OPINIO Revista de Ciências Empresariais, Políticas e Sociais No 22 - Jan./Jun. 2009 ISSN 1808-964X Presidente Delmar Stahnke Reitor Marcos Fernando Ziemer Vice-Reitor Valter Kuchenbecker Pró-Reitor de Administração Ricardo Müller Pró-Reitor de Graduação Ricardo Prates Macedo Pró-Reitor Adjunto de Graduação Pedro Antonio Gonzalez Hernandez Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Erwin Francisco Tochtrop Júnior Pró-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários Ricardo Willy Rieth Capelão Geral Gerhard Grasel Ouvidor Geral Sara Beatriz del Cueto Moraes OPINIO Indexador: LATINDEX Comissão Editorial Ana Regina F. Simão Iria Margarida Garaffa Conselho Editorial Cézar Roberto Bitencourt (PUCRS) Juan José M. Mosquera (PUCRS) Maria Cleci Martins (RF) Maria Emilia Camargo (ULBRA) Oscar Claudino Galli (UFRGS) Paulo Schmidt (UFRGS) Rui Otávio Berdardes de Andrade (CFA) Endereço para submissão Av. Farroupilha, 8001 Prédio 11 - Sala 121 CEP: 92425-900 - Canoas/RS - Brasil Fone: (51) 3462.9520 E-mail: [email protected] EDITORA DA ULBRA E-mail: [email protected] Diretor: Astomiro Romais Coordenador de periódicos: Roger Kessler Gomes Projeto e capa: Everaldo Manica Ficanha Editoração: Isabel Kubaski Solicita-se permuta. We request exchange. On demande l’échange. Wir erbitten Austausch. Endereço para permuta Universidade Luterana do Brasil Biblioteca Martinho Lutero - Setor de aquisição Av. Farroupilha, 8001 - Prédio 05 - 92425-900 - Canoas/RS E-mail: [email protected] O conteúdo e estilo lingüístico são de responsabilidade exclusiva dos autores. Direitos autorais reservados. Citação parcial permitida, com referência à fonte. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP O61 Opinio : revista do Centro de Ciências Econômicas, Jurídicas e Sociais / Universidade Luterana do Brasil. N. 1 (jan./jun. 1998). Canoas : Ed. ULBRA, 1998- . v. ; 27 cm. Semestral. ISSN 1808-964X 1. Ciências sociais aplicadas periódicos. 2. Direito. 3. Ciências econômicas. 4. Serviço social. 5. Administração. 6. Ciências políticas. 7. Ciências contábeis. I. Universidade Luterana do Brasil. CDU 65:3(05) Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Martinho Lutero Sumário 2 Editorial 3 Artigos O uso do stencil graffiti para comunicação publicitária em Porto Alegre Alessandra Marquetto, Mirian Engel Gehrke 47 A Nova Economia Institucional é institucionalista? Stefano José Caetano da Silveira 57 A estratégia de marketing da marca Zara no varejo da moda Priscila Ávila Zanetti, Valesca Persch Reichelt 76 Como o consumidor porto-alegrense do guaraná Kuat percebe o novo posicionamento da marca através da sua nova identidade visual Suzane Hammes, Mirian Engel Gehrke 99 O marketing cultural como uma ferramenta no composto promocional Diogo Simões Pires, Valesca Reichelt 119 A influência das marcas no comportamento do consumidor infantil no segmento vestuário Tábita Barbosa, Valesca Persch Reichelt Opinio, n.22, jan./jun. 2009 1 Editorial Temos o prazer de apresentar a nova edição da Opinio, Revista de Ciências Empresariais, Políticas e Sociais da ULBRA. Seis artigos inéditos oferecem ao leitor questões relevantes para as áreas das Ciências Sociais Aplicadas, dentro do caráter multidisciplinar desenvolvido pela revista. “A Nova Economia Institucional é institucionalista?”, de Stefano José Caetano da Silveira, discute o caráter institucionalista da Nova Economia Institucional (NEI), avaliando seu alinhamento com os preceitos do institucionalismo original. Já “A influência das marcas no comportamento do consumidor infantil no segmento vestuário”, de Tábita Barbosa e Valesca Persch Reichelt, analisa o comportamento do consumidor infantil no segmento de vestuário a partir de três marcas. Suzane Hammes e Mirian Engel Gehrke assinam o texto “Como o consumidor porto-alegrense do guaraná Kuat percebe o novo posicionamento da marca através da sua nova identidade visual”, buscando verificar se os consumidores percebem o novo posicionamento pretendido pela Kuat através da identidade visual atual. “A estratégia de marketing da marca Zara no varejo da moda”, de Priscila Ávila Zanetti e Valesca Reichelt, apresenta um estudo sobre as estratégias de marketing da marca Zara, tendo como objetivo comparar e discutir a percepção de seus consumidores no Brasil e na Europa. Diogo Simões Pires e Valesca Reichelt, em “O marketing cultural como uma ferramenta no composto promocional”, abordam a percepção de quatro importantes empresas sediadas no Rio Grande do Sul que investem regularmente nesta área. Finalmente, “O uso do stencil graffiti para comunicação publicitária em Porto Alegre”, de Alessandra Marquetto e Mirian Engel Gehrke, aborda a utilização deste tipo de arte com fins publicitários. Ana Simão Editora 2 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 O uso do stencil graffiti para comunicação publicitária em Porto Alegre Alessandra Marquetto Mirian Engel Gehrke RESUMO Este artigo aborda o uso do stencil graffiti para comunicação publicitária, tendo por objetivo descobrir como o stencil graffiti é utilizado para este fim em Porto Alegre. Os principais autores consultados para a fundamentação teórica, que se enquadra nos estudos de comunicação e cultura, foram: Gomes (2003) e Muniz (2005), para falar de comunicação publicitária; Gitahy (1999) e Borelli; Oliveira (2008), no que se refere ao graffiti; Borges (2006), Siqueira (2006) e Farina (2008) quando é estudado o stencil graffiti. Foi aplicada uma pesquisa qualitativa de nível exploratório. Os resultados demonstraram que o stencil graffiti é utilizado para a comunicação publicitária em Porto Alegre em pequena escala, como alternativa para divulgar produto, serviço ou marca relacionada ao público jovem e à música. Palavras-chave: Comunicação publicitária. Arte urbana. Stencil graffiti. The stencil graffiti use for advertising communication in Porto Alegre ABSTRACT The present article approaches the use of stencil graffiti in advertising communication, aiming to discover if stencil graffiti has been used for this purpose in Porto Alegre. The consulted authors for the theoretical base, which fits in the studies of communication and culture, were: Gomes (2003) and Muniz (2005), to talk about advertising communication, Gitahy (1999) and Borelli; Oliveira (2008), about graffiti, Borges (2006), Siqueira (2006) and Farina (2008) specifically when stencil graffiti is studied. A qualitative and quantitative research was applied, in the exploratory level. Its results demonstrated that stencil is used for advertising communication in Porto Alegre, although in a small scale as an alternative to disseminate product, service or brand related to the young public and music. Keywords: Advertising communication. Urban art. Stencil graffiti. 1 INTRODUÇÃO Nas ruas das cidades mais desenvolvidas, é possível verificar a grande concentração de intervenções artísticas que, junto à imensa quantidade de ícones da Alessandra Marquetto é Bacharel em Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda – pela Universidade Luterana do Brasil. Mirian Engel Gehrke é professora e coordenadora do curso de Comunicação Social da Universidade Luterana do Brasil – Habilitação em Publicidade e Propaganda. Mestre em Comunicação e Informação pelo PPGCOM da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Opinio Canoas Opinio,n.22 n.22, jan./jun. 2009 p.3-46 jan./jun. 2009 3 cultura contemporânea e da publicidade, entre outras construções visuais, formam um composto incalculável e variante de textos e imagens (CANEVACCI, 1990). Uma forma de arte urbana que está em plena expansão, na atual fase cultural desses centros urbanos mundiais, é o stencil graffiti (GITAHY, 1999; VILAS, 2004; RIBEIRO, 2007; SANTANDER CULTURAL, 2008), tema desse trabalho. O stencil graffiti é considerado uma intervenção urbana oriunda do graffiti. Este último é uma expressão artística que nasceu da opressão provocada pela sociedade industrial. Hoje, o graffiti é um movimento de grandes proporções e está presente não somente nas ruas, mas em espaços elitizados, como museus e galerias (WEBSTER, 1992). Como o graffiti, o stencil graffiti também tem por base reivindicações de movimentos políticos, sociais e artísticos configurados no século XX (WEBSTER, 1992; BORGES, 2006), mas utiliza técnica diferente e destaca-se por ter caráter de grande expressão estética, trabalhando com fragmentos de imagens e textos (idem). Trata-se de uma arte urbana que se apropria de imagens que já significam algo para a sociedade. Ao longo dos anos, as intervenções de diferentes estilos e/ou técnicas de graffiti, incluindo o stencil, passaram a explorar potencialidades não somente no contexto cultural de diálogo com a cidade, mas como meio de comunicação publicitária, estreitando vínculos com o “universo e as práticas das mídias” (SILVEIRA, 2008, p.4). É conhecido que a comunicação publicitária tende, nos últimos tempos, a buscar meios alternativos para informar e persuadir – para vender determinado produto ou serviço – um público-alvo cada vez mais heterogêneo e com gostos diversificados (MUNIZ, 2005). A publicidade vem recorrendo a “temas e valores individuais” como estratégia e forma de identificação do consumidor com o produto, inspirando-se nos movimentos de resistência cultural, apropriando-se deles e utilizando-os a serviço do consumo (idem). Considerando tais questões, foi realizada pesquisa na internet, para visualizar intervenções do stencil graffiti com fins publicitários. Entre os diversos resultados obtidos, destacou-se uma mostra cultural denominada Transfer, que aconteceu em Porto Alegre, de 25 de junho a 28 de setembro de 2008 (ver, no Anexo A, nota do patrocinador para a imprensa sobre a mostra) e a campanha realizada pela marca Rexona, em Portugal, usando o stencil graffiti. Após, com o intuito de observar onde haveria maior concentração de intervenções deste tipo em Porto Alegre, foi realizada uma observação exploratória, com registro fotográfico, em alguns bairros da cidade (ver Apêndice A – Percurso da observação exploratória e Apêndice B – Registro fotográfico da observação exploratória). Ambas as experiências revelaram diferentes formas de atuação dessa arte no espaço urbano. Assim, a variedade de formas de arte urbana e o uso delas para diferentes finalidades estimularam a pesquisa apresentada. Por isso o problema de pesquisa que impulsiona este artigo é: o stencil graffiti está sendo utilizado para comunicação publicitária em Porto Alegre? As hipóteses são: a) sim, o stencil graffiti é usado para 4 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 comunicação publicitária em Porto Alegre; b) não, o stencil graffiti é usado em Porto Alegre, mas, para outros fins que não têm objetivo ou ligação com a comunicação publicitária. Dessa forma, o objetivo geral da pesquisa é verificar se o stencil graffiti está sendo usado em Porto Alegre para comunicação publicitária. São objetivos específicos identificar para que esta técnica de arte urbana é usada na capital gaúcha e quais são suas características neste ambiente cultural. Não foram encontrados estudos acadêmicos que discorram exatamente sobre o uso do stencil graffiti para a comunicação publicitária. Foi feito levantamento nas bibliotecas da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS e da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA, através do catálogo bibliográfico on-line. Também foram pesquisados sites de organizações que reúnem produção científica como Biblioteca On-line de Ciências da Comunicação (www.bocc.ubi.pt) e Intercom (www.intercom.org.br). Apenas foram localizados artigos acadêmicos que dialogam sobre o graffiti, porém, poucas vezes referem-se ao stencil graffiti com maior profundidade, com exceção do artigo Máscaras Urbanas (BORGES, 2006). Cabe citar, dentre os artigos encontrados, os que envolvem alguma questão pertinente à pesquisa: O Folk Virou Cult: o Grafite como Veículo de Comunicação (SOUZA; MELLO, 2007); Grafficações Televisivas: um Estudo Cartográfico Sobre a Atualização do Graffiti na MTV (FARINA, 2008); Vida na Metrópole: Comunicação Visual e Intervenções Juvenis em São Paulo (BORELLI; OLIVEIRA, 2008); e As Escritoras de Grafite de Porto Alegre: um Estudo Sobre as Possibilidades de Formação de Identidade Através Dessa Arte (SILVA, 2008). Desta forma, a falta de informações precisas, no âmbito teórico, sobre o objeto da pesquisa o transforma em um motivador para a realização de um estudo científico. Além de constituir um objeto de estudo praticamente inexplorado, até onde foi possível levantar, a pesquisa aqui desenvolvida também pode ser relevante, no meio acadêmico, em vista da necessidade contemporânea de trabalhar com novas alternativas no meio publicitário. O presente artigo enquadra-se nos estudos da comunicação e cultura, ao propor descobrir a relação da manifestação artística e cultural denominada stencil graffiti com a comunicação publicitária em Porto Alegre. Através do referencial teórico, são apresentados os conceitos que envolvem o problema de pesquisa, para contextualização do tema e compreensão dos resultados: comunicação publicitária, arte urbana, graffiti e stencil graffiti. Para a conceituação da comunicação publicitária, foram utilizados Muniz (2005), Gomes (2003), Gomes; Corradi e Cury (1998), Kotler (1999), Kotler e Armstrong (1998) e Sant’Anna (1998). Quando o artigo referiu-se à arte urbana e às intervenções na cidade, foram utilizados como fontes o livro Metrópole e a Arte (1992) e as obras de Canevacci (1990 e 1993) e Pallamin (2001). Gitahy (1999) foi a base da pesquisa bibliográfica quando o assunto é o graffiti e suas ramificações, acompanhado dos Opinio, n.22, jan./jun. 2009 5 trabalhos acadêmicos mencionados acima; e Osterwold (1999), Borges (2006) e Farina (2008) foram utilizados para definir aspectos do stencil graffiti. Para verificação empírica do objeto de estudo, foi realizada pesquisa qualitativa de nível exploratório, que se justifica pela não localização de estudos que dissertem sobre o uso do stencil graffiti para comunicação publicitária. Trata-se de um estudo de campo, considerando, segundo Gil (2006), que estas pesquisas procuram o aprofundamento das questões propostas, sugerindo observar grupos ou comunidades em termos de estrutura, direcionando-se para a “interação dos componentes”. A amostra foi selecionada por tipicidade, considerando aspectos da fundamentação teórica e a observação exploratória feita inicialmente. Assim, foram pesquisadas ruas e avenidas onde se circulam grandes fluxos de público jovem, especialmente aqueles que concentram bares, restaurantes e locais para dançar, limitando-se, no entanto, a bairros mais centrais da cidade. Já a coleta de dados ocorreu mediante observação sistemática, analisando cada stencil graffiti a partir de determinados itens (ver Apêndice C, roteiro de observação). Também, para atender ao objetivo proposto no artigo, foram realizadas duas entrevistas com ilustradores que criam stencil graffiti em empresas de ilustração portoalegrense. Pela Alopratoons Ilustrações e Animações respondeu Nicholas Paim, um dos sócios da organização. Pela Fescher Neoilustrações respondeu Marcelo Pferscher, proprietário da empresa. Para estas entrevistas foi definido um formulário, com oito questões fixas, sobre o uso do stencil graffiti para comunicação publicitária em Porto Alegre, que foi enviado e respondido por e-mail. (ver Apêndice D, formulário de perguntas). Apresentadas definições e estruturação deste artigo, na sequência é iniciada a fundamentação teórica, com a conceituação e outros aspectos da comunicação publicitária. 2 COMUNICAÇÃO PUBLICITÁRIA A comunicação sempre foi fundamental no desenvolvimento das sociedades e das relações humanas. Seja a sociedade que for, é indispensável participar, estabelecer relações e comunidades e isso ocorre através da comunicação (GOMES, 2003). A comunicação é a ação de transmitir ou receber mensagens através de processos como o gestual, a fala, a escrita, utilizando signos. Portanto, comunicação pode ser entendida como uma ação social na qual há uma troca ou distribuição de informação (idem). No mundo empresarial, no qual o marketing1 é utilizado, o processo de comunicação é construído estrategicamente para informar e persuadir consumidores a 1 Kotler e Armstrong (1998) definem marketing como um “processo social” em que as pessoas ou grupos fazem trocas para adquirir aquilo que desejam ou necessitam, como produtos e valores. O marketing não é somente o nome dado à administração desse processo, é também, para as empresas, a missão de descobrir, identificar e solucionar tais necessidades com produtos e serviços. 6 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 tomarem decisões favoráveis em relação a uma empresa, principalmente aquelas que se traduzem na aquisição de seus produtos ou serviços (KOTLER; ARMSTRONG, 1998). Inserida no ambiente comercial como mensagem publicitária, a comunicação é resultado da informação convertida em argumento de persuasão, o que lhe confere função estratégica (idem). A comunicação com função estratégica é chamada “promoção” nos estudos da área do marketing, e compõe o mix ou composto de marketing, junto com produto, preço e praça (KOTLER; ARMSTRONG, 1998; GOMES, 2003). A promoção ocorre através de instrumentos estratégicos como a publicidade, a propaganda, a promoção de vendas, a força de vendas, o marketing direto e as relações públicas, sendo que os dois primeiros constituem a chamada comunicação publicitária (KOTLER, 1999; GOMES, 2003). Como neste artigo é investigado o uso do stencil graffiti para mensagens publicitárias, os conceitos aqui aprofundados são o de publicidade e de propaganda, pois ambos são, muitas vezes, confundidos. A publicidade tem caráter comercial, objetiva apenas vender, tendo por características ter um patrocinador, uma campanha que ocupe um espaço de tempo determinado e que seja veiculada em algum meio de comunicação massivo (GOMES; CORRADI; CURY, 1998, p.4). A propaganda tem “caráter ideológico”, visa promover mudança de ideias e comportamentos. Ao ser planejada para um público, a propaganda deve promover ou modificar “comportamentos ideológicos”, que podem ser de origem filosófica, política ou religiosa (1998, p.7) e, até mesmo, comercial. Para Gomes, Corradi e Cury (1998), a propaganda também é veiculada em um meio massivo, mas não necessariamente precisa ter a assinatura de quem a produziu. No mercado contemporâneo, publicidade e propaganda atuam juntas. São atividades que, exercidas em conjunto, têm maior probabilidade de atingir os objetivos propostos. É devido a essa integração, conceituada por Muniz (2005) como “comunicação publicitária”, que foi adotada, no presente artigo, esta expressão. Muniz define comunicação publicitária como “a interação de estratégias de publicidade e propaganda, trabalhadas em conjunto, com o objetivo de atingir o consumidor pela informação, pelo uso e pelos atributos do produto” (2005, p.53). Para a autora, a comunicação publicitária tem uma intenção bem definida: fazer comprar. Muniz (2005) ainda afirma que, hoje, os consumidores são mais exigentes, as sociedades mais complexas e as culturas, classes e perfis estão muito mais heterogêneos. Além disso, a velocidade e o fluxo de mudanças contemporâneas, a quebra de paradigmas na vida social, juntamente com a força dos movimentos de resistência cultural, exigem das organizações a inserção de um planejamento de comunicação que contemple ações e estratégias focadas numa visão precisa do mercado. Nesta perspectiva, Castro (2008) esclarece que, devido à saturação das mídias de massa, o mercado vê a necessidade de usar elementos não convencionais para se aproximar de seus públicos. O autor refere que a utilização de “elementos táticos alternativos” relacionados a estruturas da sociedade, como, por exemplo, o espaço Opinio, n.22, jan./jun. 2009 7 urbano, é nomeado “marketing de guerrilha” (2008, p.3). E um dos elementos usados no marketing de guerrilha é a manifestação artística do graffiti e do stencil graffiti (idem). Estas são apenas duas alternativas, dentro da ampla diversidade de ferramentas de comunicação que, hoje, possibilitam atingir mercados segmentados. Com elas, os profissionais da comunicação publicitária podem criar, produzir e veicular mensagens direcionadas a públicos bem definidos e específicos, utilizando em suas campanhas ferramentas cada vez mais criativas, não se limitando aos anúncios e comerciais convencionais (FELICE, 2007; CHIMINAZZO, 2007; GRACIOSO, 2007). Portanto, neste contexto, cabe notar os espaços e técnicas antes usados apenas para outros fins, como o graffiti, sendo aproveitados como “elementos táticos alternativos” (CASTRO, 2008, p.3) e funcionando como possibilidade criativa na comunicação publicitária contemporânea. Por isso, a próxima seção apresenta os conceitos de arte urbana e graffiti, mostrando sua inclusão na comunicação publicitária. 3 ARTE URBANA E O GRAFFITI Quase a totalidade das artes do século XX, no Brasil, é fruto das experiências vividas por artistas nas metrópoles (WEBSTER, 1992). Foram os elementos que constituem a cidade que deram inspiração e impulso para a produção de diferentes correntes artísticas nascidas no século passado. Desde o crescimento das cidades, a arte buscava sair do seu centro elitizado, os museus, para invadir as ruas, os centros urbanos. O Muralismo2 e a Pop Art3 foram dois movimentos artísticos que evidenciaram essa necessidade (idem). Canevacci (1993) afirma que, ao verificar as construções visuais formadas por textos e imagens nas ruas das grandes cidades, qualquer observador consegue visualizar a grande tendência dos movimentos artísticos culturais urbanos e de um sistema que estimula a multiplicação de signos através da imagem. Essa construção visual na metrópole é chamada pelo autor de “comunicação urbana”, “cidade-cultura” ou “cultura da comunicação” e, na sua visão, surgiu da fusão de modos de vida popular, de massa e de elite (idem). O que Canevacci (1993) afirma ser cultura urbana é definido por Pallamin (2001, p.15) como “situação urbana”, que a qualifica como: “um conjunto de relações 2 O Muralismo foi um movimento artístico nascido no México, no século XX, com o propósito principal de democratizar o conhecimento histórico através da arte em espaços públicos, onde povo podia apreciá-la. Estas formas de arte representavam, em muros e através de diversas formas de expressão (escultura, painéis e gravuras), opiniões e críticas dos artistas que buscavam dialogar com a cidade e todo o povo sobre fatos históricos, políticos e sociais (WEBSTER, 1992). 3 A Pop Art foi um movimento artístico cultural iniciado na década de 60 por artistas que buscavam representar uma arte popular, extraída do cotidiano da época. Através da observação de sua realidade social, em que o predomínio de elementos industriais e tecnológicos era evidente, utilizavam a ascensão de ícones urbanos, como a história em quadrinhos, a publicidade, as imagens televisivas, o cinema e o crescimento das metrópoles para criar suas obras e, assim, questionar e dialogar sobre as transformações vividas (STERWOLD, 1999). 8 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 históricas políticas, econômicas, culturais, sociais e estéticas cujos sentidos perpassam sua materialidade”. É por isso que o conteúdo da arte urbana revela os comportamentos, as gírias, as reivindicações, a troca de opiniões e de experiências do indivíduo com a sociedade (RUSSI, 2002). A arte urbana carrega consigo múltiplas significações, as quais são construídas através da sua relação com o público, nas suas “maneiras de apropriação e coletividade” (PALLAMIN, 2001, p.19). Um dos seus significados é ser uma prática social. As obras na cidade envolvem “propósitos estéticos” com “significados sociais”, tratando de temas, na maioria das vezes, culturais e políticos (idem, p.24). De acordo com Pallamin (2001, p.13), desde sua origem até os dias atuais, a arte urbana, como é o caso do graffiti, é uma “mediadora dos processos de conflito nas relações sociais”. São os jovens os maiores responsáveis pela expansão, atualmente, das práticas artísticas temporárias no espaço urbano: ...na segunda metade do século XX, os jovens tornaram-se protagonistas das culturas de rua e, com eles, suas experiências e vivências metropolitanas transformaram-se em estéticas que, se inicialmente caracterizavam-se pelo tom alternativo e de pequenos grupos, aos poucos vão sendo absorvidas e legitimadas pelo campo da comunicação visual. (BORELLI; OLIVEIRA, 2008, p.9) Dentro das diversas classificações de arte urbana, segundo estudo de Kessler (2008), o graffiti está contido na street art ou “arte de rua”. Essa denominação, para Farina, é recente e bastante aberta: Uma intervenção feita na cidade, principalmente, à base de stickers, stencils, posters ou colagem de azulejos [...] abre várias possibilidades. Para alguns significa a extensão de seu trabalho enquanto graffiteiro tradicional, para outros que vêm do universo da arte, ilustração e design, um novo formato de intervenção urbana, que tem pouca ligação com o graffiti tradicional. A fronteira entre o “graffiti tradicional” e a street art acaba por ser bastante tênue e quase indecifrável. (2008, p.141) Com base no ponto de vista de Kessler (2008), a street art reúne todas as práticas Opinio, n.22, jan./jun. 2009 9 visuais de intervenções realizadas no espaço da cidade, tais como o graffiti4, os cartazes (posters), os stickers5 e o stencil6, entre outras técnicas complementares. É necessário conceituar graffiti, palavra-chave desse trabalho. Inicialmente, a título de esclarecimento, cabe observar o que distingue o graffiti da pichação: apesar de andarem lado a lado, historicamente, o graffiti veio das artes plásticas, privilegiando a imagem ou desenho, e a pichação derivou da escrita, exaltando a letra e a palavra (GITAHY, 1999). De acordo com Gitahy (1999, p.13), a palavra graffiti: “é o plural de graffito. No singular, é usada para significar a técnica (pedaço de pintura no muro em claro e escuro). No plural, refere aos desenhos (os graffiti do Palácio de Pisa)”. Já graffitar significa: “riscar, documentar, de forma consciente ou não, fatos e situações ao longo do tempo. Diz respeito a uma necessidade humana como dançar, falar, dormir, comer, etc.” (idem, p.12). Souza e Melo (2007) relatam que o processo que desencadeou o surgimento do graffiti como intervenção urbana é marcado por dois episódios históricos: o primeiro foi a organização estudantil que ocorreu em maio de 1968, na França, através da qual estudantes reivindicaram mudanças no sistema de ensino de inúmeras formas, dentre elas, utilizando escritas em muros. A frase mais conhecida e aplicada nos muros era “É proibido proibir”. O segundo fato nasceu em Nova Iorque, quando imigrantes negros e porto-riquenhos que moravam em periferias realizaram manifestações em ruas e metrôs, buscando também uma maneira gráfica que reforçasse suas identidades e culturas. A partir desses dois acontecimentos, o graffiti cresceu mundialmente, passando a ser associado à juventude, rebeldia, ao protesto e a um caráter revolucionário. No Brasil, o graffiti chegou na década de 60, como atitude política, com a vinda das tintas em spray. Borges (2006) afirma que era por meio do graffiti com spray que as ideias e opiniões populares se manifestavam contra a ordem estabelecida na época, em plena ditadura militar. E que, por isso, foi bastante reprimido, como todas as formas de arte e cultura o foram naquele período. De manifestação popular contra o governo, nas décadas de 60 e 70, o graffiti, evoluiu como linguagem artística e se sobressaiu no final da década de 70 e início da década de 80 (GITAHY, 1999; SOUZA, 19 nov. 1986; A ARTE DE RUA, 10 dez. 1986). 4 Para Gitahy, a palavra “graffiti” origina-se da grafia italiana: graffito. Esse termo foi escolhido pelo autor porque, para o mesmo, a palavra original tem “intensidade significativa” dentro do contexto onde está inserida (1999, p.13). Farina (2008) esclarece que a internacionalização do tema justifica a escolha do termo “graffiti” em seu trabalho. É devido à importância desses dois argumentos que, ao invés de ser adotada a palavra aportuguesada “grafite” (alguns autores como Silveira [2008] e Silva [2008] a utilizam em seus estudos), neste artigo é adotado o termo graffiti. 5 Stickers, segundo Farina (2008), são adesivos com informações elaboradas artesanalmente por graffiteiros. Normalmente, são colocados em vários lugares da cidade e sua composição contém algum elemento (letra ou desenho) que caracterize ou identifique o autor. 6 O termo “stencil”, ao invés de “estêncil”, é adotado pelos mesmos argumentos apontados na nota sobre o graffiti. 10 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 Nos últimos anos, o graffiti vem ganhando cada vez mais espaço na mídia e como meio de comunicação (SILVEIRA, 2008; SOUZA, MELO, 2007). Gitahy (1999) relata que o precursor do graffiti, no Brasil, foi Alex Vallauri. De origem ítalo-etíope, Vallauri chegou ao Brasil em 1964. Primeiramente, desenhava graffiti simples, em uma cor. A partir dos anos 80, passou a utilizar máscaras, criadas em suas aulas de gravura na faculdade. Borges relata que Vallauri criava personagens do cotidiano e que desenhava com spray. Nesse ambiente que surge, segundo Marcos Villaça, Alex Vallauri um dos primeiros artistas a desenhar com spray. Ele criou nessa época seus primeiros personagens no cais do porto de Santos, todos atores sociais do próprio local, como marinheiros, prostitutas e estivadores. (BORGES, 2006, p.1) São precursores do graffiti como expressão artística no Brasil, além de Alex Vallauri, Waldemar Zaidler, Carlos Matuck e Maurício Villaça (WEBSTER, 1992). Na cena atual do graffiti brasileiro, os artistas em evidência são: MZK, os Gêmeos, Nunca, Titi Freak, Zezão, Deddo Verde e Celso Gitahy (SAIBA MAIS..., 4 ago. 2005; FUKUSHIRO, 5 dez. 2007). Como já foi referido, o jovem, tanto na história do graffiti quanto na contemporaneidade, é o desencadeador de manifestações urbanas (BORELLI; OLIVEIRA, 2008). Assim, além de ter o jovem como criador, são características do graffiti, na atualidade: ter a cidade como suporte, e não somente as paredes; apropriarse das imagens do consciente coletivo; discutir e denunciar valores sociais e atribuir humor, ironia e criatividade a suas obras (GITAHY, 1999). No entanto, há a possibilidade de o graffiteiro produzir sua arte sob encomenda. E é desta forma que o espaço entre o universo do graffiti e as práticas midiáticas se torna cada vez menor: quando agências de comunicação encomendam algo ao artista. Assim implementam-se tanto novos regimes de anunciabilidade pública (seja como estratégia espontânea de marketing, seja como impulso e disposição à midiatização), quanto lógicas de experimentação estética, onde a própria expansão do grafite, na busca de outras linguagens e na testagem de formas expressivas até certo ponto inéditas, também passa a ser tentada. (SILVEIRA, 2008, p.4) Kessler (2008) descreve vários trabalhos publicitários realizados por graffiteiros em Porto Alegre, para diversas empresas, universidades, lojas de esportes e para as próprias agências de publicidade, como a campanha publicitária para a rádio Atlântida FM, os desenhos para a campanha da empresa de refrigerante Coca-Cola e para a loja de skate Wear. Opinio, n.22, jan./jun. 2009 11 Dessa forma, seja inserindo-se em diferentes áreas, seja acolhendo novos campos de experimentação, o tema graffiti apresenta situações diversificadas. A sua realidade está em plena e contínua ascensão, assim como o stencil graffiti (GITAHY, 1999; VILAS, 2004; RIBEIRO, 2007), assunto da próxima subseção. 4 O STENCIL GRAFFITI Sabe-se que o graffiti, desde sua origem, é conceituado como uma arte urbana que se utiliza do spray e da criação à mão livre. O stencil graffiti diferencia-se do primeiro por usar a máscara chamada “stencil” como instrumento de criação (FARINA, 2008). O stencil é um molde feito de cartolina, material radiológico ou outro material firme, mas passível de recorte. Ao ser recortado, colocado em superfície lisa ou plana e recebendo aplicação de tinta, o stencil permite reproduzir um desenho ou texto de maneira rápida e fácil (idem). A estética do stencil graffiti se apropria de fragmentos de imagens, textos e signos icônicos (BORGES, 2006). Tais fragmentos constituem imagens enigmáticas, repetidas exaustivamente, atributo herdado da Pop Art, e preenchem paredes, postes, muros, fachadas, viadutos, entre outros suportes urbanos (GITAHY, 1999). A origem da prática do stencil é muito antiga. Historicamente: na China, o stencil era utilizado para criação de figuras do Buda; na Europa, no período Medieval, era aplicado na decoração de igrejas; na França, servia de suporte para criação de pôsteres durante a Art Nouveau, nos séculos XIX e XX (FARINA, 2008). Para Borges (2006), a arte do stencil graffiti nasce no espaço urbano com o intuito de embelezar e colorir a cidade fria e cinzenta: O movimento de arte stencil surge na cidade com um viés estético vindo do graffiti, como uma forma de “enfeitar” a cidade. Zaidler lembra que Vallauri era apaixonado por imagens e que se relacionava com a cidade de uma maneira diferente, a tratava como “uma estamparia, um espaço para aplicar imagens”. (2006, p.2) De acordo com os estudos de Farina, os europeus foram os grandes introdutores de estratégias e ações urbanas, como o cartaz e o stencil: “a entrada do stencil graffiti, ação que quase virou um movimento dentro da cultura graffiteira em Paris, no início dos anos oitenta, foi representada fortemente por Blek Le Rat” (2008, p.67). Hoje, mundialmente, também são notórias as artes de Banksy e Bandit (idem). Já no Brasil, na década de 80, segundo Gitahy (1999), o graffiti, antes de ser convocado aos espaços das galerias, denominava-se “spray art”, com a valorização do desenho, e, em seguida, passou a ser chamado “stencil art”, com a valorização da cor. 12 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 Essa conceituação seria uma divisão já existente, diferenciando o graffiti do stencil graffiti. Gitahy (1999) menciona essa divisão na década de 80 e Cairrão (2005) verifica que, nos últimos anos, essa mudança na produção do graffiti está mais presente, resultando da evolução das técnicas complementares. Essa evolução é chamada de pós-graffiti ou street art, como já referido na seção anterior. A técnica de repetição do stencil graffiti, como conhecida hoje no Brasil, só foi explorada posteriormente. Nos anos 80 não existia preocupação com a mensagem e não havia relação com a propaganda. A “stencil art” necessitava ser rápida e emitir uma mensagem quase que instantânea a indivíduos aleatórios que passassem pelo local (BORGES, 2006). Apesar da vontade de comunicar uma mensagem instantânea, era necessário que a arte do stencil fosse planejada com grande antecipação. É o que revela, em entrevista para Prado (2005), Matuck – como já visto, um dos precursores do graffiti no Brasil. Matuck relata que o stencil era uma técnica menos espontânea que o graffiti e que exigia uma análise crítica da cidade para melhor “pensar e executar a intervenção”. Nessa análise ainda observava, como fatores importantes, o espaço a ser aplicado (normalmente paredes velhas ou mal conservadas), o tamanho da máscara a ser confeccionada, a cor e o contexto da intervenção na cidade (PRADO, 24 jul. 2005). É o que Borges também afirma: Há no movimento do stencil uma vontade de comunicar, de ser interpretado, abrir um diálogo com o cidadão. Por ser planejado, o stencil permite uma crítica maior com a cidade, é uma intervenção pensada, com uma imagem pronta, muitas vezes feita para um determinado lugar, ou para lugares que atendam a certas características pré-determinadas. (BORGES, 2006 p.3) Desta forma, o stencil graffiti se insere na cultura graffiteira exaltando cuidado técnico, planejamento de trabalho, critério na escolha de lugar e de cores. Farina (2008) conceitua tais ações como um processo criativo. Para a autora, a arte do stencil graffiti carrega consigo uma “veia crítica e artística” muito forte, muitas vezes apresentada com “acidez e criatividade” (2008, p.67). Também já foi referido que outra marca evidente do stencil graffiti é a reprodução repetitiva, o que só é possível a partir de uma matriz e ou máscara. Segundo Farina: “as matrizes eram e continuam sendo trabalhadas a partir de imagens retiradas de revistas, de fotos, de imagens pré-existentes reinventadas a partir de recursos tecnológicos para atualização em suporte urbano” (2008, p.68). Com isso, é possível verificar que o uso de técnicas digitais pode fazer parte das etapas de produção de um stencil. Usando-o, para as matrizes serem recortadas, é necessário transformar a imagem escolhida em elemento gráfico, através de um processo chamado de “vetorização”. Essa ação torna possível o recorte de imagem ou do texto, determinando os espaços para aplicação Opinio, n.22, jan./jun. 2009 13 do spray. O spray atravessa a máscara recortada, deixando no suporte a forma final desejada (idem). Farina, estudando o graffiti na emissora de televisão MTV, ressalta a proporção que a arte assumiu no cotidiano das cidades e das pessoas: ...a imagem-graffiti está no universo de imagens que habita o imaginário coletivo, absorvida por todas as camadas sociais. Por isso talvez, ela também esteja cada vez mais relacionada esteticamente a marcas de roupas, carros, alimentos e outras que procuram na virtualidade graffiti, um conceito ou uma identidade visual para seus produtos. (2008, p.72) O contexto citado por Farina (2008) – virtualidade graffiti – é uma linha virtual que a autora chama de “institucionalização: ligado ao sistema comercial”, seja de arte, moda ou de publicidade (p.71). É a partir de ações e atualizações geradas pelo encontro dessas artes com trabalhos publicitários ou empresariais que o assunto stencil graffiti na publicidade é abordado de forma mais específica no próximo item. 4.1 O stencil graffiti e a publicidade O stencil graffiti, assim como o graffiti, o lambe-lambe e os stikers, entre outras formas de arte urbana, são instrumentos utilizados pelo marketing de guerrilha, quando este é planejado na forma de intervenção urbana (CASTRO, 2008). As estratégias de guerrilha buscam e experimentam novidades, permitindo ousar, de forma criativa, dentro de um mercado. As ações deste tipo de marketing, além da abordagem inesperada, têm por características o pouco recurso financeiro e a apropriação do espaço urbano (idem). Seu uso é aplicável a empresas que tenham em seu perfil características de jovialidade e cujos produtos/ serviços sejam dirigidos ao público jovem (RIBEIRO, 2007). Estas empresas utilizam o marketing de guerrilha, muitas vezes, para descobrir e desenvolver novas tendências. As experimentações urbanas como o graffiti e o stencil graffiti são referências particularmente mais utilizadas pelos campos da moda, publicidade e comunicação visual: Os campos da moda, publicidade e comunicação visual voltam-se, cada vez mais, para estas práticas e aí encontram suas referências estéticas e conceituais para manterem-se atualizados na tentativa de antecipar tendências e linguagens que poderão se tornar corriqueiras, poucas semanas ou meses depois. (BORELLI; OLIVEIRA, 2008, p.4) As agências de publicidade, na criação de suas campanhas, podem escolher o stencil graffiti como um dos diversos referenciais que reportam a uma linguagem jovem 14 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 e urbana, despertando interesse de seu público-alvo. O stencil graffiti está presente, mesmo que recentemente, em campanhas publicitárias em diferentes países. Ver, no anexo B, figuras 1, 2, 3 e 4, exemplos obtidos em pesquisa na internet, que mostram trabalhos publicitários realizados em diferentes partes do mundo. Segundo Siqueira (2006), no Brasil, algumas empresas já realizaram campanhas publicitárias com a arte do stencil em espaços urbanos. São exemplos Vivo, C&A, Sony-Ericsson e Nike, com aplicações em São Paulo. O autor relata como ocorreram a campanha da Nike, em 2005, e a divulgação de um filme, em 2006, nas ruas da metrópole paulista: [A publicidade da Nike]...tinha como princípio impressões nos muros e tapumes da cidade de São Paulo com os slogans da campanha, onde não se assinava nem se colocava o logo da empresa, muito provavelmente para que não ocorressem problemas com a justiça. Recentemente foi promovido um mesmo tipo de publicidade com o filme “A concepção” de José Eduardo Belmonte. Estênceis vermelhos com a marca do filme foram espalhados pelo bairro da Vila Madalena em São Paulo, famosa região boêmia da cidade e com grande concentração de artistas. (2006, p.43) Cabe registrar, que, embora as potencialidades tanto do graffiti quanto do stencil graffiti e de toda a arte urbana para servir, de forma criativa, a diferentes áreas, entre elas a comunicação publicitária, pouco foi encontrado, em termos desse uso no Brasil, em pesquisas bibliográficas e nos endereços eletrônicos pesquisados. Desta forma, a pesquisa a seguir apresentada pode ser vista como um exercício para revelar um pequeno recorte do universo do uso do stencil graffiti para a comunicação publicitária, ao mostrar o que está sendo feito, neste sentido, em Porto Alegre, no ano de 2009. 5 O USO DO STENCIL GRAFFITI PARA COMUNICAÇÃO PUBLICITÁRIA EM PORTO ALEGRE, em 2009 Como já foi referida, a pesquisa realizada para alcançar os objetivos do artigo é de nível exploratório. É um estudo de campo cuja amostragem foi composta por artes inseridas em ruas e avenidas onde há grande circulação de jovens, por se tratarem de locais que concentram espaços de lazer para este público, em Porto Alegre. Teve como técnica de coleta de dados a observação sistemática, realizada a partir de um roteiro de itens analisados. Tais itens foram respondidos para cada stencil graffiti encontrado. Ainda, cada uma dessas artes analisada foi documentada através de fotografia, apresentadas no Apêndice E. É necessário esclarecer que, para responder o item cinco do roteiro, descrição da arte, foi obrigatória a realização de uma pesquisa posterior, buscando informações para identificar e classificar os stencils encontrados como comerciais, artísticos ou Opinio, n.22, jan./jun. 2009 15 espontâneos. Para isso, foi utilizado o site de busca Google (www.google.com.br), colocando como palavra/expressão a ser procurada o conteúdo do stencil em análise. Além disso, foram feitas também duas entrevistas por e-mail, em 5 de junho de 2009, uma com Marcelo Pferscher, representando a empresa Fescher Neoilustrações, e a outra com Nicholas Paim, representando a Alopratoons Ilustrações. As questões das entrevistas abordaram o uso do stencil graffiti em Porto Alegre para comunicação publicitária. Também já foi referida neste artigo a observação exploratória datada de 7 de março de 2009, cujos resultados serviram de base para a definição dos locais a serem observados na pesquisa final. Desta forma foram escolhidas, para a pesquisa, as avenidas: Mauá, no Centro de Porto Alegre; Independência e Osvaldo Aranha, no bairro Bom Fim; Goethe, no bairro Rio Branco; e as ruas José do Patrocínio e General Lima e Silva, na Cidade Baixa. A coleta de dados ocorreu em 24 de maio de 2009, um sábado, a partir das 14h. 5.1 Análise de resultados Em todo o trajeto percorrido, duas ruas e quatro avenidas, foram capturadas 24 artes feitas com stencil graffiti. Foi verificado que, em relação ao graffiti e à pichação, o stencil graffiti é o tipo de arte urbana menos usado. Quando o conteúdo é observado, a comunicação publicitária está presente em dez artes, ou seja, 42 % tinham algum vínculo comercial. Como Farina (2008) já havia relatado, as intervenções, quando comerciais, caracterizam-se por pertencer aos campos das artes, da moda ou da publicidade. Foi observado, nesta pesquisa, que o campo das artes foi o mais explorado pelos interventores. São exemplos disso o stencil graffiti de divulgação da Bienal B, o stencil para divulgação do grupo musical “comando da selva”, a fachada do Bar Opinião e a marca da rádio web “457FM”. Foi percebida a forte ligação dos stencils graffitis com a arte musical. A marca “disco-nexo”, “457fm”, “comando da selva” e a fachada da casa de shows são divulgações ligadas ao mundo da música (para conferir tais stencils, ver Apêndice E). Porém, é necessário salientar que, quando se trata do uso publicitário da intervenção, a grande maioria das artes em stencil graffiti encontradas, exceto a fachada do Bar Opinião, não tem o planejamento técnico citado por Farina (2008), seja no conteúdo, seja na criação da arte. Um exemplo observado é o stencil graffiti “457FM”. O processo criativo que a autora atribui ao stencil graffiti e a “acidez e criatividade” evidenciadas pela mesma não foram significantemente exploradas nesse stencil. Tanto nas alternativas de suporte, com a falta de escolhas mais criativas, utilizando apenas paredes e muros, quanto na composição das cores, porque predominou somente uma única cor para cada stencil, principalmente o preto. Como exceção, nesta pesquisa, no Bar Opinião foi encontrada uma rica variedade de tamanhos, formas de desenhos (músicos e instrumentos musicais) e qualidade 16 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 artística nos stencils graffitis aplicados em toda a estrutura da casa, formando, assim, uma composição criativa de stencils graffitis sobre o universo da música, mercado em que a organização atua. Foi apurado que a virtualidade do graffiti conceituada por Farina (2008) aparece em parte dos stencils graffitis publicitários analisados. O uso dessas artes, observadas no espaço urbano da cidade, é frequente também em espaços virtuais. Elas, além de expostas nas ruas, são exibidas em blogs e sites como o My Space. Sobre os espaços aplicados, no período deste artigo, foi observado que os stencils graffitis estavam principalmente em espaços privados, e não públicos, confirmando o que Borges (2006) descreve ser uma característica do stencil graffiti como arte urbana: o fator proibição. Embora isto não tenha sido pesquisado, a arte aplicada no local privado não necessariamente pode ter sido autorizada pelo proprietário. Outra questão revelada é o tipo de estabelecimento mais utilizado: 50% dos stencils graffiti encontrados tinham por suporte paredes de organizações comerciais, como loja de roupas, curso de inglês, banca de revista, bares e restaurantes; em segundo e terceiro lugares ficaram prédios/residências e o espaço público, respectivamente com 33% e 17%, sendo que o tipo de suporte mais visado é a parede, com 71% das escolhas e, em segunda opção, o muro, com 17 %. Devido a isso, é verificado que a rica reprodução de stencils graffitis em diferentes suportes, não se limitando a paredes, relatado por Gitahy (1999) não se apresenta dessa maneira nos locais pesquisados. No resultado desta pesquisa, foi destacada também a aplicação de stencils graffitis em superfícies bem conservadas, pintadas. Isto contradiz o que Prado (2005) afirma: que são escolhidas paredes velhas e mal conservadas para a aplicação do stencil graffiti. Quando observado o tamanho das peças, foi verificado que houve uma grande variação. As dimensões observadas foram de 10cm², o tamanho menor, até artes com 100cm², sendo que em média, as artes observadas possuíam 15x30cm. Em 75% dos casos, a visibilidade das artes não era comprometida. Ou seja, a arte era visível, porém não era o principal elemento do contexto, sendo considerada, portanto, como complementar. São exemplos: a arte do muro da Mauá, “você está sendo enganado” que, apesar do tamanho, considerado grande em relação às demais artes pesquisadas, foi aplicado de forma complementar, sendo a extensão do muro graffitado; e o stencil graffiti “disco-nexo”, que foi encontrado junto a diversas intervenções mais importantes do que ele, no contexto (ver Apêndice E, figuras 3, 4, 21 e 22). Já em duas ocasiões (8%), os stencils graffitis eram pouco visíveis e em outras quatro (17%), cumpria a função de principal arte, a de destaque. A repetição exaustiva é uma característica do stencil graffiti, segundo Gitahy (1999) e Farina (2008), porém, na presente pesquisa, a repetição foi encontrada no mesmo suporte em sete artes, sendo que somente duas artes encontradas tinham sido repetidas mais de três vezes no mesmo suporte. A maioria dos locais observados, cerca de 71%, continha uma única aplicação do stencil graffiti. Assim, não foi confirmada essa Opinio, n.22, jan./jun. 2009 17 característica do stencil graffiti apresentada na fundamentação teórica. Cabe esclarecer que este resultado refere-se à repetição observada no mesmo local. Quando a repetição é observada em todos os locais pesquisados o resultado obtido foi a repetição de quatro artes analisadas, ou seja, 17% foram observadas mais de uma vez no trajeto percorrido, sendo aplicadas em diferentes contextos (local, suporte, cor). São elas: “457FM”, encontrada duas vezes na avenida Independência e três vezes na avenida Osvaldo Aranha; o stencil graffiti “amt”, encontrado cinco vezes na avenida Independência, em três suportes diferentes; a intervenção “somos todos sem escola”, observado uma vez na avenida Osvaldo Aranha e uma vez na rua José do Patrocínio e, por fim, a arte “desaparecida”, vista uma vez na avenida Mauá e uma vez na rua José do Patrocínio. Resumindo 8% das artes foram repetidas cinco vezes, 8% das artes foram repetidas duas vezes e 84% das artes não foram repetidas, em toda observação. Cerca de 42% dos stencils foram artes únicas no espaço e 58% foram encontradas com outros tipos de artes, tais como graffitis, desenhos à mão livre, adesivos, lambelambes. A linguagem jovem do graffiti e do stencil graffiti que Borelli e Oliveira (2008) indicam está presente no estilo das intervenções observadas. Embora muito subjetiva e em pequena tiragem de repetições, as intervenções coletadas são manifestações de grupos, “adultos jovens”, que reivindicam e divulgam suas identidades e gostos a partir da música e da crítica. Basta observar e visitar os conteúdos disponibilizados nos seus próprios sites ou blogs indicados nas intervenções: “comando da selva” e “upgrade do macaco”. O público que esses grupos buscam atingir é o próprio jovem e, através do stencil, divulgam seus conteúdos. Soma-se à afirmação anterior o resultado de que quatorze artes (58%) eram ações espontâneas, consistindo em críticas sociais ou manifestações artísticas; sendo que a maior concentração de artes com stencil graffiti teve por conteúdo a crítica social, confirmando o que Farina (2008) e Borges (2006) já indicavam em seus estudos. Foram exemplos claros de manifestação e crítica os stencils graffitis “somos todos sem escola”, “o centro é do povo”, “rede de resistência solidária” e “olhe em volta, você está sendo enganado”. Mesmo que o stencil graffiti esteja crescendo através do seu uso em diferentes áreas, as intervenções estudadas, no universo estudado ainda são semelhantes às descritas por Borges (2006) na década de 80, quando eram observadas mensagens espontâneas ou de crítica social, sem preocupação com o público definido a ser atingido. Os exemplos mencionados no parágrafo anterior o confirmam. Quanto às características estéticas das artes, foi verificado que uma única arte (4%) em stencil graffiti trazia imagem; doze (50%) possuíam apenas textos e onze (46%) intervenções continham textos e imagens juntos. Em 62,5% dos casos foi observada a presença de uma única cor, o preto. Nesta pesquisa, portanto, não se comprova o que Borges (2006) afirmou, ao dizer que o stencil surge para embelezar e colorir a cidade fria e cinzenta. A maioria das artes (92%) era monocolor, tendo sido aplicadas 18 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 separadamente, além do preto, as cores: marrom, vermelha, roxa, rosa e branca. Assim, pouco foi explorado, nesses stencils graffitis, a acidez e criatividade descritas como tendência da arte do stencil graffiti no mundo, nos estudos de Farina (2008). Uma peculiaridade do stencil graffiti citada por Gitahy (1999), a criação de personagens e imagens enigmáticas gerando curiosidade, se confirmou nesta pesquisa nos stencils graffitis “desaparecida”, o menino graffitando, a imagem da Mona Lisa com texto “ela gosta de chamar a atenção”, o macaco do coletivo UpGrade do Macaco, os músicos do Bar Opinião e no próprio texto “amt”, sem significado aparente (ver Apêndice E, figuras 9, 10, 11, 12, 13 e 14 do stencil “amt”). Apenas os stencils graffitis do Bar Opinião e do grupo UpGrade do Macaco com fins comerciais. Considerando todos estes resultados, foram identificadas como características em comum do stencil graffiti em Porto Alegre, tanto com objetivo comercial, como crítico ou espontâneo: a predominância da cor preta; a não repetição da arte; a aplicação em espaço privado, tendo como suporte principal as paredes e muros de organizações comerciais; e um dos temas mais abordados voltado para um campo das artes – a música. Ao analisar somente artes com objetivo comercial, foram observadas as mesmas características descritas sobre os stencils graffitis em geral, salientando, entretanto, a questão cor, pois, além do preto, foram utilizadas, separadamente, mais cores, como o rosa, roxo, vermelho, marrom e branco. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Embora o uso do stencil graffiti para a comunicação publicitária seja tímido, esta forma de intervenção artística urbana já está sendo utilizada para fins comerciais. Assim a hipótese “A” se confirma: sim, o stencil graffiti é usado para comunicação publicitária em Porto Alegre. O stencil graffiti, de um modo geral, é usado em pequena escala em Porto Alegre comparado ao graffiti e à pichação, muito mais desenvolvidos nas áreas estudadas. Sua aplicação ainda se concentra nos objetivos de crítica e como manifestação espontânea. Quando aplicado para uso comercial, o tema mais encontrado é música, com divulgação de festa, de bandas e de rádio na web, todos destinados ao público jovem. As intervenções publicitárias encontradas na pesquisa, apesar de repetidas em pequenas quantidades, foram criadas por grupos que buscavam divulgar suas identidades e estilos, na maioria das vezes, musical, através da linguagem jovem que o stencil graffiti representa. O stencil graffiti porto-alegrense, analisado nesse estudo científico, não tem o mesmo primor encontrado nos estudos de Siqueira (2006) sobre o stencil graffiti em São Paulo, sendo observado na cidade gaúcha mais como ação semelhante à relatada por Gitahy (1999), no surgimento do stencil graffiti no Brasil, quando a mensagem Opinio, n.22, jan./jun. 2009 19 era para um público não definido, com conteúdo crítico à sociedade e/ou muito mais espontâneo. De um modo geral, o conteúdo dos stencils graffitis em Porto Alegre está mais voltado à ação espontânea ou de crítica social do que publicitária. Mesmo a pesquisa tendo encontrado um stencil graffiti provavelmente realizado sob encomenda, como é o caso do Bar Opinião, as artes de objetivo comercial se mostram tímidas e as ações, em análise geral, não demonstram um planejamento aprofundando. Indiferente do objetivo, a maioria é caracterizada pela predominância da cor preta, do uso de texto e imagem ou de somente texto, do suporte principal ser a parede, da falta de grandes repetições e, por fim, da visibilidade da arte no suporte não estar comprometida, mas sendo classificada como arte urbana complementar, comparada com outros tipos de intervenções, que tiveram mais destaque, aplicadas no mesmo espaço. A pesquisa apresentada teve validade nos estudos de comunicação e cultura, pois descobriu as características principais da ação urbana chamada stencil graffiti em Porto Alegre e deu, portanto, o primeiro passo na observação do stencil graffiti tanto como fenômeno urbano quanto na análise de seu desenvolvimento e de suas potencialidades para comunicação publicitária na capital gaúcha. Deste modo, é sugerido, como incentivo a novas pesquisas na área, abordar assuntos como: as particularidades da cidade de Porto Alegre e suas possibilidades para ações de marketing de guerrilha; ou porque o stencil graffiti não é utilizado em maior quantidade em Porto Alegre para comunicação publicitária. Essa última questão pode ser obtida com a ajuda de um levantamento de informações com as agências de publicidade e de propaganda da capital. REFERÊNCIAS A ARTE da rua: no Rio, exemplos da nova pintura americana. Veja, São Paulo, p.175, 10 dez. 1986. 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Para tanto, o roteiro de observação foi definido a partir de avenidas principais da cidade e considerando, principalmente, centro e bairros com grande movimentação de jovens, pela concentração de bares noturnos e outros atrativos para os mesmos. A observação iniciou às 11h do dia 7 de março, e contemplou os bairros Independência, Bom Fim, Rio Branco, Cidade Baixa e Centro, saindo da avenida Independência e passando pelas avenidas Goethe e Ramiro Barcelos. O que mais foi encontrado neste trajeto foi pichação. Mas, na rua Mostardeiro, foram encontradas duas empresas com suas respectivas fachadas grafitadas: um posto de lavagem de carros e uma entrega de água (ver figuras 1 e 2 do Apêndice B). Na esquina da rua Mostardeiro com a avenida Goethe, foi encontrado um stencil de um fusca amarelo. Um símbolo aparentemente sem referência comercial, em meio a uma praça pública (ver figura 3 do Apêndice B). Na avenida Goethe, foram encontradas diversas variedades de graffiti, pichações, lambe-lambes de shows, stickers, entre outras formas de comunicação urbana. Destaque para a campanha das lojas de roupas jovens Gang, com seus cartazes em preto e branco, ao lado de diversos anúncios de shows. Esta campanha faz referência à arte de rua: só uma cor, com um desenho, no mesmo estilo usado para a confecção de stencils, no qual a imagem é trabalhada, para que haja contraste. (ver figura 4 do Apêndice B). Na avenida Goethe foi visto que existe graffiti e stencil em menor quantidade, porém o graffiti descoberto é, na grande maioria, espontâneo e não intencional. Já o estilo parecido com o stencil é usado na campanha Gang, provavelmente, por simular uma arte urbana, que, como visto na fundamentação teórica, é relacionada aos jovens. Entrando nas avenidas Ramiro Barcelos e Osvaldo Aranha e em suas transversais, foram encontrados, na Rua São Manoel, numa casa abandonada, graffitis com detalhes em stencil, de caráter irônico, com personagens. Na esquina da avenida Osvaldo Aranha com a rua Gen. João Telles, foi encontrada, na fachada da loja de roupas Artemis, uma arte mais estilizada, com aprimoramento no trabalho, que sugere ter sido feita por artista profissional e planejada para a loja. Na mesma esquina, um pouco adiante da loja Artemis, há uma arte mais espontânea, sem planejamento, com stencils pequenos, graffiti e pichação juntos, referindo-se a pessoas ou personagens, animais, bandas e shows. Ainda na Osvaldo Aranha, na esquina com a rua Santo Antônio, foi encontrado o Bazar Bonfim, cujo prédio é todo grafitado. Em ambas as esquinas, as lojas têm artes feitas especialmente para divulgação do espaço comercial. (ver figuras 5 e 6 do Apêndice B). 24 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 Após, a observação passou a ser feita na rua Irmão José Otão. Lá foi verificado, nas paredes de todo o contorno do Colégio Rosário, desenhos seguindo uma linha educacional. É possível deduzir que o trabalho tenha sido feito por seus alunos adolescentes. Na avenida Alberto Bins com esquina Coronel Vicente, a fachada da loja Digimer aparece toda grafitada. Os desenhos são produtos da loja estilizados. No Centro e Cidade Baixa, foram verificados muitos graffiti, alguns stencils e stickers. Na Avenida Praia de Belas, foram encontradas paredes de um quarteirão totalmente grafitadas e alguns stencils e pichações. Eram constituídos por artes diversas, com assinaturas de seus autores, de organizações não governamentais e de patrocinadores, como Petrobras e Ministério da Cultura, Unificado, entre outros (ver figuras 7 e 8 do Apêndice B). Na Rua da República, na Cidade Baixa, um dos bairros considerados boêmios de Porto Alegre, foi verificado desenho institucional da Escola La Salle. E na rua Luiz Afonso, esquina com João Alfredo, foi encontrado um mercado da rede AMMPA todo grafitado. A rua, como um todo, estava grafitada com diferentes artes. (ver figuras 9 e 10 do Apêndice B). Ainda na Cidade Baixa, na rua José do Patrocínio, é possível encontrar o Bar Opinião, famoso pelos shows que traz à cidade, com a parede frontal cheia de stencils – nome do bar (marca), tribais, imagens de pessoas, acessórios musicais, etc. Também havia diversos painéis com imagens em grande contraste, em preto e branco, com a mesma técnica vista nas artes feitas para as lojas Gang, apresentando caricaturas de artistas e celebridades, referindo-se aos shows já realizados no local (ver figuras 11 e 12 do Apêndice B). Através dessa observação, que se estendeu até às 16h15min. do mesmo dia, foi possível perceber que o stencil é encontrado nas ruas de Porto Alegre, principalmente em paredes perto de locais movimentados e frequentados por jovens, como bares, restaurantes, pubs, entre outros. Opinio, n.22, jan./jun. 2009 25 APÊNDICE B – REGISTRO FOTOGRÁFICO DA OBSERVAÇÃO EXPLORATÓRIA FIGURAS 1 e 2 – Artes em graffiti na rua Mostardeiro no bairro Rio Branco, Porto Alegre. Fonte: fotografia da autora, 7 mar. 2009. FIGURAS 3 e 4 – Stencil de um Volkswagen Fusca e campanha das lojas Gang, na avenida Goethe no bairro Rio Branco, Porto Alegre. Fonte: fotografia da autora, 7 mar. 2009. FIGURAS 5 e 6 – Fachadas de duas lojas na avenida Osvaldo Aranha no bairro Bom Fim, Porto Alegre. Fonte: fotografia da autora, 7 mar. 2009. 26 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 FIGURAS 7 e 8 – Muro todo graffitado na avenida Praia de Belas no bairro Cidade Baixa, Porto Alegre Fonte: fotografia da autora, 7 mar. 2009. FIGURAS 9 e 10 – Fachada de um mercado e parede toda graffitada no bairro Cidade Baixa, Porto Alegre. Fonte: fotografia da autora, 7 mar. 2009. FIGURAS 11 e 12 – Fachada da casa noturna chamada de Bar Opinião na rua José do Patrocínio no bairro Cidade Baixa, Porto Alegre. Fonte: fotografia da autora, 7 mar. 2009. Opinio, n.22, jan./jun. 2009 27 APÊNDICE C – ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO Bairro_ ______________________________________________________________ Endereço_____________________________________________________________ Espaço ( ) público ( ) privado Data ___________________ Tipo de estabelecimento_________________________________________________ Tipo de suporte (parede, muro, tapume, etc.)_________________________________ Descrição do suporte____________________________________________________ 1 Medidas aproximadas da arte__________________________________________ 2 Visibilidade no suporte ( ) Pouco visível ( ) Visível, mas não é o principal ( ) Principal arte 3 Repetição – quantas vezes_____________________________________________ 4 Única arte no espaço? Descrição das artes do entorno_______________________ 5 Descrição da arte Conteúdo (comercial – indicar produto/marca, manifestação espontânea, apenas artística, outra)______________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ Imagens___________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ Texto_____________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ Cores_____________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 28 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 APÊNDICE D – FORMULÁRIO Questionário Empresa/entrevistado: Local: Porto Alegre Endereço: Data: Fone para contato: Questões: 1 – Você conhece algum trabalho publicitário que foi feito com stencil graffiti? Qual? 2 – Quando foi? Onde foi aplicado? Você pode descrever um pouco sobre a(s) peça(s)? 3 – Quais são os locais de concentração de stencil graffiti (ou graffiti) publicitário, artístico ou mesmo espontâneo em POA? 4 – O stencil publicitário serve para atingir que tipo de público? 5- Você faz ou fez algum trabalho comercial (campanha, fachada, personalização de algum lugar, ou produto parecido) com o uso da técnica de stencil aqui em Porto Alegre? 6 – Se sim, quais foram? Onde eles foram aplicados? Para que marca ou produto/ serviço? 7 – Você conhece alguém ou algum grupo que trabalhe com essa mesma técnica aqui em Porto Alegre? Quem? 8 – Na tua opinião, o que leva à escolha do stencil graffiti como ferramenta publicitária? Opinio, n.22, jan./jun. 2009 29 APÊNDICE E – REGISTRO FOTOGRÁFICO DA PESQUISA FIGURAS 1 e 2 – Stencil graffiti do texto “gaucho” na Avenida Mauá, bairro Centro, Porto Alegre. Fonte: fotografia da autora, 24 maio 2009. FIGURAS 3 e 4 – Stencil graffiti do texto “olhe em volta... www.efeitoparalaxe.net” na Avenida Mauá, bairro Centro, Porto Alegre. Fonte: fotografia da autora, 24 maio 2009. FIGURAS 5 e 6 – Stencil graffiti “desaparecida” na Avenida Mauá, bairro Centro, Porto Alegre. Fonte: fotografia da autora, 24 maio 2009. 30 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 FIGURAS 7 e 8 – Stencils graffitis do Museu do Trabalho na Rua das Andradas, bairro Centro, Porto Alegre. Fonte: fotografia da autora, 24 maio 2009. FIGURAS 9 e 10 – Stencils graffiti “amt” em uma banca de revistas, na Avenida Independência, bairro Bom Fim, Porto Alegre. Fonte: fotografia da autora, 24 maio 2009. FIGURAS 11 e 12 – Stencil graffiti “amt” na parede de um comércio, na Avenida Independência, bairro Bom Fim, Porto Alegre. Fonte: fotografia da autora, 24 maio 2009. Opinio, n.22, jan./jun. 2009 31 FIGURAS 13 e 14 – Stencil graffiti “amt” na parede de um prédio antigo, na Avenida Independência, bairro Bom Fim, Porto Alegre. Fonte: fotografia da autora, 24 maio 2009. FIGURAS 15 e 16 – Imagens do stencil “457FM” em uma das laterais da banca de revista, na Avenida Independência, bairro Bom Fim, Porto Alegre. Fonte: fotografia da autora, 24 maio 2009. FIGURAS 17 e 18 – Stencil com a marca da exposição “Bienal B” e seu endereço eletrônico, na Avenida Independência, bairro Bom Fim, Porto Alegre. Fonte: fotografia da autora, 24 maio 2009. 32 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 FIGURAS 19 e 20 – Stencil graffiti imagem da Mona Lisa, na Avenida Osvaldo Aranha, Bairro Bom Fim, Porto Alegre. Fonte: fotografia da autora, 24 maio 2009. FIGURAS 21 e 22 – Marca da festa eletrônica Disco-nexo na Avenida Osvaldo Aranha esquina com General João Telles, bairro Bom Fim, Porto Alegre. Fonte: fotografia da autora, 24 maio 2009. Opinio, n.22, jan./jun. 2009 33 FIGURAS 23 e 24 – Composição de stencils graffitis aplicados em uma porta, na Avenida Osvaldo Aranha, bairro Bom Fim, Porto Alegre. Fonte: fotografia da autora, 24 maio 2009. FIGURAS 25 e 26 – Stencil graffiti “45.7FM” na Avenida Osvaldo Aranha no bairro Bom Fim, Porto Alegre. Fonte: fotografia da autora, 24 maio 2009. FIGURAS 27 e 28 – Stencil graffiti “45.7FM” na parede esquerda de uma fachada comercial, na Avenida Osvaldo Aranha, bairro Bom Fim, Porto Alegre Fonte: fotografia da autora, 24 maio 2009. 34 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 FIGURAS 29 e 30 – Stencil graffiti “45.7FM” na parede da loja roupas, na Avenida Osvaldo Aranha, bairro Bom Fim, Porto Alegre. Fonte: fotografia da autora, 24 maio 2009. FIGURAS 31 e 32 – Stencil graffiti “Somos todos sem escola” na Avenida Osvaldo Aranha, bairro Bom Fim, Porto Alegre. Fonte: fotografia da autora, 24 maio 2009. FIGURAS 33 e 34 – Stencil graffiti de um toca-discos, na Avenida Osvaldo Aranha, bairro Bom Fim, Porto Alegre. Fonte: fotografia da autora, 24 maio 2009. Opinio, n.22, jan./jun. 2009 35 FIGURAS 35 e 36 – Stencil graffiti, símbolos “A” e “TM” na Avenida Osvaldo Aranha, bairro Bom Fim, Porto Alegre. Fonte: fotografia da autora, 24 maio 2009. FIGURAS 37 e 38 – Stencil graffiti “o centro é do povo” em um restaurante na rua José do Patrocínio, bairro Cidade Baixa, Porto Alegre. Fonte: fotografia da autora, 24 maio 2009. 36 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 FIGURAS 39 e 40 – Stencil graffiti “somos todos sem escola”, na rua José do Patrocínio, bairro Cidade Baixa, Porto Alegre. Fonte: fotografia da autora, 24 maio 2009. FIGURAS 41 e 42 – Stencils graffitis em residência, na rua José do Patrocínio, bairro Cidade Baixa, Porto Alegre. Fonte: fotografia da autora, 24 maio 2009. FIGURAS 43 e 44 – Stencils graffitis em residência, na rua José do Patrocínio, bairro Cidade Baixa, Porto Alegre. Fonte: fotografia da autora, 24 maio 2009. Opinio, n.22, jan./jun. 2009 37 FIGURAS 45 e 46 – Fachada do Bar Opinião com detalhes dos stencil graffitis na rua José do Patrocínio, bairro Cidade Baixa, Porto Alegre. Fonte: fotografia da autora, 24 maio 2009. FIGURAS 47 e 48 – Stencil graffiti “DS 3T” no muro de residência, na rua General Lima Silva, bairro Cidade Baixa, Porto Alegre. Fonte: fotografia da autora, 24 maio 2009. 38 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 FIGURAS 49 e 50 – Muro com o stencil graffiti UpGrade do Macaco na rua General Lima e Silva, bairro Cidade Baixa, Porto Alegre. Fonte: fotografia da autora, 24 maio 2009. Opinio, n.22, jan./jun. 2009 39 ANEXO A Nota parcial do Santander para imprensa – Até setembro, Santander Cultural prossegue com a mostra TRANSFER _cultura urbana. arte contemporânea. transferências. transformações, reunindo ícones da arte urbana. Mostra aborda o fenômeno global desta arte que conquista cada vez mais espaço na sociedade contemporânea TRANSFER é organizada nos núcleos Beautiful Losers, Intervencionistas, Mauditos e Street Fine Art Porto Alegre, julho 2008 – O Santander Cultural – Unidade Porto Alegre está até 28 de setembro com a mostra TRANSFER_cultura urbana. arte contemporânea. transferências. transformações. A iniciativa propõe uma reflexão sobre a cultura produzida nas ruas das cidades, tanto do Brasil como em outras partes do mundo e reúne os principais ícones da arte urbana numa grande mostra brasileira, promovendo um amplo olhar sobre o tema e provocando reflexões sobre este movimento cultural. TRANSFER é um projeto abrangente e não se restringe apenas à mostra. É o ponto de partida para um laboratório de experiências e convivência. A realização do Santander Cultural reúne uma gama de obras e materiais de mais de 100 artistas, em torno de 300 obras de acervos privados nacionais e do exterior, além de vídeos e fotografias. Mais, onze obras/instalações criadas especialmente para a exposição. A iniciativa inclui também uma mostra de filmes inéditos no Brasil sobre arte urbana e uma centena de fotografias de intervenções urbanas e diversos vídeos. Um dos destaques de TRANSFER é uma ousada instalação de arquitetura “skatável”, ou seja, que pode ser percorrida por skatistas, criada pelo arquiteto Pedro Mendes da Rocha, com consultoria artística do coletivo Noh de skate, arte e arquitetura. Com curadoria de Lucas Ribeiro, Fabio Zimbres, Alexandre Cruz e Christian Strike, a exposição está organizada em quatro eixos – Beautiful Losers, Intervencionistas, Mauditos e Street Fine Art – que permitem visualizar influências da street art e contextualizá-las no panorama mundial. A mostra traz obras de artistas norte-americanos que expõem pela primeira vez no Brasil. Nomes como Thomas Campbell, Cheryl Dunn, KAWS, Glen E. Friedman, Chris Johanson, Mike Mills e Craig R. Stecyk III, estão em TRANSFER. “Este projeto é fruto da nossa atuação, nos últimos dois anos, em atividades com artistas, editores, galeristas, videomakers, representantes e pensadores da arte urbana. A ideia de TRANSFER, cujo próprio nome indica o conceito de transferência, é provocar a reflexão e o diálogo com o público sobre esta arte que está nas grandes metrópoles. Estamos discutindo as influências que recebem e exercem, bem como sua articulação com os mais variados segmentos sociais, tanto na mostra quanto nas 40 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 atividades simultâneas que realizaremos ao longo dos próximos três meses”, afirma Liliana Magalhães, superintendente do Santander Cultural. A arte urbana apresentada em TRANSFER tem trabalhos de artistas que usaram as ruas para se expressar, criaram seus próprios veículos de comunicação, redes de distribuição e valores estéticos. No espírito do it your self (faça você mesmo), com grande influência do movimento punk, esses artistas são alguns dos personagens do hip-hop, do skate, da arte do fanzine e de outras ramificações, conexões e evoluções da cultura urbana. Para Lucas Ribeiro, “Street art, pós-graffiti e intervenção urbana são algumas maneiras de chamar o fenômeno que passou a acontecer nas ruas de grandes metrópoles em meados dos anos 90 e, na virada do milênio, entrou em ebulição. Não é exatamente graffiti o termo que virou sinônimo da arte integrada ao movimento hip-hop, pois ignora suas regras, estilos e códigos de conduta. Com cartazes, adesivos, pincéis, stencils e até sprays, artistas e designers passaram a usar as ruas como suporte para se expressarem com as mais variadas técnicas e estilos”. “No espaço democrático e, muitas vezes, inusitado, das metrópoles, a arte retornou ao figurativo, resgatou o pop e usou técnicas de marketing e publicidade para atingir os cidadãos”, conclui Ribeiro. Desde o início do movimento até hoje, os artistas ligados à street art passaram a ocupar museus e galerias de arte conceituadas, além de participarem de filmes e documentários. Ao chegar nas prateleiras de grandes livrarias, lojas de discos, de moda e na publicidade, os personagens do movimento começaram a criar novas formas de integração com o espaço urbano. Trata-se de uma complexa cultura, com raízes na América do Norte, que cresceu até extrapolar as fronteiras do continente e tornar-se um fenômeno global. No Brasil ela ganhou força, identidade própria e atualmente é reconhecida e exportada para diversos continentes. Influência mundial Na mostra do Santander Cultural estão trabalhos inéditos de 27 artistas ligados ao Beautiful Losers: Contemporary Art and Street Culture, o maior e mais influente projeto de arte urbana itinerante já realizado no cenário mundial, que por sua importância é apresentado em um eixo exclusivo de TRANSFER. O projeto nasceu na América do Norte e aborda street art, música e produção cinematográfica, além de contar com uma rampa de skate aberta ao público em suas exibições. A iniciativa, que reuniu uma série de artistas – hoje com trajetórias internacionais – e trabalhos em pintura, vídeo, instalações, além dos relacionados ao skate, já passou pelo Contemporary Arts Center de Cincinnati nos Estados Unidos, pelo Tri Postal na França e integrou a Trienal de Milão na Itália, em 2006. Atualmente a exposição percorre o mundo destacando o grupo e suas origens. Opinio, n.22, jan./jun. 2009 41 A experiência brasileira Nos últimos anos, a arte urbana originou alguns grandes eventos no Brasil, embora não tão abrangentes quanto os do exterior. A exposição Fabulosas Desordens mostrou o Graffiti Wild Style e trabalhos de artistas plásticos que possuem raízes na Street Art no Rio de Janeiro. Na mostra A Conquista do Espaço, em São Paulo, com curadoria do coletivo de arte/design paulistano Base-V, foram apresentados os trabalhos de onze artistas de rua de diversos países, com uma bela seleção da arte de rua contemporânea. O Memorial da América Latina, também em São Paulo, recebeu Spray, uma exposição dos novos muralistas da capital paulista, com curadoria da Choque Cultural. A primeira exposição individual no Brasil dos irmãos Pandolfo, mais conhecidos como os gêmeos, foi na Galeria Fortes Vilaça, em 2006. No mesmo ano, na comemoração dos dois anos do Museu Afro Brasil, em São Paulo, foi realizada uma série de exposições temáticas. Entre elas, Território Ocupado, que examinou o trabalho dos artistas de rua como linguagem inovadora e contemporânea. Entre estes artistas estavam Speto, Kboco e Onesto. A arte de rua feita no Brasil teve o impacto das gerações apresentadas em Beautiful Losers, com injeções de criatividade, influências, adaptações e intercâmbios a nível global. Sem dúvida, o grupo foi pioneiro na abordagem da stree art. A marca continua tendo forte influência no Brasil e no mundo, sendo o ponto de partida para diferentes movimentos e cenas locais. Por outro lado, o movimento Punk, o Hip-Hop, o Skate e o Fanzine são produtos da contracultura norte-americana que se tornaram globais, com características e ramificações próprias em cada país que atingem, inclusive no Brasil. A intervenção urbana, tanto pela street art quanto pelo skate, sofreu uma série de mutações para se adaptar ao contexto brasileiro. Por exemplo, os artistas de rua, além de usar sprays, incorporaram a tinta látex e o rolinho de pintura às suas intervenções –- materiais mais econômicos e acessíveis para os brasileiros. No skate de rua brasileiro, é mais difícil usar a arquitetura das cidades como obstáculo/ plataforma para a expressão individual, tão popular nas metrópoles dos Estados Unidos e Europa. A dinâmica demanda muito mais esforço e intervenção dos skatistas, dada as condições de grande parte das ruas brasileiras. Barreiras e dificuldades relacionadas ao subdesenvolvimento também podem ser facilmente encontradas nos universos da música e publicações independentes nacionais. Ao mesmo tempo, é das dificuldades e diferenças culturais que a cultura brasileira estabelece seus diferenciais. Artistas nacionais como osgêmeos, Nunca e Bruno 9li expõem sem parar. Eles participam de inúmeros projetos em galerias, museus e lojas ao redor do mundo, além de receberem atenção especial da mídia especializada internacional, estampando capas de revistas, por exemplo. Os artistas brasileiros que representam São Paulo, Rio de Janeiro, Goiânia, Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia e Ceará na mostra TRANSFER são: Alberto Monteiro, Alex Hornest, Billy Argel, Bruno 9li, Carlos Dias, Fabio Zimbres, Felipe Yung (Flip), Flavio Samelo, Herbert Baglione, Kboco, Lauro Roberto, Lourenço Mutareli, Luciana Araújo, Luiz Fernando Schiavon, Marcelo Cidade, Mello, MZK, Nina Mores, 42 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 Nunca, Onio, Ramon Martins, Rim, Silvana Mello, Speto, Stephan Doitschinoff, Titi Freak, Vitché, Walter Nomura (Tinho) e Weaver Lima entre outros. Os quatro eixos de TRANSFER A mostra do Santander Cultural está organizada em quatro eixos que expressam o melhor da arte urbana mundial, em seus respectivos contextos: Beautiful Losers, Intervencionistas, Mauditos e Street Fine Art. 1 – Beautiful Losers Beautiful Losers apresenta ao público brasileiro 27 artistas e obras em diversos suportes como fotografia, serigrafia e vídeo, nunca antes exibidas no País. Entre eles, estão Andy Jenkins, Ari Marcopoulos, Barry McGee, Cynthia Connolly, Evan Hecox, Geoff McFetridge, Harmony Korine, Henry Chalfant, Jo Jackson, Larry Clark, Raymond Pettibon, Rostarr, Ryan McGinness, Shepard Fairey, Steve Powers, Terry Richardson, Tobin Yelland, Todd James e Wes Humpston. O curador deste eixo é o norte-americano Christian Strike, sócio de Aaron Rose na produtora Iconoclast e editor da revista Skate e Cultura Urbana Strenght, além de ser parceiro na concepção de Beautiful Losers. 2 – Intervencionistas Neste eixo estão registros audiovisuais de intervenções urbanas realizadas em diversas cidades brasileiras. A exposição apresenta uma amostra do que a intervenção urbana contemporânea brasileira tem de mais original e interessante, tanto pela arte de rua quanto pelo skate. É um recorte visual por registros desta arte que está nas cidades e muitas vezes não é percebida pelo cidadão. Dois sub-eixos do Intervencionistas estão em TRANSFER para mostrar o registro e a ação. No primeiro, por meio de fotografias e de recursos audiovisuais, serão exibidos trabalhos de documentaristas da intervenção urbana brasileira. No Ação, o público presenciará o processo da intervenção ao vivo, que reunirá arte urbana, skate e arquitetura. Um destaque especial no coração na mostra, no grande hall, é uma instalação de arquitetura “skatável”, para receber performances de skatistas convidados. Também é um espaço democrático de convivência. 3 – Mauditos Neste núcleo estão obras originais de acervos particulares em diversos suportes ligados à cultura do fanzine, ilustrações, capas de discos e arte do skate, entre outros Opinio, n.22, jan./jun. 2009 43 aspectos da arte urbana brasileira, das décadas de 80 e 90. Os curadores Fabio Zimbres, que também apresenta suas obras, e Alexandre Cruz respondem por este eixo. Durante os anos 80, os desenhistas ligados ao underground criavam personagens que eram graficamente subversivos e estavam ligados às publicações independentes, denominadas fanzines. Essas publicações geralmente eram feitas à mão, fotocopiadas e trocadas entre seus editores pelo correio, formando uma verdadeira rede de distribuição alternativa. Seus temas eram extremamente variados, abrangendo inclusive histórias em quadrinhos, punk-rock e skate. Criações de artistas como MZK, Jaca, Billy Argel, Marcatti, Speto e o próprio curador Fabio Zimbres estão em Mauditos. Deste conjunto, vale destacar Billy Argel, um dos principais nomes brasileiros da arte e do design gráfico ligados ao skate dos anos 80. Além de artista gráfico, também tocava na banda punk paulistana Lobotomia. Os shapes ou pranchas de skate, ilustrados por Billy, atualmente são itens de colecionadores e foram o primeiro contato com as artes gráficas para diversos skatistas. 4 – Street Fine Art Neste núcleo estão os artistas visuais com raízes na cultura urbana e cujas obras encontram-se atualmente difundidas por grandes centros de arte e cultura. Entre eles, estão, Herbert Baglione (SP), Vitché (SP), Alex Hornest (SP), Titi Freak (SP), Silvana Mello (SP), Carlos Dias (RS), Felipe Yung “Flip” (SP), Alexandre Cruz “Sesper” (SP), Tinho (SP), Bruno 9li (RS), Luciana Araújo (SP), Stephan Doitschnoff (SP), Kboco (GO), Nunca (SP), Rim (PR), Marcelo Cidade (SP) e Ramon Martins (BH) entre outro. [...] 44 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 ANEXO B FIGURA 1 – Parede com campanha para a venda de cartões postais de natal da UNICEF, na Croácia. Fonte: <http://www.a-ham.com/typograff/wordpress/wp-content/uploads/2008/10/unicef_graffiti1.jpg.> Acesso em: 21 mar. 2009. FIGURA 2 – Stencil graffiti para campanha da empresa Rexona em Portugal. Fonte: <http://onossoportfolio.blogspot.com/2007/07/rexona.html>. Acesso em: 21 de mar. 2009. Opinio, n.22, jan./jun. 2009 45 FIGURA 3 – Máscara de stencil do Guaraná Antarctica Street Festival, distribuído em revista, no Brasil. Fonte: <http://potopublicitario.wordpress.com/tag/stencil/>. Acesso em: 11 abr. 2009. FIGURA 4 – Arte de stencil graffiti para a campanha publicitária da empresa Sony Ericsson na cidade de São Paulo. Fonte: SIQUEIRA, 2006, p.43. 46 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 A Nova Economia Institucional é institucionalista? Stefano José Caetano da Silveira RESUMO O presente artigo propõe uma discussão sobre o caráter institucionalista da Nova Economia Instititucional (NEI). Os elementos que a escola apresenta serão objeto deste estudo, avaliando se estão alinhados com os preceitos do institucionalismo original. Para tanto, efetua-se uma breve revisão da bibliografia existente sobre o tema, tanto na visão da NEI como do velho institucionalismo. Com base nesse arcabouço teórico, busca-se salientar os pontos consensuais e as diferenças nas abordagens das respectivas escolas, a fim de que seja possível responder a questão central aqui proposta, qual seja, se a NEI é ou não institucionalista. Palavras-chave: NEI. Velho institucionalismo. Mainstream. Instituição. The New Institutional Economics is institutional? ABSTRACT This article proposes a discussion on the institutional character of the New Institutional Economics (NIE). The evidence shows that the school will be the object of study, whether they are more aligned with the old institutionalism. Thus, it makes a brief review of the literature on the subject institutionalism, both in view of the NIE and the old institutionalism. Based on this theoretical framework, seeks to highlight the points agreed and the differences in the approaches of their schools, so that it is possible to answer the central question proposed here, that is, if the NIE is not institutional. Keywords: NIE. Old institutionalism. Mainstream. Institution. 1 INTRODUÇÃO A escola institucionalista norte-americana surgiu a partir dos estudos de Thornstein Veblen (1857-1929), tendo como marco inicial a publicação de sua obra The Theory of the Leisure Class, de 1899, onde a estrutura econômica na virada entre os séculos XIX e XX é analisada desde a ótica do darwinismo. Ao lado de John Commons (1862-1945) e Wesley Mitchell (1874-1948) forma o triunvirato do chamado velho institucionalismo, que se caracteriza por sua oposição à teoria neoclássica, ao criticar a ostentação das classes mais favorecidas, a tendência de separação entre a economia e o resto das ciências sociais, e a busca por um mecanismo de ajuste automático dos mercados. Contrariando o mainstream, a escola norte-americana apresenta um caráter holístico, enfatizando os usos e costumes sociais como fenômenos explicativos da atividade econômica (HODGSON, 1993; RUTHERFORD, 1998). Stefano José Caetano da Silveira é economista graduado pela UFRGS; mestrando em Economia do Desenvolvimento pelo PPGE-UFRGS. E-mail: [email protected] Opinio Canoas Opinio,n.22 n.22, jan./jun. 2009 p.47-56 jan./jun. 2009 47 Com o advento da Grande Depressão de 1929, induzindo a aplicação de políticas intervencionistas como o New Deal1, aliado ao lançamento da obra “A Teoria Geral do Emprego, Juros e Moeda”, do economista inglês John Maynard Keynes (1883-1946), em 1936, a economia norte-americana, uma espécie de refletor da economia mundial, passou a sofrer uma maior intervenção governamental, pois, segundo Keynes, em momentos de exceção (como é o caso, em um crash) a política fiscal tem de dividir com a política monetária o protagonismo na política econômica (SILVEIRA, 2006). A partir desta mudança de paradigma, onde a ênfase passou a ser a busca ao welfare-state (estado de bem-estar social), também chamado de keynesianismo, a escola neoclássica viveu um período de reformulação2, enquanto o institucionalismo de hibernação. Todavia, durante a década de 1960, houve um resgate das ideias institucionalistas, a partir da reavaliação do artigo “A Natureza da Firma” de Ronald Coase, de 1937, cujo principal mérito foi ampliar a função da firma, ou seja, além dos custos de produção, ela também apresenta custos de transação, associados ao funcionamento do próprio mercado. Afora isso, o referido artigo foi precursor em áreas como direitos de proteção e economia dos custos de transação (ECT), envolvendo os custos de estruturação, monitoramento, garantia e implantação de contratos (WILLIAMSON, 1985). O institucionalismo ressurgiu, porém, sob a égide da Nova Economia Institucional (NEI), que tem experimentado um notável crescimento desde meados dos anos 1970, resultado de um trabalho próximo ao mainstream dominante (liberalismo), reafirmado pela revolução conservadora3 (HODGSON, 1993; FURUBOTN; RICHTER, 2000). Apesar da NEI ter sua origem a partir da escola de Veblen, Commons e Mitchell, as mesmas guardam diferenças. Enquanto o primeiro grupo foi prematuramente associado ao individualismo metodológico4 e a ideia que o indivíduo deveria ser tomado como dado – com especial atenção ao tratamento dispensado pela escola aos mercados e as firmas –, o último é analisado por algumas de suas críticas ao homem econômico racional (indivíduo maximizador), idealizado pela economia neoclássica (HODGSON, 1993). Porém, a NEI não concorda com o princípio do racionalismo ilimitado, assumido 1 O New Deal foi um programa de recuperação econômica implementado nos Estados Unidos entre 1933 e 1937, durante o governo do presidente Franklin Roosevelt (1933-1945), cujo objetivo era de recuperar e reformar a economia daquele país. Dentre suas medidas, destacam-se o controle sobre bancos e instituições financeiras; a construção de obras de infraestrutura para a geração de empregos e aumento do mercado consumidor; a concessão de subsídios e crédito agrícola a pequenos produtores familiares; a criação de Previdência Social que estipulou um salário mínimo, além de garantias a idosos, desempregados e inválidos; o controle da corrupção no governo; e o incentivo à criação de sindicatos para aumentar o poder de negociação dos trabalhadores e facilitar a defesa dos novos direitos instituídos. No setor industrial, a principal medida foi a redução da jornada do trabalho (nota do autor). 2 A chamada síntese neoclássica, onde a escola buscou incorporar elementos do keynesianismo. 3 As políticas liberais dos últimos 30 anos, praticadas na Inglaterra e nos Estados Unidos e exportadas para diversos países ao redor do globo, foram batizadas de revolução conservadora, que segundo Chesnais (2005, p.56), pretendia: “... colocar o poder e a riqueza tão plenamente quanto possível nas mãos da fração superior das classes capitalistas e das instituições onde se concentra sua capacidade de ação”. 4 A doutrina do individualismo metodológico foi definida por John Elster como “a doutrina em que todos os fenômenos sociais estão, em princípio, explicados somente em termos individuais – suas propriedades, objetivos e opiniões” (HODGSON, 1993). 48 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 pela teoria neoclássica. Em sua análise, o indivíduo age dentro de certo contexto institucional – regras formais e informais – que limitam suas ações no ambiente. Apesar disso, dispõe de uma identidade social própria, proveniente de sua percepção e interpretação quanto à estrutura social – homem econômico x homem contratual – aproximando-se de Simon (1986) e contrastando com Marx e Weber, que explicaram a origem e o desenvolvimento de uma cultura de maximização interesseira, composta de indivíduos agindo em bases de cálculos racionais. Mesmo assim, a NEI deixa muitas suposições do mainstream incólumes, permitindo que, no atual contexto econômico, o velho institucionalismo viva uma fase de reavaliação, sobretudo por sua atual propagação na Europa (HODGSON, 1993). Diante deste quadro, a intenção deste artigo é propor uma discussão sobre o caráter institucionalista da NEI. A ideia é debater se os elementos que a escola apresenta estão alinhados com os preceitos do velho institucionalismo. Para isso, serão analisadas obras de autores que tratam do tema institucionalismo tanto na visão da NEI como do velho institucionalismo, buscando salientar os pontos consensuais e as diferenças de suas respectivas abordagens. 2 NEI: APESAR DE NOVA, NÃO É INSTITUCIONALISTA Dentre os autores da NEI, Dugger (1990) considera o caso mais interessante o de Oliver Williamson, dado que o citado autor frequentemente refere-se ao seu “novo institucionalismo” como economia dos custos de transação (ECT), atribuindo a Commons o título de introdutor das transações nas análises econômicas. Segundo Williamson (1985, p.387 apud DUGGER, 1990, p.423) esta abordagem pode ser definida da seguinte forma: “Transaction cost economics is a comparative institutional approach to the study of economic organization in which the transaction is made the basic unit of analysis. It is interdisciplinary involving aspects of economics, law, and organization theory”.5 Com uma abordagem multidisciplinar, um extenso escopo e fé nos preceitos de Commons, este “novo institucionalismo” ou ECT pode ser novo, mas, segundo Dugger (1990), não é institucionalismo, pois, ao contrário da escola de Veblen, Commons e Mitchell, não estuda o beneficiamento social de toda a humanidade. Tal afirmação encontra eco em Gruchy (1987), que define o cerne do institucionalismo como uma concepção de processos, enquanto o da NEI como uma concepção do ótimo. O velho institucionalismo concebe a economia como algo mais que um sistema de mercados. Ele a enxerga como um sistema de poder, acreditando que o poder é inerente à economia. Da “Theory of Business Enterprise” de Veblen (1904), passando pelo “Legal Foundations of Capitalism” de Commons (1924), chegando ao “The New Industrial 5 “Economia dos Custos de Transação é uma comparação institucional aproximada dos estudos da organização econômica em que a transação é composta por uma união de análises. A mesma é interdisciplinar, envolvendo aspectos econômicos, leis, e teoria da organização.” (tradução minha). Opinio, n.22, jan./jun. 2009 49 State” de Galbraith (1967), e continuando com muitos outros trabalhos, esta escola faz do poder uma parte integral de suas descrições e explanações (DUGGER, 1990). Entretanto, segundo a NEI, as premissas do poder e da coerção têm papéis insignificantes na economia, apesar de Williamson não investigar a importância do poder na concentração econômica e North (1990), ao dividir as instituições em formais e informais, entendê-las como primariamente formalizadas e escritas por leis e constituições, de uma forma geral, impostas por um governo ou agentes com poder de coerção. O próprio North (1990), contudo, define as instituições como formas de organização da sociedade, sem qualquer vínculo com relações de poder. Da mesma forma, ao contrário do ceticismo do velho institucionalismo apresentado em relação à direção das instituições – embora profundo nos estudos de Veblen e não muito frequente no de Commons – Williamson (1985) não ressalta o ceticismo das instituições existentes, mostrando-se mais preocupado com a eficiência da minimização dos custos de transação. Outro ponto abordado por Dugger (1990) para corroborar com a análise de que a NEI não é institucionalista é o caráter holístico do velho institucionalismo. A escola de Veblen, Commons e Mitchell imagina a economia como parte de um todo, em que crenças, valores e ações dos indivíduos estão inseridos em uma cultura específica, não existindo qualquer indivíduo fora deste cenário. Isto, porém, não implica que os indivíduos tenham um valor reduzido, nem que os mesmos sejam irracionais. Ao contrário, são partes integrantes de um todo. Diferenciando-se da economia neoclássica, onde o homo economicus é o verdadeiro indivíduo racional, no velho institucionalismo o homo institutionalis é que exerce este papel. A NEI, em consonância ao velho institucionalismo, também rejeita a racionalidade econômica onisciente do homo economicus, porém sem percorrer todo o caminho da racionalidade cultural do homo institutionalis. Ao invés disso, adota a racionalidade limitada de Simon (1986), por acreditar que a mente do indivíduo é limitada e culturalmente condicionada (DUGGER, 1990). Também em relação ao instrumentalismo institucionalista existem discordâncias nas análises do velho institucionalismo e da NEI. Para os primeiros, ao ser elaborado, o instrumentalismo ganha um novo significado, pois ao ser empregado em um contexto de um processo nunca terminado de valores auto ajustáveis, transformará as corporações capitalistas através de ações democráticas. Williamson não concorda com esta visão, pois entende que a tradição econômica “não hospitaleira” impede a eficiência da corporação capitalista. Para ele, dado que o instrumentalismo concebe o pensamento não só como um mecanismo de acesso ao conhecimento, mas também como um instrumento para modificar a realidade, a análise de algumas políticas, como a antitruste, deveria permitir a absorção das práticas relatadas, remetendo à minimização dos custos de transação (DUGGER, 1990). Conforme já referido, apesar de Dugger (1990) e Gruchy (1987) não classificarem Williamson como institucionalista concordam que, devido aos seus pressupostos, tanto ele, e, por conseguinte a escola a qual pertence, tem algo novo a dizer. Neste particular, Dugger (1990) concebe a mais valiosa contribuição da NEI como sendo a 50 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 nova concepção da firma como uma estrutura de governança6, em substituição a uma mera função de produção, defendida pela escola neoclássica. A citada estrutura de governança ocorre quando o regulamento privado da firma é usado preferencialmente ao centralismo legal do estado, permitindo um melhor desempenho do mercado, conceitualizado por Veblen como um mecanismo defeituoso na transmissão da economia industrial, sujeito a fraudes, atrasos, sabotagens e predações pecuniárias livremente permitidas. Em relação a este conceito, o economista norte-americano encontrou apoio de Commons, que argumentou que as mudanças na economia industrial remeteriam a uma nova estrutura institucional (ATKINSON; OLESON, 1998). Longe de ser um vebleniano, Williamson introduziu no interior do mainstream da economia a ideia que o mercado é um lugar onde o autosserviço pode interferir com o bem comum, dando forma ao que Coase classificou de custos de transação, que surgiram pelo que ele chamou de salto de racionalidade, oportunismo e vantagem específica. Dessa forma, os agentes econômicos realizam transações, com o objetivo de comercializar ou permutar bens e serviços, observando três características básicas: a frequência com que elas ocorrem, a incerteza e a especificidade dos ativos. O novo elemento de Williamson, ao menos razoavelmente compreendido, é o entendimento de como alguns mercados realmente trabalham, sem, porém, avançar muito na proposição de um ajustamento para tratar do problema (DUGGER, 1990). Na opinião de Dugger (1990) e Gruchy (1987), mesmo com Williamson empregando sofisticados argumentos na apresentação e defesa sobre a relevância de seus pressupostos, e, por conseguinte nos da NEI, a falta de um caráter social embutido neles, faz com que não se possa considerá-los institucionalistas, parecendo mais uma versão contemporânea do laissez-faire. Não estuda o beneficiamento social de toda a humanidade. Concepção do ótimo, ao invés da concepção de processos. Premissas do poder e da coerção com papéis insignificantes na economia, ao contrário do que prega o velho institucionalismo. Não ressalta o ceticismo das instituições existentes, mostrando-se mais preocupada com a eficiência da minimização dos custos de transação. Em consonância ao velho institucionalismo, a NEI também rejeita a racionalidade econômica onisciente do homo economicus, porém sem percorrer todo o caminho da racionalidade cultural do homo institutionalis. Não enxerga o instrumentalismo inserido em um contexto de um processo nunca terminado de valores auto ajustáveis, que transformará as corporações capitalistas. Entende que o instrumentalismo concebe o pensamento não só como um mecanismo de acesso ao conhecimento, mas também como um instrumento de modificação da realidade, remetendo à minimização dos custos de transação. Quadro 1 – Pontos que atestam que a NEI não é institucionalista. 6 Estrutura de governança é uma estrutura administrativa ou judicial regida por um sistema de regras, mais os instrumentos que servem para fazer cumprir estas regras. Dado que, de forma geral, uma ordem pode ser executada por mecanismos puramente subjetivos – como valores racionais e religiosos – ou por expectativas de concretização de determinadas metas, faz-se necessário a existência de um instrumento que restrinja os possíveis comportamentos dos indivíduos, através do uso de sanções, seja pela aplicação da lei ou pelo uso dos costumes (regras formais e informais) (FURUBOTN; RICHTER, 2000). Opinio, n.22, jan./jun. 2009 51 3 NEI: UMA EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO INSTITUCIONALISTA Mesmo com o surgimento de críticas de alguns autores ao velho institucionalismo, como Stigler, que lembra a falta de uma agenda positiva, e Matthews e Coase, que citam a ausência de teoria no material descrito, Williamson enaltece as contribuições de Commons incorporadas ao pensamento da NEI. Como exemplo podem ser citadas a visão dinâmica das instituições, a formulação da transação como unidade básica de análise, o estudo da relação entre a parte e o todo, e a apreciação histórica de como os hábitos evoluem na formação de um padrão coletivo de comportamento. Além destes, outros elementos que, segundo Williamson (1993), atestam a NEI como uma escola institucional, a exemplo do velho institucionalismo, são a incorporação de elementos da escola histórica alemã, a importância do trabalho de Karl Marx e da escola de Freiburg, de onde surgiram o direito de propriedade e a economia dos custos de transação. Conforme citado na seção anterior, Dugger (1990) e Gruchy (1987) afirmam que a escola de Williamson não pode ser considerada institucionalista, pois não estuda o beneficiamento social de toda a humanidade, além de buscar a concepção de ótimo, quando deveria buscar uma concepção de processos. Apesar de não contraargumentar isto textualmente, alguns elementos elencados por Williamson (1993), como pressupostos da NEI, podem permitir uma reflexão sobre seu caráter institucional. Iniciando pelos direitos de propriedade – amplamente analisados nos estudos de Coase –, passando pelas relações contratuais administrativas e chegando às chamadas partes complementares – que incluem as leis de contrato, normas, costumes, convenções e mecanismos de gestão – percebe-se a preocupação da NEI em relação ao combate às falhas de mercado, o que acarreta benefícios para toda população. As contribuições de North sobre as restrições das estruturas política, econômica e social tanto formais quanto informais – envolvendo sanções, costumes, constituições e leis –, aliadas aos custos de transação de Coase e aos mecanismos de governança – puramente subjetivos, como valores racionais e religiosos, ou por expectativas de concretização de determinadas metas –, permitem a Williamson (1993) a proposição de um esquema de três níveis como representação das relações entre instituições, cujos elementos são: a) o ambiente institucional; b) a estrutura de governança; e c) o indivíduo. Tal esquema envolve ainda a gestão das relações contratuais (a celebração de contratos, mesmo não conseguindo prever todas as situações, visa garantir o direito de propriedade dos agentes, além da redução dos custos de transação), a racionalidade limitada e o oportunismo. Um ambiente institucional confiável (elemento essencial para a ocorrência do investimento, ao lado do nível de renda e da taxa de juros7), aliado a 7 Entre os diversos postulados expostos na “Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda” (1936), encontram-se a teoria da determinação da renda, cujos principais vértices são a propensão marginal a consumir (PMgC) e o efeito multiplicador da renda; a teoria do investimento, que lança o conceito de eficiência marginal do capital (EMgK), que vem a ser a taxa de retorno esperada dado um determinado nível de investimento; e a teoria da taxa de juros, que estabelece que a taxa de juros é o principal instrumento da política monetária, pois quando encontra-se em patamar elevado, o detentor do capital deverá optar por realizar uma aplicação financeira nos bancos múltiplos, sendo esta aplicação revertida pelo agente monetário (banco) em aplicações em títulos públicos do governo ou 52 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 uma estrutura de governança clara e transparente, reflete em ganhos ao indivíduo e, por conseguinte, para a sociedade como um todo. Apesar de entender a economia ortodoxa como sendo incapaz de abordar questões intertemporais da organização (dado que a mesma enxerga a firma apenas como uma função de produção), a NEI reitera seu objetivo de complementá-la e não de substituí-la. Ao tratar de questões como adaptação, mudança permanente, beneficiamento da população (neste particular, como uma consequência de um bom ambiente institucional e de uma boa estrutura de governança) e evolução – ainda que este termo não esteja presente nos estudos da escola – a NEI contesta seus críticos e reafirma seu caráter institucional, pois além dos argumentos já referidos, a escola defende que o ambiente institucional está em todos os lugares, diferenciando-se entre os diversos países, como um conjunto de mudanças de parâmetros em um processo contínuo de construção e reconstrução. Assim, a ECT e o embeddedness (estabelecimento de novos padrões de ação coletiva) tornam-se complementares em muitos aspectos. De forma geral, por ter aceitado e ampliado os estudos de Commons – especificamente, a transação e seus custos (sua integração vertical e a governança das relações estruturais) – incorporando o path dependency, em oposição ao mainstream, além da racionalidade limitada, do oportunismo, da adaptação, das descobertas contínuas, da política de mudanças e da análise estrutural, Williamson (1993) entende que a NEI é uma escola institucional. Rutherford (1996) não discorda do caráter institucionalista da NEI. Entende, porém, que ao englobar outras contribuições como as advindas da teoria dos jogos, da tradição austríaca e da corrente neoschumpeteriana, além de estar organizada em torno de tópicos controversos, como o formalismo e o anti-formalismo, o individualismo e o holismo, a racionalidade, a evolução, a eficiência e a reforma, a escola deixa vago a expressão “economia institucional”. Segundo ele, para que isso fizesse sentido, a referida expressão deveria ser complementada como “a nova economia institucional de Oliver Williamson”, “a nova economia institucional de Douglass North”, e assim sucessivamente. em empréstimos financeiros a terceiros, ao passo que quando a taxa de juros está baixa, haverá preferência pela liquidez (entesouramento), opção pelo consumo ou investimento produtivo direto. As referidas teorias formam a base da teoria monetária da produção de Keynes, pois abrangem incerteza, moeda e desemprego (KEYNES, 1964). Opinio, n.22, jan./jun. 2009 53 A incorporação das contribuições de Commons ao pensamento da NEI. A incorporação de elementos da escola histórica alemã. A importância dada ao trabalho de Karl Marx e da escola de Freiburg, de onde surgiram o direito de propriedade e a economia dos custos de transação. A incorporação de conceitos como direitos de propriedade, relações contratuais administrativas e das chamadas partes complementares (leis de contrato, normas, costumes, convenções e mecanismos de gestão). A importância das chamadas restrições das estruturas política, econômica e social tanto formais quanto informais, aliadas aos custos de transação e aos mecanismos de governança (subjetivos, como os valores racionais e religiosos, ou objetivos como as expectativas de concretização de determinadas metas). A discussão das relações entre instituições. O estudo da gestão das relações contratuais, da racionalidade limitada e do oportunismo. O tratamento de questões como adaptação, mudança permanente, beneficiamento da população (como uma consequência de um bom ambiente institucional e de uma boa estrutura de governança) e evolução (apesar de não empregar o termo). QUADRO 2 – Pontos que atestam a NEI como institucionalista. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Teve-se como objetivo neste artigo propor uma discussão sobre o caráter institucionalista da NEI, de forma que se pudesse debater se os preceitos que a mesma apresenta estão alinhados com o velho institucionalismo. Procurou-se apontar pontos de semelhança e divergência entre o pensamento da escola de Williamson, Coase e North em relação aos pressupostos lançados por Veblen, Commons e Mitchell, de forma a se poder chegar a algumas considerações quanto ao tema proposto. Os principais pontos de discordância da hipótese principal deste trabalho, qual seja, se a NEI é ou não institucionalista, passam por Dugger (1990) e Gruchy (1987) ao responderem negativamente à questão, pois, em suas análises, a referida escola não estuda o beneficiamento social de toda a humanidade, além de contrariar o cerne do institucionalismo, que é a concepção de processos e não a concepção do ótimo como, segundo Gruchy (1987), propõem a NEI. De forma análoga, enquanto o velho institucionalismo acredita que o poder é inerente à economia, concebendo-a como um sistema de poder, para a NEI as premissas do poder e da coerção tem papéis insignificantes na análise econômica. Além desses, outros pontos de discordância podem ser citados, como o ceticismo do velho institucionalismo apresentado em relação à direção das instituições, não ressaltado pela NEI, que mostra-se mais preocupada com a eficiência da minimização dos custos de transação; a racionalidade cultural do homo institutionalis adotada pelo velho institucionalismo ao invés da racionalidade limitada defendida pela NEI; e o instrumentalismo empregado em um contexto de um processo nunca terminado de valores auto ajustáveis, transformando as corporações capitalistas através de ações democráticas, segundo a análise de Veblen, Commons e Mitchell, contra a ideia do instrumentalismo como um mecanismo de acesso ao conhecimento e modificação da realidade. Por outro lado, existem preceitos da NEI que não deixam em dúvida seu caráter institucionalista. Em favor desta afirmação, pode ser citada a incorporação de diversas 54 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 contribuições de Commons ao pensamento da NEI, enaltecidas por Williamson, como a visão dinâmica das instituições, a formulação da transação como unidade básica de análise, o estudo da relação entre a parte e o todo, e a apreciação histórica de como os hábitos evoluem na formação de um padrão coletivo de comportamento; a incorporação de elementos da escola histórica alemã; a importância do trabalho de Karl Marx e da escola de Freiburg; os direitos de propriedade; as relações contratuais administrativas; e as chamadas partes complementares. Sua preocupação ao combate das falhas de mercado, em um ambiente institucional confiável – aliado a uma estrutura de governança clara e transparente –, reflete em benefícios ao indivíduo e à população. Por se considerarem neoclássicos, os principais autores da NEI (Coase, North e Williamson) não têm como objetivo fazer com que sua escola substitua a teoria neoclássica, mas sim complementá-la. Mesmo assim, contrariando seus críticos, ao tratar de questões como adaptação, mudança permanente, beneficiamento da população e evolução, a NEI não deixa dúvida sobre sua natureza institucionalista. Diante do exposto neste trabalho, pode-se sintetizar os argumentos contra e a favor do caráter institucionalista da NEI da seguinte forma: como contrários, na acusação da falta de um caráter social nos pressupostos de Williamson e dos demais autores da escola – mesmo que Dugger (1990) considere a nova concepção da firma como uma estrutura de governança, em substituição a uma mera função de produção, como a mais valiosa contribuição da NEI –; e como favoráveis, com a incorporação dos estudos de Commons, do path dependency, da racionalidade limitada, do oportunismo, da adaptação, das descobertas contínuas, da política de mudanças e da análise estrutural aos preceitos da NEI. Todavia, devido à profundidade do debate proposto por este trabalho, reconhece-se o caráter limitado da análise aqui realizada. REFERÊNCIAS ATKINSON, Glen; OLESON JR., Theodore. Commons and Keynes: Their Assault on Laissez Faire. Journal of Economic Issues. v.XXXII, n.4, p.1019-1030, dec.1998. CHESNAIS, François. 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Reder (eds), Relational Choice: The Contrast Between Economics and Psychology, University of Chicago Press, Chicago, 1986, p.24–44. WILLIAMSON, Oliver. E. The Mechanisms of governance and management. London: Oxford University Press: 1985. ______. Transaction Cost Economics and Organization Theory. Industrial and Corporate Change. v.2, n.2, p.107-156, 1993. 56 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 A estratégia de marketing da marca Zara no varejo da moda Priscila Ávila Zanetti Valesca Persch Reichelt RESUMO Este artigo apresenta um estudo sobre as estratégias de marketing da marca Zara, tendo como objetivo comparar e discutir a percepção dos consumidores da marca no Brasil e na Europa. Nesse intuito, realizou-se uma pesquisa de caráter quantitativo a partir de questionários enviados a consumidores do Brasil e de diferentes países da Europa, além da observação da loja Zara no shopping Iguatemi de Porto Alegre. Baseando-se nos conceitos de marketing, marca, varejo e comportamento do consumidor, na análise dos resultados obtidos, identificou-se que o consumidor percebe algumas das estratégias utilizadas pela marca, como o mix de produtos oferecidos, o autoatendimento, a modificação dos produtos, bem como mais da metade dos consumidores entrevistados percebe a falta de publicidade da marca Zara. Palavras-chave: Marketing. Marca. Varejo. Comportamento do consumidor. Zara. The marketing strategies of the brand Zara ABSTRACT This article presents a study about the marketing strategies of the brand Zara, in order to compare and discuss the perception of consumers of the brand in Brazil and Europe. For this was a characteristic of quantitative research, through questionnaires sent to consumers in Brazil and various European countries, besides the observation of the Zara store in the shopping Iguatemi in Porto Alegre. Based on the concepts of marketing, brand, retail and consumer behavior. When analyzing the results identify that the consumer perceive some of the strategies used by the mark as the mix of products supplied, self-care, the modification of products and also more than half of consumers surveyed perceive a lack of advertising of the brand Zara. Keywords: Marketing. Brand. Retail. Consumer behavior. Zara. 1 INTRODUÇÃO Este artigo trata sobre a percepção do consumidor quanto ao desafio de uma marca tornar-se reconhecida sem precisar recorrer à publicidade. Com mais de 4.280 lojas espalhadas pelo mundo, a marca espanhola Zara parece ter encontrado uma fórmula que contradiz as principais tendências da indústria da moda. Toda sua promoção está concentrada nas próprias lojas. Por isso, encontram-se sempre em pontos estratégicos; Priscila Ávila Zanetti é graduada em Comunicação Social – habilitação Publicidade e Propaganda – pela Universidade Luterana do Brasil, campus Canoas. E-mail: [email protected] Valesca Persch Reichelt é Doutora em Administração com ênfase em Mercadologia. Professora dos cursos de Administração e Comunicação Social da Universidade Luterana do Brasil, campus Canoas. E-mail: valesca@ ulbra.br Opinio Canoas Opinio,n.22 n.22, jan./jun. 2009 p.57-75 jan./jun. 2009 57 como ruas de intenso e qualificado movimento e também em shoppings. Preocupam-se com vitrines, com a adaptação a diferentes culturas, em buscar tendências, exposição dos produtos, atendimento e velocidade de distribuição dos produtos e de renovação das coleções. O objetivo deste artigo é comparar e discutir a percepção dos consumidores no Brasil e na Europa, verificando se tais estratégias são percebidas e aprovadas por eles. A escolha deste estudo ocorreu devido ao interesse da autora na marca e também nesse tipo de estratégia de marketing. Estratégia ainda utilizada por poucos neste segmento mundial da moda. Em um mercado competitivo, no qual, dia-a-dia, surgem mais empresas em busca de consumidores, a estratégia de marketing que cada empresa adota é de fundamental importância para se destacar junto à sua concorrência. Conforme Kotler (1999, p.22), “considera-se que uma empresa tem uma estratégia robusta quando tem pontos fortes que a diferenciam da estratégia das concorrentes”. Este trabalho é um estudo com base na prática profissional do marketing e se enquadra na área de Administração, pois é concentrado nas ações desenvolvidas com ferramentas de marketing, analisando processos e resultados. Como conceitos, são abordados o marketing, suas estratégias, a marca, o varejo e o comportamento do consumidor. A pesquisa tem caráter quantitativo a fim de levantar, descrever e conhecer a percepção dos consumidores da marca. Configura-se em um estudo de caso, por abordar somente um objeto de estudo, no caso, a marca de moda Zara. Como fontes de dados, foram entrevistados consumidores da marca Zara selecionados a partir de contatos da pesquisadora. A técnica de coleta de dados foi a aplicação de questionários em consumidores da marca no Brasil e em diferentes países da Europa, através de correio eletrônico e a partir de observação da loja Zara no shopping Iguatemi de Porto Alegre. O problema de pesquisa é identificar as estratégias que fazem com que a marca Zara venda sem publicidade, ou seja, realizando sua promoção e comunicação apenas nos pontos de venda. As hipóteses1 desta pesquisa são: 1) As estratégias aplicadas pela marca Zara fazem com que a publicidade seja despercebida pelos consumidores. 2) O mix de produtos oferecidos e também o autoatendimento são os elementos que aproximam o cliente da marca. 2 REFERENCIAL TEÓRICO O referencial teórico apresentado neste artigo serve como embasamento para a pesquisa, assim, são citados os conceitos de marketing, estratégia de marketing, marca, varejo, comportamento e percepção do consumidor. Para fundamentar este artigo se referenciam como principais autores: Kotler (2000), Churchill e Peter (2000), Ferrel e Hartline (2006), Pride e Ferrel (2001), Hooley, Saunders e Piercy (2001), Aaker (1998), 1 58 Estas hipóteses têm a função de nortear a pesquisa, e não serão testadas estaticamente. Opinio, n.22, jan./jun. 2009 Martins (1999), Giuliani (2003), Sâmara e Morsch (2005), Giglio (2005), Kotler e Armstrong (2007), entre outros. 2.1 Marketing Basicamente, em mercados cada vez mais dinâmicos e competitivos, o conceito de marketing define que as empresas mais prováveis de vencer são aquelas sensíveis às expectativas, desejos e necessidades dos consumidores, as que estiverem mais dispostas a satisfazer seus clientes. Não há razão para os consumidores comprarem os produtos ou serviços de uma empresa, a não ser que essa empresa esteja de algum modo oferecendo uma forma melhor de atender a seus desejos e necessidades do que aquelas formas disponíveis por outras empresas concorrentes. (HOOLEY; SAUNDERS; PIERCY, 2001, p.6) O mais importante em marketing não é somente descobrir o que o consumidor deseja, mas, sim, antecipar-se ao que o consumidor irá desejar futuramente. Para Kotler (1999), Churchill e Peter (2000), marketing é o processo de planejar e executar a concepção de ideias, bens e serviços, determinando seus preços, promoção e distribuição de forma a satisfazer metas individuais e organizacionais. Ferrel e Hartline (2006), Churchill e Peter (2000) afirmam que a essência do marketing é o desenvolvimento de trocas satisfatórias, a partir das quais tanto os clientes quanto as empresas se beneficiam. O marketing é muito mais do que publicidade ou a venda de um determinado produto; implica desenvolver e gerenciar um produto que satisfará as necessidades do seu cliente. Seu foco é fazer com que o produto esteja disponível no lugar certo e a um preço aceitável para os consumidores. O marketing começa e termina com os consumidores (PRIDE; FERREL, 2001). 2.2 Estratégia de marketing Pride e Ferrel (2001) definem estratégia de marketing como uma articuladora do melhor uso dos recursos e táticas da empresa para atingir seus objetivos. A estratégia de marketing se refere ao modo como a empresa vai administrar suas relações com os clientes, de maneira a ganhar vantagens sobre a concorrência. Trata-se de um plano que indica o melhor caminho para o alcance do objetivo. “A estratégia de marketing é tipicamente composta de dois elementos: a seleção de um mercado-alvo e a criação de um mix de marketing que satisfará as necessidades do mercado-alvo escolhido” (PRIDE; FERREL, 2001, p.37). Opinio, n.22, jan./jun. 2009 59 A concorrência acirrada, a tecnologia em constante mudança e evolução, baseada, principalmente, em informação, ocasionam novas responsabilidades e elevam as expectativas das organizações empresariais e dos clientes. O desenvolvimento tecnológico acelerado e as crescentes mudanças dos perfis de mercado obrigam as organizações que se dispõem a sobreviver a implantarem constantemente novas soluções, conhecerem suas posições e não pararem de buscar excelência (PARENTE; WOOD JR.; JONES, 2003). O desenvolvimento de uma estratégia de marketing pode ser analisado em três níveis: o estabelecimento de uma estratégia central, a criação do posicionamento competitivo da empresa e a implantação da estratégia (HOOLEY; SAUNDERS; PIERCY, 2001). Na busca de um posicionamento competitivo, a empresa procura obter uma diferenciação determinadora de exclusividade. Em consonância com Hooley, Saunders e Piercy (2001), essa diferenciação pode aparecer no produto, na marca, no preço, na distribuição e também na comunicação. É preciso reforçar a necessidade de um diferencial no varejo através de estratégias para se manter competitivo no futuro. Kotler (1999, p.26) afirma que “o prêmio irá para as empresas que inventam novas maneiras de comunicar e transmitir valor a seus mercados-alvo”. 2.3 Marca Segundo Aaker (1998), uma marca sinaliza ao consumidor a origem do produto e protege, tanto o consumidor quanto o fabricante, dos concorrentes que oferecem produtos que pareçam idênticos. Para Ferrell e Hartline (2006), um dos elementos mais importantes no desenvolvimento de uma estratégia de marketing é a preocupação com a marca. A atração que a marca exerce é a principal maneira de garantir a liderança de mercado. Uma marca bem construída traz diferença e valor para o negócio. A marca também é o maior patrimônio que a organização pode criar e desejar, pois ela estabelece um elo com o consumidor que vai muito além da qualidade do produto, sendo esse envolvimento que vai gerar a lucratividade (MARTINS, 1999). A marca é a tradução de conceitos e valores, tem personalidade e gera identificação. Pode estar relacionada ao estilo de vida dos consumidores e precisa criar experiências relevantes e memoráveis para ficar registrada na lembrança dos mesmos (KOTLER, 2000). A emoção é de grande influência na decisão de compra, na escolha de uma marca. As pessoas tendem a comprar uma marca conhecida, pois sentem-se confortáveis com o que lhes é familiar. “Uma marca reconhecida será, assim, frequentemente selecionada diante de uma outra desconhecida. Ser conhecida é particularmente importante para que ela seja considerada uma alternativa de compra” (AAKER, 1998, p.20). Segundo Martins (1999), quando o consumidor vai às compras, ele busca emoção. As pessoas vão aos shoppings à procura de estilo. O produto é uma roupa qualquer, mas pode 60 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 pertencer a diferentes estilos. A emoção é que faz com que alguém pague cinco vezes mais por uma camiseta branca de marca. A busca por emoção está em qualquer campo que se imagine, inclusive na moda. A marca está cada vez mais associada aos valores pessoais dos consumidores. Segundo Chernatony, [...] as marcas também têm seus valores pessoais e, para tal, baseia-se na teoria de personalidade de marca, que é entendida como a personificação de uma marca, ou seja, a presença de características humanas associadas a uma determinada marca. (apud MARANHÃO; FERREIRA; CARVALHO, 2007, p.30) Essa informação não é uma novidade. Na década de 60, o publicitário e pesquisador David Ogilvy descobriu, por meio de pesquisas de mercado, que as marcas eram percebidas com traços de personalidade próprios e que o consumidor era quem dava identidade a elas (MARTINS, 1999). Os valores do cliente são de importância fundamental na hora da escolha por uma marca, todo tipo de referência pessoal tem alguma influência. O cliente busca identificação de seus valores com os da marca, observando a marca quase como uma pessoa. 2.4 Varejo A essência do varejo é a comercialização de produtos e serviços a consumidores finais. “O varejista é um negociante que vende produtos e serviços, de uso pessoal ou familiar, aos consumidores, sendo ele o último negociante de um canal de distribuição” (GIULIANI, 2003, p.22). O varejo assume todo processo de venda de bens ou serviços. Kotler e Armstrong (2007) definem varejo como todas as atividades que englobam o processo de venda de produtos e serviços diretamente a consumidores finais para seu uso pessoal. O varejo tem como tarefa a solução de necessidades dos consumidores, procurando transformar o produto adquirido em momentos prazerosos. O varejista de sucesso deve criar uma estratégia baseada em valor para o cliente. O foco central é proporcionar satisfação aos seus clientes por meio de soluções que os surpreendam, concentrando-se em vender emoções a preço justo (GIULIANI, 2003). O consumidor está procurando cada vez mais prazer nas suas compras, portanto o varejo deverá ser mais acolhedor e divertido. É preciso reforçar a necessidade do diferencial no varejo, através das estratégias de cada marca, para se manter competitivo no futuro. O mercado do futuro pede melhores designs, varejo mais limpo e organizado, com a emoção adequada ao produto. O ser humano gosta de coisas bonitas, com arte e tecnologia, atendimento cortês e inteligente (MARTINS, 1999). “É no varejo que o Opinio, n.22, jan./jun. 2009 61 consumidor se defronta com o produto com o qual ele irá materializar seus sonhos e tornar suas fantasias em realidade” (GIULIANI, 2003, p.23). Os varejistas do ramo da moda devem se preparar para que o público sintase à vontade, buscando oferecer conforto e diferenciação em seus ambientes. No mercado de moda, hoje, as empresas de varejo, independente do segmento, desde que constantemente inovadoras, tendem a conquistar os competitivos espaços de mercado das empresas que não estão com seus conceitos de negócio atualizados. Cada vez mais se pode observar que o mercado se divide em dois tipos de empresas: aquelas que apenas seguem seu rumo, e as que dão saltos de inovação e, por consequência, diferenciam-se no mercado (HOERLLE, 2002). Os grandes casos de sucesso no novo varejo da moda estão na Europa e, coincidentemente, são as empresas com maior dinamismo internacional e expansão global. Vale destacar que toda a cadeia de valor ligada à moda vem sendo reinventada a partir das transformações no varejo (SERRENTINO, 2003). 2.5 Comportamento do consumidor Conhecer as pessoas, suas necessidades, seus desejos e seus hábitos são de fundamental importância para qualquer empresa. O ponto de partida para conhecer as necessidades do público-alvo é buscar compreender o consumidor. Para Samara e Morsch (2005), compreender o consumidor é uma função essencial do marketing para que ele possa cumprir seus objetivos no desenvolvimento, na produção e na colocação no mercado. “O consumidor é toda entidade compradora potencial que tem uma necessidade ou um desejo a satisfazer” (SAMARA; MORSCH, 2005, p.2). Tudo o que as empresas fazem deve girar em torno da satisfação do consumidor. Ele é o centro e o foco de todo negócio e as empresas competem intensamente para conquistar sua atenção e preferência (SAMARA; MORSCH, 2005). Segundo Giglio (2005), entre o planejamento dos itens a serem adquiridos e sua compra efetiva, há uma diferença. O processo de compra envolve inúmeras etapas, Churchill e Peter (2000) descrevem, primeiramente, o reconhecimento de necessidades, que podem ser provocadas por estímulos internos (fome, sede, cansaço ou interesses pessoais) ou externos (propaganda, vitrines, incentivo de outras pessoas, etc.). Após identificar a necessidade de se obter algo, o indivíduo busca informações. Cada fonte de informação desempenha uma função diferente ao influenciar a decisão de compra. As fontes comerciais normalmente desempenham uma função informativa; enquanto as fontes pessoais desempenham uma função de avaliação ou legitimação (KOTLER, 2000). No estágio da avaliação de alternativas, é o momento em que o consumidor processa as avaliações de cada marca concorrente e faz um julgamento de valor final. 62 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 Depois de realizada a busca de informações e avaliadas as alternativas, o consumidor está pronto para realizar a compra. A avaliação pós-compra é a última etapa do processo decisório, pois o consumidor experimenta algum nível de satisfação ou insatisfação após comprar o produto. “O trabalho do profissional de marketing não termina quando o produto é comprado. Ele deve monitorar a satisfação, as ações e a utilização em relação ao produto depois de efetuada a compra” (KOTLER, 2000, p.204). Caso a empresa consiga que seu consumidor compre o produto e depois faça-o repetidamente, significa que o produto traz satisfação ao cliente. O comportamento de consumo de uma pessoa pode ser explicado de diferentes formas. O perfil, as características, as motivações e os interesses do consumidor sofrem todo tipo de influência. Desde aspectos sociais, culturais, pessoais, situacionais e psicológicos até importantes estímulos de marketing (produto, preço, praça, promoção) afetam e impulsionam as atitudes e ações dos indivíduos em suas decisões de consumo (SAMARA; MORSCH, 2005). São considerados fatores de influência sociais os diferentes grupos de referência que influenciam no comportamento de compra, nesse aspecto, considerando também a família como a mais importante organização de consumo da sociedade. Incluindo ainda os papéis sociais e status, porque as pessoas, geralmente, escolhem produtos apropriados para diferentes posições sociais (KOTLER; ARMSTRONG, 2007). Os fatores culturais exercem uma vasta influência no comportamento do consumidor. Para Kotler e Armstrong (2007), é preciso entender o papel desempenhado pela cultura, pela subcultura e pela classe social do comprador. A cultura se refere ao acúmulo de valores, crenças, costumes, conhecimento, conceitos, preferências e gostos dentro de uma sociedade. A cultura fornece uma identidade ao indivíduo (SAMARA; MORSCH, 2005). Já as subculturas, são grupos de pessoas que compartilham de uma mesma cultura, de uma vida em comum. As subculturas incluem as nacionalidades, as religiões, as faixas etárias e as regiões geográficas, elas exercem influência sobre o comportamento individual (SAMARA; MORSCH, 2005). Considerando ainda como um fator cultural a classe social, que consiste na divisão de uma sociedade em que as pessoas compartilham valores, interesses e comportamentos similares (SAMARA; MORSCH, 2005). As decisões do comprador também são influenciadas por características pessoais, elas são as características particulares de cada indivíduo, as quais acabam por interferir nos seus hábitos, por conseguinte, nas suas decisões de consumo. Kotler e Armstrong (2007) apresentam cinco elementos que constituem os fatores sociais: idade e estágio no ciclo de vida, ocupação, situação financeira, estilo de vida, personalidade e autoimagem. Os consumidores também são influenciados por características da situação, as principais influências situacionais incluem o ambiente físico (localização da loja, exposição dos produtos, decoração, a iluminação e o nível de barulho) e social (efeitos causados por outras pessoas sobre o consumidor), o tempo (a hora do dia, Opinio, n.22, jan./jun. 2009 63 o dia da semana ou a estação do ano), além de humores e condições momentâneas (CHURCHILL; PETER, 2000). Além disso, as escolhas de uma pessoa são influenciadas por importantes fatores psicológicos que afetam o comportamento humano, são eles: a motivação, percepção, aprendizagem, crenças e atitudes (KOTLER; ARMSTRONG, 2007). Geralmente, um indivíduo não consumirá nada se não estiver motivado a comprar ou se não houver um motivo suficiente que o impulsione a isso. De acordo com Serrano (2008), o indivíduo pode se tornar motivado por meio de necessidades internas ou externas. Essas motivações poderão ser de caráter fisiológico ou psicológico, gerando necessidades em diferentes níveis. Vários psicólogos desenvolveram teorias de motivação humana, duas das mais conhecidas são a teoria de Sigmund Freud e a de Abraham Maslow. Para Freud, as pessoas não têm consciência das verdadeiras forças psicológicas que moldam seu comportamento. “A teoria de Freud sugere que as decisões de compra de uma pessoa são afetas por motivos subconscientes que nem mesmo o comprador consegue entender completamente” (KOTLER; ARMSTRONG, 2007). A teoria de Maslow é conhecida como uma das mais importantes. Para ele, as necessidades humanas são organizadas numa hierarquia (da mais urgente a menos urgente). No momento em que uma necessidade é realizada, surge outra em seu lugar, exigindo sempre que as pessoas busquem meios para satisfazê-la (SERRANO, 2008). Maslow procurou explicar que as pessoas são conduzidas por certas necessidades em ocasiões específicas. Na pirâmide de Maslow, as bases são as necessidades fisiológicas, que constituem a sobrevivência do ser humano. Após, vêm as necessidades de segurança (proteção), as necessidades sociais (senso de integração, amor), as necessidades de estima (autoestima, reconhecimento, independência) e, no topo, as necessidades de autorrealização (desenvolvimento e realização pessoal) (SAMARA; MORSCH, 2005). Outro fator psicológico é a aprendizagem, “o consumidor, ao recorrer a experiências passadas e a várias fontes de informação para tomar sua decisão de compra, estaria, a longo prazo, desenvolvendo um aprendizado” (SAMARA; MORSCH, 2005, p.107). Chama-se aprendizagem todo acúmulo de conhecimentos e, de acordo com Kotler (2000), a maior parte do comportamento humano é aprendida. Os teóricos da aprendizagem acreditam que ela é produzida a partir da interação de impulsos, estímulos, sinais, respostas e esforços. Por meio da aprendizagem, as pessoas adquirem crenças e atitudes. Uma crença é um pensamento que uma pessoa tem em relação a algo. As crenças podem ser baseadas no conhecimento, opinião ou fé e podem ou não conter uma carga emocional (KOTLER; ARMSTRONG, 2007). O indivíduo é dotado de razão e personalidade única. Suas atitudes compreendem as avaliações, os sentimentos e as tendências de uma pessoa quanto a um objeto ou uma ideia. As atitudes fazem com que as pessoas gostem ou não 64 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 de qualquer coisa, que se aproximem ou se distanciem delas (KOTLER; ARMSTRONG, 2007). Desta forma, as crenças e atitudes estão relacionadas à personalidade de cada pessoa, exercendo grande influência nos fatores que motivam o consumo ou a rejeição de determinados produtos. 2.5.1 Percepção A percepção está basicamente relacionada à forma como a pessoa seleciona, organiza e interpreta as informações. Uma pessoa motivada está pronta para agir. A maneira como ela irá agir é influência da sua percepção (KOTLER; ARMSTRONG, 2007). Se as necessidades e motivações se concretizam, por vez, na compra e no consumo, não se pode concluir que o interior do ser humano é o suficiente para explicar todos os seus atos e comportamentos (SERRANO, 2008). Além das motivações citadas anteriormente, o que o consumidor compra depende também da percepção do que há disponível no meio que o rodeia. A percepção nada mais é que a forma e como se vê tudo ao redor. Kotler (2000) infere que a percepção não depende apenas dos estímulos físicos, mas também da afinidade desses estímulos com as condições internas e externas que as pessoas possuem. Para Serrano (2008), percepção é o processo que permite codificar os estímulos e mensagens externas que se recebesse a cada segundo, e também o modo como se constrói a representação concernente ao conhecimento que se tem a respeito dos objetos e do ambiente. Essa percepção é distinta, a interpretação aparece de diversas formas. A percepção depende da relação do estímulo com o meio ambiente e com as condições do indivíduo. A mesma imagem pode ser percebida diferentemente por diferentes indivíduos. As pessoas podem entender de forma completamente diferente uma mensagem que está se tentando passar devido às diferenças em percepção (SERRANO, 2008, s.p.) Cada pessoa combina as informações recebidas a um conjunto de pensamentos já existentes. Para Kotler (2000), o processo de percepção é formado pela atenção seletiva, distorção seletiva e retenção seletiva, são seletivos porque o autor afirma que as pessoas direcionam esses componentes conforme suas preferências. Na atenção seletiva é mais provável que as pessoas percebam estímulos relacionados a uma necessidade atual. Para o autor, mesmo aqueles estímulos que chamam a atenção, muitas vezes, não conseguem desenvolver o que foi planejado. Isto ocorre devido à distorção seletiva, que é tendência de as pessoas interpretarem as informações conforme suas intenções pessoais, reforçando suas preconcepções ao invés de contrariá-las. A retenção seletiva Opinio, n.22, jan./jun. 2009 65 é constituída pelo fato que as pessoas tendem a reter as informações que reforcem suas atitudes e crenças. 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para desenvolvimento da presente pesquisa, foi selecionada uma amostra de 150 consumidores, sendo 74 consumidores da marca Zara no Brasil e 76 consumidores da marca em diferentes países da Europa. A seleção dos entrevistados foi feita por dedução de possíveis consumidores, através de contatos da pesquisadora no Brasil e em alguns países da Europa, sendo que a pesquisadora viveu por um período na Espanha, país de origem da marca Zara. Trata-se de uma amostra não probabilística e por quotas, pois procura obter semelhança sob alguns aspectos. Também, caracteriza-se como uma amostra por julgamento, aquela pesquisa em que a seleção dos elementos da população para compor a amostra depende, ao menos em parte, do julgamento do pesquisador (MATTAR, 2001). A coleta dos dados ocorreu através da aplicação de um questionário estruturado com dezessete questões objetivas de caráter quantitativo. O questionário proposto (ver Apêndice A) foi criado pela autora e traduzido para a língua inglesa (ver Apêndice B) e espanhola (ver Apêndice C). O procedimento de coleta de dados iniciou-se no mês de março de 2009, via correio eletrônico, e uma pequena parte pessoalmente. A abordagem quantitativa preocupa-se com quantificação de dados, utilizando para isso recursos estatísticos. É muito utilizada em pesquisas descritivas, quando se procura descobrir e classificar a relação entre variáveis (OLIVEIRA, 1997). Outra técnica de pesquisa utilizada foi à observação da loja Zara no shopping Iguatemi de Porto Alegre. A fim de observar o ambiente, produtos, vitrines e atendimento. A observação consiste em uma técnica qualitativa de coleta de dados, e sua utilização nesta pesquisa foi com a intenção de descrever o ponto de venda da marca pesquisada, sob diversos aspectos. Durante a observação, foram feitas diversas anotações, sendo proibido qualquer registro fotográfico do ponto de venda. Portanto, o artigo trata-se de um estudo de caso da marca Zara a fim de possibilitar a ampliação dos conhecimentos sobre o problema em estudo, sendo que as hipóteses são utilizadas para direcionar a pesquisa. Convém lembrar que o objetivo não é o de verificá-las estatisticamente (MATTAR, 2001). Mas, configura-se como uma pesquisa descritiva, porque descreve o perfil dos consumidores e verifica a existência de relações entre variáveis (MATTAR, 2001), além de descrever aspectos diversos da loja Zara em Porto Alegre. 4 ESTUDO DE CASO ZARA A marca espanhola Zara é propriedade do empresário Amancio Ortega, hoje, um dos homens mais ricos do mundo. O empreendedor espanhol iniciou do zero seu negócio 66 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 na década de 70, primeiramente, trabalhando com a família na fabricação de roupões femininos. “Na Espanha, havia dois tipos de roupão – os caros, de seda, e os baratos, que mais pareciam sacos com mangas. O grande diferencial de Ortega foi fabricar um produto semelhante aos roupões de seda, com preço mais próximo ao das peças populares” (MESQUITA, 2005, s.p.). O negócio prosperou tanto que, em 1975, nascia a marca Zara, um nome que surgiu por acaso. Ele foi registrar com o nome Zorba na cabeça, todavia, lá, descobriu que este nome já estava registrado. Acabou inventando na hora o nome Zara (MESQUITA, 2005). Hoje, pertencente ao grupo Inditex, presente em 73 países, de acordo com o site da empresa2, ela é a líder em fabricação de roupas na Europa. Além da Zara, a Inditex conta com outras sete lojas, em diferentes formatos, direcionadas a distintos perfis de consumidores, são elas: Pull and Bear, de roupas casuais e esportivas; a Massimo Dutti, de roupas masculinas; a Bershka e Stradivarius, voltada para o público adolescente; a Oysho, de roupas intímas; a Kiddy’s Class, para crianças; e a única fora do segmento de vestuário, a Zara Home, artigos para casa. A Zara é a rede de varejo de roupas que se tornou uma potência global nos últimos anos, possui um modelo sólido de negócios, com lançamentos semanais de novos produtos e um design impulsionado pelo consumidor, baseado em informações fornecidas por especialistas de mercado, consumidores e designers3. Ainda segundo o site da empresa, o êxito das coleções reside na capacidade de reconhecer e assimilar as constantes mudanças das tendências de moda, criando, em cada momento, novos modelos que correspondem aos desejos dos clientes, levando novos produtos para as lojas no período de tempo mais curto possível. Uma das principais fontes de inspiração, assim como as tendências de moda, são os próprios clientes, através de informações recebidas nas próprias lojas. Os gerentes das lojas atuam como pesquisadores de tendências. Diariamente, eles informam a matriz de novos modismos, permitindo ajustes nas coleções. “Se os clientes estiverem pedindo um colete com a gola redonda, e não em V, esse item pode estar nas lojas entre sete e dez dias. Esse processo levaria meses para varejistas tradicionais” (KOTLER; ARMSTRONG, 2007, p.315). Segundo Segalla e Caíres (2006), mais da metade da produção da empresa é confeccionada na sede de La Coruña, na Espanha. A fabricação é própria ou fica a cargo de pequenos parceiros. As roupas são feitas em pequenos lotes e distribuídas, por caminhão, para entregas na Europa; ou por avião, para as lojas que a rede possui mundo afora, inclusive no Brasil. Enquanto uma empresa leva até nove meses para colocar um novo modelo nas lojas, a Zara faz isso em pouco mais de um mês. Como a rede evita a produção em massa, a renovação dos modelos é intensa. As peças ficam 2 Fonte: INDITEX. Dossiê de imprensa. 2009. Disponível em: <http://www.inditex.com/es/prensa/informacion/ dossier>. Acesso em 10 mar. 2009. 3 MUNDO DO MARKETING. McDonald’s e Zara saem-se bem na crise. 2009. Disponível em:<http://www. mundodomarketing.com.br/11,9336,mcdonald-s-e-zara-saem-se-bem-na-crise.htm>. Acesso em 30 abr. 2009. Opinio, n.22, jan./jun. 2009 67 muito pouco tempo nas prateleiras, fazendo com que o cliente visite constantemente as lojas em busca de novidades. Quase sempre, eles saem do ponto-de-venda carregando uma sacola, pois têm medo de não encontrar mais a roupa caso deixem a compra para outra hora (MESQUITA, 2005). Outra estratégia utilizada é a de que muitas peças são adaptações de modelos de grifes como Prada e Armani. Nos principais desfiles que ocorrem pelo mundo, há sempre um olheiro enviado pela Zara, encarregado de copiar as principais tendências. “Em 2003, por exemplo, na cerimônia de pedido de mão da princesa de Astúrias, a noiva Letícia Ortiz usou um terno de seda branca assinado por Armani. Duas semanas mais tarde, um modelo parecido – de viscose branca – inundou as prateleiras da Zara em todo o mundo. Foi um sucesso de vendas” (MESQUITA, 2005, s.p.). Além da logística, renovação das coleções e das cópias, muitas outras estratégias podem ser percebidas: as vitrines, a ordenação da loja, o autoatendimento, a localização, nada parece deixado ao acaso. As vitrines são ousadas e contemporâneas, com uma iluminação quase teatral. A ordenação da loja está sempre na linha de visão do cliente. Os produtos (roupas, sapatos, acessórios e perfumes) são separados por estilos, como contemporâneo, social, clássico e também por tonalidades de cores; os perfumes encontram-se próximos aos caixas. A marca conta também, além das roupas femininas, com os segmentos masculino e infantil. As lojas surgem nos melhores pontos das cidades e as vitrines e os interiores são concebidos com capricho (MESQUITA, 2005). Em Porto Alegre, a loja encontra-se no shopping Iguatemi, um dos principais centros de compra da cidade, o mix de lojas reúne importantes grifes nacionais e internacionais. Por fim, o autoatendimento que aproxima o cliente do produto, fazendo com que o cliente sinta-se à vontade na loja. Adotou a estratégia de não recorrer à publicidade para atingir seu consumidor, pois a loja tem todo o seu marketing centralizado no ponto de venda. Assim relata Ángeles, “a Zara considera a publicidade pouco eficiente. O resultado obtido não compensa o investimento. Por isso, a empresa opta por não investir em anúncios. O marketing é concentrado em somente um canal: a loja” (ÁNGELES, 2007, p.78. Tradução Livre). 5 RESULTADOS DA PESQUISA A pesquisa constatou que a faixa etária variou muito pouco nos diferentes países, predominando a faixa etária de 25 a 30 anos em ambos (48,6% consumidores Brasil e 42,1% consumidores Europa). Seguida da faixa de 20 a 25 anos com um pouco mais de 30% para os dois contextos e o restante divide-se entre as faixas de 30 a 35 anos, 35 a 40 anos e consumidores de mais de 40 anos. Dentre estas pessoas, 70,3% dos entrevistados foram brasileiros do sexo feminino e 29,7% masculino. Com os consumidores da Europa, a diferença foi ainda maior, mais de 80% feminino e o restante do sexo masculino. 68 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 Quanto ao gasto mensal em lojas de moda, a pesquisa apontou que 54,1% dos brasileiros gastam de 101 a 300 reais e 33,8% até 100 reais, as demais alternativas foram menos significantes. Já o consumidor da Europa tem um gasto mensal inferior, 46,1% dos entrevistados responderam que gastam até 100 euros por mês, seguidos de 34,2% que gastam de 101 a 300 euros. Na questão sobre as marcas de preferência, a marca mais lembrada pelos diferentes consumidores foi a Zara (39,2% consumidores Brasil e 64,5% consumidores Europa); a segunda marca mais citada por ambos também foi a mesma; a de que a marca é indiferente na hora da compra (27% Brasil e 22,4% Europa); empatando, na Europa, com a rede de lojas sueca H&M. Em terceiro lugar, os consumidores do Brasil citaram a M.Officer (17,6%) e os consumidores da Europa citaram as marcas espanholas Mango e Desigual (15,8%). A pesquisa detectou que, nos dois locais pesquisados, o preço é o fator determinante de influência na escolha por uma loja de moda (41,9% consumidores Brasil e 63,2% consumidores Europa), como apresentado no Gráfico 1. Segundo Giuliani (2003), o foco central do varejo é proporcionar satisfação aos seus clientes por meio de soluções que o surpreendam, concentrando-se em vender emoções a preço justo. GRÁFICO 1 – Maiores influências na escolha de uma marca de moda. Fonte: Coleta de dados. A segunda influência mais citada foi o conceito da marca (39,2% consumidores Brasil e 35,5% consumidores Europa). Para Kotler (2000), a marca é a tradução de conceitos e valores, tem personalidade e gera identificação. Opinio, n.22, jan./jun. 2009 69 Em terceiro lugar, a pesquisa constatou a importância das vitrines (36,5% consumidores Brasil e 27,6% consumidores Europa); em quarto lugar, o atendimento (23% consumidores Brasil e 14,5% consumidores Europa); e, em quinto lugar, a opção escolhida foram “outros”, que corresponde à qualidade do produto (14,9% consumidores Brasil e 11,8% consumidores Europa). Importante ressaltar que as opções: influência de amigos e a publicidade no Brasil não foram citadas por nenhum entrevistado; e, na Europa, por apenas um, na opção influência de amigos e, por dois consumidores, na opção de influência da publicidade na hora da compra. Embora se saiba que o poder destes é muito forte, é possível que a influência seja indireta, ou seja, de tanto ouvir falar em uma tendência acaba aderindo a ela. Considerando, portanto, a teoria de Freud, que diz que as pessoas não têm consciência das verdadeiras forças psicológicas que moldam seu comportamento de compra (KOTLER; ARMSTRONG, 2007). Na questão sobre a importância da presença constante de vendedores, considerando-se uma escala de 5 pontos, onde 1 equivale a discordo totalmente e 5 concordo totalmente, obteve-se uma média de 2,61 nas respostas dos brasileiros, com um desvio-padrão de 0,95. Considerando a mesma escala para os consumidores da Europa, obteve-se uma média de 3,08 com desvio-padrão de 1,12. Presumindo que o consumidor europeu valoriza mais a presença de vendedores do que o brasileiro. Outro resultado apontado pela pesquisa refere-se à importância de campanhas publicitárias para uma marca, mais da metade dos entrevistados acha importante o uso de campanhas publicitárias para uma marca. Considerando a mesma escala usada na questão anterior, a média brasileira foi de 3,72 com desvio-padrão de 1,10 e a média de consumidores da Europa foi um pouco mais alta, 3,92 com desvio-padrão de 0,92. Verificou-se que quase todos os participantes da pesquisa já haviam comprado na Zara (94,6% consumidores Brasil e 100% consumidores Europa), visto que a escolha dos entrevistados foi feita por dedução de possíveis consumidores. Pode-se constatar que o fator que incentiva a ida dos clientes até a Zara é o mix de produtos oferecidos pela loja (63,5% Brasil e 56,6% Europa). Conforme constatou-se na observação da loja, a Zara conta com diferentes produtos (roupas, sapatos, acessórios e perfumes), estilos (contemporâneo, social e clássico) e segmentos (feminino, masculino e infantil). A segunda opção mais citada variou conforme o local, o consumidor brasileiro citou o conceito da marca (36,5%) e o consumidor da Europa citou o preço (51,3%). Em terceiro lugar, os resultados foram invertidos, o consumidor brasileiro citou o preço (16,2%) e o europeu o conceito (18,4%). Presumindo que o consumidor encontra preços inferiores nas lojas Zara localizadas em países europeus. Ainda foram citados a localização (9,5% Brasil e 10,5% Europa), o atendimento (4,1% Brasil e 2,6% Europa) e a opção “outros” (2,8% Brasil e 1,3% Europa), que correspondem à democratização da loja, promoção e rodízio de roupas. Em relação aos atrativos da loja, em ambos os locais, a opção mais citada foram os produtos (64,9% consumidores Brasil e 63,2% consumidores Europa). Em segundo 70 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 lugar, no Brasil, ficou o autoatendimento (24,3%); e, na Europa, o preço (48,7%). A terceira opção mais citada, no Brasil, foi o preço (18,9%); e, na Europa, a vitrine (9,2%). As demais opções da Europa foram pouco significantes, mas as do Brasil valem a pena serem citadas, a quarta opção foi a exposição dos produtos (12,2%) e em quinto a vitrine (9,5%). O estilo da Zara foi associado em ambos locais predominantemente pelo casual contemporâneo (75,7% Brasil e 68,4% Europa), sendo o resultado das demais opções pouco significativas, como demonstrado no Gráfico 2. Compreendendo-se que os demais estilos foram pouco citados devido à faixa etária dos entrevistados. GRÁFICO 2 – Estilo da Zara, segundo os entrevistados. Fonte: Coleta de dados. Sobre a frequência com que os produtos da loja são modificados, considerando a escala usada anteriormente, a média dos consumidores brasileiros e dos consumidores da Europa foi próxima. A dos brasileiros foi de 3,42 com desvio-padrão de 0,89; e a dos consumidores da Europa a média foi de 3,62 com desvio-padrão de 0,83. Calculandose que mais da metade dos entrevistados reconhece que os produtos são modificados com frequência. De acordo com Mesquita (2005), a Zara evita a produção em massa, fazendo com que a renovação dos modelos seja intensa. Para a questão que se refere aos investimentos da Zara em publicidade e propaganda, também, considera-se a escala de 5 pontos, onde 1 equivale a discordo totalmente e 5 concordo totalmente. A média dos consumidores brasileiros foi de 3,72 com desvio-padrão de 0,89; e a média dos consumidores da Europa foi de 3,03 com desvio-padrão de 0,83, presumindo que o consumidor brasileiro percebe um pouco mais que o consumidor da Europa a estratégia da marca. Tendo ainda um significante Opinio, n.22, jan./jun. 2009 71 número de pessoas que não percebe a inexistência de campanhas publicitárias da marca Zara. Ángeles (2007) afirma que a Zara considera a publicidade pouco eficiente, por isso opta por não investir em anúncios. Verificou-se que 28,4% dos consumidores do Brasil já compraram em alguma outra loja Zara pelo mundo, e 97,4% dos consumidores da Europa também já compraram em alguma Zara fora do seu país de origem. Os países mais citados na pesquisa foram: Espanha, Portugal, França, Inglaterra, Itália, Argentina e Alemanha. Perguntou-se aos consumidores se existiam diferenças além do valor nas lojas dos diferentes países, 38,1% dos consumidores brasileiros respondeu que sim; e na Europa a porcentagem foi um pouco mais alta, ficou em 43,2%, conforme Gráfico 3. GRÁFICO 3 – Diferenças entre as lojas Zara no Brasil e no exterior. Fonte: Coleta de dados. As diferenças mais citadas pelos consumidores foram a diferença do conceito da marca (causada pela diferença de valores), a qualidade e a diferença dos produtos. Após comprar em outro país, 85% dos consumidores de ambos os locais pesquisados não aumentaram a frequência de consumo no seu país de origem. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS O varejo da moda cresce a todo instante, a concorrência vem aumentando de modo significante, e isso quer dizer que para enfrentar o mercado as lojas terão de buscar novas estratégias, posicionando-se fortemente. A velocidade com que o mercado se movimenta e se modifica mostra que é preciso inovar sempre. A inovação e a iniciativa irão garantir o diferencial para que a empresa não estacione e seja atropelada pela concorrência. 72 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 Logo, o consumidor é prioridade. A Zara fundamenta-se em dar ao cliente o que ele quer antes mesmo que ele peça, com uma grande capacidade de adaptação às constantes mudanças do mercado da moda e nos diferentes países em que atua. A partir desde artigo, pode-se observar aspectos interessantes sobre a marca Zara e seus consumidores. Os resultados da pesquisa realizada junto aos consumidores da marca demonstram que algumas das estratégias aplicadas pela marca são percebidas, outras nem tanto. A Zara cresce afastada da publicidade e mais da metade dos consumidores entrevistados percebe tal estratégia, no Brasil, um pouco mais do que na Europa. Mas a maioria dos entrevistados considera importante a realização de campanhas publicitárias para uma marca. Identificou-se, por meio desta pesquisa, que o mix de produtos oferecidos é um grande incentivo de escolha pela loja, assim como o maior atrativo da loja foram os produtos. A pesquisa constatou também, a partir de duas questões, que os brasileiros aprovam o autoatendimento. Os europeus já valorizam mais a presença de vendedores. Fator coerente ao fato de que, na Europa, o conceito de vendas seja distinto ao do Brasil, pois, na Europa, os vendedores geralmente mantêm uma distância do cliente, deixando-o mais à vontade. Já no Brasil, não incluindo as grandes lojas de departamentos, a maior parte das lojas de moda contam com a presença constante de vendedores, situação que muitas vezes intimida o cliente. A partir da pesquisa, descobriu-se que mais da metade dos entrevistados de ambos os lugares percebe a intensa modificação dos produtos, das coleções. Essa estratégia impulsiona a compra, porque o cliente sabe que corre o risco de não encontrar o produto futuramente. Outro fator interessante de ressaltar foi o quanto o consumidor percebe a diferença de conceito da loja nos distintos países. Em diversas questões, o fator “preço” foi a prioridade do consumidor que vive na Europa, visto que lá os preços são muito inferiores ao do Brasil, gerando consequentemente essa diferença de conceitos. Chega-se à conclusão de que as outras estratégias utilizadas pela marca que foram menos citadas na pesquisa, como as vitrines, a exposição dos produtos e as adaptações das peças de grife, sejam fatores de influência mais inconscientes, de uma percepção menos direta. Por fim, a Zara mostra-se como uma empresa consciente das reais necessidades do consumidor. As estratégias para o varejo são inúmeras e vão do emocional ao racional, mas o investimento na satisfação do cliente gera o mais importante: a lealdade à marca. REFERÊNCIAS AAKER, David A. Marcas – brand equity – gerenciando o valor da marca. 2.ed. São Paulo: Negócio, 1998. ÁNGELES MARTÍNEZ BARREIRO, Ana Maria. 2007. Un modelo de empresa innovadora y flexible: El caso Zara. Disponível em <http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/ src/inicio/ArtPdfRed.jsp?iCve=38060105 >. Opinio, n.22, jan./jun. 2009 73 Acesso em 20 set. 2008. CHURCHILL JR., Gilbert A.; PETER, J. P. Marketing criando valor para os clientes. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2000. 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Opinio, n.22, jan./jun. 2009 75 Como o consumidor porto-alegrense do guaraná Kuat percebe o novo posicionamento da marca através da sua nova identidade visual Suzane Hammes Mirian Engel Gehrke RESUMO O objeto de estudo deste artigo é a transmissão do novo posicionamento do guaraná Kuat através de sua nova identidade visual. O objetivo principal é verificar se os consumidores portoalegrenses de Kuat percebem o novo posicionamento pretendido pela marca através da identidade visual atual. As hipóteses são: 1) percebem o posicionamento pretendido por Kuat; 2) percebem o posicionamento de Kuat diferentemente do pretendido pela marca; 3) não percebem o novo posicionamento. Para atender o objetivo, foi realizada pesquisa qualitativa com consumidores do produto. Foram entrevistados vinte jovens, correspondendo à faixa etária do público-alvo de Kuat. A fundamentação teórica que proporcionou as bases para analisar os resultados da pesquisa abordou marketing e posicionamento/reposicionamento, com Ries e Trout (1994), Kotler e Armstrong (2003), Kotler (2006), Cobra (2005) e Las Casas (1997); identidade visual foi estudada com Strunk (2007), Dondis (1997), Williams (1995), César (2006) e Gomes Filho (2004), e o estudo sobre marca baseou-se em Aaker (1996, 1998, 2007), Martins (1999) e Serralvo (2008), entre outros. Os resultados indicam que se confirma a hipótese 3, pois os consumidores do guaraná não percebem o novo posicionamento pretendido pela marca através da identidade visual, embora sua percepção sobre Kuat atenda a alguns dos objetivos apresentados pela empresa como aqueles que desejavam alcançar com o novo posicionamento. Palavras-chave: Posicionamento/Reposicionamento. Identidade visual. Marca. Kuat. As the Kuat consumers from Porto Alegre perceive the new intended brand positioning strategy through its current visual identity ABSTRACT The study object of this article is the attempt to transmit the new positioning strategy of Guaraná Kuat through its new visual identity. The main aim is to verify if the Kuat consumers from Porto Alegre perceive the new intended brand positioning strategy through its current visual identity. The hypotheses are: 1) consumers perceive Kuat´s intended positioning strategy; 2) Suzane Hammes é bacharel em Comunicação Social, habilitação em Publicidade e Propaganda, pela Universidade Luterana do Brasil. Atua como Assistente de Planejamento de Mídia Online, no Grupo RBS. Mirian Engel Gehrke é Professora e coordenadora do curso de Comunicação Social da Universidade Luterana do Brasil – Habilitação em Publicidade e Propaganda, Mestre em Comunicação e Informação pelo PPGCOM da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 76 Opinio Canoas Opinio,n.22 n.22, jan./jun. 2009 p.76-98 jan./jun. 2009 consumers perceive a different positioning than the intended one; 3) consumers do not perceive the new positioning strategy. In order to fulfill the objectives of this study a qualitative research was conducted with Kuat´s consumers. Twenty youngsters in the age range targeted by the product were interviewed. The theoretical background that supported the research result analysis is based on Ries e Trout (1994), Kotler e Armstrong (2003), Kotler (2006), Cobra (2005) and Las Casas (1997) in what regards marketing and positioning/repositioning strategies; Strunk (2007), Dondis (1997), Williams (1995), César (2006) and Gomes Filho (2004) in what regards visual identity; and Aaker (1996, 1998, 2007), Martins (1999) e Serralvo (2008) provided the background on branding. The research results indicate the confirmation of hypothesis 3, because the Kuat´s consumers interviewed do not perceive the brand´s new intended positioning strategy through its visual identity, although its perception regarding the brand fulfills partially some of the aims the company had when developed the new positioning strategy. Key words: Positioning/Repositioning; Visual Identity; Brand; Kuat. 1 Introdução De acordo com o site do fabricante, Kuat teve sua identidade visual alterada com o intuito de despertar desejo de mudança no seu público, demonstrando que é possível evoluir, e que a marca está em busca desse objetivo, sem medo de realizar mudanças. Com um novo posicionamento, representado através da mudança visual e da comunicação, Kuat movimentou o segmento de guaraná, que até então adotava como elementos predominantes, nos rótulos dos refrigerantes, as cores e o desenho do fruto. Consciente de que a identidade visual tem forte influência na decisão de compra do consumidor, após estágio em uma empresa que desenvolve embalagens, participando, portanto, do processo de criação de identidade para os produtos, surgiram questionamentos sobre a forma como este elemento influencia a decisão do consumidor pelo produto. E mais: constatado o novo posicionamento do guaraná Kuat, expresso em sua identidade visual, que quebrou o paradigma até então adotado no segmento de guaranás, surgiu o interesse em analisar a percepção do seu público sobre esta mudança. Assim, o objeto de estudo deste artigo é a mudança da identidade visual do guaraná Kuat marcando um novo posicionamento para o produto. O objetivo principal é verificar se os consumidores porto-alegrenses de Kuat percebem o posicionamento pretendido pela marca através da nova identidade visual. Desta forma, o problema de pesquisa é: os consumidores percebem o posicionamento pretendido pelo guaraná Kuat através da sua nova identidade visual? As hipóteses para responder esta questão são: 1) percebem o posicionamento pretendido por Kuat; 2) percebem o posicionamento de Kuat diferentemente do pretendido pela marca; 3) não percebem o novo posicionamento. No sentido acadêmico, o tema aqui proposto é importante, por permitir compreender um pouco de como os produtos podem, ou não, refletir o seu posicionamento através de sua identidade visual e perceber como se dá o comportamento do consumidor frente a uma mudança acentuada como a realizada pelo guaraná Kuat. Opinio, n.22, jan./jun. 2009 77 A pesquisa empírica é qualitativa de nível descritivo. Quanto ao delineamento, trata-se de um estudo de caso. A técnica de coleta de dados utilizada é a entrevista, tendo sido realizadas entrevistas estruturadas face a face. A amostragem foi definida por acessibilidade, a partir da informação de que o público-alvo do guaraná Kuat é constituído por jovens (http://www.cocacolabrasil.com.br/conteudos.asp?item=3&secao=36&conte udo=98, 12 abr. 2009) – os entrevistados foram buscados em colégios e universidades aos quais a pesquisadora tem acesso, por proximidade. Desta forma, foram selecionados respondentes dentro da faixa etária da maioria dos consumidores de Kuat, no Colégio Romano III – Unidade Santa Marta (antigo colégio Nossa Senhora de Lourdes), Colégio Dom Bosco, Pontífica Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, todos obrigatoriamente consumidores de Kuat. Foram realizadas entrevistas face a face, com vinte (20) pessoas, dez (10) do sexo feminino e dez (10) do sexo masculino, da faixa etária de 13 a 24 anos. A coleta de dados ocorreu no período de 03 de maio a 08 de junho, nos períodos de intervalo e ao término das aulas. Os principais conceitos que fundamentam a pesquisa são marketing, posicionamento/ reposicionamento, identidade visual e marca. Os três primeiros tiveram por base Ries e Trout (1994), Kotler e Armstrong (2003), Kotler (2006), Cobra (2005) e Las Casas (1997). Para estudar identidade visual, foram utilizados Strunk (2007), Dondis (1997), Williams (1995), César (2006) e Gomes Filho (2004). Para tratar de marca, os principais autores foram Aaker (1996, 1998, 2007), Martins (1999) e Serralvo (2008). 2 Marketing Atualmente, com o acirramento da competitividade entre as empresas, a procura por diferenciais que as distanciem de seus concorrentes tornou-se uma necessidade, um desafio contínuo na tentativa de sustentar-se na disputa pelo mesmo mercado. Tais diferenciais, geralmente, são evidenciados através do posicionamento definido para a marca, produto ou serviço. As definições de qual posicionamento assumir no mercado, ou de reposicionar algo, para ajustar-se a uma nova circunstância, estão incluídas nas decisões de marketing da organização. Marketing é a área da administração que direciona esforços para interligar todos os setores da empresa, em busca do sucesso da organização. Tem como foco principal auxiliar as organizações a conquistarem clientes e obterem lucros. Com o uso adequado de suas ferramentas, o sucesso nas atividades de tais instituições, com e sem fins lucrativos, e da sociedade em geral pode ser conquistado. Dessa forma, o marketing se torna elemento fundamental para o planejamento estratégico da organização (KOTLER, 2006; LAS CASAS, 1997; COBRA, 2005). A base do marketing está no processo de efetuar trocas, entre duas ou mais partes, com o intuito de satisfazer necessidades e desejos do consumidor e proporcionar receita para a organização. Desejos e necessidades são conceitos básicos para uma estratégia 78 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 de marketing. Resumidamente, é possível compreender “necessidade” como aquilo que uma pessoa precisa para viver (necessidades fisiológicas, de segurança, de estima, de auto-estima e necessidade de auto-realização). Já “desejo” significa a vontade de saciar as necessidades através do consumo de algo específico. Exemplificando, com Cobra (2005, p.27): “uma pessoa pode ter sede, que é uma necessidade, mas pode ter um desejo de saciar a sede tomando um guaraná”. Sob o ponto de vista administrativo, o marketing pode ser visto como “a análise, o planejamento, a implementação e o controle de programas desenvolvidos para criar, construir e manter trocas benéficas com compradores-alvo para que sejam alcançados os objetivos organizacionais” (KOTLER; ARMSTRONG, 2003, p.28). Ou seja, as organizações visam realizar os desejos e propiciar satisfação ao consumidor com o intuito de conquistá-lo e fidelizá‑lo à sua marca e/ou produto para, deste modo, lucrar. Para Kotler (2006), as organizações que desejam a estabilidade competitiva precisam manter-se atentas às atividades dos seus concorrentes e à chegada de novos produtos ao mercado, devendo preocupar-se em conquistar mais clientes e aprofundar a sua relação com os já conquistados, a fim de fazê-los identificarem-se cada vez mais com a empresa. 3 Posicionamento/reposicionamento Para criar ou ampliar seu espaço no mercado, é necessário que as organizações fixem sua marca e/ou produto/serviço na memória dos consumidores-alvo, direcionando esforços para, mais do que conquistar, manter clientes. Definir um posicionamento para o produto/ serviço/marca é uma estratégia utilizada para a fixação de determinada imagem para o mesmo, trabalhando a favor da conquista e manutenção de clientes fiéis para ele (KOTLER, 1996; RIES; TROUT, 1993). Para fazê-lo, é necessário criar uma identidade para o produto, através das suas características e qualidades. Segundo Ries e Trout (1993), um produto bem posicionado costuma manter-se presente na mente do consumidor, sem sofrer alterações, mesmo com os esforços de seus adversários na tentativa de tomar a sua posição, principalmente se este for o primeiro produto da sua categoria a impactá-lo. Segundo Ries e Trout (1993), até a década de cinquenta, a denominada Era da Produção, a divulgação de um bem estava focada basicamente nas características e nos benefícios propiciados por ele. Porém, com a implementação da tecnologia, tornou-se necessária a busca de outras formas de promovê-lo. Com a chegada da Era da Imagem, o foco deixou de ser as qualidades do produto e passou para a reputação e a imagem das empresas. Já no cenário atual, a Era do Posicionamento, a obtenção de sucesso e reconhecimento está vinculada à posição que o produto/serviço ocupa na mente do consumidor. Para Kotler (1996, p.270), “posicionamento é o ato de desenvolver a oferta e a imagem da empresa, de forma que ocupem um lugar distinto e valorizado nas mentes dos consumidores-alvo”. Opinio, n.22, jan./jun. 2009 79 A diversidade de informação disponibilizada hoje, nos mais variados meios, dificulta a conquista da atenção do consumidor. Por isso, afirmam Ries e Trout (1994), para que o público-alvo seja impactado, é necessário que marca/produto/serviço apresentem atuação distinta, o que pode ser feito através de um posicionamento e comunicação diferentes dos habituais. Para os autores (p.17), “as mensagens preparadas no velho estilo tradicional não têm mais chances de sucesso nesta sociedade supersaturada de comunicação em nossos dias”. A empresa deve ter conhecimento dos interesses e expectativas dos seus clientes para, a partir dele, buscar o seu posicionamento com foco no que mais coincida com os interesses do consumidor. Dessa forma, a eficácia da mensagem a ser transmitida será maior. Conforme Ries e Trout (1993, p.5), “para se defender do volume de comunicação diária, a mente filtra e rejeita muita informação que lhe chega. De uma forma geral, a mente só aceita aquilo que de certa forma coincide com o seu conhecimento ou com a sua experiência anterior”. Atualmente, os costumes, a cultura, as tecnologias e, portanto, as expectativas do cliente modificam-se com enorme rapidez. Para não se tornarem ultrapassadas, as empresas devem acompanhar estas mudanças. Em alguns momentos, as modificações são tamanhas que exigem das empresas um redirecionamento do foco e a adoção de um novo posicionamento, processo denominado “reposicionamento”. 4 Identidade visual Há diversos fatores que diferenciam e revelam o posicionamento de uma organização e de seus produtos e serviços. Entre eles, destaca-se a identidade visual gráfica dos mesmos. Dondis (1997) afirma que, através da identidade visual, a organização é posicionada e reconhecida, podendo ser percebida pelo consumidor-alvo com as características a ela atribuídas – com uma personalidade única – em qualquer lugar onde esteja presente. A autora acrescenta que os símbolos visuais, reunidos em uma representação gráfica, comunicam e fixam a identidade e os valores de uma organização através de informações que são percebidas pela visão, por meio de estímulos visuais que atingem as pessoas no seu dia a dia. Isto ocorreu a partir da concepção de que “uma imagem vale mais de mil palavras, um símbolo vale mil imagens” (DONDIS, 1997, p.94). Strunk (2007, p.57) define identidade visual como “o conjunto de elementos gráficos que irão formalizar a personalidade visual de um nome, ideia, produto ou serviço”. Radfahrer (1999, p.29), acrescenta: “...essa identidade está em cartões, instalações, folhetos, cartazes, propaganda, websites, em seus funcionários, no que a imprensa diz...”. Os elementos visuais que constituem as imagens e que transmitem a identidade e o posicionamento de uma organização, segundo Gomes Filho (2004), são o ponto, a linha, a forma e as cores. Também os tipos utilizados contribuem para a caracterização de uma identidade visual e facilitam seu reconhecimento. 80 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 4.1 Componentes visuais básicos Os estímulos visuais se formam através da junção de diversos elementos que são escolhidos a fim de transmitir uma mensagem clara ao seu receptor: “sempre que alguma coisa é projetada e feita, esboçada e pintada, desenhada, rabiscada, construída, esculpida ou gesticulada, a substância visual da obra é composta a partir de uma lista básica de elementos.” (DONDIS, 1997, p.53). Para um melhor entendimento sobre a estrutura de uma linguagem visual, é necessário analisar tais elementos separadamente, de forma única, para, assim, conhecer as suas características específicas. O ponto caracteriza-se por ser uma das formas de comunicação mais simples que existe. Ele se destaca pela capacidade de atrair a atenção do receptor, mesmo sendo um elemento de tamanho minúsculo. Conforme Gomes Filho (2004, p.42), “considera-se como ponto qualquer elemento que funcione como forte centro de atração visual dentro de um esquema estrutural, seja numa composição seja num objeto”. De acordo com Dondis (1997), quando aplicados próximos e em quantidade, os pontos acabam por dificultar a distinção entre si e unificam-se visualmente em um outro elemento, a linha. Ribeiro (2007, p.152) define linha como “o menor caminho entre dois pontos”, podendo se apresentar de diversas formas, inclusive curva. A linha curva representa “toda aquela que não for reta nem composta de reta” e diferencia-se por produzir sensação de movimento, “instabilidade, de doçura, de graciosidade, de alegria” (idem). Munari (1997) refere que entre os elementos caracterizados como as formas básicas está o círculo. Por se constituir um figura com estrutura plana e simples, esta forma permite ao observador um fácil entendimento da representação. Segundo Dondis (1997, p.58), o círculo é uma “figura continuamente curva, cujo contorno é, em todos os pontos, equidistante de seu ponto central”. Ele é responsável por passar através da sua forma, impressões de “infinitude, calidez, proteção”. Conforme Dondis (1997), a utilização das formas torna possível a criação e o desenvolvimento de símbolos e demais elementos visuais com capacidade de comunicar e transmitir a mensagem desejada. Às formas é atribuída “uma grande quantidade de significados, alguns por associação, outros por vinculação arbitrária, e outros, ainda, através de nossas próprias percepções psicológicas e fisiológicas” (DONDIS, 1997, p.57-58). 4.2 Cor A cor é de fundamental importância para a comunicação visual, principalmente por ser capaz de despertar emoções e carregar uma gama de informações – podendo, portanto, transmitir uma mensagem. Na comunicação comercial, considerando que os consumidores são movidos tanto por razão quanto por emoção, a cor é fundamental na busca por influenciá-los psicologicamente, a favor, ou não, de determinada empresa, produto, serviço (CÉSAR, 2006, p.191). Para Goldman (1984), a cor apela ao subconsciente do consumidor e, Opinio, n.22, jan./jun. 2009 81 através da sua influência, o estimula a consumir determinados produtos e serviços. César (2006, p.178) concorda, afirmando que “as cores são responsáveis por despertar sensações, atrair e influenciar o consumo”. Um fator que faz com que a cor influencie o comportamento emocional das pessoas é sua saturação. Para Dondis (1997 p.66), “quanto mais intensa ou saturada for a coloração de um objeto ou acontecimento visual, mais carregado estará de expressão e emoção.” Ao escolher uma cor que passará a representar a imagem da empresa, através da sua marca, propaganda, embalagem ou qualquer outro elemento, é necessário pensar no seu significado e nas sensações que a mesma desperta nas pessoas. Também, é fundamental refletir sobre o conceito e a atividade realizada pela empresa, a fim de encontrar o tom condizente com a identidade da organização. César (2006) refere que a vivência, o ambiente, o contexto, aspectos culturais e luminosidade influenciam a reação das pessoas aos estímulos das cores. Em Direção de Arte Em Propaganda, o autor apresenta as sensações mais comuns associadas às cores no ocidente (2006, p.189-191). No entanto, aqui são apresentadas apenas as associações relacionadas ao produto que é objeto de estudo do artigo. Branco – paz, pureza, batismo, casamento, hospital, neve, frio, palidez, vulnerabilidade, dignidade, divindade, harmonia, inocência, etc. Vermelho – guerra, sangue, perigo, vida, fogo, sol, mulher, conquista, masculinidade, força, energia, movimento, violência, excitação, emoção, ação, etc. O vermelho é bastante usado em propaganda por ser uma cor muito atrativa e que possibilita contrastes interessantes, especialmente se combinado com branco e amarelo. Verde – primavera, natureza, floresta, flores, folhas, mar, vida, bem-estar, tranquilidade, segurança, liberdade, juventude, firmeza, coragem, esperança, etc. O verde é considerado uma cor que desencadeia paixões. Dependendo da tonalidade, pode estar associado à energia. O guaraná possui ótima combinação exatamente por isso. È uma planta forte, energética. O verde usado nas peças gráficas e nas embalagens do guaraná Antártica simboliza a natureza e a energia. Além, é claro, de juventude. Especialmente pela tonalidade vibrante do verde-limão. Fascioni e Vieira (http://www.ligiafascioni.com.br/artigos/PDCores.pdf, 05 jul. 2009) acrescentam as sensações associadas a cores metalizadas: “imagens brilhantes com a qualidade do ouro e prata. Sensações de brilho, luxo e elegância devido a associações com opulência e metais preciosos”. 4.3 Tipografia Atualmente, o número de fontes existente é imenso, tendo sua proporção aumentada pelo surgimento de novos tipos a cada dia. Com uma variedade de estilos à 82 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 disposição, a busca por uma fonte que seja adequada e represente a identidade visual de uma organização, tem sua importância reconhecida. A definição de um estilo tipográfico requer atenção para o posicionamento e personalidade que a empresa deseja passar ao seu público-alvo, a fim de escolher um tipo capaz de transmitir esta percepção. Para César, “a tipologia é fator importante na padronização visual do logotipo e, além disso, é importante na unidade da comunicação de uma empresa” (2006, p.121). Considerando os diversos tipos de fontes existentes, Williams (1995, p.83) ensina que é possível caracterizá-las em seis categorias: estilo antigo, moderno, serifa grossa, sem serifa, manuscrito e decorativo. Como o objeto de estudo contém apenas o estilo sem serifa, é sua definição que é apresentada aqui. Como o próprio nome informa, uma fonte sem serifa não possui o “pequeno traço, em forma de filete, barra ou simples espessamento, que finaliza (remata) as hastes das letras, de um ou ambos os lados” (BARBOSA; RABAÇA, 2001, p.668). Também, a maioria das fontes sem serifa não possui transição grosso-fino, atribuindo peso igual a todas as partes do tipo. A utilização das fontes para a composição de uma identidade visual pode ocorrer de diferentes maneiras. Na maioria das vezes, os estilos tipográficos são utilizados a fim de compor o logotipo de uma organização. Porém, os tipos também podem ser usados de forma diferenciada, tornando-os um símbolo tipográfico, responsável por representar a identidade de uma organização e pelo seu reconhecimento. Segundo Peón (2003, p.31), “o símbolo tipográfico é aquele que deriva da inicial ou das iniciais do nome da instituição que está sendo representada”. Este símbolo diferencia-se do logotipo por dois motivos: por “representar apenas a inicial do nome (e não o nome completo) ou porque as iniciais representadas denominam a empresa”. As fontes responsáveis por compor o logotipo, em determinadas situações, são associadas a grafismos, com o intuito de construir uma identidade visual diferenciada para uma determinada marca ou organização. Grafismos são “elementos gráficos”, geralmente “abstratos”, que têm como função “enfatizar algum conceito ou servir como apoio na organização visual de layouts, aliando a um componente estético a função de veicular a identidade visual da instituição” (PEÓN, 2003, p.45). Estes elementos são utilizados, geralmente, com o objetivo de transmitir ideias e sensações de “velocidade, solidez, contemporaneidade ou jovialidade”. Podem ter seu formato oriundo de alguma parte dos elementos principais de uma identidade visual, “especialmente da ampliação ou da adaptação de algum detalhe do símbolo”. A utilização destes elementos requer cautela, segundo Peón (2003), a fim de não prejudicar o foco de atenção dos elementos considerados primários e de destaque da identidade. Porém, refere a autora (2003, p.46), se considerado que os grafismos devam possuir um destaque maior, é aconselhável “transformar o grafismo num elemento primário ou em parte de um deles”. Peón ainda acrescenta: “Quando uma marca é composta pelo logotipo e por algum outro elemento que não possa ser aplicado isoladamente, então o que temos não é uma marca composta por um símbolo Opinio, n.22, jan./jun. 2009 83 e um logotipo, mas sim uma marca que é composta simplesmente por um logotipo conjugado a grafismo” (p.36). O grafismo, quando conjugado a um logotipo, caracteriza-se como um acessório que precisa da presença do mesmo para ser entendido. Se não for dessa forma, ele acaba por passar despercebido, por não ter qualquer aplicabilidade sozinho. Para Peón (2003, p.35), “se um grafismo puder ser aplicado independentemente do logotipo, ele não é um mero grafismo acessório, mas provavelmente um símbolo (um elemento primário) ou um dos elementos adicionais do sistema”. Dessa maneira, considerando que quando um grafismo é aplicado sozinho ele torna-se um símbolo, a sua associação a uma tipografia acaba por resultar não em um logotipo, mas na formação de uma marca (idem). 4.4 Organização dos elementos Para atingir o objetivo de marcar o posicionamento de uma organização por meio de uma identidade visual, é necessário compreender de que maneira os elementos visuais impactam psicologicamente o público, pela organização espacial dos elementos dispostos em peças gráficas, embalagens, rótulos e demais estruturas encarregadas de transmitir o posicionamento. Tendo em vista que o objeto de estudo desta monografia é a percepção dos consumidores de Kuat quanto ao posicionamento pretendido pela marca, através da mudança visual, é de grande importância apresentar os estudos realizados pela escola de psicologia alemã Gestalt, surgida no século XX, que visam esclarecer a leitura e interpretação visual realizada pelo público sobre determinadas formas e objetos. Segundo Gomes Filho (2004), os fundamentos que se destacam nesta escola são os seus princípios, denominados Leis da Gestalt, cujos princípios relevantes para este estudo são a Lei da Unificação e a Lei da Pregnância da Forma. A primeira refere-se à igualdade ou semelhança dos estímulos produzidos pelos elementos que compõem o objeto: “a unificação se verifica quando os fatores de harmonia, equilíbrio, ordenação visual e, sobretudo, a coerência da linguagem ou estilo formal das partes ou do todo estão presentes no objeto de composição” (GOMES FILHO, 2004, p.31). Já a Lei da Pregnância da Forma afirma que “um objeto com alta pregnância é um objeto que apresenta um máximo de equilíbrio, clareza e unificação visual, e um mínimo de complicação visual na organização de seus elementos ou unidades compositivas” (ibidem, p.36). 5 Marca Marca refere-se à forma como uma organização é representada, através de diversos elementos que permitem ao público identificar e diferenciar uma organização de outra. A marca está cada dia mais presente, mostrando que, para uma organização ser lembrada 84 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 e obter reconhecimento, deve possuir uma “marca própria” que a distinga das demais, fazendo possível a sua identificação. Conforme Serralvo (2008, p.27), é possível compreender a marca como a capacidade de “sedimentar uma estrutura mental” e auxiliar o público “a organizar seu conhecimento sobre produtos e serviços, com o objetivo de clarificar seu processo de decisão e prover valor para a empresa”. A principal característica da marca é possibilitar ao público a percepção das diferenças existentes entre o produto/serviço, frente aos concorrentes. Exemplificando, com as palavras de Ellwood (2004, p.19), é possível considerar a marca “como um tipo de bandeira acenando aos consumidores, provocando a consciência ou lembrança do produto e diferenciando-o da concorrência”. Além de diferenciar um produto dos seus concorrentes, as marcas têm como função agregar valor à mercadoria que estampam, ampliando tanto o seu valor financeiro como as suas características subjetivas. É através da marca que se dá a percepção dos benefícios emocionais e intangíveis do produto, que se destacam frente aos benefícios funcionais como preço e características físicas do mesmo. Através da marca, o produto consegue um valor agregado de credibilidade. Serralvo (2008, p.25) afirma que “por meio da marca a empresa promete e entrega ao cliente um valor superior ao que ele encontra no mercado”. Em busca de um espaço no mercado cada dia mais competitivo, as empresas procuram não só criar, mas sim, gravar a sua marca na mente das pessoas, fazendo com que essas a reconheçam através desta marca, lembrando-a e adquirindo os seus produtos e/ou serviços. Com este intuito, as empresas procuram criar marcas capazes de denotarem, através da sua identidade, “atributos positivos, benefícios, valores da empresa, personalidade e tipo de usuário na mente do comprador” (KOTLER, 2009, p.92). As marcas podem ser percebidas de duas maneiras: pelas associações feitas às suas qualidades tangíveis, através da sua embalagem, do desempenho funcional do produto, pela saciedade das necessidades básicas do consumidor; como também, pelas intangíveis, que representam o proveito emocional obtido através da aquisição e utilização da marca. (STRUNK, 2007, p.34). Ao contemplar as qualidades intangíveis, é possível destacar os benefícios emocionais proporcionados pelo uso e/ou simples aquisição de uma determinada marca, que, ao ser adquirida, desperta no seu consumidor um vínculo emocional, proporcionando-lhe satisfação e contentamento por algo a mais do que o ganho funcional. A marca é constituída por dois aspectos: o objetivo – que é visual, composto por formas, cores, tipos, os quais permitem formar um logotipo ou uma logomarca; e os aspectos subjetivos, que se referem à função emocional presente em uma marca. 5.1 Aspecto objetivo Para César (2006), no dia a dia é comum ver logotipo e logomarca serem confundidos e considerados semelhantes. Suas diferenças não são percebidas Opinio, n.22, jan./jun. 2009 85 corretamente e, na maioria das vezes, o público chama marcas de logotipos. Porém, estes elementos possuem significados diferentes. Enquanto o logotipo pode ser compreendido como a “particularização da escrita de um nome”, representado sempre pelo “mesmo tipo de letra (especialmente criado, ou não)” (STRUNK, 2007, p.70), a marca, como já visto, é um conjunto de atributos de uma organização, associando logotipo ou logomarca a elementos subjetivos. Logomarca, por sua vez, inclui, além da escrita do nome, símbolos ou outros elementos gráficos. Péon (2003, p.28) afirma que o logotipo representa “a forma particular e diferenciada com o qual o nome da instituição é registrado nas aplicações”. Segundo a autora, o logotipo muitas vezes é abreviado, sendo apresentado como “logo”, porém, esta forma de expressão tira do mesmo o seu significado principal, que é a sua composição necessariamente através de letras. A logomarca pode ser compreendida como um conjunto de fontes que formam o logotipo, juntamente com imagens e grafismos que compõem o símbolo, a fim de caracterizar uma marca/empresa. A logomarca pode ser considerada o “símbolo maior da identidade” da organização, por ser ela que fortifica a relação entre a mesma, o produto/serviço e o seu consumidor (CÉSAR, 2006, p.112). Como foi feita referência, nesta seção, seguidamente ao termo “símbolo”, vale apresentar sua conceituação. Símbolo é um tipo de signo. Segundo Peirce (apud SANDMANN, 1997, p.15), é possível compreender o signo como “algo que significa alguma coisa para alguém”. Há, desta forma, uma relação entre objeto/referente, signo/representante e sujeito/ interpretante, Dependendo da forma como se dá esta relação, formam-se os três tipos de signos: o símbolo, o índice e o ícone. Sandmann (1997, p.15) relata que o símbolo representa uma “relação convencional ou arbitrária” entre o signo e o objeto. Strunk (2007, p.71), o define como sendo “um sinal gráfico que, com o uso, passa a identificar um nome, ideia, produto ou serviço”. Este autor afirma que qualquer elemento, como um “desenho”, pode ser visto como um símbolo “se um grupo de pessoas o entender como a representação de alguma coisa além dele mesmo.” Ícone ou símile pode ser conceituado como a representação do objeto, ou seja, é a relação entre o signo e o referente baseada em semelhança – física, de uso ou cultural, esclarece Sandmann (1997). Já o índice significa a relação entre signo e referente baseada na “experiência, na história” na vizinhança, na proximidade (SANDMANN, 1997, p.15). Pode ser compreendido como a indicação de algo adquirido através do conhecimento ou de alguma experiência anterior. As marcas geralmente são símbolos, porque são definidas arbitrariamente por quem as cria como significando uma organização. Fantoni (2006, p.111) afirma: símbolo significa “a marca ou identidade visual, o grafismo icônico e emblemático que reúne todo o significado corporativo da empresa”. 86 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 5.2 Aspectos subjetivos Para uma marca obter o reconhecimento e alcançar o objetivo de impactar o consumidor, é necessário construir uma relação de “amizade” entre ambos, afirma Aaker (1996). Conforme o autor, construir uma relação “emocional” fará com que o consumidor passe a considerar de forma positiva a marca e, assim, busque ter uma relação de fidelidade e satisfação com a mesma, diminuindo, em grande proporção, a possibilidade de abandoná-la por uma concorrente. “Uma marca que conquiste sua mente consegue um comportamento. Uma marca que conquiste seu coração consegue um compromisso” (AAKER, 1996, p.153). Dessa maneira, ganha destaque a busca por fixar a marca perante o público-alvo, pois é ela que carrega e representa a imagem, o posicionamento e os benefícios do produto que estampa, sendo, consequentemente, o principal fator que faz decidir, ou não, a compra. Para Aaker (1998, p.116), “o valor resultante do nome de uma marca é frequentemente o seu conjunto de associações, o seu significado para as pessoas. As associações representam as bases para as decisões de compra e para a lealdade à marca”. Uma empresa e, consequentemente, a sua marca e o seu produto podem ser percebidas pelos seus consumidores de forma positiva, ou não, dependendo do seu posicionamento e sua forma de atuação. É através do denominado Brand Equity, “conjunto de ativos – como conhecimento do nome, consumidores leais, qualidade percebida e associações” que são criados os valores emocionais para a marca e consequentemente, ao seu produto e serviço ofertado (AAKER, 1998, p.7). Segundo Serralvo (2008, p.137), é possível compreender o conceito do Brand Equity como “o conjunto de atributos intangíveis que a marca consegue transferir para a oferta (produto ou serviço) da empresa, sendo representado por todas as associações positivas (funcionais ou emocionais)”. Conforme Aaker (2007), a marca pode ser percebida primeiramente através da sua perspectiva como produto – na qual a marca acaba por representar o próprio, através de seu “escopo, atributos, qualidades/valor, usos, usuários e país de origem do produto” (p.74). Mas, o autor (1998) refere que a marca pode ser percebida, também, sob outras perspectivas: como organização, como pessoa ou como símbolo. A marca organizacional refere-se aos atributos pertencentes à empresa e não ao produto que produz. Estes atributos são percebidos pelo público através da cultura, dos valores, das ações e do posicionamento adotado pela empresa. Sob este ponto de vista de marca que representa a identidade da organização, ela funciona como um fator responsável por aumentar a credibilidade e a confiança dos consumidores em relação aos benefícios do produto ofertado pela empresa. Para Aaker (2007, p.132), “a marca corporativa é como o porta-bandeira à frente de um exército, conferindo credibilidade aos soldados, mas dependendo deles para lutar”. Dentro desta mesma ótica, a marca, desempenha um papel cuja importância é ressaltar os atributos pertencentes a uma organização, pois estes “são mais duradouros e mais resistentes à comunicação da concorrência que os atributos relacionados ao produto” Opinio, n.22, jan./jun. 2009 87 (AAKER, 2007, p.87). Uma empresa forte e bem consolidada, com atuação reconhecida, contribui como uma forma de valor, despertando assim a credibilidade e confiança do consumidor frente aos produtos e serviços que disponibiliza, garante Aaker. Uma marca como pessoa obtém uma “identidade de marca mais rica e interessante que aquela baseada nos atributos do produto”. Da mesma forma como uma pessoa, a “marca pode ser percebida como superior, competente, marcante, fidedigna, divertida, ativa, humorística, causal, formal, jovem ou intelectual”, dependendo da forma como se apresenta frente ao mercado (AAKER, 1996, p.96). Quesitos relacionados “à área onde mora, amigos, atividades, roupas e maneira de interagir”, são pontos de referência que são levados em consideração ao ser avaliada tanto a personalidade de uma pessoa como a de uma marca (AAKER, 2007, p.145). Dessa forma, é possível definir a personalidade da marca como sendo um conjunto de características humanas relacionadas a uma marca específica. Essas podem englobar diversos aspectos como: “gênero, idade, classe socioeconômica, além de traços clássicos da personalidade humana como carinho, interesse e sentimentalismo” (AAKER, 2007, p.141). É através destes elementos que a personalidade de uma marca pode ser representada e percebida como tal pelos seus consumidores. Como marca símbolo, ela destaca-se através da possibilidade de gerar o reconhecimento e a memorização através dos símbolos que a representam. Por ser revelada através de elementos visuais, “sua presença pode ser um componente fundamental do desenvolvimento de uma marca e sua inexistência pode constituir uma deficiência substancial” (AAKER, 2007, p.88). O símbolo, com o passar do tempo e através das associações desenvolvidas, é responsável por captar e representar as características associadas a uma determinada marca. Através desta representação das associações referentes à mesma, o símbolo destaca-se por reproduzir a sua imagem e facilitar a sua recordação, sendo necessário apenas “um vislumbre para que a marca seja lembrada” (AAKER, 2007, p.88). Segundo Aaker (2007, p.88), “um símbolo poderoso pode proporcionar coesão e estrutura a uma identidade, facilitando a obtenção de reconhecimento e a recordação”. Vistos os conceitos que permitem contextualizar o objeto de estudo deste artigo e analisar os resultados obtidos na pesquisa realizada, a próxima seção os relata e analisa. 6 percepção do consumidor portoalegrense de guaraná kuat sobre o novo posicionamento da marca através da sua nova identidade visual Antes da apresentação dos resultados da pesquisa propriamente dita, é importante contextualizar o guaraná Kuat, seu posicionamento e a pretensão do fabricante com o reposicionamento realizado em 2008.. 88 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 O nome Kuat é oriundo da língua Tupi-Guarani e significa “irmão gêmeo da lua” e “foi escolhido pelos próprios consumidores que, entrevistados, escolheram a palavra por sua sonoridade, por ser diferente e por estar em perfeita harmonia com o conceito do produto” (KADUDIAS, http://mundodasmarcas.blogspot.com/2006/06/ guaran-kuat-abra-kba.html, 20 jun. 2006). Kuat caracteriza-se, em seu segmento, como um refrigerante “que contém guaraná da Amazônia” (www.cocacolabrasil.com. br/conteudos.asp?item=3&secao=36& conteudo=98, 12 abr. 2009). Em 2008, Kuat apresentou uma nova identidade visual e um novo posicionamento, movimentando o segmento de guaraná, com uma proposta inovadora tanto pelo visual como pelo conceito adotado. Por meio da nova embalagem, Kuat pretendeu apresentar a sua evolução de marca, “que é identificada como mais moderna, mais jovem” (blog. alemdapropa ganda.com.br/2008/03/06/santa-clara-reposiciona-marca-parakuat, 06 mar. 2008). FIGURA 1 – Embalagens de guaraná Kuat de dezembro de 2004 (esquerda) e de março de 2008 (direita). Fontes: http://mundodasmarcas.blogspot.com/2006/06/guaran-kuat-abra-kba.html e http://www.cocacolabrasil. com.br/release_detalhe.asp?release=136&Categoria=21, respectivamente. Acesso em: mar. 2008 Andréa Mota, diretora de marketing da Coca-Cola Brasil, afirma que, através do seu reposicionamento, a marca Kuat visa mostrar às pessoas que o mundo não está pronto e que, dessa forma, todos devem fazer uso de sua “energia natural” a fim de “transformar as coisas”, indo em busca da evolução, através de mudanças no seu cotidiano. “Esse conceito já foi muito bem materializado nas novas embalagens, que são uma metáfora perfeita de como se pode chegar à evolução de forma simples, buscando um novo olhar sobre algo que já existia: o belíssimo tom dourado do guaraná” (apud PRADO, www.ccsp.com.br/ultimas/noticia.php?id =30665, 25 mar. 2008). Para Mota: Opinio, n.22, jan./jun. 2009 89 A mudança da identidade visual de Kuat é o começo de um novo e envolvente caminho. As novas embalagens, que são lindas, marcam o início da evolução também da nossa comunicação com o consumidor. Kuat acredita na evolução, que é a nossa bandeira a partir de agora. Acreditamos que o mundo não está pronto, que não existem espaços que não possam ser conquistados... (http:// www.cocacolabrasil.com.br/release_detalhe.as?release=136&Categoria=21, mar. 2008) O principal fator motivador do reposicionamento de Kuat, segundo o site da Coca-Cola Brasil (http://www.cocacolabrasil.com.br/release_detalhe. asp?release=136&Categoria=21, mar. 2008), é o desejo de instigar no consumidor a busca constante por mudanças em sua vida. Porém, para que pudesse assumir este posicionamento, a marca precisou, antes de tudo, olhar e aplicar para si mesma este conceito, analisando o seu segmento e apresentando uma nova visão e opção de produto para a sua categoria (idem). Por isso, o novo conceito; “a gente muda, o mundo muda”. A nova identidade visual, criada pela agência Santa Clara, rompe com o padrão até então utilizado nas embalagens de Guaraná, substituindo os tons do fruto, verde e vermelho, pela cor dourada da bebida. Segundo a diretora de marketing da Coca-Cola, esta é uma das principais mudanças visuais. Mota refere como características relevantes da nova identidade da marca: ...o inédito tom dourado, se apropriando da cor que caracteriza o refrigerante, e abandona a tradicional combinação de verde e vermelho, normalmente utilizada pela categoria. Além de mais moderno, o grafismo de Kuat também está mais iconográfico: a letra K do logotipo ficou mais longelínea [sic] e a imagem do fruto, vermelha, dá lugar a uma discreta esfera, na mesma cor. (http://www.cocacolabrasil. com.br/release_detalhe.asp?release=136Categoria=21, mar. 2008) Com uma nova campanha publicitária, novos slogan e identidade visual, o guaraná Kuat buscou destacar-se frente ao mercado, focando em diversos objetivos, entre eles: “aumentar a identificação do consumidor com os atributos de modernidade e beleza”; “inspirar a evolução das pessoas”; “imprimir as características de inovação e evolução”; ser “identificada como mais moderna, mais jovem”; Tornar-se a primeira marca na sua categoria (blog.alemda propaganda.com.br/2008/03/06/santa-clara-reposiciona-marcapara-kuat, 06 de mar. 2008). 6.1 análise da nova identidade visual Como o objetivo da pesquisa é verificar se os consumidores de Kuat percebem o posicionamento pretendido pela marca através da nova identidade visual do refrigerante, 90 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 faz-se necessário, em um primeiro momento, uma análise desta nova identidade visual. Compondo o logotipo, que se refere à forma tipográfica utilizada para representar e registrar o nome da marca, proporcionando-lhe uma identidade visual própria, como afirma Fantoni (2006), está escrito Kuat, em caixa alta e na vertical. O estilo tipográfico utilizado é sem serifa, o que faz com que todas as letras tenham o mesmo peso entre si (CÉSAR, 2006). Os símbolos verificados na identidade de Kuat são uma letra “K” verde, em tamanho grande, com a “perna” direita alongada em uma curva, e um círculo vermelho, pequeno, colocado à altura da reentrância da letra “K”, à sua direita, separado da letra por pequena distância. O círculo vermelho presente na nova identidade visual foi incluído com o propósito de representar o fruto do guaraná. Dessa forma, ele pode ser considerado um ícone, por estar representando o objeto “fruto guaraná” a partir de sua semelhança com o mesmo. Porém, além de ser um ícone, ele também se caracteriza como um símbolo, por ser inserido na identidade de Kuat com o intuito de remeter não somente à representação do fruto, mas significando o próprio fruto guaraná, do qual a bebida é feita. Assim, é possível verificar que o círculo vermelho da identidade visual de Kuat possui a combinação de símbolo e ícone, sendo, dessa maneira, um símbolo icônico. Em relação ao “K”, restam dúvidas quanto à sua colocação dentro de uma classificação inquestionável. A letra, da forma como foi desenhada na identidade visual, pode ser considerada de diversas formas, a se tomar como referência aspectos teóricos diferentes. O “K” pode ser um símbolo, ao constituir um “grafismo icônico e emblemático que reúne todo o significado” da marca, considerando o que Fantoni defende (2006, p.111). Relembrando: um grafismo, segundo Péon (2003, p.45), tem seu “formato oriundo de alguma parte dos elementos principais de uma identidade visual” e tem “o objetivo de transmitir ao receptor ideias e sensações de velocidade, solidez, contemporaneidade ou jovialidade”. Por isso, com Péon (2003), o “K” também pode ser considerado como um símbolo que se originou de um grafismo. Ou seja, a origem do formato do “K” verde é a adaptação do K do logotipo, o que o caracteriza como um grafismo. Mas, o “K” de Kuat deixa de ser um mero grafismo e pode ser conceituado como um símbolo pelo fato de ter um destaque maior na embalagem do que o próprio logotipo. Dessa forma, ele passa a ser um elemento primário, como um símbolo, além de possibilitar a sua identificação quando aplicado sozinho. Assim, o logotipo (Kuat) e o símbolo (K), juntamente com o símbolo icônico círculo vermelho compõem a marca do refrigerante. Por outro lado, tomando a citação acima de Péon (o grafismo tem seu “formato oriundo de alguma parte dos elementos principais de uma identidade visual”) por outra perspectiva, o “K” presente na embalagem de Kuat pode ser considerado apenas um grafismo. Como grafismo, é um elemento acessório do logotipo e, assim, precisa do mesmo para ser entendido e representado. Nesta ótica, a marca do refrigerante seria formada pelo logotipo Kuat, seu acessório “K” e pelo símbolo icônico do fruto. Andréa Mota, diretora de marketing da Coca-Cola Brasil, usou o termo “grafismo” para se Opinio, n.22, jan./jun. 2009 91 referir à letra “K” da nova identidade visual do guaraná, no site da empresa que produz a bebida: “o grafismo de Kuat também está mais iconográfico: a letra K do logotipo ficou mais longilínea” (http://www.cocacolabrasil. com.br/release_detalhe.asp?release= 136&Categoria=21, mar. 2008). A citação de Mota poderia sustentar a posição do “K” como grafismo e parte do logotipo, frente à nova identidade. Quando considerada esta citação de Mota em uma perspectiva de comparação entre a identidade visual da lata antiga e a da nova, o que se pode perceber é que o “K” presente na nova embalagem tem seu formato oriundo do logotipo utilizado na embalagem antiga do guaraná (ver figura 1), o que poderia sustentar a ideia dele ser um grafismo acessório do mesmo. Mas se analisada a composição da identidade visual de Kuat a partir da nova embalagem, essa posição de grafismo oriunda do logotipo não fica clara, não podendo ser classificada dessa forma. Isto porque na nova embalagem, como já foi referido, o “K” como um grafismo recebe mais destaque do que o próprio logotipo, o que importaria em ele deixar de ser um mero grafismo acessório passando a ser um símbolo. Em mais uma alternativa de classificação, também a partir de Péon, o “K” pode ser considerado símbolo tipográfico, por ser um elemento derivado do nome Kuat, que visa representar. Conforme foi visto, para a autora, um símbolo tipográfico deriva da inicial do nome da instituição representada. Nessa perspectiva, a marca Kuat formar-seia pela união do logotipo, do símbolo tipográfico e do símbolo icônico que representa o guaraná – o círculo vermelho. Passando à análise das cores presentes nos elementos que compõem a identidade visual de Kuat, é necessário analisar as sensações que estas são capazes de despertar nos seus consumidores, considerando que cores são os principais elementos que possibilitam estimular emoções (CÉSAR, 2006, p.191). A cor dourada, que é a base onde repousa a nova marca de Kuat, com a função de remeter à cor da bebida, é a que mais chama a atenção dos entrevistados na embalagem do guaraná. Isto devido ao seu brilho metálico, que acaba por despertar sensações “de brilho, luxo e elegância, devido a associações com opulência e metais preciosos” (FASCIONI; VIEIRA, http://www.ligiafascioni.com.br/ artigos/PDCores.pdf, 05 jul. 2009). Quanto ao símbolo icônico, o vermelho representa a cor característica do fruto, podendo passar sensações de “força, energia, movimento... excitação, emoção”1, além de ser uma cor que atrai a atenção (CÉSAR. 2006, p.191). O verde presente no “K” remete à ideia de “natureza, floresta, folhas”, relacionados ao fruto que produz a bebida. O verde é capaz de despertar a sensação de “bem-estar, tranquilidade, segurança, liberdade, juventude, firmeza, coragem, esperança” (idem). Segundo César, a cor verde é uma boa combinação com guaraná, devido ao fato de ser “associado à energia”. Isto contraria sua própria definição de que o vermelho é a cor da energia. Já a cor branca, presente na identidade visual através do logotipo, transmite a sensação de “harmonia”, quando relacionada às demais cores presentes na identidade visual, por ser de fácil combinação (CÉSAR, 2006, p.189). 1 Força, energia e excitação são, inclusive, consequências conhecidas do consumo do guaraná na forma de pó ou cápsulas. 92 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 Ao analisar as formas presentes na nova identidade, é necessário analisar os estímulos visuais que estas são capazes de transmitir. Através da linha curva e contínua do “K”, é possível considerá-lo um elemento que “produz a sensação de movimento” (RIBEIRO, 2007, p.152). O ponto vermelho é um elemento visual básico, que funciona como um forte centro de atração, despertando a atenção para si (GOMES FILHO, 2004, p.42). Este elemento, em forma de círculo, pode despertar a sensação de “infinitude, calidez, proteção” (DONDIS, 1997, p.58). Mas, como estas sensações não foram descritas como desejadas pela marca, é possível deduzir que a função do círculo, na identidade visual de Kuat, é representar o fruto guaraná, considerando o que já foi discutido antes, e não transmitir as sensações acima apresentadas, com Dondis. Segundo Gomes Filho (2004), quando uma identidade visual é composta, torna-se necessário compreender de que maneira os elementos visuais que a compõem são vistos e interpretados. Dessa forma, avaliando a organização dos elementos da nova identidade de Kuat, é possível indicar a presença da Lei da Unificação, pois, considerando Gomes Filho (2004, p.31), “a unificação se verifica quando os fatores de harmonia, equilíbrio, ordenação visual e, sobretudo, a coerência da linguagem ou estilo formal das partes ou do todo estão presentes no objeto de composição”. Tais fatores estão presentes na identidade de Kuat. Ela também apresenta a Lei da Pregnância, devido à composição da marca apresentar “equilíbrio, clareza e unificação visual, e um mínimo de complicação visual na organização de seus elementos ou unidades compositivas” (GOMES FILHO, 2004, p.36). Findada a análise da nova identidade visual de Kuat, é importante relembrar o posicionamento pretendido pela marca, para proceder à análise dos resultados obtidos na pesquisa: o posicionamento pretendido pela marca Kuat é o de uma marca que evolui. O novo posicionamento de Kuat foi tornado público através de mudanças do conteúdo de sua comunicação, com o slogan “a gente muda, o mundo muda”, entre outros aspectos, e do elemento avaliado neste trabalho: a alteração da identidade visual. Esta alteração se fazia necessária para demonstrar o novo posicionamento, pois, segundo Dondis (1997), as empresas buscam divulgar sua imagem através da criação de símbolos e identidades visuais, já que estas são capazes de transmitir ao mercado suas ideias e o seu posicionamento. Considerando a nova identidade visual de Kuat, os entrevistados associaram “inovação” à marca. Com isso, fica claro que o objetivo de “imprimir características de inovação e evolução” foram atingidas. O posicionamento pretendido, “a gente muda, o mundo muda”, apenas pela identificação visual não é percebido pelos entrevistados. Com Kotler (1996, p.270) foi visto que o posicionamento de uma empresa faz com que sua marca “ocupe um lugar distinto e valorizado nas mentes dos consumidoresalvo”. Serralvo (2008) também sustenta a necessidade da marca oferecer às pessoas elementos de diferenciação frente aos seus concorrentes. Pelos resultados das entrevistas é possível verificar que, se Kuat ainda não ocupa um lugar valorizado na mente destes consumidores entrevistados, a distinção em relação à concorrência é feita. Mas, através Opinio, n.22, jan./jun. 2009 93 dos aspectos objetivos da marca Kuat, que foram bastante comentados. Dessa forma, a valorização de Kuat se dá mais pela sua identidade visual, como exemplifica a fala de uma entrevistada: “a empresa já é bem conhecida e [...] só precisa de um “K” grande para ser reconhecida, não precisa ter o nome Kuat grande como era na antiga” (BRUNO, 23 anos, 3º grau incompleto). Ainda nesta mesma interpretação, de valorização da marca por sua identidade visual, e não pelo seu posicionamento e/ou valores expressos nele, Kuat teve sua identidade visual associada com a de bebidas estrangeiras, como exemplifica a fala de Amanda (24 anos, 3º grau incompleto): “parece até ser uma bebida estrangeira, que não é nacional”. Isto pode ser percebido como fato positivo, considerando que algo importado seja sinônimo de um valor agregado superior. Como refere Kotler (2009, p.92), as empresas procuram criar marcas capazes de denotarem, através da sua identidade “atributos positivos, benefícios, valores da empresa, personalidade e tipo de usuário na mente do comprador” (KOTLER, 2009, p.92). Por outro lado, a marca renovada é identificada como “mais moderna e mais jovem”, como provam a escolha da característica “modernidade” em segundo lugar, empatada com elegância, nos resultados da questão que apresenta, em um disco, palavras a serem associadas à bedida, bem como a percepção dos entrevistados de que o guaraná Kuat é destinado ao público jovem, principalmente dos 16 aos 20 anos. O site da marca indica que o público visado pela empresa é de 18 a 24 anos e a pesquisa Ipsos Marplan (Ipsos Marplan/Grande Porto Alegre/Filtro: Marca + frequente [Guaraná] – Kuat) indica consumo prioritário nas faixas 20 a 24 anos. Estes dois resultados mostram que a marca conseguiu atingir mais um objetivo, o de ser “identificada como mais moderna, mais jovem”. Aaker (2007) afirma que a marca pode ter características humanas, como “gênero, idade”, que são percebidas pelo público. Assim, a percepção dos entrevistados define uma personalidade jovem para Kuat. Em relação aos elementos constituintes da nova identidade visual, as cores, juntamente com a letra “K”, são os elementos visuais que mais se destacaram para os entrevistados. A cor dourada, conforme visto na abordagem de Facioni e Vieira (http://www. ligiafascioni.com.br/artigos/PDCores.pdf, 05 jul. 2009), remete a “brilho, luxo e elegância”. Este significado da cor justifica que o atributo elegância tenha sido a segunda palavra mais associada a Kuat, junto com “modernidade”. Também contribui para esta “elegância” a redução do tom do verde e do vermelho utilizados. O verde e o vermelho foram destacados pelos entrevistados. Conforme César (2006), a cor verde realiza associações com jovialidade, “natureza e energia”. O vermelho, por sua vez, representa “força, energia, movimento” e destaca‑se como ponto de atração. Os entrevistados comentaram que, na nova identidade visual de Kuat, “o logo, a cor, não são mais tão coloridos” (JULIO, 14 anos, ensino médio incompleto). O “K”, para os entrevistados, ganhou mais visibilidade, resumindo e substituindo a marca Kuat presente na embalagem anterior. Esta percepção pode ser associada ao que Aaker (2007, p.88) afirma: “basta um vislumbre para que a marca seja lembrada.” 94 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 O “K” foi denominado pelos entrevistados “logotipo”, que, conforme Strunk (2007), é a representação de uma empresa/marca/produto através de letras – embora, como visto anteriormente, o “K” não se enquadre nesta definição. Ainda em relação ao “K”, pode-se compreender que o mesmo denota sensação de movimento, considerando definição de Ribeiro (2007, p.152) das representações da linha curva: produz sensação de “movimento, instabilidade, de doçura, de graciosidade, de alegria”. A marca Kuat é identificada pelos entrevistados como mais simples, porém não menos atrativa, o que a faz diferenciar-se dos seus concorrentes. Isto pode ser associado ao fato do logotipo ser simples, de fácil memorização e identificação, como recomendam Barbosa e Rabaça (2001, p.441). Os resultados da pesquisa mostram que não houve associações da nova embalagem da Kuat com fatores emocionais, mas apenas aos elementos gráficos. Isto pode ser compreendido como uma perda para a marca, ao se considerar Aaker (1996), quando diz que a construção de relações emocionais faz com que o consumidor considere a marca positivamente e a fideliza. Pelos resultados, as mudanças de Kuat fidelizaram apenas em torno de 20% dos entrevistados. Por fim, a partir desta análise dos resultados, percebe-se que, mesmo que o posicionamento de Kuat não seja percebido pelos entrevistados como proposto pela marca, os objetivos pretendidos ao investir em um novo posicionamento foram alcançados: “imprimir as características de inovação e evolução”; ser “identificada como mais moderna, mais jovem”. 7 Conclusão O objetivo da pesquisa aqui relatada era verificar se os consumidores portoalegrenses de Kuat percebem o posicionamento pretendido pela marca através da sua nova identidade visual. A partir dos dados obtidos, é possível constatar que os consumidores do guaraná entrevistados não percebem o posicionamento pretendido pela marca através da sua identidade visual. Eles identificam uma mudança significativa da identidade, mas apenas nos elementos gráficos que a compõem, através da utilização de cores diferentes, como o dourado, da adaptação das cores verde e vermelho para tons mais discretos, além de mudanças na disposição e no tamanho dos elementos. Os entrevistados associaram a Kuat, principalmente, as palavras “inovação”, “modernidade” e “elegância”. Mas, a inovação percebida é associada à mudança de sua embalagem e ao fato de, na nova configuração gráfica, Kuat diferenciar-se dos demais refrigerantes da sua categoria, fugindo do padrão adotado até o momento. Os aspectos de Kuat estar em busca da inovação, e que o consumidor também pode inovar, informados pela diretora de marketing da Coca-Cola Brasil como sendo os que constituem o novo posicionamento da marca, não são percebidos pelos consumidores ao se depararem com uma lata do refrigerante. Mas, deve-se pensar que a comunicação, Opinio, n.22, jan./jun. 2009 95 como um todo, faça a diferença para a transmissão do posicionamento com o qual a empresa deseja ser reconhecida. Considerando os resultados obtidos e as associações citadas, percebe-se que, mesmo que o seu posicionamento não fique claro para os entrevistados através da identidade visual, a marca conseguiu atingir alguns dos seus objetivos. Pode-se dizer isso pelo fato de Kuat ter sido percebida pelos consumidores como mais moderna, mais jovem e inovadora. A realização deste trabalho, através da fundamentação teórica, da pesquisa realizada e da análise dos resultados obtidos, oportunizou verificar que, para o posicionamento de uma marca ser compreendido, mais do que uma mudança de identidade visual, é necessário que haja a comunicação desse posicionamento para o mercado. No entanto, para que isso seja provado, é necessário realizar pesquisa específica com tal foco. Desta forma, seria interessante realizar um estudo abordando os diferentes aspectos de comunicação utilizados por Kuat, podendo assim, identificar a força de cada um para comunicar o posicionamento, considerando que, como visto, apenas a identidade visual não foi eficaz para alcançar plenamente o resultado esperado. Assim, é interessante avaliar junto ao público como seria compreendido o posicionamento através da comunicação da marca. REFERÊNCIAS AAKER, David A. Criando e administrando marcas de sucesso. São Paulo: Futura, 1996. ______. Marcas: brand equit, gerenciando o valor da marca. 2.ed. São Paulo: Negócio, 1998. ­______. Construindo marcas fortes. Porto Alegre: Bookman, 2007. BARBOSA, Carlos Gustavo; RABAÇA, Gustavo Guimarães. Dicionário de comunicação. 2.ed. Rio de Janeiro: Campus, 2001. CASAS, Alexandre Luzzi Las. Marketing: conceitos, exercicios e casos. 4.ed. São Paulo: Atlas, 1997. CESAR, Newton. Direção de arte em propaganda. 8.ed. Brasília, DF: SENAC, 2006. COBRA, Marcos. 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Dentre os resultados obtidos, destacaram-se: as empresas percebem as ações de marketing cultural como um elemento estratégico para reforço de marca; a principal motivação das empresas para investir em marketing cultural é a percepção deste como uma forma de comunicação que possibilita uma aproximação maior, mais dirigida e mais eficaz com o público-alvo; e, por fim, os entrevistados consideram que os investimentos em marketing cultural são de difícil mensuração objetiva, mas ainda assim, percebem que essas ações trazem retorno institucional. Palavras-chave: Marketing cultural. Composto promocional. Patrocínio de eventos. Cultural marketing as a component of the promotional mix ABSTRACT This article aims to identify companies’ perceptions about cultural marketing as a component of promotional mix tools. As methodology, an exploratory research was conducted, with multiple cases study. The interviews reached managers responsible for communication strategies in Rio Grande do Sul companies, which regularly invest in cultural marketing. The four companies researched were: Pepsi, General Motors do Brasil, Dana and Cooperativa Piá de Alimentos. The main results point that: companies perceive cultural marketing actions as an strategic element to strength brand; the main motivation for the companies to invest in cultural marketing is the perception of it as a way of communication which makes possible a bigger proximity, more direct and efficient with the target; and, for last, interviewed managers consider that cultural marketing investments are difficult to measure objectively, but still, they perceive that these actions bring institutional return. Keywords: Cultural marketing. Promotional mix. Events sponsorship. Diogo Simões Pires é graduado em Administração com ênfase em Marketing pela UFRGS, pós-graduando em Comunicação com o Mercado pela ESPM-RS e sócio-diretor da Differente Ativação e Reação. E-mail: [email protected] Valesca Reichelt é Doutora em Administração com ênfase em Marketing pela EAESP-FGV. Professora dos cursos de Administração e Comunicação Social da ULBRA, campus Canoas. E-mail: [email protected] Opinio Canoas Opinio,n.22 n.22, jan./jun. 2009 p.99-118 jan./jun. 2009 99 1 INTRODUÇÃO Em um mercado cada vez mais segmentado, com menor diferenciação entre produtos e serviços, e com uma crescente saturação dos meios convencionais de publicidade e propaganda, as empresas precisam buscar novas alternativas para aproximarem-se dos seus públicos-alvo e estabelecer laços mais estreitos com o consumidor. Para isso, as empresas têm diversificado seus investimentos em promoção, procurando acrescentar ao seu composto promocional formas alternativas de comunicação. Neste cenário, o marketing cultural vem ganhando destaque e reconhecimento como uma das ferramentas capazes de auxiliar as organizações a atingirem seus objetivos de comunicação e de construção de marca. O objetivo deste artigo é identificar, portanto, qual a percepção das empresas sobre o marketing cultural como uma das ferramentas disponíveis à formação do seu composto promocional. Como objetivos específicos, são enumerados: a) Identificar quais as motivações que levam as empresas a incluir o marketing cultural no seu composto promocional; b) determinar quais são os critérios utilizados pelas empresas patrocinadoras para a tomada de decisão na escolha do evento cultural a ser patrocinado; c) verificar qual a importância percebida pela empresa patrocinadora aos diferentes títulos de participação em um evento. Quando o departamento de marketing de uma empresa define os elementos de seu composto promocional – tendo a possibilidade de investir não só em ferramentas tradicionais como publicidade e propaganda, mas também no marketing cultural – se depara constantemente com dúvidas como: É vantajoso destinar parte da verba promocional para marketing cultural? Qual a melhor forma de investir em marketing cultural? Quais são os tipos de eventos culturais e públicos que determinadas empresas podem adequadamente patrocinar? Este estudo enfoca o marketing cultural como uma das ferramentas disponíveis ao administrador de marketing na elaboração do composto promocional e de comunicação das empresas. Conforme Waquin e Farias (2002, p.3): No Brasil, tais investimentos vêm ganhando maior impulso através da legislação de fomento à cultura, no entanto, se comparados aos grandes investidores mundiais, as empresas que atuam no âmbito nacional ainda caminham a passos lentos. Apesar disso, esse cenário começa a ser modificado. O método utilizado para a elaboração deste estudo foi constituído por pesquisa de campo, caracterizada como pesquisa exploratória. Esta pesquisa exploratória foi realizada através de entrevistas em profundidade com os gestores responsáveis pelas decisões mercadológicas de empresas que investem no marketing cultural no Rio Grande 100 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 do Sul, comparando suas percepções e suas práticas. As empresas pesquisadas foram: Pepsi, General Motors do Brasil, Dana e Cooperativa Piá de Alimentos. O marketing cultural ainda é um tema pouco explorado em trabalhos acadêmicos, não existindo uma bibliografia referencial tão farta como para outros temas relevantes do marketing e da comunicação. Espera-se que esse artigo auxilie as empresas que já investem em marketing cultural ou as que ainda pretendem investir, a tomar decisões com maior embasamento teórico e prático, além de contribuir com a construção do conhecimento no campo do marketing cultural. Assim, as empresas patrocinadoras poderão otimizar seus investimentos em marketing cultural e os produtores e agentes culturais poderão oferecer projetos mais adequados, beneficiando não só os envolvidos, mas a sociedade com um todo, que se beneficiará de mais e melhores opções de cultura e lazer para seu desenvolvimento. 2 CENÁRIO DO MARKETING CULTURAL NO BRASIL Segundo Costa (2006, p.11), o marketing cultural “apresenta-se como uma alternativa para atingir os objetivos de comunicação corporativa e construção de marca, sendo uma estratégia já utilizada com sucesso por muitas empresas, inclusive no Brasil”. Dentro deste contexto, será apresentado o cenário no qual o marketing cultural está inserido e as aplicações e vantagens que ele pode proporcionar como ferramenta do composto promocional em um cenário onde, segundo Costa (2006) as mídias de massa perdem força gradativamente e novas formas de comunicação – e por consequência de formação do composto promocional – começam a surgir, ganhando destaque e relevância. Para Waquin e Farias (2002, p.1), cada vez mais os profissionais de marketing estão buscando alternativas no arranjo do seu composto promocional para atingir um novo perfil de consumidor que está se tornando mais segmentado e menos suscetível aos apelos das ferramentas tradicionais do composto de comunicação, como fica claro no trecho a seguir: Nos últimos anos os profissionais de marketing têm sido motivados a encontrar novos caminhos de acesso aos clientes, levando as organizações a repensarem sobre a utilização das ferramentas do composto de comunicação. As mudanças nas comunicações em marketing devem-se [...] à fragmentação do mercado de massa e aos avanços tecnológicos nas áreas de computação e informação que estão acelerando o desenvolvimento do marketing segmentado. Segundo Chétochine (2006) quanto mais saturado o mercado, menos o consumidor é influenciado pela publicidade, pelo merchandising, pela embalagem ou pelos canais convencionais de comunicação (as mídias de massa). Este autor acredita que estão Opinio, n.22, jan./jun. 2009 101 diminuindo as diferenças entre produtos e serviços, tornando assim mais necessária a busca por novas maneiras de comunicar as vantagens competitivas e estratégicas de cada produto. Ainda de acordo com Chétochine (2006), desde 1985 os consumidores mudaram completamente o comportamento em relação aos comerciais de televisão. Em comparação feita com aquele ano, hoje o consumidor tem uma tendência de mudar de canal durante os comerciais (25%) e de baixar o volume (14%). É neste ambiente, onde os canais convencionais de comunicação perdem forças e o consumidor está saturado de mensagens publicitárias, que o profissional de marketing precisa buscar novas formas de compor seu mix promocional. Por isso, o marketing cultural merece especial atenção e se torna objeto de estudo. Segundo Costa (2006, p.11), existe um número cada vez maior de empresas patrocinadoras de atividades culturais no Brasil e no mundo e, dentro desse cenário, “o marketing cultural começa a figurar como importante ferramenta de marketing, muitas vezes representando a principal estratégia de comunicação da empresa”. 2.1 O mercado da cultura no Brasil e no mundo Em artigo chamado “A Economia da Cultura”, publicado na Folha de São Paulo em 03/02/08 e reproduzido no website do Ministério da Cultura1, os autores discutem a importância da diversa e sofisticada produção cultural brasileira, mencionando que a mesma deve ser reconhecida como um dos grandes ativos econômicos do país. O artigo cita uma pesquisa realizada em 2005 pelo IBGE em parceria com o Ministério da Cultura sobre os indicadores da economia da cultura. Os números são expressivos: as 320 mil empresas do setor geram 1,6 milhões de empregos formais e representam 5,7% das empresas do país. Segundo o artigo, o setor da cultura é o que melhor remunera no Brasil, com a média salarial 47% superior à nacional. O fomento à economia da cultura é um dos eixos prioritários de ação do Ministério da Cultura. Criado em 2006, o Programa de Desenvolvimento da Economia da Cultura trabalha em três frentes: informação, capacitação e promoção de negócios. O artigo ainda afirma que o Brasil tem “evidente vocação para tornar a economia da cultura um vetor de desenvolvimento qualificado, em razão de diversidade e alta capacidade criativa” (s.n.). Ainda segundo o artigo: Temos importantes diferenciais competitivos, como a excelência dos produtos, a disponibilidade de profissionais de alto nível e a facilidade de absorção de tecnologias. Temos um mercado interno forte, no qual a produção nacional tem ampla primazia sobre a estrangeira – a música e o conteúdo de TV são exemplos 1 Fonte: Disponível em < http://www.cultura.gov.br/site/2008/02/03/economia-da-cultura-2/ > Acesso em 11/09/2008 102 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 robustos, em que o predomínio chega a 80%. O prestígio do país está em alta, temos a oportunidade de ampliar mercados. (s.n.) Em outro artigo também disponível no website do Ministério da Cultura, chamado “Economia da Cultura: Um Setor Estratégico para o País”2, Porta (2008) diz que o Banco Mundial estima que a Economia da Cultura – que envolve produção, circulação e consumo de produtos e serviços culturais – responda por 7% do PIB mundial (2003). Nos EUA a cultura é responsável por 7,7% do PIB, por 4% da força de trabalho e os produtos culturais são o principal item de exportação do país (2001). Na Inglaterra, corresponde a 8,2% do PIB (2004), emprega 6,4% da força de trabalho e cresce 8% ao ano desde 1997. Segundo a autora, a Economia da Cultura ao lado da Economia do Conhecimento têm grandes perspectivas de crescimento na próxima década, conforme evidencia o trecho a seguir: A Economia da Cultura, ao lado da Economia do Conhecimento (ou da Informação), integra o que se convencionou chamar de Economia Nova, dado que seu modo de produção e de circulação de bens e serviços é altamente impactado pelas novas tecnologias, é baseado em criação e não se amolda aos paradigmas da economia industrial clássica. O modelo da Economia da Cultura tende a ter a inovação e a adaptação às mudanças como aspectos a considerar em primeiro plano. Nesses setores a capacidade criativa tem mais peso que o porte do capital. [ ... ] A Economia da Cultura é hoje o setor de maior dinamismo na economia mundial, tem registrado crescimento de 6,3% ao ano, enquanto o conjunto da economia cresce a 5,7%. A Economia da Cultura integra o segmento de serviços e lazer, cuja projeção de crescimento é superior à de qualquer outro, estima-se que cresça 10% ao ano na próxima década. Esse potencial de crescimento é bastante elástico, pois o setor depende pouco de recursos esgotáveis, já que seu insumo básico é a criação artística ou intelectual e a inovação. (PORTA, 2008, p.1) Esses dados enfatizam a importância do setor para a economia e a sua tendência de crescimento no Brasil e no mundo. Do ponto de vista das empresas, fica evidente o crescimento da relevância do marketing cultural e as perspectivas de crescimento desta ferramenta como um dos elementos dos seus compostos promocionais, o que é abordado no tópico a seguir. 2 Fonte: Disponível em < http://www.cultura.gov.br/site/2008/04/01/economia-da-cultura-um-setor-estrategicopara-o-pais/ > Acesso em 11/09/2008. Opinio, n.22, jan./jun. 2009 103 2.2 As perspectivas de evolução do marketing cultural, do patrocínio e dos eventos nas empresas brasileiras Em recente pesquisa promovida pela Revista Meio & Mensagem em parceria com o IBOPE, publicada na edição especial “Profissional de Marketing” de 31 de Março de 2008, foi detectado que nos próximos cinco anos as áreas que deverão receber mais investimentos serão eventos, comunicação no ponto de venda, internet, marketing de relacionamento, promoções, marketing direto, marketing social, marketing cultural e responsabilidade sócio-ambiental. Ainda na mesma matéria, 36% dos entrevistados acreditam que os investimentos em TV irão diminuir nos próximos cinco anos e 27% acreditam que os investimentos em mídia impressa irão diminuir nesse mesmo período. Merece destaque o percentual dos entrevistados que acreditam que haverá redução dos investimentos em mídia exterior (41%) e em rádio (23%). Esses dados evidenciam que, para uma parcela significativa dos entrevistados, os investimentos nas chamadas mídias de massa devem cair nos próximos cinco anos. Apesar de não se caracterizar como uma tendência de queda, o percentual de profissionais de marketing entrevistados que acreditam que haverá diminuição nos investimentos em mídia de massas é bastante relevante. Soma-se a isso, o percentual de entrevistados que acreditam que haverá um aumento nos investimentos em eventos (50%), patrocínios (34%) e marketing cultural (48%). Assim, fica clara a relevância do estudo proposto neste artigo, em situar o marketing cultural como uma eficiente ferramenta do composto promocional e que tem a tendência de aumentar sua importância nos próximos anos. 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA O marketing cultural é uma das diversas ações mercadológicas que podem compor o “mix” de comunicação e promoção de uma empresa. Uma de suas principais ferramentas e o objeto deste estudo é o patrocínio de eventos e projetos culturais. Para melhor compreensão deste assunto, é preciso realizar um estudo exploratório bibliográfico nas diversas conceituações teóricas que envolvem este tema. 3.1 Cultura Entre as diversas definições de cultura, Muylaert (1993) mostra a evolução do conceito de cultura, adequando-o ao objeto deste estudo. Segundo o autor, a cultura – como os cientistas sociais a concebem – refere-se ao modo de vida de um povo, em toda sua extensão e complexidade. Um conceito que procura designar uma estrutura social no campo das ideias, das crenças, costumes, artes, linguagem, moral, direito, leis, etc., e que se traduz nas formas de agir, sentir e pensar de uma coletividade que aprende, inova e renova o seu próprio modo de criar e fazer as coisas, numa dinâmica de constantes transformações. 104 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 A cultura pode, portanto, a partir deste ponto de vista, ser entendida como manifestações espontâneas de um determinado grupo social que, uma vez incorporadas em seu “modus vivendi”, o caracteriza e o distingue dos demais. Para Muylaert (1993), a definição corrente do termo cultura, entretanto, referese às atividades nos campos da arte, da literatura, da música, do teatro, da dança, ou qualquer outra que expresse uma forma de organização social, não só como manifestação original e de características exclusivas de um determinado povo, mas também de outros, num intercâmbio permanente de experiências e realizações, isto é, o conceito primitivo de cultura, regional e caracterizante, passa a ter um sentido universal e pleno, pressuposto que leva a considerar um povo culturalmente avançado aquele que tem acesso ao conhecimento e à informação. 3.2 Doação, mecenato, apoio cultural e patrocínio Patrocínio, mecenato e marketing cultural são termos que se confundem e não raro são utilizados de forma indiscriminada nos textos teóricos que se referem ao apoio financeiro fornecido por uma empresa para a viabilização de um projeto cultural ou à utilização, por empresas, de projetos culturais como instrumentos de divulgação e comunicação da imagem. A figura do mecenas é geralmente relacionada à pessoa física que oferece contribuições à cultura, atividade associada à benemerência, ao gosto pessoal pela arte. A Lei n. 8.313 (Lei Rouanet) descreve o mecenato como sendo “a proteção e o estímulo das atividades culturais e artísticas por parte de incentivadores”. A figura do mecenas inserida no contexto empresarial distingue três diferentes tipos significativos de mecenas, cujas características, regras, normas e valores podem ser identificados: 1)O mecenato como uma ação altruísta e desinteressada de caráter filantrópico, absolutamente desinteressada de retornos, regida pelo conceito de generosidade. 1)O mecenato como resultado da vontade de um indivíduo dentro da organização que focaliza suas intenções na ação de apoio à criação artística. 2)O mecenato como uma ação promocional integrada à política comercial da empresa, que aparece mais recentemente, a partir da constatação da sensibilidade dos consumidores às dimensões sociais e humanitárias das empresas. Neste caso, a ação tem como finalidade buscar a exploração comercial do evento como suporte promocional de suas marcas. O patrocínio se caracteriza por uma relação do tipo prestação/contraprestação: de seu lado, o patrocinador fornece recursos (financeiros, serviços, produtos) e o patrocinado oferece contraprestações que favorecem, direta ou indiretamente, os objetivos de marketing do patrocinador. Na comparação com o mecenato, temos que a obrigação de resultados não é de mesma natureza. O patrocínio busca uma rentabilidade Opinio, n.22, jan./jun. 2009 105 direta por meio da divulgação obtida da publicidade relacionada aos eventos, enquanto que mecenato não visa qualquer rentabilidade direta e suas vantagens se encontram no potencial retorno no campo das relações públicas. Definidas algumas características que distinguem o mecenato do patrocínio, depara-se com a necessidade do esclarecimento das características que permitam diferenciar a atividade de patrocínio das atividades que caracterizam o marketing cultural. A definição de Muylaert (1993) indica que marketing cultural relaciona ações de patrocínio a outras ações de comunicação da empresa, numa estratégia maior do que investimentos pontuais realizados em projetos culturais: “marketing cultural é o conjunto de recursos de marketing que permite projetar a imagem de uma empresa ou entidade através de ações culturais”. O quadro a seguir relaciona as diferentes definições e percepções que as ações de apoio à atividade cultural podem obter: DEFINIÇÃO Doação Apoio cultural Mecenato pessoal Mecenato empresarial Patrocínio reativo 106 DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE MOTIVAÇÃO EXPECTATIVA Transferência gratuita de bens, serviços ou recursos financeiros sem contrapartida nem divulgação comercial do ato. - - Cessão total ou parcial, inclusive a venda com desconto, de produtos ou serviços necessários à execução de um projeto cultural, pela empresa que produz ou fornece, sem a aplicação de recursos financeiros. - - Venda casada com o apoio. Estímulo às atividades culturais realizado por um indivíduo ou família. - Pessoal – amor às artes ou busca de posição social, prestígio e poder. - Caridade; - Satisfação pessoal; - Marketing pessoal; - Reconhecimento. Estímulo às atividades culturais realizadas por um indivíduo inserido em uma organização, com ou sem divulgação, porém sem vínculo com necessidades da marca - Pessoal – amor às artes ou busca de posição social, prestígio e poder. - Caridade; - Satisfação pessoal; - Marketing pessoal; - Reconhecimento. - Agregar imagem do evento à marca. - Melhorar a imagem da empresa; - Promoção com finalidade de vendas; - Agregar imagem de cidadania à marca. Investimento de recursos financeiros com finalidade promocional e institucional de publicidade; decisão estratégica da empresa, tendo como ponto de partida seu público-alvo. Opinio, n.22, jan./jun. 2009 DEFINIÇÃO Patrocínio ativo (Integrado à estratégia de marketing cultural) DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE Investimento de recursos financeiros destinados exclusivamente ao negócio; estratégia regida pelo equilíbrio entre custo e benefício da ação de patrocínio, utilizada como instrumento de comunicação numa estratégia pré-definida considerando as necessidades da marca. MOTIVAÇÃO EXPECTATIVA - Incorporação da imagem do evento à marca; - Diversificação de instrumentos de comunicação; - Busca estratégica de aumento da capacidade de diferenciação da marca. Transferência dos valores da atividade cultural para a marca. QUADRO 1 – Diferentes definições das ações de apoio à atividade cultura. Fonte: Adaptado de Becker (1997). 3.3 Cultura e o capital Candido Mendes (1992) aborda a cultura como um agente econômico. As razões para tanto são de natureza objetiva. A atividade cultural, entendida em seu largo espectro, produz riquezas, gera empregos e proporciona arrecadação tributária. A indústria do entretenimento, cuja matriz é a produção cultural, situa-se entre as cinco maiores do mundo. A televisão, o rádio, as indústrias fonográficas e editorial, têm na criação artística a matéria-prima essencial para o desenvolvimento de seus produtos e serviços. O empenho em definir e mensurar os benefícios produzidos pelo investimento em cultura gerou um consenso entre as grandes corporações que pode ser traduzido em dois níveis: o filosófico e o econômico. Filosoficamente, ao apoiar manifestações culturais, a empresa se aproxima da comunidade, colabora para a qualidade de vida das cidades e incorpora a imagem de benemerência no meio em que atua. Ao nível econômico, o retorno tem se apresentado cada vez mais claro. A ação cultural reforça a imagem da empresa junto ao público consumidor, colabora na qualificação de seus recursos humanos e permite o desfrute de benefícios fiscais. O patrocínio de projetos culturais tem sido nas últimas décadas, ferramenta importante nas estratégias de comunicação de gigantes americanos como a Mobil, Xerox, IBM e Philip Morris. Estas companhias costumam se engajar em empreendimentos culturais de porte como gigantescas exposições, séries televisivas e festivais de música, eventos capazes de competir com campanhas publicitárias tradicionais em termos de penetração e impacto. De acordo com a revista Advertising Age, a bíblia da propaganda norte-americana, o sponsoring (termo em inglês para patrocínio) artístico respondia, no início da década de 90, por um volume anual de 800 milhões de dólares, perdendo apenas para o Marketing Esportivo. Segundo Yacoff Sarkovas (Gazeta Mercantil – 26/12/1994 – p.10) as empresas americanas destinam apenas 30% de sua verba publicitária para a propaganda direta. Os outros 70% são destinados a patrocínios e apoio, principalmente nas áreas de marketing cultural, Marketing Esportivo e Marketing Ecológico. Opinio, n.22, jan./jun. 2009 107 FIGURA 1 – Como as empresas investem em cultura no Brasil. Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO: “Empresas descobrem cultura como negócio”, Ilustrada, 26/12/94. São Paulo. A necessidade cada vez maior que o capital tem de se comunicar com seu universo de consumidores de forma diferenciada, cria novas e promissoras possibilidades de incrementar a produção cultural dentro do uma perspectiva mercadológica. É nesse cenário que o marketing cultural exerce papel decisivo, profissionalizando as ações de captação de recursos e redimensionando as relações entre benfeitores e beneficiários da cultura. 3.4 O que é marketing cultural? Marketing cultural é, segundo Muylaert (1993), o conjunto das ações de marketing utilizadas no desenvolvimento de projetos culturais. Pode ser considerado como uma 108 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 técnica mercadológica que visa a formação de identidade corporativa de uma empresa perante seus públicos. Caracteriza-se pela administração de atividades artísticas realizadas com o apoio de instituições Já Candido Mendes (1992), diz que no conceito moderno do termo, marketing cultural pode ser entendido como uma alternativa diferenciada de comunicação de um produto, serviço ou imagem. O marketing cultural tem na cultura forma e conteúdo simultaneamente. Fica claro que os autores têm uma visão diferenciada sobre a conceituação de marketing cultural. Muylaert (1993) engloba na sua conceituação, as estratégias de comunicação que o projeto ou atividade cultural em si, utiliza para atingir seu públicoalvo. Já Candido Mendes (1992), aborda o tema apenas como uma ação que as empresas podem tomar para enriquecer sua comunicação social, assim como marketing esportivo, as relações públicas ou simplesmente a propaganda. Devido ao foco deste estudo, que procura situar o marketing cultural como uma das ferramentas disponíveis para o administrador de marketing dentro de seu composto promocional, a visão adotada será a de Candido Mendes, que também enfoca marketing cultural como uma das ferramentas do composto comunicação e promoção de uma empresa. Mais recentemente, Costa (2006, p.35-36) explica que, no Brasil, o que se convencionou chamar de marketing cultural é, na verdade, Arts Sponsorships. Nesse enfoque, refere-se à prática das empresas de patrocinar atividades culturais, associando seu nome ou marca a um evento de caráter sociocultural. O autor ainda ressalta que o conceito de marketing cultural “designará as atividades de promoção de produtos ou eventos culturais, quando empregadas por uma organização cujo produto ou serviço último não é um produto ou serviço cultural”. Assim, não se confunde com programas e ações desenvolvidas por organizações culturais (museus, teatros, etc.), intermediários culturais (produtores culturais, promotores de artistas e organizadores de eventos) ou artistas que desenvolvam o marketing de seu trabalho pessoal. 3.5 O patrocínio e a imagem da empresa Becker (1997) inclui o patrocínio entre as técnicas de comunicação a serviço das estratégias de marketing da empresa. A adoção de um projeto cultural tem impacto no conjunto de ações utilizadas pela empresa para moldar e preservar uma imagem corporativa reconhecidamente positiva. Ao fornecer suporte às artes, empresas demonstram sua boa cidadania, agregam valor à sua imagem corporativa, melhoram a qualidade de vida de sua comunidade e se promovem frente aos seus clientes, fornecedores e funcionários. Para O´Guinn, Allen e Semenik (2008), o patrocínio de eventos é uma maneira Opinio, n.22, jan./jun. 2009 109 especial e altamente popular de alcançar os consumidores. Lupetti (2007) complementa dizendo que há uma infindável relação de eventos que uma empresa pode realizar, entre eles feira e exposições, congressos, seminários, convenções, lançamentos de produtos, entre outros. Segundo Becker (1997), as principais formas de retorno para a empresa patrocinadora que investe em um projeto cultural são: • Mudança de atitude para com a marca ou empresa; • Adesão do corpo de funcionários e da rede de vendas; • Reforço ou aprimoramento da imagem corporativa; • Maior conhecimento da marca ou empresa; • Construção de credibilidade, através da transferência de atributos relacionados ao evento patrocinado à empresa patrocinadora. O papel do patrocínio de eventos na estratégia de comunicação da empresa pode ser considerado uma técnica (com um fim em si) na medida em que necessita de decisões específicas quanto ao domínio de aplicação (arte, esportes, etc.), a escolha de uma atividade (música, dança, etc.) e a escolha de uma entidade a ser patrocinada (indivíduo, museu, evento, etc.); quanto pode ser considerado um instrumento, uma vez que nenhuma ação de patrocínio é suficiente por si só – ela deve fazer-se conhecida, valorizada, divulgada por meio da utilização das técnicas tradicionais de comunicação (a publicidade, a promoção, as relações públicas, etc.). 4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A pesquisa de campo realizada para este artigo consistiu basicamente em uma pesquisa qualitativa – caracterizada como pesquisa exploratória. O delineamento da pesquisa foi realizado através de entrevistas em profundidade com as pessoas responsáveis pelas decisões mercadológicas de empresas que investem no marketing cultural. Trata-se, portanto de um estudo de caso múltiplo, onde empresas são comparadas em termos de determinado assunto, neste caso, seus investimentos em marketing cultural, bem como o processo decisório envolvido. Para a realização das entrevistas utilizou-se um roteiro composto de perguntas abertas. Como objeto de estudo, buscou-se pesquisar empresas que investem regularmente em marketing cultural, com atuação no estado do Rio Grande do Sul, tanto em termos de processo decisório quanto na efetiva realização dos investimentos em cultura. É importante lembrar que são poucas as empresas que investem em marketing cultural. Salienta-se que os gestores pesquisados são pessoas com cargos estratégicos em suas respectivas organizações. Das quatro entrevistas obtidas, duas foram realizadas através de entrevista pessoal, devidamente gravadas e transcritas para análise de conteúdo (empresas Piá e GM). As 110 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 duas entrevistas restantes foram concedidas por correio eletrônico (Pepsi e Dana). As entrevistas foram coletadas entre os meses de outubro e novembro de 2008. 5 RESULTADOS Para melhor comparar os resultados e as percepções coletadas neste estudo, foi desenvolvido um quadro comparativo, que reproduz as principais respostas dos entrevistados, em critérios específicos (ver apêndice A). Na comparação entre as empresas pesquisadas, fica claro que o conceito de marketing cultural está, para os entrevistados, diretamente relacionado a ações de reforço de marca. Os gestores da Dana, Pepsi e Piá citam em sua conceituação de marketing cultural: • “Melhora da percepção da marca”; • “Projetar a marca para os diferentes públicos”; • “Associação da marca com ações culturais”. Apenas o gestor da GM não cita a marca em sua conceituação, provavelmente, devido aos bons resultados e o caráter claramente cultural do projeto “Gaúcho Conte Comigo”3. Vale lembrar que a “lembrança de marca” é citada pelo entrevistado como uma das formas de mensurar o retorno obtido através do investimento em ações de marketing cultural. Em comum, nenhum dos entrevistados confunde “marketing cultural” com “marketing de produtos culturais”. Todos estão alinhados com a definição proposta por Cândido Mendes (1992) e Costa (2006). A Piá tem ainda uma particularidade: no seu conceito de marketing cultural cita “produto”. Isso reflete bem a forma como a empresa atua em suas ações de marketing cultural. Para todas as empresas entrevistadas a principal motivação em investir em marketing cultural é aproximar-se do seu público-alvo. Todos os entrevistados entendem, conforme Becker (1997), que o patrocínio de um projeto cultural tem impacto para moldar e preservar a imagem corporativa. Segundo a autora, ao associar suas marcas a projetos culturais, “as empresas agregam valor a sua imagem corporativa” e “se promovem frente aos seus clientes, fornecedores e funcionários”. Nenhuma empresa citou entre as suas motivações “demonstrar sua boa cidadania” e “melhorar a qualidade de vida de sua comunidade”, objetivos descritos por Becker (1997). Para comparar as motivações que as empresas entrevistadas possuem com os objetivos tradicionais das empresas ao patrocinar eventos culturais, propostos pela autora, foi elaborado o Quadro 2. 3 Projeto cultural da GM desenvolvido especificamente para o mercado do Rio Grande do Sul, onde está localizada uma de suas fábricas, conhecida como Arara Azul. Opinio, n.22, jan./jun. 2009 111 CATEGORIAS EXPECTATIVAS EMPRESA PESQUISADA Posicionamento Criação, modificação, reforço da imagem da empresa; PIÁ, PEPSI e GM Comerciais Humanas Exploração do produto; PIÁ e PEPSI Desenvolvimento de vendas; PIÁ e PEPSI Aumento de notoriedade; PIÁ, PEPSI e GM Boa vontade, simpatia do público externo; Todas as empresas pesquisadas Motivação do pessoal; DANA Paixão por uma atividade; Nenhuma empresa pesquisada Gerar ocasião de encontro; PIÁ e PEPSI Pretextos Vantagens intrínsecas ligadas a fatores externos Contornar a legislação; Aproveitar oportunidades; Nenhuma empresa pesquisada QUADRO 2 – As motivações de cada empresa entrevistada em comparação aos conceitos propostos por Becker (1997). Fonte: Adaptado de Becker (1997) e coleta de dados. A Pepsi, segundo o entrevistado, utiliza o marketing cultural como uma forma de mostrar para os consumidores os pontos em comum entre eles e a marca. Becker (1997) coloca que essa é uma das razões que levam as empresas a investir em marketing cultural: identidade (expressa a personalidade da marca e agrega valor: estimula a identificação e reforça a lealdade do consumidor). Entre as suas motivações, o gestor da Piá, diz que as ações de marketing cultural são o momento ideal para falar com o consumidor, porque estão abertos a receber e absorver melhor os valores e conceitos da marca ou do produto. Segundo o entrevistado, neste momento, o consumidor está como uma “esponja”. A Dana parece ser, segundo o entrevistado, a empresa menos preocupada com objetivos e motivação relacionados a resultado. Certamente devido ao seu ramo de atuação (business to business) a motivação da empresa está em, nas palavras do entrevistado: “aproximar-se dos seus públicos-alvo sem que o enfoque comercial seja tão explícito”. Apenas os gestores entrevistados da GM e da Piá responderam qual a proporção da verba destinada a comunicação é investida em marketing cultural (em torno de 30%). O entrevistado alegou que a Pepsi não podia informar esse dado por motivos estratégicos e a gestor da Dana não respondeu à pergunta. Segundo os entrevistados, para a Dana e para a GM é impossível comparar a relação custo-benefício entre investimentos em ações culturais e o mesmo investimento em mídia convencional. Eles afirmam a que mídia convencional, especialmente voltada para o varejo, consegue mensurar o resultado através do retorno em vendas. 112 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 Já os investimentos em marketing cultural só poderiam ser mensurados em termos de construção e lembrança de marca. Por outro lado, a Pepsi, segundo o entrevistado, acredita que a relação custobenefício oferecida pelo marketing cultural não é tão interessante quanto a relação custo-benefício que os investimentos em campanhas de mídia convencional podem proporcionar. Exceção à regra é a opinião do gestor da Piá. Segundo ele, os investimentos em marketing cultural, quando bem feitos, possibilitam uma medição “cirúrgica” do resultado. Certamente a empresa consegue esse resultado pelo porte, tipo de produto / setor que atua e, principalmente, pela tecnologia de sistemas de gestão de vendas e estoques conhecida como BI (Business Intelligence). Os incentivos fiscais foram citados apenas pelos gestores da Pepsi e da Dana. Pode-se estabelecer uma relação: as empresas que se utilizam desses benefícios, não se preocupam tanto em mensurar o retorno obtido em marketing cultural. Do outro lado da balança, está a Piá, que busca sempre mensurar o retorno dos seus investimentos em marketing cultural. A GM, por sua vez, segundo o entrevistado, tem a verba de marketing cultural desassociada da verba de mídia convencional, por isso, certamente, a mensuração desse retorno não é uma preocupação manifestada pelo entrevistado. NÍVEIS DE PATROCÍNIO ESTRATÉGIA E EXPECTATIVAS Patrocínio como um mecenato desenvolvido Uma ferramenta do composto de comunicação, uma ação com fim em si mesma. - Satisfação pessoal; - Reconhecimento pessoal; - Cumprir com a responsabilidade social; - Busca a integração com a imagem da marca; Patrocínio como técnica de promoção, relações públicas e propaganda (mídia) Uma técnica de ação para possibilitar outras ferramentas de comunicação clássicas, principalmente a publicidade, a promoção, a propaganda e as relações públicas. - Incremento nas vendas; - Gerar exposição do produto; - Adesão do corpo de funcionários ou da rede de vendas; - Gerar oportunidades de Relações Públicas, ocasião para encontros e boa vontade de públicos externos; Patrocínio agregado à estrutura da comunicação Patrocínio integrado à estratégia global da empresa (marketing Cultural) EMPRESA PESQUISADA DANA PIÁ Uma ação que se utiliza de outras ferramentas de comunicação para se fazer conhecer e valorizar. - Maior conhecimento da marca ou empresa; - Agregar imagem de cidadania; - Mudança de atitudes para com a marca ou a empresa PEPSI Uma ferramenta integrada aos planos de ação da empresa. - Transferência dos valores da atividade cultural para a marca; - Construção da credibilidade. GM QUADRO 3 – Nível de Integração dos investimentos em marketing cultural versus estratégias de comunicação das empresas entrevistadas. Fonte: Adaptado de Becker (1997) e coleta de dados. Opinio, n.22, jan./jun. 2009 113 Para Becker (1997), a avaliação e compra de projetos culturais pela empresa patrocinadora deve levar em consideração a integração dessa ferramenta na estratégia de marketing e comunicação da empresa. As quatro empresas pesquisadas neste estudo de casos múltiplos, encontram-se em diferentes níveis de integração entre suas estratégias de comunicação e seus investimentos em marketing cultural, conforme mostra o quadro 3. Todos os gestores entrevistados afirmaram levar em consideração as informações contidas nas propostas de patrocínio apresentadas por produtores culturais. As principais informações avaliadas, segundo os gestores entrevistados, dizem respeito ao públicoalvo do evento. A indicação do público-alvo apresentada pelo produtor cultural e em conjunto com todas as demais informações apresentadas (valor do ingresso, local do evento, etc.), ajudam os gestores a identificar se o público-alvo do evento é compatível com o segmento que a empresa atua e/ou com os produtos que pretendem relacionar com o evento (caso da Piá). Para todas elas, essa adequação é fundamental para decidir positivamente por investimentos em marketing cultural. Os gestores de Pepsi, GM e Piá afirmaram que os valores e crenças dos artistas patrocinados influenciam fortemente sua decisão de investir ou não em determinado projeto cultural. Por outro lado, a Dana, segundo o entrevistado, é única empresa pesquisada que não considera relevantes os valores e crenças dos artistas patrocinados. Para a empresa: “se há relevância cultural, cabe ao público decidir”. Em comum, todos os gestores entrevistados concordam que as empresas não investem em projetos de cunho político-partidário. O título de “apresentador” de um evento é percebido pelos gestores de Pepsi, GM e Piá como o mais forte e mais importante de um evento. Para eles, mesmo tendo um investimento mais alto, oferece mais retorno e compensa o investimento. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste estudo, buscou-se identificar como as empresas entendem e como utilizam o marketing cultural no dia-a-dia das suas práticas e estratégias do composto promocional, através da percepção dos gestores responsáveis por decidir investimentos em marketing cultural, patrocínio de eventos e/ou ações culturais. Apesar deste estudo enfocar quatro empresas de portes diferentes e atuação em setores distintos, ao analisar as percepções dos gestores das empresas pesquisadas, pode-se perceber mais semelhanças do que diferenças entre suas práticas e conceitos. Todos os gestores entrevistados percebem as ações de marketing cultural como uma oportunidade de estabelecer uma relação mais próxima com seus públicos-alvo. Fica evidente neste estudo que, para os gestores entrevistados, essa aproximação dos seus públicos-alvo tem relação direta e encontra terreno fértil em ações que, conforme Becker (1997), tem impacto para moldar e preservar a imagem corporativa. O principal critério utilizado pelas empresas pesquisadas no processo de decisão de 114 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 compra de um projeto ou patrocínio de marketing cultural é a avaliação que os gestores entrevistados – sempre atuando no papel de decisores e de compradores – fazem para determinar se o público-alvo de um evento ou ação cultural é compatível com o ramo de atuação de sua empresa ou produto. Para empresas como a Pepsi, segundo o entrevistado, o evento ou ação cultural precisa estar alinhado com os valores da marca e precisa ter características similares aos seus produtos. Esse último critério é bastante importante também para a Piá. De acordo com o entrevistado, a Piá possui uma grande linha de produtos e está sempre buscando desenvolver novos produtos para atingir os mais diferentes segmentos de mercado. O gestor da GM avalia a adequação do público-alvo de um evento conforme a classe social (A e B), a idade (mais de 25 anos) e o alinhamento com o seu principal projeto cultural, o “Gaúcho Conte Comigo”. A única exceção entre as empresas pesquisadas é a Dana. Certamente por tratar-se de uma empresa atuante no segmento business to business, o perfil do público-alvo do evento não é tão importante para a tomada de decisão. O maior destaque é dado para a relevância cultural e para o alinhamento com os valores da companhia e do projeto Dana Cultural. Os gestores de Pepsi, Piá e GM percebem o título de “apresenta” como a forma de participação em um evento mais valiosa, mais importante e que oferece o maior retorno. Ao analisar as motivações que levam os gestores entrevistados a investir em marketing cultural, pode-se perceber algumas diferenças em relação à maneira como eles avaliam o retorno e os benefícios de investir em marketing cultural. Comparando as percepções de mensuração de retorno dos gestores das quatro empresas pesquisadas, pode-se concluir que, para todas, o marketing cultural traz retorno em termos de marca e imagem institucional. Outras formas de retorno, mensuráveis em vendas, por exemplo, só são possíveis para aquelas que trabalham com business to consumer e com bens de conveniência. Encontra-se aqui uma sugestão para estudos e pesquisas futuras, pois talvez, seja possível estabelecer uma relação entre os tipos de bens comercializados, os processos de decisão de compra e os benefícios do marketing cultural. Para as empresas que não procuram quantificar o retorno dos investimentos em marketing cultural sobre volume de vendas, também fica a sugestão de novos estudos relacionando os benefícios da associação do marketing cultural com as marcas, analisando a troca de atributos e valores entre marca e cultura. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Cândido José Mendes de. A Arte é Capital – Visão aplicada do marketing cultural. Rio de Janeiro: Rocco, 1993. BECKER, Ivani de Arruda. Os Caminhos do Patrocínio Cultural: uma contribuição para a prática do marketing cultural no Brasil. Dissertação apresentada ao Curso de Pós- Opinio, n.22, jan./jun. 2009 115 Graduação da EAESP/FGV, área de concentração Mercadologia, como requisito para a obtenção do título de mestre em Administração de Empresas. São Paulo: 1997. CHÉTOCHINE, Georges. Buzz Marketing. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. COSTA, Ivan Freitas da. marketing cultural – O patrocínio de atividades culturais como ferramenta de construção de marca. 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DANA GM Conceito de marketing cultural “ações culturais (projetos, apoios, patrocínios) que permitem a associação de uma marca / empresa” “marketing cultural é tentar chegar mais próximo do povo através da cultura” “uma atividade que melhora a percepção da marca junto aos formadores de opinião” “uma forma de projetar a marca ou os produtos da empresa para os mais diferentes públicos” Motivações para investir em marketing cultural A cultura é uma forma – especialmente para empresas que não são de varejo – de aproximarem-se dos seus públicosalvo sem que o enfoque comercial seja tão explícito. “A possibilidade de ‘se aproximar’ do seu público-alvo” “deixar claro para os consumidores que sua marca tem pontos em comum com eles” “é o momento ideal de falar com as pessoas (...) é uma grande oportunidade de fazer a marca aparecer para as pessoas em um momento onde elas estão como ‘esponjas’”. Percentual destinado ao marketing cultural dentro da verba de comunicação Não respondeu 30% Não respondeu “Entre 30 e 35% mas pode variar dependendo da oportunidade” Relação custobenefício entre investimentos em ações culturais e o mesmo investimento em mídia convencional “São duas ações bastante distintas, com objetivos distintos e retornos idem. Não há como comparar e não há como (facilmente) medir o retorno de um investimento cultural. Quando se é uma empresa de varejo, é fácil medir se o investimento X deu retorno Y nas vendas. Construir marca é outra disciplina, com outro timing, outros objetivos de curto prazo, embora no fim, tudo tenha o mesmo objetivo de melhorar os resultados da empresa, através de uma marca mais sólida, que diferencie os produtos e serviços da concorrência.” Difícil de ser comparado: A relação custobenefício oferecida pelo marketing cultural não é tão interessante quanto a relação custobenefício que os investimentos em campanhas de mídia convencional podem proporcionar. Para o entrevistado, o problema é a baixa penetração: O investimento em marketing cultural, quando o público do evento está alinhado com os segmentos de mercado que a empresa atende, “é cirúrgico”. “Não é que não tenha retorno. Investe hoje e vai ter retorno quando o cliente quiser trocar de carro e lembrar da Chevrolet.” --------Os investimentos em marketing cultural de longo prazo: “Não é como o varejo... No varejo, eu faço um feirão lá na fábrica e tenho retorno imediato. Na parte de cultura a resposta que a gente tem é lembrança da marca. Agora, traduzir em vendas não tem como dizer. A gente não tem mensurado isso. É difícil mensurar.” PEPSI “O marketing cultural precisa de uma maior penetração. Um evento para 10.000 pessoas atinge no máximo 80.000 consumidores. Fazê-lo atingir 2.000.000 de consumidores é a questão a ser resolvida.” Opinio, n.22, jan./jun. 2009 PIÁ Já os investimentos em mídias de massa não possibilitam essa medição “cirúrgica” do retorno obtido. 117 DANA Principais informações avaliadas nas propostas de patrocínio “Consistência do projeto, solidez da proposta, histórico, percepção do potencial de retorno, percepção do alinhamento com os nossos públicos e objetivos” GM PEPSI PIÁ Público-alvo e valor do investimento: Relação entre o valor do investimento e o retorno de mídia, destacando: Público-alvo do evento e disponibilidade produtos no portifólio da empresa adequados àquele segmento de mercado “precisa estar dentro da verba (...) tem que pulverizar o tiro (...) não vou gastar 80% da minha verba disponível em um só evento”. “onde a marca será aplicada, de que forma, quais os outros parceiros...” “possibilidade de utilização de benefícios fiscais (lei Rouanet, por exemplo)” “o que nós conseguimos agregar a essa ação”. “viabilidade econômica” “o quanto eu vou investir nesse espetáculo e quanto ele vai me trazer de retorno?” Relevância do público-alvo de um evento / ação de marketing cultural (segmentação) “Se é uma ação para o nosso público direto (empregados das montadoras de veículos), investimos no trade. Se é para o grande público, é uma ação institucional. Como elas são raras no nosso caso, é fácil analisar caso a caso.” “se for do público AB+25 a gente faz (...) tem que atingir nosso público comprador de carro”. “não nos preocupamos muito com idade, classe social.... nossa maior preocupação é com o alinhamento do evento com nossa marca, se um evento tem características similares a dos nossos produtos, entramos” “sempre existe um público consumidor de algum produto que pode ser encaixado. A questão é ter aquele produto naquele perfil de público que vais estar ali” Relevância dos valores e crenças dos artistas patrocinados “não são levados em consideração” “Tudo aquilo que leva a droga, bebida... a gente e acho que nenhuma marca entraria (...) ainda mais aqui no estado onde se busca muito essa parte de valores, conservadorismo, etc..” A empresa não leva em consideração crenças, valores e orientação política dos artistas patrocinados: Política de não patrocinar eventos com cunho político e nem religioso. No entanto quando fala em gêneros musicais ou estilos artísticos a Piá costuma não fazer restrições. Para a GM o título de “apresenta” é a forma mais valiosa e que oferece o maior retorno: “Cada vez mais negamos propostas de patrocínio e aprovamos mais eventos proprietários ou ‘Apresenta’. Não é fácil fixar uma marca na cabeça do consumidor quando você não é muito evidente.” “se há relevância cultural, cabe ao público decidir” “a empresa não se associa a ´bandeiras’ e projetos partidários” Influência dos diferentes títulos do processo decisório Não respondeu. Precisa estar alinhado com os critérios de avaliação explícitos no site “Quando tu estás com a tua marca exposta na frente do público, tu és muito mais visto do que quando eles te colocam lá no meio de vários (...) Chevrolet apresenta: Nenhum de Nós... cara, isso é muito forte.” “Consideramos a relevância do artista dentro do contexto apresentado”. Fonte: elaborado pelos autores. 118 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 Para a Piá, o título de “apresenta” é o mais relevante e que trás maior retorno para a marca: “Quando a gente faz um evento que diz ´Piá traz até você’, a gente está fazendo uma entrega para a pessoa. Eu (Piá) trouxe para você (consumidor).” A influência das marcas no comportamento do consumidor infantil no segmento vestuário Tábita Barbosa Valesca Persch Reichelt RESUMO O presente artigo trata-se de uma análise sobre o comportamento do consumidor infantil no segmento de vestuário. A análise tem como referência três marcas deste segmento, sendo as quais: Brooksfield Junior, Fuzarka e Lilica Ripilica & Tigor. Para o embasamento teórico do artigo foram mencionados autores como Jean Piaget, possibilitou maior compreensão e esclarecimento sobre o desenvolvimento infantil e suas particularidades em cada fase, o que se entende na maneira de consumir nas diferentes fases que caracterizam a criança. Procurou-se compreender o universo tão peculiar que permeia o imaginário infantil, e como os pais ou referenciais parentais lidam com a percepção da marca pelo público infantil na decisão de compra. Público este, que vem consolidando de forma crescente e efetiva, ganhando assim seu devido reconhecimento, visto que as empresas estão atentas em investir em estratégias e marketing cada vez mais diversificados e fiéis ao conceito de vestir-se do público infantil. A metodologia utilizada foi qualitativa, com entrevistas em profundidade com crianças (com o auxílio de uma psicopedagoga) e suas mães, em separado. Como conclusão do estudo, destaca-se que a relação das crianças com as marcas ocorre de forma afetiva, ou seja, a criança geralmente não identifica a marca do vestuário. Para ela importam suas cores e personagens. Assim sendo, para que as crianças compreendam as marcas, é preciso que entendam que a mensagem da mesma relaciona-se as experiências de curiosidades, descobertas, aventuras e expectativas. Experiências que estão inseparavelmente ligados ao ser infantil e que o levará a sua autonomia futura na identificação de uma marca propriamente dita. Palavras-chave: Marca. Comportamento do Consumidor. Comportamento do Consumidor Infantil. Marketing.Vestuário. Brand influence in children´s consumer behavior in the clothes segment ABSTRACT The present article is about an analysis of infant consumer’s behavior in the clothing segment. The analysis has as references three brands of this segment, being them: Brooksfield Junior, Fuzarka and Lilica Ripilica & Tigor. It is said that is a non explored theme, due to the difficulties of theoretical references available. It is an innovative and challenging theme, and then also motivating. To the development of this study were realized many readings about this Tábita Barbosa é graduada em Administração pela Universidade Luterana do Brasil, campus Canoas. E-mail: [email protected] Valesca Persch Reichelt é Doutora em Administração com ênfase em Mercadologia. Professora dos cursos de Administração e Comunicação Social da Universidade Luterana do Brasil, campus Canoas. E-mail: valesca@ ulbra.br Opinio Canoas Opinio,n.22 n.22, jan./jun. p.119-136 2009 jan./jun. 2009 119 specific area of consumption. Therefore, in the development of it, it was necessary to mention authors as Jean Piaget, that even not being of the marketing area, make the understanding about children development more comprehensible and each particularity in each phase, what is known in the way of consumption in the different phases that characterize children. It was necessary to comprehend the so peculiar universe that is in the infant ideal, and how parents or relatives deal with the perception of brand by the infant public in the purchase decision. This public is consolidating in a crescent and effective way, getting then its own recognition, due to the fact that companies are aware to invest in strategies and marketing each time more loyal to the concept of clothing way of children public. Keywords: Brand. Consumer behavior. Children consumer behavior. Clothing segment. 1 INTRODUÇÃO O presente artigo pretende analisar o comportamento do consumidor infantil, no segmento de vestuário. Tal estudo será baseado em três marcas deste segmento: Lilica Ripilica & Tigor, Brooksfield Junior e Fuzarka. Cabe ressaltar que a marca Lilica Ripilica & Tigor é uma marca do grupo Marisol, tal marca foi desenvolvida especialmente para o público infantil. Já a marca Brooksfield Junior é do Grupo Via Veneto, que detém ainda as marcas Brooksfield, Via Veneto, Harry’s e Salvatore Ferragamo. A Fuzarka por sua vez, é uma marca comercializada pelas Lojas Renner para atender o consumidor infantil dentro da loja. Buscou-se verificar neste trabalho como ocorre a percepção destas marcas para o público infantil, e como ocorrem as escolhas feitas por estes consumidores. Entende-se como público infantil, para fins deste estudo, as crianças com idade entre 3 (três) e 10 (dez) anos. O trabalho visa ainda analisar com base no referencial teórico apresentado, desde quando começou a haver a mudança no poder de compra e como o público infantil influencia a decisão de compra. Portanto, o objetivo geral deste artigo é identificar a percepção da Marca para o público infantil, onde se procura descobrir os fatores decisivos e determinantes que motivam este público a desejar e querer consumir determinada marca, visto que nos dias atuais o público infantil também decide na hora da compra. A metodologia adotada foi qualitativa, com a realização de pesquisa exploratória das marcas estudadas, através de entrevistas e questionários aplicados com as mães dos consumidores, bem como junto às lojas pesquisadas e ainda com as crianças entre três e dez anos de idade (com o auxílio de uma psicopedagoga), a fim de obter uma amostra qualitativa de consumidores das marcas estudadas. 2 BREVE DESCRIÇÃO DAS MARCAS PESQUISADAS A seguir será apresentada uma breve descrição sobre as marcas analisadas para o desenvolvimento deste artigo. 120 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 2.1 Lilica Ripilica & Tigor As lojas Lilica Ripilica & Tigor, são concedidas pela Marisol Franchising Ltda., consistem em unidades geridas por seus proprietários, conforme o sistema desenvolvido pela franqueadora para a instalação, operação e administração de uma loja de vestuário voltada para o púbico infantil. A loja conta com um padrão arquitetônico exclusivo e único, cada unidade franqueada é gerido de acordo com o padrão Lilica Ripilica & Tigor, que inclui aspectos mercadológicos, operacionais, financeiros e administrativos. As lojas Lilica Ripilica & Tigor estão presentes no Brasil nos seguintes estados: Acre, Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e ainda no Distrito Federal. Também há franquias nos países do Chile, Colômbia, Costa Rica, Espanha, Guatemala, Itália, Líbano, Peru e Portugal. São comercializados em todas as lojas roupas, calçados e acessórios. Segundo a Marisol, o franchising é uma estratégia de expansão utilizada por empresas que desejam ampliar suas bases de atuação de maneira eficaz e eficiente. Uma empresa franqueadora que adota essa estratégia cede ao franqueado (pessoa que adquire uma franquia) o direito de uso da marca ou patente e de distribuição dos produtos ou serviços. No sistema de franquia, a franqueadora desenvolve todo Know-how de implantação, operação e administração do negócio, e o transmite ao franqueado1. 2.2 Fuzarka A Fuzarka é uma marca da Loja Renner, tal marca é voltada para o público infantil. A história de Lojas Renner começa em 1965 como uma empresa verdadeiramente independente. Até então, existia como parte do grupo A. J. Renner, indústria fabril instalada no bairro Navegantes, em Porto Alegre (RS). Foi como parte integrante do grupo A. J. Renner que Lojas Renner inaugurou em 1922, na capital gaúcha, seu primeiro ponto-de-venda para a comercialização de artigos têxteis. Em 1940, ainda como empresa pertencente ao grupo, o mix de produtos foi ampliado e Lojas Renner passaram a operar como uma loja de departamentos. Em 1965, devido ao seu crescimento e evolução, este grupo optou por tornar independentes as diferentes empresas que o formavam, ocasião em que foi então constituída a companhia Lojas Renner S.A. Dois anos depois, em 1967, Lojas Renner já se transformava em uma empresa de capital aberto. Após décadas de bom desempenho, esta passou por uma profunda reestruturação no início dos anos 1990, passando a operar no formato de loja de departamentos especializada em moda. Ainda na década de 1990, impulsionada pela bem sucedida reestruturação e pela implantação da filosofia de encantamento – segundo a qual não basta satisfazer, mas 1 Fonte: http://www.marisolfranchising.com.br (acesso em 11/04/09 ás 18h25min horas) Opinio, n.22, jan./jun. 2009 121 superar as expectativas dos clientes – Lojas Renner expandiu suas operações para além do Rio Grande do Sul, chegando aos Estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e para o Distrito Federal, consolidando sua posição nesses mercados como uma loja de departamentos especializada em moda com mercadorias de qualidade a preços competitivos. Em 1991, quando teve início o processo de reestruturação, a companhia contava com oito lojas e, até novembro de 1998, já havia inaugurado treze novas lojas, totalizando vinte e uma unidades. Em dezembro de 1998, a J. C. Penney Brazil, Inc. subsidiária de uma das maiores redes de lojas de departamentos dos Estados Unidos, adquiriu o controle acionário da companhia. Como subsidiária do grupo J. C. Penney, a Renner obteve alguns benefícios operacionais, tais como o acesso a fornecedores internacionais, a consultoria de especialistas na escolha de pontos comerciais, bem como a adoção de procedimentos e controles internos diferenciados. Isso contribuiu para um crescimento substancial da companhia a partir de dezembro de 1998. Com a implantação do conceito de lifestyle (estilo de vida) nas coleções e nas lojas, em 2002, mais um importante passo é dado na evolução de seu crescimento. As coleções passam a ser desenvolvidas por estilos de vida e compostas por marcas próprias que refletem um jeito de ser e de vestir, com base em atitudes, interesses, valores, personalidades e hábitos dos clientes. Neste momento passa a ser também comercializados roupas, calçados e acessórios com a marca Fuzarka, desenvolvida para crianças a partir dos quatro anos de idade. Também as lojas passam a expor os produtos de forma coordenada, facilitando a escolha do consumidor e otimizando o seu tempo de compras. Atualmente a Lojas Renner é a segunda maior rede de lojas de departamentos de vestuário no Brasil com 114 (cento e quatorze) lojas, nas regiões Sul, Sudeste, CentroOeste, Norte e Nordeste do país. Em todas as lojas a marca Fuzarka está presente. 2 2.3 Brooksfield Junior As lojas Brooksfield Junior estão presentes nos seguintes estados do Brasil: Alagoas, Amazonas, Bahia, Goiás, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Sergipe. Constam ainda no Distrito Federal. São comercializados em todas as lojas roupas, calçados e acessórios, produtos estes destinados somente aos meninos, já que a loja não comercializa produtos para as meninas. As lojas Brooksfield Junior pertencem ao Grupo Via Veneto, que detém ainda as marcas Brooksfield, Via Veneto, Harry’s e Salvatore Ferragamo. No estado do Rio Grande do Sul está presente há sete anos, sendo a primeira loja no shopping Iguatemi. Há apenas dois anos também está presente no shopping Moinhos de Vento. Cabe 2 Fonte: http://www.lojasrenner.com.br (acesso em 11/04/09 às 20h06min horas) 122 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 ressaltar que a loja infantil nasceu da ideia de uma funcionária, que atenta à presença das crianças junto aos pais na hora da compra, sugeriu que a Brooksfield adotasse uma loja especialmente para o público infantil3. 3 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR INFANTIL Devido à importância que a criança representa na sociedade e no mercado atual, se faz necessário compreender como o consumo desperta interesse nas crianças e de que forma este processo acontece. Montigneaux (2003) observa que quanto menos numerosa for a população das crianças maior será o peso econômico que estas representam no mercado. Com esta população reduzida, maior será o desembolso disponibilizado pelos adultos para gastar com as crianças. O novo modelo de consumo inclui a participação do consumo das crianças. As empresas tomaram conhecimento disto e constataram a importância econômica que as crianças representam. Assim produtos e serviços estão cada vez mais destinados a esta população. As empresas também encontraram novas formas de comunicação com o público infantil, levando em consideração as particularidades deste público. Ainda para Montigneaux (2003), a criança é cada vez mais responsável pelo mecanismo de consumo. Seu poder de compra é expressivo, esta população é influenciadora e participante das decisões de compra de produtos ou serviços que lhe dizem respeito, ou que fazem parte do núcleo familiar. A expressividade que a criança representa nas decisões de compra tem sido altamente considerada pelas empresas, tanto que Limeira (2008) explica que os pesquisadores têm se concentrado em quatro áreas de conhecimento para explicar o comportamento do consumo da criança, ou seja,como ela escolhe, influencia a compra e usa produtos de consumo. Estas áreas são assim definidas: • desenvolvimento e aprendizagem; • socialização; • decisão de compra da família; • influência da propaganda. Em cada estágio há um estilo característico por meio da qual a criança constrói seu conhecimento, ou seja, o pensamento e o comportamento infantis caracterizam-se, em cada estágio, por uma forma específica de conhecimento e raciocínio, com distintas formas de perceber, compreender e se comportar diante do mundo. Limeira (2008) explica ainda que os pesquisadores compreendem a necessidade de apropriarem-se de forma eficaz destas áreas que envolvem o comportamento infantil, visto que desta forma torna-se possível concretizar aquilo que este público procura. Para 3 Entrevista realizada na loja em 19/05/2009. Opinio, n.22, jan./jun. 2009 123 melhor compreensão uma breve explanação de cada uma das áreas acima citadas são aqui explicadas. Para tanto, deve-se ter presente que o desenvolvimento e aprendizagem da criança ocorrem na totalidade do ser humano, logo tudo que faz parte de sua realidade é parte integrante deste desenvolvimento como: vida cidadã, saúde, valores éticos e culturais entre outros. Esta pluralidade alerta para o modelo econômico em que se vive, com um sistema de mercado que criou o luxo como uma das principais éticas atuais. Além disso, o avanço da tecnologia e dos meios de comunicação que trazem para dentro da família uma linguagem baseada numa mídia consumista, são fatores que distorcem a noção de valores que a criança está desenvolvendo. Avaliando estes aspectos pode-se dizer que na pluralidade a criança desenvolve e absorve costumes que se incorporam ao contexto do qual fazem parte. Neste desenvolvimento a criança aprende a responder “por sua própria conta” sobre algo que julga necessitar. Limeira (2008) observa que a interação da criança na sociedade ocorre primeiramente na família, ou junto às pessoas que são referenciais nos papéis parentais. Essa maneira dinâmica de socialização justifica a sua definição como sistema aberto, em constante transformação, o que ocorre cada vez mais cedo na vida da criança, sendo que já nos primeiros anos de vida ela trás “experiências” em estabelecer relações de comportamento. Dessa forma, a família deixa de ser o único referencial da criança que na maioria das vezes precocemente passa a interagir com grupos extras familiares várias horas do dia. Assim, diante destas interações a criança acelera seu desenvolvimento de “autonomia” ao fazer suas próprias escolhas no que precisa e decide que deve ser para ela comprado. Verifica-se o quanto a socialização vai influenciar em diferentes aspectos da criança, inclusive no campo material. Sendo a decisão de compra da família uma das mais notáveis mudanças da sociedade que se relaciona com as transformações da estrutura econômica e social além da cultural que implica a descentralização patriarcal tanto na influência quanto no poder de compra. Tais mudanças sociais dizem respeito também a maior participação das mulheres no mercado de trabalho, com o consequente poder e influência no provimento da família. Sabe-se que a propaganda possui imenso poder e a mídia cada vez mais massificada utiliza seus recursos de formas inesgotáveis e muito bem articuladas,tanto que uma criança de três anos de idade já reconhece certos produtos apenas pelo campo visual e ao ter contato com determinadas marcas as reconhece, demonstrando felicidade facial e física, mesmo não sabendo ler. Para Limeira (2008) o comportamento de consumo da criança é influenciado pela família, pela mídia e pelos grupos sociais com os quais interagem como professores, colegas e amigos. A psicologia social (ciência que se dedica ao estudo do indivíduo como ser social) explica que a socialização é o processo pelo qual as crianças adquirem crenças, valores, normas, conhecimentos e habilidades, de modo a capacitá-las a participar como membros ativos da cultura e da sociedade. Portanto a socialização das crianças é uma 124 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 função atribuída à família, à escola e a outras instituições sociais, como a mídia e os grupos profissionais. Ainda para Limeira (2008) nos estudos sobre a socialização das crianças, o ambiente social tem um papel variável ao longo da infância e da adolescência. Dependendo da idade da criança, seu ambiente muda e, consequentemente muda a sua forma de relação com ele. Os pais e as crianças interagem com o ambiente social por meio de crenças e das normas construídas pela cultura, as quais mediam a relação entre eles. Existem diferentes culturas, e cada qual se caracteriza por seu código de valores e crenças específicas. Para compreender o comportamento do consumidor infantil, é necessário entender o processo de decisão familiar, os estudos sobre o processo de decisão de compra e o comportamento do consumo da família tem tradicionalmente se baseado nos conceitos de ciclo de vida da família e do papel desempenhado pelos diferentes membros desta. Em cada estágio do ciclo de vida da família, os padrões de consumo são diferentes. Para entender o processo de decisão de compra, são em geral, analisados os papéis desempenhados pelos membros. Assim, podem ser identificados cinco papéis: • o que detém ou busca informações; • o influenciador; • o decisor; • o comprador; • o usuário. Neste estudo é pertinente considerar, que a cultura do local onde estão sendo considerados tais papéis, geralmente, os integrantes da família estão em contato com informações da mídia, principalmente via televisão e internet, fato que muitas vezes interfere, significativamente, no comportamento familiar em relação à compra. Assim, o influenciador pode também deixar de ser um único membro, visto que cada indivíduo acaba por decidir o que necessita. Logo, o comprador – pais ou referenciais parentaisnormalmente assumem tal tarefa para atender as necessidades diversas dos usuários. Limeira (2008) classifica em quatro os tipos de decisão familiar: • decisão predominante do marido; • predominante da mulher; • decisão conjunta; • decisão individual. Considerando os valores locais, verifica-se que dentre as classificações apresentadas as decisões estão fortemente ligadas aos valores e modelos comportamentais que permeiam cada família, considerando alguns aspectos relevantes dentre os quais o local e a cultura que caracterizam cada uma. Limeira (2008) constata que a maior influência das crianças ocorre quando elas são Opinio, n.22, jan./jun. 2009 125 as próprias usuárias. As crianças influenciam na escolha de alguns atributos de produtos, como cores, estilos, modelos e marcas. E quando as crianças possuem mais informações do que os pais, as mesmas podem exercer maior influência na escolha. Sendo as crianças as próprias usuárias, tornam-se grandes influenciadoras, uma vez que em tempos de diversificados acessos às informações, incluindo as referências sociais (colegas de escolas, por exemplo) desenvolvem autonomia ao que pretendem adquirir para si. Vinculada a esta autonomia as crianças consideram importantes atributos: as cores, os estilos, os modelos e as marcas que vão encontro de sua faixa etária. A criança passa a ser um agente ativo representando o conceito de vestir-se à sua maneira. Samara e Morsch (2005) constatam que no Brasil com o elevado índice de crianças e jovens, o consumidor menor exerce influência maior nas decisões de compra. Kotler e Keller (2006) observam que os profissionais de marketing estão cada vez mais interessados nos papéis e na influência dos membros da família. Então, não é por acaso que tais profissionais além de atingir o imaginário infantil, atraem afetivamente os adultos da família, ou seja, trata-se de uma estratégia muito bem articulada, na dinâmica ideológica influencia os diferentes membros: os adultos são atraídos pelo aspecto afetivo-emocional que, ao verem a alegria da criança, na maioria das vezes, atendem o ato de consumo para satisfazê-la. Considerando as orientações de Mowen e Minor (2003), cabe salientar a importância das mesmas, visto que a criança está em desenvolvimento e por mais influências que venha a receber do ambiente social é a família sua primeira e principal referência, portanto a família pode influenciar de diversas maneiras o consumidor que está surgindo. Quanto mais cedo a família promover conscientização em relação à forma de agir frente ao consumo, melhor as chances para que a criança desenvolva um controle salutar perante o ato de comprar e ao marketing. Ainda para Mowen e Minor (2003) a maneira como os indivíduos são socializados é uma importante fonte de informações para os profissionais de marketing, estas informações são úteis para o planejamento de mensagens de marketing. O planejamento se faz necessário, visto que as crianças são consumidores importantes no mercado atual. Mowen e Minor (2003) lembram ainda que os principais agentes de socialização são os pais, irmãs e irmãos, professores e os colegas além de personalidades da mídia. Quanto ao planejamento de marketing não há dúvida da eficácia que apresenta; então sendo a família um dos principais modelos para a criança, destaca-se sua importância em ajudá-la desde cedo para que possa apropriar-se de um planejamento familiar compatível com suas reais posses e sobre tudo necessidades em comprar algo novo. Gunter e Furnham (1998) citam estudos de que a socialização é baseada no modelo de aprendizagem social e modelo de desenvolvimento cognitivo. No primeiro modelo os estudos explicam a socialização como uma função das influências ambientais aplicadas às pessoas. A aprendizagem é assumida para ocorrer durante a interação individual com os agentes de socialização em diversos cenários sociais. Já no segundo modelo, é 126 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 explicado o comportamento através das fases de mudanças, que decorre entre a infância e a vida adulta. Mudanças são inerentes ao ser humano, ainda mais tratando-se das complexidades que o envolvem nas diferentes fases que ocorrem desde a infância até a vida adulta. Então, quanto mais cedo a família oferecer um ambiente no qual a aprendizagem da criança ocorra de forma que privilegie seu desenvolvimento tanto cognitivo quanto psicológico de modo harmonioso e equilibrado, melhor será sua socialização e interação junto à diversidade social, o que pode contribuir para uma adaptação autônoma, onde a criança sinta-se segura com auto-estima suficiente em perceber-se e aceitar-se como ser único. Ainda para Gunter e Furnham (1998), os agentes de socialização podem ser exemplificados como família, escola, clube, vizinhos etc. A família é considerada uma importante influência no processo de socialização no que se refere às crianças. Normalmente, cabe a família intermediar para que a criança possa desenvolver confiança em si mesma, ou seja, ela não precisa deixar de ser autêntica apenas para agradar ou ser agradada, pelos grupos os quais estabelece vínculos sociais em alto ou menor grau. Sublinha-se a importância de que seja propiciado à criança desenvolver um processo mental ativo, para que esta não seja “vítima” de padronizar-se perante o que observa no seu meio. Limeira (2008) explica que a teoria cognitiva leva em consideração que o aprendizado ocorre a partir do processo mental, pois parte da ideia que o indivíduo age racionalmente na busca de solução de problemas. O objetivo é compreender os processos mentais que determinam como se aprende ou como a informação é transferida para a memória de longo prazo. Ênfase em entender como a pessoa pensa e raciocina, e não o comportamento da observação. Já na teoria da aprendizagem social é levado em consideração à observação das pessoas, o ato de observar as ações de outras pessoas para desenvolver padrões de comportamento. Aqui as pessoas aprendem ao observar ações de outras pessoas e que consequências estas ações trazem, e assim são capazes de desenvolverem e controlarem seu próprio comportamento. Nota-se que ambas as teorias fazem parte da maturação da criança, ainda que em ritmos distintos, estas movimentações se fazem presentes nos diferentes ciclos de sua vida. Por serem inevitáveis ao desenvolvimento todas as formas de aprendizado devem estar centradas e normas de conduta internalizadas para que a criança aprenda, desde cedo a lidar gradativamente com a mídia. Importante destacar sobre o comportamento do consumidor infantil o expressivo papel desempenhado pela mídia e pela propaganda nos processos de socialização e aprendizado de consumo. Limeira (2008) observa que na segunda metade do século XX a televisão passou a ser cada vez mais acessível, e ser considerada um meio de entretenimento, passando a fazer parte do cotidiano dos brasileiros. Este fato somado ao fato das crianças terem um aumento do tempo exposto aos programas de televisão, fez que com que este público tivesse um aumento de contato com as propagandas e as mensagens da mídia, e estas por sua vez estimulam novos desejos de consumo. Com a Opinio, n.22, jan./jun. 2009 127 rápida difusão da tecnologia digital no final da década de 1990 as crianças passaram a ter outros meios de acesso de informação também, como a internet, e esta vêm sendo desde então muito utilizada pelas empresas para fazer contato com o consumidor infantil. Ressalta-se então a necessidade de oferecer informações às crianças, mas observando para que estas informações crescentes a cada instante e como novidades sedutoras não ocupem o papel de educadores na vida do público infantil. Cross (apud Limeira, 2008, p.183) apresenta constatação sobre a relação de consumo entre pais e filhos, os pais contemporâneos construíram uma ambivalente noção de infância, que molda suas relações com as crianças e o consumo. Os pais, ao mesmo tempo em que pensam que as crianças merecem proteção dos assédios de consumo, também olham os filhos como destinatários dos prazeres que o consumo oferece. Outra observação que merece destaque sobre o comportamento do consumidor infantil, conforme Montigneaux (2003) é a evolução de ofertas para crianças, bem como a evolução dos preços. Os valores dos artigos oferecidos para crianças são os mesmos praticados para os artigos oferecidos a adultos. Isto ocorre devido ao valor maior que os pais estão dispostos a gastar para suas crianças, face o aumento do poder de compra do consumidor infantil. Com base no novo comportamento de consumo apresentado pelo público infantil torna-se interessante para as marcas desenvolverem novas estratégias para este público, visto o papel econômico que este representa bem como o papel de influenciadores que exercem junto às famílias. Sabendo que a criança passa por diferentes fases que norteiam suas atitudes perante o mundo se faz necessário compreender suas fases evolutivas cognitivas. Para isto, será exposto uma breve apresentação das mesmas, fundamentadas nos estudos do desenvolvimento humano do psicólogo Jean Piaget, o qual dedicou-se aos estudos a fim de entender a evolução da inteligência da mente humana, principalmente da criança. Piaget (1975) enfatiza o aspecto evolutivo da inteligência, ou seja, como a criança gradualmente atinge as estruturas cognitivas cada vez mais eficientes. Salienta ainda, que a inteligência é um sistema de operação viva e atuante. Os estágios de desenvolvimento cognitivo estabelecidos por Piaget esquematizam-se assim: • estágio sensório-motor (dos zero aos dois anos de idade): Esta fase caracteriza-se pelo controle motor. A criança adquire conhecimento por meio de suas próprias ações, reagindo a ações imediatas; • estágio pré-operatório (dos dois aos sete anos de idade): Este estágio caracterizase pelo desenvolvimento da inteligência simbólica, a criança consegue nomear objetos e raciocinar intuitivamente, mas ainda não consegue coordenar operações básicas. É a fase dos “porquês”, para tudo precisa de uma explicação; • estágio operatório-concreto (dos sete aos onze anos de idade): Nesta fase já consegue lidar com conceitos abstratos, desenvolve habilidades de solucionar 128 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 problemas concretos, sendo capaz de relacionar diferentes aspectos e abstrair dados da realidade; • estágio operatório-formal (a partir dos doze anos de idade): Define-se como o período da adolescência, caracteriza-se por uma série de mudanças corporais e psicológicas. Inicia-se a transação para o modo adulto de pensar, desenvolvendose a capacidade de pensar ideias abstratas. Importa comentar que as idades atribuídas aos surgimentos dos estágios não são inflexíveis e que podem ocorrer variação individual nestas idades. Pertinente elucidar a contribuição que Piaget ofereceu a partir do século XIX no que tange o conhecimento das fases evolutivas da criança, seus estudos tem sido atemporal. Fundamental esclarecer que o período sensório motor e o pré-operatório abrangem a primeira infância, o operatório-concreto é o período da infância propriamente dita, e o estágio operatório-formal corresponde à adolescência. Segundo Montigneaux (2003) a relação das crianças com as marcas é influenciada pelo desenvolvimento de suas habilidades cognitivas, é na socialização progressiva que a criança consegue ver-se e reconhecer-se perante os outros. O outro passa a ser um parâmetro ético que ajuda a criança a sair de si mesma, desenvolvendo-se e afirmando sua personalidade e autonomia. A idade do consumidor infantil influencia sua relação com as marcas porque a criança à medida que se desenvolve nas diferentes fases de sua vida, vai reagir de forma distinta perante as marcas. E neste seu processo de desenvolvimento vai amadurecendo critérios de escolhas constantemente mais elaborados. Para Montigneaux (2003) a representação da marca deve estar em harmonia com as competências da criança, visto que esta relevante informação enviada ao público infantil precisa ir ao encontro do nível de sua capacidade de apropriação. Este autor salienta ainda que é por meio da sistematização intelectual da criança, que esta consegue, gradativamente, passar de um conhecimento perceptivo e parcial à um nível de conhecimento mais complexo dos objetos devido ao acesso das competências cognitivas, sendo elas: classificação, analogia, complementação das séries, raciocínio, linguagem entre outros. A criança passa de uma representação concreta das dimensões mais superficiais da marca (realidade física do produto) às mais imateriais (dimensões subjacentes, símbolos). 4 RESULTADOS DA PESQUISA O presente estudo contou com uma amostra de dez consumidores infantis, com idade entre os três e dez anos, bem como, entrevista junto os seus familiares. Os dados coletados foram analisados através do método da análise de conteúdo. Os entrevistados são moradores das cidades de Porto Alegre, São Leopoldo e Sapucaia do Sul. São pessoas com diferentes poder aquisitivo e com características diversificadas na Opinio, n.22, jan./jun. 2009 129 forma de atuar no contexto familiar. Verificou-se nas entrevistas, que a maioria das famílias são formadas por um modelo padronizado, pais e filhos. Em um dos casos apenas, a criança mora com a mãe e pouco contato tem com o pai. A maior parte das mães mantém uma relação de forma mais dialógica e flexível junto à criança. Em uma única situação, a mãe apresenta uma personalidade mais dominante, ou seja, ela toma as decisões de forma mais individualizada sem muito considerar a opinião da criança ou do próprio pai. Quanto às crianças observou-se que a personalidade das mesmas corresponde à autonomia que lhe é dada ou não no ambiente familiar, assim sendo algumas apresentam uma característica mais atuante e outras mais submissas perante a referência familiar. 4.1 Entrevista com os familiares Foi realizada entrevista a partir de doze perguntas abertas junto aos familiares. Ao analisar os depoimentos verifica-se que na maioria das vezes a criança, de forma sutil ou evidente participa na escolha das roupas compradas. Logo, a opinião da própria criança é considerada, conforme já mencionado por Limeira (2008) “... elas só vestem o que gostam, e o que gostam está relacionado ao que elas percebem como estar na moda no momento”. Verifica-se que as crianças, na maioria das vezes, têm sua opinião ouvida e respeitada em relação ao que gostam. Assim como há situações em que os responsáveis se dão o direito de assumir e decidir sozinhos esta tarefa. Por meio desta questão nota-se que conforme mencionado por Rabelo e Cardoso (2009) as formas e as cores são muito importantes no processo de escolha realizado pelas crianças, que ainda utilizam-se de uma referência abstrata na identificação dos produtos que lhe agradam, embora o significado da marca ainda não seja compreendido. Quando tem oportunidade cada vez mais cedo as crianças participam na decisão da compra. Além do preço, nota-se que é considerado a qualidade do produto, ou seja, a satisfação do custo beneficio também é relevante na decisão de compra. Ao questionar-se sobre as marcas estudadas nesta pesquisa, constata-se o quanto à mídia televisiva tem poder de vender a imagem e consequentemente os produtos relacionados. Nota-se nesta questão que as marcas mais (re) conhecidas são aquelas vinculadas por meio de veículos que abrangem maior massificação. Fica claro que independente do poder aquisitivo as marcas/produtos mais reconhecidos são aqueles vinculados por este tipo de marketing. Outro fator importante verificado no decorrer da entrevista foi que a maior parte dos entrevistados adquiriam produtos da Fuzarka não pela marca, mas pelos personagens licenciados por esta. E alguns deles tomaram conhecimento da Fuzarka enquanto marca somente no decorrer da entrevista, neste momento, literalmente, se deram conta de que Fuzarka é a marca e não os personagens licenciados. Logo, fica evidente que a marca Fuzarka por si só não se faz conhecer. Este reconhecimento ocorre em virtude dos personagens licenciados, que agradam ao público destinatário. 130 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 Montigneaux (2003) chama atenção o quanto a publicidade torna efetivo a identificação de uma marca/produto junto ao público, o que é pertinente considerando que a Lilica Ripilica & Tigor é uma marca reconhecida em concomitância com os personagens que a representa. Enquanto a Fuzarka mesmo não sendo reconhecida pela marca se expande a um grande público, em função dos personagens licenciados vinculados na mídia. Em se tratando da Brooksfield Junior verificou-se que mesmo as pessoas com maior poder aquisitivo a conhecem de forma superficial e até mesmo desconhecem, o que provavelmente acontece em função do tipo de marketing adotado pela empresa. Com base nos relatos observa-se que os pais procuram investir em produtos que ofereçam bom preço, conforto e qualidade. Estes requisitos têm interdependência. Observa-se ainda que baseado em suas crenças e valores consideram a satisfação de seus filhos, portanto conforme Montigneaux (2003) entender os desejos e hábitos das crianças são fatores fundamentais. 4.2 Entrevistas com as crianças Ressalta-se que embora o questionário tenha sido apresentado com as mesmas questões para todas as crianças, houve necessidade de reformular as perguntas junto às crianças menores, entre três e seis anos de idade, sendo assim o que já era previsto se confirmou, visto que do contrário elas não teriam habilidades cognitivas em responder as questões. Importa esclarecer que as questões em comum a todas as idades foram mantidas a fim de nortear esta pesquisa. Também foi preciso uma intervenção para melhor fidelizar a opinião destas crianças. Esta intervenção ocorreu no decorrer da entrevista onde a psicopedagoga se valeu de recursos específicos para cada faixa etária acima descrita, permitindo assim que a criança conseguisse expressar suas ideias e sentimentos em relação às marcas e produtos de forma significativa. Nota-se que o papel dos pais se torna cada vez mais significativo na medida em que a criança avança seu desenvolvimento. A figura dos mesmos ajuda a criança a se estabilizar. No caso das crianças entre três e seis anos de idade, nota-se que elas desejam fazer muitas coisas em cooperação com outras pessoas. E que a partir desta idade o egocentrismo infantil cede espaço ao desejo de fazer parte do grupo, por meio de maior flexibilidade, diz Reichert (2009): “nessa idade revelam desejos de aprender a fazer aquilo que os maiores são capazes de realizar, com a expectativa de serem posteriormente inseridos no meio social de modo ativo e dignificante.“ (REICHERT, 2009, p.252) Logo na infância coerentemente, é preciso a orientação familiar na escolha do vestuário. A criança absorve influências da cultura que é própria de sua família. Deste modelo surgem as primeiras escolhas por determinado conceito de loja, marcas e produtos. Conceitos que poderão ser temporários ou definitivos no que se refere à beleza, conforto e qualidade. Observou-se que já na infância é revelada uma identidade pessoal. Nos primeiros Opinio, n.22, jan./jun. 2009 131 anos de vida, conforme evidenciado nos relatos, a mãe e a família representam campos condutores que constroem a personalidade da criança frente ao modo de lidar com escolhas referentes ao vestuário. Estas escolhas estão extrinsecamente ligadas a idade de cada criança, ou seja, escolhem o que é peculiar ao centro de interesse da idade. Algumas crianças dizem que “não escolhem marcas ou que usam o que tiver”, contudo elas usam o que tiver porque mesmo sendo os familiares a comprar, estes compram conforme o gosto da criança seja pela beleza, qualidade, personagens ou marca que agregam tais características. O que já se constatou junto aos pais, indiferente de seu poder aquisitivo. Nesta reflexão, fica esclarecido que as crianças escolhem em alguns casos também, pela marca, já a maioria faz sua escolha relacionada aos personagens com os quais se identificam. As crianças, aqui, demonstram interesse não tanto pela marca, mas sim pelos atributos físicos que são o maior referencial para elas, o que comprovam Kotler e Keller (2006) ao salientar que esta estratégia é bem sucedida, porque os consumidores acreditam que outra marca semelhante não será igual. Conforme explicam Churcill e Peter (2000), neste tipo de identificação, a marca se apresenta pelos elementos marca símbolo, ou seja, pelos desenhos. Algumas crianças enfatizam a preferência por personagens e / ou modelos, mesmo não sendo lhes apropriados, como uma das meninas entrevistadas, que diz gostar de saltos. Provavelmente a menina está captando atitudes apreendidas na família, e nesta idade, segundo Piaget (1975) ocorre reciprocidade com o outro, segundo o mesmo autor é uma forma de retribuir a afetividade que recebe da família. Sobre as marcas pesquisadas, a maioria das crianças conhecia as marcas Fuzarka e Lilica Ripilica & Tigor. Esta última consegue se infiltrar na mente dos consumidores alvos maximizando a vantagem potencial da empresa. A marca Brooksfield Junior foi identificada por apenas uma das crianças entrevistadas. 4.3 Entrevistas com as empresas Segue a análise das entrevistas realizadas junto aos profissionais de cada marca apresentada neste artigo, a qual ocorreu igualmente a partir de um questionário previamente elaborado com nove perguntas abertas. Verificando como se deu o surgimento das marcas, nota-se a peculiaridade de cada uma. A Brooksfield Junior mesmo sendo dentre as três marcas, a mais elitizada nasceu da perspectiva de uma funcionária, atenta ao comportamento dos consumidores. A funcionária idealizadora desta marca observou que os meninos acompanhavam os pais durante as compras, então: “eles conhecem a marca por meio de experiências anteriores com o produto e do programa de marketing do produto” (KOTLER; KELLER, 132 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 2006, p.269). Esta estratégia assegurou que a marca fosse percebida como um produto diferenciado da concorrência. Já a marca Lilica Ripilica & Tigor, antes vendida em lojas multi marcas, ganhou seu próprio espaço pelo sistema de franquia. Estratégia que alavancou e colocou a marca como algo que nem todos possuem, ou seja, os consumidores não estabelecem relação entra esta marca com outras produzidas pelo mesmo fabricante, porém para um público massificado. Lilica Ripilica & Tigor é sinônimo de um certo “status”. Limeira (2008) diz que esta estratégia enobrece a qualidade da marca criando preferência e fidelidade à mesma. A marca Fuzarka por sua vez, acompanhou o novo comportamento social, com suas novas posturas, principalmente, junto ao público infantil e inseriu marcas da Renner dentro das lojas, não aceitando mais marcas de outros fornecedores. As três marcas destinadas às crianças que são comercializadas pelas Lojas Renner estão assim apresentadas: Teddy Bom (para crianças de até três anos de idade), Fuzarka (para crianças de quatro até nove anos de idade) e Mix Teen (dos doze aos quatorze anos de idade). Estas marcas foram pensadas de acordo com a faixa etária das crianças, para Montigneaux (2003) o consumo da criança está incluído no novo modelo social. Notase que empresas como lojas Renner tomaram conhecimento deste fato, constatando a importância econômica que a criança representa. A diferenciação que as três marcas das lojas Renner apresentam é um critério utilizado de forma eficiente, para atingir diferentes faixas etárias, respeitando o perfil do consumidor infantil nas diversas fases. Nota-se que a Brooksfiled Junior é uma loja pensada e planejada para o público infantil masculino, sendo seu ambiente apreciado pelos consumidores que interagem com a mesma. Por sua a vez a Lilica Ripilica & Tigor também apresenta preocupação em criar um ambiente de aconchego às crianças. É evidenciado a importância dos pais perceberem felicidade dos filhos. Já nas lojas Renner, mesmo o setor infantil sendo caracterizado por ambiente mais lúdico, com provadores infantis diferenciados, a loja não é planejada especialmente para as crianças. O que torna seus atrativos menos elaborados em relação às duas marcas anteriores. Contudo, tem seu público garantido. Observa-se que as três lojas atendem a satisfação do público que lhe é peculiar, o que é explicado por Samara e Morsch (2005) quando esclarecem que as necessidades e desejos do consumidor podem ser variados. Embora a essência da compra seja o ato da troca, o perfil dos consumidores, assim como suas características e motivações recebem influência de situações vivenciadas, como os aspectos culturais, valores familiares e situacionais. Dessa forma, o consumo é motivado por meio de inúmeros artifícios que “falam” com seu público de maneira convincente, e que lhe agrada. Verifica-se que a Brooksfield Junior adota um critério de marketing bastante Opinio, n.22, jan./jun. 2009 133 “pessoal” com seus consumidores. É um marketing mais direto e estreito junto ao público da loja. Nota-se que a Lilica Ripilica & Tigor apresenta um marketing mais diversificado, e desta forma, mantém seus clientes fiéis (os quais são reconhecidos ao desfilar para a marca) em lugar de destaque. Contudo, o marketing com maior abrangência trás outros consumidores parta dentro da loja. O tipo de marketing adotado pela marca é bastante forte e circula em diferentes meios ou propaganda, segundo Limeira (2008) a imagem da marca é definida pela propaganda e reforçada pelas experiências do consumidor com o produto. As Lojas Renner por sua vez também apresentam um tipo de marketing adequado ao seu público consumidor. É um marketing ainda mais acessível as diferentes classes sociais, visto que seria equívoco, neste caso, fazer a propaganda de outra forma. Isto significa que cada loja está atenta e sabe como chegar ao seu público característico, que é tão variado quanto o marketing adotado. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com a realização deste trabalho chegou-se a algumas considerações importantes sobre o comportamento do consumidor infantil na sociedade contemporânea. Segundo Kotler e Keller (2006, p.272), “o verdadeiro valor e as perspectivas futuras de uma marca dependem dos consumidores, do seu conhecimento sobre ela e de sua provável resposta à atividade marketing resultante deste conhecimento”. Durante muitos séculos as perspectivas sobre o comportamento do consumidor infantil eram inexistentes, uma vez que a criança era vista como um adulto em tamanho menor. Mudar paradigmas nunca foi fácil, exige do ser humano disposição para aceitar novos desafios. Contudo, com o surgimento e avanço tecnológico e cientifico somado a industrialização e crescimento populacional na sociedade, esta mudança foi inevitável. Dentro deste novo modelo de sociedade a mulher passou a ser inserida no mercado de trabalho, descentralizando o caráter patriarcal que caracterizava o núcleo familiar até então. Outra grande ruptura ocorrida dentro da sociedade, diz respeito às crianças. A partir do século XX passou a haver maior interesse em estudos a fim de buscar compreender como ocorre a evolução da mente humana, principalmente da criança. Neste processo de compreensão a criança foi gradativamente conquistando seu espaço, tendo suas etapas de habilidades cognitivas reconhecidas como um desenvolvimento processual, que lhe é característico. A criança deixa então, de ser vista como um adulto em tamanho reduzido, passando a ter suas singularidades respeitadas. Sublinha-se que desde então, o tratamento da sociedade à criança não foi mais o mesmo, principalmente, no que se tange à produção de produtos pensados e planejados especialmente para este novo consumidor. Se Piaget (1975) elucidou estágios sobre 134 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 as fases evolutivas da criança, Montigneaux (2003) complementa ao salientar que a relação das crianças com as marcas é influenciada pelo desenvolvimento de suas habilidades cognitivas, diz ainda que é na socialização que a criança interage vendo-se e reconhecendo-se perante as demais pessoas. Entende-se que no novo modelo de sociedade, as mães passaram a trabalhar e os pais estão mais horas por dia ausentes. Dessa forma, a criança deixou de ter como referência apenas seu núcleo familiar. Assim, desde muito cedo a criança recebe influências de outros grupos socializadores. Diante de tantas movimentações relacionadas a um novo modelo de vida infantil os profissionais de marketing perceberam neste perfil um mercado a ser explorado. Para isto, se fez necessário entender o comportamento do público infantil perante o consumo, voltando às ideias de Montigneaux (2003) ressalta-se que as empresas encontraram novas formas de comunicação com este público, levando em consideração suas particularidades. Os profissionais de marketing têm se apropriado do poder da mídia, através de diferentes recursos tecnológicos, o marketing chega ao consumidor infantil projetandose de modo personalizado, via internet, telefonemas ou de forma mais abrangente, principalmente, por meio da propaganda televisionada. Este tipo de comunicação se expande de maneira mais intensa, ou seja, atinge maior número de consumidores. Entende-se que a televisão, presente praticamente em todos os lares dos brasileiros, é um artefato que interfere no ambiente familiar. Não por acaso, constatou-se neste trabalho, que desde muito cedo as crianças participam e até escolhem o que desejam usar, fato apresentado na pesquisa junto aos profissionais de cada marca aqui apresentada. Consideração relevante, ressalta-se quanto a relação da criança junto à marca. Esta relação ocorre pode-se dizer assim, de forma afetiva, ou seja, a criança geralmente não identifica a marca do vestuário. Para ela importam suas cores e personagens. Rabelo e Cardoso (2009) salientam que a marca deve ter capacidade de criar um relacionamento com a criança, por meio dos personagens estabelecem vínculo emocional com o público infantil, premissa observada junto aos relatos das crianças. Assim sendo, para que as crianças compreendam as marcas, é preciso que entendam que a mensagem da mesma relaciona-se as experiências de curiosidades, descobertas, aventuras e expectativas. Experiências que estão inseparavelmente ligados ao ser infantil e que o levará a sua autonomia futura na identificação de uma marca propriamente dita. Retomando Rabelo e Cardoso (2009) é pertinente considerar quando afirmam que através do imaginário infantil os personagens entram na vida da criança. Por meio dos personagens a criança lida com suas emoções. Considera-se ainda que é na família que a criança dará os primeiros passos rumo ao consumo, torna-se assim pertinente a explicação de Limeira (2008) quando alerta que o motivo de consumo apresenta diversos fatores dentre os quais, fatores pessoais, como traços de personalidade e características de cada um e também os fatores ambientais, Opinio, n.22, jan./jun. 2009 135 este de natureza social e cultural, valores compartilhados com grupos de referência; mudanças causadas por novas tecnologias entre outras. Importa ressaltar que um dos valores compartilhados pelas diferentes famílias, mostra-se em relação ao incentivo para que as crianças guardem um pouco de dinheiro, contudo, verifica-se que as crianças na maioria das vezes mostram-se potenciais consumidores. Ou seja, são frutos de uma sociedade capitalista e assim o sendo, buscam comprar para sentirem-se felizes. Nem sempre os familiares conseguem ajudar a criança a elaborar um comportamento sensato de consumo, visto que não há um planejamento prévio, a longo prazo. A maior parte dos consumidores infantis mostra-se ansioso, deseja consumir algo a curto prazo. Diante das considerações expostas, sublinha-se a importância da reflexão sobre o tema pautado neste artigo, cabe lembrar que a visão do mundo do consumidor infantil quando não é auto-reconhecida, consciente, auto-construída pelos referenciais familiares, ela sempre estará alicerçada em valores e crenças da cultura dominante. Diante da expressividade do consumidor infantil no atual mercado, se faz necessária a realização de novas pesquisas e apontamentos sobre este consumidor, visto a escassez de referenciais e autores que abordam este tema. REFERÊNCIAS CHURCHILL Jr., Gilbert A.; PETER, J. Paul. Marketing: criando valor para os clientes. São Paulo: Saraiva, 2000. GUNTER, B.; FURNHAM, A. As crianças como consumidoras: uma análise psicológica do mercado infantil. Lisboa: Instituto Piaget, 1998. KOTLER, Philip; KELLER, Kevin Lane. Administração de Marketing: a bíblia do marketing. 12.ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. LIMEIRA, Tânia Maria Vidigal. Comportamento do consumidor brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008. MONTIGNEAUX, Nicolas. Público alvo crianças: a força de personagens e do marketing para falar com o consumidor infantil. Trad. Jaime Bernardes. Rio de Janeiro: Campus, 2003. MOWEN, John C.; MINOR, Michael S. Comportamento do consumidor. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2003. PIAGET, Jean. A construção do real na criança. (s.c.): Zahar, 1975. RABELO, Arnaldo; CARDOSO, Antonio Joaquim. Disponível em: www.marketing infantil.com.br. data de acesso: 25/06/2009. REICHERT, Evânia. Infância, a idade sagrada: anos sensíveis em que nascem as virtudes e os vícios humanos. 2.ed. (s.c.): Vale do Ser, 2009. SAMARA, Beatriz Santos; MORSCH, Marco Aurélio. Comportamento do consumidor: conceitos e casos. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. 136 Opinio, n.22, jan./jun. 2009 Normas editoriais 1 MODALIDADES DE PUBLICAÇÃO 1.1 Artigos originais que expressem opiniões e posicionamentos acerca de questões atuais das ciências empresariais, políticas e sociais, cientificamente embasados; 1.2 Artigos de atualização são artigos empíricos, idéias e revisões teóricas. Nossos artigos de atualização visam satisfazer nosso público leitor com conceitos novos e já conhecidos para que nosso público tenha um continuado acesso ao conhecimento necessário; 1.3 Relatos onde apresentamos artigos que relatem episódios nas áreas de conhecimento referidas com descrições de opiniões e experiências oriundas do desenvolvimento de pesquisas científicas; 1.4 Resenha crítica de obras relativas a essas áreas, resumo de teses, comunicações, documentos; 1.5 Matérias de divulgação da Universidade; 1.6 Matérias informativas sobre participação em eventos científicos e tecnológicos. 2 APRESENTAÇÃO DOS ORIGINAIS 2.1 Os artigos deverão ser apresentados em CD-ROM, de preferência em MS Word ou outro editor compatível com Windows 95/98 (formatos doc ou txt, exceto em formato rtf), acompanhados de uma cópia impressa; 2.2 O texto dos artigos deverá ter de 10 a 20 laudas; resenhas e relatos não devem ultrapassar 10 laudas; 2.3 Um resumo de aproximadamente 200 palavras em língua portuguesa e em inglesa (abstract) deverão introduzir o artigo acompanhados de palavras-chave e keywords; 2.4 Endereço eletrônico (e-mail) do autor; 2.5 Uma nota de rodapé com a apresentação do autor deve constar: nome, profissão, última titulação e local onde realizada, e cargo que ocupa (se relevante); Obs.: somente os títulos acadêmicos de nível stricto sensu (Mestre e Doutor) devem ser escritos com inicial maiúscula. 2.6 As citações diretas e indiretas, notas e referências bibliográficas devem seguir as normas da ABNT (NBR 6023), e o padrão da revista Opinio que pode ser obtido com a Comissão Editorial no endereço mencionado no expediente ou pelo e-mail [email protected]; 2.7 A estrutura do artigo é a de um trabalho científico, contendo partes tais como: introdução, desenvolvimento, material, métodos, resultados, discussão e conclusão, segundo as características próprias de cada domínio de conhecimento; 2.8 Quanto à forma: os grifos no texto devem ser todos em itálico, exceto quando houver necessidade de diferenciação. 3 PUBLICAÇÃO 3.1 Os trabalhos remetidos serão aceitos para submissão caso estejam dentro dos padrões da revista; 3.2 Os trabalhos aceitos para submissão serão submetidos à apreciação do Conselho Editorial ou de outros consultores designados pela Comissão Editorial, de acordo com as especificidades do tema. Em se tratando de material elaborado por aluno(as), o mesmo deverá ser visado por um professor da área; 3.3 Os autores serão comunicados da aceitação ou recusa de seus artigos. A Comissão Editorial não se responsabiliza pela devolução dos originais remetidos; 3.4 Havendo necessidade de alteração quanto ao conteúdo ou inadequação às normas, o artigo será devolvido para correção estando sujeito a recusa na falta de atendimento das solicitações (adequação lingüística e copidescagem estão a cargo da comissão editorial e núcleo de publicações periódicas).