O investimento vem a reboque

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O investimento vem a reboque
IstoÉ Dinheiro - São Paulo/SP - ECONOMIA - 07/06/2012 - 20:00:00
Luís Artur NOGUEIRA e Guilherme QUEIROZ
O aumento do consumo é essencial para que os empresários voltem a investir, diz o
presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, o capitão do corte dos juros. Conheça
as próximas medidas do governo para estimular as indústrias.
A semana passada começou quente no Palácio do Planalto com uma reunião de
emergência convocada pela presidenta Dilma Rousseff. Pego de surpresa, o ministro da
Fazenda, Guido Mantega, cancelou reuniões programadas para a manhã da segundafeira 4, em São Paulo, e seguiu para Brasília. O mesmo aconteceu com o presidente do
BNDES, Luciano Coutinho, que adiou uma entrevista coletiva no Rio de Janeiro e
seguiu para a capital federal. A presidenta queria uma resposta imediata ao crescimento
decepcionante de 0,2% no primeiro trimestre (0,8% sobre igual período de 2011), que
gerou uma saraivada de críticas à política econômica. Agora, há o temor de que o Brasil
não repita nem a expansão de 2,7% do PIB de 2011.
Puxando o comércio exterior: déficit da indústria química é de US$ 20 bilhões.
O nó ficou evidente com a divulgação do PIB, no último dia 1º. Enquanto o consumo
das famílias brasileiras cresce há 34 trimestres consecutivos, o investimento não
acompanha esse ritmo. Diante desse cenário, a reunião, que contou com a participação
dos ministros das Cidades, dos Transportes, da Integração Nacional, do
Desenvolvimento e da Casa Civil, concluiu que são necessárias duas frentes para
estimular os investimentos: uma específica para o setor privado, e outra para as obras de
infraestrutura, lideradas pelo setor público. A ordem no governo é manter as conquistas
que blindaram a economia nos últimos anos. A expansão do emprego e da renda deu
suporte ao círculo virtuoso da economia brasileira, garantindo a demanda.
Agora é hora de ampliar a oferta para manter a roda girando.“Para incentivar o
investimento é preciso que o consumo cresça”, afirmou o presidente do Banco Central,
Alexandre Tombini, em audiência pública na Câmara dos Deputados na terça-feira 5.
“O investimento vem a reboque.” No plano privado, o BNDES derrubou, novamente,
os juros das linhas de financiamento para as operações de capital de giro na
semana passada. Caíram de 9,5% a 10% para 6% a 8% anuais, dependendo do
porte da empresa. “Temos o programa de capital de giro com as taxas mais baixas do
País”, disse Coutinho, após o anúncio. Nesta semana, o Conselho Nacional de
Desenvolvimento Industrial (CNDI), integrado por ministros e representantes do setor
privado, receberá a pauta de investimento que será trabalhada pelos próximos seis
meses.
A DINHEIRO apurou que, entre as medidas, está prevista uma política especial para
dois setores: o químico e o siderúrgico. A presidenta Dilma considera que, ao reduzir os
chamados custos sistêmicos dessas indústrias, que estão na base de diversas cadeias
produtivas, pode-se gerar um efeito multiplicador. Para o Planalto, sem que haja uma
redução nos custos dos insumos químicos, a indústria nacional dificilmente poderá
recuperar o vigor de décadas atrás, quando ainda era exportadora – hoje, o déficit
comercial anual do setor está estimado em US$ 20 bilhões. Nos planos do governo, está
a desoneração de insumos básicos, como a nafta e o gás liquefeito de petróleo (GLP).
As siderúrgicas, por sua vez, poderão contar com a simplificação tributária e a redução
dos encargos para energia elétrica.
Consumo e investimento: o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, diz que a demanda
aquecida estimula os planos de negócios das empresas privadas.
Assim, melhorariam as condições para que a recuperação da taxa de investimento, que
caiu de 19,5% do PIB no primeiro trimestre de 2011 para 18,7% neste ano. “Ainda
temos um arsenal de providências que serão adotadas, quando necessárias”, afirmou a
presidenta Dilma, na terça-feira 5. “Quem aposta na crise, como alguns apostaram há
quatro anos, vai perder de novo.” A política de incentivos será reforçada pela nova
estrutura tributária que o governo prepara a fim de reduzir o custo da energia elétrica.
Em estudo, estão a simplificação da cobrança de PIS/Cofins e a eliminação de encargos
cobrados na conta de luz. Na terça-feira 5, representantes de indústrias eletrointensivas
tiveram uma reunião para ouvir parte do plano de desoneração. As medidas devem ser
lançadas, oficialmente, dentro de 30 dias.
Enquanto isso, a queda da inflação permite mais cortes dos juros. O resultado do
IPCA (0,36% em maio), divulgado na semana passada, mostra que há margem de
manobra para reduzir ainda mais a taxa Selic, hoje em 8,5% ao ano. “O IPCA
anualizado de 5% nos dá graus de liberdade para ter uma política monetária mais
flexível, ou seja, redução de juros e aumento de crédito”, afirmou Mantega na quartafeira 6. Depois de sete quedas na taxa Selic desde julho do ano passado, ainda há
gordura sobrando nessa equação. Mas se há fatores fortes em favor do investimento, por
que o setor privado tirou o pé do acelerador nos últimos meses? “É natural que os
empresários estejam um pouco assustados com a crise internacional”, diz o ministro
Guido Mantega. “Os estímulos do governo vão reverter esse quadro.”
Pelo lado do setor público, a ordem expressa do Planalto para os ministérios é
impulsionar as obras em infraestrutura. “O investimento público soluciona dois
problemas: um de curto prazo, ao estimular a demanda, e outro de longo prazo, ao
tornar a economia mais eficiente, reduzindo o custo Brasil”, diz Mansueto Almeida,
economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A missão não é
simples e demandará, mais do que tudo, um choque de gestão. Os investimentos
públicos em infraestrutura caíram 29,4% de janeiro a maio em relação ao ano passado,
caindo de R$ 7 bilhões em 2011 para R$ 5 bilhões neste ano. Isso mostra que há um
abismo entre o desejo de investir e a execução dos projetos. Um exemplo claro é o do
Ministério dos Transportes, um dos principais responsáveis pelas obras do PAC.
No primeiro quadrimestre de 2011, a pasta tinha executado R$ 4,5 bilhões. Neste ano,
foram apenas R$ 2,3 bilhões. A paralisia tem origem na faxina feita no órgão desde
julho do ano passado, quando o ex-ministro Alfredo Nascimento foi demitido. Não por
acaso, o Ministério das Cidades, que promoveu a demissão de seu titular, Mário
Negromonte, em fevereiro deste ano, também está com o cronograma de obras de
mobilidade urbana atrasado. “É preciso reformular a gestão dos ministérios do mesmo
jeito que uma empresa privada o faria”, diz Raul Velloso, especialista em contas
públicas. Segundo economistas ouvidos pela DINHEIRO, o governo tem diversos
caminhos para impulsionar a economia e afastar o eterno fantasma do voo de
galinha do PIB. Um deles é a redução da meta de superávit primário de 3,1% do
PIB.
“Mas só se houver garantia de que o dinheiro será destinado à ampliação dos
investimentos”, diz Felipe Salto, economista da Tendências Consultoria. Na prática, o
governo nem precisa de autorização do Congresso para fazer isso. Por lei, é possível
deduzir da meta até R$ 42 bilhões em projetos do PAC neste ano, embora, até agora, o
ministro Guido Mantega tenha reiterado o desejo de cumprir integralmente a meta do
superávit primário. Falta de verbas, a propósito, não é o problema que explica a lentidão
das obras públicas. Para tirar os projetos de infraestrutura da gaveta, é necessário
implementar uma série de medidas (veja quadro ao final da reportagem), inclusive para
acelerar os projetos de estatais como a Petrobras.
O seu plano de investimentos prevê uma ampla utilização de conteúdo nacional como
forma de desenvolver a indústria brasileira, mas nem sempre o fornecedor local
consegue atender aos pedidos no prazo. Resultado: o cronograma atrasa. “A regra de
conteúdo mínimo nacional é uma forma bem razoável de política industrial”, diz Nelson
Marconi, professor de economia da FGV-SP. “O governo, porém, deveria abrir mão
dessa exigência naquilo que a indústria brasileira ainda não é capaz de fornecer.” Outra
possibilidade avaliada pelo governo é renegociar as dívidas de Estados e municípios de
tal forma que eles pudessem ter folga em caixa para investir.
É hora de acelerar: obras de duplicação do trecho Sul da BR-101, em Santa Catarina, previstas para
acabar em 2014, só ficarão prontas em 2016, segundo a Federação das Indústrias de SC (Fiesc).
“Mas é preciso garantir que os governadores e prefeitos usarão essa folga para aumentar
o investimento”, diz Anselmo Luis dos Santos, professor do Instituto de Economia da
Unicamp. Outro ponto fundamental depende de um trabalho jurídico e ambiental.
Muitas vezes uma obra não sai do papel por causa de questionamentos do Tribunal de
Contas da União (TCU). Em outros casos, a obtenção de uma licença ambiental leva
meses ou até anos. “Se há problema de falta de relatório de impacto ambiental, o Rima,
então é preciso fazer uma força-tarefa durante dois meses no Ministério do
Planejamento para levantar todas as obras que estão paradas por causa disso”, diz
Almeida, do Ipea.
“Por que não fazer também um mutirão para responder às dúvidas levantadas pelo
TCU?” Se o governo destravar o investimento público, a resposta do setor privado é
rápida. “Não há dúvidas em relação a isso”, diz à DINHEIRO o empresário Cledorvino
Belini, presidente da Fiat e da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos
Automotores (Anfavea). Nesta semana, a Petrobras, a maior empresa pública do País,
deve atualizar seu plano de negócios. “Os investimentos vão crescer”, assegura
Mantega. Se a prática acompanhar a intenção do governo na velocidade necessária, o
Brasil poderá, uma vez mais, passar à margem da crise internacional e fechar o ano com
muitos motivos para comemorar.
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