A RT I G O D E R E V IS Ã O COQUELUCHE: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA COQUELUCHE: BIBLIOGRAPHIC REVIEW Vera Lúcia Venancio Gaspar1, Emanuelle Ferreira Xavier2, Yoriko Bacelar Kashiwabara3, Fernanda Lima Fernandes4 RESUMO ABSTRACT A coqueluche é uma doença aguda, causada pela Whooping cough is an acute disease caused by gram-negativa), the highly contagious Bordetella pertussis (gram- altamente contagiosa, que acomete o trato respiratório negative bacteria) which affects the respiratory e dissemina-se por meio de secreções das vias aéreas. tract and spreads through secretions from the upper O período de incubação da coqueluche varia, em airways. Pertussis’ incubation period ranges from 7 média, de 7 a 10 dias e evolui em três estágios: catarral, to 10 days on average and develops in three phases: tosse paroxística e convalescença. É considerada um catarrhal, paroxysmal cough and convalescence. It is problema de saúde pública e ocorre inclusive nos considered a public health problem that arises even países com alta taxa vacinal. No Brasil, de acordo in countries with a high vaccination rate. In Brazil, com dados disponibilizados pela Organização according to data provided by the World Health Mundial da Saúde, no período de 2010 a 2014, o Organization, in the period from 2010 to 2014, the número de casos foi o seguinte: em 2010 houve 477 number of cases was as follows: in 2010 there were 477 casos; em 2011, 2.257; em 2012, 5.400; em 2013, cases; in 2011, 2.257; in 2012, 5.400; in 2013, 5.211; 5.211; em 2014, 7.687. As complicações mais graves in 2014, 7.687. The most serious complications occur ocorrem em lactentes jovens que não iniciaram ou não in young infants who did not start or did not complete completaram o esquema vacinal contra coqueluche, the whooping cough vaccination schedule, running havendo risco de manifestar complicações mais graves the risk of showing more serious complications of da doença e inclusive risco de morte. O tratamento this disease, even death hazard. Antibiotic treatment com antibiótico deve ser instituído precocemente e should be initiated early and, preferably, prior to quando iniciado, preferencialmente, antes do início paroxysmal cough symptoms, which may influence on Bordetella pertussis (bactéria 1 Médica pediatra coordenadora do Programa de Residência Médica em Pediatria do Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga, MG, Brasil. 2 Médica residente em Pediatria do Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga, MG, Brasil. 3 Médica residente em Pediatria do Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga, MG, Brasil. 4 Médica residente em Pediatria do Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga, MG, Brasil. Autor correspondente: Vera Lúcia Venâncio Gaspar Rua Vênus, no438, Bairro Castelo, Ipatinga, MG. CEP: 35.160-076. Telefone: (31) 999251910. E-mail: [email protected] Artigo recebido em 06/09/2016 Aprovado para publicação em 08/10/2016 Revista Ciência e Saúde 43 Coqueluche: revisão bibliográfica da tosse paroxística, os resultados são melhores. O efficient results. The vaccine schedule should always esquema vacinal deve ser mantido atualizado, com be updated in order to reduce whooping cough o intuito de minimizar a ocorrência, a gravidade e a incidence, disease severity and dissemination. propagação da coqueluche. Keywords: Whooping Cough. Bordetella pertussis. Palavras-chave: Coqueluche. Bordetella pertussis. Prevention. Immunization. Prevenção. Imunização. INTRODUÇÃO Doença de etiologia infecciosa, de caráter agudo,1 1 ano; 1 ocorreu em criança da faixa etária de 1 a que acomete o trato respiratório, a coqueluche é muito 4 anos; 1 em pessoa adulta e 3 entre idosos de 70 e contagiosa, disseminando-se por meio de secreções 79 anos.7 Como os lactentes são mais susceptíveis às respiratórias.2 Considerada um problema de saúde formas graves, bem como à morte determinada pela pública, a coqueluche ocorre, inclusive, nas nações coqueluche, há necessidade de implementar ações com alta taxa vacinal.3 Embora tenha ressurgido visando à proteção, especialmente de crianças dessa nos últimos anos,4 as primeiras descrições de surtos faixa etária.8 da doença datam do século XVI, e o isolamento da Entre as explicações para o aumento da ocorrência Bordetella pertussis (Bp) – agente etiológico da da doença, incluem-se as variações genéticas da coqueluche – ocorreu em 1906.1 Bordetella pertussis, que comprometem a proteção A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou determinada pela vacina e a redução da imunidade que, no mundo, em 2008, ocorreram 89.000 mortes vacinal ao longo do tempo. Somam-se a esses fatos por coqueluche. Em 2014, foram relatados 139.786 os avanços tanto da vigilância epidemiológica casos, e a cobertura vacinal, com 3 doses da vacina quanto dos recursos laboratoriais para o diagnóstico contra difteria, tétano e coqueluche, foi estimada em de coqueluche; a identificação mais frequente da 86,0%. Contudo, visando à proteção dos lactentes, infecção em adolescentes e adultos que apresentam é necessário que, no planeta, 90,0% ou mais dessas manifestações clínicas atípicas;9 a baixa taxa vacinal crianças recebam 3 doses da vacina contra coqueluche, e a transmissão pelos portadores assintomáticos – de alto poder imunogênico.2 geralmente pessoas que receberam a vacina acelular 5 No Brasil, de acordo com dados disponibilizados contra coqueluche.10 pela OMS, o número de casos de coqueluche, no Mas, diante do ressurgimento da doença, ainda período de 2010 a 2014, foi o seguinte: em 2010, existem aspectos a serem esclarecidos, que se referem houve 477 casos; em 2011, 2.257; em 2012, 5.400; às ações dos responsáveis pela saúde da coletividade em 2013, 5.211; em 2014, 7.687. No período de 2010 e aos pesquisadores,10 devendo-se considerar que o a 2013, houve no país 240 óbitos por coqueluche, momento atual realça a necessidade de manter alta sendo que 235 ocorreram entre lactentes menores de taxa vacinal com as vacinas disponíveis.11 6 Revista Ciência e Saúde 44 Coqueluche: revisão bibliográfica EPIDEMIOLOGIA PERÍODO DE TRANSMISSIBILIDADE Coqueluche é uma doença infecciosa com alto O período de transmissibilidade de uma pessoa percentual de contagiosidade e, entre os contatos infectada pela Bp estende-se por volta de 21 dias, domiciliares, a transmissão pode atingir mais de sendo 7 dias correspondentes ao período catarral e 14 90,0% das pessoas susceptíveis. dias ao período inicial de tosse paroxística. Embora 9 Ocorre de forma endêmica no mundo, não poupando não haja portador crônico, nos lactentes, o período as áreas geográficas com alta cobertura vacinal. de eliminação da Bp pode ser mais prolongado.14 A Atinge, especialmente lactentes jovens de nações em transmissão para lactentes e crianças pode ocorrer, desenvolvimento e com menor percentual vacinal, também, a partir de pessoas infectadas pela Bp, enquanto, nas nações com alto poder aquisitivo, mesmo assintomáticas, ou que apresentam quadro acomete lactentes que ainda não completaram a idade clínico inexpressivo.9 para receber a vacina.12 A transmissão acontece predominantemente através FONTES DE INFECÇÃO da eliminação de gotículas de secreção respiratória, contudo pode acontecer, em menor escala, por meio Segundo Skoff et al, entre os casos de coqueluche de objetos recentemente contaminados por portadores diagnosticados em lactentes, nem sempre se consegue da Bordetella pertussis. identificar a fonte da infecção, porém a mãe tem 1 A coqueluche acomete pessoas das diversas faixas sido considerada como a principal transmissora. etárias,13 mas predomina em lactentes que ainda não Contudo, os autores identificaram a fonte em 43,6% receberam a vacina.4 dos lactentes. Os irmãos transmitiram para 35,5% dos lactentes doentes; as mães, 20,6%; os pais, 10,0%; ETIOLOGIA os avós, 7,6%; os tios, 6,5%; em creche, 4,6%; os primos, 4,6%; os amigos, 3,0%; entre outros.15 A coqueluche é causada por uma bactéria gram- Os profissionais das equipes de saúde pediátrica negativa, a Bordetella pertussis, encontrada na boca, frequentemente têm contato com pacientes portadores garganta e nariz da pessoa infectada.2 de coqueluche e, muitas vezes, as medidas de controle 9 e prevenção da infecção não são colocadas em prática PATOGENIA plenamente e em tempo oportuno. Nesse contexto, deve-se considerar que, se o profissional é acometido A aderência da Bp aos cílios das células epiteliais respiratórias, por meio da produção de toxinas, por coqueluche, poderá transmiti-la aos pacientes susceptíveis.16 paralisa-os, determinando inflamação do sistema Outro grupo que representa risco para transmissão respiratório, o que compromete a eliminação das da infecção são os habitantes de áreas com alto secreções respiratórias.1 percentual de liberação de imunização por motivos religiosos. Os casos de coqueluche acontecem Revista Ciência e Saúde 45 Coqueluche: revisão bibliográfica mais nas comunidades em que maior percentual de do estado geral. A tosse aumenta nos primeiros 7 a crianças deixam de vacinar. Deixar de vacinar as 14 dias do período paroxístico, mantêm-se por mais crianças representa risco não só para elas próprias, 14 a 21 dias e, em seguida, reduz progressivamente. mas também para outras crianças de seu convívio que As crises de tosse predominam à noite, ocorrendo, ainda não completaram a idade para receber a proteção aproximadamente, 15 episódios por dia.1 vacinal, para aquelas que têm contraindicação para a imunização e para as que já receberam as vacinas.17 No terceiro estágio – convalescença –, o paciente melhora progressivamente até desaparecer a tosse paroxística. A duração desse período varia entre 2 e QUADRO CLÍNICO 6 semanas, podendo prolongar-se por mais tempo.14 Se a pessoa que teve coqueluche contrair infecção A coqueluche, em suas manifestações clínicas, evolui de vias aéreas nos meses seguintes à doença, poderá em três estágios.18 Após o período de incubação, que voltar a apresentar tosse paroxística durante esses varia, em média, de 7 a 10 dias, com variação de 6 eventos.1 a 21 dias12 e, em raras ocasiões, podendo chegar a Quanto aos lactentes que contraem coqueluche 42 dias,18 iniciam-se os sintomas relacionados às nos primeiros 6 meses de vida podem apresentar vias aéreas superiores.12 Esse é o primeiro estágio – um período catarral breve, seguido por episódios de denominado catarral. A doença inicia-se de maneira engasgo, apneia12 e cianose.19 1 que sugere um resfriado comum; há coriza, espirros Crianças que receberam vacinas contra coqueluche, e tosse ocasional discreta que, progressivamente, se contraírem a infecção logo após a imunização, se intensifica,1 até chegar aos paroxismos que são, podem manifestar a doença com tosse discreta. As em geral, acompanhados por vômitos. Os pacientes manifestações clínicas da coqueluche em adolescentes podem não apresentar febre, mas quando ocorre, e adultos incluem tosse de evolução prolongada, que geralmente é baixa.12 Esse estágio tem duração pode ser ou não acompanhada de paroxismos.12 Dessa aproximada de 7 a 14 dias.18 forma, recomenda-se incluir a coqueluche entre as A hipótese diagnóstica de coqueluche habitualmente hipóteses diagnósticas quando há tosse prolongada, ocorre no segundo estágio – de tosse paroxística. A considerando que o diagnóstico, em momento criança manifesta episódios de tosse, inúmeras vezes, oportuno (sem atraso), e a instituição de medidas sugerindo que há dificuldade de eliminar secreções terapêuticas adequadas limitam a transmissão da das vias respiratórias. Crises de cianose, durante os doença para outras pessoas.13 Deve-se considerar, acessos de tosse, são observadas em alguns pacientes. ainda, que adolescentes e adultos parcialmente Ao término da crise de tosse, pode ocorrer uma imunizados podem ser assintomáticos.1 inspiração profunda. Vômitos costumam manifestar- Há mais dificuldade para os clínicos diagnosticarem se logo que termina a tosse paroxística. Passada a pacientes infectados pela Bp assintomáticos do que crise, os pacientes podem estar em condições clínicas aqueles que apresentam sintomas discretos, situação satisfatórias, mas os lactentes e as crianças pequenas particularmente observada em pacientes de faixas têm mais risco de apresentarem comprometimento etárias mais altas. O grupo assintomático, por não Revista Ciência e Saúde 46 Coqueluche: revisão bibliográfica apresentar manifestações clínicas, não é detectado DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL mesmo por médicos experientes. No grupo com sintomas discretos, há possibilidade de se diagnosticar a doença e implementar ações preventivas.10 As doenças de etiologia infecciosa que devem fazer parte do diagnóstico diferencial de coqueluche são aquelas causadas por Bordetella bronchiseptica, DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Bordetella holmesii, Bordetella parapertussis e Mycoplasma pneumoniae,20 além de adenovírus, No leucograma, observa-se leucocitose e linfocitose, Chlamydia pneumoniae e vírus sincicial respiratório.14 com contagem absoluta de linfócitos igual ou superior Outras afecções podem ser incluídas no diagnóstico a 10.000 por mm . Leucocitose muito elevada pode ser diferencial, como asma, aspiração de corpo estranho, encontrada em pacientes que apresentam coqueluche pneumonia aspirativa e refluxo gastroesofágico.20 3 mais grave.20 Entre os recursos laboratoriais para o diagnóstico, a COMPLICAÇÕES cultura de material obtido da nasofaringe por Swab, considerada padrão ouro, apresenta também ótima As complicações mais graves ocorrem em lactentes especificidade.1 O material para o exame deve ser jovens que ainda não iniciaram ou não completaram o colhido nos primeiros 14 dias de tosse; após esse esquema vacinal contra coqueluche, havendo risco de período, aumenta-se a possibilidade de resultado manifestar a doença, acompanhada de complicações falso-negativo.21 graves e risco de morte. As complicações mais A reação em cadeia da polimerase (PCR) tem ótima frequentes, no grupo de lactentes internados, são sensibilidade e especificidade variável. O material apneia (61,0%), pneumonia (23,0%), convulsões para a realização do exame deve ser obtido da (1,1%) e encefalopatia (0,3%).22 As pneumonias nasofaringe, preferencialmente no período de até 21 bacterianas são as complicações responsáveis pela dias a partir do começo da tosse, mas, até a quarta maioria das mortes associadas à coqueluche. A semana, o exame fornece resultados confiáveis. encefalopatia, predomina entre lactentes, podendo ser 21 As sorologias são indicadas, principalmente, em ocasiões em que é necessário constatar ou não a causada pela hipóxia determinada pela tosse ou ainda resultar do efeito da toxina.1 ocorrência de surto de coqueluche. O ideal é que Outras complicações observadas entre os lactentes o exame seja realizado entre 2 semanas e 2 meses, e crianças incluem alterações do sono, aparecimento a partir do início da tosse, mas esse prazo pode de hérnias, epistaxe, desidratação, inapetência e otite ser estendido até 12 semanas.21 Assim, os exames média. Ainda podem ocorrer hematoma subdural, sorológicos, em geral, são mais recomendados para hipertensão pulmonar, pneumotórax e prolapso retal.22 adolescentes e adultos em que a infecção já evolui O percentual de complicações diminui com a idade: há mais tempo, ocasião em que a cultura e a PCR pode atingir 41,0% dos lactentes com idade inferior a costumam ser negativas.1 3 meses, diminuindo para 16,0% no grupo de 3 a 12 meses.8 Revista Ciência e Saúde 47 Coqueluche: revisão bibliográfica No Brasil, no grupo de crianças que evoluiu para dispneia e pneumonia.25 óbito, as complicações mais frequentes foram O tratamento com antibiótico deve ser instituído desidratação, desnutrição, encefalite e pneumonia.23 o mais cedo possível. Quando iniciado antes de o As hospitalizações necessárias em, paciente manifestar tosse paroxística, os resultados lactentes com são melhores. Devido à rapidez da piora clínica que coqueluche, menores de 1 ano, e predominam no pode ocorrer em lactentes, o tratamento deve ser primeiro semestre de vida.22 considerado antes mesmo da confirmação diagnóstica, aproximadamente, são 50,0% dos As complicações observadas em adolescentes e por meio de exames laboratoriais, se a hipótese de adultos são, habitualmente, mais leves, principalmente coqueluche for embasada em dados clínicos e se naquelas pessoas que já receberam imunização. tratar de lactente jovem que apresenta mais risco de Complicações como emagrecimento, fratura de complicações.26 O uso precoce de antibióticos diminui costela, incontinência urinária, pneumotórax, prolapso a duração das manifestações clínicas da doença e retal e síncope, além de aparecimento de hérnia, também limita a transmissão da infecção para outras epistaxe, inapetência e otite média são observadas em pessoas.25 alguns pacientes.22 ANTIBIOTICOTERAPIA ÓBITOS Em geral, para crianças, é utilizado um dos seguintes No Brasil, a quase totalidade dos óbitos por antibióticos: coqueluche ocorre em crianças menores de 1 ano.7 Entre 1996 a 2013, dos 498 pacientes de até 19 anos • azitromicina: quando indicada para que evoluíram para óbito por coqueluche, 96,8% lactentes de até 5 meses,10 mg/kg em uma tinham menos de 1 ano de vida.24 dose diária, via oral, por 5 dias. A partir de 6 Ainda no Brasil, no período de 2007 a 2014, meses de idade, 10 mg/kg no primeiro dia e ocorreram 24.612 casos de coqueluche, sendo que continuar com 5 mg/kg/dia por mais 4 dias.14 528 evoluíram para óbito.23 • claritromicina: indicada para lactentes a partir de 1 mês de idade, 20 mg/kg/dia, de TRATAMENTO 12 em 12 h, via oral, durante 7 dias.14 • Em geral, lactentes com menos de 4 meses de idade devem ser hospitalizados, preferencialmente, em eritromicina: indicada para lactentes a partir de 1 mês de idade, 40 a 50 mg/kg/dia, via oral, de 8 em 8 horas, durante 7 dias.14 estabelecimentos de saúde que disponham de recursos de terapia intensiva. Justifica a internação o risco de os lactentes apresentarem agravamento rápido das Geralmente, para adultos, é utilizado um dos seguintes antibióticos: condições clínicas. Também devem ser internados os pacientes que apresentam apneia, cianose, convulsão, Revista Ciência e Saúde • azitromicina: 500 mg, 1 vez ao dia, via 48 Coqueluche: revisão bibliográfica oral, no primeiro dia; continuar com 250 mg, prevenção da coqueluche.8 via oral, 1 vez ao dia, por mais 4 dias.14 • claritromicina: 500 mg de 12 em 12 PROFILAXIA COM ANTIBIÓTICOS horas, via oral, durante 7 dias.14 • eritromicina: dose aproximada de Atenção especial deve ser dada aos lactentes no 1g/dia, dividida em doses de 8 em 8 horas, primeiro ano de vida, devido à alta morbimortalidade durante 7 dias.14 causada pela coqueluche nessa faixa etária. A A utilização de eritromicina em doses menores e antibioticoprofilaxia deve ser indicada, sem perda com duração de 7 dias causa menos manifestações de tempo, para os contatos próximos com pessoa adversas relacionadas ao trato gastrointestinal e portadora de coqueluche no prazo de até 21 dias, a oferece resultados semelhantes a outros esquemas partir da exposição, para os seguintes grupos:14 preconizados anteriormente.14 Recém-nascidos são susceptíveis a apresentar forma grave da doença associada a complicações e risco de morte, tornando necessário o uso de macrolídeos. • criança menor de 1 ano; 14 • gestante no último trimestre de gravidez;14 • pessoas que têm risco de apresentarem Contudo, o uso desses medicamentos em crianças coqueluche com manifestações clínicas graves menores que um mês sinaliza a necessidade de ou desenvolverem complicações.25 acompanhamento dos pacientes, devido ao risco de Quando a profilaxia pós-exposição for indicada, manifestarem estenose hipertrófica do piloro e/ou deve-se utilizar o mesmo antibiótico e a mesma dose outras manifestações adversas.26 recomendados para o tratamento.25 O uso de azitromicina é associado ao risco de alterações na atividade elétrica do coração, podendo IMUNIZAÇÃO ATIVA resultar em arritmia cardíaca, que pode ser fatal. Representa risco especialmente para pacientes São disponíveis, no Brasil, pelo Programa Nacional com prolongamento do intervalo QT, bradicardia, de Imunização (PNI), as seguintes vacinas contra hipocalemia, hipomagnesemia e para os que fazem pertussis: uso de alguns medicamentos antiarrítmicos.27 • DTP: vacina contra difteria, tétano A introdução da antibioticoterapia adequada reduz e coqueluche, cujo componente pertussis é o período de transmissibilidade da coqueluche para 5 preparado com células inteiras; recomendada dias, a partir do início do tratamento.18 para crianças de até 6 anos, 11 meses e 29 dias;28 PROTEÇÃO DOS CONTATOS • Pentavalente: DTP associada à vacina contra Haemophilus influenzae b e hepatite Manutenção do calendário vacinal atualizado, B;28 diagnóstico oportuno da coqueluche e instituição de • profilaxia antibiótica são medidas recomendadas na Revista Ciência e Saúde dTpa: vacina contra difteria, tétano e coqueluche, cujo componente pertussis é 49 Coqueluche: revisão bibliográfica acelular, recomendada para crianças de até 6 COMPARAÇÃO ENTRE AS VACINAS DTP E anos, 11 meses e 29 dias; DTPa 9 • dTpa: vacina acelular contra difteria, tétano e coqueluche, para crianças a partir de 7 anos e adultos. As vacinas de células inteiras e as acelulares oferecem resultados similares na prevenção de coqueluche nos 9 primeiros 12 meses de vida, mas observa-se redução VACINA CONTRA COQUELUCHE DE CÉLULAS INTEIRAS mais acelerada da imunidade quando se utiliza a forma acelular.19 A esse respeito, a avaliação de um grupo de adolescentes de 10 a 17 anos, que havia recebido No Brasil, a partir de julho de 2012, o PNI utiliza um total de 4 doses da vacina contra coqueluche as vacinas contra difteria, tétano, coqueluche (células nos 2 primeiros anos de vida, mostrou que os que inteiras), hepatite B e Haemophilus influenzae b receberam a vacina de células inteiras apresentaram contidas na vacina pentavalente. Recomenda-se, para imunidade melhor contra coqueluche em relação aos a prevenção de coqueluche, a utilização da vacina de que receberam vacinas acelulares.31 Essa observação células inteiras porque a proteção conferida por ela mostra a necessidade de aplicação de reforços com não é inferior à acelular, a produção é nacional, além a vacina acelular em crianças maiores e adultos que de o custo ser mais baixo. receberam a apresentação acelular.19 9 9 VACINA TRÍPLICE ACELULAR CONTRA COQUELUCHE ESQUEMA VACINAL BRASILEIRO CONTRA COQUELUCHE A faixa etária em que a vacina dTpa deve ser prescrita O esquema vacinal básico do Calendário Nacional de está compreendida entre 2 meses e 6 anos, 11 meses Vacinação consta de 3 doses da vacina pentavalente, e 29 dias,9 sendo a vacina dTpa recomendada para aplicadas aos 2, 4 e 6 meses de idade. Para as pessoas a partir de 7 anos. doses de reforço, que devem ser administradas aos 9 Após receberem a primeira dose da vacina dTpa, 15 meses e aos 4 anos, utiliza-se a vacina DTP.32 A entre 2 e 3 meses de idade, os lactentes desenvolvem Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda o imunidade que contribui para a prevenção de mesmo esquema vacinal que o PNI, contudo, indica, hospitalização por coqueluche. preferencialmente, a vacina dTpa.33 29 O risco de contrair coqueluche aumenta A idade mínima para iniciar a vacina, deve ser 6 progressivamente nos 6 anos seguintes à criança ter semanas de vida,19 e o limite máximo de idade para a recebido a quinta dose de vacina acelular, indicando criança receber a vacina DTP é de 6 anos, 11 meses que há redução da imunidade vacinal antes de a pessoa e 29 dias.28 Se houver atraso na aplicação das doses completar 11 a 12 anos de idade, época recomendada subsequentes, não é necessário reiniciar a vacinação para receber o reforço.30 e, sim, completar o esquema vacinal.19 É recomendada a aplicação de uma dose de reforço Revista Ciência e Saúde 50 Coqueluche: revisão bibliográfica com a dTpa para adolescentes entre 11 e 12 anos.34 Já VACINAÇÃO DURANTE A GRAVIDEZ a SBP indica, para adolescente, uma dose de reforço com a dTpa aos 14 anos.33 Estima-se que um percentual significativo de As gestantes também devem receber uma dose da dTpa, entre a 27ª e a 36ª semana de idade gestacional. lactentes com coqueluche é contaminado pela 32 mãe.35Assim, com vistas à prevenção da coqueluche De acordo com o Calendário Nacional de Vacinação, nos recém-nascidos e lactentes, a primeira medida é a a dTpa também está disponibilizada para profissionais vacinação das mulheres durante o período gestacional, da saúde que prestam assistência a recém-nascidos e o que determina a passagem passiva de anticorpos crianças no primeiro ano de vida, em maternidades para o filho.36 e em unidades de internação neonatal, inclusive unidades canguru.32 A dTpa, além de ser considerada segura para gestantes, possibilita a passagem de anticorpos contra coqueluche para o recém-nascido, protegendo-o RECOMENDAÇÕES PARA SITUAÇÕES ESPECIAIS no período em que ainda não completou a idade necessária para receber a primeira dose da vacina, ou seja, nos 2 meses iniciais de vida,18 idade em No momento atual, relativo à coqueluche, também que a morbimortalidade por coqueluche é mais é necessário implementar adequações no calendário elevada.37Outra vantagem de a gestante ser vacinada vacinal, visando, especialmente, à proteção dos ainda durante a gravidez é receber orientações sobre a lactentes.4 doença e recomendar a imunização para os familiares e pessoas próximas que terão contato com o recém- PREMATUROS nascido e que também devem ser vacinados antes da data prevista para o parto.37 Os prematuros devem receber vacina contra A vacina recomendada para gestantes é a dTpa, coqueluche ao atingirem a idade cronológica que deve ser aplicada, preferencialmente, entre a 27ª recomendada para a vacinação das crianças nascidas semana e a 36ª semanas de gravidez. Se a grávida a termo, desde que estejam com os parâmetros não receber a vacina durante a gestação, ela deve clínicos estabilizados. É necessária atenção especial ser vacinada no pós-parto, antes da alta hospitalar.1 aos pré-termos, principalmente àqueles cujo peso A mulher deve receber uma dose da dTpa em todas de nascimento foi inferior a 1.500 g, considerando as gestações.35 que podem manifestar apneia e bradicardia após a Uma das propostas para aumentar a adesão das vacinação. Se ainda estiverem hospitalizados, na gestantes relutantes em receber a vacina dTpa consiste ocasião em que recebem a primeira dose da vacina, em esclarecê-las acerca dos riscos da coqueluche devem ser monitorizados por um período de 48 para o filho e da segurança da imunização durante o horas. período gestacional.38 18 Revista Ciência e Saúde 51 Coqueluche: revisão bibliográfica a aplicação da vacina; VACINAÇÕES ADICIONAIS − rido após a aplicação da vacina; A Academia Americana de Pediatria acrescenta as − seguintes recomendações para a vacina dTpa: • • Encefalopatia que tenha ocorChoque anafilático; Pessoas com 7 anos ou mais.28 Recomenda-se a aplicação de uma dose da dTpa para crianças e adolescentes, da Contraindicações da vacina dTpa faixa etária de 7 a 10 anos, que não tenham o calendário vacinal atualizado ou se a situação situações específicas: vacinal for desconhecida. • A vacina dTpa está contraindicada nas seguintes Adultos, mesmo os que têm mais • Ocorrência de choque anafilático de 65 anos, profissionais da área da saúde, causado por aplicação da vacina pentavalente, cuidadores e pessoas adultas que convivem DTP, dTpa, dTpa, dupla infantil (DT) e dupla ou planejam convívio próximo com lactentes adulto (dT);9 menores de 1 ano devem receber uma dose da • Encefalopatia que tenha surgido após dTpa desde que ainda não tenham recebido a a aplicação da vacina pentavalente, DTP ou vacina.39 dTpa; 9 • CONTRAINDICAÇÕES DAS Pessoas a partir de 7 anos de idade.9 VACINAS Há necessidade de novas vacinas, capazes de CONTRA COQUELUCHE oferecer mais proteção contra a coqueluche,4 tendo Contraindicações das vacinas pentavalente e DTP em vista que a imunidade obtida, hoje em dia, com as vacinas disponíveis diminui ao longo do tempo.9 A vacina pentavalente e a DTP estão contraindicadas Deve-se considerar, ainda, que as vacinas acelulares conduzem a um menor poder imunitário e a sua duração nas seguintes situações específicas: 28 da imunidade é mais curta quando comparada com as • Crianças que têm afecções neurológicas em atividade; • Crianças que, após receberem dose prévia da vacina com os componentes da pentavalente, manifestaram: − Convulsões que tenham ocor- rido até 72 horas após a aplicação da vacina; − Reação hipotônico-hiporres- ponsiva observada até 48 horas após Revista Ciência e Saúde vacinas produzidas com células inteiras. A utilização de reforços pode ser capaz de limitar as epidemias no período em que prosseguem as pesquisas acerca de melhores vacinas.40 REFERÊNCIAS 1. Centers for Disease Control and Prevention. Epidemiology and Prevention of Vaccine-Preventable Diseases. [publicação online]. Atlanta; 2015a.[acesso em 11 dez 2015].Disponível em: <http://www.cdc.gov/vaccines/pubs/pinkbook/downloads/pert.pdf> 52 Coqueluche: revisão bibliográfica 2. World Health Organization. Immunization, vaccines and biologicals. Pertussis. [publicação online]. Brussels; 2015a. [acesso em 26 jun 2015]. Disponível em: <http://www.who.int/immunization/diseases/pertussis/ en/> 3. World Health Organization. Biologicals. Pertussis. [publicação online]. Brussels; 2015b. [acesso em 20 jun 2015]. Disponível em: <http://www.who.int/biologicals/vaccines/pertussis/en/> 4. Torres RSLA, Santos TZ, Torres RAA, Pereira VVG, Fávero LAC, Muniz Filho et al. 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