UNIVERSIDADE PAULISTA ALINE PIGOZZI DA COSTA CLAYTONS SANTOS DA CONCEIÇÃO MÔNICA DA SILVA ARAÚJO WALDEMAR TERÔ SATO RAIZ PAULISTANA: O resgate da música caipira em São Paulo SÃO PAULO 2013 ALINE PIGOZZI DA COSTA CLAYTONS SANTOS DA CONCEIÇÃO MÔNICA DA SILVA ARAÚJO WALDEMAR TERÔ SATO RAIZ PAULISTANA: O resgate da música caipira em São Paulo Trabalho de conclusão de curso para obtenção do título de graduação em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, apresentado à Universidade Paulista – UNIP. Orientador: (Profº Drº Luis Henrique Marques) SÃO PAULO 2013 Costa, Aline Pigozzi da, 1992 – Raiz Paulistana: O resgate da música caipira em São Paulo. / Aline Pigozzi da Costa... [et al.]. – São Paulo, 2013. 73 f. il. Trabalho de conclusão de curso (graduação) – Universidade Paulista. Curso de Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo. Orientador: Prof. Dr. Luis Henrique Marques. 1. Caipira. 2. Música. 3. Paulistana. 4. Rádio. I. Conceição, Claytos S. da. II. Araújo, Mônica da S. III. Sato, Waltemar T. ALINE PIGOZZI DA COSTA CLAYTONS SANTOS DA CONCEIÇÃO MÔNICA DA SILVA ARAÚJO WALDEMAR TERÔ SATO RAIZ PAULISTANA: O resgate da música caipira em São Paulo Trabalho de conclusão de curso para obtenção do título de graduação em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, apresentado à Universidade Paulista – UNIP. Aprovado em: BANCA EXAMINADORA _______________________/__/___ Prof. Universidade Paulista – UNIP _______________________/__/___ Prof. Universidade Paulista – UNIP _______________________/__/___ Prof. Universidade Paulista UNIP DEDICATÓRIA Dedicamos esse trabalho à nossas famílias, porque elas são o ponto de apoio de nossas atitudes decisivas; ao nosso amigo Daniel Baldini, que esteve conosco na definição do tema e no desenvolvimento do projeto e também a todos os que gostam da música caipira e que, de alguma forma, cooperam para a preservação da cultura brasileira. AGRADECIMENTOS Agradecemos, em primeiro lugar, a Deus que nos norteou e possibilitou a realização desse trabalho. Agradecemos também às pessoas que tiveram desprendimento e grandeza no intuito de cooperar, direta ou indiretamente, para que fosse possível sua concretização: Ernestino Ciambarella (Junior da Violla), Expedito Leandro Silva, Inezita Barroso, Lucimaro Aparecido da Costa, Márcio Chizzolini, Maria de Lourdes Barbosa Pigozzi e Milton Soares de Souza. E agradecemos, em especial, ao professor Dr. Luis Henrique Marques, pois, graças às suas orientações, atenção e profissionalismo, conseguimos trilhar no rumo certo para finalizá-lo. RESUMO Este trabalho foi elaborado sob a temática “O resgate da música caipira na cidade de São Paulo” e, portanto, aborda aspectos teóricos sobre a cultura e a música caipira - estilo de vida e musical corresponsável pela formação da sociedade paulistana e importante traço da cultura brasileira. Após realização de pesquisas bibliográfica e de mercado, foi identificado que este gênero - posteriormente conhecido como sertanejo de raiz - foi abafado pela indústria fonográfica e o faz parecer uma música ultrapassada, uma vez que a cada dia aparecem novos ritmos advindos do original, mas que não carregam absolutamente nenhuma característica das toadas que surgiram no campo e começaram a ser divulgadas em 1910, por Cornélio Pires. Com a falta de interesse do público, a música caipira deixou de ser amplamente divulgada pelas mídias e veículos de comunicação na grande cidade de São Paulo, sendo assim preservada, tão somente por seus apreciadores - geralmente pessoas mais velhas e suas gerações - e por artistas e pessoas que trabalham para que ela não se perca no tempo. Neste contexto é que o programa RAIZ PAULISTANA surge, a fim de retornar a música caipira ao seu espaço no rádio - veículo pioneiro em sua divulgação - e, de forma informativa e dinâmica, chamar a atenção e despertar o interesse dos paulistanos. Palavras chave: Caipira – Música – Paulistana – Rádio. ABSTRACT This work was prepared under the theme "The rescue of country music in the city of São Paulo" and therefore addresses the theoretical aspects of the culture and country music - lifestyle and musical co-responsible for the formation of Sao Paulo society and important trait of Brazilian culture. After conducting research and market literature was identified that this genre - later known as backcountry root - was drowned out by the music industry and makes a song seem outdated, since every day appear new rhythms coming from the original, but not carry absolutely no feature of tunes that have emerged in the field and began to be published in 1910 by Cornelio Pires. With the lack of public interest, hillbilly music ceased to be widely publicized by the media in the great city of São Paulo, and thus preserved solely by its admirers usually older people and their generations - and for artists and people who work so she does not get lost in time. In this context is that the program RAIZ PAULISTANA arises in order to return to country music on the radio to your space - vehicle pioneer disclosure - and, in an informative and dynamic, attention and arouse the interest of São Paulo. Key-words: Hillbilly – Music – Paulistana – Radio. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................09 2. PROBLEMA...........................................................................................................11 3. HIPÓTESE.............................................................................................................12 4. OBJETIVOS...........................................................................................................13 4.1. Objetivo geral......................................................................................................13 4.2. Objetivos específicos..........................................................................................13 5. JUSTIFICATIVA....................................................................................................14 6. REVISÃO DE LITERATURA.................................................................................16 6.1. O Caipira.............................................................................................................16 6.2. A música caipira..................................................................................................17 6.2.1. Moda de viola...................................................................................................18 6.2.2. Cururu..............................................................................................................18 6.2.3. Catira................................................................................................................18 6.2.4. Congada e Calango.........................................................................................19 6.3. O veículo rádio....................................................................................................20 6.4. Análise de mercado.............................................................................................21 7. METODOLOGIA....................................................................................................24 7.1. Estudo Teórico....................................................................................................24 7.2. Coleta de dados..................................................................................................24 7.2.1. Entrevistas........................................................................................................24 7.2.2. Visitas...............................................................................................................25 8. PROGRAMA DE RÁDIO.......................................................................................26 8.1. Roteiro do programa...........................................................................................26 8.2. Espelho do programa..........................................................................................27 9. CRONOGRAMA....................................................................................................40 10. REFERÊNCIAS...................................................................................................41 ANEXO A...................................................................................................................43 9 1. INTRODUÇÃO A proposta deste trabalho é trazer à tona a compreensão da música originária do Estado de São Paulo que, segundo Rosa Nepomuceno, em seu livro “Música caipira: da roça ao rodeio” (1999), especificamente, nasceu na região do médio Tietê e no centro-sul do Estado: a música caipira. Cantado e difundido pela população roceira, este gênero musical saiu do campo e, num determinado período, foi forçado a se desenvolver na cidade em meio à formação do povo paulistano, mas procurando não perder a influência do ambiente rural. Para o desenvolvimento do projeto, foi necessário expor os diversos componentes sociais e a relação que o homem do campo, denominado “caipira”, manteve com suas raízes por meio da música. Adaptada para o novo ambiente, o que antes era a narração de seu cotidiano, agora, é o lamento por ter que deixar o seu lugar em contato com a natureza, forçados pelo domínio dos ricos fazendeiros. Para o caipira, este novo lugar é estranho tanto no que se refere ao ambiente urbano, quanto aos costumes das pessoas. Por alguns anos, a essência dessa narração se manteve. No entanto, após sua introdução na indústria fonográfica, a música caipira passou por várias adaptações, fazendo-se necessário, portanto, diferenciar com o termo “sertanejo” o que era a manifestação espontânea do homem da roça e o que passou a ser um produto da indústria cultural. Esse gênero fez surgir modalidades como o sertanejo pop, o pós-caipira e o atual ritmo da moda, o sertanejo universitário. E, desse modo, para não perder de vista o estilo que deu origem a todas essas modalidades, a música sertaneja, oriunda da música caipira, foi então identificada como sendo “de raiz”. Não foram poucas as obras encontradas a respeito da cultura e da música caipira no processo de revisão de literatura. No entanto, a maioria das obras impressas está esgotada. Já na rede virtual de computadores, foram encontrados outros materiais, como trabalhos acadêmicos de mestrado e doutorado. Portanto, este trabalho se baseia, principalmente, no livro de José Antônio Alves Junior, “Música caipira raiz– O entrelugar da memória e da contradição” (2011) – uma das principais referências nesse tema – e também em obras acadêmicas, trabalhos e artigos de autores renomados disponibilizados na Internet. 10 Diante deste universo de estudos publicados, o presente trabalho cuidará da música caipira ou música sertaneja de raiz, especificamente no âmbito da cidade de São Paulo, com a apresentação de um programa de rádio no formato de documentário radiofônico. O projeto trará uma perspectiva diferente em relação a tantas formas já divulgadas. Desse modo, toda a população – principalmente as novas gerações que, provavelmente, desconhecem este antigo gênero musical – terá acesso a esclarecimentos, informações e particularidades que influenciaram o surgimento de outros ritmos, tão propalados e conhecidos atualmente. É graças ao estilo musical caipira, com origem em uma região restrita desde o descobrimento do país, que todos os brasileiros têm a possibilidade de conhecer o universo do Brasil rural. 11 2. PROBLEMA O problema social e comunicacional que o trabalho buscou enfrentar é a falta de abordagem jornalística a respeito da música caipira na cidade de São Paulo, no que se refere ao resgate de sua essência – uma vez que o estilo musical modificouse no decorrer dos tempos e teve, como consequência, a perda de suas características principais e sua importância, já que o caipira (música e estilo de vida) teve sua parcela de contribuição na formação da cultura paulistana. Diante desse cenário, portanto, o projeto procura preencher a lacuna deixada pelos meios de comunicação convencionais, que se habituaram a evidenciar apenas estilos musicais que facilmente podem ser introduzidos no mercado de consumo, levando a crer que a música caipira, ou música sertaneja, não se enquadra nestes moldes impostos pela indústria cultural. 12 3. HIPÓTESE Com a elaboração de um programa de rádio, o projeto pretende criar um espaço – que hoje é inexistente nas mídias massivas – para que a música sertaneja de raiz seja disseminada, não apenas como mais um estilo musical, mas como fonte de informação e expressão de uma cultura. O formato jornalístico escolhido possibilitará maior alcance de pessoas, devido à sua acessibilidade e a uma linguagem simplificada, o que facilitará o conhecimento sobre origens, características, particularidades e importância do gênero musical, a fim de que os ouvintes se identifiquem com este contexto, já que este estilo ajudou a construir a cultura no meio em que vivem: a cidade de São Paulo. 13 4. OBJETIVOS 4.1. Objetivo Geral Produzir um programa de rádio com o objetivo de explorar os conceitos e técnicas aprendidos e praticados no decorrer do curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Embasados nestes conhecimentos adquiridos, o projeto prevê, como produto final, a elaboração de um programa de rádio no formato de documentário radiofônico. O programa será construído em torno do tema “O resgate da música caipira na cidade de São Paulo” por meio de pesquisa bibliográfica, entrevistas com especialistas e intérpretes deste gênero musical, bem como ouvintes e admiradores da música caipira. 4.2. Objetivos Específicos a. Elaborar um documentário especificamente direcionado para a produção de um programa de rádio, com o objetivo de alcançar o público-alvo de forma que desperte nele, a partir da divulgação de particularidades e informações, o interesse e a curiosidade pelo sertanejo de raiz – estilo que teve grande importância na formação da história da cidade de São Paulo. b. Mostrar à sociedade paulistana que, apesar da hegemonia da indústria cultural, a música caipira permanece viva e resistente com seu público, formado, principalmente, pela população mais velha que passa às novas gerações sua influência. c. Chamar a atenção da sociedade sobre este gênero musical que faz parte da cultura paulistana, com o objetivo de suprir a falta de divulgação das mídias que se preocupam em disseminar apenas estilos musicais ligados a interesses econômicos. Com esse propósito, atender o público interessado, mas que tem dificuldade de encontrar informações sobre a música sertaneja de raiz nos meios de comunicação convencionais. 14 5. JUSTIFICATIVA Existem muitas definições sobre o que é música, mas o consenso geral se refere à música como a arte de combinar os sons de maneira lógica e coerente, criando um contexto sonoro rico em significados. Sendo assim, por ser a cidade de São Paulo a miscigenação de várias culturas e haver pluralidade de gêneros musicais, podemos dizer que a música, neste universo, se caracteriza por não ter um estilo próprio. De qualquer modo, antes desse cosmopolitismo passar a caracterizar o universo cultural da capital paulista, podemos identificar a música caipira como o gênero que se tornou a “a primeira trilha sonora da vida de São Paulo”, como afirma o compositor Paulinho Boca de Cantor em seu artigo “Música de São Paulo – da catira ao rap”. Em uma mistura de elementos europeus com aspectos das culturas indígena e afro-brasileira, a música caipira faz jus à definição acima, já que é rica em significados de uma vida pobre e simples levada no campo. E foram essas características, inclusive, que ajudaram a formar a sociedade paulistana na virada do século XIX para o século XX quando, em busca de melhores condições de vida, essa população interiorana migrou para a capital paulistana, trazendo seu estilo de vida e sua arte musical. Apesar de algumas manifestações da música caipira já serem conhecidas, foi somente a partir de 1910 que o gênero foi amplamente divulgado e popularizado pela sociedade por meio de uma iniciativa do jornalista, escritor e produtor Cornélio Pires – considerado pai da música caipira – em repercuti-lo no mercado fonográfico da época por meio do disco e do rádio. Acontece que, com o passar do tempo, a participação do sertanejo de raiz nos meios de comunicação e no mercado fonográfico deixou de ser evidência e de ter uma procura significativa da sociedade, uma vez que este estilo musical traz com ele características muito específicas que levam ao saudosismo, à memória e às coisas que só quem viveu é que pode apreciar – geralmente a terceira idade. Além disso, o caipira carrega consigo uma imagem destorcida de sua realidade, um sentido pejorativo que acarreta ao preconceito por parte daqueles que não o conhecem de fato. Sendo assim, as novas gerações, além de não viverem a 15 nostalgia proposta pelas canções, não veem interesse em contribuir com a manutenção de uma figura já estereotipada e a mídia, por sua vez, não divulga algo para o qual não há público. Portanto, a fim de contribuir no acesso à música sertaneja de raiz, tanto pelos mais velhos, quanto pelos mais jovens, é que este projeto se justifica. Pretende-se preencher o espaço vazio deixado pelos meios de comunicação para tornar público, em uma linguagem fácil e concebível, informações deste gênero musical que vão além da divulgação das canções: que aborde características e particularidades de sua música e da cultura a fim de que os cidadãos de São Paulo reflitam e possam debater sobre a importância de se manter viva sua história no espaço urbano. O rádio foi escolhido, por sua vez, como veículo responsável pela disseminação deste documentário, por ser uma ferramenta tradicional, de baixo custo, acessível, de pequeno porte e que garante presença em vários estratos sociais, podendo, com isso, gerar grande impacto, dentro e fora de São Paulo – uma vez que este projeto tem como público-alvo a sociedade paulistana, mas não se restringe somente a ela. Outro fator determinante para o uso do rádio é a correlação que esta mídia tem com o tema do projeto, já que o primeiro contato da música sertaneja com a sociedade por um meio de comunicação foi através de uma transmissão de rádio, o que pode facilitar também na absorção das informações, uma vez que parte dos ouvintes – considerando aqueles mais velhos – está familiarizada com a linguagem apresentada. Há que se considerar, ainda, todos os dados apresentados na revisão de literatura sobre a situação do rádio no Brasil e na cidade de São Paulo, que serviram para nortear as características deste projeto. 16 6. REVISÃO DE LITERATURA 6.1. O caipira O Mini Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa traz a seguinte definição sobre caipira:1. Habitante do campo ou da roça. 2. Diz-se de caipira: caboclo, capiau, jeca, matuto, roceiro, sertanejo. (FERREIRA, 2000, p. 119). Estudiosos de várias correntes afirmam que, em um determinado período histórico-social brasileiro, ele habitava nas zonas rurais das regiões Sudeste e Centro-Sul do Brasil, compreendidas pelos Estados de Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Paraná. Segundo o livro de José Antônio Alves Junior, “Música caipira raiz– O entrelugar da memória e da contradição” (2011), a simplicidade do caipira tornava-o diferente dos outros moradores de regiões rurais. Era considerada uma pessoa retraída, tímida, discreta e vergonhosa, mas se transformava em um ser extrovertido, alegre e festivo personificado no cantador-violeiro da moda caipira. Ele vivia em rancho, uma espécie de abrigo de palha, composto de paredes de pau-apique, mas também em casas de alvenaria tradicionais na cidade. Com esse tipo de construção, sua condição de pobreza era evidente. Utensílios eram produzidos por ele mesmo e para iluminação. Era comum a utilização do candeeiro de barro e o lampião. Ainda de acordo com Alves Junior (2011), para sua subsistência, o caipira vivia da caça de animais silvestres, coleta de frutos encontrados na mata e da pesca, mas a alimentação principal era à base do feijão, do milho e da mandioca. Com uma organização familiar patriarcal, cabia ao pai o dever de gerir, distribuir o trabalho e tomar toda a decisão como a educação dos filhos, a lida na roça, a escolha do cônjuge para os filhos etc. Este pacato modo de vida começou a mudar nas últimas décadas do século XIX e nas primeiras do século XX, quando os investimentos econômicos passaram a ser concentrados na cidade. O doutor em educação, Judas Tadeu de Campos, em seu artigo “A educação do caipira: sua origem e formação”, completa: “O dinheiro dos investidores, antes empregado nas lavouras, passou a ser canalizado para os 17 grandes centros”. Neste contexto, segundo Campos, “o caipira paulista passou a sofrer, no próprio estado onde vivia, um preconceito cultural” (2011, p. 494). Para J. S. Martins (1975, p. 4, 26 e 87 apud CAMPOS, 2011, p. 494), a afirmação da superioridade do modo de vida urbano sobre o rural exprimiu-se culturalmente na construção de estereótipos negativos sobre o morador da zona rural, dando origem ao personagem Jeca Tatu, criado por Monteiro Lobato, que descreve, de acordo com o que se pensava na época, o que seria um típico morador da roça. No entanto, para contrapor este estereótipo, Nepomuceno (1999, p. 24) expõe a observação de Inezita Barroso em defesa ao homem sertanejo. Na opinião da cantora caipira, “o termo caipira passou a ser pejorativo, sinônimo de brega, mal vestido, idiota, velho, quando é ser exatamente o contrário. Caipira é aquele que se conserva ligado à terra, à cultura original” (entrevista dada aos autores deste projeto em colocar a data). 6.2. A música caipira Alves Junior (2011) descreve que este gênero musical surgiu da influência dos primeiros portugueses e dos índios no período da catequização, realizada pelas missões jesuítas. Como consequência, foi acrescentada pelos portugueses a viola rústica trazida de Portugal. A característica marcante da música caipira é da tristeza causada pela saudade do português no exílio, pelo sofrimento do negro escravo e pela humilhação sofrida pelo povo indígena, em seu próprio país. É constituída pela pluralidade de elementos de lugares e épocas diferentes. No gênero musical caipira, a viola é o elemento principal, cantado por uma dupla. Para o professor e pesquisador Ivan Vilela, em seu artigo “O caipira e a viola brasileira”, uma das principais funções deste gênero é atuar, nas festas religiosas, como o fio condutor de todo o processo ritual. “É através da música que os homens e as mulheres do lugar se reúnem e se organizam para fazer com que ritos de celebração da vida e realizações pessoais sejam manifestos” (VILELA, 2004, p. 175). 18 Alves Junior (2011) completa: estas composições caracterizadas pelo forte apelo religioso foram disseminadas em típicas festas como Folia de Reis, Dança de São Gonçalo, Folia do Divino e Festa Junina. E como expressão oral-popular oriunda de criação anônima, elas possuem vários estilos conforme os ritmos, danças e canções emergidas de uma arte mestiça: 6.2.1. Moda de viola Moda de viola é o principal ritmo do qual se originaram vários outros conhecidos. Como já apresentado anteriormente, a viola foi o elemento introduzido com o objetivo de auxiliar na catequização dos índios. Esculpida a partir de um tronco de madeira e composta de dez cordas de tripa de animal, ela era utilizada para tocar melodias portuguesas ao ritmo das danças indígenas. Foi a partir desse período da história do Brasil que a moda caipira originou. De característica nostálgica e melancólica, a moda expressa os sentimentos do povo predominantemente da zona rural, lembrando o ideal romântico com temas diversos. Quase sempre os personagens fazem referências ao amor ou a dor. 6.2.2. Cururu Cururu é um ritmo musical marcado pelas batidas dos pés e acompanhado da viola. É utilizado em cantos religiosos, em especial, no interior do Estado de São Paulo. Os cantores, chamados de cururueiros, formam uma roda composta de quatro cantores e um tocador de viola. O objetivo é um embate entre as duplas por meio de desafios com duração de cerca de uma hora e meia até que se completem todos os participantes. Pode se utilizar da linguagem a partir de qualquer tema, desde que não seja a mulher alheia e os santos. 6.2.3. Catira Conhecida como cateretê, a catira é uma dança religiosa indígena, da tribo do cateretê, que forma, com o cururu, um dos mais primitivos e antigos sons caipiras. 19 Os portugueses, por meio dessa dança, procuravam atrair os nativos para a religião católica. É uma dança rural característica da região Sudeste do Brasil. Para dançar a catira, os participantes, em fila dupla formada por uma de homens e outra de mulheres, sapateiam e batem palmas acompanhadas do som da música e da viola sob o comando de dois violeiros-cantadores. 6.2.4. Congada e Calango Com a chegada do negro para o Brasil, a música caipira sofreu influência das tradições profano-religiosas do povo africano, da região de Angola e do Congo. Os elementos rítmicos e dançantes se misturaram aos da tradição da zona rural, resultando em uma manifestação cultural com mais cor e sensualidade. Da convivência entre os escravos e o caipira, surgiu um novo ritmo que incorporou outros instrumentos como a sanfona, o reco-reco e o pandeiro ao som da viola: o calango. A música caipira, gênero musical que fazia parte exclusiva do cenário do campo, expandiu-se para outras regiões com o trabalho produzido, em 1910, por Cornélio Pires – considerado pai da música caipira. Como explica Alves Junior (2011), o trabalho foi um marco para a indústria fonográfica com a entrada do mundo artístico-musical rural por meio das gravadoras como Odeon, Victor e Columbia que passaram a procurar talentos para ser lançado ao mercado, já que o gênero musical possibilitava rentabilidade econômica. A partir deste período, ocorreram grandes transformações na música caipira, pois devido às exigências da indústria fonográfica, ela precisou ajustar-se aos padrões para o público da cidade. O tempo de duração da música foi diminuído, os termos falados pelo povo do campo foram adaptados, temas de cunho religiosos substituídos pelo profano, como dinheiro, sexo, política etc. A viola caipira foi substituída por outros instrumentos ou precisou conviver com a guitarra, pistões, banjos, violão elétrico, bateria e outros. Com esse distanciamento das origens rurais, a música caipira transformou-se em um gênero urbano, denominado sertanejo, com algumas características ainda mantidas, como o som nasal e o canto agudo e alto. 20 Para Nepomuceno (1999, p. 23), “ser caipira ou um moderno sertanejo é uma questão de destino, gosto, herança cultural, expectativas, escolhas – cada músico tem a sua definição”. Ele enfatiza que “o artista do interior pode escolher entre manter a tradição, cantando para plateias menores, ou trocar a viola por uma banda inteira e botar milhares de pessoas de braços para o ar”. Alves Júnior (2011) acrescenta que, em 1980, Léo Canhoto e Robertinho foram considerados como um marco do gênero sertanejo moderno, utilizando-se de guitarras, baixos, baterias e outros instrumentos de percussão. Chitãozinho e Xororó apresentam-se com uma roupagem pop que lhes garantiu sucesso com o hit “Fio de Cabelo”. A partir do sucesso da dupla, muitos jovens cantores, na condição de popsertanejos, também ganharam fama como João Paulo e Daniel, Leandro e Leonardo, Chrystian e Ralf, Gian e Giovani, Rick e Renner, Bruno e Marrone, Rio Negro e Solimões e Zezé Di Camargo e Luciano. Por outro lado, consagrados artistas caipiras como Teddy Vieira, Rolando Boldrin, João Pacífico, Raul Torres, Vieira e Vieirinha, Tonico e Tinoco, Inezita Barroso, Tião Carreiro, Pena Branca e Xavantinho e outros perderam destaque nas mídias. O estilo musical caipira entrou em decadência diante o desinteresse da indústria fonográfica, mas sobreviveu graças a um movimento promovido por estudantes mineiros, paulistas e goianos interessados em resgatar a arte musical rural. 6.3. O veículo rádio Como já mencionado anteriormente, o rádio é um instrumento de baixo custo, acessível, de pequeno porte e de programação diversificada, que garante presença em vários estratos sociais. Daniela Oliveira Albertin, em sua dissertação “Uai, sô! A gente tá no rádio: um estudo diacrônico sobre música caipira e sertaneja no Brasil” afirma que “o rádio possui uma programação diversificada e ultrapassa em número de ouvinte até mesmo a televisão” (2011, p. 19). Podemos verificar esta informação a partir dos números apresentados por Milton Jung, em seu livro “Jornalismo de rádio” (2004, p. 13), em que 96% do território brasileiro está ligado ao rádio, contra 87% da televisão. E também segundo um levantamento realizado pelo Monitor Evolution e divulgado pelo Instituto 21 Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE), em janeiro de 2013, que aponta um crescimento, de 2011 para 2012, de 15% dos investimentos no rádio – maior que o da TV Aberta, que foi 11%. Prosseguindo com as características do rádio, Emílio Prado, em seu livro “Estrutura da Informação Radiofônica”, pontua que “o rádio como meio informativo, além de transmitir o mais rapidamente possível os acontecimentos atuais, pode aumentar a compreensão pública por meio da explicação e análise. Este aprofundamento dos temas conta no rádio com a vantagem de poder ser exposto pelos seus conhecedores” (1989, p. 28). Por este motivo, portanto, é que o presente trabalho procura abordar o tema sobre a música caipira a partir de entrevistas com especialistas, defensores e público apreciador do gênero. No radiojornalismo, assim como em outros veículos, várias são as formas de comunicar os fatos, porque há diferentes técnicas e particularidades que constituem os gêneros e formatos radiofônicos. No caso deste projeto, o gênero utilizado será o jornalístico ou informativo, definido pelo professor Dr. Eduardo Vicente, da ECA/USP, em seu artigo “Gêneros e formatos radiofônicos”, como “aquele em que o rádio busca levar ao ouvinte a informação da forma mais atualizada e abrangente” (p. 2) e, dentro deste gênero, o formato que deve preponderar neste trabalho é o documentário radiofônico, o qual, ainda segundo Vicente, “pode incorporar elementos de outros gêneros radiofônicos, já que pode incluir entrevistas, depoimentos pessoais, opiniões e dramatização de textos e acontecimentos [...] com o uso de música e efeitos” (p. 3). Deve-se considerar ainda que o presente projeto também carrega elementos do formato de programa temático – contido no gênero dramático ou ficcional –, que por sua vez é identificado por Vicente como um “programa voltado para a discussão do conhecimento dentro de uma área ou tema específico” e que completa, enfim, as características do programa de rádio desenvolvido. 6.4. Análise de mercado Conforme explanado acima, o rádio foi o veículo escolhido para o desenvolvimento deste projeto com base em informações provindas de análises de mercado disponibilizadas eletronicamente por instituições de projeção para o próprio 22 mercado. As definições de emissora, público-alvo, planejamento do programa, dias e horários de transmissão seguiram o mesmo parâmetro. De acordo com uma pesquisa realizada em maio de 2013 pelo Easymedia e divulgada pelo IBOPE, o índice de audiência do rádio, por dia, chega a 13,41 %, sendo que desses, 11,93% representam as rádios FM, contra apenas 1,47% de frequências AM. Diante disso, foi estipulada a escolha da Rádio Paulistana - produto final deste trabalho - como uma emissora FM. A mesma pesquisa ainda revela que o tipo de gênero musical preferido entre os ouvintes é a música sertaneja, com 40% da preferência entre a classe C. No entanto, essa informação não diminui a realidade da falta de divulgação e interesse do público pela música tema deste trabalho - a caipira. Para corroborar essa afirmação, foram analisadas as programações das 37 principais emissoras de rádio da cidade de São Paulo, as quais foram definidas pelo IBOPE em março de 2013, conforme sua capacidade de audiência. Dessa lista principal, 27 emissoras são segmentadas, ou seja, com estilos já definidos, como all news, religiosas, esportivas ou que tocam gêneros musicais específicos. Das emissoras que tocam estilos de música variados (8), apenas duas mantém programas específicos de música sertaneja, embora mesclem ritmos de raiz com universitários. São elas: Rádio Terra FM e Super Rádio Tupi FM. Outras duas rádios (Nativa FM e Tupi FM) são voltadas para o segmento sertanejo, mas o novo sertanejo e o sertanejo universitário são as preferências do público. Emissoras de segmento específico* Emissoras de segmento variado* Emissoras de segmento sertanejo* Rádio Rock FM 89.1 Rádio Disney FM 91.3 Transcontinental FM 104.7 Nativa FM 95.3 Mix FM 106.3 Musical FM 105.7 Band FM 96.1 Tupi FM 104.1 Vida FM 96.5 Rede Aleluia FM 99.3 105 FM 105.1 Alpha FM 101.7 Rádio Bandeirantes FM 90.9 Gazeta FM 88.1 Antena 1 FM 94.7 BandNews FM 96.9 Tropical FM 107.9 Metropolitana FM 98.5 Território Eldorado FM 107.3 USP FM 93.7 Kiss FM 102.1 Iguatemi Prime FM 92.5 Terra FM 100.3 Nova Brasil FM 89.7 Cultura FM 103.3 Super Rádio Tupi FM Gospel FM 90.1 Mundial FM 95.7 Jovem Pan FM 100.9 SulAmérica Trânsito FM 92.1 CBN FM 90.5 Nossa Rádio FM 106.9 Energia 97 FM 97.7 Estadão FM 92.9 Imprensa FM 102.5 Bradesco Esportes FM 94.1 Transamérica FM 100.1 *Por ordem de maior audiência (colocar a fonte do quadro ou das informações do quadro) 23 Sobre os ouvintes, é possível informar, segundo um estudo feito entre 2011 e 2012 e divulgado IBOPE, que a maioria do público de rádio é formada por pessoas que buscam comodidade, interação social, participação e informações a respeito do que gostam e ouvem. A partir desses dados é que foi desenvolvido o planejamento do programa Raiz Paulistana, com entrevistas, músicas, informações e curiosidades sobre o mundo caipira, além da dinâmica de interação e participação dos ouvintes. Ainda com base no mesmo estudo, foram analisados os dados referentes ao local em que os ouvintes mais sintonizam o rádio. A pesquisa mostra que 86% das pessoas ouvem rádio em suas casas, entre 10 e 17 h, seguido de 27% que ouvem rádio no carro a partir das 18 h, quando já estão no trânsito de São Paulo. Diante disso, foram estipulados os dias e horários de transmissão do programa como sendo quarta-feira, das 10h30min às 10h55min, com reprise à sexta-feira, das 17h30min às 17h55min, tanto para a dona de casa e o trabalhador que volta depois do expediente, respectivamente. 24 7. METODOLOGIA Com base na hipótese e nos objetivos enumerados anteriormente neste trabalho, optou-se por uma metodologia que englobasse o estudo teórico e bibliográfico sobre o mundo rural com foco na cultura e música caipira. Buscou-se informações desde a origem e formação do homem do campo no ambiente rural até seu comportamento durante o processo do êxodo rural e as transformações ocorridas em suas características em meio a adaptação na cidade grande. Procurou-se, nesse processo de pesquisa, saber quem é o caipira: o seu modo de vida e sua música que o acompanha no dia a dia e após sua saída do campo para a cidade. A partir dos dados colhidos e analisados, tem-se a possibilidade de realização do programa de rádio sobre a cultura e música caipira, mais precisamente na cidade de São Paulo, que é o produto a ser realizado como propósito final desse trabalho. 7.1. Estudo Teórico Conforme desenvolvido nos capítulos anteriores, a música caipira – objeto pelo qual será produzido o programa de rádio – foi pesquisada e estudada em seu processo de desenvolvimento no campo, na região do médio Tietê e no centro-sul do estado paulista. Com o passar dos anos, foi disseminada em outras regiões do Brasil, como o restante do estado de São Paulo, em Goiás, Paraná, Minas Gerais. Estudou-se também o personagem que a canta e a compõe, mas transmite aos outros integrantes daquela sociedade de forma oral, por não conhecer a escrita como instrumento para composição das letras dos poemas e poesias transformados em cantigas. 7.2. Coleta de dados 7.2.1. Entrevistas Serão entrevistados sobre o tema estudiosos, compositores, intérpretes e admiradores da música caipira, para se ter um panorama completo da importância e abrangência deste gênero em vários aspectos. 25 7.2.2. Visita Pretende-se, como objetivo de coletar informações para serem utilizadas na complementação de parte do programa, visitar a Biblioteca Belmonte, em Santo Amaro – local em que acontece um Sarau Sertanejo – para demonstrar a existência da força resistente neste local para a perpetuação da música caipira ou sertaneja de raiz na cidade de São Paulo. 26 8. PROGRAMA DE RÁDIO Emissora: Rádio Paulistana, 100,5 FM - O melhor da cultura para você. Nome do programa: Raiz Paulistana. Transmissão: Quartas-feiras, das 10h30min às 10h55min, com reprise às sextasfeiras, das 17h30min às 17h55min. Público alvo: Dona de casa e trabalhadores que voltam para a casa depois do expediente. 8.1. Roteiro do programa O Raiz Paulistana terá duração de 25 minutos, dividido em cinco blocos. Apresentamos, a seguir, o roteiro do programa-piloto: Bloco 1 Abertura com cumprimentos aos ouvintes, apresentação do nome e horário do programa, identificação dos apresentadores e apresentação das atrações da edição. Bloco 2 Introdução do tema “caipira” e entrevista em estúdio com o especialista prof. Expedito Leandro Silva. Bloco 3 Apresentação de música do repertório caipira; Causos de Rolando Boldrin; Entrevista em estúdio com o músico Junior da Violla. Bloco 4 Entrevista exclusiva feita com a apresentadora Inezita Barroso. Bloco 5 Apresentação de receita típica da roça; Matéria sobre curiosidades do mundo caipira; Depoimento de apreciador da música caipira; Matéria sobre dicas culturais; Agradecimentos aos ouvintes e encerramento do programa. 27 8.2. Espelho do programa Redator: Data: 13/09/2013 BLOCO 1 Programa: Raiz Paulistana Matéria/ Retranca: Abertura/ Atrações Tempo: TEC VINHETA ABERTURA (T=___) TEC SOBE TRILHA “MENINO DA PORTEIRA” (T= 05”) VAI A BG LOC 1 OLÁ AMIGOS DA RÁDIO PAULISTANA. ESTE É O RAIZ PAULISTANA QUE VAI AO AR, A PARTIR DE HOJE, TODAS AS QUARTAS-FEIRAS, ÀS DEZ E MEIA DA MANHÃ, COM REPRISE TODAS AS SEXTAS, AS CINCO E MEIA DA TARDE. EU SOU CLAYTON SANTOS. (T=___) LOC 2 EU SOU ALINE PIGOZZI E LEVAREMOS ATÉ VOCÊ UM POUQUINHO DE CULTURA, MÚSICAS, HISTÓRIAS E CURIOSIDADES DO MUNDO CAIPIRA, ALÉM DE DELICIOSAS RECEITAS TÍPICAS DA ROÇA. (T=___) LOC 1 NESTE PROGRAMA DE ESTRÉIA, VAMOS TRAZER PARA VOCÊ UMA ENTREVISTA COM O PROFESSOR EXPEDITO SILVA, QUE ESTÁ EM NOSSO ESTÚDIO E VAI FALAR UM POUQUINHO SOBRE A HISTÓRIA DO HOMEM DO CAMPO. (T=___) LOC 2 AINDA TEREMOS CAUSOS DE ROLANDO BOLDRIN, O SENHOR BRASIL. (T=___) LOC 1 E O NOSSO REPÓRTER WALDEMAR SATO TAMBÉM TRAZ PARA O NOSSO ESTÚDIO O MÚSICO JÚNIOR DA VIOLLA. (T=___) LOC 2 E AINDA UMA ENTREVISTA COM ELA... A APRESENTADORA DO PROGRAMA VIOLA, MINHA VIOLA, INEZITA BARROSO. (T=___) LOC 1 É ALINE, JÁ VAI COLOCANDO A ÁGUA DO CAFÉZINHO PARA FERVER, ENQUANTO FAZEMOS UM RÁPIDO INTERVALO. O RAIZ PAULISTANA VOLTA JÁ. (T=___) TEC BREAK COMERCIAL (T=___) 28 Redator: Data: 13/09/2013 BLOCO 2 Programa: Raiz Paulistana Matéria/ Retranca: Entrevista Expedito Tempo: TEC SOBE TRILHA “MENINO DA PORTEIRA” (T= 05”) VAI A BG LOC 1 ESTAMOS DE VOLTA COM O RAIZ PAULISTANA, QUE TRAZ PARA VOCÊ O UNIVERSO CAIPIRA. E POR FALAR EM CAIPIRA... (T=___) TEC SOBE TRILHA “TRISTEZA DO JECA” (T= 05”) VAI A BG LOC 2 O CAIPIRA ERA UMA PESSOA SIMPLES QUE VIVIA NO RANCHO, EM UMA ESPÉCIE DE ABRIGO DE PALHA E PAU-A-PIQUE. ERA POBRE, VIVIA DE CAÇA DE ANIMAIS SILVESTRES, COLETAS DE FRUTOS DA MATA E DA PESCA. ERA UMA PESSOA TÍMIDA E DISCRETA, MAS SE TORNAVA ALEGRE E FESTIVO, QUANDO CANTAVA SUAS MODAS DE VIOLA. (T=___) TEC SOBE TRILHA (T= 02”) VAI A BG LOC 1 ESSE MODO DE VIDA COMEÇOU A MUDAR NO FINAL DO SÉCULO 19 E INÍCIO DO SÉCULO 20, LÁ PELOS ANOS 1800, QUANDO O GOVERNO PASSOU A FAVORECER OS RICOS FAZENDEIROS. COM ISSO, O HUMILDE HOMEM DO CAMPO FOI OBRIGADO A SE DESFAZER DE SUAS TERRAS POR FALTA DE RECURSOS FINANCEIROS E TEVE QUE MIGRAR PARA A CIDADE PARA SOBREVIVER. MAS, PARA EXPLICAR MELHOR SOBRE ESSE ASSUNTO, EU GOSTARIA DE PEDIR PARA MINHA COMPANHEIRA ALINE APRESENTAR PARA OS NOSSOS OUVINTES NOSSO CONVIDADO ESPECIAL. (T=___) LOC 2 NOSSA! OBRIGADA POR ME CONCEDER ESSA HONRA, CLAYTON. VOCÊ ESTÁ MAIS CAVALHEIRO QUE DE COSTUME. BOM, ESTAMOS COM O DOUTOR EM CIÊNCIAS SOCIAIS E ANTROPOLOGIA PELA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA (PUC) DE SÃO PAULO E PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE SANTO AMARO, EXPEDITO LEANDRO SILVA. 29 OLÁ PROFESSOR, SEJA BEM VINDO. VOCÊ PODE EXPLICAR PARA OS NOSSOS OUVINTES QUEM É ESSE SUJEITO CAIPIRA? (T=___) TEC SONORA PROFESSOR (T=___) LOC 1 PROFESSOR PERSONAGEM EXPEDITO, JECA FOI TATU, MONTEIRO QUE LOBATO, ACABOU COM CRIANDO O ESSE PRECONCEITO COM O CAIPIRA, PELO JEITO TODO ATRAPALHADO E ACOMODADO? (T=___) TEC SONORA PROFESSOR (T=___) TEC SONORA JECA TATU (T=___) LOC 2 E PROFESSOR, VOCÊ CITOU MÚSICA. ENTÃO, É POSSÍVEL A GENTE AFIRMAR QUE A MÚSICA CAIPIRA AJUDOU A FORMAR A CIDADE DE SÃO PAULO? (T=___) TEC SONORA PROFESSOR (T=___) LOC 1 E, COMO ESSAS PESSOAS TÃO SIMPLES E A MÚSICA DE RAIZ CHAMARAM A ATENÇÃO DA INDÚSTRIA FONOGRÁFICA? (T=___) TEC SONORA PROFESSOR (T=___) LOC 1 O SENHOR FALOU NA POÉTICA DESSAS MÚSICAS, QUE CONTAM OS VERDADEIROS CAUSOS, AS HISTÓRIAS. HOJE, A SOCIEDADE, DE UMA FORMA GERAL, SE TORNOU MUITO COMPACTA, MUITO RÁPIDA. TALVEZ, ESSAS LETRAS NÃO SE APLIQUEM TANTO HOJE. COMO EXPLICAR QUE ELAS AINDA FAÇAM SUCESSO HOJE EM DIA? (T=___) TEC SONORA PROFESSOR (T=___) LOC 2 ENQUANTO SAI O CAFEZINHO, PROFESSOR, FRESQUINHO E COM UM BELÍSSIMO BOLO DE FUBÁ, POR SINAL, ME DIGA: AINDA EXISTE COMPOSITOR E INTÉRPRETE DE MÚSICA CAIPIRA? (T=___) 30 TEC SONORA PROFESSOR (T=___) LOC 1 PARA ENCERRAR E TOMARMOS AQUELE CAFEZINHO, QUAL O FUTURO DA MÚSICA DE RAIZ? (T=___) TEC SONORA PROFESSOR (T=___) LOC 1 OK. ENTÃO EU QUERO AGRADECER A PRESENÇA DO PROFESSOR EXPEDITO LEANDRO SILVA, QUE NOS DEU AQUI UMA AULA SOBRE A CULTURA CAIPIRA. MUITO OBRIGADO, PROFESSOR. (T=___) TEC SONORA PROFESSOR (T=___) TEC SOBE TRILHA “MENINO DA PORTEIRA” (T= 05”) VAI A BG LOC 1 E VOCÊ FIQUE LIGADO QUE O RAIZ PAULISTANA COMEÇANDO. VOLTAMOS DEPOIS DO INTERVALO. (T=___) TEC BREAK COMERCIAL (T=___) SÓ ESTÁ 31 Redator: Data: 13/09/2013 BLOCO 3 Programa: Raiz Paulistana Matéria/ Retranca: Entrevista Junior TEC SOBE TRILHA “MENINO DA PORTEIRA” (T= 05”) VAI A BG LOC 1 VOLTAMOS COM O NOSSO PROGRAMA AQUI Tempo: NA RÁDIO PAULISTANA, 100, 5 FM E AGORA VAMOS AO MOMENTO... (T=___) TEC VINHETA MODA DO DIA (T=___) LOC 2 A MODA DE HOJE FALA SOBRE UM ASSUNTO QUE, INFELIZMENTE, AINDA É MUITO ATUAL EM NOSSOS DIAS, MAS QUE JÁ FOI RETRATADO LÁ EM MIL NOVECENTOS E CINQUENTA E QUATRO POR TEDDY VIEIRA E PALMEIRA, QUANDO COMPUSERAM A TOADA QUE CONTA A TRISTE HISTÓRIA DE UM VELHO PAI, ABANDONADO PELO SEU FILHO. GRAVADA PELA DUPLA PALMEIRA E BIÁ, COM VOCÊS, COURO DE BOI. (T=___) TEC SOBE TRILHA “COURO DE BOI” (T= ___) TEC SOBE TRILHA “MENINO DA PORTEIRA” (T= 05”) VAI A BG LOC 1 QUE MUSICÃO, HEIN ALINE. E FALANDO EM HISTÓRIAS DA ROÇA, O CAUSO DE HOJE É CONTADO POR ROLANDO BOLDRIN, APRESENTADOR DO PROGRAMA SENHOR BRASIL. VAMOS OUVIR? (T=___) TEC SOBE TRILHA “ABERTURA SR. BRASIL” (T= 05”) VAI A BG TEC SONORA CAUSO ROLANDO (T=___) TEC SOBE TRILHA “MENINO DA PORTEIRA” (T= 05”) VAI A BG LOC 1 QUE BELA HISTÓRIA! MAS OLHA QUEM ESTÁ ENTRANDO AQUI NO ESTÚDIO... NOSSO REPÓRTER WALDEMAR SATO. (T=___) 32 REP 1 OLÁ OUVINTES DA RÁDIO PAULISTANA. DEU TRABALHO TRAZER O HOMEM, MAS ELE ESTÁ AÍ. JÁ TOMOU UMA ÁGUA E ESTÁ SE ACOMODANDO AQUI. (T=___) LOC 1 ENTÃO, VAMOS LÁ. VAMOS À ENTREVISTA COM O VIOLEIRO, COMPOSITOR E PROFESSOR DE VIOLA, JUNIOR DA VIOLLA. SEJA BEM VINDO. (T=___) TEC SOBE TRILHA “BRINCANDO COM A VIOLA BAMBICO” (T= 05”) VAI A BG LOC 2 OLÁ, TUDO BOM? (T= 02”) TEC SONORA JUNIOR (T=___) REP 1 JUNIOR, OBRIGADO PELA PRESENÇA. SABEMOS QUE VOCÊ É PAULISTANO E QUE FOI ATRAVÉS DE SEUS AVÓS QUE VOCÊ CONHECEU A MÚSICA CAIPIRA. EXPLICA PRA GENTE COMO É VIVER E CULTIVAR ESSA RAIZ EM MEIO À CIDADE GRANDE? (T=___) TEC SONORA JUNIOR (T=___) LOC 2 E O QUE TE CHAMOU ATENÇÃO NESSA CULTURA E NA VIOLA DE 10 CORDAS, QUE É TÍPICA DA MÚSICA CAIPIRA? (T=___) TEC SONORA JUNIOR (T=___) REP 1 APESAR DESSAS MUDANÇAS QUE SOFREU ESSE GÊNERO MUSICAL, AS PESSOAS AINDA SE INTERESSAM PELA MÚSICA CAIPIRA OU MESMO PELA VIOLA, TANTO É QUE VOCÊ É PROFESSOR HÁ TREZE ANOS, SALVO ENGANO. EU QUERIA SABER QUAL A FAIXA ETÁRIA DESSES ALUNOS? TEM GENTE MAIS VELHA, GENTE MAIS NOVA? (T=___) TEC SONORA JUNIOR (T=___) 33 LOC 1 E QUAL O INTERESSE NA PROCURA POR ESSE INSTRUMENTO? (T=___) TEC SONORA JUNIOR (T=___) LOC 1 JUNIOR DA VIOLLA, TRATAMOS NESSE PROGRAMA SOBRE O RESGATE DA MÚSICA CAIPIRA NA CIDADE DE SÃO PAULO E A GENTE VIU QUE VOCÊ PASSOU POR VÁRIOS PROGRAMAS E CONHECE VÁRIAS PESSOAS DO RAMO. ENTÃO, VOCÊ VÊ QUE HÁ ESPAÇO PARA A DIVULGAÇÃO DA MÚSICA CAIPIRA OU SENTE UM LIMITE, OU SEJA, NÃO É TODO MUNDO QUE ACEITA E QUE QUEIRA MANTÊ-LA VIVA? (T=___) TEC SONORA JUNIOR (T=___) REP 1 NO SEU PONTO DE VISTA, QUAL VOCÊ ACHA QUE É O FUTURO DESSA MÚSICA? (T=___) TEC SONORA JUNIOR (T=___) LOC 2 JUNIOR, FALANDO EM ROCK, NÓS VIMOS QUE VOCÊ ADAPTOU UM RITMO, QUE É O ROCK CAIPIRA. EXPLICA PARA NÓS E PARA OS NOSSOS OUVINTES, O QUE SERIA ESSE ROCK CAIPIRA E PORQUE VOCÊ FEZ ESSA ADAPTAÇÃO? (T=___) TEC SONORA JUNIOR (T=___) LOC 1 A NOSSA REPÓRTER MÔNICA ARAÚJO ESTÁ CONOSCO POR TELEFONE E TEM UMA PERGUNTA PARA VOCÊ. (T=___) REP 2 OI JUNIOR. PRIMEIRO EU QUERIA COMENTAR QUE, APESAR DE VOCÊ NÃO TER VIVIDO NO CAMPO E NÃO SE CONSIDERAR UM VIOLEIRO CAIPIRA, DE QUALQUER FORMA, VOCÊ CONTRIBUI PARA A DIVULGAÇÃO DA MÚSICA SERTANEJA DE RAIZ. BOM, EU QUERIA SABER UM POUQUINHO SOBRE SEU NOVO PROJETO DA VIOLA DE 12 CORDAS? (T=___) 34 TEC SONORA JUNIOR (T=___) LOC 2 E VOCÊ PODE DAR UMA PALHINHA PRA GENTE, AGORA? (T=___) TEC SONORA JUNIOR (T=___) TEC BREAK COMERCIAL (T=___) 35 Redator : Data: 13/09/2013 Programa: Raiz Paulistana Matéria/ Retranca: Entrevista Inezita Tempo: BLOCO 4 TEC SOBE TRILHA “MENINO DA PORTEIRA” (T= 05”) VAI A BG LOC 1 VOLTAMOS COM O RAIZ PAULISTANA. E AGORA, ALINE, QUAL A PRÓXIMA ATRAÇÃO? (T=___) LOC 2 AAAAH, AGORA VAMOS ENTREVISTAR ELA... (T=___) LOC 1 ELA? ELA QUEM, ALINE? (T=___) LOC 2 A CANTORA, ATRIZ, INSTRUMENTISTA, PROFESSORA DE FOLCLORE E APRESENTADORA DO PROGRAMA VIOLA, MINHA VIOLA. É COM MUITO PRAZER QUE AGORA VAMOS TRANSMITIR UMA ENTREVISTA EXCLUSIVA QUE FIZEMOS COMA DAMA DA MÚSICA CAIPIRA, INEZITA BARROSO. (T=___) TEC SOBE TRILHA “MARVADA PINGA” (T= 05”) VAI A BG LOC 1 QUAL A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA CAIPIRA PARA A CIDADE DE SÃO PAULO? (T=___) TEC SONORA INEZITA (T=___) LOC 2 E QUAL A IMPORTÂNCIA DO RÁDIO PARA A MÚSICA CAIPIRA? (T=___) TEC SONORA INEZITA (T=___) LOC 2 TEM QUE FAZER CONHECER, NÉ? TEC SONORA INEZITA (T=___) LOC 1 E AINDA ESTÃO SURGINDO COMPOSITORES DA MÚSICA SERTANEJA DE RAIZ? (T=___) 36 TEC SONORA INEZITA (T=___) LOC 2 DONA INEZITA, POR QUE A INDÚSTRIA FONOGRÁFICA MUDOU TANTO A IMAGEM DO CAIPIRA? (T=___) TEC SONORA INEZITA (T=___) LOC 1 COMO OS COMPOSITORES DA NOVA GERAÇÃO SEMPRE RELEMBRAM AS CANÇÕES MAIS ANTIGAS NOS SEUS PALCOS –SEMPRE HÁ ESSE RESGATE –SIGNIFICA QUE A MÚSICA CAIPIRA NÃO FICOU ANTIGA, NÉ, OBSOLETA?(T=___) TEC SONORA INEZITA (T=___) LOC 2 ENTÃO, A SENHORA PERMANECE COM PROJETOS PARA CONTINUAR REVIVENDO ESSA MÚSICA, PARA NÃO DEIXA-LA SE PERDER?(T=___) TEC SONORA INEZITA (T=___) LOC 2 COM, ISSO A MÚSICA CAIPIRA, A SENHORA PODE DIZER QUE CONTINUA? (T=___) TEC SONORA INEZITA (T=___) LOC 1 PARA ENCERRAR E AGRADECENDO A SUA ATENÇÃO, DONA INEZITA...(T=___) TEC SONORA INEZITA (T=___) LOC 1 EU QUERO SABER QUAL É SUA MÚSICA FAVORITA?(T=___) TEC SONORA INEZITA (T=___) TEC SOBE TRILHA “PINGO D’ÁGUA” (T= ____) TEC SOBE TRILHA “ABERTURA VIOLA, MINHA VIOLA” (T= 05”) 37 Redator : Data: 13/09/2013 Programa: Raiz Paulistana Matéria/ Retranca: Variedades Tempo: BLOCO 5 TEC SOBE TRILHA “MENINO DA PORTEIRA” (T= 05”) VAI A BG LOC 1 ESTAMOS NO ÚLTIMO BLOCO DO NOSSO PROGRAMA RAIZ PAULISTANA E APROVEITANDO QUE ESTÁ CHEGANDO A HORA DE COMER... (T=___) TEC VINHETA RECEITAS DA ROÇA (T=___) TEC SOBE TRILHA “MENINO DA PORTEIRA” (T= 05”) VAI A BG LOC 1 ALINE, O QUE VOCÊ PREPAROU PARA NÓS? (T=___) LOC 2 CLAYTON, EU ENCONTREI UMA CAIPIRA LEGÍTIMA QUE VAI PASSAR AGORA UMA RECEITINHA DELICIOSA PARA OS OUVINTES FAZEREM EM CASA. DONA SANDRA, COMO É QUE FAZ O MÔI DE REPÔI NO AI E ÓI? (T=___) TEC SOBE TRILHA “TOCANDO EM FRENTE” (T= 05”) VAI A BG TEC SONORA MATÉRIA RECEITA (T=___) LOC 2 SE VOCÊ TEM UMA RECEITA TÍPICA COMO ESSA, ENVIE PARA NÓS PELO E-MAIL . (dizer qual é o e-mail) QUEM SABE ELA APARECE POR AQUI? (T=___) TEC SOBE TRILHA “VIOLA CATIRA” (T= 05”) VAI A BG LOC 1 VAMOS SABER MAIS SOBRE O MUNDO CAIPIRA? (T=___) TEC VINHETA VEM CÁ QUE NÓIS CONTA (T=___) TEC SONORA MATÉRIA CURIOSIDADES (T=___) TEC 38 SOBE TRILHA “JORGINHO DO SERTÃO” (T= 05”) VAI A BG TEC SOBE TRILHA “________________” (T= 05”) VAI A BG LOC 2 CHEGOU A HORA DO... (T= 02”) TEC VINHETA MINHA MODA FAVORITA (T=___) LOC 2 E HOJE VAMOS OUVIR A HISTÓRIA DE DONA LOURDES, QUE VAI CONTAR PRA GENTE PORQUE A MÚSICA RIO PEQUENO, DA DUPLA TONICO E TINOCO, MARCOU A SUA VIDA. (T=___) TEC SONORA DEPOIMENTO (T=___) TEC SOBE TRILHA “RIO PEQUENO” (T= 05”) VAI A BG TEC SOBE TRILHA “MENINO DA PORTEIRA” (T= 05”) VAI A BG LOC 1 E EU CHAMO NOVAMENTE NOSSA REPÓRTER MÔNICA ARAÚJO COM DICAS CULTURAIS PARA VOCÊ. OO MÔNICA, TUDO BEM? O QUE VOCÊ TROUXE DE DICA PARA OS NOSSOS OUVINTES? (T=___) TEC SOBE TRILHA “VIOLA CURURU” (T= 05”) VAI A BG TEC SONORA MATÉRIA DICA (T=___) TEC SOBE TRILHA “MENINO DA PORTEIRA” (T= 05”) VAI A BG LOC 1 E QUEM ESTÁ COM A GENTE AÍ, ALINE, NO NOSSO MURAL? (T=___) LOC 2 BOM, CLAYTON, EU QUERO AGRADECER AOS OUVINTES JULIO DO PAIOL, O CASAL CHICO BENTO E ROSINHA, OS MENINOS DA PORTEIRA E O NOSSO AMIGO ZÉ DA ESTRADA, QUE ESTÃO TODOS NA SINTONIA DA NOSSA RÁDIO. MUITO OBRIGADA A TODOS. (T=___) 39 LOC 1 ENTÃO É ISSO AÍ. FICAMOS POR AQUI. OBRIGADA PELA AUDIÊNCIA, TEMOS UM PRÓXIMO ENCONTRO MARCADO SEMANA QUE VEM. E NÃO SE ESQUEÇAM DA REPRISE NA SEXTA-FEIRA, ÀS CINCO E MEIA DA TARDE. INTÉ A PRÓXIMA, PESSOAR! (T=___) LOC 2 SIMBORA, SÔ, QUE DEPOIS TE MAIS! TEC VINHETA ENCERRAMENTO (T=___) 40 9. CRONOGRAMA Datas Descrições das atividades 26/02 Definição do tema Levantamento bibliográfico: livros, teses, reportagens e 28/03 a 30/04 documentos 26/04 Definição prévia das fontes primárias e trabalhos que serão acompanhados 30/04 Dúvidas e primeiras orientações com orientador 01 a 30/05 Elaboração do pré-projeto 04/06 Entrega prévia do pré-projeto 06/08 a 24/09 Período de orientações e conclusão do pré-projeto 28/08 Entrevista com primeira fonte, Expedito Silva 13/09 Entrevista com segunda fonte, Junior da Violla 17/09 Entrevista com terceira fonte, Inezita Barroso 27/09 Entrega do PREX parcial para banca de qualificação 07 a 11/10 Bancas de qualificação 08/11 Entrega do PREX definitivo 18 a 22/11 Bancas finais 41 10. REFERÊNCIAS ALBERTIN, D. O.Uai, sô! A gente tá no rádio: um estudo diacrônico sobre música caipira e sertaneja no Brasil. 2011. 125 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Universidade Paulista, São Paulo, 2011. AUDIÊNCIA SP: Band FM em segundo. UOL 89 A Rádio Rock e Mix FM seguem crescendo. Disponível em < http://tudoradio.com/noticias/ver/8957-audiencia-spband-fm-em-segundo-uol-89-a-radio-rock-e-mix-fm-seguem-crescendo>. Acesso em: 15 jun. 2013. CAMPOS, J. T. de. A educação do caipira: sua origem e formação. In: Educação & Sociedade. Campinas: Cortez, 2011. v. 32, n. 115, 489-506 p. FERREIRA, A. B. H. Mini Aurélio Século XXI: o minidicionário da Língua Portuguesa. 4. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. IBOPE. 47% dos ouvintes de rádio escutam música sertaneja. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/47-dos-ouvintes-de-radio-escutammusica-sertaneja.aspx>. Acesso em 20 jun. 2013. IBOPE. Grande São Paulo - Evolução trimestral - abril/13. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/ptbr/conhecimento/TabelasMidia/audienciaderadio/Paginas/GRANDE-SAO-PAULOEVOLUCAO-TRIMESTRAL-2013.aspx>. Acesso em 20 jun. 2013. IBOPE. O meio rádio alcança 77% dos brasileiros. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/ptbr/conhecimento/artigospapers/Paginas/O%20meio%20r%C3%A1dio%20alcan%C3 %A7a%2077_%20dos%20brasileiros.aspx>. Acesso em 20 jun. 2013. JUNG, Milton. Jornalismo de Radio. São Paulo: Contexto, 2004. JUNIOR, J. A. A. Música caipira raiz: O entrelugar da memória e da contradição. Campinas: Appris, 2011. NEPOMUCENO, Rosa. Música caipira: da roça ao rodeio. São Paulo: Editora 34, 1999. 42 PAULINHO BOCA DE CANTOR, (Paulo Roberto Figueiredo de Oliveira). Música de São Paulo: da catira ao rap. [S.l.]: Disponível em: <http://www.musicadesaopaulo.com.br/paulinho_boca_de_cantor.pdf>. Acesso em: 04 mai. 2013. PRADO, Emílio. Estrutura da Informação Radiofônica. São Paulo: Summus,1989. TUDO RÁDIO. Levantamento do Ibope Media aponta crescimento de 7% em investimentos em mídia. São Paulo: Disponível em <http://tudoradio.com/noticias/ver/8622-levantamento-do-ibope-media-apontacrescimento-de-7-em-investimentos-em-midia>. Acesso em: 15 jun. 2013. VICENTE, Eduardo. Gêneros e formatos radiofônicos. [S.l.]: Disponível em:<http://www.bemtv.org.br/portal/educomunicar/pdf/generoseformatos.pdf>. Acesso em: 04 jun. 2013. VILELA, Ivan. O caipira e a viola. In: Sonoridades luso-afro-brasileiras: Brasileira. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2004. 173-189 p. VOGEL. Melissa. IBOPE Media. Disponível em: <http://media.wix.com/ugd/0e5e35_926611380469927759473bce621d7b6b.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2013. 43 ANEXO A – Transcrições das entrevistas Expedito Leandro Silva – especialista Estamos recebendo nos nossos estúdios o professor Expedito Leandro Silva, que vai falar um pouquinho prá gente sobre quem é esse sujeito caipira. Boa noite, professor. Boa noite. Queria agradecer sua presença, professor e queria pedir para você descrever para nossos ouvintes um pouquinho, para quem não conhece, um pouquinho desse cara, o caipira. Pois bem. O caipira é um sujeito, um indivíduo que nasce (de uma forma breve, eu vou tentar colocar aqui)... ele surge da junção do português, do colonizador português com o índio. Então, o caipira, como diria o grande antropólogo Darci Ribeiro, é um sujeito que não tem uma identidade, ele nasce como um Zé Ninguém. Porque ele não é índio e ele não é português, né. Mas ele vai, com o passar do tempo, se adaptando às transformações sociais e culturais que a região, na qual ele está agora, ele está vivendo, especificamente São Paulo, Minas e, vamos pensar assim, Goiás, né, mas basicamente, São Paulo e Minas, e que tem uma estrutura peculiar no sentido da vivência coletiva do bairro, né, porque é o bairro, é o interior, é a zona rural que caracteriza este caipira. 1:27:000 E, professor Expedito. Quem imortalizou essa imagem do caipira, nos meios de comunicação, na televisão foi o Jeca Tatu. Ele quem influenciou, né, ele contribuiu com esse preconceito, inclusive existente, em torno do caipira. Eu queria que o senhor explicasse, se existe mesmo esse preconceito e se foi mesmo o personagem Jeca Tatu que acabou desencadeando isso? 1:52:000 Pois bem. O Jeca Tatu já é um personagem do caipira, como você colocou muito bem, que o Monteiro Lobato, um escritor, né, aqui também do Vale do Paraíba, um caipira, sim, né, ele cria esse personagem... para atender a uma solicitação do 44 governo, na época, que era para fazer uma campanha de conscientização sobre o problema de saúde, especificamente, o problema da verminose. 2:21.292 No entanto, ele faz uma caricatura, ele desenha um caipira, dentro de sua forma de entender, né, de compreender. O Monteiro Lobato, como é que ele compreende esse caipira: um sujeito, assim, bastante rude, vamos dizer assim, né, se você for ver, ele é aquela pessoa que no dizer dos que se acham modernos, é um sujeito rude e atrasado, ignorante. 2:51.898 Na realidade, esse caipira, ele tem uma história antes, como eu acabei de dizer agora a pouco, ele já passa a sofrer preconceito, na sua concepção, vamos dizer assim, na sua... Desde a sua gestação. Porque, se ele não é índio, isto eu estou falando do período da colonização, sim se ele não... Eu volto a dizer isso, porque é importante a gente conhecer um pouco dessa história, dessa trajetória da formação cultural e social desse sujeito. Se na gestação, quando ele nasce, ele nasce... Ele táa.. A mãe dele é uma índia que é grávi... Que ficou grávida de um português, de um sujeito que depois não aceita ele como um filho e ele também não é um branco português, então ele já não tem um lugar. Ele não é aceito pelos portugueses, pelo branco. Também não é aceito pelo índio, na comunidade, na aldeia. Por quê? Por que não é índio e nem é branco, né, então, esse caipira já está sendo descriminado e rejeitado. Ele, volto a dizer, ele é esse sujeito nato, sem terra, sem lugar para pisar, né. E, ele vai vagando, de lugar a lugar, ele vai caminhando. Isso ele vai tendo um...Ser um sitiante, né, ele vai morar num bairro, ele vai viver caçando, pescando. Ele vai ter sua vida. Até comprar algumas coisas básicas na cidade, mas ele tem uma vida, assim bastante... de, do cultivo, vamos chamar assim, agricultura de sobrevivência. Ele vai trabalhar nas fazendas que não é dele também; ele é expulso da terra; ele vem morar, (estou fazendo uma trajetória rápida para a gente compreender). Sim. Ele vai, depois, vir para a cidade grande, continua... Onde é que ele vai morar? Na periferia, ele vai ser um sem-teto novamente, ou seja, ele continua vagando. 4:40.600 O que tem de valor, de patrimônio desse caipira, é a sua tradição, vamos chamar assim, mais visível para nós, é a música, né. Porque é a música que ele traz a sua 45 viola que ele não larga em lugar nenhum. Porque o sujeito, ele tem ... Ele pode perder tudo, mas jamais ele vai perder a sua identidade cultural. “Eu pertenço a este grupo”, ele vai sempre dizer isso. O sujeito que é do interior caipira, ele sempre vai dizer e ele tem ciência: “Eu sou caipira”. Por mais que ele esteja num lugar moderno ou não. Ele vai..aa .. Ele sabe a que grupo pertence. Com isso, não quer dizer que, ele não sofra os preconceitos que aí a gente sabe que tem, mas ele sabe também fazer esse jogo. 5:26.293 Perfeito, professor. E, você citou música, e assim, é possível a gente afirmar que a música caipira foi corresponsável pela formação da cidade paulistana, da cidade de São Paulo? 5:38.036 Eu digo que sim, nos seguintes termos: a musicalidade caipira contribuiu e ainda contribui, mas teve um papel maior no sentido da sociabilidade desse sujeito interiorano. E aí, eu digo, falando na São Paulo, na formação como uma grande metrópole, pensando na época da industrialização, sobretudo nos anos 50, 60 até 70, né, a música caipira vai ter um valor muito grande, porque ela, vamos dizer assim, se consolida no mercado cultural, né, no mercado da música com duplas sertanejas, outros aí, outros nomes, outros grandes produtores e, o rádio, a difusão da música caipira via rádios, especificamente, vai uni... Vai trazer... A música tornase um elemento de sociabilidade e de crescimento de, vamos chamar assim, de acolher, não só o caipira que chega, mas outros de outras regiões, o nordestino, migrante que tem uma cultura sertaneja que é diferente da cultura sertaneja caipira, o indivíduo lá do Rio Grande do Sul, enfim, de todas as regiões do Brasil que fala a língua portuguesa que é bonita, como patrimônio. 7:00.390 Então, a música caipira, de repente, está falando de um mundo rural. Estou falando da música caipira tradicional, música caipira que estamos dizendo, não a música sertaneja, né. A música sertaneja é outra coisa que a gente pode discutir, mas a música caipira vai falar do universo rural. E todos os migrantes que vieram para São Paulo, a sua grande maioria, são do universo rural. Então, nós somos, na essência, caipiras. Nós, eu digo, moradores de uma cidade de São Paulo. Por quê? Porque, 46 onde está a nossa ... Nossa identidade, a nossa raiz, como fala o termo, né, onde estamos com os nossos pés fincados? Lá no interior. É a música sertaneja, a música caipira e depois, a sertaneja, de certo modo, que deve ser considerada, que nos alimenta como identidade. É o nosso retrato, culturalmente, quem somos. E São Paulo não pode ser diferente. Por mais, assim, gigantesca que ela é, uma cidade que tem centenas de manifestações culturais, de diversos estilos, enfim, várias tribos, mas a música caipira, a gente pode dizer que ela traz, ela traz uma dimensão muito forte. Eu digo isso, só para se ter uma ideia, como ela é vivida eee... Aqui em Guarulhos, eu moro em Guarulhos, que é uma cidade da Grande São Paulo, eu acompanho, há muitos anos um grupo de música... Um grupo de tradição caipira, que é um grupo de Folias de Reis... E....Folias de Reis... e um grupo de Catira, chama-se “Os Favoritos da Catira”. Muito conhecido no meio e tal, mas é um grupo assim que tem uma atuação lúdica. Eles não vivem da ...da...da... arte. Por que eles trabalham, né. A Catira, que é uma dança deste caipira é uma for... Que tem origem indígena, assim como a viola e a música e tal, né. Então, veja, é uma cidade tão grande, a segunda maior cidade do Estado de São Paulo, têm grupos que vivenciam lá no meio da cidade, toda essa... essa... essa manifestação cultural, que tem uma origem lá do interior. Não quer dizer que seja igualzinho. Há algumas adaptações por que nós evoluímos, né. 9:22.912 Então, seja lá no interior também. A cidade como um todo evoluiu. 9:26.716 E o caipira tem que evoluir. E como essas pessoas tão simples, essa música de raiz, a coisa tão simples chamou a atenção da indústria fonográfica? 9:35.907 E aí, o mercado é muito esperto. Como todo mercado, todo sistema de mercado. O mercado não está querendo saber se, vamos pensar assim, ele não quer saber se tem qualidade ou não tem qualidade, eu estou falando de um modo geral agora. Estou falando da música caipira. Se tem qualidade ou se não tem qualidade, se é 47 tradicional ou não. O que o mercado quer, a indústria cultural quer e, vamos pensar nas primeiras décadas do século XX, portanto, aproximadamente uns 100 anos, um paulista muito inteligente chamado Cornélio Pires, ele vai tá trazendo, é ele que traz essa música interiorana, a música caipira, que .... para cidade. 10:21.762 Ele traz para a cidade e ele leva através das ondas do rádio essa música. Então, vamos... pode-se... os grandes pesquisadores e, qualquer uma pessoa que queira pesquisar, da área ou, enfim, que se interessa, tem no Cornélio Pires como esse é ... a gente, como um marco de que inicia a a...a...a... ele introduz a música caipira no mercado. E, é bom. E, eu não digo que foi ruim. Eu sempre tem... alguns... aí outras pessoas que pensam diferente. Eu vejo como uma coisa bonita e boa. Porque faz com que e fez com que mantenhamos a nossa tradição porque acompanha. E essa transforma... e ele traz vai....vai...ele agencia as duplas sertane... as duplas caipiras depois ... programas de rádio, depois gravadoras e isso se torna ... E o mercado, sabiamente, nesse sentido, o que o mercado vai fazer? Pega e vai trabalhar isso com um grande produto para vender. Porém, no decorrer da história, o mercado, lógico, ele vai fazer ...ele vai botar suas técnicas. Ele vai dá....dizer como é que quer que se produza. Não pode ser uma música tal qual era lá na roça. Tem que fazer algumas adaptações, algum arranjo, né. E o mercado vai fazer isso... por quê? Porque o grande consumidor que o mercado estás visando é o público interiorano. Então, é aquela história. É o dito popular. É a fome com a vontade de comer. Ou seja, 11:58.784 E o...o sujeito chega do interior e vem trabalhar na cidade. Vem morar na cidade. Ele vem morrer... ele vem por uma razão que o levou, né. E aqui ele fica lembrando dos seus parentes, enfim, das pessoas que ele deixou. Então, nada melhor que matar a saudade ouvindo a música de lá. E o mercado vai fazer isso. Aí o mercado fonográfico, as emissoras de rádio “vai” ter programas exclusivos, com patrocinador exclusivo, é... shows etc, etc. 12:27.719 E aí...só para a gente ter uma ideia, já que estou falando em uma linha de tempo, vem a música caipira e depois as grandes duplas que se destacaram Tonico e Tinoco que é referência, a Dupla Coração do Brasil, né. E, depois dos anos 70, 48 surgem os sertanejos que chamavam naquela época Sertanejo Classe A, depois veio as duplas sertanejas. Tem aí umas das referências da época que agora me vem à cabeça o Léo Canhoto e Robertinho que já era uma modalidade diferente, já estava introduzindo outros é... outros... vamos dizer assim, valores, outras ... outros de outras culturas que ele já estava misturando com o rock, ah! outras influências culturais, era isso o que eu queria dizer. Que o rock na época já estava vivendo o seu auge; então eles passavam algumas coisas do rock, misturando com a música caipira, que era....a conjuntura da época, para vivenciar como ... depois veio outras duplas sertanejas. Aí se você perguntar, não sei, alguém interrogar. E hoje? 13:36.912 Esse sertanejo universitário, é música caipira? Podemos dizer que não, pensando no sentido do termo e da vivência do tradicional e deste... desta música moderna. Agora o que é que tem que une os dois ...os dois elementos, o tradicional, a música caipira que estamos falando aqui, o tradicional Tonico e Tinoco, vamos dizer assim, e o sertanejo universitário? O que tem que ...a meu ver, em comum é exatamente a identificação com o interior. É a identificação com essa... essa ideia que é rural. É a identidade que você está vivendo o mundo ...ééé ... o mundo do sertanejo interiorano. Não tal como o caipira, vamos pensar assim, o caipira ...ééé...transcrito, analisado por um grande especialista da área que é o professor Antonio Cândido, né, que é o único que tem assim... total... escreveu, descreveu a história do caipira com muita propriedade. Ééé.... No seu livro “Os Parceiros do Rio Bonito”, né, mas é um caipira que está já vivendo um mundo contemporâneo, moderno, com as tecnologias que fala a linguagem da cidade. Por que quem está lá no interior, na cidade, também tem o mesmo....hoje tem as mesmas....os mesmos contatos, as mesmas referências que nós temos aqui na cidade. Tem a televisão etc. etc. Já, já é bem diferente. Essas letras, o senhor citou a palavra saudade, há pouco em sua explanação...O caipira cantava muitos essas letras saudade, saudade da família, saudade de um grande amor que ele deixou lá no campo para vir para a cidade trabalhar, por que essas letras elas fazem sucesso até hoje? Até esses cantores de modalidades novas, da evolução da música caipira, eles sempre gravam em seus discos, regravam, na verdade, em seus discos essas canções antigas, com lamento, né, com saudade de casa? 49 15:45.142 Pois é. Esse aspecto, você falou aí, de saudade ou da nostalgia, né, se você olhar, em toda modalidade musical, sempre tem. Só para ter um exemplo assim, rapidinho, no meu doutorado, eu fiz doutorado na Antropologia, e eu pesquisei, como eu gosto de pesquisar música, já vinha pesquisando já há algum tempo, eu fui pesquisar a música popular do Estado do Pará. Fui pesquisar a música brega paraense que é diferente do brega nacional, que é, na essência, também falar de saudade, dor de cotovelo, a dor do corno etc. etc. 16:25.406 É falar da amada que deixou, que foi traído, que não sei o quê. Na música sertaneja você vai encontrar, nas músicas da MBP também você vai encontrar. Pode observar. Então, isto, é comum. Agora, o que diferencia, aí, respondendo a sua indagação, é que este universo que ele está falando, e dentro do universo do cancioneiro popular, né, da cultura popular, quando se fala de saudade, se você observar nas músicas populares, vamos pensar na música caipira, como estamos dizendo, é um popular ...ééé uma saudade, é algo que está bem assim, é, exagerado, muitas vezes, aquela coisa rasgada, aquela coisa de que o mundo parece que está acabando. Então, isso é típico, é isso que identifica como uma canção popular, que é originária desse universo, vamos pensar assim, semianalfabeto, do mundo da oralidade, que eu preciso descrever tudo com minhas palavras, para revelar, dizer que eu amo ou que eu estou com saudade lá da minha terra, que eu vendi todos os meus pertences e vim para a cidade, e que, o bom é estar lá... E aí. Essa música caipira, no primeiro momento, ela retrata esse mundo rural interiorano, porque é o sujeito que está na cidade, que está querendo rever. E, ele faz uma viagem, você pode observar, ouvindo as músicas sertane .... as músicas caipiras, ele faz uma viagem, ele volta à sua terra através da música, né. O rádio é muito bom por isso. Eu considero o rádio como um grande ... vi... maior... o maior, se não for o maior, é um dos maiores meios de comunicação, no sentido de ligar o sujeito. Então, é o rádio, no caso, através da música, que faz esse sujeito voltar a vivenciar, ele vai lembrar da mãe, dos parentes ou da namorada ou do ... da vaca do cavalo, das brigas. São verdadeiras narrativas, são ...ééé, pode observar, que essas canções contam histórias, né, como a arte ... ela ....expressa os elementos da natureza e da própria vida. Essas narrativas que 50 são... que estão contidas na música popular com saudade ou não, elas são expressões que narram a vida cotidiana do indivíduo. 18:56.780 Não tal como na poesia, porque aquilo é uma poesia, mas no sentido de você poder imaginar, viajar, vivenciar, sentir-se bem. Então é bom matar a saudade. É bom rever aquilo que a gente gosta. 19:11.565 Professor, o sr. falou na poética tem essas letras contando os verdadeiros causos e histórias. Hoje a sociedade, de uma forma geral, ela se tornou uma sociedade muito compacta, muito rápida. Talvez essas letras não se aplicam tanto, mas como explicar isso ainda fazer sucesso hoje em dia? 19:38.182 Pois bem. Hoje, realmente, se você pensar, se a gente parar para rever a virada desse século, a virada do século passado para esse agora, nós estamos aí com uma década e três anos, né, treze anos, mudou muito. Se você vir olhar ...observar hoje, mudou muito. Hoje, atualmente, como se fala aí na linguagem aí, a gente pode dizer, da sociedade moderna, na sociedade consumista, porque vemos hoje na sociedade do consumo, e é um consumo imediato, o sistema que que você consuma para dizer que você só é feliz se você comprar a marca x, a marca tal, a marca y, então você ... está sendo feliz. No universo ééé da música, no universo da cultura, vamos dizer assim, da crença, né, isso também passa a usar essa mesma linguagem, a linguagem do imediato. Então, fica só na lembrança, você pode até falar, mas agora, se você observar, nas letra ...., falando em música, como estamos falando aqui, as letras dessas canções de hoje, mesmo do sertanejo universitário aí, que eu não tenho nenhuma crítica, apenas uma análise que eu faço, é algo descartável. É uma coisa agora, de amor, de saudade. Ééé Eu estou com saudade porque não meencontrei com você ontem, mas quero você agora para levar para o meu apê, é uma coisa assim, rápida. É a mesma coisa que eu vou ali comprar um chocolate e comer. 21:00.901 Então, uma ...os valores parece que ... só tem valor à vida se você tive... tiver vivendo agora. Daqui a um minuto ou uma hora eu não sei se eu estou vivo. Isso é a 51 ideologia do consumo, da sociedade consumista. Daí, então, é que você fala, e agora mudou? Mudou. Porque a sociedade está ... E quem faz isso, quem incentiva isso, lamentavelmente, lemen..... E quem faz isso é o mercado e, lamentavelmente, a sociedade ééé ...passa a aceitar como se fosse a coisa mais tranquila e sem um questionamento. Por que é que estão dizendo isso? Por que que, de repente, reduz você a nada? 21:41.194 Né? Eu não estou sendo aqui ...eu não estou aqui querendo ser conservador, masestou querendo que a gente compreenda, um contexto que nós estamos vivendo sociocultural e econômico, enfim, que tenha um projeto ideológico para esse contexto que o sistema determina, a própria indústria. ... Por que é que nas novelas agora, tem muito ...agora, eu digo, nesse momento, trilhas sonoras desse sertanejo universitário? Porque, exatamente, porque tem um consumidor, tem uma demanda do mercado para ele. E que, quem sabe, a novela é vendida para fora, vamos vender para o exterior a nossa cultura brasileira. Porque, queiramos ou não, também é cultura brasileira. Não é cultura brasileira tradicional caipira, não é. Mas é também cultura brasileira. E nos identifica. Né, se a gente for olhar, se pensar num sertanejo universitário, aí, quem é que se tornou famoso no mundo todo com a música, dessas músicas efêmeras, assim é o Michel Teló, com essa “Ai se eu te pego”. Veja, é uma coisa assim, de imediato, bem de uma época que vivencia, ou seja, é passageiro. Porque na... em algum momento isso, vai saturar. Porque o mercado é assim, ele explora, explora e satura. 23:03.750 Eu lembro, na ...nas minhas pesquisas, eu conversando com um artista, que ele não está mais vivo, faleceu recentemente, com o Dominguinhos e eu, estava também pesquisando sobre também esse Forró eletrônico, eu perguntei a ele, essa coisa, essa ideia, um pouco assim como você está falando, e disse, “olha, professor, isso passa. O que é bom fica”. E o que é bom fica mesmo. O Almir Sater vai ficar, no universo da música caipira. Renato Teixeira continua e vai ficar, sua obra, né. Um dia a gente vai morrer. Não estou dizendo que ele vai morrer e nem tão cedo esperamos que não. É... e outros que vão surgindo, né. Têm pessoas novas vão ficando aí, né. E outros artistas que também surgiram nesta época. Chitãozinho Chororó, também fica. Tem qualidade, né. 52 23:54.917 Que não é o caipira tradicional, mas eles mantêm essa originalidade e este aspecto do qual a gente se encontra e se vê. 24:03.170 Eles ainda tinham um pouco dessa essência de raiz. Esses, voltando só para concluir, esses que estão aí no universo do sertanejo universitário, eles poderão ficar, se mudar um pouco e vão mudar, porque ... mas se continuarem assim, o mercado mesmo vai excluir porque satura, né. 24:23.330 “Ah! que saudade” ... Daqui há 50 anos, “ah eu tinha saudade daquela música, ‘Ai se te pego’”, isso ninguém vai dizer. Mas vão dizer assim, hoje a gente já diz: “Como eu tenho saudade daquela música do ... como é? Do Tonico e Tinoco, Moreninha Linda ... parece que é dele, não sei. Moreninha Linda, mas outras, por exemplo, “Sou Caipira, Pirapora”, do Renato Teixeira, essa música é um clássico, vai estar toda a vida, nós vamos morrer e ainda ela vai continuar, né. Porque tem qualidade. 24:56.381 Clássico que originou o nome desse programa. Está chegando um monte de pergunta aqui de nossos ouvintes, para você professor. Eu selecionei algumas aqui. Ééé. Os ouvintes estão perguntando bastante, estão pedindo para o sr. diferenciar ah... o caipira do sertanejo. 25:12.459 Já falei um pouquinho disso, porque não dá para falar só do caipira. A diferença está se... eu não sou músico, então, eu não vou me atrever a falar no sentido da tonalidade, ao a.... assim, esse viola lá, é o violão, o que a gente vê, e aí eu estou falando, da minha forma como eu tenho observado, o sertanejo é um caipira que não usa mais viola. O sertanejo é um caipira que usa grandes ...ééé ... grande produção de instrumentos, né, instrumento mesmo, do eletroeletrônico que há de mais moderno, assim como um cenário, muito sofisticado, cenário .... um palco que não perde para uma grande banda de rock. Então, isso já está dizendo que há uma diferença. Estou colocando assim, só na plasticidade,para a gente entender. Já está mostrando uma grande diferença, né. Uma dupla sertaneja não precisa disso. Ela vai lá com sua viola e canta, né. 53 26:15.579 Mas a diferença não está só nisso. A diferença está nessa composição e na referência do qual se o ...estou falando do sertanejo hoje, se você observa está num sertanejo romântico, né, e ao sertanejo que está ligado ao mundo urbano. Tipicamente, seu repertório é do universo urbano. 26:38.062 Enquanto o caipira, ele faz uma mistura, mas a base dele sempre está ligado ao universo rural, interiorano. Então, isso é uma diferença bastante ...ééé... interessante porque... Por que o que é peculiar do mundo caipira? É a sua base, a sua origem, né. A formação também, a composição, né. O instrumento, porque tocar uma viola é a coisa mais linda de ouvir. E o caipira não está fora de moda, que diga, vamos lembrar aqui, um exemplo aqui rapidinho, o programa “Viola, Minha Viola”, da Inezita Barroso. Há quantas décadas existe esse programa? Continua no ar e faz sucesso. 27:18.350 O sucesso é tamanho que ele ...ééé ....apresentado no domingo e é repassado no sábado seguinte. Veja, veja bem. Nós estamos falando de algo que é uma referência, né. E não está ali só a Inezita é uma grande autoridade nesse universo caipira, não. Ela tem todo mérito, mas porque há um público fiel, novo e velho. Velho no sentido assim, pessoas ...o avô e o neto, sentam para assistir. Então isso é que é diferente, né. Então, essa questão da qualidade precisa a gente observar. E muitos desses novos, desses novatos que cantam até no... no, no circuito universitário, vamos assim dizer, também se apresentam nesse programa. Se a gente pensar, eu estou aqui só para a gente visualizar, uma forma de exemplo, então, eu vejo isso. São dois universos, agora, tem uma coisa em comum, entre o caipira e o sertanejo, que é, o que eu já falei no início desse programa, que é a identificação, é uma identificação com o mundo interiorano ou o mundo dos seus pais eu ...uma pessoa que nasceu aqui em São Paulo, viveu a vida inteira, mas há alguma coisa o leva a ele gostar do universo caipira, né. Basta pensar nas casas noturnas de músicas sertanejas que tem aqui em São Paulo. É...Os nomes são todos nomes de, eu não vou falar aqui, para não fazer propaganda, mas se você observar as casas noturnas, todas são nomes grandes, realmente tem um nome grande, assim, né. Estilo palhoção, não sei se tem essa casa. Mas é tudo nome grande. Referente, referendando ou se referindo aí, ao universo lá do interior do mato, sobretudo, né. 54 29:06.534 Então, isso já é uma identificação. E o sujeito nasceu aqui, viveu, gosta de outros estilos musicais também, mas ele vai lá. Ele tem ...faz até parte de comitiva. A comitiva que ele faz parte não é igual a comitiva vaqueiro, do, do, do, homem que “campiava” o gado, não é do caipira que “campiava” o gado, não é. É outra comitiva. Mas essa forma, essa, essa forma que eles constroem a comitiva urbana, vamos dizer assim, é uma forma de rememorar e reinventar uma tradição. 29:37.904 Então, eles, consciente ou não, eles estão reinventando uma tradição e a gente é grato a eles, porque eles fazem manter uma tradição da cultura caipira na cidade. Então, eu sou muito grato e fico feliz quando eu sei que tem, né... uma reinvenção dessas. Porque é maravilhoso. 29:57.016 Professor, enquanto sai o cafezinho fresquinho, com um belíssimo bolo de fubá, eu vou encerrar, fazendo mais duas perguntinhas para você. A primeira é se existe, ainda, intérprete de música caipira, intérprete e também compositor, mas de música caipira de raiz? Se eles ainda existem e são dedicados só a esse estilo musical? 30:20.922 Existem. Existem muitos, o que é lamentável é que eles existem. Eles fazem sucesso. Eles têm suas referências. Eles viajam o Brasil inteiro. E a mídia, estou falando, a grande mídia, rádio, televisão, a mídia oficial ignora. 30:37.626 Ignora por preconceito, e por não ...o mercado ignora. Porque a mídia faz parte do mercado. A mídia é a porta-voz desse mercado. Ignora completamente, né. Só para você ter uma ideia, agora, no mês de julho, né, eu estava viajando, em férias, estava... era meia noite, eu estava no aeroporto, em Recife, e vi uma dupla sertaneja, um senhor que é aqui de Guarulhos, estava lá, com sua viola nas costas, ele e o produtor dele. Ele estava sozinho, digo, é dupla tudo, mas só tinha um integrante e o produtor dele, né. Estavam lá, pegando o avião, não sei para onde, se estavam vindo para Guarulhos ou não, ou para onde iriam. E existe, né. 31:18.013 55 Então... E, volta e meia, essas ...e..e.e. essase.e.e.e revelações e.e.e.e esses novos artistas, eles também se apresentam nesses programas tradicionais que eu estou falando aqui, cito o “Viola, Minha Viola”, que é uma referência para a gente acompanhar essa atualização. Tem, volta e meia, aparecem. A gente sempre tem. Eu não quero dizer o nome de um ou outro, porque o..o. termina, termina, ééé .... prejudicando outras pessoas ... outros grupos e ... eu digo que existem e que existem não só em composição de letras, mas também de interpretação que é belíssima. 31:55.480 Agora, volto a dizer, lamento é ...que o mercado ignora. O mercado aí, que eu estou dizendo, esse mercado da indústria cultural, dos meios de comunicação, a televisão, a grande mídia, ignora. Agora, o que está bom, nesta história toda é que existe a internet, né. Então, essas novas mídias alternativas, se a gente pode dizer, então, muitos estão aí, jogando nas suas redes sociais e tal, e vão crescendo. E vão se revelando. Vão aparecendo. Então, isso é bom. 32:28.865 né, isso é interessante. Só para finalizar, eu queria dizer, nós estamos falando da cultura caipira, é... eu queria dizer que eu a...eu tenho acompanhado, e acho interessante, e eu aqui não estou fazendo nenhuma, ... o que é bom a gente tem que dizer, por exemplo, tem um personagem aqui, num programa de televisão, aqui em São Paulo e no Brasil, com certeza, que é tipicamente caipira e que as crianças adoram, que é o Júlio do “Cocoricó”. 32:55.526 Quer dizer, que há algo mais real de um caipira do que o Júlio? Júlio mora na cida ... na fazenda, com o avô e a avó, tem até as sardas que o caipira tem, porque é a mistura de um português com um índio, e a criançada adora. E, ele fala a linguagem do mundo caipira. Então, nós estamos a éé...vivendo e mantendo a nossa tradição... 33:19.714 cultural, da nossa tradição caipira, da forma que a gente vai encontrando e que a tecnologia nos propicia. 33:25.618 Para encerrar, professor, para a gente tomar um cafezinho... Qual o futuro da música caipira de raiz? 56 33:31.663 Ela vai continuar, ela vai ter suas ééé....vai se adaptando, vai persistindo, eu não usaria...usaria a palavra de resistir, mas ela persiste mesmo sendo colocada à margem pelo mercado, mas ela vai continuar. Porque o que é do povo, o que é popular, o povo faz isso acontecer, né. A cultura popular sempre existe. Porque há a aa reinvenção. E essa persistência, mesmo que se alguém proíba, o sujeito vai lá e faz. Ele, aaa não pode... ele vai lá estar. Essa teimosia, vamos dizer assim, é que faz permanecer. E, então, o futuro eu vejo, eu vejo... eu sou muito otimista, eu vejo assim que está ótimo, novos vão surgindo, vão se qualificando e revelando, né. O .. Muitos que já estão no mer...no ..aãã .. vamos aí ... vivendo, à sua forma, tocando viola há muitos anos, de repente, é descoberto, né. Não sei vocês lembram, mas em Mato Grosso tinha uma grande tocadora de viola. Ela não cantava. Só tocava viola, viola caipira. Que era a E... Helena Meireles. Quem quiser, por favor, coloque aí no Youtube. Helena Meireles. Vocês vão ver. Ela foi revelada, ela já uma senhorinha de mais de 70 anos. Ela foi revelada... Aonde ela foi revelada? No... um sobrinho dela, pegou uma fita. Mandou para os EUA. Ela foi descoberta nos EUA para fazer sucesso aqui no Brasil. E, já velhinha. 35:06.529 Quer dizer, esses talentos é.é.é...esses grandes defensores e... produtores e propagadores da cultura caipira vão sempre existir, né. Mesmo nos submundos como a a ..a ... Helena Meireles viveu, durante muito tempo, tocando a viola, nos prostíbulos, considerado pela sociedade, aí de...o submundo, coisa que é..é..é.. ignora talentos como esse, né. 35:35.103 OK, professor, agrademos sua presença mais uma vez.Eu tenho certeza que os ouvintes ficaram muito mais entretidos. Agora estão sabendo um pouco mais dessa cultura caipira, da música caipira.Eu queria agradecer a presença do senhor aqui nos nossos estúdios. 35:52.711 Eu é que agradeço. Aaa. O convite. Foi um prazer. E espero que eu tenha contribuído para ééé. despertar um pouco mais de conhecimento, de curiosidade, a... os ouvintes, né que é o nosso, que é o público. Muito obrigado. 57 Junior da Violla – músico Estamos aqui com o Junior da Villa, violeiro, compositor e professor de viola há 13 anos. Olá Junior, seja bem-vindo. Oi, tudo bom Tudo bem. Junior, sabemos que você é paulistano, não teve muito contato com a roça, com o campo, mas que a sua influência com a música caipira, com a música sertaneja foi desde pequeno através de seus avós. E você permaneceu com certa influência dessa música no seu trabalho. Então, explica para a gente como é viver e cultivar a música sertaneja, a música caipira, a cultura sertaneja em meio a cidade de São Paulo? 0:39.500 Olha, ééé é diferente, mais a.a São Paulo é uma cidade muito grande, né, São Paulo é uma cidade que tem muita gente, tem muita cultura, tem muitos povos em São Paulo, então eu acho que a gente é mais um, né, mais um desses povos vivendo nessa imensidão de São Paulo. A gente tem aí a cultura japonesa, a gente tem a cultura italiana em São Paulo, a gente tem a cultura árabe e a gente tem a cultura caipira, né, do nosso interior de São Paulo. Aaaaa, a eu acho que, assim a cultura caipira vive bem dentro de São Paulo, dentro da cidade de São Paulo. Claro que você, dentro da cidade, não vive a vida caipira, né. Você não consegue acordar de manhã e ordenhar uma vaca, mais ...a.a.a. eu acho que, assim, aa.aa a essência, a alma caipira ela, tá ali e permanece, mesmo a gente vivendo na cidade, vendo esse caos que é São Paulo. 1:40.358 E o que te chamou atenção nessa cultura, na viola de 10 cordas que é típica da música caipira, da música sertaneja? 1:49.311 A pureza, a ingenuidade, a honestidade da música caipira. Eu acho que a música caipira é uma música honesta. É uma música pura, né. Como o próprio nome diz, de raiz, né. Então, eu acho que é uma música inocente. Pega algumas canções do 58 Tonico & Tinoco você vê a inocência, a inocência na nana não só nas vozes, mas nas letras, naquelas letras sem malícias, sem... sem... éé... duplo sentido, não tem aquelas...aquelas letras pegajosas, né... muitas vezes, a grande maioria das vezes, é uma lição de vida, você aprende com as músicas, né. Hoje, você ouve uma música e você não aprende nada com ela, né. Mas a música caipira de antigamente, você aprende. São histórias. São lições de vida. 2:40.082 E, aí você falou muito desse gênero da música caipira que agora as músicas totalmente diferentes nas letras. E nós percebemos que houve a mudança, é... a partir da indústria fonográfica, houve uma mudança da música caipira para música sertaneja atual e o que você considera, ser de interesse da música fonográfica que mudasse este estilo, da música caipira pelo que a gente encontra hoje no mercado. 3:07.757 O interesse é puramente comercial. É venda, né. A música caipira ela começou a deixar de ser música caipira a partir do momento que, começou-se gravar os primeiros discos. Em 1929 quando foi feita a primeira gravação de música caipira se gravou a música caipira tradicional, música sertaneja tradicional. É, éé na verdade assim, a gente tem que colocar o seguinte ponto: a a até uma correção que eu vou fazer aqui, uma correção que eu falei para você. Aa a Na época que foi gravado a primeira música caipira, a gente tinha a música caipira e a música sertaneja. Então, a música caipira era o que acontecia no interior do estado de São Paulo e a música sertaneja era vista como a música nordestina, as emboladas, os cocos que na época, década de 20 era muito, era muito popular, principalmente, aqui em São Paulo e Rio de Janeiro, né. Hããã...Então, a.a.a. a música caipira quando ela chegou no rádio, e, e, as gravadoras viram que era algo que .... vendia muito, porque os programas de rádio começaram a tocar as músicas caipiras, e, e, e havia um público gigantesco prá isso, que a maioria das pessoas que trabalhavam e moravam em São Paulo, vinham do interior. Então, quando se tocava a música caipira no rádio a pessoa ficava lembrando da infância dela. Então, era uma coisa muito emocional. Então, ali as gravadoras viram que era a oportunidade de ganhar dinheiro. 4:37.307 59 E, ao longo do tempo eles foram modificando a música caipira, eles foram éé, acrescentando coisas ...não tem na a ver com a música caipira, mais ajudavam a vender. Isso aconteceu já na década de 30 com as guarânias, né. É, é, é, começouse a trazer ritmos paraguaios, começou-se a colocar a sanfona, é, é, é, começou-se a colocar ritmos que não tinham muito a ver com a .... 5:04.703 A música caipira, quando ela nasceu, ela era moda de viola, cururu e cateretê. Era só isso. E reisado. Isso era música caipira. Não tinha valsa. Não tinha guarânia. Não tinha ritmos, esses tipos de ritmos. Então, isso foi sendo acrescentado, né.Nos anos 50, veio aaaa influência, a forte influência do Paraguai ...na música, na música caipira nossa. 5:27.929 Nos anos 60 veio a influência da Jovem Guarda. Então, você começou a ter é, é, gravações com bateria, com guitarra, contrabaixo. Eram toscas. (riso) Eram péssimas, mais já nessa época você já começou a ter isso. 5:45.580 A, a, a, Nos anos 80 a gente começou a ter a aa influência do Pop, né, que era muito forte. Nos anos 90, a influência do Country, da Country Music. Então, e hoje a gente tá tendo a influência até ...extremamente ... hoje não dá para dizer que isso é uma mistura com a música caipira porque nem se chama mais música caipira, mais isso se mistura o gênero com funk, com coisa que não tem, absolutamente, na a ver, né. É, é, é. Por um lado, acho que a mistura é, ela é, em alguns pontos, ela é válida, né. Em outros acho que é mosca na sopa, entendeu. Não tem muito, não tem muita liga. Não tem muita, muito a ver. 6:32.855 É, apesar dessa mudança ainda há pessoas que se interessam pela música, a de raiz mesmo, pela viola. Tanto é que você é professor há 13 anos, tem muitos alunos. Qual a faixa etária, mais ou menos, dos seus alunos? Olha tem de tudo. Tem de criança a senhor de idade. Mas vamos dizer que a faixa etária, uma média, vou pegar uma média, uns 40 anos, por aí. 60 6:665.580 E qual o principal interesse na procura por esse instrumento? É música caipira, música de raiz. É a verdadeira música caipira, né. E aí eles procuram as aulas, realmente, prá aprender e prá tocar. Há um motivo especial? É, a viola, quando você vai ensinar viola, na verdade você acaba ensinando música caipira. Não tem muito jeito porque a viola é um dos poucos instrumentos que tem uma coisa chamada sotaque. Se você não souber uma viola soar como uma viola ela vai soar como um violãozinho de 10 cordas. Então, você tem saber a linguagem do instrumento. Então, não tem como. Você vai estudar a viola, tem que passar pela música caipira, mesmo que você toque outros gêneros, mais prá frente, mas você tem que passar pela música caipira prá aprender o que é um pagode, o que é um ponteio, né. Aprender o ritmo. Aprender a dar aquela pegada de viola para o instrumento, porque aí você passa a fazer a viola a falar como viola e não como um violãozinho de 10 cordas ou coisa semelhante. 7:57.573 A gente está tratando, nesse programa, sobre o resgate da música caipira na cidade de São Paulo, que está se perdendo, que as pessoas não conhecem muito, se conhecem é muito, vagamente, e a gente viu que você já passou por vários programas, várias mídias, é, é, conhece várias pessoas do ramo da comunicação e, então, você sente que há espaço melhor para a divulgação da música caipira ou ainda sente um limite, não é todo mundo que aceita, que queira divulgar, que queira manter vivo? 8:34.390 Olha acho que espaço, está ruim para todo mundo. Se você não for músico de funk ou não for cantor de sertanejo universitário, tem que seguir a tendência você não tem espaço, seja roqueiro, seja sambista, né, a, a basta você ver aí banda que há pouco tempo atrás estavam no auge, Skank, J Quest, cadê esse pessoal, né. Então, acho que espaço está pouco para todos não é só para música caipira. A música caipira já tem um agravante que é o fato de a gente ter um músico, a gente tem um 61 público pequeno, né, fiel, é um músico, é um público fiel. E, está ali com você sempre, né. É aquela panelinha, mais é um público pequeno, né. Seletivo. 9:18.089 Mas nós ainda temos, que muitos compositores, muitos intérpretes, mesmo da sertaneja universitário de agora, ainda cantam, ainda relembram algumas músicas, então, quero dizer, não morreu, né. Tá viva, tá aí. Olha. Não diria que não morreu por conta da procura desse pessoal pela música caipira. Eu vejo a procura deles mais como, ...não sei se a palavra é meio forte, mas oportunismo, ou seja, eu vou tocar uma música caipira porque assim eu consigo aquele público, ou seja, uma forma de içar um público que, de uma certa forma, iriam torcer o nariz para ele. 9:55.469 Porque, geralmente, quem gosta de música caipira, fanático pela música caipira, odeia o sertanejo moderno. Então, geralmente, algumas duplas lançam essa ...esse artifício para ... para poder laçar aí alguns... alguns fãs, né, que.. que ... que vai, vai pensar e vai falar, poxa, ele toca música de raiz, então, eles tem que, né, dar o devido respeito a eles, mais é.é.é eu acho que são poucos casos que levam isso à sério, por exemplo, a dupla João Carreiro e Capataz é uma dupla que faz um sertanejo moderno, mas ao mesmo tempo eles conseguem ... metade do repertório deles é caipira e durante todo tempo no show se vocês verem, eles estão tocando com viola e violão, ou seja, tem uma certa mistura, então, aí não é oportunismo. É o estilo deles. Então, é honesto. Vocês vêem que tem uma honestidade naquilo. Agora é diferente, por exemplo, você pega uma dupla, um cantor sozinho, ééé que faz uma música com, geralmente, palavras monossílabas o show inteiro, o cara pega uma viola e toca uma música prá falar que toca, ah, ah, ah vou tocar aqui uma moda do Tião Carreiro e toca “Boate Azul”, (riso) não tem nada a ver, ou seja, não é do Tião. Você vê que é oportunismo. Você vê que o cara ele quer usar isso prá agradar um determinado público que não é o dele, ou seja, para vender mais. É uma questão comercial. 11:23.118 E o que você acha do futuro da música caipira, da música sertaneja? 62 Olha, é, é, é. É triste o que vou dizer, mais eu acho que o futuro é, cada vez mais a música caipira ela ser vista como uma música do passado, como uma música de antigamente, assim como a gente tem hoje, a gente ouve falar hoje do sambacanção dos anos 40, né. Você não vê mais samba-canção, né, mais é, é, um estilo de música que acho que vai ficar mais prá memória. Você até tem duplas novas, mas as duplas novas elas não conseguem vencer a barreira das duplas antigas, né ...mmm isso muito é culpa de quem ouve a música caipira. Por quê? O cara entra numa loja e ele tem lá um cd do Tião Carreiro e Pardinho e ele tem lá um cd de uma dupla nova. O que que ele vai comprar? Ele vai no óbvio, né. E, infelizmente, isso mata, né, a geração de hoje. É difícil você trabalhar com disco, hoje, com venda de disco, e ainda você tem que lidar com uma, uma, uma concorrência forte dessa, diria até, desleal porque você não tem como competir com Tião Carreiro, não tem como competir com Tonico & Tinoco. Mas você não tem muita chance. É diferente, por exemplo, do público que curte rock, por exemplo, que é mais aberto às novidades, é mais aberto à, à, às coisas novas, às novas bandas, a novos sons. As pessoas estão sempre procurando coisas novas. Ó, ó, olha, achei, né, essa banda e mostra para os amigos. ... Isso não existe na música caipira. Então, o cara ele vai, escuta aquilo, e nasce escutando aquilo e vai morrer escutando aquilo. 13:07.135 Então, é, é, é. Como é que você pode ter um futuro se você não tem uma renovação, se você não tem ...é.é... Os compositores que compõem para a música caipira estão morrendo de fome porque não conseguem emplacar nada e quem toca música caipira, vivendo de trocado, então, ... Infelizmente, assim, eu não vejo futuro muito ...bonito, nos próximos 20, 30 anos, eu diria. 13:30.775 E, falando em rock nós vimos que você também criou um ritmo, adaptou um ritmo que é o rock caipira. E o que seria esse rock caipira e porque essa adaptação? É, é, na verdade assim. É, é eu vou dar u, u, uma longa explicação sobre isso. Ã, a gente tem duas coisas que a gente tem que dividir bem. Uma é a música caipira como gênero musical e a outra é a viola como instrumento musical. E a viola sendo 63 um instrumento musical, ela não necessariamente ou obrigatoriamente ela precisa estar presa à música caipira. Ela por ser um instrumento musical você toca o que você quiser nela. Assim, como no violão, você toca blues, você toca jazz, você toca MPB, você toca pop-rock, você toca samba, você toca choro. Porque a viola não pode fazer isso? Qual... o que a viola proíbe à viola de fazer isso? Nada. Apenas o preconceito de algumas pessoas com o instrumento. 14:27.032 Então, é, é, Eu, quando eu comecei a tocar viola, claro, eu fui me informar sobre a viola, eu fui conhecer o instrumento, fui aprender os ritmos, eu fui vivenciar um pouco a vida de violeiro. Não que eu fui para o campo vivenciar isso, mas eu fui atrás dos violeiros para ver como eles tocavam, saber como era a vida deles... para conhecer, realmente, de... a fundo a viola. Mais, eu não sou um músico caipira. Eu não nasci no meio do mato. Eu não vivenciei isso. Então, seria muito falso, não seria honesto da minha parte eu vender uma imagem de uma coisa que eu não sou. Ia soar falso, ia soar forçado. E, e, eu cresci em São Paulo. Nasci dentro da cidade, ouvindo RPM, ouvindo Legião Urbana, ouvindo Cazuza. A minha infância foi isso. Então, não é uma coisa que eu posso, simplesmente, apagar da minha vida. Então, eu, eu resolvi juntar as duas coisas, tanto a, a, a música que eu acabei, é, é, é adquirindo gosto, já adulto com a música que eu cresci ouvindo. 26:44.027 Mais porque não fazer isso com um instrumento que eu gosto? Então, o fato de eu trazer a viola prá ritmos que não tem, absolutamente, nada a ver com a música caipira, vem um pouco disso, de querer ser honesto no meu trabalho e fazer um, um trabalho que seja genuíno, que não seja é, é, é, forçado. E, também é um trabalho diferente porque não é um mais do mesmo. Quando você fala em viola, você espera, né, que o cara, ele apareça de calças jeans, camisa xadrez, chapéu, bota e toando Tião Carreiro, né. E, e, e, eu acho que é, é legal. Isso é um estilo .... bacana, mais não é o todo. Então você pode fazer coisas, completamente diferente na viola. Ela aceita e faz muito bem esse papel. Muito bem. 16:19.112 É, mas é interessante é, é, justamente, isso. Você não viveu, não conviveu no campo, não se considera um violeiro caipira, no entanto você contribui prá, 64 prá divulgação, ou prá manter a música caipira quando você toca a sua viola no estilo, caipira de ser. A gente tentar ajudar um pouquinho. Me conta um pouquinho sobre esse novo, novo projeto seu da viola de 12 cordas que a J. V. Signature. Esse projeto, ele nasceu de uma necessidade, é, é, eu além de, ã, ã, o meu forte é aula de viola, mas a gigantesca maioria dos alunos é de viola, mas, às vezes, me aparece alunos de violão. Então, a primeira necessidade foi, é, é, é, ...foi poder, ter um instrumento que eu pudesse usar para as duas coisas. Porque muitas vezes eu me via dando aula de violão com a própria viola, né. Violão não é uma coisa assim, que me chama muito a atenção, mais é, é, é essa foi a primeira necessidade, ou seja, ter um instrumento com o qual para mim fosse prático e que pudesse dar aula tanto de viola quanto de violão. A segunda é foi, é, a segunda necessidade que esse instrumento me, me, me supriu é, é, é, o, a a falta de grave que a viola tem. A viola é um instrumento que tem dez cordas. São cinco pares, mas é um instrumento, excessivamente, agudo. Então, quando eu, eu, eu, é, é, eu tenho meu trabalho solo, instrumental, então, eu tinha mu, eu tinha muita, é, é, como é que eu posso falar .... eu tinha, não é dificuldade, mas eu ... é, é, é, tinha muita dificuldade prá lidar com aquele som todo agudo, faltava o grave, assim sentia a falta o grave do som. E, o ano passado, eu me tornei indosser da Rozini e eu comecei a, a, a namorar com eles, esse tipo de instrumento a tentar convencer eles, que era uma boa ideia, tal e aí, eles toparam a ideia e fizeram uma viola de 12 cordas para mim. É uma viola caipira. Até é o mesmo formato de uns dos instrumentos que eles fabricam, mas a gente adaptou 12 cordas em vez de dez, são 12 cordas. Então, isso ajudou bastante, principalmente, nos shows a vila encorpou o som. Ficou bem encorpado. Não perdeu a essência, continuou sendo uma viola de 12 cordas, mas é importante frisar uma coisa, não é uma invenção minha. A Gianini já fabricava uma viola de 12 cordas na década de 50, né. Então, não é uma invenção. Na verdade, isso é uma coisa que existe há muitos e muitos anos, né. Na verdade, esse instrumento, a viola de 12 cordas, é, é, uma informação que muita gente desconhece, mas, o violão nasceu da viola, não ao contrário, viola nasceu do violão. O violão veio da viola. 19:12.944 65 Primeiro veio a viola, depois veio o violão. Existia a viola de quatro pares, depois virou de cinco pares, depois virou de seis pares e a de seis pares perdeu os pares e virou violão. Então, na verdade,esse instrumento já existiu (sonoplastia digital) há mais de 200 anos. Não é uma invenção, isso, na verdade, é um resgate. É,éé, então, esse instrumento que eu estou segurando aqui, é uma viola de 12 cordas, ele é, exatamente, instrumento que foi a transição da viola p’ro violão. 19:41.398 E, você pode dar uma palhinha prá gente, agora? 19:45.227 Sem problemas. Tô só. ... Viola é meio complicado. Prá desafinar. Inezita Barroso – apresentadora Qual é a importância da música caipira para a cidade de São Paulo? Importância de uma raça. A música caipira, a música de raiz é raça. Ninguém quebra, ninguém apaga. Aí tá, às vezes, lá no alto, às vezes, abaixa um pouquinho. Mas, meu Deus do céu, como paulista ama sua terra! Num parece, paulista é meu quietão, meio parado, né? Ele não se externa, (risos) muito assim, com as opiniões, mas se você cutucar, minha filha, eu estou nessa briga, faz ...quanto? Uns 60 anos... 60 anos. Um dia de minha vida, falei: Agora, chega! Não vou dar aula mais, não vou fazer nada. Vou me dedicar só à música de raiz. Porque eu quero tirar ela do fundo da terra. Qual é a importância do rádio para a música caipira? Do rádio? Eu gosto de mais do rádio. Fiz rádio. Houve um tempo em que a música caipira era só no horário aí horrível que ninguém ouvia (risos), 4 horas da manhã, mas tinha muita gente que ouvia. E, o pessoal não deixa de lado, mas não deixa. É que o paulista não é muito extrovertido, né? Ele é mais quietão, principalmente, o caipira, mas ele é muito sentimental. Falou na terra e ele lá, fica aceso. E, agora, falei, ah, agora nessa estrada de terra mesmo que eu vou. Chega. (risos) 66 Cantei muito samba, muita coisa variada também, muita coisa brasileira de norte à sul. Eu amo a música do Sul, música gaúcha admiro demais porque eles são grudados no que é deles. (risos) Não adianta! Não adianta! De vez em quando aparece uma coisinha diferente, mas volta, volta prá música do sul. E, e outros estados também, muito conservadores. Achei uma beleza quando se uniram muitos gaúchos e mato-grossenses. Acho que, talvez, por força de algum trabalho, de alguma profissão e se uniram muito. Só que as músicas não se uniram (risos). Então, isso é lindo! Porque você é você, eu sou eu. Não tem que um copiar do outro. E é assim mesmo. E outras coisas que o pessoal, às vezes, não entende. Eu faço muita palestra, muita coisa. Dei aulas, muitos anos, né, em faculdade. Fui prá Mogi das Cruzes, dei aula lá muito tempo. Uuu, entortei lá pessoal (risos). Fiz até gente fabricar carro de boi prá sair no desfile do Divino. Porque não tinha. O boi mancava, o boi coitado. E, um dia, saiu lá uma propaganda política, no lombo, falei, ah, esse boi não vai entrar não. (risos) Eu vou segurar ele (risos). Não entrou. Imagine que absurdo! Um negócio folclórico, na festa séria que é o Divino, pelo amor de Deus! Ligado a igreja, tudo, bandeiras mil do Divino e o coitado do primeiro boi, lá meio capenga, e com propaganda, pintado no lombo, falei, esse não entra! (risos) Eu era muito brava, continuo, dependendo da ocasião, né? Quando precisa eu sou. Meus alunos tinham meio medo de mim, mas olha, graças à Deus, eu posso dizer, que eu formei vários alunos maravilhosos que entraram na faculdade sem saber o que era música caipira. Ainda debochavam. Ih, caipira! O menino, vem cá (risos). O que é caiçara? É o homem que nasce no litoral. E o que é que é caipira? Ihah! Apenas o homem que nasce no interior! Entendeu? E, se não entendeu, eu vou dar um zerão, heim! (risos) 4:35.440 Tem que fazer conhecer, né! E tem saber brincar com eles também, né? Porque eles aceitam, mas tem umas correntes, assim, estranha, meu Deus! Quanto estrangeiro que não ama a nossa música maravilhosa, ama mesmo? Duplas de todas as raças diferentes. Sabe? É uma coisa bonita. E eles querem assistir as festas. Querem dançar. Ih, (risos) onde? Então, é obrigação da gente é desenterrar essas coisas porque não estão enterradas. Elas estão dormindo, na flor da terra (risos) E, é fácil. É muito fácil se 67 lidar com crianças mesmo. E, ver uma criança cantar música imoral, que tem duplo sentido, uma coisa muito feia. E, a boba da mãe, ai que bonitinho! Bonitinho, o quê, minha senhora! A senhora já pensou na letra dessa música? Já pensou no rebolado daquela coitadinha com 5 anos? Não é da idade. Vamos fazer a nossa coisa. É, briguei muito, sabe? Briguei muito e continuo brigando (risos) até hoje. São 62 anos de briga, mas acho que a coisa ficou quente, ficou boa. Tem muitos jovens.... Você viu hoje as duas duplas? Uma é bem jovem e a outra é bem mais prá lá. 6:19.051 É mesma coisa. Senão acaba tudo. Desmonta tudo. E existem compositores, ...estão surgindo compositores da música caipira de raiz? 6:34.402 Estão. Estão, mas muito timidamente. Sabe? São Paulo, não muito porque essa coisa enorme, mas Minas Gerais, ãã... olha. Rio Grande do Sul a gente nem fala porque (risos) é maravilhoso! Ããã, olha, Goiás não é muito. Ééé, tá bom, mas não tá como a gente quer. Não falo muito isso, não porque é capaz de ofender (risos) Não falo, falo alguns estados, pelo amor de Deus, não deixem brigar comigo (risos) Não deixem porque sou uma onça, heim! (risada) Aí a gente está assistindo umas coisas lindas, por exemplo, agora no Natal, eu estou querendo fazer um espetáculo, já no mês da Nossa Senhora Aparecida, já que é outubro, já começar catequisar criança. Então, eu já fiz muitos espetáculos, já escrevi,aaa, uns trabalhos sobre o Natal brasileiro, que não é nada de papai Noel, nem de bolinha (risos) de coisas de nada. O negócio é religioso, gente. É o nascimento de Cristo! Apenas! Então, o que que interessa aí? O nascimento de Cristo, menino Jesus! Mostrar prás crianças o bercinho e eu escrevi um alto muito bonito que a gente representou anos e anos, e anos e anos com o conjunto Flor do Campo, agora está tudo dispersado, né? Cada um tem lá seu interesse ou outro estado muda, mas quando a gente conseguiu reunir, a gente fez muito trabalho, muito trabalho e agora tem ... estão surgindo novos núcleos de gente que quer trabalhar com crianças. 8:37.491 Então, estou planejando um espetáculo ... A gente percorreu muitos, muitos pelo governo, muitos teatros do interior com crianças com tudo misturado e agora, partir 68 do meio quiss ...que tem muita criança, no meio de Nossa Senhora Aparecida, a gente pegar firme nesta crença, nesta religiosidade, na nossa bandeira do Divino, na nossa música caipira, caipira, caipira, caipira... (risos) 9:15.162 Então, eu tô treinando aí um grupo muito bom que é de crianças e aí, os que tocam, não é baixo elétrico, não. É rabecão, mesmo tocou (risos)... Então, não é que a gente queira destruir nada, nada. Nós não queremos destruir. Queremos construir. Só que a criançada não pode continuar a cantando cacaca, cucucu, o que é isso? Que isso! Um país rico de música, de ritmo, vê a coitadinha lá, vêvê... Não sabe nem o que está falando, uma coisa feia! E, às vezes, a mãe ai que bonitinhoéémenininha de tanga. Não, não é assim, minha senhora. Eu brigo muito, brigo, brigo, brigo, brigo. Há muito tempo. Falei, não é! Um vestidinho rodadinho, né? Uns brilhos na saia, não é, essa criança não é prá por um ...ah! Sei lá o quê! Um fio dental, por exemplo? E se deixar, fica! Então, eu acho uma coisa nojenta! Palavra de honra, o termo pode parecer acintoso, mas eu acho nojento! Meu Deus! Então, o que que a criança vai dizer? Ah! Porque eu vejo na televisão! Ãh! Ãh! Ãh! Ãh! Televisão também é culpada! 10:52.692 Dona Inezita, você falou da imagem. Por que que a indústria mudou tanto a imagem do caipira, a indústria fonográfica? 11:00.489 Por que? Vou te contar. Por uma coisa tão boba, tão sem importância. Havia uns remédios do laboratório, diva?diva? Quando eu tinha 5 anos, meu irmão tinha 4 anos, a gente tomava os remédios que era da moda. Agora, prá fazer a propaganda sempre entrar o dinheiro, né? (eheheheh risadas) O dinheiro é um lixo, prá acabar com a tradição! O dinheiro é o maior inimigo da tradição. Então, entrava o anúncio lá, Monteiro Lobato! O grande Monteiro Lobato. Fazia um anúncio, assim, ele era um caipira, e nas farmácias, vendiam uns almanaques, nem vendiam nada, você pegava na farmácia. E lia aquilo. Era umas historinhas precursoras das histórias em quadrinhos. Isso é o que eu acho bonito. E aí ia lá. Você não sabia quem é que fez. Como é que era? Era de graça. Pegava na farmácia e tinha uma historinha. E, o caipira sempre era um desgraçado, preguiçoso, (risos) ladrão, hã... sem caráter, 69 sem dinheiro, pelado quase, sem roupa, sem comida... Então, aquilo ali, ficou assim uma coisa, mas fez sucesso. Fez sucesso. Todo mundo quer ver a caveira, né? A caveira do negócio. Fez sucesso. Ó. E era um fortificante que ainda tem até hoje, né. 12:53.292 Essa moça que está comigo, que cuida de mim. Cadê Ela? Tá lá fora. (risos) Tá lá fora? Ela é baiana. E ela não deixa de tomar esse remédio. E, ainda tem até hoje. E aí. É um remédio! É um fortificante. Não vou dizer nome, porque não interessa. Depois eles vêem brigar com a gente (risos) Não adianta nada. E, Monteiro Lobato, Monteiro Lobato morava ali na subida de Campos do Jordão. E, estava meio sem dinheiro, tal. E, era amigo do pessoal do laboratório que não vamos falar o nome. Porque não interessa. Que vendia esse remédio, vendia mais uns quatro remédios, por sinal muito bom. (risos) Muito bom! Não era porcaria. Não era água com açúcar. E o Monteiro Lobato foi convidado prá produzir alguma coisa com aquele laboratório. E, aí ele fez uma historinha precursora das histórias em quadrinhos. Olhem bem! Que era assim, um caipira com bicho de pé, encostado no muro, com chapéu na cara, morto de fome, descalço, ruim, ruim. E, aí chega uma hora lá que ele toma esse remédio. E, aí ele aparece de lenço no pescoço, chapéu de feltro, não tinha de cowboy ainda, graças à Deus! (risos) Ele aparece com chapéu de caipira. Chique! Era de feltro e com uma bota, bota até aqui que eles não tinha. E, aparece chiquíssimo. Porque? Porque tomou o tal do remédio. O que venderam desse remédio! Que vendem até hoje, esta minha acompanhante toma esse remédio que ainda existe no interior, em São Paulo não é muito. E se eu contar prá vocês que é maravilhoso fortificante. (risos) Ainda é! Não tem nada de coisa que não pode tomar, de ingrediente do remédio, nada. É aquela porqueira, lá (risos) mesmo que.... E, o cara ...Prá criança é maravilhoso. Criança que está amarela, ali vai. Toma aí todo dia. Toma. Fica vermelhinha. Fica louca prá brincar. Então, esse... esse negócio aí que ninguém quer ver. Não quer. Não sei se é medo. Ou se é ... Eu sei lá! Não sei. Um dia eu vou entrar nessa mata aí (risos). E, aí a gente entrou de quatro patas. E, o caipira .... eu sempre começo as minhas palestras... O caipira não é mendigo. (risos) Nas faculdade todas. Como é? Não, caipira não é mendigo. Aí, isso, isso, isso, lá vou eu. E já consegui grandes retornos. É um orgulho meu. Por exemplo, festas de São João, com aqueles chapeuzinhos tudo arrebentados, ....tudo 70 desmontados... de palha ou o chapéu de cowboy, ou hã ... vestidinhos com pedrinhas. 16:34.459 Eu fiz uma palestra muito séria na... no colégio São Bento.... com o reitor, com todo mundo... Fiz palestras pros professores e eles ficaram... Nossa! Mas o caipira? ... Falei, se você quiserem fazer uma festa aqui, você podem fazer, desde que seja com chapéu de palha que custa 500 réis, novinho, não precisa ser todo arrebentado. Caipira não é mendigo! Olha! Eu até chorei no dia em que fui na festa de São João lá, no colégio São Bento. Chorei. As meninas de trancinhas postiças, aquelas carinhas bonitinhas, de vestidinho.. Não mostra nada. Lógico! E... caipira vai mostrar coisa! Não interessa! E as menininhas dançando com os menininhostodos ...bonitinhos! Uns tinham botinhas, tudo bonito. É a festa. Eu chorei muito, muito, muito naquele dia. E os doces, né, que eu falei na palestra, doce de sidra, doce de abóbora, pipoca, pinhão, tinha tudo. Eles patrocinaram tudo, uma mesa daqui lá. Todo mundo foi, todo mundo dançou. 18:04.028 Foi muito bonito. Então, de vez em quando, você tem um trailer desses, quando também eu tive com as netas quando elas eram pequenas. E aí, elas.... O meu marido era cearense, mas ele ...inteligente. Até bom advogado... consciente de onde ele estava pisando, em que terra que era. Tudo bem. Bem, as netas pequenininhas, o meu gênero era paulista, minha filha mestiça (risos) Cearense e paulista educaram as filhas daquele jeito. Ah! quando começou o show, uma menina lá professora com a sanfona lá, abriu aquela sanfona e começaram entrar as crianças, era surpresa. Aí, entraram duas netinhas, uma de 2 e outra de 4 anos vestidas de caipirinhas, mas sem o chapéu arrebentado (risos), com lacinhos, sabe? Eu falei, o meu Deus! Eu já estou (risos) na hora de morrer, não (risos) preciso ver mais nada! (risos) Ah, meu Deus. Meu pai estava comigo também amou. E daí prá cá, a gente sente que tem um movimento, assim, muito grande prá desenterrar as raízes. 19:35.113 Porque enterradas? Daí vai eu desenterrar as raízes. 19:42.614 71 E porque existem compositores da nova geração sempre põe as canções mais antigas nos seus palcos, assim, porque sempre há esses resgates, já que a música não ficou antigas, né, obsoletas. 19:59.597 Antigas! Escuta! Você acha antigo Chopin, Brame, Beethoven. Antigo? De forma alguma. Né? (risos) Então, a gente... Meu Deus! É burrice! Não quero xingar ninguém, mas é burrice! Não tem um professor que diga, não é nada disso. Essa música aqui é da Espanha até hoje dança desse jeito. Essa dança é da Argentina, do Chile é de todo país pobre, país rico.. E, porque a nossa é discriminada? Porque o caipira é um coitado, pé sujo, bicho de pé? Não é nada disso, gente. Já está melhorando. Eu estou com isso aqui! ... (risos)Há muitos anos. Eu tenho aliados muito bons, principalmente, com o Viola, muita dupla boa. Você vê que hoje foi uma moça e outra mais velha. Nós estamos fazendo um balanço. E eles sabem. Então, taí o meu trabalho. Graças à Deus! Está sendo glorificado (risos) Porque a gente, procura reviver e tem muitas crianças que quer... mas o dinheiro mata, mata, mata, mata ... Mas não adianta. Vamos brigar com o dinheiro até morrer. 21:31.668 Então, a senhora tem um projeto prá continuar revivendo sobre essa música, para não se perder, prá continuar no resgate mesmo? É lógico! O futuro da música caipira, a senhora pode dizer que continua? Continua. E, tem assim no interior do Brasil, não é só aqui, tem muitos conjuntos, tem muitos conjuntos que estão estudando, estão pesquisando. Agora, assim, de onde que veio o forró? Eu não sei. ... Porque que você dançam o catira? O que é o catira? Não sei. Ah! Meu Deus do céu! Eu sofri, continuo sofrendo mesmo com as coisas que dói na gente. Mas, se eu puder pôr uma sementinha, pelo menos, na cabeça ...está ganha a guerra. Prá encerrar, e agradecendo a sua atenção, dona Inezita... 72 Eu é que agradeço! Eu quero saber qual é a sua música favorita? Se há uma, né? Se há uma, né? São várias! Só uma? Peraí (risos) Pode ser mais de uma. Pingo d’água, do João Pacífico. 22:58.541 (Inezita canta, Pingo d`água) Quer coisa mais linda! É... É. O negócio que... mexe. E, olha. O autor, João Pacífico, terceiro ano na escola primária, na fazenda, ele tem uma das coleções de músicas caipiras muito sérias. Com terceiro ano primário. Morreu bem velho. De bom humor, maravilhoso que ele era. Maravilhoso. Tem umas histórias lindas. Foi parceiro do Raul Torres. As músicas mais lindas ele escreveu. E, tem uma história engraçada que, ele era pobre, fez terceiro ano na roça, e ficou por lá bom.... A professora gostava dele porque ele fazia pequenas poesias para ela (risos) já com oito anos de idade. Aí foi crescendo, foi crescendo. Aí empregaram ele na São Paulo Railway, dos trens... ele lavava pratos. Trabalhava na cozinha, lavava pratos, enxugava pratos, com aquele aventalzinho dele. E, um dia apareceu um trem muito famoso aqui em São Paulo, que era o Pullmann, que era para os governadores, às autoridades, né? Qualquer um não entrava lá. Tinha a terceira classe, a segunda, tudo trem. E o Pullmann, que era um vagão inteiro, só pros famosos. Quem estava sentado era o Guilherme de Almeida. Aí chegou um cara para servir uma aguinha prá ele, muito humilde. E falou, ah, se o senhor ouvisse meu colega que trabalha lá na cozinha... O 73 galego não era chato. Ah, é? Se interessou. E o que que ele faz? Ah, ele compõe. Compõe? (risos) O senhor quer que ele cante pro senhor? Eu vou pedir para ele vir aqui. Pro vagão. O Pacífico demorou. Ele lavou a mão 400 vezes, enxugou no avental, tirou o avental e foi conhecer. Foi lá muito humilde, e o Guilherme de Almeida. Você que é o João Pacífico? É, sim senhor. Canta uma coisa sua prá mim! Aí ele cantou. Não foi o Pingo d`agua, foi o Mourão da Porteira. É. 27:36.685 Lá no mourão esquerdo da porteira (Inezita canta) Guilherme ficou com os olhos cheios de lágrimas. Meu Deus! O que que é isso? Um lava-pratos fazer uma poesia dessa! Ficou louco. Eu é que devia ter feito essa poesia! E, o Pacífico, ele não era orgulhoso. Como caipira não é. Ficou feliz (risos) ao homem gostar. Nem sabia direito quem era. Aí voltou prá cozinha. Ele envergonhado, enxugando as mãos. Olha, gente! E o Guilherme sempre citou essa poesia dele. Ele nunca deixou passar isso não. E, não tem nada que determine o poeta, ou ele é ou ele não é. Ou ele é molambento lá, (risos) mendigo, pobre ou então, ele pode ser rico, mas aqui é dentro que funciona. Achei tão bonito aquilo, viu? E, o Pacífico durou muitos anos. Veio muito no “Viola, Minha Viola”. Querido até hoje. Você viu que os discos dos rapazes ali ...eles tem composições dele. E, aí vai a nossa vida, desenterrando.