Comportamento do Milheto Pérola em Função do Espaçamento Entre Linhas e da Densidade de Semeadura Marcos C. Erig1, João R. Reginatto1, Rafael L. Lázaro1, Antonio C.T. da Costa2, José B. Duarte Júnior2 e Paulo. S.R. de Oliveira2 1 Acadêmico do Curso de Agronomia da UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Campus de Marechal Cândido Rondon. 2Docente do Centro de Ciências Agrárias da UNIOESTE. CEP 85960-000. Cx. Postal 91. e-mail: [email protected] Palavras-chaves: Pennisetum glaucum, arranjo populacional, produção de biomassa Revisão Bibliográfica Nos últimos anos, o uso do milheto pérola [Pennisetum glaucum (L.) R. Br.] na agricultura brasileira, vem aumentando rapidamente, principalmente para a produção de palhada no sistema de plantio direto (Durães et al., 2003). Esta cultura é de fácil instalação e requer poucos insumos, pois a planta tem um sistema radicular profundo e vigoroso (Martins Netto, 1998; Bonamigo,1999), com eficiente uso de água e nutrientes (Scaléa, 1999). Contudo pouco se sabe qual é a melhor densidade populacional, haja visto a grande diversidade de uso desta cultura. Considerando que, em geral, as sementes de milheto utilizadas pelos produtores no Brasil são de qualidade bastante variável, é recomendado o uso de maiores quantidades de semente no plantio, de modo a reduzir o risco e prejuízo decorrente de uma baixa população de plantas estabelecida (Bonamigo, 1999). Segundo Medeiros e Saibro (1973), a população do milheto não interfere na produção total e no teor de proteína bruta na planta. Silva et al. (2004) avaliando a influência da população de plantas de milheto na produção de biomassa, observaram que a densidade de semeadura não influenciou na produção de massa verde e massa seca. Isto mostra que o milheto é uma planta capaz de compensar baixas densidades de semeadura devido à sua alta capacidade de perfilhamento. A densidade está condicionada ao ambiente, à fertilidade e à umidade do solo, bem como ao uso a que se destina a cultura. A confirmação de que a cultura não sofre com a variação na densidade também é demonstrada por Carberry et al. (1985) e Crauford & Bidinger (1989). Silva et al. (2004) destacam ainda que menores populações de plantas podem ser mais vantajosas, em virtude da menor quantidade de sementes utilizado no plantio. O gasto de sementes varia de acordo com a densidade de semeadura, o espaçamento e a finalidade a que se destina a lavoura. Para a produção de forragem, pastejo ou cobertura (palhada), a densidade de semeadura varia de 15 a 40 kg ha-1 de sementes (Pereira Filho et al., 2003). De acordo com Martins Netto (1998), o espaçamento para a semeadura do milheto é variável. Quando a cultura for utilizada para produção de massa e pastejo, o espaçamento deve ser menor (30 cm entre linhas); para multiplicação de sementes ou para produção de silagem, o espaçamento deve ser maior (50 a 70 cm entre linhas) e, quando o milheto for usado para cobertura do solo, no plantio direto, o espaçamento pode variar de 17 a 25 cm entre linhas, ou a semeadura poderá ser feita à lanço. O milheto tem sido usado também como pastejo para pecuária e, nessa condição, o espaçamento pode variar de 15 a 35 cm entre linhas. A utilização do espaçamento mais estreito (com variação de 17 a 25 cm) é indicada quando se quer proteger mais o solo e evitar o aparecimento de plantas daninhas ou também com o objetivo de cobertura do solo para o XXVIII Congresso Nacional de Milho e Sorgo, 2010, Goiânia: Associação Brasileira de Milho e Sorgo. CD-Rom 3500 plantio direto (Salton et al.1995). Para produção de silagem, é indicado o espaçamento de 70 cm entre linhas, por dar melhor rendimento de corte e evitar a compactação do solo devido ao tráfego de máquinas. Para a produção de sementes, o espaçamento indicado é o de 40 cm entre linhas (Scaléa 1999). Pawel et al. (1995) avaliando o rendimento de biomassa em função de diferentes espaçamentos, observaram que o rendimento mais elevado de massa verde (44 t ha) foi obtido no espaçamento de 15 cm, enquanto nos demais, 40 e 80 cm, a produção declinou. O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência do espaçamento entre linhas e da densidade de semeadura na produção de biomassa e em outras características de interesse agronômico do milheto pérola. Material e Métodos O experimento foi implantado no dia 24 de outubro de 2009, no distrito de Iguiporã, município de Marechal Cândido Rondon-PR. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso com 4 repetições, em esquema fatorial 4x2, sendo o primeiro fator representado pelo espaçamento entre linhas (22,5; 45,0; 67,5 e 90,0 cm) e o segundo fator representado pela densidade de semeadura (25 e 50 kg ha-1 de sementes), em parcelas de 12,5 m2. Cada parcela experimental teve 2,5 m de largura por 5,0 m de comprimento. A profundidade de semeadura foi de 2 a 3 cm. A cultivar utilizada foi a comum. Os tratos culturais foram realizados de acordo com Pereira Filho et al (2004) e Martins Netto & Durães (2005). Foram avaliadas, no estádio de florescimento, em uma área de 2,0 m2 as características: altura de planta (avaliada no colmo principal, desde o nível do solo até a lígula da folha bandeira, em cm), número de folhas (avaliada no colmo principal), número de perfilhos por planta, produção de biomassa (massa verde e massa seca, em kg ha-1), número de panículas, e o tamanho de panículas. As duas linhas laterais de cada parcela foram utilizadas como bordaduras, assim como as primeiras plantas de cada linha central. Os dados foram submetidos à análise de variância e análise de regressão. O programa estatístico utilizado para proceder as análises estatísticas foi o SAEG. Resultados e Discussão Na tabela 1 é apresentado o resumo do quadro da análise de variância para as características: altura de plantas (ALP), número de folhas por planta (NFO), número de perfilhos por planta (NPE), número de panículas por planta (NPA), comprimento médio de panículas (CPA), massa verde no estádio de florescimento (MVF) e massa seca no estádio de florescimento (MSF). Observa-se que entre as densidades de semeadura (25 e 50 kg ha-1), houve diferença significativa apenas para as características altura de plantas e número de folhas. Em relação ao espaçamento, houve diferença significativa apenas para a massa verde no estádio de florescimento. Não houve interação significativa entre densidade de semeadura e espaçamento. Observa-se que nas condições deste experimento, tanto a densidade de semeadura de 25 -1 kg ha quanto a densidade de 50 kg ha-1 tiveram um comportamento muito semelhante, para as características número de perfilhos por planta, número de panículas por planta, comprimento médio de panículas, massa verde no estádio de grão pastoso e massa seca no estádio de grão pastoso (Tabela 2). Os resultados obtidos neste trabalho apontam que para esta XXVIII Congresso Nacional de Milho e Sorgo, 2010, Goiânia: Associação Brasileira de Milho e Sorgo. CD-Rom 3501 região, independentemente da densidade (25 ou 50 kg ha-1) utilizada pelos produtores, esperase não haver diferença entre estas características. Os resultados observados neste trabalho, estão de acordo com Silva et al. (2004), que avaliando a influência da população de plantas de milheto na produção de biomassa, observaram que a densidade de semeadura não influenciou na produção de massa verde e seca. Silva et al. (2004) destacam ainda que menores populações de plantas podem ser mais vantajosas, em virtude da menor quantidade de sementes utilizado no plantio. Para Medeiros e Saibro (1973), a população de plantas de milheto não interfere na produção total da planta Por outro lado, observa-se que a densidade de semeadura influenciou significativamente na altura de plantas e no número de folhas (Tabela 2). Tabela 1: Resumo da análise de variância da altura de plantas (ALP), número de folhas por planta (NFO), número de perfilhos por planta (NPE), número de panículas por planta (NPA), comprimento médio de panículas (CPA), massa verde e massa seca no estádio florescimento (MVF e MSF), em função da densidade de semeadura e do espaçamento entre linhas de milheto pérola. Iguiporã/Marechal Cândido Rondon-PR. 2009. FV Quadrado Médio NPA CPA NFO NPE Bloco 0,0105 ns 2,5925 ns 0,5461 ns 0,0286 ns 20,5762 ns 432584100 ns 15855510 ns Esp 0,0581 ns 3,0058 ns 0,1295 ns 0,0528 ns 6,3887 ns 292233700 * 6341290 ns Dens ExD 0,2363** 0,0121 ns 7,8012* 0,3021 ns 0,6328 ns 0,2903 ns 0,0253 ns 10,9278 ns 0,0511 ns 6,3853 ns 12047910 ns 45338710 ns 2504322 ns 4501795 ns 0,0284 6,19 1,4558 9,47 0,1604 13,59 90568300 ns 16,82 6351809 ns 21,70 Resíduo CV % ns 0,0482 15,44 9,3850 12,25 MVP MSP ALP não significativo pelo teste F; * significativo a 5% de probabilidade pelo teste F; ** significativo a 1% de probabilidade pelo teste F. Tabela 2: Altura de plantas (ALP), número de folhas por planta (NFO), número de perfilhos por planta (NPE), número de panículas por planta (NPA), comprimento médio de panículas (CPA), massa verde e massa seca no estádio de florescimento (MVF e MSF), em função da densidade de semeadura de milheto pérola. Iguiporã/Marechal Cândido Rondon-PR. 2009. Densidade de MSF ALP CPA MVF semeadura NFO NPE NPA (kg ha-1) -1 (m) (cm) (kg ha ) (kg ha-1) 25 2,81 a 12,24 b 3,09 a 1,39 a 25,60 a 57180 a 11892 a 50 CV % 2,64 b 6,19 13,23 a 9,47 2,81 a 13,59 1,45 a 15,44 24,43 a 12,25 55953 a 16,82 11333 a 21,70 Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste F. Em relação ao espaçamento entre linhas, observa-se que houve diferença significativa apenas para a produção de massa verde no florescimento (Tabela 1). Observa-se que a produção de massa verde no florescimento, decresceu de forma linear em função do aumento do espaçamento entre linhas da cultura de milheto (Figura 1). Os valores encontrados foram XXVIII Congresso Nacional de Milho e Sorgo, 2010, Goiânia: Associação Brasileira de Milho e Sorgo. CD-Rom 3502 de 58,78 t ha-1 para o espaçamento de 22,5 cm e de 48,80 t ha-1 para o espaçamento de 90,0 cm. Estes resultados corroboram aos resultados obtidos por Silva et al (2004) que também obtiveram a maior produção de massa verde no menor espaçamento entre linhas (0,20 m). Pereira Filho et al (2003) mencionam que a maior produção de massa verde é obtida em espaçamentos menores, sendo que em espaçamentos maiores a produção de massa diminui. Produção de massa verde (Kg ha) 65000 y = -166,92x + 65956 2 R = 0,6437** 60000 55000 50000 45000 20 40 60 80 100 espaçamento (cm) Figura 1: Produção de massa verde no estádio florescimento, em função de diferentes espaçamentos na cultura do milheto. Iguiporã/Marechal Cândido Rondon-PR. 2009. O plantio com espaçamentos reduzidos entre linhas pode contribuir para aumentar a produção de biomassa. Os resultados observados neste trabalho também estão de acordo com os resultados obtidos por Bationo et al. (1990) que verificaram que a produção de biomassa de milheto aumentou quando reduziu o espaçamento entre linhas. Mesquita e Pinto (2000), obteve maior rendimento de biomassa no espaçamento de 0,40 m e o menor rendimento com o espaçamento de 1,20m entre linhas. Referências Bibliográficas BATIONO, A., CHRISTIANSON, C.B., BAETHGEN, W.E. Plant density and nitrogen fertilizer on pearl millet production in Niger. Agronomy Journal. v.82, p. 290-295, 1990. BONAMIGO, L. A. A cultura do milheto no Brasil, implantação e desenvolvimento no cerrado. In: WORKSHOP INTERNACIONAL DE MILHETO. 1999. Planaltina. Anais... Planaltina: Embrapa Cerrados. 1999. p.31-65. CARBERRY, P. S.; CAMPBELL, L. C.; BILIGER, F. R. The growth development of pear millet as affected by plant population. Field Crops Research. Amsterdam, v. 11, p. 193-205, 1985. CRAUFORD, P. Q.; BIDINGER, F. R. Potencial and realized yield in pearl millet (Pennisetum americanum) ao influenced by plant population density and life-cycle duration. Field Crops Research. Amsterdam, v. 22, p. 211-225, 1989. 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