VI Seminário Latino Americano de Geografia Física II Seminário Ibero Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 Zoneamento urbano-ambiental: possibilidades de compatibilização entre análise geomorfológica e padrões de ocupação urbanos para a construção de cidades sustentáveis Camila Barbosa, Pompeu Figueiredo de Carvalho Universidade Estadual Julio de Mesquita Filho – UNESP, Campus Rio Claro. contato: [email protected], [email protected] Resumo O objetivo deste trabalho é avaliar quais são os fatores ambientais que podem contribuir para a definição de padrões de uso e ocupação do solo nas cidades brasileiras na perspectiva do desenvolvimento sustentável. Tomou-se por premissa que os padrões de uso e ocupação urbanos podem ser definidos, tendo por unidade de análise a vertente e suas características geomorfológicas. O zoneamento, instrumento da legislação ambiental e urbanística brasileira, tem por finalidade delimitar geograficamente áreas estabelecendo regimes especiais de uso, gozo e fruição da propriedade. Os critérios utilizados para a delimitação das zonas devem atender aos interesses coletivos. Porém, além das restrições e diretrizes de ocupação das zonas serem muito genéricas e simplificadas, pouco se tem refletido sobre as reais possibilidades destes critérios a favor de uma melhor qualidade ambiental. O zoneamento ambiental urbano, implementado pelos Planos Diretores Municipais, restringem-se geralmente a delimitar e separar áreas de uso residencial, de áreas de uso industrial e comercial. Os padrões urbanos estabelecidos (Tamanho do Lote Mínimo, Taxa de Ocupação – T.O., Coeficiente de Aproveitamento- C.A., entre outros) são definidos por zonas e muitas vezes com base apenas nas necessidades do mercado imobiliário. Conclui-se, portanto, que o planejamento e a gestão ambiental demandam necessariamente, estudos específicos na devida escala que permitam levar em conta as características próprias de cada gleba urbana. Neste contexto, a vertente apresenta-se como uma unidade análise em escala compatível com zoneamento ambiental urbano, propiciando um modelo capaz de minimizar os impactos ambientais indesejáveis e catastróficos, especialmente relacionados à alteração do ciclo hidrológico, como enchentes e processos erosivos, que causam não apenas prejuízos materiais, mas ceifam vidas nas cidades brasileiras. 1 Tema 3- Geodinâmicas: entre os processos naturais e socio-ambientais 1. Introdução: Zoneamento Urbano Ambiental O Zoneamento é uma forma de planejamento físico territorial, é o dispositivo legal que o planejamento urbano tem para a implantação de planos de uso do solo, assegurando a distribuição adequada dos usos do solo em uma área urbana, com padrões urbanísticos que garantam condições mínimas de habitabilidade e sustentação de necessidades básicas. (FAZANO, 2001) Em 1958, a Carta dos Andes, documento que resultou do Seminário de Técnicos e Funcionários em Planejamento Urbano, zoneamento foi definido como: [...] instrumento legal de que dispõe o Poder Público para controlar o uso da terra, as densidades de população, a localização, a dimensão, o volume dos edifícios e seus usos específicos, em prol do bem-estar social. (Carta dos Andes, 1958, apud CARVALHO, 2000, p. 48). No Brasil, até a metade do século XX, as cidades cresceram pela livre iniciativa, entremeadas por intervenções urbanas planejadas ou corretivas pontuais. A figura do zoneamento só vai ser introduzida no ordenamento urbano brasileiro no início do século XX e a partir da década de 50 destaca-se como um instrumento das elites para instituir o padrão estabelecido pelos loteamentos “cidade-jardim”, ampliando os contratos particulares ao status de normas municipais, instituindo zonas estritamente residenciais com o intuito de preservar a vizinhança e o valor dos imóveis. Já na década de 1970, as atenções se voltam para a regulação da verticalização em detrimento da compatibilização dos usos. A partir de então, o zoneamento foi se aperfeiçoando, mas seguindo principalmente as tendências de uso e valorização do solo, de especulação com os investimentos públicos e a proteção de áreas nobres. (CARVALHO & BRAGA, 2005) Em 1988, a Constituição Brasileira, resultante do processo de redemocratização do país, incorpora paradigmas da Reforma Urbana e da Função Social da Cidade. A figura do Plano Diretor surge como instrumento básico da política nacional de desenvolvimento e expansão da cidade, obrigatório para cidades com mais de 20.000 habitantes. No entanto, os princípios constitucionais da reforma urbana tornam-se mais efetivos somente em 2001, com a instituição do Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001). Tal documento estabelece as diretrizes gerais da política urbana que teria por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana. Embora o artigo quatro do Estatuto da Cidade aponte o Zoneamento Ambiental como um dos instrumentos da Política Urbana, os avanços práticos mais significativos 2 VI Seminário Latino Americano de Geografia Física II Seminário Ibero Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 introduzidos por esta Lei são evidenciados essencialmente no nível social e no que se refere ao zoneamento urbano, ainda é muito apegado à tradição funcionalista, deixando as questões do ambiente físico em segundo Plano. (CARVALHO & BRAGA, 2005) O zoneamento foi, desde suas origens, um instrumento de política urbana destinado a mediar os conflitos surgidos na disputa entre vários agentes sociais e econômicos pelo solo urbano e, também, a estabelecer uma localização específica para as diversas atividades urbanas de modo a promover eficiência e funcionalidade no desempenho das cidades (NÉRY JR., 2002). No entanto, quando a questão ambiental é negligenciada, este instrumento deixa de cumprir sua função, uma vez que um dos conflitos mais evidentes em nossas cidades é o fato de as desigualdades sociais serem reforçadas pelo acesso desigual ao meio ambiente saudável e seguro. Desta forma, a dimensão ambiental urbana deve ser avaliada como elemento fundamental para que a cidade cumpra sua função social. A necessidade de incorporar a questão ambiental no planejamento mediante a avaliação da compartimentação do sítio urbano definida pela rede hidrográfica se justifica tecnicamente pelo fato de os problemas urbanos mais comuns resultantes dos impactos ambientais nas cidades estarem relacionados à água. São deslizamentos, enchentes, assoreamentos, erosões, poluição etc., atingindo toda a sociedade, mas principalmente as populações mais carentes. (CARVALHO & BRAGA, 2005) No Brasil, inúmeros trabalhos têm utilizado a bacia hidrográfica como unidade físico- territorial de gestão ambiental e planejamento. Esta unidade natural de análise possibilita um zoneamento hierárquico, com aumento no nível de detalhe conforme a subdivisão natural de da bacia e suas sub-bacias. Cunha e Guerra (1999, apud LEAL 2003) afirmam que as bacias hidrográficas permitem uma visão conjunta do comportamento das condições naturais e das atividades humanas nelas desenvolvidas. Para Leal (2003), considerar uma bacia hidrográfica como unidade de Gestão impõe abordar todos os seus elementos e compreendê-la como uma totalidade composta por elementos naturais e sociais, inter-relacionados e dinâmicos. No entanto, mesmo as leis de zoneamento que utilizam com certo êxito a bacia hidrográfica como unidade físico-territorial de planejamento têm dificuldades para inserir a análise do sistema físico natural em todas as etapas do zoneamento urbano. A análise ambiental, via de regra, contribui para delimitar áreas críticas, especificar problemas, vulnerabilidades do meio físico e biótico e a partir daí separa as zonas com restrições de uso e ocupação. As demais áreas em que não identifica-se nenhuma criticidade ou 3 Tema 3- Geodinâmicas: entre os processos naturais e socio-ambientais vulnerabilidade eminentes são zoneadas apenas mediante critérios sócio-espaciais como conflitos de usos e atividades, densidade populacional e disponibilidade e organização da infra-estrutura urbana. É mediante tais critérios e a compatibilidade com os tipos de usos definidos para cada zona (industrial, comercial, residencial) que são definidos os padrões de uso e ocupação do solo (Tamanho Mínimo do Lote, Taxa de Ocupação, Coeficiente de Aproveitamento, Recuos, entre outros). Neste contexto, observa-se a necessidade de agregar à análise sócio-espacial, a avaliação das variáveis naturais na definição de padrões de ocupação urbanos para que se efetive um zoneamento urbano ambiental em todas as escalas de análise e para toda a extensão da cidade. Especialmente, em países de clima tropical como o Brasil, uma das alterações mais preocupantes da urbanização no sistema hidrológico é a alta impermeabilização, tendo como conseqüência o aumento da produção e velocidade de escoamento superficial, erosões, assoreamentos, enchentes. Tem-se por hipótese que a definição de padrões de ocupação urbana associada à análise do meio físico contribui para aperfeiçoar o controle da produção do escoamento superficial e suas conseqüências nas áreas urbanas. Embora a bacia hidrográfica apareça como unidade de análise fundamental na compreensão e gestão da dinâmica das águas nas áreas urbanas, suas dimensões não privilegiam a análise das características naturais onde se assenta a propriedade urbana – o lote, uma vez que mesmo as bacias hidrográficas de primeira ordem apresentam grande variabilidade nas características físicas. Percebe-se a necessidade de uma unidade física espacial de detalhe, compatível com a escala em que são definidos os padrões de uso e ocupação do solo. Neste contexto, este artigo propõe o uso da vertente, como unidade espacial de análise hidro-geomorfológica. A vertente é o elemento dominante do relevo, onde se materializam as relações de forças produtivas e onde ficam impregnadas as transformações que compõem a paisagem. A vertente, enquanto substrato da ocupação passa a incorporar o homem enquanto ser social e sua ação sobre esta através do processo de apropriação e transformação implica o estado de agravamento da sua evolução (a evolução torna-se sensível na escala de tempo histórica). (CASSETI,1991) 2. Diretrizes de uso e ocupação do solo e a questão ambiental no Brasil Entende-se por diretrizes de uso e ocupação do solo a regulamentação das taxas, tamanhos, índices, coeficientes e tipos de usos que orientam a edificações nas áreas urbanas. Dentre as diretrizes destacam-se o Tamanho do Lote, Taxa de Ocupação 4 VI Seminário Latino Americano de Geografia Física II Seminário Ibero Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 (relação entre área do terreno e área efetivamente ocupada pela edificação), Coeficiente de Aproveitamento (relação entre volume construído e área do terreno). Reconhece-se que tais parâmetros variam no espaço e no tempo e nas diversas sociedades que apresentam níveis diferenciados de desenvolvimento além de aspectos culturais, institucionais e tecnológicos. (BARBOSA & CARVALHO, 2008) Um dos objetivos do zoneamento ao definir padrões de uso e ocupação do solo urbano é planejar a densidade e direção do crescimento urbano considerando para tanto, as questões ambientais, econômicas e a disponibilidade de infra-estrutura e serviços públicos. Alguns estudiosos urbanos afirmam que quanto maior a densidade maior a maximização e melhor a utilização da infra-estrutura e solo urbano. De fato, a alta densidade urbana apresenta algumas vantagens como eficiência na oferta de infra-estrutura, uso eficiente da terra, geração de receitas, economias de escala, maior controle social. No entanto, tem como desvantagens a sobrecarga nas infra-estruturas, poluição, maiores riscos de degradação ambiental, congestionamento e saturação do espaço. Por outro lado, a baixa densidade tem como vantagens: saneamento de baixo custo, menos poluição, mais silêncio e como desvantagem precária acessibilidade aos serviços, altos custos para oferta manutenção de serviços, pouca interação e controle social, altos custos e precariedade do transporte publico (ACIOLY & DAVIDSON, 1998). Desta forma, a densidade urbana de cada zona e portanto os índices urbanos definidos para estas deve se pautar na busca por um equilíbrio entre infra-estrutura urbana e qualidade ambiental no contexto da totalidade urbana. Curitiba, capital do estado do Paraná, conseguiu através de uma lei de zoneamento bem estruturada reorientar a expansão urbana da cidade, a fim de proteger setores de mananciais. Para tanto, partiu do incentivo à conexão entre eixos comerciais e áreas de alta densidade populacional através da oferta de transporte público. Além disso, à medida que a distância destes eixos aumenta, diminuiu-se a densidade e a oferta por transporte publico. Desta forma a cidade atingiu uma economia de 25% de energia e diminuiu as emissões de dióxido de carbono.(ACIOLY & DAVIDSON, 1998) As maiores preocupações dos Planos Diretores e Leis de Zoneamento são com a economia de energia e otimização da infra-estrutura e serviços públicos. Embora as áreas permeáveis nos lotes seja uma necessidade no Brasil e represente menores custos de implantação do sistema de drenagem pluvial urbano, a área livre de edificação nas Leis de zoneamento é exigida, via de regra, tendo como objetivo a prevenção de conflitos entre vizinhos e insalubridade das residências. Na grande maioria das áreas urbanas, a Taxa de Ocupação é muito alta, os lotes mínimos são 5 Tema 3- Geodinâmicas: entre os processos naturais e socio-ambientais pequenos e as áreas livres estão atreladas às exigências de recuos obrigatórios, o que 2 inviabiliza a implantação de áreas livres permeáveis. Em um lote mínimo de 150 m , por exemplo, em que seja exigida Taxa de Ocupação Máxima igual a 80% e recuos laterais e de fundo obrigatórios igual a 1 m de largura, as áreas livres do terreno praticamente se concentrarão toda nos recuos laterais, inexistindo áreas livres permeáveis, ou mesmo vegetadas, significativas para o controle da produção de escoamento. Buscando manter áreas verdes permeáveis nas áreas urbanas, as leis de zoneamento brasileiras mais recentes têm incluído restrições à impermeabilização ou incentivos a manutenção de áreas verdes nos lotes. Esta iniciativa vai ao encontro da proposta de drenagem urbana sustentável, uma vez que possibilita a absorção de água da chuva pela terra aliviando a carga na rede de sarjetas e galerias pluviais. Em Rio Claro-SP, cidade de porte médio do interior do estado de São Paulo, por exemplo, o Plano Diretor (Lei 3806/2007) prevê para lotes de uso residencial uma taxa de ocupação mínima de 70% e Taxa de Permeabilidade mínima igual a 10%. Para indústrias, serviços e comércios de médio a grande porte este índice chega a 30%. A lei de zoneamento, baseada nestas taxas mínimas, definiu com maior especificidade para cada zona do município as exigências quanto a Taxa de Ocupação e Índice de Permeabilidade, com estes segundos variando de 10% a 40% conforme características ambientais peculiares a cada zona, de forma que para áreas de maior fragilidade ambiental ou proximidade dos mananciais foram previstos maiores lotes mínimos e maiores Taxas de Permeabilidade. Com a mesma preocupação, O Plano Diretor de São Carlos – SP (Lei 13.691/2005) em seu artigo 103, apresenta a preocupação com a implantação do sistema de drenagem, introduzindo a obrigatoriedade da implantação de dispositivos de drenagem urbana sustentável que permita manter dentro das condições originais a vazão do escoamento da área antes de ser urbanizada. Dentre os dispositivos citados neste artigo, destacam-se poços de infiltração, bacias de retenção de águas pluviais, dispositivos de dissipação de energia e pavimentos permeáveis. A Lei prevê também Coeficientes de Permeabilidade mínimos variando de 15% a 50%. Para áreas com relevante influência na manutenção de mananciais, o município inovou ao exigir o “Coeficiente de Cobertura Vegetal” que é a relação entre a área coberta por vegetação arbórea ou arbustiva de um determinado imóvel e a sua área total. 6 VI Seminário Latino Americano de Geografia Física II Seminário Ibero Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 3. Proposta: urbanização com base em estudos geomorfológicos consistentes A drenagem pluvial convencional consiste em captar a água da chuva, levá-la até galerias pelas quais é conduzida ate um corpo d’água, onde é despejada. Este conceito desconsidera a dinâmica natural da água, que é em parte absorvida pelo solo percolando lentamente pelo subsolo até alcançar o canal fluvial. Recentemente tem sido implementados novos conceitos de drenagem urbana em que a manutenção da infiltração é um dos pontos chaves. Neste contexto, a manutenção de áreas verdes permeáveis no lote, tem se mostrado um elemento importante a ser considerado. Esta concepção pode ser agregada com grandes benefícios ambientais e mesmo econômicos ao zoneamento urbano e ambiental. No então para que seja eficiente não basta descriminar nas leis de zoneamento a obrigatoriedade de Índices de Permeabilidade sem antes compreender as características físicas locais que condicionam o comportamento da infiltração. É, neste contexto, que a definição de índices urbanísticos por zona deve estar atrelada à análise das características naturais desta, de forma a otimizar a existência destas áreas verdes permeáveis em lotes em setores em que naturalmente a infiltração seja representativa. As características ambientais do Lote não podem ser compreendidas tendo por base como unidade territorial de análise a Bacia Hidrografia, uma vez que mesmo as bacias de primeira ordem apresentam dimensões incompatíveis e variabilidade de características pedológicas e clinográficas entre outras, que influenciam as condições naturais de infiltração e escoamento superficial. Porém, não se pode ignorar que os efeitos da ocupação definida pra cada zona e o modelo de ocupação do lote terão implicações e influenciarão as condições de vazão, segurança e qualidade ambiental da bacia hidrográfica como um todo. Desta forma, propõe um modelo de análise geomorfológica voltada ao planejamento ambiental que se dará em vários níveis de detalhamento das características ambientais. Parte-se da bacia hidrográfica como unidade territorial básica de análise e gestão ambiental urbana e mesmo regional, passando por sub-bacias e chegando a vertente e suas subseções. Tal proposta pode ser observada na Tabela 1. Acredita-se que o reconhecimento das características de infiltração, direção do escoamento, declividade na escala da vertente auxiliará a definição, diretrizes de ocupação do solo voltadas ao controle da produção de escoamento. 7 Tema 3- Geodinâmicas: entre os processos naturais e socio-ambientais Tabela 1: Unidades Territoriais de análise ambiental para o Planejamento REGIONAL/ MUNICIPAL Níveis de gestão/planej amento Conceito MESOZONAS MACROZONAS Bacias Hidrográficas (rios de grandes e médias ordens) ZONAS URBANO Unidade paisagística de análise Bacias Hidrográficas (rios pequenas ordens) Vertentes Segmentos das Vertentes Escala do Zoneamento Regional e/ou Municipal Área drenada por um rio ou por um sistema fluvial, funcionando como um sistema aberto. (Christofoletti, 1980) Forma tridimensional modelada por processos de denudação representando uma concessão dinâmica entre o topo e o fundo de vale. Estabelecidas mediante reconhecimento de seções com diferentes características de infiltração, granulométrica, formas e processos, declividade, suscetibilidade erosiva. Urbana Da Região intra-urbana ao bairro Do Bairro ao Lote Vantagens Visão conjunta do comportamento das condições naturais e das atividades humanas. Orienta as políticas integradas de saneamento ambiental envolvendo recursos hídricos, sistema verde, abastecimento d’água, resíduos sólidos. Unidade espacial compatível com o zoneamento urbano tradicional. Unidade espacial compatível com a propriedade e as restrições impostas a esta para cumprimento da Função Social. Permite agregar a avaliação das variáveis naturais na definição de índices urbanísticos. Classificação Áreas urbanas, áreas rurais, aptidão e restrições agrícolas. Cada Bacia hidrográfica urbana constituirá uma macrozona funcionando como unidade de gestão e conscientização ambiental. Tipos de usos (industrial, comercial, misto, residencial) Padrões de ocupação (TO, C.A,) densidade residencial, Coeficiente de permeabilidade, estruturação urbana; definição da localização de áreas públicas permeáveis. Organização: Barbosa e Carvalho, 2010 O Zoneamento tendo por unidade de análise a vertente pode ser exemplificado pela Figura 1, na qual buscou-se demonstrar a definição de diretrizes de zoneamento 8 VI Seminário Latino Americano de Geografia Física II Seminário Ibero Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 embasadas nas características naturais da um modelo hipotético de vertente. A segmentação natural em que se baseou a figura foi apresentada por Dalrynple, Blong e Conacher (1968 apud Christofoletti, 1980) e se baseia nas características de declividade, direção e intensidade do movimento de detritos, solo e água. Figura 1: A vertente como unidade de análise para o zoneamento urbano Organização:Barbosa e Carvalho, 2010 Na figura 1, as setas indicam o sentido do aumento das variáveis: Taxa de Ocupação –T.O. Coeficiente de Aproveitamento C.A., Tamanho do Lote e Incentivo e/ou obrigatoriedade de adoção de dispositivos de infiltração e retenção de águas pluviais. De forma geral as diretrizes de uso e ocupação do solo propostas prevêem queda na Taxa de Ocupação e aumento do Coeficiente de Aproveitamento e do tamanho do lote no sentido topo – fundo de vale. Quanto aos dispositivos de infiltração nas áreas de topo prevê-se a obrigatoriedade passando ao incentivo no fundo de vale, onde as áreas públicas permeáveis são mais expressivas. 9 Tema 3- Geodinâmicas: entre os processos naturais e socio-ambientais A alta densidade de ocupação proposta para seção do topo se justifica pelo fato do volume de escoamento a ser administrado ser somente o produzido nesta própria seção. Neste sentido, a obrigatoriedade de adoção de dispositivos de drenagem sustentável deve propiciar que os efeitos da alta ocupação não comprometam as demais seções a jusante na vertente e viabilizem a manutenção do lençol freático. No setor de declive com infiltração o incentivo a verticalização se dá mediante a permissão de um maior C.A. ocasionando alta densidade residencial e uma menor T.O. do solo em relação à seção subjacente de forma a propiciar um incremento na área livre permeável, que associado a obrigatoriedade da adoção de dispositivos de drenagem sustentável contribui para a diminuição do volume de escoamento produzido na área. Na área de transição para a seção a jusante (escarpa) deve ser alocada uma área livre (pública ou privada) com alta densidade vegetacional, que funcionará como zona de segurança, diminuindo a velocidade e o volume do fluxo superficial convergindo para este setor e conseqüentemente minimizando os efeitos erosivos característicos destas áreas, além de prevenir o risco decorrente de uma ocupação densa. O declive intermediário recebe grande volume de água e material da escarpa configurando-se como um setor de relativa atenção, assim como na vertente convexa, paralela a escarpa deve haver uma área livre vegetada, que funcionará como uma barreira para os detritos e possibilitará infiltração de volume da água escoada de montante, minimizará os processos erosivos característicos desta área e funcionará como faixa de segurança entre a escarpa e a área ocupada por habitações. A ocupação deste setor deve prever lotes grandes que viabilizem alto CA e baixa TO propiciando áreas permeáveis no lote, além de incentivos fiscais para implantação de dispositivos de drenagem urbana sustentável e áreas vegetadas no lote. A baixa densidade habitacional implicará um menor fluxo de automóveis privilegiando a adoção de calçamento permeável no arruamento. O sopé coluvional marca o fim da dinâmica de vertente e o inicio da dinâmica fluvial. Este setor, via de regra, é comandando pelos processos de vertente, porém nas áreas urbanas, decorrente das alterações no sistema hidrológico, um maior volume de escoamento superficial atinge o leito do rio em um menor tempo provocando um alargamento da lâmina d’água podendo eventualmente ser ocupado pelas águas fluviais. Desta forma a baixa densidade permite prevenir os prejuízos materiais e humanos por enchentes neste setor. No caso de ocupação residencial propõe-se a ocupação por edifícios de elevado gabarito para viabilizar uma baixíssima TO. A baixa densidade de ocupação do solo proposta para este setor, a observação de lotes mínimos grandes e a proximidade com a Área de Preservação 10 VI Seminário Latino Americano de Geografia Física II Seminário Ibero Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 Permanente e a planície aluvial devem conferir a este valorização paisagística e imobiliária. Desta forma, as margens dos cursos d’água passam de setores desvalorizados, densamente ocupados pela população de baixa renda para um setor valorizado destinado aos equipamentos de uso público disponíveis igualmente a toda população e eventualmente ocupados por residências de alto padrão. (BARBOSA e CARVALHO, 2009) 4. Considerações Finais A proposta aqui apresentada esta sendo desenvolvida empiricamente em uma vertente localizada no município de Rio Claro-SP. A análise das características físicas da vertente para elaboração de zoneamento busca reconhecer o comportamento natural das águas pluviais permitindo a identificação de diferentes setores. Para tanto se tem optado por procedimentos técnicos de baixo custo e fácil aplicação, acessível a qualquer município, como: elaboração de carta de feições geomorfológica, carta topográfica (ambas em escala de detalhe), carta de declividade, reconhecimento da taxa de infiltração mediante uso de infiltrômetro, resistência à penetração através de um penetrômetro e análise granulométrica. Todas estas variáveis permitirão segmentar a vertente em diferentes áreas conforme homogeneidade das características de infiltração, escoamento e suscetibilidade erosiva e a partir daí proceder à definição de diretrizes de ocupação contundentes do ponto de vista da drenagem urbana. Embora a prática do Planejamento Urbano no Brasil se efetive quando as cidades já se apresentavam consolidadas, tendo como desafio a solução de problemas já instalados, acredita-se que o modelo de zoneamento proposto para as vertentes tem grandes possibilidades de aplicação para as áreas de expansão urbana, especialmente para cidades médias, que são as que apresentam maior taxa de crescimento nos últimos anos. A proposta apresentada deve privilegiar a criação de zonas de uso misto, com usos não incômodos, mas que enfatizem a estruturação de uma unidade de vizinhança com características heterogêneas do ponto de vista da densidade urbana. 11 Tema 3- Geodinâmicas: entre os processos naturais e socio-ambientais 5. Referências Bibliográficas Acioly, C. & Davidson, F. 1998, Densidade Urbana: Um instrumento de Planejamento e gestão urbana, Mauad, Rio de Janeiro. Barbosa, C. & Carvalho, P. F. C. 2008, ‘A Produção Capitalista do Espaço Urbano e a Sustentabilidade: o caso das Cidades Médias Paulista,’ IV Encontro Nacional da ANPPAS, Brasília – DF, pp. 1-15. Barbosa, C; Carvalho, P. F. C. de. & Cunha, C. M. L. da. 2009, ‘Gestão das águas urbanas: o relevo como unidade de análise para o zoneamento urbano’, XVIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, Campo Grande –MS, pp. 1-14 Carvalho, P. F. de. 2000 ‘Instrumentos legais de gestão urbana: referências ao Estatuto da Cidade e ao zoneamento’. in: Estatuto da Cidade: Política Urbana e Cidadania. UNESP/IGCE/DEPLAN/LPM, Rio Claro-SP. Carvalho, P. F. de & Braga, R. 2005, ‘Zoneamento Ambiental Urbano por Micro-Bacias Hidrográficas: Estudo de Viabilidade em Cidade Média no estado de São Paulo – BR.’ I Congresso Luso-brasileiro para o Planejamento Urbano e Regional Integrado e Sustentável. São Carlos -SP,pp. 1-11 Casseti, V. 1991, Ambiente e apropriação do relevo, Contexto, São Paulo. Christofoletti, A. 1980, Geomorfologia, Edgard Blucher, São Paulo. Brasil, República Federativa do. 2001, Estatuto da Cidade - Lei no 10.257, de 10 de julho de 2001. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Leis/LEIS_2001/L10257.htm. Fazano, C. B. 2001, Proposta de zoneamento ambiental estudo de caso – bairro Cidade Aracy. Universidade Federal de São Carlos, São Carlos. Leal, A. C.2003, ‘Gestão urbana e regional em bacias hidrográficas: inerfaces com o gerenciamento de recursos hídricos’, in Recursos Hídricos e Planejamento Urbano e Regional, LPM/Deplan/IGCE-UNESP, Rio Claro. 12 VI Seminário Latino Americano de Geografia Física II Seminário Ibero Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 Nery Jr, J. M. 2002, Um Século De Política Para Poucos: O Zoneamento Paulistano 1886 – 1986, USP/FAU, Disponível em: <http://jmarinho.sites.uol.com.br/index2.htm>. Prefeitura Municipal de Rio Claro – SP, 2008, Plano Diretor e Normas complementares, Editora Tribuna 2000, Rio Claro –SP. Prefeitura Municipal de São Carlos – SP, 2005 Plano Diretor Municipal - Lei 13.691/2005. (Online) Disponível em:.................................... http://www.saocarlos.sp.gov.br/images/stories/pdf/Lei_13691_05_Plano_Diretor.p df. 13