Com altas temperaturas e chuva, Rio pode ter 'verão do zika' Previsão climática favorável à proliferação do 'Aedes aegypti' deverá marcar a estação RIO — Com a previsão de temperaturas altas e mais chuva, a estação que começa segunda-feira corre o risco de entrar para a História como o "verão do zika". Desde que pesquisadores associaram o aumento dos casos de microcefalia em bebês ao vírus transmitido pelo Aedes aegypti, a doença se tornou uma grave crise de saúde pública nacional. Durante o período mais quente do ano, pode ocorrer um agravamento do quadro. No Estado do Rio, foram 419 casos suspeitos de zika de outubro até o início de dezembro. Há ainda mais de 600 grávidas sendo monitoradas porque tiveram manchas vermelhas no corpo, um dos sintomas da doença. - A previsão para o verão de 2016 no Rio é de temperaturas muito altas, provavelmente acima de 42 graus, devido ao fenômeno El Niño. Além disso, é possível que ocorram muitas pancadas de chuva, aquelas típicas da estação. No último verão, tivemos períodos de 30 a 40 dias sem chuva. Isso não deve acontecer novamente. Para o próximo ano, a previsão de estiagem ainda não passa de 10 a 15 dias - afirma Francisco de Assis Diniz, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). As palavras de Diniz, que, segundo ele mesmo, poderiam "soar como música para os ouvidos dos mosquitos", prometem ser um pesadelo para gestores públicos que atuam no combate à proliferação do Aedes aegypti. O superintendente de Vigilância Epidemiológica e Ambiental do estado, Mário Sérgio Ribeiro, demonstra preocupação com a chegada do verão. Segundo ele, a situação já é grave e tende a ficar ainda pior. O Ministério da Saúde também já avisou que o verão é o período de maior circulação do mosquito. O órgão pediu às pessoas que, antes de viajarem para as festas de fim de ano e férias, façam uma busca geral em suas casas, eliminando todos os possíveis pontos de acúmulo de água. De acordo com o último boletim divulgado pela Secretaria estadual de Saúde, já há, este ano, 66 casos de microcefalia no estado, 20 deles de bebês cujas mães relataram sintomas de zika durante a gestação. Em 2014, foram registrados apenas dez. - O verão é historicamente o pior período do ano para o combate à dengue e agora será o mesmo para o vírus zika. Por causa do calor e da umidade, há um aumento da proliferação do Aedes aegypti. Hoje já temos um quadro crítico de circulação do mosquito. O estado todo tem o vetor. Por isso, é tão importante conscientizar a população para eliminar os possíveis focos do mosquito, como depósitos de água parada em pratos de plantas, pneus velhos e calhas de telhados, entre outros locais - afirma o superintendente de Vigilância Epidemiológica do estado. Ribeiro garante que o estado já está ciente da previsão meteorológica para o verão e tem conhecimento de que o clima pode ser muito favorável à proliferação do Aedes aegypti, que transmite, além de zika, dengue e chicungunha. - Sabemos que é esperado um verão quente e chuvoso, diferentemente do último, que teve temperaturas altas e poucas chuvas, o que favoreceu o baixo índice de infestação do mosquito em 2014. Temperaturas muito altas e muito baixas não são favoráveis à reprodução do Aedes aegypti. Mas, quando temos calor e pancadas de chuva, a combinação fica perfeita para ele. A chuva, além de baixar um pouco a temperatura, contribui para o acúmulo de água, que é onde o mosquito bota seus ovos - lembra Ribeiro. A bióloga e entomologista Rafaela Bruno, da Fiocruz, frisa que, preferencialmente, o mosquito bota seus ovos e pica as pessoas dentro de casa. Além disso, ele pode suportar bem temperaturas altas, de até 40 graus. - O Aedes aegypti gosta de colocar os ovos em lugares escuros e úmidos, e em vários criadouros diferentes. Dizemos que ele é doméstico porque tem preferência pelo sangue humano, e não de animais. Além disso, sabe que, se puser seus ovos dentro de casa, quando os insetos chegarem à fase adulta, estarão mais próximos das pessoas para sugar seu sangue, o que é melhor para a maturação dos novos ovos que serão postos. No município do Rio, os casos registrados de suspeita de zika aumentam a preocupação com a doença no verão. Ao contrário da rede estadual e do próprio Ministério da Saúde, que não exigem notificação dos casos suspeitos, a Secretaria municipal de Saúde adotou a medida em 22 de outubro. Desde então, foram registrados 999 pacientes com suspeita de zika, sendo que 87 desses casos foram confirmados por exames laboratoriais. A Secretaria municipal de Saúde diz ter mais de três mil agentes de vigilância ambiental, distribuídos por estratos, e não por bairros. O município é dividido em 250 estratos, cada um contendo entre 8.100 e 12 mil imóveis. Segundo o órgão, cada agente é responsável por vistoriar de 800 a 1.200 imóveis. A Secretaria estadual de Saúde informou que lançou a campanha "Dez minutos salvam vidas", para incentivar a população a se empenhar em eliminar os possíveis focos do mosquito. A iniciativa inclui a produção de material informativo e a capacitação de profissionais de saúde das redes pública e privada. Entre as ações do órgão, está ainda a doação de 170 carros para reforçar as frotas de 91 municípios no combate às endemias. Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/com-altas-temperaturas-chuva-rio-pode-terverao-do-zika-18338300#ixzz42AsDveo8 © 1996 - 2016. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. 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