a importância da estabilidade monetária

Propaganda
Rio, 30.09.2010
Ernane Galvêas
A IMPORTÂNCIA DA ESTABILIDADE MONETÁRIA
Ao fixar o objetivo de controlar
e manter a inflação em torno de 4,5%, o
CMN transmite ao mercado um forte
sentimento de segurança e de certeza de
que o Governo está comprometido com
a estabilidade dos preços. Por isso
mesmo, é fundamental que as políticas
monetária e fiscal sejam executadas em
uníssono, para evitar medidas de
radicalização de um lado, quando o
outro se afasta do objetivo. Ou seja, se a
política fiscal, de gastos do Governo, se
afasta da curva de equilíbrio, é
indispensável o endurecimento da
política monetária, para compensar. E
vice-versa.
metas de inflação”, mas todo mundo
sabe que há um compromisso do
Governo, como um todo, em assegurar
o nível mais baixo possível da inflação.
O que tem conseguido.
ECONOMIA POLÍTICA
Inegavelmente, 2010 apresentou
todos os sinais de que será um ano
excepcional para a economia brasileira,
com um crescimento possível do PIB da
ordem de 7%. A agricultura vai bem,
com uma safra recorde de 148 milhões
de tons. de grãos; a indústria recuperouse da crise de 2008/09 e deverá crescer
11,4%; o comércio de bens e serviços,
que não teve crise, está crescendo cerca
de 10,1% acima do ano passado; o
turismo
cresce
fortemente;
as
exportações, após caírem -22,7% em
2009, deverão crescer 30% em 2010; as
importações crescem 46%, mais do que
na China. O desemprego caiu e o
emprego aumentou, assim como a
massa salarial. Evidentemente, essa
prosperidade econômica resulta das
condições externas, comandadas pela
China, que impulsionaram a expansão
das nossas exportações desde 2002 e
enriqueceu a economia nacional pela
elevação dos preços das nossas
commodities de exportação. Uma força
expansionista de origem externa. O
mesmo está acontecendo com a
Argentina, cujo PIB cresceu 11,8%, no
2º trimestre/2010. O problema mais
sério é a falta de ética na política, que
está degradando a administração pública
e a democracia. Os escândalos políticos
podem acabar comprometendo a
segurança jurídica e, daí, a
estabilidade econômica e social. Esse
Esse é, em verdade, o caso do
Brasil, onde, sob a orientação do
Governo, se pratica uma expansão de
crédito
incompatível
com
as
expectativas do Banco Central. Na
medida em que o Governo absorve uma
parcela cada vez maior dos recursos
disponíveis no mercado financeiro
doméstico, o sistema privado, para
sobreviver à concorrência, aceita pagar
taxas de juros mais altas para conseguir
maior captação. Isso é lógico, mas
irracional.
Para quebrar esse estado de
incertezas, é preciso que o Banco
Central se abstenha de transmitir ao
mercado sinais de inquietação, como
acontece, frequentemente, em relação às
expectativas criadas em função das
reuniões do COPOM. O mesmo
acontece nos Estados Unidos, com o
Open-Market Committee(OMC) do
FED, constantemente acusado de ser o
responsável pela alta volatilidade do
mercado e até mesmo pelas crises. Nos
Estados Unidos não há um “sistema de
-1-
As vendas de veículos novos,
segundo a Fenabrave, tiveram expansão
de
8,7%
no
acumulado
de
janeiro/setembro. A indústria de bens
de capital registrou alta de 1,92% no
faturamento de agosto, acumulando no
ano +12,8%, com importações de US$
5,6 bilhões. A produção de aço atingiu
2,9 milhões de tons. em agosto (+1,2%),
com alta de 40,5% no acumulado do
ano (22,1 milhões de tons.). A indústria
de petróleo chegou a 2,078 milhões de
b/d, 6% acima de agosto/09. O consumo
de gás natural atingiu 77,6 milhões de
m³/dia, em setembro, mais 70% do que
no mesmo período de 2009. A indústria
química faturou +13,04% em agosto,
acumulando +8,9% em oito meses
(Abiquim) e a de materiais de
construção +16,93% (Abramat). O
consumo de energia elétrica cresceu
7,1% em agosto, com expansão
acumulada no ano de 9,2%. A forte seca
no País reduziu substancialmente os
reservatórios das hidrelétricas e o
Governo está recorrendo fortemente à
geração termelétrica.
desgaste, como dizia Roberto Campos,
não é importado, é “made in Brazil”.
ATIVIDADES ECONÔMICAS
Segundo
os
indicadores
econômicos do IBGE, Banco Central,
FGV, IPEA e outras fontes, a economia
nacional continua firme, com expansão
do PIB de 0,24% em julho (BC) e
expectativa de ultrapassar 7,5% no final
do ano (Boletim Focus). Após dois
meses estagnado, o Índice de Atividade
Econômica do BC (IBC-Br) reagiu em
julho, após ligeira retração de 0,09%
em maio e queda de 0,03% em junho.
Indústria
A paralisação técnica nas
refinarias de petróleo fizeram com que a
produção industrial caísse 0,1% em
agosto em relação a julho, o que
configura estabilidade. Em relação a
agosto do ano passado, a produção
cresceu 8,9%, acumulando altas de
14,1% no ano e de 9,9% em 12 meses.
O índice de confiança da
indústria, segundo a FGV, subiu 0,4%
em setembro, após haver caído 0,6% em
agosto, mas caiu 0,6%, segundo a CNI.
Na cidade de São Paulo, as vendas de
imóveis novos caíram 5,4% em
julho/junho (Secovi-SP).
Segundo a CNI, o faturamento
da indústria em agosto caiu 0,3% ante
julho, mas o acumulado no ano
apresenta forte alta de 11,5%.
A Sondagem Industrial da CNI
indicou aceleração industrial em agosto,
com elevação do índice de 53,4 em
julho para 55,1. Dos 26 setores
pesquisados, apenas um (borracha)
apresentou resultado negativo. Também
a FGV aponta no mesmo sentido,
indicando que a produção industrial deu
um salto entre julho e setembro. Na
industria paulista, o INA da FIESP
indica alta de 0,4% em agosto ante
julho e +12,3% no acumulado do ano,
com 82,4% de utilização da capacidade
técnica. Entretanto, o índice de vendas
caiu de 54,1 pontos em agosto para 50,9
em setembro.
A Chery, maior fabricante de
automóveis da China, oficializou seu
projeto de abrir uma fábrica em JacareíSP, um investimento de US$ 400
milhões para produzir 150 mil carros
por ano.
Comércio
Segundo a Serasa, as vendas do
comércio varejista cresceram 10% no
período janeiro a setembro, com
destaque para material de construção
2
(+16,8%), móveis e eletroeletrônicos
(+15,9%) e veículos (+14,6%). A
expansão
foi
puxada
pelos
supermercados, que subiram 1,2% em
agosto sobre agosto/09. Nos oito meses
até agosto, o faturamento cresceu 4,7%
e as vendas 6,8%, segundo a Abras.
pessoas jurídicas caiu 4,2% em relação
a julho e 7,2% sobre agosto/09.
Agricultura
Os preços dos produtos agrícolas
dispararam no 3º trimestre, com
destaques para soja, milho, trigo, café,
açúcar e algodão, que atingiram os
níveis mais altos do ano. O preço do
algodão, na Bolsa de New York, subiu
de US$ 73,01/libra em 20/7 para US$
106,4 em 28/9, estimulando uma corrida
para novos plantios. O clima favorável
produziu um aumento de produtividade
de mais de 10%.
Levantamento
da
Sebrae
informa que, em julho, o faturamento
das micro e pequenas empresas (MPEs)
teve alta de 3,7%, ante junho e de 9,5%
ante julho/09.
No Distrito Federal, segundo a
Fecomércio-DF, as vendas de agosto
subiram
7,4%
sobre
agosto/09,
acumulando no ano 8,6%. Pesquisa
coordenada pela CNC informa que a
intenção de consumo das famílias
cresceu
0,6%
em
setembro,
consolidando alta pelo quinto mês
consecutivo, com +1,7% de aumento
acumulado no 3º trimestre, com cerca
de 60% de famílias endividadas. Em
São Paulo, segundo a Fecomércio-SP,
esse endividamento é de 50,9%, com
14,7% em atraso. A confiança do
consumidor, segundo a FGV, teve alta
de 0,7%, igual a de agosto.
O IBGE reestimou a safra de
grãos 2009/10 em 147,1 milhões de
tons., mas já se pensa na possibilidade
de chegar a 149 milhões. Entretanto, o
clima muito seco ainda poderá
prejudicar as colheitas, inclusive
retardar o plantio de soja. A seca está
fazendo baixar o nível dos rios,
especialmente na Amazônia, nas regiões
do Pantanal e dos Rios Negro e
Madeira. Também estão sendo afetadas
as regiões do Rio Paraná e o interior do
Estado de São Paulo, com possível
quebra na safra de laranjas.
A ABIH-RJ informa que
chegaram a 85% as reservas nos hotéis
do Rio, para o réveillon e o carnaval.
Em São Paulo, em agosto, a ocupação
hoteleira chegou a 75,3%.
Mercado de Trabalho
Entre julho e agosto, segundo o
IBGE, o desemprego caiu de 6,9% para
6,7%, nível de queda recorde desde
2002, conforme dados pesquisados nas
seis maiores regiões metropolitanas.Em
agosto, o rendimento real médio dos
trabalhadores aumentou 1,4% em
relação a julho e 5,5% em 12 meses,
período em que a massa de renda real
cresceu 8,85%.
O comércio eletrônico no País
subiu 41,2% no período janeiro/julho,
com destaque para São Paulo: +41%.
A Fecomércio-RJ informa que,
em agosto, chegou a 45% a parcela de
famílias com excedente orçamentário.
Segundo
a
Serasa,
a
inadimplência com cheques sem fundos
ficou em 1,62% em agosto e a de
Pesquisa do Dieese, mostra que
o rendimento médio real dos
trabalhadores em sete regiões do país
subiu 1,8% em julho, chegando a R$
3
1.289. Para
os
assalariados,
o
incremento foi de 1,5%, atingindo R$
1.340. A massa salarial cresceu 1,9%.
tendência de baixa sinalizada em todos
os índices de preços, como o
IPCA/IBGE, o IPC/FIPE e o
ICV/DIEESE.
Contrariamente,
os
preços no atacado estão em alta, como
pode ser visto pelo IGP-M/FGV e o
IGP-DI/FGV. Nesse período, observase uma baixa nos preços dos produtos
industrializados, devido, em grande
parte, às importações favorecidas pela
taxa de câmbio valorizada, que
neutraliza, de algum modo, as cotações
mais elevadas das commodities no
mercado internacional.
Segundo a Caged, o saldo
líquido de empregos criados em agosto
foi de 299.415, com destaque para o
Setor de Serviços, com mais 128.232
vagas.
A taxa de desemprego nas sete
regiões avaliadas pelo Dieese caiu de
12,4% em julho para 11,9% em agosto.
Houve queda em todas as regiões e o
nível de ocupação cresceu em Salvador
(2,6%), Recife (2,3%), Fortaleza
(1,7%), Porto Alegre (0,9%) e São
Paulo (0,4%).
A partir deste mês de setembro,
nota-se uma tendência de alta nos
preços dos alimentos; o óleo de soja
passou de -0,01% em agosto para +5,08
em setembro; o açúcar de -8,1% para
+4,83%; as frutas de 0,82% para 3,17%;
a farinha de trigo de 0,70% para 2,51%.
O grupo de produtos não alimentícios
subiu 0,31% no IPCA-15 de setembro
ante 0,14% em agosto, segundo o
IBGE. A alta do preço da gasolina
passou de 0,31% em agosto para 0,77%
em setembro.
Setor Financeiro
A
liquidez
no
mercado
financeiro continua alta e em expansão.
Em agosto, o papel-moeda emitido
aumentou 2,5% e os meios de
pagamento (M1) 3,4%, enquanto os
depósitos compulsórios dos bancos
junto ao Banco Central cresceram R$
10 bilhões.
Pressionado
pelos
preços
agrícolas, o IGP-M/FGV teve alta de
1,03% em setembro, ante 0,55% em
agosto, enquanto os manufaturados
foram beneficiados pela valorização de
3,52% da taxa de câmbio. Na
comparação
entre
agosto/09
e
agosto/10, houve aumento de 168,2%
no minério de ferro, 59,5% nos
semimanufaturados
da
indústria
siderúrgica, 49,6% nos laminados
planos, 50,6% nos couros, etc. O índice
nacional do custo de construção (INCCM) teve alta de 0,22% em agosto e
0,20% em setembro.
Os
empréstimos
bancários
aumentaram
2,2%
em
agosto,
acumulando 11,9% no ano e 19,2% em
12 meses, sendo +24,4% nos bancos
oficiais. O saldo dos empréstimos para
as empresas ligadas ao setor imobiliário
atingiu R$ 69 bilhões em julho, além de
R$ 116 bilhões de empréstimos às
famílias.
O CMN, no final de setembro,
decidiu manter a TJLP inalterada em
6% ao ano.
Inflação
Segundo a Fecomércio-RJ, o
preço da cesta básica caiu 0,46% em
agosto, frente a julho.
Como vimos em nossas Cartas
anteriores, a inflação no varejo vem,
desde junho, apresentando uma
4
Importante: Pela última Ata do
Copom, observa-se que o Banco
Central começa a perceber que a taxa
SELIC não tem força no controle da
inflação, mas, ainda assim, considera
que “as pressões inflacionárias são
contidas com mais eficiência por meio
de ações da política monetária” (?).
Vejamos a seguinte “pérola” contida na
Ata:
Setor Externo
Em setembro, as exportações
chegaram a US$ 18,8 bilhões e as
importações
US$
17,7
bilhões,
acumulando no ano, respectivamente,
US$ 144,9 bilhões e US$ 132,2 bilhões.
O saldo da balança comercial alcançou
US$ 12,8 bilhões, ante US$ 21,2
bilhões no mesmo período do ano
passado. No período janeiro/agosto, o
déficit em C/Correntes atingiu US$ 31,1
bilhões, devido, basicamente, aos
resultados negativos dos itens Serviços
(US$ 19,1 bilhões) e Rendas (US$ 25,7
bilhões), com destaques para os gastos
em viagens e turismo (US$ 9,9 bilhões),
remessas de juros (US$ 10,2 bilhões) e
de lucros e dividendos (US$ 19,7
bilhões).
“As
estimativas
mais
pessimistas sobre o nível atual
da taxa de juros real neutra
tendem, com probabilidade
significativa, a não encontrar
amparo nos fundamentos” (!?)
Setor Público
As despesas do Governo
dispararam de janeiro a agosto e
levaram as contas do governo central a
um déficit nominal de R$ 76,0 bilhões,
resultado de um superávit primário de
R$ 47,8 bilhões para pagar R$ 123,8
bilhões de juros. Com esse resultado, a
dívida interna bruta chegou a R$
2.034,9 bilhões (59,4% do PIB), um
acréscimo de R$ 61,5 bilhões sobre
dezembro/09. A dívida mobiliária em
agosto registrou alta de R$ 15,5 bilhões
sobre julho e R$ 126,2 bilhões sobre
dezembro/09.
Os investimentos estrangeiros
diretos (IED) chegaram a US$ 24,3
bilhões, superando os US$ 17,5 bilhões
ingressados no mesmo período do ano
passado. A dívida externa chegou a US$
318,6 bilhões (com US$ 83,3 bilhões
intracompanhias), um aumento de US$
9,0 bilhões sobre junho e de US$ 41,1
bilhões sobre dezembro/09. As reservas
cambiais se elevaram a US$ 275,0
bilhões, no final de setembro. O
Governo, os bancos e as grandes
empresas
brasileiras
continuam
levantando empréstimos no exterior da
ordem de mais de US$ 30 bilhões, até
setembro. Os estrangeiros entraram com
R$ 21 bilhões no total de R$ 120
bilhões de capitalização da Petrobrás.
Somente em setembro, nove empresas
brasileiras lançaram bônus no valor de
US$ 8,9 bilhões.
Para possibilitar a capitalização
da Petrobrás, o Governo emitiu MP que
autoriza a entrega ao BNDES de R$ 30
bilhões de Títulos do Tesouro, em
condições idênticas à entrega dos R$
180 bilhões anteriores.
Com a antecipação do 13º
salário aos aposentados e o pagamento
da diferença do reajuste dos benefícios
retroativo a janeiro, o déficit da
Previdência Social atingiu R$ 5,415
bilhões, em agosto, acumulando no ano
R$ 30,8 bilhões.
As exportações do agronegócio
e a elevação das cotações das
commodities estão sustentando boa
parte da recuperação da economia
brasileira, com alta de 29,6% no valor
5
das exportações
importações.
e
45,8%
das
A China continua em forte
expansão e já se tornou o 5º maior
investidor
internacional.
Está
financiando a construção de 12 navios
para a Vale (US$ 1,2 milhão) e
investindo US$ 400 milhões na fábrica
de automóveis Chery, em Jundiaí – SP.
Na área internacional, prossegue
a acentuada estagnação das economias
americana e européia, sem perspectivas
de melhora a curto prazo. Destaca-se,
entretanto, o crescimento da produção
industrial nos Estados Unidos, em julho
(+0,6%) e agosto (+0,2%). Até o 2º
trimestre, o PIB-USA cresceu à taxa
anual de 1,7%. O déficit comercial
americano encolheu 14% em julho.
A OMC estima uma expansão de
13,5% no comércio mundial, em 2010.
Lastimável, a campanha que
vem sendo feita pelo economista
americano Joseph Stiglitz, contra a
manutenção do dólar como moedareserva e a favor da saída da Alemanha
do sistema euro.
6
Download