objetivo, Métodos, Resultados, Conclusão), ressaltando os dados mais significativos do trabalho. Para Relatos de Caso, Revisões ou Atualizações, o resumo não deverá ser estruturado. Abaixo do resumo, especificar no mínimo cinco e no máximo dez descritores (Keywords) que definam o assunto do trabalho. Os descritores deverão ser baseados no DeCS – Descritores em Ciências da Saúde – disponível no endereço eletrônico http://decs.bvs.br/ Abaixo do Resumo, indicar, para os Ensaios Clínicos, o número de registro na base de Ensaios Clínicos (http:// clinicaltrials.gov)* 205 C) Texto Deverá obedecer rigorosamente a estrutura para cada categoria de manuscrito. Em todas as categorias de manuscrito, a citação dos autores no texto deverá ser numérica e seqüencial, utilizando algarismos arábicos entre parênteses e sobrescritos. As citações no texto deverão ser numeradas seqüencialmente em números arábicos sobrepostos, devendo evitar a citação nominal dos autores. Introdução: Deve ser breve, conter e explicar os objetivos e o motivo do trabalho. Métodos: Deve conter informação suficiente para saberse o que foi feito e como foi feito. A descrição deve ser clara e suficiente para que outro pesquisador possa reproduzir ou dar continuidade ao estudo. Descrever a metodologia estatística empregada com detalhes suficientes para permitir que qualquer leitor com razoável conhecimento sobre o tema e o acesso aos dados originais possa verificar os resultados apresentados. Evitar o uso de termos imprecisos tais como: aleatório, normal, significativo, importante, aceitável, sem defini-los. Os resultados da pesquisa devem ser relatados neste capítulo em seqüência lógica e de maneira concisa. Informação sobre o manejo da dor pós-operatório, tanto em humanos como em animais, deve ser relatada no texto (Resolução nº 196/96, do Ministério da Saúde e Normas Internacionais de Proteção aos Animais). Resultados: Sempre que possível devem ser apresentados em Tabelas, Gráficos ou Figuras. Discussão: Todos os resultados do trabalho devem ser discutidos e comparados com a literatura pertinente. Conclusão: Devem ser baseadas nos resultados obtidos. Agradecimentos: Devem ser incluídos colaborações de pessoas, instituições ou agradecimento por apoio financeiro, auxílios técnicos, que mereçam reconhecimento, mas não justificam a inclusão como autor. Referências: Devem ser atualizadas contendo, preferencialmente, os trabalhos mais relevantes publicados, nos últimos cinco anos, sobre o tema. Não deve conter trabalhos não referidos no texto. Quando pertinente, é recomendável incluir trabalhos publicados na RBO. As referências deverão ser numeradas consecutivamente, na ordem em que são mencionadas no texto e identificadas com algarismos arábicos. A apresentação deverá seguir o formato denominado “Vancouver Style” , conforme modelos abaixo. Os títulos dos periódicos deverão ser abreviados de acordo com o estilo apresentado pela National Library of Medicine, disponível na “List of Journal Indexed in Index medicus” no endereço eletrônico: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/ query.fcgi?db=journals Para todas as referências, citar todos os autores até seis. Quando em número maior, citar os seis primeiros autores seguidos da expressão et al. Artigos de Periódicos: Dahle N, Werner L, Fry L, Mamalis N. Localized, central optic snowflake degeneration of a polymethyl methacrylate intraocular lens: clinical report with pathological correlation. Arch Ophthalmol. 2006;124(9):1350-3. Arnarsson A, Sverrisson T, Stefansson E, Sigurdsson H, Sasaki H, Sasaki K, et al. Risk factors for five-year incident agerelated macular degeneration: the Reykjavik Eye Study. Am J Ophthalmol. 2006;142(3):419-28. Livros: Yamane R. Semiologia ocular. 2a ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2003. Capítulos de Livro: Oréfice F, Boratto LM. Biomicroscopia. 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As grandezas, unidades e símbolos utilizados nas tabelas devem obedecer a nomenclatura nacional. Fotografias de cirurgia e de biópsias onde foram utilizadas colorações e técnicas especiais, serão consideradas para impressão colorida, sendo o custo adicional de responsabilidade dos autores. Legendas: Imprimir as legendas usando espaço duplo, acompanhando as respectivas figuras (gráficos, fotografias e ilustrações) e tabelas. Cada legenda deve ser numerada em algarismos arábicos, correspondendo as suas citações no texto. Abreviaturas e Siglas: Devem ser precedidas do nome completo quando citadas pela primeira vez no texto ou nas legendas das tabelas e figuras. Se as ilustrações já tiverem sido publicadas, deverão vir acompanhadas de autorização por escrito do autor ou editor, constando a fonte de referência onde foi publicada. O texto deve ser impresso em computador, em espaço duplo, papel branco, no formato 210mm x 297mm ou A4, em páginas separadas e numeradas, com margens de 3cm e com letras de tamanho que facilite a leitura (recomendamos as de nº 14). O original deve ser encaminhado em uma via, acompanhado de CD ou disquete 3,5", com versão do manuscrito, com respectivas ilustrações, digitado no programa “Word for Windows 6.0. A Revista Brasileira de Oftalmologia reserva o direito de não aceitar para avaliação os artigos que não preencham os critérios acima formulados. * Nota importante: A “Revista Brasileira de Oftalmologia” em apoio às políticas para registro de ensaios clínicos da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Intemational Committee of Medical Joumal Editors (ICMJE), reconhecendo a importância dessas iniciativas para o registro e divulgação internacional de informação sobre estudos clínicos, em acesso somente aceitará para publicação, a partir de 2008, os artigos de pesquisas clínicas que tenham recebido um número de identificação em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados pelos critérios estabelecidos pela OMS e ICMJE, disponível no endereço: http://clinicaltrials.gov ou no site do Pubmed, no item <ClinicalTrials.gov>. O número de identificação deverá ser registrado abaixo do resumo. Os trabalhos deverão ser enviados à Revista Brasileira de Oftalmologia Rua São Salvador, 107 - Laranjeiras CEP 22231-170 - Rio de Janeiro - RJ Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 204-6 206 Revista Brasileira de Oftalmologia Declaração dos Autores (É necessária a assinatura de todos os autores) Em consideração ao fato de que a Sociedade Brasileira de Oftalmologia está interessada em editar o manuscrito a ela encaminhado pelo(s) o(s) autor(es) abaixo subscrito(s), transfere(m) a partir da presente data todos os direitos autorais para a Sociedade Brasileira de Oftalmologia em caso de publicação pela Revista Brasileira de Oftalmologia do manuscrito............................................................. . Os direitos autorais compreendem qualquer e todas as formas de publicação, tais como na mídia eletrônica, por exemplo. O(s) autor (es) declara (m) que o manuscrito não contém, até onde é de conhecimento do(s) mesmo(s), nenhum material difamatório ou ilegal, que infrinja a legislação brasileira de direitos autorais. Certificam que, dentro da área de especialidade, participaram cientemente deste estudo para assumir a responsabilidade por ele e aceitar suas conclusões. Certificam que, com a presente carta, descartam qualquer possível conflito financeiro ou de interesse que possa ter com o assunto tratado nesse manuscrito. Título do Manuscrito___________________________________________________________________________ Nome dos Autores_______________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ Minha assinatura abaixo indica minha total concordância com as três declarações acima. Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Rev Bras Oftalmol. 2008; 67 (4): 204-6