FABBRIN EGS; MÓGOR AF; BETTONI MB; BOBATO TR. 2012. Densidade de semeadura e acúmulo de biomassa de milheto para obtenção de mulching orgânico. Horticultura Brasileira 30: S2798-S2803. Densidade de semeadura e acúmulo de biomassa de milheto para obtenção de mulching orgânico Eliseu Geraldo dos Santos Fabbrin¹; Átila Francisco Mógor²; Marcelle Michelotti Bettoni¹; Thiago Ruppenthal Bobato³ ¹Doutorando (a) em Agronomia- Produção Vegetal, Departamento de Fitotecnia e Fitossanitarismo, Universidade Federal do Paraná, Curitiba – PR. E-mail: [email protected]; [email protected]; ²Professor Adjunto, Departamento de Fitotecnia e Fitossanitarismo, Universidade Federal do Paraná, Rua dos Funcionários, 1540, 80035-050, Curitiba – PR. E-mail: [email protected] ³Graduando em Agronomia, Departamento de Fitotecnia e Fitossanitarismo, Universidade Federal do Paraná, Curitiba – PR. E-mail: [email protected] RESUMO O presente experimento foi realizado na área de olericultura orgânica do Centro de Estações Experimentais do Canguiri (CEEx), da Universidade Federal do Paraná, com o objetivo de obter mulching orgânico pela cobertura do solo com palhada de milheto em diferentes densidades de semeadura (25, 50 e 75 kg sementes ha-1), seguindo delineamento em blocos ao acaso, com quatro tratamentos e quatro repetições. Após a fase de emborrachamento, as plantas de milheto foram cortadas para as avaliações de altura da parte aérea, número de folhas, matéria fresca de colmo, matéria fresca de folhas, matéria seca de colmo e matéria seca de folhas. As maiores densidades de plantas possibilitaram maior acúmulo de biomassa, sendo mais vantajosas para a obtenção de mulching orgânico, com destaque para o tratamento com 50 kg ha-1, que apresentou o maior acúmulo de biomassa seca total (7,73 t ha-1). A quantidade de matéria seca de colmos (MSC) foi elevada nas populações de plantas de 25 e 50 kg sementes ha-1. As populações de plantas proporcionaram maior relação folha/colmo na seguinte ordem crescente 75 > 25 > 50 kg sementes ha-1. PALAVRAS-CHAVE: cobertura do solo, Penissetum glaucum, olericultura ABSTRACT Sowing density and biomass accumulation of pearl millet for obtaining organic mulching This experiment was conducted in area of organic horticulture at the Center for Experimental Stations of Canguiri (CEEx), Federal University of Parana, in order to obtain organic mulching for the soil covery with different sowing densities of pearl millet (25, 50 e 75 kg seeds ha-1), following a randomized block design with four treatments and four replications. After the stage of booting, millet plants were cut for the evaluation of shoot height, leaf number, stem fresh weight, leaf fresh weight, stem dry weight and leaves dry weight. The largest populations of plants obtained greater biomass accumulation, being most beneficial for obtaining organic mulching, with emphasis on treatment with 50 kg ha-1, which showed the greatest accumulation of total biomass (7.73 t ha-1). The amount of dry stem (MSC) was high in plant populations of 25 and 50 seeds ha-1. Populations of plants showed higher leaf:stem ratio in the following order 75 > 25 > 50 seeds ha-1. Keywords: ground cover, Penissetum glaucum, horticulture Muitos sistemas intensivos de produção de hortaliças a campo não são sustentáveis porque eles perdem grandes quantidades de nutrientes para o meio ambiente. O plantio de uma espécie rústica para obtenção de resíduo visando à cobertura do solo, ou seja, obtenção de mulching orgânico é uma alternativa viável ao pequeno produtor de olerículas. A manutenção dos resíduos culturais na superfície do solo constitui importante reserva de nutrientes (Oliveira Neto, 2011; Vargas et al., Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2798 FABBRIN EGS; MÓGOR AF; BETTONI MB; BOBATO TR. 2012. Densidade de semeadura e acúmulo de biomassa de milheto para obtenção de mulching orgânico. Horticultura Brasileira 30: S2798-S2803. 2011; Mógor & Câmara, 2009a; Suzuki & Alves, 2006). Estas práticas resultam em menor liberação de nutrientes, quando comparados ao revolvimento do solo e a incorporação dos resíduos. O milheto (Pennisetum glaucum) é uma poácea anual de verão, apresenta crescimento ereto e excelente produção de biomassa. Por este motivo, é recomendado para plantio na Região Sul. Entre as vantagens desta planta estão a alta produção de MS, com média de 7 a 10 t ha-1. Dependendo da fertilidade do solo, das condições climáticas e da cultivar escolhida, a produção pode chegar a 20 t ha-1 de MS (Bogdan, 1977). A estrutura do colmo atinge até 1,8 m, apresenta resistência a doenças, boa adaptação a solos ácidos e com baixa disponibilidade de nutrientes (McCartor & Rouquette Jr., 1977). Recentemente diversos estudos foram desenvolvidos para avaliar os resíduos vegetais sobre as produtividades das culturas (Boer et al., 2007; Mógor & Câmara 2009b; Maroulli et al., 2010; Santos et al., 2011; Oliveira Neto et al. 2011; Vargas et al., 2011). Na maioria dos estudos, o desempenho das culturas em sequência à obtenção da palhada resultou em maiores produtividades. O objetivo deste estudo foi avaliar diferentes densidades de semeadura de plantas de milheto, cultivar BRS 1501, para a obtenção de mulching orgânico. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado no período de fevereiro a março de 2012, na área de Olericultura Orgânica, do Centro de Estações Experimentais do Canguiri, UFPR, na Região Metropolitana de Curitiba-PR, sob as coordenadas de 25º25' latitude sul e 49º08' longitude oeste com altitude de 920 metros. O solo na área experimental é classificado como Latossolo Vermelho-Amarelo Álico, de textura argilosa e relevo suave ondulado (Embrapa, 2006), cuja análise química na camada de 0 a 20 cm indicou os seguintes valores médios: pH (CaCl2) = 5,9; pH SMP = 6,4; Al3+ = 0; H+Al = 3,7 cmolc m-³; Ca2+ = 9,5 cmolc m-³; Mg2+ = 4,6 cmolc m-³; K+ = 0,95 cmolc m-³; P = 77,8 mg m-³; C = 27,4 g m-³; V%= 80 e CTC= 18,75 cmolc m-³, e recebeu fertilização com 350 kg ha-1 de K2SO4. O clima, segundo a classificação de Köeppen, é subtropical do tipo Cfb, tendo a temperatura média mais fria inferior a 18°C e do mês mais quente abaixo de 22°C, com verões frescos. Foi utilizado um delineamento em blocos ao acaso, com três tratamentos e quatro repetições. Os tratamentos foram constituídos por três densidades de semeadura da espécie milheto (Pennisetum glaucun), variedade BRS 1501, com 25, 50 e 75 kg sementes ha-1 (81% de germinação). A dispersão das sementes ocorreu a lanço em 20/01/2012. Aos 35 dias após a semeadura (DAS), determinou-se a população de plantas de milheto por m², sendo avaliados dois quadrados de 0,25 x Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2799 FABBRIN EGS; MÓGOR AF; BETTONI MB; BOBATO TR. 2012. Densidade de semeadura e acúmulo de biomassa de milheto para obtenção de mulching orgânico. Horticultura Brasileira 30: S2798-S2803. 0,25 m por parcela. O corte ocorreu quando as plantas atingiram o pleno emborrachamento, aos 56 DAS, com auxílio de roçadeira motorizada. Para fins de avaliação do potencial de produção de palhada do milheto, procedeu-se a coleta das quatro plantas centrais em cada parcela, determinou-se a altura da parte aérea (APA), o número de folhas (NF) e posteriormente o material foi separado em colmo e folhas, pesado em balança analógica digital para a obtenção de matéria fresca de colmo (MFC) e matéria fresca de folhas (MFF). Para determinação de matéria seca de colmo (MSC) e matéria seca de folhas (MSF), as amostras foram acondicionadas em sacos de papel, levadas à estufa com circulação de ar forçado à 60ºC por 72 horas. As variâncias dos tratamentos foram testadas quanto à sua homogeneidade e normalidade, e as médias dos tratamentos comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. Os dados foram processados pelo programa ASSISTAT, versão 7.6 BETA. RESULTADOS E DISCUSSÃO Neste trabalho, o acúmulo de matéria fresca do milheto BRS 1501 aumentou em função das densidades de semeadura, havendo efeito significativo para o número de plantas por m² (NP), altura da parte aérea (APA), matéria fresca de colmo (MFC) e matéria fresca de folhas (MFF). O caráter número de folhas (NF) não apresentou efeito significativo para as densidades de semeadura estudadas. Este resultado demonstra que a diferença quantitativa no número de folhas é dependente do genótipo e não foi afetada pela densidade. Analisando a variável população de plantas, observou-se que esta foi influenciada significativamente pela densidade de semeadura (Tabela 1), foram estimados valores próximos a 22, 36 e 54 mil plantas ha-1 com a utilização de 25, 50 e 75 kg de sementes ha-1 respectivamente, sendo o tratamento 75 kg de sementes ha-1 superior estatisticamente aos demais, entretanto não diferiu da população determinada na densidade de 75 kg de sementes ha-1. Todavia, uma população excessiva de plantas acarretou em rápido esgotamento das reservas de nutrientes e tiveram consequências no acúmulo de biomassa seca (MST) apresentado na Tabela 1. Com relação à altura da parte aérea da planta principal (APP), observa-se que a menor densidade de semeadura apresentou o melhor desempenho (1,46 m) seguido do tratamento com 75 kg de sementes ha-1 (1,26 m), já o tratamento com 50 kg de sementes obteve a menor altura de planta principal (1,17m) (Tabela 1). Na Tabela 1 estão apresentados os dados relativos ao efeito das populações de plantas sobre a produção de biomassa fresca da planta de milheto BRS1501 determinados aos 54 DAS. Observa-se Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2800 FABBRIN EGS; MÓGOR AF; BETTONI MB; BOBATO TR. 2012. Densidade de semeadura e acúmulo de biomassa de milheto para obtenção de mulching orgânico. Horticultura Brasileira 30: S2798-S2803. que a produção de biomassa fresca de folhas foi superior na população de plantas com 22 mil (30,37 g), este valor diferiu da biomassa encontrada na população 36 mil (18,64 g) e 54 mil (19,85g). O esgotamento nas reservas nutrientes e o auto-sombreamento são causas possíveis para a redução do acúmulo de biomassa fresca nas maiores populações de plantas. Verificando o acúmulo total da matéria seca (MST) do milheto BRS 1501 (Tabela 1), observou-se que na densidade de semeadura de 50 kg ha-¹, a quantidade acumulada de 7,73 t ha-¹ foi aproximadamente 2,5 vezes superior ao valor encontrado na menor densidade (25 kg ha-¹). Para analisar o potencial de acúmulo de matéria seca do milheto, Boer et al., (2007) avaliaram a produção de MS com o corte no florescimento e encontraram um acúmulo de 10,8 t ha-1, superior aos valores encontrados neste trabalho nas diferentes densidades de semeadura de plantas. Esta diferença quantitativa está relacionada com a fase fisiológica das plantas no momento do corte, visto que, quanto mais avançados os processos de crescimento e desenvolvimento, maior o acúmulo de matéria seca. A quantidade de matéria seca de colmos (MSC) foi elevada nas densidades de semeadura de 25 e 50 kg ha-1 (Tabela 1), perfazendo cerca de 80% da matéria seca total (MST). A menor proporção de matéria seca de colmo (MSC) foi encontrada na população 75 kg ha-1. Este resultado sugere que as plantas aumentam o acúmulo de matéria seca nas folhas (MSF) em detrimento à elevada densidade de plantas, o que pode ser uma vantagem, visto que as folhas são os componentes da planta de milheto que apresentam maiores coeficientes de liberação de nutrientes (Boer et al., 2007). A produtividade máxima de folhas foi obtida na densidade de 50 kg ha-1 (3,81 g planta -1) (Tabela 1), entretanto não diferiu estatisticamente dos valores observados nas densidades de 75 kg ha-1 (3,77 g planta-1) e 25 kg ha-1 (2,61 g planta-1). Observa-se na Tabela 1, que mesmo não havendo efeitos significativos na MSF e MSC quando determinamos a relação folha:colmo (MSF/MSC), as densidades de plantas proporcionaram maior relação folha:colmo na seguinte ordem crescente 75 > 25 > 50 kg ha-1 apresentando valores de 0,54, 0,22 e 0,21, respectivamente. As maiores densidades de semeadura do milheto BRS 1501 possibilitaram maior acúmulo de biomassa, sendo mais vantajosas para a obtenção de mulching orgânico, com destaque para o tratamento com 50 kg ha-1. O aumento na densidade de semeadura de plantas de milheto cv. BRS 1501, com 75 kg ha-1, proporcionou acréscimos na relação folha:colmo. REFERÊNCIAS BOER CA; ASSIS RL; SILVA GP; BRAZ AJBP; BARROSO ALL; CARGNELUTTI FILHO A; PIRES FR. 2007. Ciclagem de nutrientes por plantas de cobertura na entressafra em um solo do cerrado. Pesquisa Agropecuária Brasileira 42: 1269-1276. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2801 FABBRIN EGS; MÓGOR AF; BETTONI MB; BOBATO TR. 2012. Densidade de semeadura e acúmulo de biomassa de milheto para obtenção de mulching orgânico. Horticultura Brasileira 30: S2798-S2803. BOGDAN AV. 1977. Tropical pastures and fodder plants: grasses and legumes. London: Longman Handbooks: 475p. EMBRAPA. 2006. Centro Nacional e Pesquisa em Solos. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. Brasília: Embrapa-Solos, 306 p. MAROULLI WA; ABDALLA RP; MADEIRA NR; SILVA HR da; OLIVEIRA AS de. 2010. Water use and onion crop production in no-tillage and conventional cropping systems. Horticultura Brasileira 28, n.1: 19-28. McCARTOR MM; ROUQUETTE JR FM. 1977. Grazing pressures and animal performance from pearl millet. Agronomy Journal 69, n.6: 983-987. MÓGOR AF; CÂMARA FLA. 2009a. Teores de fósforo, potássio e produção de alface orgânica em diferentes coberturas do solo. Bioscience Journal 25: 112-118. MÓGOR AF; CÂMARA FLA. 2009b. Cobertura do solo, produção de biomassa e teores de Mn e Zn de alface no sistema orgânico. Acta Scientiarum Agronomy 31: 621-626, 2009. OLIVEIRA NETO DH; CARVALHO DF de; SILVA LDB da; GUERRA JGM.; CEDDIA MB. 2011. Evapotranspiração e coeficientes de cultivo da beterraba orgânica sob cobertura morta de leguminosa e gramínea. Horticultura Brasileira 29, n.3: 330-334. SANTOS CAB; ZANDONÁ SR; ESPÍNDOLA JAA; GUERRA JGM; RIBEIRO R de LD. 2011. Efeito de coberturas mortas vegetais sobre o desempenho da cenoura em cultivo orgânico. Horticultura Brasileira 29, n.1: 103-107. SUZUKI LEA; ALVES MC. 2006. Fitomassa de plantas de cobertura em diferentes sucessões de culturas e sistemas de cultivo. Bragantia 65, n.1: 121-127. VARGAS TO; DINIZ ER; SANTOS RHS; LIMA CT de A; URQUIAGA S; CECON PR. 2011. Influência da biomassa de leguminosas sobre a produção de repolho em dois cultivos consecutivos. Horticultura Brasileira 29, n.4; 562-568. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2802 FABBRIN EGS; MÓGOR AF; BETTONI MB; BOBATO TR. 2012. Densidade de semeadura e acúmulo de biomassa de milheto para obtenção de mulching orgânico. Horticultura Brasileira 30: S2798-S2803. Tabela 1 – Resultados médios do número de plantas por ha-1, altura da parte aérea (APA), número de folhas (NF), matéria fresca de colmo (MFC), matéria fresca de folhas (MFF), matéria seca de colmo (MSC), matéria seca de folhas (MSF) e matéria seca total (MST) de milheto BRS 1501 com corte aos 54 DAS para produção de mulching orgânico [Means results of number plants per hectare, height of shoots (APA), number of leaf (NF), dry mass of stem (MSC), dry mass of leaf (MSF),dry mass of leaf (MFF) and total dry mass (MST) of pearl millet BRS1501 with cutting at 54 days after sowing of production organic mulching]. Curitiba, 2012. Densidade de semeadura -1 (kg ha ) 25 50 75 22 b 36 ab 54 a 7,20 18,56 APA (m) NF 1,46 a 1,17 b 1,26 ab 9,5 8,0 8,0 3,79 10,74 0,28 5,34 ns MFC -1 (g planta ) MFF -1 (g planta ) 132,03 a 64,41 b 33,39 c 30,37 a 18,64 b 19,85 b 22,30 17,00 11,58 17,66 6,33 ns MSF -1 (g planta ) 2,61 3,81 3,77 3,26 23,10 ** 0,891 0,954 ** 3.281 3.268 X² 10,29 10,79 MSC -1 (g planta ) 30,52 61,91 DMS CV % W População (mil plantas ha-¹) ns Médias seguidas da mesma letra minúscula na coluna não diferem estatisticamente pelo Teste de Tukey (p<0,05). ns Não significativo. ** Significativo a 5%. W=Shapiro-Wilk. X²= Teste de Bartlett. [Means followed by the same letter do not differ statistically by Tukey (p<0,05).. ns,Not significant.** Significant at 5% . W = Shapiro-Wilk normality. X² = Bartlett Test]. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2803 MST (t ha-¹) 3,12 c 7,73 a 5,55 b 1.781 7,83