O PROFESSOR DIANTE DE ALUNOS COM CONDUTAS TÍPICAS SILVA, Anne Karoline O. F. da Graduanda do 2º ano de Pedagogia- UFMT [email protected] RESUMO O presente artigo é fruto de um dos temas abordados pela disciplina optativa Educação Especial, ministrado co curso de Pedagogia da Universidade Federal de Mato Grosso. O propósito desse artigo é abordar o conceito de condutas típicas, que são “manifestações comportamentais típicas de portadores de síndromes e quadros psicológicos, neurológicos ou psiquiátricos que ocasionam atrasos no desenvolvimento da pessoa e prejuízos no relacionamento social, em grau que requeira atendimento educacional especializado”. O termo “condutas típicas” se refere a uma variedade muito grande de comportamentos, o que tem dificultado o alcance de consenso em torno de uma só definição. . Há crianças cujo padrão comportamental encontra-se na primeira categoria, apresentando comportamentos voltados para si (egocentrismo), tais como: fobias, automutilação, alheamento do contexto externo, timidez, recusa em verbalizar. Já com crianças cujo padrão comportamental encontra-se na segunda categoria, estas manifestam comportamentos voltados para o ambiente exterior, tais como: agredir, faltar com a verdade, roubar, gritar, falar ininterruptamente, locomover-se o tempo todo, etc. O grau de severidade desses comportamentos vai depender de variáveis tais como sua freqüência, sua amplitude e sua duração. Sabemos que nenhuma criança com Condutas Típicas é idêntica à outra, cada qual apresenta particularidades e especificidades inerentes a cada caso. Nesse sentido a relação professor/aluno necessita basear-se no conhecimento que se tem sobre as Condutas Típicas e as características individuais dos alunos, de maneira afetiva, assim como apregoavam grandes pensadores, como Piaget e Pestalozzi, abolindo toda forma de preconceito e estimulando o respeito mútuo. O professor é o elemento - chave na escola, no sentido de traçar os rumos da educação e do desempenho dos alunos. Isto porque a contemporaneidade exige que ele tenha consciência de que lida com individualidades, com seres diferentes e originais, que têm múltiplas possibilidades. Nessa perspectiva, os alunos de uma classe não podem ser considerados como uma massa amorfa, sem identidade, sem nome. A Educação Especial exige um olhar criterioso em relação às diferenças, para que estas não se tornem motivo de exclusão. Palavras – chaves: Condutas Típicas, Comportamento, Professor, Aluno, Educação Especial. Os distúrbios de atenção e as variedades de comportamentos ocorrem quando os alunos apresentam dificuldade em concentrar-se na execução de qualquer atividade, embora atendam os estímulos relevantes, não conseguem manter a atenção a eles pelo tempo requerido pela atividade (BUENO, 1993). Outros, ainda, selecionam e respondem somente a aspectos restringidos da realidade, como por exemplo, crianças que não respondem a nada, mas avisam ao professor cada vez que um determinado colega se levanta da carteira. Sendo que a criança hiperativa apresenta essencialmente uma inaptidão em controlar sua destreza de acordo com as cobranças nas variadas situações. Assim, apresenta uma constante mobilidade e agitação motora, o que também se torna um grande obstáculo para ação, ou para cumprir uma tarefa. Já a criança impulsiva apresenta respostas praticamente imediatas perante uma situação de estímulo, não parando para pensar, refletir, analisar a situação, para tomar uma decisão e então se manifestar, por meio de uma ação motora ou verbal. Por outro lado, em sua manifestação mais severa, encontram-se crianças que não fazem contato com a realidade, parecendo desenvolver e viver em um mundo paralelo, à parte da realidade. Não existe um padrão único de comportamento denominado conduta típica. É grande a variedade de comportamentos englobados sob esse rótulo, seus causadores são variados, podendo ser de natureza biológica, psicológica, comportamental e/ou social. A esse respeito Hardman diz, (1993, p. 148) que as causas debatidas variam de acordo com a habitação teórica sobre o assunto em questão. Assim, considera-se: Como causas biológicas, a herança genética, as anormalidades bioquímicas, as anormalidade neurológicas, as lesões no sistema nervoso central. Como causas fenomenológicas, o conhecimento equivocado sobre si mesmo, o uso inadequado de mecanismos de defesa, sentimentos, pensamentos e eventos subjetivos. Como causas psicológicas, os processos psicológicos, o funcionamento da mente (id, ego e superego), as predisposições herdadas (processos instintivos) e experiências traumáticas na primeira infância. Como causas comportamentais, eventos ambientais, tais como: Falha na aprendizagem de comportamentos adaptativos, aprendizagem de comportamentos não adaptativos e o desenvolvimento de comportamentos não adaptativos por circunstâncias ambientais estressantes. Como causas sociológicas/ecológicas, a rotulação, a transmissão cultural, a desorganização social, a comunicação destorcida, a associação diferencial, e interações negativas com outras pessoas. Agressividade Física e Verbal A agressividade física ou verbal se configura em atitudes maléficas direcionadas ao próprio indivíduo ou aos outros que o rodeiam. Consiste em gritar, xingar, usar linguagem abusiva, ameaçar, fazer declarações autodestrutivas, bater, beliscar, puxar os cabelos, restringir fisicamente, esmurrar, dentre outros comportamentos, passando ser considerado conduta típica quando sua intensidade, frequência e duração ultrapassam o esporádico. Ela pode variar desde manifestações negativistas, mal humoradas, até atos de agressividade, brutalidade, destruição, causando prejuízos físicos a si próprio e/ou a outras pessoas (PAULA, 2010). O Professor Conforme Paula (2010), geralmente, o professor é a primeira pessoa a observar comportamentos não adequados verificados no aluno, e a solicitar orientação para a equipe técnica e a direção da unidade escolar, para que sejam providenciados encaminhamentos para profissionais especializados, quando necessário. O ensino deve ser individualizado, norteado por um plano de ensino (Currículo) que reconheça as necessidades educacionais especiais do aluno, o que está aprendendo na escola, com as situações do cotidiano, que as atividades pedagógicas ocorram em um ambiente que por si só seja significativo e estável para o aluno. Segundo Paula (2010), os cuidados básicos no processo ensino – aprendizagem consistem em: Discutir sempre com a equipe técnica a busca de estratégias que sejam efetivas e realistas para o caso em questão. Pedir ajuda aos profissionais da equipe técnica sempre que necessitar de apoio, ou se sentir inseguro. Cooperar com os pais, usando na sala de aula os mesmos procedimentos recomendados pelos terapeutas e usados em casa (quando a família é participante do processo de intervenção). Estabelecer claramente com os alunos da sala, as regras de participação verbal na aula, dando oportunidades dos alunos praticarem o desejável, mostrando ao aluno claramente quando seu comportamento está sendo cooperativo. Antecipar a movimentação do aluno, encaminhando-se para perto dele, quando prestes a sair de sua carteira e perguntar o que deseja. É importante encorajar a interação social de colegas com eles. Devem ser incentivados e elogiados pelas iniciativas e designar o aluno para realizar uma atividade em um grupo, dando a ele tarefas específicas que exijam a cooperação. Parear o aluno retraído com um parceiro mediador, de forma que este possa lhe oferecer modelos adequados de participação, e que o aluno possa ser beneficiado quando apresentar comportamento semelhante. Estabelecer, juntamente com os alunos, padrões de conduta para a convivência coletiva, bem como a definição de conseqüências para o cumprimento ou o descumprimento do acordado pelo grupo. Usar uma dica que chame a atenção dos alunos, antes de lhes apresentar uma informação verbal importante (“Escutem! Prontos?” ou “Está na hora de começar!”). Agrupar os alunos em formato de semicírculo, ou de U, para favorecer que todos possam manter contato visual com o professor. Usar a proximidade física para encorajar a atenção dos alunos. Reduzir a previsibilidade de suas ações, variando a forma de apresentação das lições. Ajudar seus alunos a organizar seu horário, suas atividades na sala de aula, seu material de trabalho, sua carteira, etc. Apresentar orientações para as tarefas tanto verbalmente, como por Encorajar os alunos impulsivos a “pensar” antes de falar ou fazer. escrito. Estratégias de Apoio Pais/Professores Perseverança. Ter conhecimento do distúrbio e suas complicações. Manter-se numa posição de intermediação entre a escola e outros grupos. Cuidar para que os pedidos ao filho sejam feitos de maneira positiva ao invés de negativa. As intervenções utilizadas no tratamento das condutas típicas consistem em diferentes tipos de terapia, tais como terapia fenomenológica, ludoterapia, psicoterapia de grupo, terapia comportamental, terapia familiar e conjugal e terapia medicamentosa, tanto para criança, como para seus pais, bem como diferentes ações educacionais implementadas na sala de aula (MEC, 2002) Conforme afirmativa de Silva (2001): é preciso que o professor compreenda que as individualidades encontram-se inseridas em um meio social, em permanente interação com seus pares, exercendo e recebendo influências diversas de todas as pessoas, do ambiente a que pertencem, do próximo e do distante, do micro e do macro contexto social (p. 51 ). O professor é a figura central no processo de aprendizagem, pois além de perceber em sua classe crianças com necessidades educativas especiais de condutas típicas ou de altas habilidades, tem que estar capacitado, para trabalhar com essas crianças, ou encaminhá-las para que recebam atendimento adequado e tenham garantida a oportunidade de atingir e manter um nível satisfatório de aprendizagem. Entretanto, não podemos deixar de enfatizar que a atuação do professor depende também de uma ação vigorosa do Governo, para expandir as políticas educacionais a fim de que as crianças sobre as quais façamos referência, sejam beneficiadas. O que tem acontecido é que em inúmeras escolas, o professor acaba aprendendo na prática, com a didática do aprender a fazer fazendo ou, o que é muito pior, nada faz para que a criança se desenvolva de acordo com suas necessidades, o que representa uma omissão educacional inadmissível (SILVA, 2001). Segundo Mutschele (l996) a escola é um dos grupos sociais que por mais tempo, mantém contato sistematizado com indivíduos em desenvolvimento. Daí a sua responsabilidade em favorecer o processo da evolução através da ação integrante de todos os aspectos do viver, com a finalidade de assegurar a consistência e o equilíbrio pessoal. (p. 71). Assim, conscientizando-se da importância do seu papel enquanto educador, de forma acertada, no atendimento eficaz a esses sujeitos, o professor estará contribuindo para que a escola se transforme num ambiente de socialização da criança portadora de necessidades especiais, tornando-se um elemento integrador não só de aprendizagens, mas de seres humanos que poderão ser capazes de se perceberem como pessoas e conviverem socialmente, livres do estigma da discriminação. Considerações Finais Compreendemos que o perfil do educador comprometido com a inclusão de seus alunos, necessita estar vinculado aos valores éticos, com sólida formação acadêmica e teórica, com uma postura observadora, questionadora e humanista. Procurando parcerias com outros profissionais para diagnosticar e saber trabalhar com esses comportamentos, em consonância com a família que possui o poder de decidir ou não por uma intervenção ou tratamento. Cabe ainda ao professor estar em constante formação continuada, analisar suas práticas de planejamento, implantar e avaliar programas, planos e projetos de atendimento individual especializado, incentivando a participação de toda a comunidade escolar no processo educacional. E à instituição escolar cabe a tarefa imprescindível de subsidiar as práticas pedagógicas de seus educadores nesse processo de inclusão. Referências BRASIL. Projeto Escola Viva - Garantindo o acesso e permanência de todos os alunos na escola - Alunos com necessidades educacionais especiais, Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, MEC 2002. BUENO, J. G. S. Educação especial brasileira: integração/segregação do aluno diferente. São Paulo: EDUC, 1993. CARVALHO, R.E. Removendo barreiras para a aprendizagem: educação inclusiva. Porto Alegre:Mediação, 2000. HARDMAN, M. L., Drew, C.J., Egan, M. W. e Wolf, B. Human Exceptionality. Boston: Allyn and Bacon, 1993. MUTSCHELE, W. Psicologia educacional. Rio de Janeiro: Editora Agir, 1996. PAULA, Reinaldo de. Condutas Típicas. Disponível em http://www.piamartamontese.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id =55&Itemid=31. Acesso em 19/09/2010. SILVA, M.M.P. da. O Portador de altas habilidades na visão de professores da educação infantil e do ensino fundamental. 2001. Dissertação (Mestrado) - UNESA, Rio de Janeiro, 2001. (CDD 371.95). Registro nº. 231.268 Livro: 407. Folha: 428. Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura, RJ 22 / 05 /2001.