MENDEL E O A CONSTRUÇÃO COLETIVA DO CONHECIMENTO

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MENDEL E O A CONSTRUÇÃO COLETIVA DO CONHECIMENTO. Ferrari N, Leite
R.C.M. e Delizoicov D. Núcleo de Estudos em Genética Humana-NUEG-BEG-CCB ;
Depto de Metodologia de Ensino-MEN-CED e Programa de Pós-Graduação em
Educação-UFSC, [email protected]
A partir das categorias estilo de pensamento e coletivo de pensamento propostas pelo
epistemólogo polonês Ludwik Fleck (1896-1961), buscamos estabelecer relações entre a
produção científica de Gregor Mendel e o contexto social, histórico e econômico de sua
época. A epistemologia fleckiana considera a natureza coletiva da investigação, os fatores
externos à ciência, o caráter histórico do saber, a tendência à persistência dos sistemas de
idéias e o olhar formativo como elementos ligados à gênese do conhecimento. Nesta
perspectiva, coletivo de pensamento é a comunidade que compartilha práticas,
linguagem, concepções, normas, saberes, visão de mundo e modo de pensar, sendo que
estes elementos caracterizam o estilo de pensamento deste grupo. Um mesmo indivíduo
pode participar simultaneamente de vários coletivos de pensamento. Contrariando a
tradicional imagem de Mendel como um pesquisador isolado, que transparece em muitos
livros didáticos do ensino básico, consideramos que Mendel conviveu com coletivos de
pensamento diferentes e que seu trabalho é fruto das relações com estes grupos e do
contexto da época. Buscamos, então, analisar as possíveis contribuições ao trabalho de
Mendel a partir de sua participação em diversos coletivos de pensamento. Analisamos os
coletivos de pensamento dos religiosos, dos moradores da região da Morávia, dos
agricultores, dos hibridadores de espécies, dos cultivadores de plantas, dos cientistas,
físicos e biólogos, dos metereologistas e dos apicultores. Consideramos que Mendel
lançou as bases para o que viria a se constituir um novo estilo de pensamento. No
entanto, para um estilo de pensamento se estabelecer é necessária a existência de um
coletivo de pensamento, o que não aconteceu enquanto Mendel era vivo. Mendel não
conviveu com uma comunidade que concebia o problema da hereditariedade da mesma
forma e que compartilhava as mesmas concepções, práticas e tradição. Isto só ocorreu por
volta de 1900, dezesseis anos após sua morte, quando três pesquisadores (De Vries,
Correns e Tschermak) trabalhando isoladamente em países diferentes reconheceram a
importância de seu trabalho. Mendel finalmente conseguia seus interlocutores, vindo
então a se instaurar um novo estilo de pensamento. Concluímos que a participação de
Mendel em diversos coletivos de pensamento e seu trânsito por vários estilos de
pensamento contribuiu para que ele encarasse o problema da hereditariedade sob uma
nova perspectiva. Órgão Financiador : CNPq
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