9º CONGRESSO MDM 25 DE OUTUBRO 2014 – FÓRUM LISBOA _______________________________________________________________________________________________________________________ SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA DAS MULHERES EM 2014: INFORMAR| APOIAR| DIVULGAR |INCREMENTAR JOANA SOFIO MEMBRO DO MDM ÉVORA Em Outubro de 2014, em Portugal, o Supremo Tribunal Administrativo considerou que se deveria reduzir a indeminização médica a uma mulher lesada durante uma operação ginecológica. Um dos juízes referiu que esta mulher, com mais de 50 anos, já tinha filhos e que a importância da vida sexual vai diminuindo ao longo da idade. Quando ouvimos este tipo de afirmações o nosso movimento redobra o vigor na defesa da saúde das mulheres na nossa sociedade, no respeito pela plena vivência da sua sexualidade, opondo-se a que seja reduzida apenas aos aspetos reprodutivos. Também neste mês o Sínodo dos Bispos reafirmou a posição da Igreja Católica contra o recurso aos contracetivos e sua distância das técnicas de procriação medicamente assistida, aconselhando os casais inférteis a adotar crianças "órfãs e abandonadas". Estas situações ilustram a premência de continuar a promover a educação sexual, a prevenção da gravidez não desejada, a luta contra o aborto não seguro e a defesa de uma sexualidade saudável. Com o encerramento da Maternidade Alfredo da Costa, previsto a qualquer instante, relembramos a importância de continuar a defender os cuidados perinatais acessíveis a toda a população, e também a necessidade de disponibilizar serviços especializados em questões relativas à saúde da mulher nas várias regiões do país. Na Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (Cairo, 1994), 180 países reconheceram que a pobreza continua a ser o maior desafio ao desenvolvimento. No programa de ação da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovado em Pequim (1995) sobre os direitos das mulheres constatou-se que a discriminação social da mulher, o limitado acesso aos serviços sociais e de saúde – especialmente os de saúde reprodutiva – são fatores que impedem o desenvolvimento. E sublinhou o papel das Organizações Não Governamentais (ONG) para a promoção da saúde, incentivando o acesso à informação dos direitos, dos serviços que prestam cuidados, promovendo campanhas de educação para a saúde e/ou prevenção de doenças, orientando a participação das populações e a organização dos serviços para a prestação dos cuidados de saúde. Apesar das melhorias no acesso aos serviços de saúde na nossa região alcançados após o 25 de Abril há ainda muito a fazer. Estima-se (FNUAP, 2001) que em cada minuto 380 mulheres engravidam, 190 delas não planearam essa gravidez, 110 mulheres sofrem complicações relacionadas com a gravidez, 40 mulheres fazem um aborto não-seguro; 650 pessoas ficam infetadas com uma doença sexualmente transmissível curável; uma mulher morre por uma causa relacionada com a gravidez. Em Portugal, nos últimos anos, a adoção de políticas de desinvestimento no Serviço Nacional de Saúde, degradou o seu funcionamento e impediu o cumprimento do direito constitucional à saúde, atingindo particularmente as mulheres. Consideramos situações especialmente graves e preocupantes no Alentejo: o encerramento de maternidades e serviços de urgência; o aumento de taxas moderadoras e de medicamentos; a deficiente cobertura das consultas de planeamento familiar e a frequente rutura nos stocks de meios de contraceção gratuitos; o insuficiente rastreio do cancro da mama e do colo do útero; uma deficitária resposta em especialidades como geriatria e saúde mental; o débil acesso a exames complementares de diagnóstico e a educação sexual escolar ainda por concretizar. A saúde é indissociável da efetivação da igualdade e o reforço e dinamização do SNS são imprescindíveis ao desenvolvimento e ao bem estar pessoal e social de todos os cidadãos e especificamente das mulheres. Por isso o Movimento Democrático de Mulheres exige: 1. Reforço dos meios disponíveis para acompanhamento próximo e rigoroso das diversas dimensões da saúde das mulheres, de acordo com o seu ciclo de vida, nos domínios do rastreio, diagnóstico e tratamento; 2. Alargamento da comparticipação da vacina que previne o cancro do colo do útero no plano nacional de vacinação; 3. Efetivação do planeamento familiar e a educação sexual enquanto direitos universais no SNS, em conjugação com as escolas e as comunidades; Sabemos que a efetivação dos direitos sexuais e reprodutivos é uma exigência que pode significar mais e melhores cuidados, mais médicas/os e enfermeiras/os nos serviços de saúde, a eliminação das taxas moderadoras, a diversidade dos métodos anticoncecionais e o cumprimento no SNS da lei da IVG. Clamamos a urgência da aplicação dos direitos à saúde sexual e reprodutiva, garantindo às mulheres a sua autodeterminação e liberdade de decisão. Todas e todos têm direito à saúde, incluindo a saúde sexual ao longo do seu ciclo de vida - o direito à saúde na sua definição mais lata de proporcionar o bem-estar físico, mental e social num mundo económica e ecologicamente sustentável, sem violências sobre as mulheres. Viva o 9ºCongresso do MDM _________________________________________ PELOS DIREITOS E A DIGNIDADE DAS MULHERES A URGÊNCIA DE LUTAR POR ABRIL ________________________________________